Arquivos 51 Itajaí. A gestão de documentos da Administração Pública do Município de Itajaí foi criada através da Lei Municipal nº 3.343, de 27 de novembro de 1998. Em 2002, foi construído o Arquivo Intermediário da Secretaria Municipal da Administração, cuja inauguração ocorreu no dia 24 de outubro daquele ano. Com a instalação do Arquivo Intermediário em sede própria, o Município de Itajaí tornou-se pioneiro no Estado de Santa Catarina na manutenção de conjuntos de documentos nesta categoria. O Arquivo Intermediário está destinado a guardar os documentos em prazo de vigência e/ou precaucional de longa e baixa frequência, os quais aguardam avaliação e destinação final, mesmo que o direito de propriedade pertença ao órgão que o originou e o mesmo necessite de sua organização. Está localizado à Rua José Pereira Liberato, nº 1899, no Bairro São João (fundos da Secretaria de Obras e Serviços Municipais). A área construída é de 300m2 e o acervo documental está acondicionado em 12.000 caixas- arquivo. Na esfera do poder legislativo, a Câmara de Vereadores mantém o Arquivo Vereador Luiz Gonzaga Agostinho, que foi reformado em 13 de maio de 2004. O Porto de Itajaí, autarquia da Prefeitura de Itajaí, iniciou a organização do acervo documental na década de 80. Por anos a documentação esteve guardada em armazéns sem tratamento técnico adequado e, em 2002, foram retomadas a organização, com a criação da Comissão de Avaliação de documentos e da Tabela de Temporalidade. A gestão documental aplicada com medidas e rotinas que garantam o efetivo controle de todos os documentos de qualquer idade (desde sua produção até sua destinação final, com vistas à racionalização e eficiência administrativas, bem como à preservação do patrimônio documental de interesse histórico-cultural), segundo a empresa Critéria (1997), permite: Aumento da eliminação dos documentos na fonte e a diminuição do volume documental total: Aceleração e a sistematização da organização dos documentos; Aumento da proteção da informação, pois um documento bem classificado, ordenado e arrumado está relativamente em segurança; Aceleração da pesquisa de informação e o fato de obter de forma mais rápida a informação pertinente; Aumento da estabilidade, da continuidade e da eficácia administrativa da organização; Otimização da utilização do espaço, do equipamento e dos recursos humanos; Racionalização e diminuição dos custos da organização das massas documentais. Conforme divulgado pela American Information and Image Management e publicado pela Critéria, o custo com a criação de documentos equivale a:003-39-64.indd 51 26/02/2013 10:58:04
Anuário de Itajaí - 2012 52 Formulários US$ 1,50 a 4,00 por página; Correspondências US$ 5,00 a 14,00 por página; Relatórios informatizados US$0,35 a palavra; Relatórios nível de direção US$500,00 a 6000,00 por página. Não bastasse o custo elevado de elaboração, verifica-se que, em grande parte das instituições: 45% dos dados são duplicados; 95% dos registros possuem mais de 3 (três) anos. Perdas de registro representam US$140,00, por registro, em média. Estes dados evidenciam a necessidade de se oferecer melhor tratamento às informações em processo, pois elas constituem “ativo patrimonial” que consome recursos para a produção, distribuição e armazenamento, como qualquer outro insumo. Além disso, elas estão diretamente relacionadas à geração de espaços físicos compatíveis com o volume que representam, com os materiais de arquivamento, com o envolvimento de profissionais destacados para a gestão de documentos, entre outros. Está ligado ao custo de geração da informação homem/hora dos profissionais intelectualmente envolvidos com o processo produtivo; o transporte e distribuição de informações, pois elas são insumos temporais de tomada de decisão. Quando procuramos a informação, desperdiçamos tempo duplamente, pois somente se procura o que se perdeu ou não se sabe o local exato onde se encontra. Desperdiçamos, também, pelo distanciamento das atividades fins (perda de produtividade, mais desgastes, comprometimento da sobrevivência em nível de mercado). Conclui- se, por esses e por outros fatores, a importância em se tratar profissionalmente a informação, ponto primordial da automação de qualquer processo produtivo, que tenha como principal preocupação a melhoria constante de suas rotinas. O princípio da proveniência é a base teórica, a lei que rege todas as intervenções arquivísticas. O respeito deste princípio, na organização e no tratamento dos arquivos qualquer que seja a sua origem, idade, natureza ou suporte, garante a constituição e plena existência da unidade de base em arquivística, a saber, o fundo de arquivo. O princípio da proveniência que comporta duas vertentes define-se como o “princípio fundamental segundo o qual os arquivos de uma mesma proveniência não devem ser misturados com os de outra proveniência e devem ser conservados segundo a sua ordem primitiva, caso exista” ou “o princípio segundo o qual cada documento deve ser colocado no fundo donde provém e, nesse fundo, no seu lugar de origem”. Tanto de um ponto de vista teórico como de um ponto de vista prático, a aplicação do princípio da proveniência garante, por um lado, a ordem estritamente administrativa que preside à organização dos documentos nas unidades e que estes devem conservar e, por outro, o valor de testemunho que alguns deles têm (ROUSSEAU, 1998). O que define a unidade do sistema proposto que deve gerir determinado documento é o tipo de valor que ele apresenta nas suas diferentes idades. Esse, por sua vez, se revela em relação direta com o público a quem é acessível e pode servir em cada fase.003-39-64.indd 52 26/02/2013 10:58:04
Arquivos 53 Chama-se “primário” o valor que o documento apresenta para a consecução dos fins explícitos a que se propõe; “secundários” são aqueles que, embora já implícitos no tempo em que são gerados, avultam com o correr dos anos. Um documento arquivístico, gerado por uma demanda da comunidade a determinado órgão público (a construção de um posto de saúde, por exemplo) tem valor “primário” para as partes diretamente envolvidas, os indivíduos e grupos interessados e os administradores do órgão que deve solucionar o assunto. Esse valor sobressairá durante o tempo de circulação do documento, inclusive durante o atendimento da demanda. O documento servirá ao registro da discussão do assunto e do processo decisório durante a fase de circulação e servirá à consulta das partes durante o tempo em que a solução ou despacho nele registrado estiver causando a respectiva ação. Contudo, esse documento tem outros valores potenciais, os secundários. Para a Administração, constitui elemento informativo dos possíveis desdobramentos do problema, instruiu casos semelhantes, avalia a atuação do órgão e subsidia o planejamento da ação futura. Para os cidadãos (não só o grupo diretamente afetado pela construção do posto, mas toda a comunidade), também serve, potencialmente, como elemento informativo para a análise crítica da atuação da Administração. Finalmente serve, numa perspectiva de longo prazo, à construção da história da própria organização e da sociedade em que ela se insere e atua, quando reunidos aos demais documentos que compõem o fundo específico e ao acervo arquivístico da Administração. Esse valor de caráter permanente dos documentos arquivísticos, que já existe, desde o momento em que é produzido, mas que se revela ao longo do tempo, é que o caracteriza como fonte para a pesquisa histórica (INOJOSA, 1984). As sucessões de fases por quem passam os documentos (corrente, intermediária, permanente), desde o momento em que são produzidos até sua destinação final (eliminação ou guarda permanente) é que se denomina o ciclo vital dos documentos ou a “teoria das três idades”. Na fase corrente (idade corrente), a utilização administrativa dos documentos ainda é muito intensa e eles devem, portanto, permanecer próximos à administração que os produziu. À medida que a documentação passa a ser menos consultada, tem de ser transferida aos arquivos intermediários (idade intermediária), onde aguarda sua destinação final; após a aplicação das tabelas de temporalidade, podem ocorrer os descartes ou os recolhimentos ao arquivo permanente (idade permanente). O documento corrente é aquele necessário ao desenvolvimento das atividades de rotina de uma instituição e, por consequência, os procedimentos realizados para a sua classificação, registro e controle de tramitação, expedição e arquivamento. Tem por objetivo facilitar o acesso às informações neles contidas. Esse conjunto de operações técnicas caracteriza os serviços de gestão dos documentos correntes. Nas administrações pública e privada, as unidades responsáveis por tais serviços são intituladas protocolo e arquivo. O estabelecimento de normas para o tratamento de documentos em fase corrente permite aproveitar o máximo da informação disponível e necessária à tomada de003-39-64.indd 53 26/02/2013 10:58:04
Anuário de Itajaí - 2012 54 decisões. Essas normas visam aumentar a eficácia administrativa, facilitar a recuperação mais rápida dos documentos e/ou informações neles contidas e racionalizar sua guarda e conservação. A difusão da informação requer a utilização de suportes variados desde os gerados para uso no computador (discos, disquetes, discos ópticos) àqueles que são ainda o mais conhecido e o mais divulgado, o papel, passando pelo microfilme e seus derivados. O documento em fase intermediária faz parte do acervo que não está mais em fase corrente, arquivados em espaços denominados arquivos intermediários. A função principal consiste em proceder a um arquivamento transitório, isto é, em assegurar a preservação de documentos que não são mais movimentados, utilizados pela administração e que devem ser guardados, temporariamente, aguardando pelo cumprimento dos prazos estabelecidos pelas comissões de análise ou, em alguns casos, por um processo de triagem que decidirá pelo descarte ou arquivamento definitivo, para fins de prova ou de pesquisa. O arquivo intermediário tem a dupla vantagem de centralizar e de administrar os documentos que perderam sua utilidade corrente para as administrações. Ele evita a eliminação descontrolada e permite uma verdadeira política de conservação dos arquivos. Os documentos na fase permanente são os produzidos há mais de 25 anos pelos vários órgãos da administração pública – cada órgão vindo a constituir um fundo de arquivo – remanescentes de eliminação criteriosa. Um documento é histórico quando, passada a fase ligada à razão pela qual foi criado (informação), atinge a da sua utilização pela pesquisa histórica (testemunho). Sua utilidade é da administração e da historiografia, no sentido mais crítico e científico, e não no de “deleite cultural” (BELLOTTO, 1991). Os documentos históricos de hoje foram os administrativos de ontem e os documentos administrativos de hoje serão os documentos históricos de amanhã (BELLTTO, 1991). A função de um arquivo permanente é reunir, conservar, arranjar, descrever e facilitar a consulta dos documentos oficiais, de uso não-corrente, ou seja, concentrar sob sua custódia, conservar e tornar acessíveis documentos não-correntes, que possam tornar-se úteis para fins administrativos, pesquisas históricas e outros fins (PAES, 1998). A elaboração da Tabela de Temporalidade é necessária para evitar o acúmulo desordenado e desnecessário de papéis e principalmente para que não se proceda a um descarte de documentos sem critérios legais preestabelecidos, provocando lacunas irreparáveis nos registros. Para constituição da Tabela de Temporalidade é necessário seguir as três etapas seguintes: a) Conhecer a instituição em que o Arquivo está inserido, pois a documentação existe porque a Instituição existe. Mesmo que o Arquivo esteja organizado, se não contemplar as necessidades dos diferentes setores da Instituição também não cumprirá com a finalidade do atendimento eficiente. Conhecer a organicidade funcional e o fluxo informacional da Instituição são tarefas primordiais, incluindo, conhecer a natureza de sua existência, seus aspectos jurídicos constitutivos, seu organograma, seus setores003-39-64.indd 54 26/02/2013 10:58:04
Arquivos 55 competentes, suas atribuições, as formas como são geradas as informações, em cada unidade, as formas como concebidas, elaboradas, publicadas e disseminadas, o tempo de vigência de cada documento, o seu grau de atendimento à legislação existente e, ainda, as formas como circulam entre setores afins. b) Criar a Comissão Central de Avaliação Documental, composta por servidores que conheçam a estrutura organizacional e que tenham conhecimentos sobre o recebimento, a tramitação e o arquivamento dos documentos produzidos e acumulados; que conheçam a legislação específica, sobre os critérios de avaliação e sobre os prazos de guarda dos documentos; e que sejam atuantes e com disposição para iniciar e concluir as atividades e trabalhos que lhes são confiados com seriedade e competência. c) Formar Comissões Setoriais de Avaliação de Documentos – CSAD para os setores produtores e acumuladores de documentos. d) As Comissões serão nomeadas e receberão atribuições de avaliação dos acervos documentais para a elaboração da Tabela de Temporalidade, desempenhando as seguintes tarefas: Primeiro passo: Levantamento dos documentos produzidos e recebidos existentes em cada órgão, procedendo de acordo com os critérios previstos na legislação vigente, preenchendo o Formulário que inclui o Órgão, Diretoria e Setor. O Formulário permite um detalhamento de vários itens como: tipo documental, Suporte, Quantidade, Data limite, Original ou Cópia, Observações e Data. Segundo passo: A formação da Tabela com as informações coletadas no levantamento procedido durante o primeiro passo. Deverá ser acrescentado o prazo legal e para isto deve se fazer também uma consulta na área jurídica, de pessoal e contábil da Instituição, que examinará os códigos sobre a prescrição e caducidade dos documentos. Terceiro passo: A aprovação da Tabela pela Comissão Central de Avaliação de Documentos – CCAD, com a assinatura do Presidente da Comissão e encaminhamento à autoridade competente para aprovação e publicação. Quarto passo: De posse da Tabela aprovada, que definirá os critérios de transferência, recolhimento ou descarte da documentação, inicia-se o procedimento de triagem da documentação, visando adequá-la ao modelo constante na Tabela. Os documentos públicos ou considerados de interesse público, estão protegidos pela Lei Federal 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. De acordo com a legislação em vigor, nenhum documento público poderá ser eliminado se não tiver sido submetido à avaliação e se não constar da Tabela de Temporalidade do órgão, devidamente aprovada por autoridade competente e oficializada. Mesmo os documentos microfilmados não poderão ser eliminados antes de se definir sua destinação final. No art. 13 do Decreto Federal nº 1.799 de 30 de janeiro de003-39-64.indd 55 26/02/2013 10:58:04
Anuário de Itajaí - 2012 56 1966 menciona: “Os documentos oficiais ou públicos com valor de guarda permanente não poderão ser eliminador após a microfilmagem, devendo ser recolhidos ao arquivo público de sua esfera de atuação ou preservados pelo próprio órgão detentor”. No Estado de Santa Catarina, a Lei nº 9.747, de 26 de novembro de 1994, dispõe sobre a avaliação e destinação de documentos da Administração Pública e diz no art. 1º: “É dever do poder público a proteção especial dos documentos públicos como elementos de prova e instrumentos de pesquisa e apoio à administração, à cultura e ao desenvolvimento científico e tecnológico”. Em Itajaí (SC), a Lei Municipal nº 3.343, de 27 de novembro de 1998, estabelece normas de gestão para os documentos da administração pública e dá outras providências. A regulamentação do funcionamento do Arquivo Intermediário está estabelecido com o Decreto Municipal nº 8.054, de 24 de novembro de 2006, e a Lei 4.824, de 19 de junho de 2007, que menciona os órgãos que estarão representados na Comissão Central de Avaliação de Documentos – CCAD. O conhecimento dos documentos que produzem a legislação pertinente, uso, importância e o alcance temporal permitem aos profissionais de Arquivo e às Comissões elaborarem Tabelas de Temporalidade para as instituições a que pertencem. As séries documentais serão analisadas de acordo com a estrutura organizacional a que pertençam. É necessário observar a existência de legislação específica no que tange a guarda de documentos. Segundo a Empresa Critéria, a Área de Saúde encontra- se regida por normas expedidas pelos Conselhos de Medicina. Para as instituições financeiras, deve ser observada a Tabela de Temporalidade elaborada pelo Banco Central do Brasil e os Códices (Tributário e Civil). Na área de Educação, deve-se procurar conhecer os dispositivos que regem as Secretarias e órgãos. Referências BELLOTTO, H.L. Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. Queiroz, 1991. BRASIL. Lei nº 8.159 de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de Arquivos públicos e privados e dá outras providências. Diário Oficial da União, 9 de jan. 1991. CRITÉRIA LTDA. Como aplicar a tabela de temporalidade documental: guia de orientação. Belo Horizonte: Ed.do autor, 1997. INOJOSA, R. M. Comunicação e arquivos: aspectos conceituais. Cadernos Fundap, São Paulo: v.4, n.8, p.4-11, 1984. ITAJAI (SC). Lei 3.343 de 27 de novembro de 1998. Estabelece normas de Gestão para documentos da administração pública do Município de Itajaí e dá outras providências. ___________. Lei nº 4.824 de 19 de junho de 2007. Altera dispositivos na Lei 3.343 de 27 de novembro de 1998 e dá outras providências. Jornal do Município n. 543, 21 a 25 jun.2007. ___________. Decreto nº 8.054 de 24 de novembro de 2006. Regulamenta o funcionamento do Arquivo Intermediário. Jornal do Município, n. 489, 5-7 dez. 2006. PAES, M. L. Arquivo: teoria & prática. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1986. ROUSSEAU, J.Y. & COUTURE, C. Os fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa: Dom Quixote, 1998. SCHELLENBERG, T. R. Arquivos modernos: princípios e técnicas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1974.003-39-64.indd 56 26/02/2013 10:58:05
Dide Brandão 57 Uma Abordagem Semiótica nas Obras de J.Brandão Luiza Liene Bressan Professora de Estética e Linguagem das Artes Visuais do curso de Museologia do Unibave. Angela Luciane Peyerl Graduanda do Curso de Museologia do Unibave. Um artista e sua trajetória José Bonifácio Brandão, J. Brandão, como assinava seus trabalhos, nasceu em Itajaí no dia 6 de agosto de 1924. Desde criança, Dide, como era conhecido pelos amigos e família, já teve contato com a arte. Seu avô, Manuel Marques Brandão, fez da sala de visitas de sua casa o primeiro espaço de representação teatral de Itajaí onde seu pai, João Marques Brandão (Joca Brandão), foi destaque como ator, encenador e orador. No ano de 1897, quando ainda tinha 17 anos, Joca Brandão foi eleito o primeiro presidente da hoje conhecida Sociedade Guarani e, no mesmo ano, juntamente com seus irmãos Félix e Apolinário, criou o Corpo Cênico de Itajaí, um grupo precursor de teatro amador. Com isso, Joca tornou-se uma das figuras de grande importância para a cidade. José Brandão era o décimo terceiro filho de uma família composta por quinze irmãos. Iniciou seus estudos no Colégio São José em Itajaí (SC), aos 10 anos de idade. Era considerado autodidata até que, anos depois, resolveu aprimorar sua técnica e iniciar seus estudos com professores particulares como Carlos Chambelland, no Rio de Janeiro, de 1946 a 1949; Rodolfo Chambelland, entre 1950 e 1951, também no Rio de Janeiro, Aldo Cardarelli, em Campinas-SP, de 1952 a 1953 e, por fim, Caterina Bratelli, no Rio de Janeiro, de 1954 a 1956; logo após, entra para a extinta Escola Nacional de Belas Artes, no ano de 1956, onde permanece até 1960 no Rio de Janeiro. Inscreveu-se com uma produção, em meio busto, de Jesus Cristo, com moldura em madeira e gesso, decorada com motivos florais em alto relevo na cor dourada. A tela possui uma inscrição na parte inferior direita, datada de 1947 e em seu verso apresenta o seguinte dizer: “Querida Mamãe, com beijos de seu filho Dide”. Atualmente, a tela permanece na reserva técnica 02 do Museu Histórico de Itajaí, cedida em regime de comodato pela sobrinha do pintor. Neste período, em que estudou na Escola Nacional, Dide foi aluno de Carlos Del Negro, Alberto Zaluar, Jordão de Oliveira e Visconte Cavaleiro.003-39-64.indd 57 26/02/2013 10:58:08
Anuário de Itajaí - 2012 58 Dide desenvolveu várias técnicas, ganhou inúmeros prêmios, dentre eles, em 1952, uma Menção Honrosa no V Salão Municipal de Belas Artes – RJ; em 1953 é agraciado novamente com Menção Honrosa no VI Salão de Belas Artes Sociedade de Artistas Nacionais. Também foi homenageado com o prêmio João Dault de Oliveira, em 1953, com a obra “Trabalho na Arte”, sem contar que, no ano de 1958, ganhou Medalha de Bronze no LX Salão Nacional de Belas Artes - RJ com a obra “Natureza Morta”, que também se encontra em reserva técnica no Museu Histórico de Itajaí. Quando ainda aluno da Escola Nacional, ganhou o Prêmio Tribuna da Imprensa no I Salão de Alunos, Escola Nacional de Belas Artes e o Prêmio Escultura – I Salão de Alunos Escola Nacional de Belas Artes com a obra intitulada Três Marias, ambos no ano de 1960. Durante as décadas de 50 e 60, o Brasil se desenvolveu artisticamente, os movimentos de vanguarda construtiva deram seus primeiros passos com o Grupo Frente do Rio de Janeiro e o Grupo Ruptura de São Paulo. Ambos tinham em mente ideias ambíguas de como desenvolver a emancipação cultural nacional diante das influências que o país sofria artisticamente, provindas da Europa. O que predominava esteticamente nestes grupos era o concretismo cuja arte abstrato-geométrica se isentava de qualquer realidade imediata e tinha comprometimento social de integração e de educação da sociedade. No meio deste turbilhão de informações, os artistas começam a tomar consciência do que realmente “estão fazendo”; o pintor se questiona diante de sua produção, a pincelada, a cor e o suporte ao qual irá realizar mais uma obra. Começa a pensar na sua produção e é neste momento que se inicia o que se chama de acontecimento pictórico plástico, quando o tema ou o assunto de arte ocupa um papel secundário e abre um precedente para as preocupações visuais. As vanguardas que se instalaram no Brasil durante o período que compreende a década de 50 à 60 foram consideradas históricas, trouxeram a poética da experimentação; a vanguarda brasileira dos anos 60 começa a questionar a instituição da arte, os salões, juris, regulamentos, museus e galerias, debatiam o passado acadêmico, o que se faz lembrar a Semana de Arte Moderna de 22. A modernidade nas artes do Brasil se deu em um contexto contrário ao das vanguardas europeias. Aqui o país passava por uma modernização num todo: a criação de Brasília, os primeiros eletrodomésticos, a Bossa Nova que projetava o Brasil para o mundo, enfim, este era o momento de transformação. José Bonifácio Brandão vinha dentro de um circuito de arte. Quando entrou na Escola Nacional de Belas Artes em 1956, já era um artista um tanto quanto consolidado, já havia estudado com professores particulares que lhe ensinaram a técnica, o traço, a pincelada. Logo após, consegue entrar para a Escola Nacional onde entra em contato com outras técnicas. Por estar dentro do circuito de arte, neste caso o Rio de Janeiro, automaticamente entrou em contato com outras manifestações artísticas. Passou do academicismo ao modernismo. Pintava, geralmente, em seu atelier, usando materiais em diversos suportes como juta, tela, papelão e metal. As telas eram produzidas por ele mesmo e as molduras também. Além da pintura J. Brandão produziu esculturas em metal italiano, entalhes em madeira e peças em porcelana.003-39-64.indd 58 26/02/2013 10:58:08
Dide Brandão 59 J. Brandão ficou conhecido por seu trabalho com uma linguagem mais acadêmica (Carmen, Estudo em Branco, Rosas), mas foi na década de 60, quando sai da Escola Nacional de Belas Artes, que muitas de suas obras se consolidaram. Neste período assumiu uma postura mais moderna e rompeu com alguns princípios da academia. Se se pensa a Escola Nacional de Belas Artes como um princípio aristotélico onde não há uma desconstrução e J. Brandão já tinha uma visão mais intuitiva, esse foi o momento em que sua produção toma outro rumo, os traços mais modernos (cubistas) que estavam somente em suas gravuras, passaram do papel para a tela, para o entalhe e às porcelanas. Dois exemplos desta desconstrução são as obras A Arte Chora Picasso e Palhaço, que serão analisadas na sequência. A Contribuição Semiótica na Interpretação das Artes Visuais A Semiótica estuda todos os tipos possíveis de signos (a linguagem verbal e não verbal), configurando-se como uma ciência que abarca todas as linguagens, com enfoque interdisciplinar, abrangendo uma área de estudo muito vasta e complexa, visto que estuda a realidade cultural, o contexto. A Semiótica entende signos como algo que, de um certo modo e numa certa medida, intenta representar, quer dizer, estar para, tornar presente alguma outra coisa, diferente dele, seu objeto, produzindo, como fruto dessa relação de referência, um efeito numa mente potencial ou real (SANTAELLA, 2000, p.159). Peirce criou denominações para as três categorias: respectivamente, primeiridade, secundidade e terceiridade. Ele também dividiu os signos em ícones, índices e símbolos. Veja o quadro a seguir: QUADRO 1 – A tríade sígnica e as categorias fenomenológicas Categoria Natureza Características Primeiridade Secundidade Refere-se ao ícone, pertence à natureza da Terceiridade qualidade de sentimento. Representa o estado Quali-signo de ser, o que é sem estar ligado a mais nada. Associa-se a expressões como intuição, instante, sentimento, espontâneo. Refere-se a índice; tem as características do real. Sin-signo Representa algo “conectado” a alguma coisa. Aqui o sentimento se corporifica ou se encarna em algo. Símbolo. É uma representação mais ampla, em Legi-signo que algo pode estar com uma multiplicidade de relações, apontada pelas hastes em várias direções. É a instância em que se formam os conceitos. Fonte: ALVES, 2007, p. 6. Compreender os signos nas artes visuais exige uma percepção mais acurada das categorias fenomenológicas. Para melhor compreensão das categorias fenomenológicas, é necessário entendermos a diferença entre consciência e razão. A consciência representa as ideias em diferentes003-39-64.indd 59 26/02/2013 10:58:08
Anuário de Itajaí - 2012 60 profundidades e em permanente mobilidade, enquanto a razão é a camada superficial da consciência; portanto, a razão é parte da consciência. A interpretação de um fato, sua contextualização, que ocorre na categoria denominada terceiridade, se dá num grau mais profundo da consciência (MOIMAZ e MOLINA, 2009. p. 580) As bases da semiótica, que são as categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, contribuem de forma significativa para se compreender a obra de arte, neste estudo, a pintura moderna de J. Brandão, e pensar as questões estéticas. Tomar os conceitos da semiótica de Peirce para pensar uma estética é um uso válido de “conceitos teóricos da semiótica que versam sobre a natureza, comportamento, potenciais e limites dos signos, com a finalidade de se pensar uma teoria estética aplicável à leitura e interpretação dos signos artísticos” (SANTAELLA, 2000, p. 173). Na estética semiótica, a obra de arte não é tratada como um objeto, mas sim como um signo, “cujos processos de produção e recepção constituem processos peculiares de semiose” (SANTAELLA, 2000, p. 168), ou seja, processos peculiares de ação do signo. Em estudo a pintura de J. Brandão, nomeada “Palhaço”. Figura 01- Palhaço Fonte: Acervo do Museu Histórico de Itajaí003-39-64.indd 60 26/02/2013 10:58:09
Dide Brandão 61 A Semiótica estuda o mundo das representações e da linguagem. Pierce, ao estudar os signos, se debruçou na forma como os objetos chegam à nossa mente. Imagine-se entrando numa exposição assinada por J. Brandão. Ao fundo da sala, você vê uma tela com tons avermelhados. Ao se aproximar, percebe que é a pintura de um palhaço. Ao olhar para lado, um retrato do artista que se assemelha à obra. É deste modo que, conforme diz Nicolau (et al, 2010, s/p), nos situamos no mundo em nossa volta: primeiro os objetos surgem em nossa mente como qualidades potenciais; segundo, procuramos uma relação de identificação e terceiro, nossa mente faz a interpretação do que se trata. Por isso a Semiótica se baseia numa tríade de classificações e inferências, ao demonstrar que existem os objetos no mundo, suas representações em forma de signos e nossa interpretação mental destes objetos. E uma das explicações mais citadas de Charles Pierce é a de que o signo é aquilo que substitui o objeto em nossa mente; são eles que constituem a linguagem, base para os discursos que permeiam o mundo. É disso que trata a Semiótica de Pierce: o modo como nós, seres humanos reconhecemos e interpretamos o mundo à nossa volta, a partir das inferências em nossa mente. As coisas do mundo, reais ou abstratas, primeiro nos aparecem como qualidade, depois como relação com alguma coisa que já conhecemos e por fim, como interpretação, em que a mente consegue explicar o que captamos ao que Pierce chamou de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. E todo esse processo é feito pela mente a partir dos signos que compõem o pensamento e que se organizam em linguagens. Na análise semiótica, a obra de arte é denominada “enunciado” e sua instância pressuposta de produção é a enunciação. Na enunciação, as estruturas semióticas virtuais são realizadas em forma de discurso, e apreende-se da mesma a competência linguística do sujeito que converte as estruturas semionarrativas naquele. Diferentemente de outras abordagens, que visam revelar sentidos que teriam sido originalmente projetados no texto por um autor, o sujeito histórico que fez a obra, a abordagem adotada pressupõe um esquema gerativo que, na definição de Eco (2000, p.7), “não pretende reproduzir as intenções do autor, e sim a dinâmica abstrata por meio da qual a linguagem se coordena em textos com base em leis próprias e cria sentido, independentemente da vontade de quem enuncia”. Assim, desta maneira, convidamos o leitor a fazer uma leitura da tela de J. Brandão, utilizando os estudos semióticos de Peirce. Em primeiridade, percebem-se as cores: vermelha, laranja, amarela. O signo que a cor vermelha evoca é paixão violenta, a raiva e sensualidade e está associada à alegria e à dor simultaneamente. O signo da cor laranja indica coragem, a alegria e grande sociabilidade, características inerentes à arte circense e à figura do palhaço que sempre está associada ao circo e à alegria. Já o signo do amarelo sugere a atividade mental. Pode indicar evolução, luz, sabedoria e intelecto. O amarelo é a capacidade e a clarividência. Pode considerar-se como o despertar do ser para formas evoluídas de faculdades psíquicas e de uma elevada sensibilidade, identidade comungada pelos artistas, de modo geral. Nas cores cujo tom tende sombra, reforça-se a ideia da tristeza e que tem no signo da lágrima sobre a maquiagem a máxima expressão da angústia do palhaço. Assim, as cores compõem o signo-ícone, primeira instância de interpretação.003-39-64.indd 61 26/02/2013 10:58:09
Anuário de Itajaí - 2012 62 Em relação às linhas e formas, estas sugerem a tendência do artista em relação à arte de Picasso. Os traços lembram figuras geométricas, tanto compondo o rosto do palhaço como se evidencia nas roupas. Pode-se dizer que estes são signos-índices que se reportam a admiração de Brandão pelo artista espanhol. As nuances de cores azul e verde sugerem serenidade e intuição, atributos pertencentes àqueles que se dedicam com a alma à arte de (re)criar a vida pela imagem. E, ao analisar o signo em sua completude, percebe-se uma similaridade nos traços do Palhaço com o autorretrato. Sob a máscara do artista que promove a alegria, esconde-se a dor de se reconhecer humano, representada pelo signo da lágrima que escorre sobre a maquiagem do rosto. Outra marca bastante perceptível é, sem dúvida, a influência da vanguarda cubista do início do século XX, mas que no Brasil, como já foi explicitado, teve seu auge no final da década de 50 e nos anos 60. Cabe dizer, ainda, que a interpretação está aberta a outros olhos, pois os signos desta obra estão em processo de semiose ilimitado. A segunda tela em análise neste estuda tem como título “A Arte Chora Picasso”. Figura 02: A arte chora Picasso Fonte: Museu Histórico de Itajaí003-39-64.indd 62 26/02/2013 10:58:09
Dide Brandão 63 Aqui, os traços continuam seguindo a tendência do cubismo, formando figuras geométricas, que lembram círculos, retângulos, triângulos que revelam a proximidade do artista catarinense com a arte de Picasso. Utilizando de formas cubistas, percebem-se alguns traços que lembra “Les Demoiselles d´Avingnon”, de Picasso. Neste trabalho, é possível observar uma mulher sentada em uma mesa, apoiando o cotovelo e elevando a mão para ir até a cabeça. Tal gesto (signo) denota desolação, o olhar é de uma tristeza profunda, (re)velando que aquele era o momento em que a arte expirava. Tal interpretação é possível, pois a tela é contemporânea à morte de Picasso. Caracterizava-se, assim, não somente um marco para a história da arte, mas sim um marco para a arte, para a instituição artística. A ampulheta no canto inferior esquerdo mostra o final de um tempo ou de um ciclo. Outro aspecto sígnico relevante é a seleção de cores utilizada nesta tela. Diferentemente da tela anterior onde há predominância dos tons vivos, aqui a tela anuncia o luto, a dor. A arte se reveste de tons azulados/acinzentados, representando o fechamento de ciclo. A morte de Picasso pode ser entendida, nesta obra, como o fim de escola de arte moderna cujo pai era o artista espanhol. Destaca-se, ainda, que os tons mais escuros de azul revelam isolamento, solidão, ou seja, a orfandade da arte. Já os tons de azul mais fortes (abertos) sugerem uma grande capacidade avaliativa. O artista (pre)vê o final ritualístico, a passagem para outro grau de compreensão da arte. O signo representado pela cor cinza são reveladores de uma vontade de não deixar nada por terminar. Nesta tela, há evidências que J. Brandão sabia que seu tempo também estava se esgotando. Em 1974, depois de tanto trabalho, teve seu reconhecimento: seu nome foi um dos incluídos no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, que era uma edição do Instituto Nacional do Livro e do Ministério da Educação e Cultura, organizado por Carlos Cavalcanti, um dos mais importantes críticos de arte da época. Em 1° de fevereiro de 1976, um trágico acidente na BR-101, nas proximidades de Itajuba, viria tirar a sua vida, deixando o Estado em luto pela perda de um dos seus mais importantes artistas plásticos. Mais uma vez a arte chora: agora chora por J. Brandão. Considerações Finais A Semiótica, como ciência geral dos signos, procura dar elementos que ajudam na leitura de imagens. Pode se entender as noções de denotação e conotação. A denotação refere-se ao significado entendido “objetivamente”, ou seja, o que se vê na imagem “objetivamente”, a descrição das situações, figuras, pessoas e ou ações em um espaço e tempo determinados. A conotação refere-se às apreciações do intérprete, aquilo que a imagem sugere e/ou faz pensar o leitor. Neste viés, as cores, as formas sugerem uma leitura interpretativa.003-39-64.indd 63 26/02/2013 10:58:09
Anuário de Itajaí - 2012 64 Em relação à estética, enfatizam-se as questões filosóficas da produção da obra de arte, pontuando aspectos conceituais que envolvem a produção do artista. A leitura estética da imagem considera a expressividade, o que há de eterno e de transitório, de circunstancial de uma época no objeto a ser analisado. A leitura estética de um objeto de arte também pode ser analisada a partir das suas propriedades sensoriais: ponto, linha, cor, espaço, formas, valores, texturas (ARANTES FILHA, 2004, s/p.) O que se propõe com este artigo é instigar o público à leitura mais que apreciativa da obra, garantindo-lhe uma determinada competência visual no decifrar de signos e não ficar apenas na superficialidade das imagens, vendo o signo pelo signo. O intuito é ir além e propor muitas outras leituras, pois o signo da arte se oferece aberto a muitas interpretações. Referências ALVES, Raphael Freire. O Instante Decisivo: uma estética anárquica para o olhar contemporâneo. Universidade Estadual de Londrina. Trabalho de conclusão do curso de pós-graduação Lato Sensu em Fotografia: Práxis e o Discurso Fotográfico, Londrina, 2007. ARANTES FILHA, Elizete. Devaneio do olhar: uma experiência de produção e leitura da imagem através do vídeo na prática pedagógica. Dissertação de mestrado em educação, 2004. ECO, Umberto e SEBEOK, Thomas (Org.). O signo de três. São Paulo, Perspectiva, 1991. MOIMAZ, Érica Ramos e MOLINA, Ana Heloisa. A Contribuição da Semiótica Peirceana para Análise da Pintura Histórica. Anais. II Encontro Nacional de Estudos da Imagem. Londrina-PR, 2009. NICOLAU, Marcos. ABATH, Daniel. LARANJEIRA, Pablo Cezar. MOSCOSO, Társila. MARINHO, Thiago e NICOLAU, Vítor. Comunicação e Semiótica: visão geral e introdutória à Semiótica de Peirce. Disponível em: www.inside.pro.br. Revista eletrônica. Dados obtidos em 05/08/12. PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. SANTAELLA, Lúcia. Estética de Platão a Peirce. 2 ed. São Paulo: Experimento, 2000. SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1984.003-39-64.indd 64 26/02/2013 10:58:09
Volvo Ocean Race 65 VOLVO OCEAN RACE O maior espetáculo dos mares Amílcar Gazaniga Presidente do Comitê Central Organizador da Etapa Itajaí004-65-96.indd 65 Foto: Nelson Robledo 26/02/2013 10:58:57
Anuário de Itajaí - 2011 66 Incrustada em uma das mais belas regiões da costa brasileira, Itajaí foi a únicacidade da América do Sul a sediar a Volvo Ocean Race, a maior regata do planeta,em sua edição 2011/2012. Ocasião em que o município recebeu cinco dos seis barcosparticipantes da regata e centenas de profissionais, entre velejadores, técnicos, imprensaespecializada do Brasil e dos cinco continentes, bem como todo o staff da regata que,nesta edição, teve início na cidade espanhola de Alicante, em novembro de 2011,encerrando em Galway, na Irlanda, em julho deste ano. Itajaí foi a sexta parada, ao lado demunicípios como Sanya, Auckland, Cap Tow, Abu Dhabi e Miami, despontando comoum dos melhores stopovers da história da Volvo Ocean Race, segundo os organizadores. Foto: Nelson Robledo 26/02/2013 10:58:58004-65-96.indd 66
Volvo Ocean Race 67004-65-96.indd 67 26/02/2013 10:58:59
Anuário de Itajaí - 2011 68 Foto: Nelson Robledo 26/02/2013 10:59:00004-65-96.indd 68
Volvo Ocean Race 69 A escolha de Itajaí para sediar a única parada da VOR na América do Sul foi motivada pela localização privilegiada do município, inserido no centro de um grande polo populacional, próximo a Balneário Camboriú e a apenas sete quilômetros do Aeroporto de Navegantes, a 81 quilômetros do Aeroporto de Joinville e a 106 quilômetros do Aeroporto de Florianópolis. O fato de a cidade ter uma boa infraestrutura portuária e também infraestrutura para apoio às embarcações nos estaleiros e demais empresas ligadas à indústria náutica também pesou na escolha de Itajaí para ser parada da regata na América Latina.004-65-96.indd 69 26/02/2013 10:59:01
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Volvo Ocean Race 71 E a comunidade de Itajaí correspondeu à escolha dos organizadores da Volvo Ocean Race. Mais de 330 mil pessoas passaram pela Vila da Regata durante os 18 dias da parada; os poderes públicos municipal, estadual e federal trabalharam de forma coesa e apartidária e a iniciativa privada teve total engajamento no projeto, o que possibilitou a Itajaí competir em nível de igualdade com grandes metrópoles. Uma parceria entre Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Poder Público Municipal, Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí (Amfri), veículos de imprensa e diversos outros setores da sociedade organizada, garantiu o engajamento da comunidade em ações e programas para preparar a cidade para a maior regata do mundo.004-65-96.indd 71 Foto: Jonnes Deivid 26/02/2013 10:59:03
Anuário de Itajaí - 2011 72 O cidadão também contribuiu muito para o sucesso da regata. Ele se engajouem nossos projetos de embelezamento da cidade, refez sua calçada, pintou seu imóvel,limpou a frente da sua residência. Foram pequenas ações isoladas que, juntas, fizeramcom que Itajaí recebesse os navegadores de cara nova, mais bonita, mais alegre. Foto: Jonnes Deivid 26/02/2013 10:59:05004-65-96.indd 72
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Volvo Ocean Race 75 E o legado foi imenso. Além de Itajaí ter ganhado um espaço em uma mídia que abrangeu aproximadamente 3 bilhões de pessoas dos cinco continentes, quebramos um grande paradigma e mostramos do que somos capazes. Tanto é que, depois da etapa Itajaí da VOR e da construção da Vila da Regata, diversos outros eventos náuticos estão programados para os anos de 2012 e 2013. A Associação Náutica de Itajaí (ANI) registrou significativo aumento na procura por vagas na Escolinha de Vela. Fotos: Ronaldo Silva Jr.004-65-96.indd 75 26/02/2013 10:59:07
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Volvo Ocean Race 77 Ciente de ter cumprindo dignamente a missão nesta edição e da responsabilidade que tem em oferecer o melhor para o evento, a cidade já é candidata a sediar as duas próximas edições da Volvo Ocean Race, nos anos de 2014/2015 e 2017/2018. Edições que, com certeza, vão superar o sucesso obtido na edição passada, na qual muito aprendemos com realização ao evento, considerado um dos mais importantes do mundo no segmento náutico.004-65-96.indd 77 Foto: Ronaldo Silva Jr. 26/02/2013 10:59:09
Anuário de Itajaí - 2011 78 Temos conhecimento que muitosacham que fomos ousados demais aodisputar a sede da regata com Rio de Janeiro,Buenos Aires e Montevidéu, cidades muitomaiores e mais desenvolvidas que Itajaí. Mastambém temos consciência do potencial donosso município e de nossa população emenfrentar e vencer desafios e superamosnossas expectativas. Consciência essa queno dá a garra necessária para acreditarmosque sediaremos as demais edições. Foto: Marcos Porto 26/02/2013 10:59:11004-65-96.indd 78
Volvo Ocean Race 79004-65-96.indd 79 26/02/2013 10:59:12
Anuário de Itajaí - 2011 80 Quando fui convidado para presidir o Comitê Central Organizador da etapa de Itajaí da Volvo Ocean Race, não vi isso como um desafio, mas como uma oportunidade de contribuir com nosso município, uma forma de integrar a sociedade em torno de um objetivo sério e de uma possibilidade de quebrarmos paradigmas e trabalhar em prol do melhor para nossa terra e para nossa gente. E foi o que conseguimos. Itajaí realizou sonhos, ultrapassou fronteiras e definiu destinos.004-65-96.indd 80 26/02/2013 10:59:14
Volvo Ocean Race 81 VOLVO OCEAN RACE The greates show at sea Amílcar Gazaniga President of the Central Organizing Committee of the Itajaí leg João Wenceslau Pictures004-65-96.indd 81 26/02/2013 10:59:15
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Volvo Ocean Race 83 Set in one of the most beautiful regions of the Brazilian coast, Itajaí was the only South American city to host the 2011/2012 edition of the Volvo Ocean Race, the world’s biggest regatta. It was an occasion when the city received five of the six boats participating in the race, and hundreds of professionals, including sailors, the specialized Brazilian press and from all over the world, as well as staff of the race, which this year, set off from the Spanish city of Alicante in November 2011, and finished in Galway, Ireland, in July of this year. Itajaí was the sixth stopover in a schedule that included cities like Sanya, Auckland, Cape Town, Abu Dhabi and Miami, and the city was highlighted as one of the best stopovers in the history of the Volvo Ocean Race, according to its organizers.004-65-96.indd 83 26/02/2013 10:59:18
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Volvo Ocean Race 85 The choice of Itajaí to host the only VOR stopover in South America was prompted by its ideal location, at the heart of a large population center, close to Balneário Camboriú and just seven kilometers from Navegantes Airport, 81 kilometers from Joinville Airport, and 106 kilometers from Florianópolis Airport. The fact that the city has a good port infrastructure, as well as infrastructure to support the boats in its shipyards, and other companies linked to the nautical industry, were also factors that weighed in the choice of Itajaí as a stopover for the race in Latin America.004-65-96.indd 85 26/02/2013 10:59:20
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Volvo Ocean Race 87 And the community of Itajaí proved itself more than capable of making good the Volvo Ocean Race organizers’ decision. More than 330 thousand people passed through the Race Village during the 18-day stopover; the municipal, state and federal public authorities worked in a cohesive and non-partisan way, and the private sector was fully engaged in the project, all of which enabled Itajaí to compete on an equal footing with the larger cities. A partnership between the University of Vale do Itajaí (Univali), the Municipal Council, the Association of Municipalities of Foz do Rio Itajaí (Amfri), the media, and various other sectors of organized society, ensured the engagement of the community in actions and programs to prepare the city to host the world’s largest regatta.004-65-96.indd 87 26/02/2013 10:59:22
Anuário de Itajaí - 2011 88 The local citizens also made a 26/02/2013 10:59:23 major contribution to the success of the race. They engaged in our projects to make the city as attractive as possible, repaving the sidewalks, painting buildings, and cleaning and tidying the fronts of their houses. These were small, isolated actions that all helped enable Itajaí to receive the contestants with a renewed, prettier, happier face.004-65-96.indd 88
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Volvo Ocean Race 91 And the legacy left behind is huge. Besides winning coverage in a media that reached around three billion people on five continents, we broke the mold, and showed what we are really capable of. So much so that in the wake of the Itajaí stopover of the VOR and the construction of the Race Village, various other nautical events have already been scheduled for 2012 and 2013. And the Nautical Association of Itajaí (ANI) has seen a significant increase in enrolments at its Sailing Club.004-65-96.indd 91 26/02/2013 10:59:27
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Volvo Ocean Race 93 Aware that it has ably fulfilled its mission in this edition of the race, and mindful of its duty to offer its very best for the event, the city is now applying to host the next two editions of the Volvo Ocean Race, in 2014/2015 and 2017/2018. Without doubt, these will surpass even the success achieved in hosting the last edition, through which we learned many lessons.004-65-96.indd 93 26/02/2013 10:59:29
Anuário de Itajaí - 2011 94 We are well aware 26/02/2013 10:59:30 that many thought we were too bold in our bid to host the regatta, competing against the likes of Rio de Janeiro, Buenos Aires and Montevideo, all of which are much larger and more developed cities than Itajaí. But we are also aware of the potential of our city, and our population, to face and overcome challenges and exceed expectations. This awareness drives us on, and inspires a belief that we will indeed host the forthcoming editions.004-65-96.indd 94
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Anuário de Itajaí - 2011 96 When I was invited to chair the Central Organizing Committee of the Itajaí leg of the Volvo Ocean Race, I did not see this as a challenge, but as an opportunity to contribute to our city; as a way of bringing society together around a common goal, and a chance to break with paradigms and work on behalf of our land and our people. And that’s precisely what we achieved. Itajaí fulfilled dreams, broke through boundaries and determined destinies.004-65-96.indd 96 26/02/2013 10:59:32
Banda Filarmônica de Itajaí 97 Banda Filarmônica de Itajaí Daniel Amaral Manfredini Designer (o infográfico é de sua autoria) A Banda Filarmônica de Itajaí iniciou suas atividades no dia 11 de julho de 1988 ensaiando para sua primeira apresentação em 27 de agosto do mesmo ano. Um verdadeiro desafio para as crianças de quinta a oitava séries de diversas escolas da cidade. Sua história poderia ser um capítulo à parte, considerando-se o fato de terem pouco ou nenhum contato com instrumentos musicais até aquele momento. Alberto Bonfanti, professor de artes locado na rede municipal de ensino, foi chamado para ser o primeiro dirigente do projeto Banda Marcial da Rede Municipal de Educação de Itajaí. Bonfanti reuniu cento e dez aspirantes a músicos e iniciou os ensaios na quadra de esportes do Colégio Anibal César, no bairro São Vicente. Os primeiros ensaios eram exaustivos encontros diários alternando-se aos ensaios gerais que aconteciam duas vezes durante a semana. No sábado, o ensaio geral acontecia pela manhã e era repetido à tarde. Com o sucesso da primeira apresentação no pátio do executivo municipal, a agenda de apresentações começou a ser preenchida. Passados 15 anos, no primeiro dia de junho de 2003, o Maestro Luis Alberto Martins de Freitas assume a batuta e inicia uma nova etapa na trajetória da Banda estabelecendo o lema “Educar através da música”. Mantendo os princípios que efetivaram a formação original e agregando valores mais abrangentes, com perspectivas mais ousadas; o maestro busca novos horizontes na formação e prática de cada aluno através da musicalização e participação de eventos. Em 2005 a Banda passou a chamar-se Banda Marcial Municipal de Itajaí. Em 2006, o nome foi alterado para Banda Municipal de Itajaí e em 2009, a nomenclatura da banda foi mudada para Banda Filarmônica de Itajaí, o que se tornou um marco na história da cidade. A contribuição mais importante deste projeto, para o município e para o Estado de Santa Catarina, é a formação gratuita de crianças e jovens através da música com valores de civismo e disciplina. Ano após ano, Luis Alberto segue formando sua equipe de professores. Por ser um trabalho desenvolvido em grupo, propicia aos participantes princípios de socialização,005-97-160.indd 97 26/02/2013 11:00:20
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Banda Filarmônica de Itajaí 99005-97-160.indd 99 26/02/2013 11:00:24
Anuário de Itajaí - 2012 100 contribuindo com a ocupação sadia e o afastamento de fatores de risco social como drogas e violência. O sucesso, portanto, desde sempre esteve relacionado a uma estreita atenção dispensada a cada indivíduo pelo grupo e participação fundamental de seus pais ou responsáveis, hora em reuniões de acompanhamento, hora em entrevistas pessoais com o maestro e sua equipe. A música como recurso educacional, comprovadamente oferece àquele que nela esteja envolvido, enriquecimento cultural com conhecimento prático e teórico de peças clássicas, contemporâneas e populares, melhores condições psicológicas, enfim, a formação de um ser humano aprimorado. Além de aulas de teoria musical para os alunos da banda, que ocorrem todos os dias, acontecem ainda ensaios de naipe: Tuba, Trombone de vara, Flugelhorn, Trompete, Euphonium, Percussão popular e marcha, Percussão Erudita, Corpo Coreográfico e Baliza. A transformação do aluno em musico é imensurável. Sua influência quase sempre é positiva no cotidiano do indivíduo que agrega valores incontestáveis para a vida em sociedade. Mantida com recursos municipais, a Banda Filarmônica de Itajaí tornou-se referência no Estado por sua qualidade expressiva de execução, resultado do empenho de professores e alunos. De seus resultados, destacam-se prêmios em festivais de Bandas estaduais como a conquista do bicampeonato em agosto de 2008. A Banda Filarmônica de Itajaí representou o Estado de Santa Catarina e o Brasil por três vezes no Festival Internacional de Bandas e Fanfarras, na cidade de Melipilla, no Chile, nos anos de 2005, 2006 e 2008, sendo reconhecida nestas edições, como a melhor banda participante. Em 2007, foi convidada especial da municipalidade de San Antonio para realizar uma turnê, apresentando-se em várias cidades da quinta região daquele país. A Banda Filarmônica de Itajaí realiza um evento, que vem registrando uma importância ascendente no contexto cultural do município de Itajaí, que é o Concerto para Metais e Percussão realizado no Teatro Municipal. Todas estas realizações lhe renderam o reconhecimento pela Fundação Catarinense de Cultura, no Projeto Bandas, como modelo de gestão no Estado de Santa Catarina, resultando numa cartilha inédita para área de bandas que será lançada também como modelo no Brasil. Recebeu, ainda, um convite para representar o Estado de Santa Catarina com apresentações no arquipélago de Açores em Portugal.005-97-160.indd 100 26/02/2013 11:00:24
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