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Anuário 2010

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Description: Anuário 2010

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Anuário de Itajaí Itajaí - 150 Anos001-Anuario-001-01-62.indd 1 22/02/2011 10:22:23

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Anuário de Itajaí 150 Anos 2010001-Anuario-001-01-62.indd 3 22/02/2011 10:22:25

Prefeito Jandir Bellini Vice Dalva Maria Anastácio Rhenius Superintendente da FGML Darlan Pereira Cordeiro Diretor do Museu Etno-Arqueológico de Itajaí Ivan Carlos Serpa Diretora do Centro de Documentação e Memória Historica Vera Lúcia de Nóbrega Pecego Estork Diretora do Museu Histórico de Itajaí Beatriz de Oliveira Ex-Libris FGML - Anuário de Itajaí Periódico anual da Fundação Genésio Miranda Lins Projeto Gráfico e Edição Rogério Marcos Lenzi Conselho Editorial do Anuário 2010 Euclides José da Cruz Ivan Carlos Serpa Vera Lúcia de Nóbrega Pecego Estork Rogério Marcos Lenzi Francisco Alfredo Braum Neto Conheça mais sobre a Fundação Genésio Miranda Lins www.fgml.itajai.sc.gov.br Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores _______________________________________________ A636 Anuário de Itajaí 2010 / Fundação Genésio Miranda Lins. – Itajaí : FGML, 2010. 464 p. : Il. ISSN 1679 – 3056 1.Itajaí (SC) – História – Periódicos 2. História – Periódicos CDD: SC I981.642005 CDU: 94(816.4)Itajaí _______________________________________________ Ficha catalográfica Bibliotecária Vera Lúcia de Nóbrega Pecego Estork CRB 14/321001-Anuario-001-01-62.indd 4 22/02/2011 10:22:26

SumárioApresentação 06 ................................................................................................. 07 09Editorial 63 ................................................................................................. 137 173Anuário de Itajaí - 1924 205 ................................................................................................. 229 249Anuário de Itajaí - 1949 273 ................................................................................................. 295 313Anuário de Itajaí - 1959 335 .................................................................................................. 355 377Anuário de Itajaí - 1960 395 ................................................................................................. 451Anuário de Itajaí - 1998 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 1999 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2000 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2001 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2002 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2003 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2004 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2005/2006 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2009 .................................................................................................Anuário de Itajaí - 2010 .................................................................................................Índice iconográfico .................................................................................................001-Anuario-001-01-62.indd 5 22/02/2011 10:22:26

Anuário de Itajaí - 2010 6 Apresentação O Anuário de Itajaí, como sabemos, foi uma feliz criação dos eméritos jornalistas itajaienses Juventino Linhares e Jayme Fernandes Vieira, no distante ano de 1924. Pretendiam esses fundadores que a publicação se fizesse a cada ano, recolhendo notícias de acontecimentos relevantes da cidade, assim como, dar publicidade a trabalhos literários e outras informações úteis aos leitores. Essa primeira edição (hoje um volume raro e histórico) não foi seguida de outras, como era a intenção, até 1949, quando Marcos Konder e Silveira Júnior tornam a editar o Anuário. Também não houve continuidade e, em 1959, os jornalistas Laércio Cunha e Silva e Roberto Mello de Faria publicaram o Anuário desse ano e o de 1960, em comemoração ao 1º Centenário do Município de Itajaí. A publicação foi retomada em boa hora pela Fundação Genésio Miranda Lins no ano de 1998. O Anuário tem desde então a característica de anais da Fundação Genésio Miranda Lins, para a publicação daquilo que se produz em Itajaí, a cada ano, nos campos da história, da literatura, das artes, dentre outros. Neste ano de 2010, teve a mesma Fundação a louvável iniciativa de publicar esta edição especial do Anuário de Itajaí, comemorativa do Sesquicentenário do nosso Município. Ela é, portanto, o registro histórico da passagem deste acontecimento tão comemorado pelos itajaienses durante o ano de 2010; mas especialmente em junho, no mês do aniversário de 150 anos do Município de Itajaí. Tenham todos, pois, uma boa leitura e um reencontro com as histórias da nossa gente. Jandir Bellini Prefeito Municipal001-Anuario-001-01-62.indd 6 22/02/2011 10:22:27

Apresentação 7 Editorial Neste ano de 2010 em que o município de Itajaí comemora o Sesquicentenário de emancipação política e administrativa, a Fundação Genésio Miranda Lins presenteia a comunidade com uma edição especial comemorativa do Anuário de Itajaí. Considerado uma das importantes publicações periódicas da cidade, o Anuário de Itajaí atinge sua 10ª edição através da Fundação Genésio Miranda Lins, reunindo parte do conteúdo das edições anteriores e novas crônicas e depoimentos selecionados através de edital público. Neste sentido, a primeira parte do periódico apresenta fragmentos dos artigos, poesias, fotografia e informativos extraídos de todas as edições anteriores incluindo as de 1924, 1949, 1959 e 1960, e a segunda parte traz os resultados da produção literária atual. Esta edição histórica do Anuário de Itajaí será uma referência literária para estudantes, professores, pesquisadores e todos os cidadãos que amam e preservam a memória dessa “pequena pátria” chamada Itajaí. Darlan Pereira Cordeiro Superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins001-Anuario-001-01-62.indd 7 22/02/2011 10:22:28

Ó homens! 22/02/2011 10:22:31 Ó cais! Há em cada âncora um anjo sentado. Marcos Konder Reis001-Anuario-001-01-62.indd 8

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001-Anuario-001-01-62.indd 10 Preâmbulo Conversando certa noite, cerca de dois mezes, sobre cousas locaes, veio-nos á lembrança a organisação de um annuario para 1924, o qual repleto de informações uteis e interessantes, alliadas á descripção de diversos factos e cousas da nossa terra, registrasse em paginas que teriam vasta circulação, phases curiosas da vida social, política e histórica do nosso município, como das regiões cincumvisinhas. 22/02/2011 10:22:35

Anuário de Itajaí - 1924 11 Lançada e acceita a idéa, tratamos de executal-a com a maior presteza. A nossaconfiante boa vontade, entretanto, não soube prever os obstáculos que, num meiofalho de recursos como Itajahy, iriam antepor-se à realisação desse plano. O projectadoannuario deveria, para bom exito, ser posto em circulação, impreterivelmente, em finsde Dezembro de 1923 ou principios de Janeiro de 1924, porquanto só nesta epochadespertariam interesse as informações de que se fazia acompanhar. Procuramos, logo, quem se encarregasse de executar a parte material doannuario. Em vista, porém, do exiguo tempo disponivel (dois mezes para a confecçãode 350 paginas), vacillaram as typographias em assumir um compromisso de que senão poderiam desvencilhar em tão curto prazo, forçando-nos a supprimir a maior partedos escriptos que se relacionavam com o nosso municipio. Em vista disso, tivemos de modificar, a nosso pezar, a idéa primitiva e teve-se dediminuir numero consideravel de paginas e de converter o nosso annuario num simplesensaio, dividindo o trabalho de sua impressão com duas typographias locaes. Encorajados com o applauso de pessoas amigas e com o concurso do commerciolocal, sempre prodigo em favorecer as boas iniciativas, lançamo-nos ao trabalho,aproveitando para isso as poucas horas de que dispúnhamos à noite. Outro obstaculo, com que não contavamos, veio forçar-nos ainda a supprimira parte illustrada que daria ao annuario um cunho mais agradavel e attrahente: alytographia que se encarregàra da confecção dos clichês, faltou, devido á escassez detempo, com o compromisso assumido. Em agradavel contraste com esses obstaculos, surprehendeu-nos, porém, o modoverdadeiramente cavalheiresco com que fomos recebidos pelas casas commerciaesdesta praça, que, em meio às maiores attenções, nos auxiliaram com elevado numerode annuncios. Não menos attenciosa se mostrou uma pleiade de generosos amigos que,com o concurso de preciosas collaborações, muito contribue para maior realce dopresente livro. Si os fados nos não forem adversos e si o auxilio, até agora encontrado, nosnão faltar no decorrer do tempo, voltaremos, no proximo anno, consideravelmentemelhorados, a offerecer aos nossos leitores um trabalho mais perfeito e amplo,merecedor da geral attenção publica, procurando corresponder aos favores já recebidose ás prenunciadas gentilezas do nosso povo. Itajahy, Dezembro de 1923. Jayme Vieira Juventino Linhares001-Anuario-001-01-62.indd 11 22/02/2011 10:22:35

Anuário de Itajaí - 1924 12A Parochia de Itajahy commemora este anno o primeiro centenário de sua fundação A 31 de março do corrente anno os catholicos itajahyensescommemorarão o primeiro centenário da fundação da Parochiade itahahy, creada em 1824 pela provisão de D. José Caetano daSilva Coitinho, bispo do Rio de Janeiro, nomeando o rev. Pe. FreiPedro Antonio Agote, Capellão Curado do Districto de Itajahy, quecomprehendia todo o território entre os rios Gravatá e Camboriú. Este facto, de máxima importância na vida religiosa domunicípio, pois, assignalando uma nova época para os primeirospovoados desse gracioso torrão que viam assim, reunidos sob adireção de uma autoridade ecclesiastica, todas as manifestaçõesde fé religiosa que vicejavam então dispersas e no abandono,costituio também o alicerce sobre que se assenta hoje a féardente e inabalavel que domina nossos corações e presideaos actos de nossa vida. Folganos poder inserir em nossas columnas acopia de dous documentos que referindo-se ao factoa commemorar, constituem, pela opportunidade domomento, por sua antiguidade e pelo interesse quedespertam visto estarem intimamente ligados á historia deItajahy, documentos altamente valiosos e interessantes. O primeiro é a copia fiel integral da provisão quenomeia o rev. Frei Agote director espiritual das almasdos moradores de Itajahy e o segundo, transcripto deinteiro accordo com o original, assignado ainda <de cruz>conforme era habito firmarem-se naquelles tempos aspessoas analphabetas, constitue a copia da doação doterreno onde se acha edificada a actual Igraja Matriz, aoSantissimo Sacramento, padroeiro da nossa parochia, como fim exclusivo de ali ser construída a primitiva capella e orespectivo cemitério. Ambas as copias destes documentos foramtranscriptas directamente dos respectivos originaesainda existentes nos archivos parochiaes, onde a acçãodestruidora do tempo já tornou alguns trechos quaseillegiveis.001-Anuario-001-01-62.indd 12 22/02/2011 10:22:37

Anuário de Itajaí - 1924 13 Devemos a inserção de ambos estes curiosos documentos em nossas paginasa um acto de nimia generosidade do rev. Conego Francisco Giesberts, digníssimo eestimado vigário da Parochia que, com cavalheiresca gentileza, offereceu-se-nos adecifral-os pacientemente, copiando-os com clareza. Aos esforços e boa vontade do rev.Conego Giesberts devem, pois, os leitores, o prazer de velos transcriptos, em letras deforma, nestas humildes folhas.Copia da Provisão do primeiro vigário da parochia de Itajahy Dom José Caetano da Silva Coitinho por mcê. de Deus e da Santa Sé Apca. Bispode Rio de Janeiro, Capellão Mor de sua Mag. Imperial do Seo Conselho e Presidente daMesa da Consciencia e Ordem etc. Aos q´ presente Nossa Provisam virem Saude e Benção. Fazemos saber queattendendo Nosa Sufficiencia e bom procedimento do Rev. Pe. Frei Pedro Antonio Agote,Religioso Franciscano. Havemos por bem de o prover, como pela prezente. NossaProvisam o provemos e emquanto não mandarmos o contrario em a Occupação deCapellão Curado no Districto de Itajahy que comprehende todos os moradores entre oRio Gravatá do Norte e o Rio Camboriu do Sul a que Occupação servirá bem e fielmentecomo convem ao serviço de Deus e bem das almas dos moradores do mencionadoDistricto, administrando-lhes os Sacramentos e absolvendo-os de todos os peccados001-Anuario-001-01-62.indd 13 22/02/2011 10:22:40

Anuário de Itajaí - 1924 14excepto dos reservados, actuaes, voluntários concubinatos e occasiões próxima, fazendoEstações ensinando a doutrina christã principalmente aos pequenos e pessoas rudesque necessitarem de a saber e muito lhe encarregamos a boa direcção das almas dosmoradores do districto, do que darà contas a Deus Nosso Senhor e na dita ocupaçãoperceberá os fructos da ? e pé de Altar segundo o costume do Bispado alemda Congrua em que convencionar com o povo e todos os mais proes e precalças quedireitamente lhe pertencerem; e lhe concedemos mais a faculdade de poder benzerna forma do Ritual e Cemitérios e uma Capella do Smo. Sacramento logo que estiveracabada e em termos de se celebrar entretanto no Oratorio particular que lhe parecerdecente. E mandamos a todos os moradores do referido Districto reconheção ao dito Pe.Frei Pedro Antonio Agote por seu Capellão Curado e como tal o estimem, obedeção ebem tratem em tudo quanto são obrigados e para que inteiramente assim se observe apublicará em primeira Dominga ou dia festivo aos seus Applicados; e será apresentadaao Revdo. Vigario ou da Vara respectivo para a fazer cumprir e registrar. Dada nestamuito leal e heróica cidade do Rio de Janeiro sob o Nosso Sinal e sello da N. chancª.Aos trinta e hum de março de mil oitocentos e vinte e quatro. E eu Padre Francisco dosSantos Pinto Escrivão da Camara Episcopal a subscrevi. J. Bispo do Rio de Janeiro, Capellão Mor Chancª. - 1600. Sello 60 / Desp. 600 /Reg. 80 / Regdª a fl. 46 do L. das Provisões. Rio 31 de Mçº de 1824. Gonzves. Provisão que N. Exca. Revma. há por bem prover ao Rdo. Pe. Frei Pedro AntonioAgote na Occupação de Capellão Curado no Districto de Itajahy na forma acima. Para V. Excª. Ver. Cumpre-se e registra-se. Itapocoroi 20 de Julho de 1824. __________________________ Pela Provisão publicada vê-se que o primeiro Sarcedote da então Occupaçãodo Districto de Itajahy era o Revmo. Padre Frei Pedro Antonio Agote, da ordemFranciscana, e não existem assentos de Baptisados e casamentos e óbitos destetempo no archivo parochial. Existe, porem, uma folha bastante carcomida pela traça em que està escriptoo termo da Abertura do 1º livro de Baptismo com a data de 15 de Outubro de 1824 eassignado pelo Vigario da Vara de São Francisco Padre Marcellino José da Silveira. Nãoconsta nada sobre o movimento religioso. O primeiro assento de Baptismo é de 13 deMaio de 1834, portanto 10 annos depois da nomeção do primeiro capellão curado. [...] O Revmo. Vigario João Baptista Peters escreveu o seguinte no livro de tombo: Aegreja Matriz da parochia do S. S. Sacramento e de N. Senhora da Conceição, é feitapor parte de tijollos; por parte de pedras; o anno da construção desta Egreja não estácerto, porém parece que foi feita entre 1837 e 1840. A torre, a posterior parte do coro,o átrio da Egreja e o baptisterio foram feitos em 1889.001-Anuario-001-01-62.indd 14 22/02/2011 10:22:40

Documento de doação do terreno da Egreja Matriz Dizemos nos a Baixo assignados com huma Cruz que é o signal de que uzamosJosé Coelho da Rocha e minha mulher Maria Coelho da Rocha que somos Senhores ePossuidores de trinta 30 Brasças de terras de Frente com cecenta 60 de fundos sitosneste Rio de Itajahy Grande no Logar Chamado Esteleiro, cujas terras fazem a Lesteno dito Rio as frentes os fundos ao Oeste com terras de nossa propriedade. Extremãopello Sul com terra de Agostinho Alves Ramos e pello Norte ainda com terras de Nossapropriedade cujas terras assim confrontadas Fazemos a Doação no valor de trintaMireis ao Santissimo Sacramento para nellas ser feita sua Capella e hum cemitério Comcondição de semos dar à Sepultura e fazer noço bem d´Alma cuja Doação fazemospor muito nossa livre vontade e sem Constrangimento de pessoa Alguma. E pedimos oSenhor Bento José da Costa qui este por nos fizesse. Assignando como testemunhas eNos assignamos com nosso signal que é uma Cruz. Rio de Itajahy 2 de Abril de 1824. José Coelho da Rocha / Maria Coelho Rocha Como testemunha que este fiz por ser pedido pellos ditos Senhores - Bento Joséda Costa. Como testemunha que lhe este vi fazer - Germano José da Silva.001-Anuario-001-01-62.indd 15 22/02/2011 10:22:42

Anuário de Itajaí - 1924 16 Os nossos concursos Qual a profissão que mais ennobrece o homem: a do sacedote, do professor, domedico, do militar ou do agricultor? Porque? Os leitores teem, na pergunta acima, um interessante e curioso thema sobre oqual poderão bordar extensos commentarios e que servira tambem de um passatempoinstructivo e agradável. Os concursos populares, quando bem idealisados, despertam geral attenção eservem, muitas vezes, de motivos a palestras sociais e familiares. E’ muito commum entre os amadores das lettras o esquivar-se de escreveremalgumas linhas, quer por falta de estimulo, quer por falta de um assumpto que lhes sirvade base. E o nosso intuito, ao lançarmos á apreciação dos leitores essa original interrogação,outro não foi que o de procurar despertar-lhes o enthusiasmo por assumptos maisaproveitáveis que as costumadas frioleiras de que muitos se utilisam, para occupar, naintimidade, as horas de lazer. Para que o presente concurso seja recebido com mais interesse, resolvemosinstituir um premio que será conferido ao leitor ou leitora que nos enviar a melhorresposta com as respectivas razões que justifiquem. O premio constará de uma obra litteraria de um dos nossos melhores escriptorese a solução classificada em 2º logar será publicada, conjunctamento com a vencedora,na próxima edição do nosso annuario. As Respostas poderão vir assignadas por um pseudonymo, devendo, porém, parauso da redacção, fazer-se acompanhar do nome do autor e nos deverão ser entreguesaté o dia 30 de Junho de 1924. Qual é na opinião do leitor, o melhor soneto brasileiro e qual a razão porque lheconcede esta classificação? Temos ahi, para os admiradores da poesia (que existe em elevado numero entrenòs,) uma questão que lhes despertará certamente um vivo interesse. Aos nossos leitores e leitoras, solicitamos, em idênticas condicções do concursonr. 1, a competente resposta. Um mimoso volume de poesias nacionaes será o brinde que offerecemos a quemenviar melhor resposta. NOTA: Para a classificação será nomeada uma commissão composta de pessoasidôneas, especialmente escolhida pelos directores d´este almanack.001-Anuario-001-01-62.indd 16 22/02/2011 10:22:44

Anuário de Itajaí - 1924 17 Municipio de Itajahy O municipio de Itajahy, creado pela lei provincial nr. 464, de 4 de Abril de 1859é, indubitavelmente, um dos mais importantes do Estado, não sò pela fertilidade deseu sòlo, pela salubridade de seu clima e pelo valor de seus próprios recursos, comotambém pela circumstancia de possuir um exellente porto o mais movimentado doEstado, depois do de São Francisco. E’ pelo porto de Itajahy que se faz todo o movimento de exportação e importaçãonão só da avultada produção do próprio municipio e do de Camboriú, mas também detodo o território do Valle do Itajahy que comprehende ao adiantados municipios deBlumeunau e Brusque, conhecidissimos em quase todo o paiz por seus progressos, suasdesenvolvidas industrias, suas capacidades produtivas, tanto em agricultura como empecuária e seus derivados.Futuro brilhante e invejável está reservado ao porto de Itajahy Destinado, naturalmente, a servir de escoadouro a quase toda a abundantissimaproducção di <hinterland> catharinense, sentir-se há, em época não mui remota,transformado em um intensíssimo centro de progresso e actividade, attingindo a tãovertiginoso grão de prosperidade que nem mesmo as previsões mais optimistas poderãopresentemente avaliar. Esta radical transformação depende unicamente do prolongamento da Estrada deFerro Santa Catarina desde este porto até a região serrana e da construcção do ramalpara o Ribeirão do Ouro, no municipio de Brusque, conforme plano há longos annosidealisados e que graças aos esforços de preclaros e intelligentes filhos d´esta terra,vem sendo aos poucos executado.001-Anuario-001-01-62.indd 17 22/02/2011 10:22:45

Anuário de Itajaí - 1924 18 A CIDADE - Itajahy, uma das mais formosas e encantadoras cidades do Estado,acha-se favoravelmente situada á margem direita do rio do mesmo nome, logo após aentrada da barra. O aspecto que apresenta ao viajor que pela primeira vez a divisa é verdadeiramentepitoresco e captivante: ruas largas extensas e rectas, magnificamente traçadas erigorosamente asseiadas; assenta-se sobre vastíssima planície onde para o futuropoderá estender-se folgadamente sem encontrar o impecilho de qualquer ladeira oudeclive sensível. Ao sul, para amortecer os embates dos ventos tão communs na costacatharinense ergue-se altaneiro o morro da Fazenda; muito ao longe, a oeste, avulvaa silhueta bizarra e original do morro do Bahú, o mais elevado de todo o município; aonorte, em distancia tambem considerável, ergue-se sucessivo agrupamento de graciososcerros que vão terminar no oceano, com a magestosa ponta de Itapocoroy, batidacontinuamente pelas ondas do atlântico e que, pela posição interessante em que seencontra, com os seus declives escarpados, offerece-nos um aspecto incomum fazendorelembrar deliciosa paysagem da exquisita terra dos crysanthemos e das geishas. O rio, quieto e limpo as vezes, correntoso e barrento outras, beija, com suas águasquase sempe ornamentadas com flores mimosas e frescas dos aguapés e cortado pelasproas das baleeiras ou espadanado pelas hélices dos vapores, a parte principal da cidade,poetisando a vida calma do itajahyense e alentando o organismo vital do município, doqual é a arteia aorta que impulsiona o seu progresso e auxilia a sua riquesa.001-Anuario-001-01-62.indd 18 22/02/2011 10:22:47

Anuário de Itajaí - 1924 19 Attrahe a attenção do forasteiro logo após o desembarque o bello jardimzinho,caprichosamente cuidado, joia formosa da cidade onde, aos domingos, nas tardes deestio, descançam pacatamente sob as sombras de suas arvores frondosas, palestrandofamiliarmente, damas e cavalheiros, emquanto o bando garrulo dos namorados e dosque atravessam a phase de illusões da vida, circumda despreoccupado o passeio que ocontorna entre gargalhadas sonoras e galanteios de amor. Na mesma praça, fronteira ao jardim, também circundada de canteiros floridose arvores umbrosas ergue-se, imponente na sua simplicidade e magestosa na suamodestia, a bella igreja de nossa terra, velho templo há pouco reconstruído, ampliado eaformoseado e onde, nos dias de jubilo ou nos momentos de dor elevamos, genuflexos,ao Creador, as nossas preces e agradecimentos e imploramos perdão ás nossas faltas econsolo aos nossos sofrimentos. Alem do elevado numero de confortáveis e bellas vivendas particulares, existemna cidade vários edifícios merecedores de especial menção como sejam: o MercadoMunicipal e o palacete da superintendência (este ultimo ainda não inaugurado), obrasconstruídas durante a administração progressista do Sr. Marcos Konder; o TheatroGuarany, sumptuoso edifício onde se reúne, em soirées dansantes e festivaes de artea nossa mais alta sociedade; o soberbo edifício do Club Nautico <Almirante Barroso>;o Hospital de Santa Beatriz; o Collegio Parochial São José; o Grupo Escolar <VictorMeirelles> e muitos outros que seria fastidioso citar.001-Anuario-001-01-62.indd 19 22/02/2011 10:22:48

CABEÇUDAS - Distante 4 kilometros da cidade, recostada sobre montanhas eosculada pelas ondas, estende-se Cabeçudas, umas das mais aprazíveis e movimentadaspraias balnearias de Santa Catharina. Como a cidade de Itajahy, Cabeçudas tem tambem, á sua frente, um bellissimofuturo. Modesta e desprotegida no seu adorável esconderijo, já conta, entretanto, nãosò em nosso Estado como nos Estados visinhos, regular numero de admiradores. Apezar de não se lhe ter dado até hoje o valor merecido, Cabeçudas prosperae movimenta-se a passos agigantados, devido sómente a sedução do seu maravilhosoencanto e a attracção de sua belleza agreste. Melhor que nós, porém, fala sobre Cabeçudas Crispim Mira, o elegante e illustradolitterato catharinense. Ouçamol-o, pois: <Este palmo de praia, com as sinuosidades esplendidas de sua estrada margeadade rochas multiformes e ininterruptamente batida pelo mar, constitue para itajahy, uminestimável patrimônio a que o espírito, progressista dos seus administradores aliado áiniciativa particular, não tardará a dar o brilho e realce que merece. Do Paraná ao Rio Grande nenhuma outra praia é mais pittoresca e attraente,mais amável e galante. A de Ubatuba em S. Francisco, é magestosa e regougante; a de Itapema é vasta,tranquila, positivamente a mais bella do sul do paiz. Armação e Cannasvieiras têmtradicções interessantes. A da Barra Velha tem os seus apreciadores e a dos inglezesempolga e insula dos longinquos e deliciosos males do mundo.001-Anuario-001-01-62.indd 20 22/02/2011 10:22:50

Anuário de Itajaí - 1924 21 Mas Cabeçudas, meiga e minúscula, ás demais sobrepõe pela sengeleza de seuaspecto e pelo seu feitio caracteristicamente mais humano que o de todas as outras. Não sò lhe dá prestigio a praia branca, donde a vista se joga infinitamente parao norte a espairecer-se, a um lado na crista do morro côncavo do pharol e a outro naponta da montanha do Itapocoroy, senão também e sobretudo a circumstancia de estara dez minutos desses hediondos apparelhos de civilisação que se chamam o correioe o telegrapho, o medico e a pharmacia, o homem da venda e o cinema. Porque,francamente, a perpetuidade do abandono em plena natureza, afflige e suffoca. Cabeçudas é o meio termo: occulta-se por traz os serros viridentes que acontornam, mas quem der um passo maior defronta logo o canal da barra e poucoadiante, á esquerda, plana e asseiada, a affavel cidade do Sr. Marcos Konder. Por isso atodas sobrepuja e mais que nenhuma póde confiar na sua prosperidade futura. Cortem-se as curvas demasiadamente vivas de sua estrada algo agreste e dê-se-lhe a ufania da illuninação electrica, o que parece immensamente fácil, e tudo o maislhe virá com presteza. Fio que muito em breve Cabeçudas há de ser o mais distincto e chique remansode villegiatura para a gente de gosto desde Curityba a Porto-Alegre>. ARMAÇÃO - Ao norte, cerca de 17 kilometros distantes da cidade, depois daextensa e bravia praia de Itajahy, aquieta-se defendida dos embates violentos domar pela ponta de Itapocoroy, a poetica praia da Armação, balneária por excellenciae regularmente frequentada, durante o verão, por pessoas de localidades visinhas,especialmente de Blumenau. Apezar da segurança que offerece aos banhistas, de sua larga extensão asedutora amenidade, Armação não hospeda tão avultado numero de veranistas quantoCabeçudas pelo facto de se achar muito afastada da cidade e portanto, sem os recursosde que dispõe esta ultima. É umas das mais antigas povoações do Estado, tendo sido outr´ora ahi muitonotável, attingindo a proporções de verdadeira industria, a pesca de baleia, cetáceoabundante naquellas éras em toda a costa catharinense. A igrejinha da localidade assentada sobre um outeiro conta já mais de século emeio de existência. OUTROS LUGARES IMPORTANTES - Navegantes, no lado norte da cidade,é um povoado que se assenta no pontal de areia situado entre o Oceano e o rio, ehabitado, em sua maioria, por pescadores e marítimos.001-Anuario-001-01-62.indd 21 22/02/2011 10:22:51

Anuário de Itajaí - 1924 22 Possue uma pequena igreja onde os nautas imploram a proteção da Mãe deDeus que é ahi venerada sob a invocação de N. S. dos Navegantes, e annualmentehomenageada, no dia 2 de Fevereiro com grandes festejos, destacando-se entre ellesa sunptuosa e tradicional procissão fluvial, acompanhada sempre por dezenas deembarcações que vêm, de diversos pontos do Estado, com o fim de abrilhantar asfestividades. Outros povoados pertencentes ao município e que merecem ser mencionados são:Cunhas, no interior, distante 12 kilometros da cidade, habitado quase exclusivamentepor agricultores, entre os quaes se destaca a numerosa família dos Cunhas, lavradoresabastados e progressistas que deram o seu nome ao arrayal; Ilhota, á margem doItajahy-Assú, próximo dos limites de Blumenau; Luiz Alves, colônia rica, no interiordo município, habitada em sua quase totalidade por immigrantes italianos e seusdescendentes, notável pelo seu desenvolvimento agrícola e especialmente pelasua abundante exportação de productos suínos, destacando-se a excellente banha,considerada umas das melhores do Paiz. Não menos notável é a fabricação de queijo emanteiga que rivalisa vantajosamente com a melhor produção mineira. O ITAJAHYENSE – Tanto em sua terra como em qualquer recanto do Paiz oudo estrangeiro onde a necessidade ou o destino os leve impiedosamente, os filhos deItajahy tem sabido sempre honrar e elevar o nome de seus conterraneos e o de seutorrão natal. Esforçado e trabalhador, procurando sempre aprimorar e ampliar os rudimentosprimários, colhidos nas modestas escolas de sua terra, pode-se considerar elevado onumero dos que, á custa do próprio esforço, tem conseguido, lá fora, galgar invejáveisposições de destaque. Fiel e honesto no cumprimento de seus deveres, vivendo quase exclusivamentepara o seu trabalho e para sua família, o itajahyense sò sabe almejar a felicidade e oprogresso de sua querida cidade e o conforto e a abastança do seu lar. Vamos, agora, com prazer, ceder a palavra ao commandante Antonio Müller dosReis, o apreciado escriptor conterrâneo Reis Netto, um dos muitos itajahyenses que,num admirável esforço próprio, conseguio elevar-se ás mais altas posições na Marinha001-Anuario-001-01-62.indd 22 22/02/2011 10:22:52

Anuário de Itajaí - 1924 23Mercante Brasileira, occupando postos que muito contribuem para dignificar e destacaras inconfundíveis qualidades do nosso marinheiro e que, em notável conferencia assimse referiu aos seus conterrâneos: <Itajahy tem dado ao nosso Estado e á nossa Patria homens para todas asactividades e os quaes só nos têm orgulhado. O mar está semi-povoado de itajahyenses e já tive a oportunidade de escreverque aqui todos são marinheiros por vocação ou herança. No exercito militam illustradose enérgicos filhos desta terra; na política, nas finanças, no commercio e nas industrias.A medicina tem aqui os seus cultores e o Direito os seus adeptos. O sacerdócio da Religião Catholica tem entre o Clero brasileiro dois intelligentesconterrâneos nossos. Espalhados pelo Brasil e pelo mundo, confundindo-se com osgrandes e rastejando com os humildes, encontrareis sempre um que aqui nasceu e quevive pensando neste torrão bendito onde a luz se espalha n´uma Victoria radiosa, ondeos pássaros festejam o Sol e o Sol festeja a terra. E temos a ventura de proclamar neste momento, que com as raras excepçõesnaturaes em taes caos, os filhos daqui espalhados pelo Universo, na lucta gigante pelaexistência, sempre souberam e sabem honrar as tradicções dos seus antepassados,elevando-se no conceito da nossa pátria, do nosso Estado e da nossa cidade. Não è preciso citar nomes, seria alongar demais estas palavras. Onde quer que procuremos, em todas as vibrações da vida brasileira,encontraremos sempre, apegado ao dever sincero, incansável, um filho intelligente deitajahy, honrando-o com a sua actividade e com seu amor>. SUPERFICIE E LIMITES - O município de Itajahy, com uma superfície de 1.140kilometros quadrados, confina ao Norte com os municípios de Blumenau e S. Francisco,a Leste com o Oceano Atlantico, ao Sul com os municípios de Camboriú e Brusque e aOeste com o município de Blumenau. POPULAÇÃO - De accordo com o recenseamento de 1920, verifica-se queo município de Itajahy possue 29.981 habitantes, descriminados pelos districtos doseguinte modo: 1º districto (cidade) 19.637 habitantes; 2º districto (Penha) 4.418habitantes; 3º districto (Luiz Alvez) 5.926 habitantes. O 1º districto foi dividido, para osefeitos do recenseamento em duas zonas; a zona urbana, que accusou uma populaçãode 5.094 almas e a zona rural, com 12.543 habitantes.001-Anuario-001-01-62.indd 23 22/02/2011 10:22:53

Anuário de Itajaí - 1924 24 Confrontando-se este ultimo recenseamento com o penúltimo realisado em 31 deagosto de 1918, observa-se na população geral do município, um augmento de 3.743almas ou sejam mais de 14% em dois annos. Na cidade houve o accrescimo de 289almas ou sejam 6% na zona rural do 1º districto o accrescimo foi de 3.411 almas ouseja de 30% e no 3º districto (Luiz Alvez) 161 habitantes ou 30% - Apenas o 2º districto(Penha) accusou uma diminuição de 108 habitantes. RECENSEAMENTO AGRICOLA – Pelo recenseamento de 1920 o município possue 1975 estabelecimentos ruraes com uma área de 3.087.900,737 met.q ou sejam 308790 hectares no valor de 5:497:215$556 ou uma media de 2:783$400 por estabelecimento de 1.563:494 met.q ou 17$805 por hectare. Esta media, porem, não corresponde de forma alguma á verdade, não sendo exagero calcular-se o hectare no dobro o que daria para a propriedade agrícola o valor de quase onze mil contos. Quanto aos dados relativos às extensões occupadas por plantações e mattas, parecem-nos não merecerem maior fé, pois, não havendo o habito de se medirem as áreas plantadas, o calculo foi quase sempre feito aereamente, sem qualquer base. PRODUCÇÕES - O solo do município è fertilissimo, com especialidade as regiões marginaes do Itajahy-Assú sujeitas a periódicas inundações que adubam natural e convenientemente vastas planícies já dotadas pela natureza de uma fertilidade incommum. Produz com abundancia canna de assucar e, não fossem as geadas que nos invernos rigorosos prejudicam sensivelmente esta cultura, Itajahy poderia ser a Campos catharinense, capaz de attingir a elevado grão de prosperidade, graças unicamente á industria assucareira. São001-Anuario-001-01-62.indd 24 22/02/2011 10:22:55

Anuário de Itajaí - 1924 25abundantissimas as plantações de milho, arroz e feijão e o terreno compensa fartamenteo trabalho do agricultor que semeia estes cereaes. Merece especial menção a excellentefarinha de mandioca fabricada pelos nossos lavradores. Vae bem intensificado e emconstante augmento o cultivo da banana e do café. Dos municípios littoraneos, Itajahy é o que exporta madeira em maiorquantidade. CLIMA - O Clima de itajahy é temperado e saudável. Apezar de ser o seu porto bastante frequentado oque muito coopera para a propagação de epidemias, essas,felizmente, só tem assolado o município em occasiõesverdadeiramente excepcionaes, como por exemplo na época emque a grippe alastrou-se pelo universo inteiro, não escolhendoclimas nem recantos para fazer as suas victimas. Há muitosannos, também, a febre amarela importada de outras cidadesdo paiz, grassou com alguma intensidade entre nós. Epidemias infantis como a coqueluche e o sarampomanifestan-se em intervalos de longos annos mas semprede forma benigna. São raríssimos os casos de tuberculose, aterrível peste branca, que em outras partes tantas victimascostuma fazer. A ancylostomose e o impaludismo, moléstias communse que assolam o Brasil inteiro, têm aqui diminuídoconsideravelmente graças ás medidas tomadas peloposto de Prophylaxia Rural que, si continuar a prestaros seus beneficos serviços á nossa população, farácom que essas endemias desappareçam ou fiquemreduzidas a uma percentagem muito diminuta. COMMERCIO - A praça commercial de Itajahy,uma das mais importantes do Estado, é bastantemovimentada, existindo no município considerávelnúmero de casas comerciaes que gozam de bastantecredito e conceito. Nas paginas deste annuarioencontrará o leitor regular numero de annuncios dascasas de maior destaque. O commercio exterior é feito com as praças deFlorianopolis, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo,Rio de Janeiro e Hamburgo. Existe na cidade uma succursal do BancoNacional do Commercio com regular movimento eagencias dos Bancos do Brasil e Sul do Brasil.001-Anuario-001-01-62.indd 25 22/02/2011 10:22:57

Anuário de Itajaí - 1924 26 INDUSTRIA - Si bem que a industria em Itajahy não tenha desenvolvimento igualá dos visinhos municípios de Blumenau, Brusque e Joinville vae, todavia, progredindoregularmente. Relevante serviço prestaria a Itajahy quem procurasse attrahir para o município,em maior escala, esse ramo de actividade, um dos mais poderosos elementos deprogressão, capaz, por si só, de assegurar o futuro e prosperidade de qualquer região. Exemplo bem frisante do que vimos de expor e que dispensa qualquer outrocommentario, temos nos municípios que acima mencionamos: todos têm a suaprosperidade garantida graças ás industrias desenvolvidas de que dispõem. Itajahy, entretanto, que a sua situação muito melhor se presta para oestabelecimento de industrias, pois tem a vantagem de encontrar-se ás portas doOceano que lhe trará até dentro da fabrica a matéria prima necessária para qualquerfabricação, dispensando, portanto, o dispêndio assaz avultado que acarreta aosindustriaes estabelecidos nos municípios do interior, com vias de communicação quemuito deixam a desejar, o transporte desse material importado e o retorno pelo mesmocaminho e com as mesmas despezas, da mercadoria manufacturada, Itajahy, apezard´essas razões poderosas não assiste, por ora, a um desenvolvimento tão intenso comoseria de desejar. As principaes fabricas do município são as seguintes: Companhia Fabrica dePapel Itajahy, de propriedade dos srs. Hering & Cia., situada na Barra do Rio; SociedadeAnonyma Usina Adelaide, situada no perímetro urbano; Fabrica de taboinhas ,<ProgressoCatharinense,> de propriedade da firma Bauer & Cia., na Barra do Rio; Fabrica deMachinas e Fundição, de Guido & Cia., no perímetro urbano; Fabrica de Moveis deEmmendoerfer & Zipf; Engenho de beneficiar arroz, de Malburg & Cia.; Engenho debeneficiar arroz, de Konder & Cia.; Engenho Central de Arroz de Mario Pereira Liberato,Fabrica de Moveis, de José Theodoro Fischer, situadas no perímetro urbano.001-Anuario-001-01-62.indd 26 22/02/2011 10:22:58

Anuário de Itajaí - 1924 27 Todas as fabricas acima mencionadas são movidas por energia electria. No logar Brilhante existe uma serraria de madeiras, movida a energia a vapor, depropriedade do sr. Alfredo José Rebello. Alem dessas principaes, existe no município elevado numero de pequenas fabricas,assim descriminadas: Engenhos movidos a água, de serrar madeira, 51; machinas depicar lenha, 1; olarias de tracção animal, 19; caeiras, 2; marcenarias, 3; moinhos defubà, 43; fabrica de vinagre, 1; funilarias, 4; ferrarias, 15; fabricas de cerveja de altafermentação, 2; calderaria de cobre, 1; fabrica de cigarros, 1; tamancarias, 2; fabricasde carroças, 2; tanoarias, 2; relojoarias, 2; confeitaria, 1; fabrica de moer café, 1;estaleiros navaes, 2; padarias, 5; typographias, 3; sapatarias, 10; cortume, 1; fabricade productos suínos, 5. IMPRENSA - A imprensa do município é representada por três órgãoshebdomadarios, a saber: <O Pharol>, <O Commercio> e < Itajahy,> publicadosrespectivamente sob as direcções dos Srs. João Honório de Miranda, Juventino Linharese Mascarenhas Filho. INSTRUCÇÃO PUBLICA - A instrucção publica em Itajahy constitue uma dasmaiores preoccupações dos nossos administradores. Pode-se affirmar que, em matéria de instrucção, Itajahy destaca-se brilhantementeentre os demais municípios do Estado. Existem no município 21 escolas federaes com a matricula de 1.084 crianças efrequencia média de 1.051 alumnos. 3 escolas estadoaes sendo um grupo escolar com10 classes, 498 alumnos matriculados e frequencia média de 387 alumnos. Uma escolacomplementar com 50 alumnos matriculados e frequencia média de 36 alumnos; escolade pescadores da Armação de Itapocoroy com a matricula de 60 alumnos e frequencia001-Anuario-001-01-62.indd 27 22/02/2011 10:23:00

Anuário de Itajaí - 1924 28de 50 alumnos. 10 escolas municipaes com a matricula de 501 alumnos e frequencia de404 alumnos. 1 escola subvencionada pelo Estado e pelo município - o Collegio Parochialda cidade – com a matricula de 117 alumnos e frequencia média de 101. Resumo: 35 escolas com 2.310 alumnos matriculados e frequencia media de2.029 alumnos. VIAS DE COMMUNICAÇÃO - Além de navegação fluvial nos rios Itajahy-Assúe Itajahy-Mirim, possue o município excellentes estradas de rodagem, transitadasdiariamente por avultado numero de vehiculos. São as seguintes as estradas principaes: de Itajahy a Blumenau; de Itajahya Brusque; de Itajahy a Luiz Alvez; de Itajahy a Penha de Itapocoroy e de Itajahy aCamboriú. ASSOCIAÇÕES - Itajahy possue regular numero de associações, algumasinstalladas em excellentes edifícios próprios onde se realisam elegantes reuniõessociaes. Destacam-se, entre essas, a Sociedade Guarany, ponto preferido pela eliteitajahyense, dispondo de uma biblioteca, excellente palco onde as companhias dramáticase de variedades realisam, quando de passagem por aqui, os seus espectaculos, e ondeos grupos de amadores locaes levam á scena, de vez em quando, dramas e comediasfamiliares. Para uso dos sócios possue a sociedade diversos bilhares. O Cinema Ideal, ounico da cidade, realisa ahi as suas funcções.001-Anuario-001-01-62.indd 28 22/02/2011 10:23:02

Anuário de Itajaí - 1924 29 A Sociedade dos Atiradores, antiga associação sportiva e recreativa, uma das maispopulares de todo o município, fundada por elementos de origem teuta e frequentadapor quase todo o meio social itajahyense. As suas festas e os seus bailes são extraordinariamente animados e decorremsempre em meio do mais franco enthusiasmo. Os clubs náuticos Almirante Baroso e Marcilio Dias, ambos sportivos, com grandenumero de sócios. O primeiro é installado em excellente prédio, com amplo salão parabailes e reuniões. A Loja Maçonica <Accacia Itajahyense>. GOVERNO DO MUNICIPIO - Com agrado geral vem, desde 1915, occupando ocargo de superintendente do município o Sr. Marcos Konder, administrador honesto, deinvejável capacidade e talento privilegiado, dotado de idéias progressistas. Graças ao seu esforço já conta o município com muitas obras de vigor e muitotem ainda a esperar de sua acção desinteressada e criteriosa. Exerce as funcções de substituto o Sr. Marcos Gustavo Heusi, cuja actividade ecompetência muito têm cooperado para o progresso do município. O conselho municipal è actualmente composto dos seguintes cidadãos: CarlosFrederico Seára Junior, Presidente; Juvencio Tavares d’Amaral, Franklin Maximo Pereira,Irineu Bornhausen, Gabriel Cunha, Joaquin Pinto Ferreira e Valentim Hess.001-Anuario-001-01-62.indd 29 22/02/2011 10:23:04

Anuário de Itajaí - 1924 30 Cousas e LousasUm gato que é funccionario publico Numa agencia dos correios de Londres há uma verba destinada ao ordenado deum gato que tem a missão de caçar ratos com inclinações burocraticas e farejadores doexpediente. O novo companheiro teve um acolhimento bastante enthusiastico por parte dosoutros empregados. Houve festa e musica. Coisa dos inglezes. Quem deve andar preoccupadissimo com esta designação administrativa è opagador que não sabe como é que o bicho ha de passar recibo de salario.Verdadeira mentira Um gigante de 77 centimetros de altura sentado em pé numa pedra de páo,conversando calado a meia-noite, quando o sòl raiava no poente, disséra que umsurdo ouviu um mudo dizer que um cego vira um coxo correr atraz de um defunto vivopuchando a perna de uma cobra que engulia um medonho chifre de uma vacca mocha,preta como leite e branca como carvão apagado. Branca Mente Rosa – Pedra Molle, 31 de fevereiro proximo corrente.Qual é a origem da expressão <pôr a mão no fogo> Essa expressão significa, duma maneira muito energica, que a coisa de que sefala é verdadeira. Tem sua origem nos <Julgamentos de Deus>. Sabe-se que era, na Edade Média, um modo de constatar a innocencia ouculpabilidade dum accusado. Este era submettido á seguinte prova: mettia-se-lhe namão direita uma barra de ferro em braza, que elle devia apertar durante dez segundos,ou então uma manopla de ferro nas mesmas condições. Envolvia-se essa mão emataduras, que os juizes sellavam para que ninguem nellas tocasse. Si, ao fim de três dias, não havia signal de queimaduras é que o accusado estavainnocente. No caso contrario, era culpado, sendo por conseguinte condemnado. Ora, acontecia que alguns homens condemnados injustamente e seguros de suainnocencia, preferiam submetter-se á terrível prova, e <por a mão no fogo>, a confessarum crime de que não eram culpados.001-Anuario-001-01-62.indd 30 22/02/2011 10:23:05

Anuário de Itajaí - 1924 31As necessidades do mundo... O Sr. William Bell offerece em um dos seus livros as seguintes suggestões parainvenções actualmente necessarias: Vidro maleavel. Uma superficie lisa para estradas e que não seja escorregadia quando molhada. Uma fornalha que conserva 95% do seu calor. Um aeroplano silencioso e manejavel por uma creança. Um motor de uma libra de peso por um H. P. Methodos para reduzir o attrito. Uma flanella que não encolha. Um cachimbo que possa ser perfeitamente limpo. Processo pratico para utilizar as marès. Cinema falante. - Qualquer desses inventos tornará um homem milionário.Curiosa particularidade dos morcegos No inverno os morcegos cahem em um somno profundo que dura mezes. Tem-se observado que, nesse estado de lethargia, os horrendos mamíferos, queinvernam nos bosques dos paizes frios, adquirem uma rigidez de tal modo quebradiça,que a menor pancada no extremo de uma aza ou de uma pata faz cahir o pedaço rotocomo si fôra de vidro. Facto singular e até hoje não explicado, esse!Galanteria real Na segunda metade do mez de julho do anno passado, ia havendo no palácioimperial da Suecia um <qui pro quo> que acabou galantemente quando podia ter aspeores consequencias. Abria o rei Gustavo a sua correspondencia diaria, quando encontrou uma cartaque dizia assim: <Meu querido. Quinta-feira, às seis horas, espero-te em Odinsplate.Esperarte-ei até às sete horas. Não faltes. Tua < Esther>. Examinando de mais perto o enveloppe, o soberano percebeu que o carimbo haviacoberto a metade do endereço, o qual, sob a sua fórma primitiva, era N. 287, Swanson,001-Anuario-001-01-62.indd 31 22/02/2011 10:23:06

Anuário de Itajaí - 1924 32a bòrdo de <S. M. Gustavo V>. <S. M. Gustavo V> é um navio escola da Suecia, cujocommandante recebeu, na tarde desse mesmo dia, um despacho do Rei, ordenando lheque désse 24 horas de licença ao alumno n. 287, o qual, assim, não faltou á entrevistapedida pela sua Esther.Dois enigmas Damos abaixo dous bellos enigmas de Schiller: 1 - Ponte de pèrolas cujos encontros arrancam da superfície do mar, construídainstantaneamente n´uma altura tal que produz vertigens. Os navios de maior porte eos mais altos mastros passam por de baixo dessa ponte, que jámais supportou cargaalguma, e que parece afastar-se á medida que os homens se aproximam della. A torrentetransbordada precede o seu nascimento e morre apenas quando aquelle transbordarcessou. Como se chama a ponte? R.: Arco-íris. 2 - Sem se mover do seu logar, conduz-te a muitas léguas de distancia; sem terazas para voar, leva-te vertiginosamente atravéz do espaço. Nunca nenhum viajantenavegou em barco mais rápido, tanto que, num abrir e fechar d´olhos te faz sulcar aimmensidade dos mares e, á maior distancia, te translada em menos tempo do que opreciso para desejal-o. R.: Telescópio.Quebra-cabeças Capinha sobre capinha, Capinhas do mesmo panno; Qual é a fêmea afamada, Se tu não disser agora, Bem ligeira e decidida, Não acertas nem num anno. Que até mesmo sendo macho Eu no campo me criei, Será fêmea toda a vida? Mettida entre verdes laços, R.: A Lebre. O que mais chora por mim E´quem me desfaz em pedaços. Mais de cem damas formosas R.: A Cebola Vi de dois pretos nascer, Encarnadas como rosas, E num momento morrer. R.: A Fagulha.001-Anuario-001-01-62.indd 32 22/02/2011 10:23:08

Anuário de Itajaí - 1924 33 Documento engraçado O documento que se segue, si bem que não seja datado, presume-se que seja do annode 1875. Damol-o na integra, sem a menor alteração da sua ortographia. <Ilmo Sr. Imperadô amigo e sinhô: Antònio Pire de Olivera vurgamente conhecido Tonico Paçoca morado no Arraiá do Sapecado e juis de pais do mesmo amencionado arraiá vem pro meio da apena adecrará pra voça eccelenticima o que abaixo vae dizê: apparesceu aqui hum tar Diunizo que intentô virá o povo na lei do protestante, maçono e arrepubricano, adecrarando que voça Sinhoria é um bobo que fais de nóis pau de amarrá egua. Eu im vista das formação que tive por quexa do spetor, prendi em sufragrante o arrifirido Diunizo que se acha amarrado legarmente dos péis e das mão cum corda por num havê argema, e portanto eu pesso a Voça Sinhoria que me arresponda cum tuda a brividade o qui qué que eu fassa c´o bixo o quar eu tenho martratado pior do que caxorro. Na minha umirde pinião, ele deve sê inforcado e ficá na fôrca inté fedê, pru qui num é brinquedo a bocage qui ele coloca em vossa eccelenticima; xinga voça senhoria de tudo nome feio e eu já quis dá nelle promórde as injura que esse tranca diz a seu respeito. Espero a sua resposta pra meu guverno. No mais pro sê. Seu amigo e defensô perpetuo. Antonio Pire de Olivera. Dado e paçado no arraiá do Sapecado no dia 28 de fevereiro no anno que estomos n´elle.001-Anuario-001-01-62.indd 33 22/02/2011 10:23:09

Anuário de Itajaí - 1924 34 Os 10 mandamentos da saúde I - Deves dormir sete a oito horas por noite, tendo um repouso perfeito e umavida sexual moderada. II - Deves ser cuidadoso com a tua alimentação, de modo que sejam os alimentospuros, bem preparados, tomados à horas certas em quantidades sufficientes, massem exageros. III - Deves morar em casa bem arejada, em que o sol entre pela manhã, emque se evitem as poeiras, substituídos o espanador e as vassouras por dispositivos,que limpem sem levantar poeira, certo de que uma casa pobre e asseiada é melhorpara a saùde que uma rica sem asseio. IV - Deves dormir com as janellas do quarto abertas, para se dar o renovamentodo ar e a sua movimentação, não deixando no quarto as roupas usadas, não entrandonelle com as botinas sujas de terra e outras coisas existentes nas ruas, não cuspindoe nem escarrando no chão. V - Não deves ter em tua casa cães, gatos, baratas, percevejos, moscas,mosquitos, pulgas e ratos. Usa dos processos aconselhados para afugentar osratos, para acabar com os mosquitos, com as moscas, com os percevejos e com aspulgas. VI - Deves cuidar bem da latrina da tua casa em ordem a estar ella semprelimpa com água corrente, sendo útil nella pores desinfectantes. VII - Deves evacuar sempre em latrinas e não deves andar descalço, poisassim, consegues evitar ancylostomose. VIII - Deves ter cuidado com a água que bebes, em ordem a serem as caixaslavadas de 15 em 15 dias, devendo ser filtrada a água ou fervida em épocas deepidemias de febre typhoide e de dysenteria. IX - Deves ter cuidado com as doenças contagiosas, evitando estar emcommum com os doentes, vaccinando-se e revaccinando-se para evitar a varíola,communicando a auctoridade sanitaria, sempre que houver mortandade de ratosem casa, não ficando perto de um tuberculoso que fala, não se expondo a apanhardoenças venereas, para o que, em ultimo caso, deves usar dos conselhos ministradospelos dispensários respectivos, não abusando e nem usando de bebidas alcoólicas,não se entregando a excessos e nem ao uso de cocaína, ópio e ether e não fazendoas refeições sem lavar as mãos. X - Deves tomar banho todos os dias, ter uma vida morigerada sem affrontaás intempéries, e observar os mandamentos acima referidos, com o uso dos quaesterás boa saúde e forte a descendência. Em summa: Ama a hygiene sobre todas as cousas e a saúde do teu próximocomo se fosse a tua própria.001-Anuario-001-01-62.indd 34 22/02/2011 10:23:11

Maneiras distinctas As Linhas que abaixo seguem explicam breve e claramente o modo deconduzir-se em publico e nos salões. - Seguindo estas explicações, a mocidade poderáadquirir essa elegante propriedade de maneiras que abrilhanta todos os actos da vida.MODO DE CONDUZIR-SE EM PUBLICO Tome sempre a direita quando caminhe. Nunca trate de apressar-se em logares muito concorridos; sobretudo, nuncaempurre ou dê cotovelladas. Cuide sempre da commodidade dos demais quando traga um chapéo de sol, umabengala ou um guarda-chuvas. Não fixe a vista nos que passam ou hajam passado. Nunca preceda á uma senhorita, salvo ao abrir passagem em uma multidão ouao subir degraus. Indo em uma multidão sem embargo, uma dama pode proteger-semelhor caminhando-se immediatamente depois d’ella. Nunca aponte com o dedo, bengala, leque, ou outro objecto ás pessoas ou coisasinanimadas quando ha gente perto que possa crer que é objecto de seu interesse. Nunca fume em ruas concorridas, em carruagens públicas, ou em qualquer outrologar em que possa ser offensivo no momento ou depois. Nunca cuspa em presença dos demais, ou onde a matéria expectorada possa ver-se depois, como no passeio da rua, ou em trens, etc. Nunca coma na rua. Nunca occupe espaço mais do que o necessário em salões de recepção ou emestações de caminho de ferro, em trens, coches, etc. Nenhum cavaleiro forte e saudável deve sentar-se enquanto uma dama ou umancião esteja de pé. Nunca tecleie com os dedos ou faça ruído com os pés, nem cante nem assobieem presença dos demais particularmente em escriptorios ou salões de leitura, ou outrasrepresentações a fim de não perturbar aos ouvintes. Restaure sempre á uma dama um artigo cahído. O mesmo devem fazer emobsequio dos enfermos as pessoas sãs de um ou outro sexo. Sempre que possa evita-lo, não apresente uma pessoa à outra, se há possibilidadede não haver identidade de índoles e caracteres.001-Anuario-001-01-62.indd 35 22/02/2011 10:23:12

Anuário de Itajaí - 1924 36 Nunca estenda a mão á uma pessoa de mais alta esphera ou de maior idade. Sempre aguarde que uma dama lhe estenda a mão. Nunca tome a iniciativan´este particular. Descubra-se sempre ao saudar e ao despedir-se para todas as damas que o leitorconheça. Os cavalheiros devem sempre descobrir-se a não ser que sejam íntimos,particularmente para seus superiores e para aquelles de maior idade. Descubra-se sempre para um cavalheiro que o leitor conheça, se elle ou o leitorestá com uma senhorita. Descubra-se sempre para aquelle a quem um companheiro saúda, quer sejam ounão conhecidos do leitor. Ainda que uma dama lhe seja desconhecida, descubra-se para ella ao restaurar-lhe um artigo cahido e também para um cavalheiro de baixo de circumstancias análogas,a menos que seja um inferior ou muito mais jovem. Descubra-se sempre ao entrar em um escriptorio privado ou particular. Se pode o leitor evital-o, numca entre em um theatro, em uma conferencia ouconcerto depois de começado, nem se retire antes de terminar. Nunca passe sem dar uma satisfação aos que estejam obrigados a levantar-separa permitir-lhe chegar ao seu assento. Passe sempre de frente ás pessoas que tenham de levantar-se. Nunca manuseie ruidosamente seu programma, leque ou atavios, para nãoperturbar aos demais. Nunca coma em sítios de diversão, particularmente doce de hortelã-pimenta,amendoim, fructa ou outros artigos que tenham aroma pronunciado, ou dos quaespossa desprender-se alguma parte.OBSERVAÇÕES PARA O SALÃO Seja sempre socegado, cordial, agradável e sóbrio em sociedade. Os demais não estarão contentes com o leitor a não ser que o leitor trate deagradar-lhes. Seja sempre paciente e soffrido. Recorde-se que os actos e opiniões dos demaissão como os seus - resultados de circumstancias e temperamento hereditário. Nunca demonstre que se há apercebido de nenhuma falta social em outros. Nunca leve vestido o sobretudo ou calçado sapatos de borracha em um salão,001-Anuario-001-01-62.indd 36 22/02/2011 10:23:13

Anuário de Itajaí - 1924 37nem tampouco leve guarda-chuvas, ainda que o chapéo e a bengala deve o leitor tel-osna mão durante uma curta visita de cumprimento. Se a sua conversação não é amena, permaneça curto tempo em uma visita paraevitar que enfastie. Por amena que seja sua conversação, não faça visitas muito longas, que é coisaque sempre enfastia aos demais. Nunca intente dar a mão a todos os presentes, se houverem mais de três ouquatro pessoas. Basta uma inclinação, salvo para o dono da casa; saudações maiscordiaes podem fazer-se mais tarde. Levante-se sempre quando uma dama entra em um salão, a menos que este nãoseja muito espaçoso e hajam muitos presentes, pois de outro modo o leitor chamaria aattenção para a pessoa que talvez preferia que não a tornassem conspicua. Sente-se sempre socegadamente em posição recta e commoda. Nunca incline a cadeira para trás. Nunca se ponha de pé com os dedos pollegares na borda do colete, nem traga asmãos nos bolsos. Não manuseie a cadeia de seu relógio, botões ou miudezas que lhe estejamperto, ou torça continuamente o bigode ou arranje o cabello. De nenhum modo pareça jamais consciente de seu atavio. Não pareça que note nunca a apparencia pessoal dos demais, salvo no querespeita a saúde. Não attraia nunca a attenção daquelles a quem deseje falar, tocando-os ouacotovellando-os ou dando com os pés ou com as mãos na meza ou fazendo castanholascom os dedos. Nunca interrompa aos que estejam falando nem fale em tão alta voz que enfastieaos que estão falando perto de si. Nunca converse com uma pessoa havendo outra de per meio. Sempre, quando a conversação é geral, fale sobre assumptos que interessem aomaior numero de pessoas possível. Nunca exponha ninguém ao ridículo por palavra ou obra. Nunca expresse excessivo elogio daquelles que não estejam presentes, de seusbens, etc., para que não possa receiar-se que o leitor está descontente com a suapresente companhia e contornos. Evite sempre falar de gente inculta, livros ou dramas obscenos, etc. Nunca fale de escandalos.001-Anuario-001-01-62.indd 37 22/02/2011 10:23:13

Anuário de Itajaí - 1924 38 Evite sempre falar de si mesmo a não ser que seja interrogado. Nunca fale de suas difficuldades. Nunca fale de coisas horripilantes. Nunca sussurre, a não ser que seja completamente necessario; em tal caso nãodeixe de dar uma satisfação. Sempre seja verídico e exacto em suas manifestações. Nunca corrija as manifestações de outros, excepto debaixo de circumstanciasextraordinarias, e ainda assim não deixe nunca de pedir perdão por isso. Nunca mostre desconsideração pela opinião dos demais ainda quando possasustentar e expressar uma idea opposta. Não pareça nunca expressar impaciencia olhando continuamente o relogio. Nunca leia em companhia ou olhe obras illustradas, excepto quando o livroexaminado sirva de thema de conversação. Nos jogos mostre sempre a maior cordialidade, não renegando a sua má sorte,nem apparecendo excessivamente regosijado por seu bom exito; sobretudo nãoridicularize nunca a um contrario infortunado. Nunca humedeça os dedos com a lingua ao embaralhar cartas. Apresente sempre a pessoa mais jovem á de maior idade e os cavalheiros ássenhoras, com a excepção de que uma jovem pode apresentar-se a um homem de idadee de mais alta esphera. Nunca insista para que seu hospede cante ou toque contra sua vontade. Nunca se assoe em publico e nunca boceje, espirre ou soluce sem pedirdesculpa.OBSERVAÇÕES RELATIVAS A ETIQUETA DA MEZA Seja sempre pontual á hora da comida, particularmente quando o leitor é hospedede outro. Nunca se sente sem que o dono ou a dona da casa faça o signal e nunca,cavalheiros, até que todas as senhoras estejam sentadas. Sente-se sempre quietamente na cadeira, nem muito pegado á meza nem muitoseparado d´ella. Colloque sempre o guardanapo sobre um joelho. Nunca o estenda atravez dopeito nem sobre a fralda. Nos melhores círculos não se costuma desdobral-o mais docomprimento.001-Anuario-001-01-62.indd 38 22/02/2011 10:23:14

Anuário de Itajaí - 1924 39 Nunca se recoste na meza. Nunca toque nada na meza a não ser que seja necessario, quer seja alimentoquer os utensilios da meza. Nunca tome mais de um prato de sopa. Nunca esmigalhe o pão em sua sopa, nem em sua chicara. Nunca persista em offerecer de um prato a um conviva quando haja recusadouma vez. Nunca se perturbe por nenhum incidente que possa occorrer; se é possível deixeque passe sem a menor attenção. Se desgraçadamente lhe occore um accidente, manifeste ligeiramente seu pezarno momento, mas na primeira opportunidade dê completa satisfação em particular aodono ou dona da casa. Em sua qualidade de dono ou dona da casa sirva sempre as senhoras primeiramente,antes de servir aos cavalheiros. Sempre, cavalheiro, sirva á qualquer senhora que esteja ao seu lado, haja ocavalheiro sido apresentado á ella ou não. Nunca faça ruido ao tomar sopa. Nunca esfrie a sopa assoprando-a na colhér. A superficie da sopa perto da bordado prato estará sempre um pouco fria. Tome sempre a sopa da borda mais proxima do prato, movendo a colhér em suadirecção. Em geral, os americanos tomam a sopa pelo lado da colhér e temos observadoque gente cultissima de outros paizes a tomam pela ponta. Isto, pois, é mais questãode moda do que de outra cousa. Tome sempre os alimentos em bocados tão pequenos que lhe permittam falar emqualquer momento. Ao cortar, deixe que a extremidade do cabo da faca e do garfo descansem napalma da mão, salvo quando esteja usando o garfo para os legumes. Nunca coma legumes ou outros pratos com colhér, sempre que possam comer-secom o garfo, excepto morangos, fructas em conserva, etc. Nunca sujeite a colhér de modo que o cabo descanse na palma da mão. Nunca mude o garfo directamente de uma mão para outra, mas coloque-oprimeiramente no prato. E´ muito melhor aprender a usar o garfo com a mão esquerdae todos os manjares em redór de seu prato que devam comer-se com garfo devemservir-se n´esse lado, e todos os que se comam com colhér, ponham-se ao outro lado. Tome sempre o copo pelo pé e levante-o pela parte inferior com os dedos, nãocom a mão inteira.001-Anuario-001-01-62.indd 39 22/02/2011 10:23:15

Anuário de Itajaí - 1924 40 Nunca coma com a faca. Quando mande um prato para repetir, nunca deixe n´elle o garfo e a faca. Aparte sempre, por meio do garfo ou da colhér levado aos labios, qualquer coisaque queira retirar da bocca. Nunca morda e tire o pão. Parta pedacinhos conforme os vá necessitando, eponha-lhes manteiga separadamente. Nunca extenda muito os braços para trinchar ou alcançar alguma cousa na meza,particularmente sobre o prato de outro ou sobre alguma cópa. Nunca leia livros na meza em companhia dos outros, e nunca leia jornaes oucartas a não ser quando esteja almoçando em presença de outros que tenham porcostume fazer o mesmo. Nunca deixe sua colhér na chicara, mas coloque-a no pires. Sobre tudo, nuncabeba na chicara enquanto a colhér esteja n´ella. Nunca beba no pires. Evite sempre as cebollas e demais comestiveis de forte cheiro. Deixe sempre no prato uma pequena porção de cada comestivel que se lhe hajaservido, a não ser que deseje repetir. Nunca, quando haja concluido, deixe seu garfo e faca cruzados no prato, oucollocados perto do mesmo. Colloque-os sobre o prato um ao lado do outro, mas não oscolloque d´esse modo sem que esteja prompto para que lhe sirvam a sobremeza. Se o leitor tenciona para ficar para os charutos, levante-se quando as senhorasdeixarem a sala de jantar. Em uma meza particular deve o leitor ficar até que todos hajam terminado, a nãoser que alguma razão urgente o impéça, em cujo caso o leitor deve pedir perdão. Nunca se escarve os dentes em presença dos outros. Este costume é tão vulgarcomo limpar-se as unhas em público.001-Anuario-001-01-62.indd 40 22/02/2011 10:23:17

O marujo itajahyense Não ha quem desconheça o valor do marujo itajahyense. Trabalhador e corajoso, conhecedor perito das lides do mar, o marinheiro itajahyense vive em toda a parte sempre disputado pelos embarcadores. Raro é o lugar da Europa, America ou Africa em que se não encontra um maritimo itajahyense. Quase todos os navios brasileiros trazem em seu bórdo, entre seus tripulantes, um filho da nossa terra. Bastante avultado é também o numero de navios estrangeiros, em cujos bórdos, conterrâneos nossos sabem, com suas invejáveis qualidades de nautas destemerosos e intelligentes, elevar o bom nome do marujo itajahyense. Creança ainda, o filho da nossa terra larga- se, barra a fora, em demanda de outras terras, em busca de melhor sorte e de melhores posições,tornando, porem, um dia ao torrão natal para matar as saudades que lhe dilaceram aalma nobre e ousada. Nenhum outro, como elle, sabe ser amoroso, pacato, sóbrio e educado, qualidadesque o tornam querido por todos seus superiores. Vou, nestas linhas, deixar registrado um facto que bem demonstra o arraigadoamor que o itajahyense, embora distante e de há muito ausente, sabe dedicar á suagraciosa terra.001-Anuario-001-01-62.indd 41 22/02/2011 10:23:19

Anuário de Itajaí - 1924 42 Certa occasião, durante a guerra européa, achava-me como piloto, a bórdo deum navio brasileiro ancorado no porto de Genova, na Italia, quando o <quarter-master>veio avisar-me que alguém, no caes, procurava informar-se si a bórdo existia algumtripulante catharinense. Assim que fui scientificado do que se passava dirigi-me à coberta pois a situaçãopolítica anormalisada pela lucta que ensanguentava o paiz impedia a entrada de estranhosa bórdo, sem autorisação do official de serviço. Ahi chegado encontrei-me com um homem de côr, alto, espadaúdo, que, dirigindo-se a mim em péssimo vernáculo, um mixto de portuguez e inglez, inquiriu si eu eracatharinense. Respondi-lhe affirmativamente interrogando ao mesmo tempo, porqueprocurava um catharinense. - <Sim, porque estou também de lá.. - De que lugar? – perguntei-lhe. -De Penha, em Itajahy – respondeu-me. - Então somos conterrâneos, pois também sou de Itajahy - disse, convidando-oa entrar. Sem mais delongas e, em meio da mais intensa alegria, aquelle itajahyenseaccedeu ao meu pedido e abraçou-me tomado por tamanha commoção que nem poudearticular palavra. Passados momentos dirigimo-nos ao meu camarote e continuamos a palestrarsobre cousas e factos de nossa terra. Perguntando há quanto tempo estava ausente de Itajahy, respondeu-me: - <Oh! eu estar muito tempo fora de là; eu sae de casa com quatorze annos.Hoje estou com trinta e dous. No principio quando estava em Rio sabia sempre noticiasde meus, mas só dois annos estive lá, depois embarquei como boy (moço) em um001-Anuario-001-01-62.indd 42 22/02/2011 10:23:21

Anuário de Itajaí - 1924 43navio inglez. Tenho corrido tudo. Conheço muitas terras. Tenho encontrado muita gentenossa, mas também quase não sabe nada porque estão fora de lá há muito tempo>. - Como se chama? - <Eduardo. Sou parente de tio Adriano>. - Conheço muito a tio Adriano; apparece constantemente em Itajahy. - <Está isto mesmo. E você de quem está filho>? Declinei o nome de minha família que elle, meio indeciso, pareceu recordar. Como estávamos na hora do almoço, convidei-o a fazer-me companhia. Acceitou e durante longo tempo, discorremos sobre a vida e costumesitajahyenses. Um dia sim, outro não, apparecia-me a bordo o bom homem sempre satisfeitopor poder privar, depois de tão longa ausência e em tão longínqua terra com alguém quevinha avivar na sua alma saudosa as imperecíveis recordações da infância, os costumesingênuos e simples dos pescadores de sua terra, toda a sua pátria, todas as alegrias efolguedos de sua meninice, toda a sua vida, emfim. Uma tarde, entretanto, appareceu-me a bordo acabrunhado e triste. Vinhadespedir-se, pois a sua profissão, rude e ingrata, exigia que elle partisse, no dia seguinte,para mais longe ainda. - <Eu parte amanhã em navio inglez para Australia. Não sabe quando volta. Eutem muita vontade de ir a minha terra. Está com muita saudade>. E com lagrimas nos olhos aquelle companheiro, que já se me tornára um amigoquase intimo, trouxe, com um demorado abraço, a sua despedida. Partiu e desde então nunca mais tive noticias suas. Gaspar Moraes001-Anuario-001-01-62.indd 43 22/02/2011 10:23:22

Corações E´ ´ um velho uso da gente da minha terra. Todo anno, em Setembro, quando as roseiras vergam de rosas, apparecem os<corações>. Não desses corações tintos de sangue, que vivem, que sentem, que palpitamde amor gerando paixões e marcando no rythmo das suas pulsações o curso denossa vida. Não negrejam de ódio nem se rendem, insensatos, á travessura d´um olhar,como o do poeta: <coração, por que palpitas? Por que palpitas em vão? Se aquella a quem tantoadoras te despreza como ingrato, coração, sê mais sensato, busca outra, coração>. São corações de papel de seda do mais variado matiz, recortados com certogosto e arte em caprichosos rendilhados. E todos revelam na complicada contextura dos seus crivos e trançados a maissanta paciência.001-Anuario-001-01-62.indd 44 22/02/2011 10:23:24

Anuário de Itajaí - 1924 45 Differentes na feitura e nas cores, abertos em bicos ou fechados em tranças,azues ou doirados, teem todos o mesmo fim: dobradinhos com cuidado trazem noámago o seu pedido de pão por Deus, feito em versinhos rimados, transbordando desselyrismo amoroso e expontaneo que floresce na alma do povo: <ahi vae meu coração /n´um bico de um beija-flôr / pedir o pão por Deus / ao meu querido amor>. Essa revoada de <corações> coloridos e transparentes dá margem a que a lyrapopular se expanda e se aprimore na justeza da cantiga: <pega a chave do meu peito /para abrir o teu coração / que eu aqui fico esperando / pão por Deus de tua mão>. E o invariavel pedido se repete no desalinho dos versos de outros <corações>forrados de ternura: <de perto vos quero bem / de longe tenho saudade / mandae-mepão por Deus / com amor e amizade>. Eis um pedinte que nada tendo conseguido da primeira vez refaz o seu pedido depão por Deus no anno seguinte: <neste mez faz um anno / que te mandei um coração/ agora te mando outro / para ver tua intenção>. A´s vezes a quadrinha faz allusão, em certo tom de malicia, á abastança dealguém: <ahi vae meu coração / de vergonha vae tremendo / vae pedir o pão por Deus/ a quem pode dar, querendo>. <Corações> ha que se prestam á satyra e ao remoque. Eis alguém que gracejacom um amigo horrivelmente feio, nestes versos impregnados de <humor> e futurismo:<ahi vae meu coração / na garupa de um lobisomem / pedir o pão por Deus / ao amigomacaco-homem>. Logo, porem, o pedido muda de tom e apparece talhado na pelugem macia deuma cheirosa malva-maçã: <a folha da malva-maçã / significa amor-perfeito / mandae-me o pão por Deus / si o coração for acceito>. Quem recebe um desse <corações> cuja missão expressa em versos sem metroé o indispensável pedido de pão por Deus fica na obrigação (moral, pelo menos) dedar um presente ou uma lembrança. E dá, com certeza. Por sua vez a quem enviaum <coração> assiste o dever de retribuir, mandando as <Festas>. E sempre assimacontece: em chegando a Primavera com o fulgor das suas madrugadas de oiro, surgemos <corações>; felizes corações de papel de seda que só vivem na graça e no encantodas ingenuas trovas populares. Itajahy, 06 – 11 – 923. Celso Liberato001-Anuario-001-01-62.indd 45 22/02/2011 10:23:25

Anuário de Itajaí - 1924 46 O famoso acrostico de 2 de dezembro de 1868 Todos os brasileiros sabem que o nosso ultimo imperador, D. Pedro II, soube ser um monarcha intelligente e recto, de uma honestidade a toda prova, era um espírito cheio de bondade e de tolerância, contrastando assim, sob todos os pontos de vista, com os <estadistas> que a política republicana tem elevado á suprema magistratura do paiz. Naquelles bons tempos os ministros não podiam conttar com elle para o desenvolvimento de vinganças pessoaes ou para o exercício de perseguições. Apezar de ter um soberano, o povo brasileiro gozava da mais franca e invejável liberdade. Ao conselheiro Carlos Affonso que, quando presidente do Rio de Janeiro, no ultimo gabinete do regimen, lhe foi dizer que ia impedir a realisação de uma conferencia republicana na cidade de Campos, Pedro II respondeu que se oppunha formalmente á prohibição accrescentando que não era licito a quem quer que fosse tolher a liberdade do pensamento. Vê-se por ahi que o bom velhinho tinha melhor pensar que os estadistas de hoje; melhor, mais nobre, mais democrata e de mais elevados pontos de vista. Nos jornaes illustrados, nos carros de critica carnavalesca, a figura do imperador commummente apparecia sob aspectos ridículos. No governo do barão de Cotegipe, em 1885, a policia interdictou a sahida de um carro da Sociedade dos Tenentes do Diabo, no qual se explorava um acto do governo. Uma commissão social procurou o Imperador, no Palacio de S. Christovam. Pedro II respondeu que nada podia fazer. Aconselhou, porem, que de futuro, criticassem apenas a sua pessoa e as da sua família e rematou: - Nós não nos offendemos e até, há vezes, achamos graça. A 2 de Dezembro de 1868, dia do anniversario do Imperador e anno muito agitado pela opposição política movida pelo partido liberal ao gabinete Itaborahy, nos <a pedido> do <jornal>, saíram publicados os seguintes versos á guiza de saudação;001-Anuario-001-01-62.indd 46 22/02/2011 10:23:27

Anuário de Itajaí - 1924 47 2 de Dezembro de 1868 Oh! excelso monarcha eu vos saúdo! Bem como vos saúda o mundo inteiro, O mundo que conhece as vossas glorias. Brasileiros erguei-vos e de um brado O monarcha saudae, saudae com hymnos Do dia de dezembro o dous faustosos, O dia que nos troxe mil venturas! Ribomba ao nascer d’alva a artilharia E parece dizer em som festivo: Imperio do Brasil, cantae, cantae! Festival harmonia reine em todos; As glorias do monarcha, as sãs virtudes Zelemos decantando-as sem cessar. A excelsa imperatriz, a mãe dos pobres, Não olvidemos também de festejar Neste dia immortal que é para Ella O dia venturoso em que nasceu, Sempre grande e immortal Pedro II. Traziam uma assignatura modesta: <Um monarchista>. Como se verá, é um acróstico formando esta frase: <O bobo do rei fazannos>. O facto produziu sensação, pela austeridade do <jornal> daquelle tempo.Reconhecia-se, todavia, que a inserção era inevitável dado o tom laudatório dosversos, muito communs na época. Quem os teria escripto? Era a indagação de todasas boccas. Uns attribuiam a autoria a Salvador de Mendonça; affirmavam outrosdiziam ainda que só Ferreira Vianna, o autor da <Conferencia dos Divinos> podia terescripto aquillo. Tudo isto, entretanto, não passou de simples attribuições; o facto éque até hoje, depois de passados 55 annos, esta pergunta continua sem resposta:<Quem teria sido o autor do acróstico publicado a 2 de dezembro de 1868?>001-Anuario-001-01-62.indd 47 22/02/2011 10:23:27

Anuário de Itajaí - 1924 48 Singular prophecia mathematica (Traduzida do allemão por Nestor Heusi) Pelo diario de um venerando senhor do anno de 1849, intimo do principe Guilherme,mais tarde o imperador allemão Guilherme I, narra Fritz C. Schneider, o seguinte einteressante acontecimento: Não era nenhum mysterio, que seguindo o exemplo de outras côrtes, também nosolar dos Hohenzollern, achassem sempre ingresso aos aposentos principescos, aquellespersonagens, aos quaes era dado o dom do vaticínio e do somnambulismo, afim de alli,no mais intimo meio familiar, darem provas surprehendentes de suas aptidões. Porisso a apparição da <dama branca> no palácio de Berlim, a qual, com infallibilidade,vaticinou constantemente, para os próximos dias, a morte de um descendente da herdadedos Hohenzollern, foi um notável acontecimento, o qual devidamente documentadoe authenticado, acha-se desde há muitos séculos, depositado no archivo da famíliaimperial. Um episodio, não menos característico e impressionante occorreu no anno de1849, na vida do principe Guilherme. Certamente é bem conhecida a prophecia, que durante a conflagração européa,com bastante frequencia, foi discutida nos meios crentes e incrédulos, que um pastorsomnambulo de Meeklenburgo, tivesse já predicto no anno de 1840, que em 1918 o reida Prussia poderia reunir os seus amigos debaixo de uma pereira, pois bem diminutoseria o numero d´elles.001-Anuario-001-01-62.indd 48 22/02/2011 10:23:28

Anuário de Itajaí - 1924 49 Esta conhecia também o velho rei Guilherme; pois quando em 1849, após oattentado badense, elle resolvera consultar uma cigana, acerca do que lhe estavareservado no futuro, a qual devido aos seus dons propheticos gozava de grande famanas altas rodas sociaes, motivo assaz relevante, para que tivesse escolhido; lhe foivaticinado, que elle: 1) em dias vindouros, ainda seria imperador allemão e; 2) attingiriaa idade de noventa e um annos; 3) que o império allemão duraria apenas algum tempo,derrubando também em sua decadência o throno prussiano e 4) que só no anno de1927 a 19 de Março, um rei prussiano tomaria de novo as rédeas do governo. Quandosobre isso o príncipe descrente sorriu ironicamente, offereceu-se então a cigana, paraprovar mathematicamente, o que lhe havia dito; ella mandou-o collocar separadamenteas respectivas cifras da data d´aquelle anno de 1849, devendo em seguida sommal-a,com a somma resultante tomar ainda três vezes o mesmo exemplo e por fim as quatrocolumnas de algarismos obtidas, deviam por um risco, ser divididas em duas metadescada uma. Aconteceu como segue: 18 49 18 71 18 88 19 13 1 1 1 1 8 8 8 9 4 7 8 1 9 1 8 3 18 71 18 88 19 13 19 27 <Estás vendo> proferiu a cigana, <no anno de 1871, o primeiro numero prophetico, tuserás imperador allemão. Mas também devo scientificar o dia da coroação. O maior numero áfrente do traço (-18) é o dia; o menor atrás do risco (-1) è o mez de tua coroação.> (De factofoi Guilherme, a 18 de Janeiro de 1871, proclamando imperador allemão, em Versailles.) <Osegundo numero prophetico, 1888, é o anno de tua morte e como tivesses nascido em 1797,alcançaràs assim, a idade de 91 annos. Se queres saber tambem o teu dia fatal, então sommade novo o algarismo maior collocado á frente do traço, isto é, 18, decomposto o mesmo,resulta: 1x8=9, por conseguinte a 9 abandonarás o mundo, e sem duvida, n´aquelle mezem que os três números menores atráz do risco do mesmo modo sommados, dêm o mez,(1x1x1=3). D´onde deduz-se, que o 9 de Março, é o dia vaticinado para o teu fallecimento.>(E´ bem notório que Guilherme I expirou a 9 de Março de 1888). Estupefacto e curioso, exigiu o principe também o significado do terceironumero prophetico, 1913, na espectativa que falhasse desta vez o seu enigmáticoartifício. <Como tu ordenas>, proseguiu a cigana na maior calma. <Já a cifra 13,no fim desta data é aziaga, porem, muito mais ainda, é a repetida sequencia dosegundo numero aziago 8, na columna adicional. 1913 é o anno predestinado paraa queda do teu reino, e indubitavelmente, conforme annuciam os algarismo á frentedo risco, á 18 do mez, 1x9=10, que resulta a 18 de Outubro de 1913. <Nestedia>, disse a adivinha, <será um de teus descendentes cercado por muitos príncipesamigos, os quaes porem, não são realmente amigos pois, segundo prova o menoralgarismo, 1, da fila de numero atrás do risco, um anno depois elles serão os seusmais encarniçados inimigos, os quaes, após uma sanguinolenta e terrível guerra,despojarão de teu solar, tudo o que resultou de teu governo>. E a cigana tinha razão,001-Anuario-001-01-62.indd 49 22/02/2011 10:23:29

Anuário de Itajaí - 1924 50pois, a 18 de Outubro de 1913 = o dia da inauguração do monumento da <Batalhas dasNações>, em Leipzig, à qual estavam presentes ou representados todos os príncipeseuropéos - era o prelúdio da guerra mundial, rebentada um anno mais tarde. Duvidoso, si bem que visivelmente abatido, inquiriu o príncipe á cigana, se ellatambém lhe poderia presagiar, o tempo que duraria a guerra vaticinada, ao que, estasem refletir retorquiu: <Em proporção que vês o numero aziago á direita do traço, tantas vezes umanno durará a guerra (portanto cinco annos). Como porém>, proseguiu ella, <apparecetambém ainda uma vez á esquerda, o numero 8, decorrerá, por isso, ainda maisum anno, até que reine totalmente a paz e tenha regressado o ultimo participanteda enorme quão horrível conflagração universal>. Que a cigana também aqui, não setivesse illudido, sabemos hoje sufficientemente. O ajudante do príncipe Guilherme tentou então causar um desaire á cigana,afim de demonstral-a depois, que a sua arte, em predizer por cálculos mathematicos,falharia, e apresentou-lhe o problema, pelo qual ella devia dizer-lhe, a data exacta emque succederia a queda do império allemão. <Nada mais fácil do que isso>, redarguiu pacificamente a adivinha e ordenou-lhe que o collocasse juntamente, as datas 1871, 1888 e 1913, dividisse-as em duasmetades, somando-as em seguida mais uma vez, portanto: 18 71 <Vem meus nobres cavalheiros, no resultado 5672 estão3 18 88 desvendadas todas as curiosidades do futuro; pois somando agora as 19 13 respectivas cifras das metades divididas, auferimos, consequentemente, 56 72 o seguinte: 5x6-11, portando no undécimo mez. (Novembro) 7x2-9 portando no nono dia e 5x6x7-18, portanto no anno de 1918; temos 3 assim a data 9 de Novembro de 1918.> Neste dia prorompeu na Allemanha, a grande revolução. Tambem aquievidenciaram-se os calculos da cigana. E o ultimo vaticínio mathematico: que em 1927 o throno prussiano deva ser onovo reerguido, provou a cigana, demonstrando, que neste anno trata-se outra vezde um throno, como em 1871, por conseguinte, sómente o mesmo calculo como ápergunta 1 poderá dar o devido esclarecimento assim, o algarismo 19 à frente dotraço, significava o dia, consequentemente a 19 do mez, o menor algarismo atrás dotraço (três vezes existente) por conseguinte o terceiro mez, (Março), resulta destemodo a data 19 de Março de 1927. <Neste dia recomeçarà a ascenção gloriosa daPrussia,> e assim finalisou a cigana suas predicções. Ricamente mimoseada ellafoi despedida da corte, e nunca mais se teve noticias de seu paradeiro. Se tambémrealisar-se o seu ultimo calculo, deverá a posteridade revelar, tambem, a ascençãode um descendente do solar dos Hohenzollern ao throno prussiano. Embóra muitos sacudam duvidosos a cabeça, sobre os acontecimentos descriptos,não deixa, todavia, de ser interessante, como a cigana por meio de hábeis combinaçõesde numeros, soube dar à sua prophecia, uma base crível e digna de fè.001-Anuario-001-01-62.indd 50 22/02/2011 10:23:29


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