Fiz vários exames, e quando saiu o resultado eu estava comvárias infecções. Dissera-me que se eu ficasse mais um mêsnaquele lugar eu teria morrido. Meu pai foi ao hospital, logoque ele entrou no quarto perguntei de mamãe, ele ficou emsilêncio, perguntei novamente, ele falou que não queriacomentar sobre o ocorrido, perguntei novamente, ele falou queduas semanas após meu desaparecimento ela teve um infarto efaleceu. Senti como se tudo estivesse em câmera lenta. Estavasentindo uma dor que nenhum estuprador poderia causar. Acalmei-me e contei ao meu pai o que havia passado noquarto escuro, ele ficou sem palavras, na hora o silêncio tomouconta, ele saiu do quarto sem falar nada. A enfermeira entrou efalou que era hora das minhas medicações, perguntei a elasobre o barulho que eu ouvia, ela me disse que meu caso estavapassando em todos os noticiários, e que na porta do hospitalestavam dezenas de repórteres querendo informações. NoFacebook havia comentários maldosos, que eu não devia terentrado em uma rua escuta e vazia sozinha e que isso foi paraeu aprende. As pessoas me esculachavam nas redes sociais,havia muitos comentários machistas. Depois de um mês no hospital me deram alta, fui para casa ejá havia mais repórteres e jornalistas me aguardando. Aindaestava abalada, pois o estuprador ainda estava solto, estão nãodei nenhuma entrevista. Meu pai contratou alguns segurançaspara que eu me sentisse confortável. Quando ele conversavacomigo não me olhava nos olhos, só conversava coisasrealmente necessárias, não estava acreditando, meu pai não me 51
aceitava, estava sendo julgada por todos, dia e noite recebiamensagens e xingamentos. Um ano depois ainda recebia alguns comentários mas nãome incomodava mais, estava procurando um emprego a váriosmeses, mas ninguém me chamava para entrevista. Meu casohavia repercutido por todo o país. As pessoas na rua meolhavam torto, não era aceita em lugar algum. O estuprador foi preso e isso fez com que as pessoasvoltassem a falar o meu caso. Minha vida estava acabada, eu era fútil e todos me julgavam.Peguei um atalho para casa e isso acabou com a minha vida. Yasmim Caroline 52
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