Mais Mais Mundo Por Paula Greco [email protected] Fotos: Divulgação Da plantação à mesa do consumidorfinal, são muitos os motivos que fazem os alimentos trilharemdeOscpameirndhíocdioo!Entre as maiores preocupações com que é descartada nos restaurantes e fast- bam se tornando cúmplices do desperdí�- o futuro da humanidade está a pro- -foods são os responsáveis pela maior cio. Comprar comida demais (e depois dução de alimentos. Estima-se que parte desta conta. Já os país� es em desen- deixar estragar na geladeira ou não guar-até 2050 a população mundial passe de volvimento desperdiçam mais após a dar corretamente, ou que acarreta emDois Bilhões de pessoas. E qual seria o colheita ou durante o processamento, por perda ou apodrecimento), não aproveitarcusto, para o planeta, de alimentar tanta falta de infraestrutura para conservação corretamente todo o valor nutricional degente? Mais áreas desmatadas, mais com- desses alimentos. Malha viária precária e alguns alimentos (VIDE BOX), são algu-bustív� elgasto,maisemissãodepoluentes, acondicionamento inadequado ajudam a masdasatitudesquefazemcrescernúme-menos “saúde” para a Terra. aumentar esses números. ros considerados alarmantes. O assunto é tão vital que a Organização O custo/benefí�cio para o comércio ata- Ranqueado como quarto maior produ-das Nações Unidas criou um programa cadista e varejista também colabora na tor de alimentos do mundo, o Brasil tam-de estudos especiais sobre Alimentação escala do desperdí�cio. O temor de baixar bém lidera as estatí�sticas do desperdí�cio,e Agricultura. E os mais recentes estudos muito o preço de alguns alimentos faz figurando entre os 10 paí�ses que maisrealizados pela FAO (sigla em inglês) com que produtores prefiram deixar apo- perdem comida, principalmente entre aapresentam números desconcertantes drecer parte da produção de legumes e colheita e o transporte dos alimentos.acerca de um item especí�fico: o desper- hortaliças, que ofertar “demais” o produ- Segundo o estudo da FAO, pelo menosdí�cio. Estima-se que um terço (ou seja, to, fazendo com que ele fique mais barato. 10% da produção se perdem nas planta-33%) de toda a produção mundial de O preço da mão de obra para colher uma ções. Do que sobra, 50% são perdidos naalimentos vá parar no lixo. E são vários safra também pode ser, em alguns casos, distribuição, no transporte e no abaste-os “gargalos” apontados pela FAO como maior que o seu valor de mercado, e, nes- cimento. E, do restante, 40% se perdemorigem para tamanha perda de comida ses casos, elas nem saem da lavoura. Nos na cadeia do consumo, como nas feirasque, se somada, daria para alimentar um restaurantes, as (muito necessárias, por livres. Um desperdí�cio que chega a 40 milpaí�s inteiro. sinal) exigências de Vigilância Sanitária toneladas por dia, segundo uma pesqui- não permitem que alimentos não consu- sa da Empresa Brasileira de Pesquisa Nos país� es industrializados, por exem- midos, que ficam nas estufas, sejam doa- Agropecuária (Empraba). De acordo complo, o maior desperdíc� io se dá nas vendas dos ou reaproveitados. E aí� a quantidade esse estudo, boa parte dos alimentosa varejo e no consumo. A famosa “xepa” de comida descartada só vai aumentando. também é desperdiçada durante o pre-dafeira,oslegumesquesobramnossuper- paro das refeições.mercados e sobretudo a comida pronta Até mesmo os consumidores finais aca-
BRNAOSIL Nrúepmfalereatrior s Cooedmmesbpcaeatersdanídcioo O DESPERDÍCIO Os números apontados pela FAO Paracombaterodesperdíc� iodealimentosemlarga (Organização das Nações Unidas escala é necessária a implantação de polít� icas públi-26,3CHEGAA para Alimentação e Agricultura), cas nacionais e internacionais, além de ações coleti- MILHÕES pela EMBRAPA e pelo Instituto vas de cidadania, através da própria ONU e de ONG’s DE TONELADAS Akatu (organização não governa- ligadas ao tema. Mas também é possív� el combater o POR ANO mental sem fins lucrativos que tra- desperdíc� io em casa. A utilização de partes normal- balha pela conscientização e mobi- mente descartadas dos alimentos (talos, folhas e300ENQUANTO lização da sociedade para o consu- raíz� es) é mais difundida, mas ainda tem poucas ade- moconsciente)mostramcomotodo sões. As dicas abaixo podem ajudar na mudança dessa CRIAÇAS MORREM esse alimento desperdiçado pode- prática: ria ser usado para melhorar outros 70DE FOME indicadores sociais. TALOS: o de agrião contém muita vitamina C, MIL podendo ser usado em sucos, refogado com temperoTONELADAS VÃO PARA O Em termos quantitativos, a perda e ovos batidos, ou adicionado ao molho pesto de LIXO DIARIAMENTE de alimentos no Brasil chega a 26,3 manjericão. Também podem ser aproveitados como milhões de toneladas por ano, o recheios de tortas, patês ou escondidinhos, assim 12 que seria suficiente para alimentar como os de couve, beterraba, brócolis e salsa, que BILHÕES até 35 milhões de pessoas. Diaria- contêm fibras. DE PREJUÍZO mente, enquanto quase 300 crian- POR ANO OU ças morrem de fome, 70 mil tone- FOLHAS: as da cenoura são ricas em vitamina 1,4% DO PIB ladas de alimentos vão para o lixo. Em termos financeiros, o prejuí�zo A (importante para saúde dos olhos, pele, cabelos pode chegar a R$12 bilhões por e para o crescimento). Você pode aproveitá-las para ano, o que representa 1,4% do PIB fazer bolinhos ou para substituir o uso da salsinha. nacional, e seria suficiente para Elas são extremamente parecidas em aspecto e alimentar 8 milhões de famí�lias sabor. nesse perí�odo, com a doação regu- lar de cestas básicas de R$ 120. ÁGUA DE COZIMENTO: a da beterraba pode Os maus hábitos alimentares e a ser utilizada para o preparo de gelatinas vermelhas, falta de conscientização no preparo tornando-as mais nutritivas. e consumo nas residências, restau- rantes e cozinhas industriais são A das batatas, que concentra as vitaminas hidros- responsáveis pelo descarte de pelo solúveis (que se dissolvem em água) pode virar purê menos 20% dos alimentos adqui- (com a adição de leite em pó e manteiga) ou agre- ridos para consumo final. Esses gando valor nutricional ao arroz ou macarrão. dados apontam para uma cruel rea- lidade: parte da fome do mundo CASCAS: as de batata, mandioquinha, nabo, poderia ser saciada com o que vai para o lixo. cenoura ou beterraba, podem virar aperitivos sau- dáveis, assadas com flor de sal e ervas. As das frutas, como goiaba e abacaxi podem ser batidas no liquidificador, e o suco resultante, usado para substituir ingredientes líq� uidos em receitas de bolos. A casca da laranja pode ser caramelizada, para ser servida com café, transformada em compotas ou usada para aromatizar biscoitos. A casca da banana, extremamente nutritiva, é rica em potássio e fibras e pode ser usada como massa de bolo e no preparo de doces. Também pode adi- cionarsaboraotemperodebifesebolinhossalgados.
Mais Mais Ponto de Vista Diego Trindade D’Ávila MagalhãesBRICS E ANTIBRICS Quando o Washington Post (dos recentes intervenções militares no Ira- poder os EUA e a UE, cujos votos valem EUA) e a The Economist (do Reino que, na Lí�bia e na Sí�ria, que pioraram mais do que os outros no processo deci- Unido) começaram a criticar o BRICS, ainda mais a vida polí�tica e econômica sório dessas instituições. já se percebia a importância desta coa- nesses lugares. O BRICS é atualmente lizão, que incomodaria os poderosos o grupo de paí�ses que mais critica as Os membros do BRICS estão todos interesses das potências ocidentais. ações bélicas realizadas pelas grandes no G20 financeiro, que inclui outros Por que o BRICS incomoda? Como esse potências e sempre defendeu o diálogo 14 paí�ses e a UE na discussão sobre a grupo procura mudar a realidade inter- polí�tico e a cooperação econômica para reforma da ordem econômica inter- nacional? resolver crises. nacional. Contrariando os interesses dos EUA e da UE, o BRICS tem reivin- Oficialmente, Brasil, Rússia, Í�ndia, Os paí�ses emergentes do BRICS dicado reformas que ampliam o poder China e Á� frica do Sul formam um agru- argumentam que o desenvolvimento de voz e de decisão de paí�ses em desen- pamento polí�tico informal, sustentado socioeconômico é a principal solução volvimento. A declaração do BRICS de pela vontade polí�tica de seus membros. para problemas como o terrorismo. julho de 2014 repercutiu no comuni- O conjunto dessas economias emer- Nesse sentido, o grupo propõe inicia- cado do G20 financeiro de novembro gentes equivale a mais de um quarto tivas que envolvem o financiamento de 2014, no qual o G20 se mostra do PIB mundial, e essas nações repre- incondicional (diferentemente do FMI “decepcionado” com o atraso no cum- sentam mais de 41% da população do e do Banco Mundial) de economias em primento do acordo sobre as reformas planeta. O BRICS promove crises conjunturais e de projetos de a cooperação entre os seus infraestrutura social e econômica. Em no FMI e pressiona os EUA a membros e com outros paí�- julho de 2014, o BRICS criou um banco implementarem o acordo. ses em desenvolvimento, que exerce funções semelhantes às do propõe uma reforma na Banco Mundial: o Novo Banco de No G20 e em outros fóruns, ordem econômica interna- Desenvolvimento recebeu em inicial- o BRICS defende a regulamen- cional e se pronuncia em mente um aporte de US$ 100 bilhões tação do sistema financeiro, prol da solução pací�fica de para financiar projetos de desenvolvi- para combater a evasão fiscal conflitos. mento sustentável com ênfase em das multinacionais, minimizar infraestrutura. No mesmo ano, divul- os impactos negativos da espe- Os EUA agem como se o gou-se o Acordo Contingente de Reser- culação financeira, e promover BRICS fosse uma espécie de vas, com US$ 100 bilhões para empres- a transparência nos fluxos glo- OTAN do Sul, coisa que não tar para paí�ses em crise financeira, bais de capital (algo crucial é nem pretende ser. Dife- função semelhante à do FMI. Ambas as contra a corrupção e o tráfico rentemente da Organiza- iniciativas inibem o FMI e o Banco Mun- de drogas e de armas). Além ção do Tratado do Atlântico dial de atuarem como instrumento de disso, tem promovido o comér- Norte (OTAN), o BRICS não cio internacional com moedas tem um tratado constituti- locais (sem a intermediação do vo, uma sede, nem um pro- dólar) e busca alternativas para pósito militar. BRICS não é a centralidade do dólar estadu- antiamericano em particu- nidense na economia interna- lar, é antiamericano apenas cional. na medida em que se opõe ao unilateralismo dos EUA e a iniciati- O Brasil beneficia-se dessa vas econômicas e militares de caráter coalizão que busca um cenário hegemônico. internacional mais próspero e pací�fico, além de mais justo para as nações em A OTAN era uma aliança militar de desenvolvimento. É� previsí�vel que defesa que reunia dezenas de paí�ses poderosos interesses nutridos pela liderados pelos EUA, pelo Reino Unido ordem internacional contemporânea e pela França, e concebia a União Sovi- se organizem para inviabilizar refor- ética como a sua principal ameaça. mas e para deslegitimar o BRICS. É� Mesmo após a extinção da União Sovi- irônico que aqueles que antes aponta- ética, a OTAN expandiu-se, abarcando vam o dedo exigindo reformas econô- dezenas de paí�ses de fora do Atlântico micas agora estejam sentindo como é Norte, e atua como uma espécie de estar do outro lado. polí�cia do mundo e tem trabalhado com a perigosa ideia de que as ameaças DiegoTrindade d’Ávila Magalhães (como a ameaça terrorista) estão em toda parte. Esse discurso legitima as Professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutorando em 54 Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). [email protected] / 2014
55DEZEMBRO / 2014
56DEZEMBRO / 2014
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