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Revista Série Z #1

Published by Revista Série Z, 2023-05-08 17:34:20

Description: Produção que surgiu, por meio de um TCC em Jornalismo. São 80 páginas, 11 editorias e 16 histórias nessa estreia.

Keywords: revista serie z,revista de futebol

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A REVISTA DO FUTEBOL ALTERNATIVO DEZ. 2015 e JAN. 2016 -- N. 1

No ano em que o primeiro draft do futebol brasileiro foi realizado no Brasileirão Feminino 2015, a ADECO (SP) até tentou chegar as finais, mas parou nas semifinais no confronto contra o Rio Preto. Byanca foi uma das responsáveis pela boa campanha na segunda fase da competição (Foto: Tasso Marcelo/AllSports).

BEM-VINDOS futebolística. Deu trabalho, mas valeu a pena, por conhecer mais sobre o im, o título é totalmente assunto e apresentar mais uma mídia clichê, mas esse é o especializada para todos que amam pensamento. O Série Z, como esse lado do futebol. blog, agora também é a Série Z, como revista. Você que já São 80 páginas de futebol acompanha o trabalho feito alternativo. A grande maioria, inédita. Algumas matérias do blog estão Sdesde 2013 terá a experiência de mais aqui, mas repaginadas e merecem uma plataforma com a marca. estar nesse novo começo, pois foram Dessa vez, mais do que uma importantes em dados momentos. vontade, a Série Z é resultado de um Temos a colaboração de amigos, Trabalho de Conclusão de Curso em também. Vamos fazer uma viagem Jornalismo, pela Faculdade Maringá. pelo alternativo. Começando por Desde as primeiras conversas, lá Macau, passando pelas experiências de no final de 2014, com o orientador “torcedores” brasileiros pelo mundo, da pesquisa, tudo foi pensado para ver onde Toró está jogando, conversar chegarmos neste ponto. O estudo um pouco com Marco Bianchi, rendeu um capítulo específico sobre descobrir o confronto entre Benício e futebol alternativo, uma oportunidade Neymar e chegar até Hong Kong, onde de oferecer referência para futuros a bola vai rolar depois do Natal. trabalhos. O FA chegou às bancas examinadoras de trabalhos de Vai começar... faculdade. O texto científico sobre Felipe Augusto o tema ainda será pensado em qual forma será publicado. Aliás, a produção Criador e editor contou com muitas colaborações de do blog e revista Série Z pessoas que vivem a alternatividade EDITOR REVISÃO Felipe Augusto Felipe Augusto ORIENTAÇÃO Ronaldo Nezo Ronaldo Nezo COLABORADORES PROJETO GRÁFICO e Álisson Albino DIAGRAMAÇÃO Benicio Junior Felipe Augusto Dibradoras - Site Kaique Augusto João Vitor Poppi

E 6 34 S 24 30 68 C A 44 L 50 A 70 Ç 14 76 Ã O 62

6 CONEXÃO FUTEBOL 50 BOLA DE CAPOTÃO 14 24 6 ENTREVISTA: BRUNO 62 50 O TÍTULO GOIANO 30 68 34 FIGUEIREDO DE 1992 44 APITO INICIAL 54 ENTREVISTA: MARCO 14 BRASILEIROS PELO BIANCHI MUNDO 60 UM CARIBE X SÃO 22 CRÔNICA: CINCO MIL PAULO ESCONDIDO VOZES 54 PELEJA CAMISA 12 24 AMISTOSO: GRÊMIO 62 CRÔNICA: QUANDO MARINGÁ X URSO ENFRENTEI NEYMAR LADO B 65 CRÔNICA: A 30 ONDE ESTÃO JOE HISTÓRIA DE UM TÍTULO COLE E TORÓ... ESCRETE CONTEXTO 68 AS DIBRADORAS 34 FUTEBOL NA REGIÃO SÃO AS CONVIDADAS METROPOLITANA GUIA 38 INTERIOR URUGUAIO 70 SEMIFINAIS HK E COPA 2030 SENIOR SHIELD 2015/16 38 FUTEBOL UTÓPICO 2-3-5 70 76 E SE A COPA 76 44 ANÁLISE TÁTICA: TIVESSE SETE DIVISÕES? SENEGAL X TURQUIA

CONEXÃO FUTEBOL Bruno com a camisa do Sham Shui Po, de Hong Kong, onde teve alguns problemas (Foto: Ogol.com). 6

“MCOERNPTOESSÃÃO,”É dessa maneira que Bruno Figueiredo,jogador do CPK,clube do Macau vem tratando o futebol. Jornais locais já o chamaram de um “verdadeiro globetrotter” da bola, também pudera, o meio-campo tem passagens por Hong Kong, Índia, Polônia, Irã, entre outros. Santista de nascimento almejava a estabilidade no futebol e em sua nova morada encontrou.Vê de perto certa evolução no futebol macauense, onde tem deixado seus gols e tem muita história para contar Vamos começar pelo presente. São Você nasceu em Santos. Ficou uma vários países e clubes. O que te levou a vontade lá atrás de jogar pelo time da essas experiências? sua cidade? Vivo no futebol desde os quatro anos de Isso é uma questão que qualquer um que idade, e nós brasileiros parece-me que vive no futebol, responderia que sim, o nascemos com o sonho de ser jogador Santos Futebol Clube teve em minha vida de futebol, famoso e poder viver bem. Eu, durante anos, com certeza adoraria poder por um acaso desde pequeno gostaria ter me firmado lá e poder ter atuado pelo de ser jogador por gostar daquilo que profissional, mas Deus quis que fosse de fazia, gostar de treinar e buscar sempre a outro jeito. estabilidade financeira. Calhou de poder viajar e conhecer lugares, onde também Como foi enfim, atuar por um clube da 7 é uma paixão minha, mas com o passar sua cidade, a Portuguesa Santista? do tempo, penso eu que todos buscamos Olha, para mim foi ótimo poder atuar na firmar-se em um lugar e por lá construir Briosa, tive no grupo em uma época de sua família. Assim busco hoje em Macau, muitos jogadores de nome, como: Souza, e venho concretizando bem isso. Rico, Ronaldo (goleiro), entre

outros. Pude aprender muito e assim ir adquirindo experiência para mais tarde. E claro, ser da cidade ajudava muito por conhecer todos, ter o apoio da grande maioria que conhecia o meu trabalho e também estar com a minha família. Você atuou pelo Guarujá e foi parar no Grêmio Pinheiros, de Lages (SC). Como aconteceu essa mudança? Foi uma época, que ia para fora do país, porém, não deu certo, fiquei meio que sem rumo, esperando em empresários. Quando o treinador do Guarujá me ligou e perguntou se gostaria de me juntar a eles, agradeci o convite e fui então jogar o campeonato com eles. Depois disso, o mesmo empresário que estava tentando me levar para fora, assumiu o Pinheiros naquela época e tinha um projeto de colocar o time na primeira divisão de Santa Catarina, fui com o foco de subir, não aconteceu, mas me destaquei. Tive a sondagem da Chapecoense, mas acabou de que não fechamos sem saber o porque até hoje. Tive para ir para o Oeste de Itápolis, também não acertei valores e decidi ir para fora do Brasil. A partir de 2009 começou a suas experiências mundo afora, para jogar na segunda divisão iraniana, pelo Payam Mashhad. Como você recebeu essa proposta e o que pensou? Vinha mandando meu material para alguns amigos, empresários, quando um empresário que trabalhava com um amigo me contatou, perguntou se eu me interessaria em ir pro Irã, na hora realmente nem quis saber, falei que ia e pronto. Queria jogar fora e estava decidido, ainda por cima o dinheiro era 8

Até o final de 2014, defendia o Ka I, seu segundo clube no Macau (Foto:Acervo Pessoal). 9

ótimo e o time era de primeira divisão INFO CONEXÃO FUTEBOL havia caído aquele ano, me informei sobre tudo que tinha lá, sabia da guerra Bruno Nogueira Figueiredo com Iraque e tal. Mas nada me abalava Meia | 29 anos na decisão de ir jogar fora. Adorei a Santos (SP) experiência, fui muito bem, fiz 16 gols, e 1,81 m | 75Kg estava para renovar, mas como sempre Ambidestro empresários bloqueando de alguma forma, querendo mais dinheiro, essas Clubes: Santos (2003), Ponte Preta (2004), coisas de negociações. Portuguesa Santista (2005-2006), Guarujá (2007), Em 2011, você chegou a Hong Kong. O país, atualmente, se consolidou como Grêmio Pinheiros (2008), Marcílio Dias (2008), um mercado para estrangeiros. Na Payam Mashhad - Irã (2009/10), Atlético CP - época, você atuava com compatriotas, Portugal (2009/10), Belenenses - Portugal (2010/11), mas era ainda uma experiência essa Monte Carlo - Macau (2011), Sham Shui Po - Hong abertura? Kong (2011/12), Windsor Arch Ka I - Macau (2012), Já existiam muitos brasileiros atuando em Sparta Brodnica - Polônia (2011/12), Vasco SC - Índia Hong Kong, chegamos vindos de Macau, (2012/13), Vllaznia Shkoder - Albânia (2012/13), o treinador do Sham Shui Po assistiu uma Windsor Arch Ka I - Macau (2013-2014) e CPK (2015). Sabia da guerra com partida do nosso time em Macau, onde Iraque e tal. Mas ganhamos de 3 x 2 do líder e assumimos nada me abalava a liderança. Consegui marcar os três gols na decisão de ir da vitória. Porém, em Hong Kong, não sei até hoje o que aconteceu que o treinador “jogar fora. Adorei a não me dava oportunidade de atuar, me mantinha no banco e não colocava experiência, fui muito de jeito nenhum durante os jogos. Foi realmente frustrante para mim, por que ”bem, fiz 16 gols. via meus amigos atuando, querendo e pedindo a minha ajuda. Só que o 10 treinador não me colocava. Pior de tudo era saber que eu estava em um ótimo momento, um dos melhores da minha carreira, fisicamente e mentalmente. Acabou que acordamos em eu sair do time, tive uma proposta de outro time de lá, mas o Sham Shui Po ameaçou cancelar meu visto se fosse, e assim sendo, caso cancelado teria que deixar o país por seis

meses. Resolvi então voltar para o Brasil e não é a mesma coisa, treinávamos as esperar outra proposta com o sentimento seis da manhã e depois nada mais. Eu de que ali era um lugar onde poderia ter sempre fazia um trabalho a parte à feito minha vida pessoal e profissional. tarde, para me ocupar, até que um dia Como foi sua passagem pela Polônia? me cansei daquilo e fui conversar com Tive a oportunidade de conhecer o a diretoria. Mesmo com o que ganhava país, que é lindo e muito bom de se (era bom), para continuar lá teria que morar apesar do frio. Povo fanático pelo ser muito melhor, tentei aumentar, não futebol como os brasileiros. Tive que me aceitaram. Resolvi então procurar outros adaptar ao estilo de jogo mais duro, tive rumos e sair de lá, sai amigavelmente, e que aprender a ser mais duro também, naquele momento estava gostando de porém, sempre tentando mostrar a lá, conhecendo lugares e pessoas, mas a qualidade brasileira em dribles, técnica. vida sozinho me matava. Uma coisa havia aprendido ao longo de O ano de 2015 foi sua quarta todas essas andanças, os estrangeiros temporada no futebol de Macau. Sua precisam ser diferentes dos locais, fazer primeira passagem foi em 2011, voltou algo diferente, para realmente mostrar em 2013 e desde 2014 está no futebol que você vale o investimento. local. Percebeu alguma melhora no E pela Índia? esporte nesse período? Fui para Índia satisfeito com o que Dou muito valor para Macau, como deixei lá (na Polônia). Tive proposta de disse é onde estou hoje, onde venho renovação até de outros times, mas a colhendo frutos. Criando e estabilizando Índia me procurou com uma proposta minha vida. Hoje tenho minha namorada muito boa e de longo prazo, onde que mora comigo e também trabalha naquela época me vinha na cabeça por aqui, estou longe da família, mas sossegar em um lugar e fazer a minha aprendemos a viver com isso e matamos vida, cansado de rodar mundo afora, a saudade por Skype, Facetime, essas mesmo adorando viajar. Só que nem coisas. Tenho os planos de casar e ter tudo é mil maravilhas e dinheiro não filhos por aqui. Daqui uns cinco, seis anos compra felicidade. Fiquei seis meses parar de jogar e continuar morando por sozinho na Índia, tinha amigos, mas aqui. O esporte vem melhorando. A cada ano que passa tem melhorias e espero 11

continuar ajudando para cada vez mais melhorar. De 2011 à hoje vê-se melhorias exorbitantes e venho trabalhando dia a dia buscando mais melhorias para transformar Macau em um excelente mercado como Hong Kong, Tailândia, entre outros. Qual a relação do povo macauense com o futebol? São fanáticos por futebol, como o mundo todo, porém, com o futebol deles, eles não dão muito valor, mas isso vem crescendo muito, os estádios ficando mais cheios, a televisão está cobrindo mais jogos e assim divulgando mais o nosso trabalho para o país. Na temporada 2015, você anotou dez gols. Foi a sua melhor temporada na carreira? Fiz uma excelente temporada e creio que foi uma das melhores no geral em minha carreira, me sinto hoje, com 29 anos no meu melhor fisicamente, mentalmente e pessoalmente. As vezes não entendemos a vida dos atletas, mas isso tudo que citei é importantíssimo e influencia para podermos desenvolver o nosso trabalho em alto nível. Esse ano tive uma enorme confiança dos treinadores, jogadores, minha namorada que me aguenta diariamente e me ajuda em tudo. Então para resumir o momento cito essa frase: Mente sã, corpo são. 12

Na temporada 2015, o meia AS HISTÓRIAS de BRUNO marcou dez gols e ajudou o FIGUEIREDO CPK a ficar com a terceira Quando estive em Portugal no colocação da Liga de Elite Belenenses, estávamos em pré- (Foto:Acervo Pessoal). temporada e o treinador a todo momento falava: “Vamos malta”, que em português do Brasil significa: “Vamos pessoal, ou galera, ou gente”. E outro brasileiro que lá estava comigo perguntou para mim: “Cara, quem é esse ‘Malta’ que o treinador sempre fala, ele deve ser o fera do time, o craque”. Eu então perguntei se ele estava brincando? Ele disse que não, que queria saber quem era, logo expliquei e ele riu de se acabar (risos). No Irã tive que me adaptar ao modo de vida deles. Ônibus não se anda misturado. É determinado mulheres na frente e homens atrás, não pode se envolver com nenhuma mulher se não for assinado em cartório o tempo de relacionamento, com no mínimo sete dias. Caso aconteça e a família descubra, ela é deserdada. Estive no Irã bem em época de guerra com o Iraque e tínhamos um jogo importante pela semifinal da Taça, contra um time que era bem perto da fronteira com o Iraque. A todo momento passavam aviões, helicópteros, caças e bombas, não consegui dormir a noite toda com receio. Mas no dia seguinte graças a Deus ocorreu tudo bem no jogo. 13

APITO INICIAL MEU MUNDO É O FUTEBOL! 14

São milhões de brasileiros espalhados Você é brasileiro. pelo mundo. Muitos deles carregam Apaixonado por futebol, consigo a paixão pelo futebol e assim mais ainda pelo seu clube permanecem em sua nova casa de coração! A “vida” então te leva para fora de seu País, seja por sonho ou circunstâncias, longe dos estádios que você tanto frequentava. Sua nova morada é um local onde o futebol não é tão visto, mas está lá... Em 2013, o Ministério das Relações Exteriores divulgou que 2,5 milhões de brasileiros moram no exterior. Esse número leva em consideração relatórios e matrículas de Consulados e Embaixadas do Brasil. É certo que há mais brasileiros do que o apresentado, devido a situação irregular de muitos, que preferem não participar de pesquisa sobre tal estimativa. São várias as circunstâncias que levam os “tupiniquins” para “desbravarem” novas terras: educação, trabalho, vida pessoal. Para aqueles que amam futebol, conhecer o esporte local é uma das primeiras coisas a serem feitas e alguns convivem com uma alternatividade futebolística, seja em Cracóvia, norte da Polônia; Faro, sul de Portugal ou em Tallinn, norte da Estônia! 15

O sonho de Cracóvia Paulo é torcedor e sócio de “carteirinha” do Wisla Krakow (Foto:Acervo Pessoal). 16 Quando criança, em Pato Branco, sudoeste do Paraná, sua mãe o levava até o estádio Os Pioneiros, para acompanhar as partidas do clube local. Esse é Paulo Gregoreki, 32 anos, que apesar de ter convivido em uma família, com torcedores do Grêmio, Internacional e Caxias, se tornou palmeirense. Sua mãe era flamenguista, o que rendeu uma ida ao Maracanã, ao lado dela. “Amo o futebol brasileiro como um todo”, conta. Paulo gosta acima de tudo de futebol. O paranaense é descendente de polacos e desde criança comungava do desejo de morar em Cracóvia e viu na faculdade, a chance de realizar o sonho. A Polônia foi tema de sua monografia na graduação, ao escrever sobre a comunidade que vivia em Marechal

Cândido Rondon. Assim, Gregoreki identificam) perguntaram para mim, se resolveu fazer o mestrado em sua eu era católico. Aqui na Polônia, religião “terra”. e futebol andam muito próximos. O que as vezes pode ser um problema”. Quando chegou ao país, o mestrando teve uma obrigação. “Logo Agora em Cracóvia, além de ver o que me instalei uma das primeiras Wisla, o “polonês-brasileiro” arrumou coisas que procurei conhecer foram as um novo time para acompanhar, rotas dos estádios”. Em seu currículo direto da quarta divisão nacional, o estão os estádios do GKS Katowice, Hutnik Krakow, que é de Nowa Huta, Rozwoj Katowice, Ruch Chorzow, Hutnik distrito da cidade, mas usa o nome Krakow e o seu time, o Wisla Krakow. da “metrópole”. A equipe também, “Aqui tenho carteira de torcedor e o segundo Paulo, é de um bairro respeito do clube pela minha pessoa é considerado como uma “quebrada”. muito maior. O porteiro me chama pelo “Não é todo mundo que curte e encara nome e sobrenome! Há uma diferença ir lá, se meter no meio daquele bairro gritante. Quando o Wisla joga é uma só para ver futebol. Lá é um bairro sensação diferente”. industrial, de povo humilde, não é o que sai no cartão postal”. Nas suas andanças pelo futebol local, Paulo tem um histórico Seja na “quebrada” do Hutnik ou alternativo. Em Katowice, ele morou até do Rozwoj, o fato de um brasileiro 2014 e lá acompanhou o GKS, clube acompanhar o clube diretamente no mais popular, mas preferia o Rozwoj, estádio causa orgulho nos torcedores que estava na terceira divisão. “Ir no locais. “Eles não estão preparados estádio do Rozwoj e ver a Terceirona digamos para ter o futebol deles polaca foi sensacional. Gosto muito apreciado por brasileiros. Por de jogos assim”. O clube é do bairro isso quando te identificam eles te de Ligota, uma “quebrada” da cidade, perguntam se você está gostando, como diz Paulo. Algo chamou a agradecem até por você ir ao estádio”. atenção em um dos primeiros contatos Paulo também sente orgulho, ainda com a torcida local. “A coisa mais mais por ter visto diretamente do inusitada que me aconteceu foi quando estádio, o acesso do Rozwoj para eu fui até o barzinho do estádio do a segunda divisão. Um brasileiro Rozwoj comprar cerveja e os hooligans apaixonado pelo futebol polonês. (alguns torcedores do clube assim se 17

Um botafoguense no Faro Com a “amarelinha”, Marco foi cercado pelos gibraltarianos em paritida (Foto:Acervo Pessoal). 18 Era 11 de outubro de 2015. “Cara, que experiência doida!”. Gibraltar e Escócia se enfrentaram no Faro, Portugal. “Mistura de clima de Copa do Mundo com amistoso oficial”. Apesar de eliminada, 15 mil escoceses cruzaram o continente para ver o confronto contra uma das mais cultuadas seleções alternativas do momento. Marco Antônio Rigotti, 21 anos, estava lá e viu tudo isso de perto. Ver Gibraltar de perto é um desejo de dez entre dez interessados por futebol alternativo e Marco teve a chance, onde recebeu cumprimentos por ser brasileiro. “Eles adoram brasileiros! Me viam com meu agasalho no entorno do estádio e sempre pediam fotos, com as famosas palavras ‘joga bonito’, ‘Pelé’ ou ‘Ronaldinho’”,

conta. de público é de 1.500 torcedores, com Nascido em Araçatuba, criado em apenas alguns seguranças nas balizas “protegendo” os adeptos. Quanto ao Ribeirão Preto, formado em Uberlândia nível de jogo, Marco vê uma nítida e mestrando no Faro. Marco se diferença. “Jogadores com muito vigor formou recentemente em Relações físico, porém pouca técnica. Em todos Internacionais e resolveu ir para o os jogos que vi até agora, não encontrei Algarve fazer o Mestrado em Gestão um time com um camisa 10 capaz de Empresarial e o futebol foi um dos fazer aquele passe em profundidade. primeiros pontos que queria conhecer Temos jogadores mais técnicos na Série na nova terra. “Sem dúvidas!”. D no Brasil, mas eu não garanto que nossos times da quarta divisão teriam Na primeira divisão portuguesa, capacidade física de competir com os porém, a região sul não possui daqui”. representantes, mas o clube da cidade, o Farense da segunda divisão foi o Série D! Apesar de longe, Marco escolhido pelo brasileiro, que desde Antônio pode vibrar de longe com que chegou lá, foi a todas as partidas a conquista do “seu” Botafogo no estádio de São Luis. “Não perco um! de Ribeirão Preto. Ele “nasceu” Ir ao estádio é um processo de catarse. palmeirense, mas aos 14 anos, se A torcida é apaixonada e extremamente mudou com a família para Ribeirão orgulhosa de si e seus feitos”. Preto e como ele se diz “doido por futebol” passou a frequentar o Santa Rigotti se tornou conhecido no Cruz e a paixão o pegou. “Viajava direto meio da torcida, que já o chama de “o com a torcida, já fui bilheteiro, já atendi brasileiro”. Torcida essa que apoia o na loja do Botafogo, já vendi ingresso, tempo inteiro, inclusive Marco. “O time já fui tudo lá dentro, me sentia parte faliu uns anos atrás e recomeçou da de tudo aquilo e nunca mais consegui divisão mais baixa do país, os distritais largar o Botinha!”. Quando morava em amadores. É bacana acompanhar o Uberlândia, sempre ia a cidade para processo de reestruturação desse time”. ver o clube, agora em Faro não pode ir, mas continua acompanhando. Seja Segundo o mestrando, o futebol com o Botafogo, o Farense ou Gibraltar, dos gajos é bem diferente do brasileiro. Marco não deixa de lado, o futebol! Primeiramente, pelo estádio com capacidade para 13 mil pessoas, onde não há grades ou policiais. A média 19

Na Estônia tem futebol Seja na Estônia ou Brasil, o clube de Antonio é alvinegro (Foto:Acervo Pessoal). 20 Certo dia navegando pelo CouchSurfing (rede de serviço de hospitalidade), uma moça pedia informações sobre o Rio de Janeiro. Foi então que um carioca viu que ninguém havia respondido-a e resolveu ajudá-la, com os dados que queria. A viagem ia demorar seis meses, então eles passaram a conversar para continuar trocando ideias sobre a viagem, algo despretensioso. Até que um dia, ela chegou e eles acabaram se gostando. Ela mudou sua rota de viagens pelo Brasil para ficar com ele. O tempo passou e eles resolveram morar juntos na casa dela. Era um teste de dois meses que já dura quatro anos. O carioca era Antonio Bordallo, 35 anos e a moça, uma estoniana, que hoje vivem em Tallinn. Por ser do Rio, logo se pensa que

Antonio tem como time, um dos que um time estoniano ganhava quatro grandes do estado, mas não. de um finlandês numa competição Ele é corinthiano. “Sempre acompanhei internacional”. Festa no Hiiu Stadium. futebol e por mais estranho que pareça, torço pelo Corinthians desde Os estádios das Estônia são a adolescência, mas por identificação característicos e possuem um lanche mesmo”. A camisa alvinegra que famoso. “A comida típica de estádio carrega assistiu a vários jogos na aqui é um tipo de tiras de pão preto Estônia, desde o Nacional, competições frito com cobertura de alho moído. Em europeias e até jogos da seleção local. todo lugar se vende isso”. No Hiiu, um buffet tem parceria com o clube, com Bordallo tem “uma relação cordial direito a hambúrguer de carne de porco com todos os times” do país, mas tem com molho teriyaki. “Foi a melhor no Nõmme Kalju, o seu preferido. comida que já consumi num estádio de “Além de ser o time com maior número futebol em toda minha vida. E olha que de estrangeiros, o time já contou no já fui em muito estádio por aqui”. passado com quase meio time de brasileiros. Ainda não morava nessa Apesar da paixão pelo futebol, época aqui, mas até hoje o técnico é segundo Antonio, é comum ter o brasileiro Getulio Fredo, uma das estonianos que não fazem ideia do figuras mais carismáticas do futebol que acontece no campeonato nacional, estoniano”. Essa busca começou ainda mas acompanham a Premier League. quando o time era da segunda divisão A seleção local possui adeptos e o e chegou ao auge, com o título da carioca já viu uma “facilitada” para a Meistriliiga, a primeira divisão. Holanda, em pleno estádio. “A Estônia conseguiu estar na frente, mas sabia O carioca continuou a acompanhar que todo o país não estava acreditando o clube e presenciou um momento no que estava acontecendo. Os laranjas marcante para ele e histórico para o conseguiram virar o jogo, mas aquele futebol local. “Foi a primeira vez na momento que Davi estava vencendo vida que assisti pessoalmente um Golias está na memória de todo jogo válido pela Champions League: torcedor estoniano!”. E com certeza, na Kalju x HJK Helsinki. O Kalju já havia mente de Antonio também. Mais um de vencido o jogo fora e na Estônia muitos que ele ainda irá acompanhar conseguiu empatar e levar a vaga em terras estonianas. pra fase seguinte. Foi a primeira vez 21

APITO INICIAL As cinco mil vozes Me chamo João. Sou conhecido na minha cidade como “Joãozinho 5 mil”. Pode parecer estranho, mas esse apelido, eu ganhei por ser um assíduo frequentador do estádio Cinco Mil Vozes, local que joga meu time, o Cinco Mil Futebol Clube. Percebeu que tudo tem cinco mil no meio? Pois é. Isso porque, a cidade que moro, Dez Mil (sim, esse é o nome), no interior do país tem como grande ponto de lazer, o estádio que veio primeiro que o clube. O futebol amador utilizava o estádio, não arena, que recebe outros eventos, também. O local nasceu com o “lema” de comportar a metade da população do município. O futebol amador era forte e então, os clubes resolveram se unir (parece mentira) e profissionalizar uma equipe para a cidade. Nasceu assim, o Cinco Mil, em homenagem ao nosso estádio. Começamos na segunda divisão estadual. O primeiro ano foi de experiência e o acesso não veio, mas a torcida lotou o estádio, colocando metade do município lá dentro. Na temporada seguinte mais preparados, nos enchemos de orgulho com o acesso e o título. Uma festa na cidade! 22

Permanecemos na primeira a 0. Foi indescritível. No jogo de volta divisão sem sustos, durante quatro lotamos o “Cinco Milão”. Controlamos anos. Sempre com a melhor média a partida. O jogo caminhava para o de público. Na quinta temporada empate sem gols, mas em um contra- montamos um time muito bom para ataque nos acréscimos fechamos os padrões locais. Nossa categoria de o placar. O acesso era nosso. Que base era a melhor do estado, buscamos “troço louco”. Não fomos campeões, jogadores de fora e deu até para trazer mas conseguimos um calendário e as um folclórico atacante. “sobras” da grande mídia. Fomos campeões! Que dia A felicidade, no entanto virou fantástico! O melhor da história de espanto. A federação diz que iremos Dez Mil! O próximo passa era buscar a participar da “nova” divisão, mas vaga em uma divisão nacional. O grupo não poderemos jogar em casa. Me estava fechado e queria continuar. perguntei o que há de errado com Como o campeonato é “escondido”, os o estádio. O gramado é bom. Os jogadores não ficaram visados. vestiários são confortáveis. Mesmo com poucas cadeiras, o concreto sustenta Desde que entramos no profissional a empolgação da torcida. Pode não temos a maior média de ocupação ser moderno, mas é funcional. Tudo dos campeonatos que disputamos. isso será desconsiderado por causa da Mantivemos isso no Nacional, que capacidade? Oras, temos um estádio foi duro. Conseguimos a vaga para a que coloca metade de uma cidade. segunda fase na última rodada, com Não podemos criar do nada cinco um 1 a 0 difícil. mil lugares. Agora ficamos assim, esperando que possamos convencer os Na fase final, quatro jogos restavam dirigentes a liberarem o nosso estádio. para o acesso. Colocar o estado no Se subimos em um estádio para cinco cenário do futebol nacional. Nas mil pessoas é nele que devemos oitavas, dois empates, mas fizemos continuar até onde o nosso time nos mais gols fora e nos classificamos para levar. o confronto do acesso. O primeiro jogo era fora. Não acreditei no que vi. Ganhamos por 3 23

PELEJA ALEATÓRIO e FOTOS KAIQUE AUGUSTO TEXTOS FELIPE AUGUSTO ESCONDIDO 24

Noite de quarta-feira, 14 de agosto de 2015. Em Maringá, o tradicional dia da feira livre, ao lado do estádio. Talvez muitos nem perceberam, mas os refletores do Willie Davids estavam ligados, a bola ia rolar. Em campo, Grêmio Maringá e URSO Mundo Novo. Os dois clubes que se preparavam para buscar os acessos em suas respectivas divisões estaduais, mas que não conseguiram ao final delas. 25

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No lado de fora do campo, os treinadores falavam. Ora contra o árbitro, ora com o time. O Grêmio abriu o placar, em chute cruzado de Douglas, aos 15 do primeiro tempo. O jogo melhorou. As faltas aumentaram. Em certo momento, falta dura no ataque do URSO, nada de cartão. Foi aí que Jandaia esbravejou: “O professor, os caras tão dando tesourinha. A gente vem do Mato Grosso do Sul e a várzea é aqui”. O jogo seguiu, um buraco no gramado fez com que Leto saísse de campo por um momento, com dores, retrato da partida, de marcação pesada. 27

Zé Teca, um apaixonado pelo URSO. O senhor tem mais de 15 anos de clube. É um faz-tudo! No profissional é massagista. Na base é auxiliar técnico. E anos atrás era jogador do clube, tanto que nas suas andanças pelo futebol, o Willie Davids foi palco para mostrar o que sabia. Numa conversa rápida, todo humilde ele conta boa parte de sua história. Deixa escapar que torce pelo Santos, mas demonstra tamanho afeto pelo URSO, que fica claro para quem torceria em um confronto que parece distante atualmente. Zé Teca é mais um entre vários brasileiros que trabalham no anonimato, amam um clube pequeno e acima de tudo, o futebol. 28

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LADO B DA PRIMEIRA PARA A 1 3TERCEIRA No ápice de suas carreiras, eles mostraram seu futebol nas primeiras divisões nacionais e até mesmo, nas principais competições continentais ou na Copa do Mundo. Atualmente, eles defendem clubes da terceira divisão, por muitos aspectos, seja idade, físico e “esquecimento”. A Série Z demonstra 12 jogadores que agora estão no lado B do futebol, seja na Inglaterra, Espanha, Japão e Brasil 30

Joe Cole – Coventry City (Inglaterra) Autor de um dos mais belos gols na Copa do Mundo 2006, Joe Cole era aquele meia que formava um “quadrado mágico” na seleção inglesa, ao lado de Beckham, Lampard e Gerrard, o que fez com que até Galvão Bueno dissesse que quem realmente era bom naquele time, fosse o meia inglês que participou do começo e afirmação da Era Abramovich no Chelsea. (Foto: Facebook Coventry City FC) Jussi Jaaskelainen – Wigan (Inglaterra) Aqueles que acompanham o futebol inglês, desde meados dos anos 1990, com certeza devem tem visto um jogo de uma equipe grande que teve o finlandês Jaaskelainen como goleiro adversário, com seus 15 anos de Bolton, onde é ídolo da torcida. (Foto: Facebook Wigan Athletic) (Foto: Daniel Marenco/ Felipe Mattioni – Doncaster (Inglaterra) ClicRBS) Em 2008, o lateral Felipe Mattioni surgiu como uma grande promessa do Grêmio, mas logo no começo de 2009, o Milan acertou a contratação do jogador, para “atuar” ao lado de 31 Ronaldinho, Kaká, Pato, Emerson, Cafu e Dida, mas isso não aconteceu. No meio do ano acertou com o Mallorca e ficou outras cinco temporadas no Espanyol, onde encerrou sua passagem no meio de 2015, para acertar com o Doncaster.

Daniel Güiza – Cádiz (Espanha) (Foto: Divulgação) Temporada 2007/08, o Mallorca terminou na sétima colocação de La Liga e com o artilheiro da competição: Daniel Güiza. O atacante fez 27 gols na temporada, três a mais que Luis Fabiano e como “prêmio” garantiu convocação para a Eurocopa 2008, onde fez dois gols e foi campeão com a Espanha. Após a temporada dos sonhos, Güiza acertou com o Fenerbahçe, onde foi treinado por Luis Aragonés, que lhe deu chance na seleção. Fez duas boas temporadas e foi convocado para a Copa das Confederações, mas experimentou uma derrocada. Seu último clube foi o Cerro Porteño! Sim, isso mesmo. (Foto: Divulgação) Javier Portillo – Hércules (Espanha) Em 2002/03, o atacante Portillo, com 21 anos, tinha Raúl, Ronaldo e Morientes como rivais na busca por uma vaga na equipe titular do Real Madrid. Foi nesse contexto que Javier surgiu e até que foi (muito) bem, com 14 gols, em 24 jogos. Na temporada seguinte, 28 jogos e dois gols. No meio de 2004 acertou com a Fiorentina e até voltou para o Real, mas não se firmou. São seis temporadas pelo Hércules, desde 2009, com cerca de 150 jogos e 44 gols marcados. Toró – Sagamihara (Japão) (Foto: Fumikazu O volante marcou seu nome no Flamengo, quando Watanabe/SC Sagahamira) deixou de ser atacante, como era nos tempos de categoria de base do Fluminense, para mudar de posição quando era comandado por Joel Santana. Toró também é conhecido por ter atuado como Pelé e em uma simulação de um golaço no Maracanã, para o filme Pelé Eterno. 32

BRASILEIRÃO SÉRIE C GRUPO A GRUPO B Dudu Cearense - Fortaleza Boquita - Portuguesa (Foto: Rodrigo Carvalho) (Foto: Mauro Horita/AGIF/AE) Corrêa - Fortaleza Fumagalli - Guarani (Foto:Tatiana Fortes) (Foto: Rodrigo Villalba / Memory Press) Léo Gago - América (RN) Paulo Baier - Juventude (Foto: Canindé Pereira) (Foto: Porthus Junior / Agencia RBS) 33

CONTEXTO ONDE ESTÁ VOCÊ, FUTEBOL? Elenco do Mandaguari, campeão do norte paranaense (Foto:Acervo Jornal do Povo). 34

Sou natural de Maringá, 105 mil reais. Possivelmente, o clube noroeste paranaense. que entrar nessa, já começa “em Fui criado em Floriano, débito”. Por 100 mil reais a menos, um distrito da cidade. um clube pode se filiar como amador. Minhas opções de futebol Uma disparidade! Não que os clubes “profissional” ao longo do amadores tenham que pagar mais. tempo se resumiram ao Willie Davids, Além da taxa de filiação, os clubes estádio da cidade, para ver clubes, devem arcar com uma taxa anual de obviamente, maringaenses. Mas algo alvará de licenciamento de dois mil a incomoda. Não ter a oportunidade quatro mil reais, com taxas de registro de ver os municípios da região para profissionais, juniores e juvenis metropolitana com clubes profissionais. de 200, 60 e 40 reais, respectivamente, Não poder vê-los nos estádios entre outros. “vizinhos”. O Willie Davids, em seu nome traz: Nesse cenário, as cidades da estádio regional. E há razão para isso. região mantêm o futebol apenas no O Cianorte, por exemplo, que não faz nível amador. A Liga Desportiva de parte da região metropolitana, mas Maringá (LDM) realiza anualmente está relativamente próximo à cidade, o Campeonato Amador Regional, mandou o jogo contra o Corinthians conhecido como Super Amador ou em 2005, pela Copa do Brasil, no WD Amadorzão. Em 2015, oito equipes (como é conhecido). Muitos torcedores disputaram o título: Sarandi, São Jorge da região acompanham, atualmente (São Jorge do Ivaí), Itambé, Castelo o Maringá FC e o Grêmio Maringá. Branco (Presidente Castelo Branco), Sem contar o apoio das décadas de Munhoz de Melo, Atlético Marialva, 1960 e 1970, época de ouro do futebol Santa Fé e Iguatemi (distrito de maringaense. Maringá). Os sete primeiros fazem parte Mesmo assim, ainda fica aquela da Região Metropolitana de Maringá. questão. E os nossos vizinhos? O futebol mudou, se globalizou e ficou Até maio de 2010, a RM Maringá mais caro. A taxa de filiação cobrada era composta por 13 cidades: Astorga, pela Federação Paranaense de Futebol Ângulo, Doutor Camargo, Floresta, (FPF) para clubes profissionais é de Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Maringá, Paiçandu e Sarandi. Posteriormente, 35

12 cidades foram incluídas: Atalaia, Associação Atlética Astorga Bom Sucesso, Cambira, Floraí, Flórida, Disputou a primeira divisão paranaense entre Jandaia do Sul, Lobato, Munhoz de 1958 e 1962 sem grandes campanhas. Mello, Ourizona, Presidente Castelo Branco, Santa Fé e São Jorge do Ivaí. Nova Esperança Esporte Clube Em 2012, Nova Esperança também Participou de três edições da primeira divisão foi incluída. A RM ainda pode crescer, já que mais oito cidades podem ser estadual: 1961 a 1963. Não teve grandes inclusas: Marumbi, Santo Inácio, resultados. Colorado, Paranacity, Engenheiro Beltrão, Fênix, Barbosa Ferraz e Quinta Indecapa Futebol Clube do Sol. Um total de 36 cidades, caso Segundo clube profissional de Nova Esperança, o seja aprovado. Indecada surgiu em 1976, para a disputa da se- gunda divisão e depois disso não há registros do Tendo o PIB em reais de 2008 de clube. cada cidade como comparativo, das 25 (sem contar Maringá) atuais cidades da RM Maringá, 11 delas não tem PIB maior do que a taxa de filiação da FPF. Apenas Sarandi (cerca de 740 mil), Marialva (630 mil) e Mandaguari (510 mil) possuem um PIB maior que 500 mil reais. As outras 11 cidades têm PIB entre 102 mil e 375 mil reais. Com uma taxa incompatível com a renda é explicável a razão das cidades “vizinhas” não terem clubes profissionais. Lembrando, é apenas um exemplo, uma comparação. Dinheiro público tem outras prioridades. A região de Maringá é apenas um caso, onde o futebol profissional não se desenvolve devido a taxas fora da realidade impostas pelas federações. E quantas dessas cidades já tiveram clubes ditos profissionais? Confira ao lado (alguns escudos encontrados não possuem uma qualidade de imagem boa, mas vale o registro): 36

Mandaguari Esporte Clube Sem dúvidas, o maior clube da região metropolitana de Maringá. Em 1960, com uma base de jogadores paraguaios, a equipe foi campeã do Norte e chegou ao vice- campeonato estadual, vencido pelo Coritiba. Jandaia Esporte Clube Ao lado do Londrina e do Paranavaí, é o maior campeão da segunda divisão estadual com três títulos. Feito que alcançou em 1966, 1969 e 1994. Participou de sete divisões da primeira divisão: 1967, 1968, 1970, 1971, 1972, 1995 e 1996. Águia Futebol Em 2001, o futebol mandaguariense retornou com título. O Águia foi campeão da terceira divisão, mas não disputou a segundona em 2002. Em 2004, se transferiu para Maringá. Atlético Clube Marialva São poucos registros históricos do clube. Em um deles, há uma partida contra o Olaria, que realizava uma excursão pelo Brasil. Resultado: 9 a 1 para os cariocas. Clube Atlético Independente Único representante do futebol de Mandaguaçu, o Independente participou de duas edições da primeira divisão, em 1962 e 1963. O escudo do clube não foi encontrado. 37

CONTEXTO O INTERIOR URUGUAI E A COPA 2030 Ainda não há nada definido, mas é para pensar: será que o interior uruguaio comporta uma Copa do Mundo? Estádio Arquitecto Antonio Eleuterio Ubilla, em Melo, nove mil lugares, casa do Cerro Largo, equipe que disputa a segunda divisão nacional 38

Em 2013, Julio Grondona, então cidades contam com um futebol forte presidente da Associação e o principal, com torcida. Enquanto do Futebol Argentino (AFA) o Uruguai tem um monopólio garantiu que a Copa do futebolístico em Montevidéu. Mundo de 2030 seria sediada em conjunto por Uruguai e A FIFA exige que os estádios para a Argentina, pois esta edição celebrará o Copa do Mundo devem ter no mínimo centenário da competição e a escolha 30 mil lugares, se bem que o que se vê por esses países levaria em conta que nas últimas edições são estádios com os selecionados fizeram a final em mais de 40 mil lugares. Provavelmente 1930 vencida pela Celeste, sede da seriam dez sedes (neste caso, cinco competição. para cada país), como na África do Sul A ideia do Mundial ser realizado em 2010. em solo sul-americano surgiu como uma surpresa e logo foi se perdendo Em 1930, a Copa do Mundo do no tempo, seja pela morte de Julio em Uruguai poderia muito bem se chamar 2014 ou pelos escândalos envolvendo Copa do Mundo de Montevidéu, a FIFA. “Não se fala muito da Copa. pois os três estádios que foram sede Os rumores tomam força quando eram da capital uruguaia. Esse cenário se disputam jogos importantes das preocupa para uma possível volta (Eliminatórias e) Copa e quando se do torneio para o país: a situação fala dizem que será compartilhada do interior uruguaio. “Montevidéu e com a Argentina, porque não temos a Punta Del Este são cidades com uma infraestrutura para um Mundial”, conta estrutura, no mínimo, razoável para a uruguaia Rossina López Cuevasanta, atendimento ao turista e não teriam 22 anos, estudante e auxiliar contábil. problemas na questão de hotelaria Uma Copa do Mundo exige e de transporte. Colonia ainda tem a estrutura e estádios por todo o país, vantagem de estar a menos de 100 mesmo que a capital comporte mais km de barco de Buenos Aires e o de uma arena. Assim fica a dúvida transporte fluvial entre as duas cidades quanto às sedes. A Argentina não é normal”, conta o jornalista Victor de deve ter problemas quanto a isso, Andrade, 38 anos, que já viajou cinco levando em consideração que várias vezes para o Uruguai, como turista, sendo a última em março de 2015. Entretanto, Victor cita que o interior 39

apresenta problemas. “As cidades mandando seus jogos fora da capital. são pequenas, pouca rede hoteleira As cidades têm uma população e transporte apenas de ônibus”. Punta Del Este teria a vantagem de semelhante ao número de lugares que ser “grudada” em Maldonado, cidade os estádios devem contar, mas isso não interiorana que segundo Victor possui é o pior, a torcida dos dois clubes não o melhor estádio fora da capital. comportam possíveis arenas. O estádio do Plaza conta com 15 mil lugares, Segundo o Censo 2011, a capital do enquanto o de Las Piedras comporta país praticamente comporta metade 12 mil pessoas. Como vimos existe uma da população. Montevidéu tem uma grande diferença. população de um milhão e 305 mil pessoas, sendo que o Uruguai conta “O Estádio Suppici, de Colonia del com cerca três milhões e 300 mil Sacramento, teria que sofrer inúmeras pessoas. A diferença é considerável obras de estrutura para ser uma sede para Ciudad de la Costa, a segunda de Copa do Mundo, comparando maior cidade uruguaia, com 112 com os estádios que vi jogos na Copa mil pessoas, mas que fica na região de 2014. O Suppici até tem uma boa metropolitana da capital, apesar de ser estrutura para o Campeonato Uruguaio, de outro departamento. mas fica muito longe para ser sede da Copa de 2030”, conta Victor, que Essa disparidade reflete no futebol. assistiu jogos do Mundial de 2014 em A temporada 2015/16 do Campeonato Curitiba e São Paulo. Uruguaio da Primeira Divisão conta com 16 clubes, onde apenas duas Na temporada 2012/13, o volante equipes não são da capital: Plaza Pedro Mondardo, 21 anos, defendeu o Colonia (Colonia del Sacramento, 26 Cerro Largo (Melo, 52 mil, nona maior mil, vigésima maior cidade) e Juventud cidade) e segundo ele, os próprios (Las Piedras, 71 mil pessoas, sétima moradores do interior, apesar da paixão maior cidade) são os representantes pelo clube, o tratam como um segundo não capitalinos da elite uruguaia, time. “Todos da cidade gostam e sendo que o segundo fica na região apoiam o clube, tem torcida organizada metropolitana de Montevidéu, que não para de apoiar, mas claro que mesmo que em outro departamento, seus primeiros times são os da capital Canelones. Sud América e El Tanque como Peñarol, Nacional e Defensor, por Sisley são de Montevidéu, mas vêm isso os jogos contras os grandes times eram os que mais enchiam”. 40

Estádio Raul Goyenola, em Tacuarembó, capacidade para oito mil pessoas Estádio Atilio Paiva Olivera, em Rivera, 27 mil espectadores, o maior do interior uruguaio 41

Parque Artigas, estádio em Paysandu, 27 mil lugares e que recebeu a Copa América, em 1995 Estádio Domingo Burgueño Miguel, em Maldonado, 25 mil pessoas, um dos favoritos do interior uruguaio para receber uma Copa 42

Ciudad de la Costa, Salto (104 mil), Artigas, que tem a capacidade de 25 mil Paysandu (87 mil), Maldonado (84 mil), e já foi sede de uma Copa América, mas Rivera (79 mil) são as maiores cidade os seus dois clubes não condizem com do “interior” uruguaio e destas, apenas o tamanho da cidade, pois o Estudiantil uma possui representantes na segunda Sanducero e o Paysandú Bella Vista, divisão. Tal divisão que em 2015/16 também disputam as ligas amadoras conta com 15 clubes, destes apenas regionais. cinco são do interior: Tacuarembó (Tacuarembó, 54 mil), Atenas (San “O Uruguai sediou a primeira Copa Carlos, 27 mil), Cerro Largo (Melo), do Mundo em 1930. Experiência eles Deportivo Maldonado (Maldonado) e têm, mas muita coisa mudou, o interior Rocha (Rocha, 25 mil). O Oriental não é do país é formado de cidades pequenas de Montevidéu, e sim de La Paz, mas é sem muitos meios de locomoção e a o mesmo caso do Juventud. O Boston hotelaria não sei se aguentaria tantas River e o Huracán são capitalinos, pessoas. Acho que sozinho o país não mas jogam fora da cidade, sendo que conseguiria receber uma copa hoje, o segundo disputa suas partidas em mas com o auxilio da Argentina, sim”, Rivera. Apenas o Tacuarembó e o cita Pedro Mondardo. Deportivo Maldonado têm sede em uma cidade interiorana com mais de O cenário não é favorável para o 40 mil pessoas, número “mínimo” de interior uruguaio. Montevidéu deverá capacidade dos estádios construídos ter, caso o Uruguai seja sede, dois ou para as últimas edições da Copa. três estádios na competição. A situação do interior fica comprometida. Levantar O maior estádio do interior uruguaio elefantes brancos em um dos países fica em Rivera, o Atilio Paiva Oliveira, mais equilibrados da América do Sul que comporta 27 mil pessoas. A não parece estar em pauta, mas tirar o cidade conta com o Frontera Rivera interior dessa festa é injusto. Levando que atualmente faz parte do futebol em conta o futebol: Melo, Las Piedras amador uruguaio, depois de grave e Maldonado estão na frente, mas isso crise financeira no começo do século. não é garantia de sucesso pós-copa Paysandu conta com o estádio Parque pelo contexto atual. 43

2-3-5 MOVIMENTAÇÃO TÁTICA E ÍMPETO OFENSIVO por JOÃO VITOR POPPI Os aspectos táticos que envolveram Senegal (Foto:Alex Livesey/Getty Images). e Turquia, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 2002 44

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ma das quartas de final mais 0X alternativas das Copas do Mundo. Essa foi Senegal e Copa do Mundo 2002 Turquia, que com propostas de jogo distintas fizeram um grande jogo capaz de Unos ensinar muito, pois foi repleto de perspectivas táticas que viriam a evoluir e se firmar na atual década – revelando que aquele era um momento de transição. A equipe africana era de vocação ofensiva e iniciou o duelo propondo o jogo, postada em um 4-3-3 com um triangulo de base alta no meio de campo. A Turquia atuou em um 4-4-2 (quase) britânico e sofreu bastante nos trinta minutos iniciais com a imposição física de Senegal. 46

X1 4’ 2ºT - P Mansiz O técnico Bruno Metsu adiantou sua equipe para marcar no campo ofensivo, Quartas de final desarmar mais perto do gol para colocar 22 de junho toda verticalidade senegalesa em boas Nagai Stadium, Osaka situações, além de bloquear a saída de bola turca com os meias centrais e forçar o lançamento longo do adversário. Em questão de produtividade as escolhas foram certeiras: domínio, chances de gol criadas e até gol anulado – corretamente. A mobilidade do ataque senegalês funcionava com Diouf encarregado como “falso” 9, sempre recuando e ajudando armar, para deixar os zagueiros sem referência de marcação e abrir diagonais para os pontas Fadiga e Camara infiltrarem, e outras vezes ainda trocava de posição DIOUF FADIGA O camisa 11 recua, tira a referência de marcação dos zagueiros e cria um grande espaço para os pontas infiltrarem. Camara, o ponta direita, está na outra extremidade do campo, buscando fazer a diagonal para a área adversária, criando mais uma opção para a jogada. 47

com o último. não estava em uma jornada feliz e acabou Foram trinta minutos de superioridade substituído por Mansiz. A equipe turca mostrou-se moderna, sendo armada pelos mantendo o ritmo sempre alto, mas aos meias centrais (ou volantes) Tugay e, pouco a intensidade física diminuiu e a principalmente, Basturk, que qualificava a Turquia, que conseguiu manter o zero no saída de bola e subia seu posicionamento placar mesmo em uma situação em que se colocando como opção, quebrando as foi dominada, igualou o jogo no restante linhas de marcação adversária e dando o da primeira etapa e conseguiu colocar em último passe. prática suas estratégias para dominar o segundo tempo. A Turquia dominou os espaços vencendo o duelo no centro de campo. Com passes curtos para acionar os lados A movimentação da seleção do técnico de campo e troca de posicionamentos Senol Gunes funcionava como uma a seleção vermelha encontrou espaço e engrenagem com as subidas de Basturk, criou claras chances de gol – duas delas variando taticamente pro 4-1-3-2, Emre, o perdidas pela estrela Hakan Sukur, que DAVALA TUGAY Basturk, o meia central, Emre fecha o centro para facilitar o além de qualificar a saída de bola, apoio de Basturk e equilibrar a ultrapassa quebrando movimentação da equipe, as linhas de marcação de Senegal, dando praticamente se alinhando com Tugay. dinâmica e criatividade Além disso, abre um corredor para o ao meio campo turco. lateral Ergun ir à linha de fundo 48

extremo pela esquerda, fechava pelo centro criado dentro da proposta de jogo e se aproximando de Tugay e abrindo um movimentação já citada: Erdem (entrou corredor para as subidas do lateral Ergun. na vaga de Emre) acelerou a saída de bola fazendo a diagonal da esquerda para o O 4-3-3 de Senegal ficou com setores centro, acionou o meia/ponta direita Davala distantes: o tridente ofensivo não recebia que com espaço cruzou pra Mansiz desviar o apoio dos meio campistas (muito fortes e anotar o gol de ouro. fisicamente, mas pesados), sentindo muito a falta de Papa Bouba Diop se Senegal tinha o drible e a velocidade, deslocando pelo meio. Criou-se um grande a Turquia tinha o bom passe e a espaço entre estes setores, pois os pontas movimentação inteligente. Boas e participavam pouco da recomposição diferentes qualidades, mas venceu quem defensiva – ao contrário dos extremos foi mais aplicado, compacto e soube usar turcos que voltavam até o fundo de campo. e ocupar melhor os espaços. A força tática vermelha se sobrepôs. Aos três minutos da prorrogação o gol da épica classificação turca foi CAMARA DIOUF FADIGA 49

BOLA DE CAPOTÃO (Foto: Site Goiatuba EC) DO FILHO PARA O PAI, O GRANDE TÍTULO! Em 1992, o Goiatuba quebrou a hegemonia da capital e venceu o estadual. João Paulo Vilarinho foi um dos apaixonados que acompanhou aquela campanha 50


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