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2014_1SEM - THAU V - CORTONA

Published by vanessa_rochasilva, 2016-06-26 21:54:07

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIAFACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – FATECS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMOCELESTINO CARLOS AZEVEDOLUIZ FELIPE LORENA – 21234480VANESSA DA ROCHA SILVA – 21202536 BARROCO PIETRO DA CORTONA BRASÍLIA 2014

CELESTINO CARLOS AZEVEDO LUIZ FELIPE LORENA – 21234480 VANESSA DA ROCHA SILVA – 21202536 BARROCO PIETRO DA CORTONA Trabalho acadêmico apresentado no curso de graduação de Arquitetura eUrbanismo, no 1ª semestre de 2014, como quesito parcial à aprovação na disciplinaTeoria e História da Arquitetura e Urbanismo V. BRASÍLIA 2014

SUMÁRIOI. INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 4II. DEDICATÓRIA ............................................................................................................................. 5III. CONTEXTO HISTÓRICO: A PÉROLA IMPERFEITA....................................................................... 6IV. PIETRO DA CORTONA: SUA VIDA, SUA OBRA .........................................................................13V. PIETRO DA CORTONA: O PINTOR ...............................................................................................14VI. PIETRO DA CORTONA: O ARQUITETO.....................................................................................16VII. CONCLUSÃO..........................................................................................................................37VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................39

4 I. INTRODUÇÃO Este trabalho abrange a vida e a obra artística de Pietro da Cortona e, porconsequência, aborda as características da sociedade e da arte barroca da Itália, suascausas de o sê-lo e seus efeitos. Dessa maneira, é essencial que haja umacontextualização temporal a respeito do artista que será alvo da pesquisa. Uma vez compreendida a vida do artista, sua inserção na história e as ideias quese disseminavam em sua época, serão citadas as obras pictóricas e arquitetônicas deCortona, sua repercussão e seu desfecho – ou, melhor dizendo, sua perpetuidade. Focar-se-á em analisar as seguintes obras de arquitetura: Villa PignetoSacchetti; Igreja de Santi Luca e Martina; e Igreja Santa Maria Della Pace.“Se no renascimento imperava a serenidade, oBarroco era arrebatado. É a diferença entre umacalma partida de xadrez e um malabarista compunhais e tochas sobre um monociclo tocandocorneta.” (Carol Strickland)

5II. DEDICATÓRIAA todos aqueles que são dotados de tal sensibilidade, que lhes permite enxergar os “homens barrocos” dentro de si. O paradoxo entre a força do sentir e a delicadeza da mente. A mistura de sensações que invadem repentinamente. As inquietudes e as complexidades. Os dramas, exageros e instabilidades. E há tanto o que sentem, que até perdem a razão. E há tanto o que pensam, mas não sabem nem quem são.

6 III. CONTEXTO HISTÓRICO: A PÉROLA IMPERFEITA “A extravagância barroca surgiu quando a moderação renascentista começou a parecer mecânica, entediante.” (Carol Strickland) Os movimentos artísticos que antecedem o Barroco, de forma mais próxima, são,em ordem cronológica: a Arte Gótica e o Renascimento. Segue uma breve explanaçãosobre esses períodos: Com a arte gótica, pretendia-se expressar o teocentrismo, através da criação deimagens e espaços que menoscabassem a figura humana, fazendo-a se sentirpequena na imensidão das catedrais (PROENÇA, 2010, p.129). Já com a arte renascentista, nasce o desejo de enaltecer essa figura que foraressentida, pretendendo lhe conferir espaços mais acolhedores e tão proporcionaisquanto o corpo humano – daí, o antropocentrismo (PROENÇA, 2010, p.130). É nesse cenário conflitante que surge o Barroco: entre as antagônicas visões arespeito da religião, a saber, o pensamento essencialmente religioso da arte gótica ea sugestão crítica e humanista dos renascentistas de encarar a fé (PROENÇA, 2010,p.131). Segundo FEIST (2006, p.40), esse clima fervoroso, de medo e entusiasmo, fezeclodir um estilo artístico impetuoso e repleto de exuberância. A arte barroca temcomo berço a cidade de Roma e predominou na Europa entre 1600 e 1750. E vem amarcar uma ruptura com a consciência de harmonia entre a ciência e a arte, que eratípica do Renascimento. Apresentando-se, então, como uma forma artística não maisequilibrada, mas hiperbólica, no sentido de ser essencialmente dramática. Sendo quea emoção se sobressai em relação à razão. Acredita-se que a palavra barroco tenha se derivado do termo espanhol barrueco– “pérola de formato irregular”. “Pérola” por sua meticulosidade; e “irregular” porromper com os ideais de perfeição do Renascimento (PROENÇA, 2010, p.132).

7 A Reforma Protestante foi uma movimentação que questionou os dogmascatólicos, iniciando-se quando Martinho Lutero denunciou como corruptas algumaspráticas da Igreja Católica, como as indulgências. Influenciou, assim, muitos fiéis docatolicismo a abandonarem alguns credos e doutrinas. A Igreja católica, então,organizou a Contrarreforma – a busca pela reconquista de seguidores, ou peloalcance de novos adeptos. Pretende-se uma retomada ao tema religioso: o Cleroenxerga nas artes um meio de propagar suas crenças e maximizar sua dimensãosocial (PROENÇA, 2010, p.131). Assim como cita FEIST (2006, p.40), a Igreja Católica, então, foi se reerguendoe se mostrando suficientemente segura para enaltecer seu poder e autoridade. II.A. As artes das palavras e dos sons: “Vive morte calada e divertida a própria vida; a saúde é guerra por seu próprio alimento combatida. Oh, quanto, distraído, o homem erra: que em terra teme ver tombar a vida e não vê que, ao viver, caiu por terra!”. (Antologia Poética, Francisco Quevedo) As poesias barrocas eram sofisticadas e buscavam desencadear a reação deum público específico, além de provocar o espanto. Razão e fé, a união de opostos: oprojeto literário do barroco era repleto de antagonismos. Destacavam-se Luís deGóngora e Francisco Quevedo. Prevalecia um olhar pessimista a respeito do mundo,habitado por homens tidos como frágeis por não saberem resolver as crisesemocionais que os assombravam (ABAURRE, PONTARA, 2010, p.190 e 191). “Música, loucura livre Loucura, música livre” (Quatro Estações, Vivaldi)

8 A música ganhou maior exploração das notas maiores e menores. Deixa de serconstante e passa a combinar modulações. Surgem o concerto e a suíte. Nasce,também, o drama cantado: a ópera. Lembra-se de Antonio Vivaldi, Arcangelo Corelli,Michael Praetorius e Jean-Philippe Rameau (FURTADO, 2007, p. 129).II. B. As artes visuais:O tocador de alaúde, Caravaggio (1596). Êxtase de Santa Teresa, Bernini (1645-Fonte: 1652).http://trimano.blogspot.com.br/2012_12_0 Fonte:6_archive.html http://multiplosestilos.blogspot.com.br/201 0/03/o-extase-de-santa-tereza-Acesso em: 20 abr. 2014 às 03:10. bernini.html Acesso em: 20 abr. 2014, às 03:10. Acesso em: 20 abr. 2014 03:04Acesso em: 20 abr. 2014 03:04

9 A pintura barroca procurava retratar formas abertas, luzes que reforçam adramatização. A evidência da figura humana que existia no Renascimento toma outraforma: sendo, agora, não mais enxergada como um ser estático e indiferente, masexpressivo, com suas forças e fraquezas. Um ser cujos sentimentos são instáveis,como os olhos do observador, que se perdem pelos espaços e luzes heterogêneosdas telas (MOCELLIN, CAMARGO, 2010, p.143). Gian Bernini é o mais relevante escultor desse estilo. As esculturas barrocaselevam os sentimentos por intermédio das linhas curvas e do drapeado das vestes,sugerindo movimento. (MOCELLIN, CAMARGO, 2010, p.142). Os gestos e facesrevelam fortes emoções. Inclusive, elas sugerem, por vezes, uma expectativa(PROENÇA, 2010, p.138).

10 II.C. O urbanismo: Conforme disseram FAZZIO; MOFFETT; WODEHOUSE (2011, p.360), asprimeiras influências da arte barroca na malha urbana viriam à tona através da reformade Roma promovida por volta de 1586, pelo Papa Sixto V. Novas fontes foramconstruídas e aquedutos antigos foram reformados, surgiram ruas que interligavamimportantes pontos da cidade, e obeliscos destacavam as áreas públicas na frentedas igrejas. Daí já se pode perceber algumas características do urbanismo barroco: apreocupação em se fazer um abastecimento eficiente de água, bem como osignificado desse elemento numa noção de higiene; a formação de caminhos viáriosque façam pontos marcantes da cidade se comunicarem; a grandiosidade dosespaços locados posteriormente aos edifícios religiosos, que se tornariam praças.Planta de Sixto V para Roma (1585 - Praça São Pedro, no Vaticano. (por Gian1590) Bernini)Fonte: FAZZIO; MOFFETT; Fonte:http://auladeartee.blogspot.com.br/2012/0WODEHOUSE (2011, p.360). 4/arte-barroca-na-italia.html. Acesso em: 24 mai. 2014, às 10:18. II.D. A arquitetura: “O pobrezinho do ser humano, que os arquitetos renascentistas apontavam como referencialdas proporções do edifício, sente-se (no espaço barroco) como um ratinho desamparado diante de dimensões tão portentosas.” (Hidelgard Fiest).

11 Para falar da arquitetura barroca, pode-se começar pelo que FEIST (2006, p. 40)cita como as suas duas principais características: a monumentalidade e o movimento.Isso pode ser expresso no baldaquim da basílica de São Pedro, cuja relação com aescala humana a torna monumental. Além disso, seus pilares remeterem a uma formaem espiral, conferindo-lhes uma movimentação. Surgiram, então, as colunas torsas.Essa ideia de movimento faz com que saliências e reentrâncias sejam um desenhomuito recorrente nessa época. STRICKLAND (2003, p.68) argumenta que os edifícios barrocos possuem apropaganda como principal objetivo. Sim, a sobrecarga de ornamentos, a riqueza deseus materiais e a dramaticidade de iluminações fazem desses espaços verdadeirasvitrines do que vinha a ser o mundo do catolicismo. Outra característica essencial da arquitetura barroca é a notória presença daelipse em grande parte de suas obras, representando a tensão e o desequilíbrio,contrapondo-se à ideia de perfeição atribuída aos círculos recorrentes noRenascimento. (GYMPEL, 2001, p.64). GYMPEL (2001, p.53) também fala que nesse momento aparecem paredessubdivididas, decoradas, movimentadas e onduladas. São frequentes as volutas em“S” e os olhos de boi. Os capitéis compósitos, assim como na Antiguidade Romana,eram os mais almejados. Além da presença desses elementos, é importante destacarque os espaços ainda possuem como bagagem da renascença os eixos de simetria. Ainda para GYMPEL (2001, p.53) a arquitetura barroca muito evoca a surpresae apresenta-se como um apelo aos sentidos. Isso é possível através das variações dequalidades espaciais – sejam elas as ondulações, os jogos de luzes e sombras, astransformações de dimensões ao longo dos caminhos, os contrastes entre osmateriais ou a sobrecarga visual. Assim, cada um dos pequenos elementos adquireum significado especial em um ambiente dotado de dimensões tão grandiosas.

12Baldaquino da Basílica de Na Igreja del Gesú (de Vignola Jacopo) pode-seSão Pedro, no Vaticano observar as volutas em S.(por Gian Bernini). Fonte:Fonte: http://trimano.blogspot.com.br/2012_12_07_archive.http://trimano.blogspot.com.br/20 html12_12_06_archive.htmlAcesso em: 20 abr. 2014, às Acesso em: 20 abr. 2014, às 03:10.03:10.Acesso em: 20 abr. 2014 03:04A cúpula da Basílica de São Igreja de Sant’Agnese in Agona, em Roma (porPedro, no Vaticano (por Francesco Borromini)Michelangelo, Rafael e Gian Fonte:Bernini) é um dos maiores ícones http://trimano.blogspot.com.br/2012_12_07_archive.htmlda arte barroca.Fonte: Acesso em: 20 abr. 2014, às 04:10.http://trimano.blogspot.com.br/2012_12_07_archive.htmlAcesso em: 20 abr. 2014, às12:10.

13 IV. PIETRO DA CORTONA: SUA VIDA, SUA OBRA“Cortona encarna o tipo de profissional burguês, no exato momento em que se vai formando aquela Europa moderna de que a burguesia [...] se tornará a estrutura de base.” (Giulio Carlo Argan) Esse pintor e arquiteto barroco tem comoverdadeiro nome Pietro Berrettini. Nasceu em Cortona,no ano de 1596, e veio a falecer em 1669. De berço artístico – família de artesãos e pintores Pietro Berrettini da Cortona.– ele foi uma das personalidades mais importantes do Fonte:barroco romano. Ele estudou pintura em Florença, http://trimano.blogspot.com.batravés de Andrea Commodi, mas logo se mudou para r/2012_12_07_archive.htmlRoma – em torno de 1612, com o intuito de se juntar a Acesso em: 24 mai. 2014, àsBaccio Ciarpi. Recebeu, ainda, influências das 15:10.esculturas da antiguidade e do trabalho de Rafael. Em1622, se envolveu em afrescos no Palazzo Mattei(HASKELL, 1997, p.70). Em Roma, ele foi incentivado por muitos clientes de proeminência. De acordocom biógrafos, o trabalho de Cortona chama a atenção de Marcello Sacchetti – entãotesoureiro papal. Em 1624, esse contato implicou a ele a conquista de uma comissãona reforma da Igreja de Santa Bibiana, pintando seus afrescos. Em 1626, a famíliaSacchetti convida Cortona a pintar três grandes telas e uma série de afrescos da VillaSacchetti. Ainda graças à sua relação com Sacchetti, conheceu o Papa Urbano VIII eo cardeal Francesco Barberini. O seu patrocínio, então, crescia, proporcionando-lhedemonstrar seu talento como pintor (HASKELL, 1997, p.113). HASKELL (1997, p.176) ainda conta que em 1633, o Papa Urbano VIIIencarregou Cortona de pintar os afrescos do Palácio Barberini. E em 1634, foi eleitocomo diretor da Academia de São Lucas. Foi nesse cenário que se envolveu emcontrovérsias com Andrea Sacchi.

14 Em 1652, publicou um tratado de pintura. Cortona foi convocado a pintar muitosquadros e afrescos, sobretudo em Florença e Roma. Seu sucesso e fama comodecorador e pintor foram se ampliando. Mas tudo isso não foi suficiente para que elese contentasse: no fim de sua vida, dedicou-se muito à arquitetura (HASKELL, 1997,p.245). Seu fazer arquitetônico foi, e ainda é, alvo de críticas: Bernini – arquitetocontemporâneo a ele – o descreve como “alma pequena”. O artista chega, inclusive,a fazer uma auto avaliação sob esse aspecto, lamentando-se por não ter sabidocontinuar estudando na profissão da pintura (ARGAN, 2004, p. 454). V. PIETRO DA CORTONA: O PINTOR“Pietro, reconhecido há muitos anos como o mais importante pintor de Roma [...], recusava-se a fazer ele mesmo a escolha de seus temas, afirmando que nunca fizera alguma em toda a vida.” (Francis Haskell) Cortona explorou o uso de céus luminosos em seus afrescos para fazer com queo espaço se abrisse ao observador. Essa sensação é reforçada quando seus afrescossão vistos de baixo para cima, chegando a atingir uma ilusão de óptica. Esse pintorfez afrescos com motivos de astrologia e possui vários desenhos com o tema daanatomia humana em poses – como não poderia deixar de ser, no Barroco –dramáticas (HASKELL, 1997, p.28). As discussões teóricas que teve com Andrea Sacchi – já mencionadas – tratamdo número correto de figuras a serem usadas em uma pintura. Para Sacchi, não erapossível obter um significado individual aos elementos quando as figuras excedemuma determinada quantidade. Cortona, por sua vez, acreditava que a arte poderia –por sua magnitude – compreender diversos subtemas a um conceito central(HASKELL, 1997, p.304). Essa dualidade acarretou debates dessa natureza: seria a arte visual submetidaa princípios teóricos e pretenderia ela contar uma história completa? Ou seria umaforça decorativa cujo objetivo é estimular os sentidos? (HASKELL, 1997, p.305).

15V. A. Afrescos:IV. B. Telas:Triunfo da Anunciação, no Palácio Barberini Afresco do teto com brasão de armas da(por Pietro da Cortona, 1633). família Médici, na Galeria Palatina (por PietroFonte: http://pt.wahooart.com/@@/8Y3FB2- da Cortona, 1643).Pietro-Da-Cortona Fonte:http://pt.wahooart.com/@@/8Y3FB2-Acesso em: 24 mai. 2014, às 15:10. Pietro-Da-Cortona Acesso em: 24 mai. 2014, às 15:10. V. B. Telas:Ananias restaurando a visão de São Paulo (por Papa Urbano VIII (por Pietro da Cortona, 1627).Pietro da Cortona, 1631). Fonte: Fonte: http://pt.wahooart.com/@@/8Y3FB2-http://pt.wahooart.com/@@/8Y3FB2-Pietro-Da- Pietro-Da-Cortona Acesso em: 24 mai. 2014, às 15:10.CortonaAcesso em: 24 mai. 2014, às 15:10.

16 VI. PIETRO DA CORTONA: O ARQUITETO “Cortona é ainda maior como arquiteto.” (Giulio Carlo Argan) Além de fazer desenhos arquitetônicos simétricos, utilizar os jogos claro/escuro,as concavidades e convexidades – características típicas do Barroco – Cortona possuinotórias peculiaridades: De acordo com GONZALEZ (1964, p.292), o fazer arquitetônico de Cortonamescla dois ícones rivais da arquitetura barroca: Bernini, no sentido em que utilizareferências clássicas; e Borromini, à medida em que explora as formas tumultuosas eusa cores bastante discretas. Cortona faz parte, portanto, do trio a difundir aarquitetura barroca – por muitos conhecidos como “os três mestres”. Seus jogos deluz e sombra, que dão destaque às colunas, lembram Palladio. As obras de Cortona trazem como novidade uma nova abordagem a respeitodos limites espaciais: as paredes, que até então eram vistas como delimitadoras doambiente, agora saltam do plano de enquadramento visual. Ou seja, as colunastornam-se a referência do que venha a ser o começo e o fim do espaço em si,enquanto as paredes passam a ser uma superfície independente, chegando até aadquirir um significado de tela livre para pintura (WATKIN, 2011, p.292). ARGAN(2004, p.458) denota essa característica como “autonomia plástica das paredes”. ARGAN (2004, p.458-460) ainda o compara com Bernini, no aspecto de pensarnas proporções: para ele, é fundamental expandir e verticalizar o edifício, enquantosob a óptica de Cortona, o que interessa é a busca do equilíbrio entre o vertical e ohorizontal. Isso acontece, sobretudo, porque Bernini procura estabelecer umsignificado histórico e monumental na paisagem urbana, ao passo que Cortona serestringe a perspectivas mais limitadas e objetivas. Em Cortona, a relação do exterior com o interior de acordo com a plástica dasparedes se dá dessa forma: à medida em que uma parede se curva do lado de fora,a mesma se curva do lado de dentro do prédio – o que é muito claro na Igreja de Santi

17Luca e Martina, onde a parede da entrada convergente acompanha a parede externadivergente. O arquiteto utiliza o artifício de destacar as colunas nas paredes, transpondo-as para um plano secundário, a fim de criar espaços onde o artista pode usar a técnicade pintar por meio de esculturas. Desse modo, ele decora o ambiente e ainda mantémuma de suas principais características: os espaços internos monocromáticos(ARGAN, 2004, p.458-459). Em meios urbanísticos, suas duas igrejas que estavam em meio a outrasconstruções revelam a preocupação maior em criar um espaço para a vizinhança,visando integrar o espaço da igreja com o meio ao seu redor, agredindo-o o mínimopossível. Assim como Borromini fez na igreja de San Giovanni alguns anos antes,preparando o ambiente para usufruto dos habitantes. Inclusive, ele se demonstravacauteloso com os gastos das desapropriações para abrir as pequeninas praças quepermitiam a manobra de veículos, carroças e carruagens. Ainda com base no que foi mencionado por ARGAN (2004, p.458), Cortona eBorromini se destacam no plano ideológico por lançarem um modo diferente de pensara arquitetura religiosa: eles passam a tratá-la com o propósito de servir a sociedadeao seu redor. Seus edifícios deixam de ter tão somente um caráter divino e passam aser tratados como arquitetura civil – no sentido de acolhimento e no modo de enxergaras relações entre as pessoas e o espaço religioso. Isso fica evidente na fachada daIgreja de Santa Maria en via Lata, que é tratada como um pequeno palacete,integrando-se à rua em que está inserida. Essa abordagem – na qual a arquiteturatem que servir aos interesses dos habitantes – passa a ser uma forma inovadora deconceber a arquitetura religiosa.

18 V. A. VILLA PIGNETO SACCHETTI “Il casino fu edificato su piani diversi lungo il crinale della collina, con il corrispondersi di elementi concavi e convessi che costituì una grossa novità e che avrebbe fatto scuola tra i contemporanei.” (Vittorio Bachelet) O edifício foi construído ao longo da encosta de uma colina, em frente ao ValleAurélia e aos Jardins do Vaticano. Era ladeado por uma densa floresta de pinheiros(GIUSEPPE VASSI’S GRAND TOUR, 2014). Acredita-se que a denominação Pignetoadvenha da proximidade com esta floresta de pineto. Utilizado inicialmente comocassino, entra em desuso e – bem mais tarde – é abandonado pela família Sacchetti(A ROMEARTLOVE’R, 2010). Foi edificado em diferentes níveis ao longo da crista do morro. No primeiro nível,encontrava-se uma grande fonte, ornamentada com pedras naturais. E no segundonível, outra fonte saltava da base do conjunto, ornada, por sua vez, com figurasgeométricas e esculturas (ITCS VITTORIO BACHELET, 2003). Após um primeiro lance de escadas, encontra-se o nível de acesso aosaposentos dos servos, composto por uma arcada central e duas portadas dispostaslateralmente. Nesse nível também é possível perceber a presença de dois nichos,elementos típicos da arquitetura barroca, que abrigam esculturas. Dali partemescadas, de forma côncava, que dão acesso ao nível da villa (ITCS VITTORIOBACHELET, 2003). O corpo do edifício é composto por uma planta simétrica e, demonstrando aliberdade compositiva do Barroco, a planta baixa da Villa Pigneto Sacchetti nãopossuía relação de proporção com a fachada. O edifício pode ser interpretado comoum corpo principal, de três pavimentos unidos às asas laterais (ITCS VITTORIOBACHELET, 2003). Na fachada são notadas diversas características tipicamente barrocas, como odesenho em semicírculo, que parte do centro em direção às asas laterais. Nas asas,

19diversos nichos dão movimento à fachada através dos cheios e vazios, que sãodecorados com esculturas. O nicho central, em enormes dimensões e composto por uma sem cúpula, abrigaa porta principal, que é encimada por um frontão triangular, e nichos lateralmente àporta. No topo da semi cúpula do nicho, encontra-se o brasão da família, que sedesprende do volume do edifício. (A ROMEARTLOVE’R, 2010). Na fachada, são empregados diversos ornamentos, como os frisos horizontais everticais, balaustradas, frontões circulares e esculturas. Hoje, apenas alguns fragmentos dessa villa permanecem cobertos devegetação. Essa obra possui um elaborado desenho, tanto na estrutura quanto nadecoração, que é de Pietro da Cortona para a família Sacchetti (GIUSEPPE VASSI’SGRAND TOUR). Fonte: http://www.artandarchitecture.org.uk/images/gallery/12627c55.html Acesso em 27 mai. 2014, às 8:55

20Fonte: http://farm7.staticflickr.com/6074/6080359880_3c260779d2_z.jpgAcesso em: 27 mai. 2014, às 8:54Fonte: http://danamulranen.wordpress.com/2012/04/30/week-1213/Acesso em: 27 mai. 2014, às 9:15

21 Nichos – elementos típicos do Barroco Saliências e reentrâncias – característica do Barrocono Escadaria sobressalente – elemento de grande importância no Barroco Aqui ela ainda expressa o Barroco por sua concavidade Concavidade – característica do Barroco Eixo de simetria – característica da arquitetura barroca

22 Saliências e reentrâncias – característica do Barrocono Escadaria sobressalente – elemento de grande importância no Barroco Aqui ela ainda expressa o Barroco por sua concavidade Concavidade – característica do Barroco Eixo de simetria – característica da arquitetura barroca

23 V. B. IGREJA SANTI LUCA E MARTINA: “No interior dessa nova igreja os motivos dominantes são as colunas, às quais é restituída a antiga autonomia de elementos plásticos e portantes.” (Giulio Carlo Argan)Localização da Igreja Santi Luca e Martina.Fonte:https://www.google.com.br/maps/place/Santi+Luca+e+Martina/@41.893121,12.484878,17z/data=!3m1!4b1!4m2!3m1!1s0x132f61b36076fa45:0xeb718b8a316ac365Acesso em: 24 mai. 20014, às 19:52

24 A Igreja Santi Luca e Martina se localiza na Via della Curia, 4, Roma, Itália. Em 625 d.C., o Papa Honório I encomendou uma pequena e simples igreja, deplanta retangular, em dedicatória à Santa Martina – martirizada em 228 d.C. Essaigreja situava-se entre outros três edifícios e próxima ao antigo Fórum Romano e aoarco de Sétimo Severo. Foi reformada primeiramente em 1256, no papado deAlexandre IV (CARVALHO, 2012). Em 1577, a Academia de Pintores, Escultores e Arquitetos de Roma é fundada.E logo após, em 1588, a Igreja de São Martina é doada para essa academia e sofrepequenas reformas, mas sem o projeto de uma nova igreja. A igreja também édedicada a São Luca, tomando o nome definitivo de Santi Luca e Martina. Apenas em 1635, um ano após Pietro de Cortona ser eleito como presidenteda Academia, a Igreja recebe uma forte intervenção e é reconstruída por ele.Entretanto, até sua morte, a igreja não havia sido concluída, na falta de detalhesdecorativos da cúpula e do interior, terminados posteriormente por vários pintores eescultores da Academia (DOZENS, 2009). Igreja Santi Luca e Martina. Fonte: http://nuitsblanchesasaintpetersbourg.blogspot.com.br/2011_10_01_archive.html Acesso em: 24 mai.2014, às 22:50.

25 A planta tem formato de cruz grega, com os braços laterais levemente maiscurtos que os braços do eixo do altar, dando a sensação de maior extensão da nave.Além disso, aparece um elemento recorrente nas fachadas barrocas: a escadaria. O marco da arquitetura de Cortona nessa igreja é a forma como ela desvinculaa parede da noção funcional de fechamento do edifício, passando a delegar essafunção para os pilares e colunas. As paredes passam a ser um recuadas, ficando emsegundo plano e adquirindo a função de tela para pinturas que serão emolduradaspelas colunas. (ARGAN, 2004, p.457). Um ponto um tanto controverso é a utilização de estuque branco na maior parteda decoração interna da igreja, já que o Santo Lucas era o santo padroeiro daspinturas (ARGAN, 2004, p.457-458). Ainda dentro da igreja, existem duas escadarias que levam para a capelainferior, onde – supostamente – os restos mortais da Santa Martina teriam sidoencontrados. Essa capela se localiza exatamente abaixo da cúpula da igreja eapresenta cúpulas bem rebaixadas. Em se tratando de decoração, essa capela émuito mais rebuscada que a igreja sobre ela, apresentando cores fortes,proporcionadas pelo uso de materiais como madeira, bronze dourado e mármores(CARVALHO, 2012). A fachada é composta por um plano sutilmente arredondado, contido por duasduplas de grande colunas jônicas pressionadas contra a parede que suportam ogrande entablamento. Diferente do que acontece com a Igreja Santa Maria della Pace,onde na parte inferior da fachada surge o volume que se assemelha a um palco deteatro circundado de colunas que marcam a entrada com seu posicionamento nãouniforme (DOZENS 2009).

26 Escadas que dão acesso à capela inferior Relação de independência entre pilares e paredes Cruz grega – forma recorrente nas igrejas da épocano Escadaria sobressalente – elemento de grande importância no Barroco Concavidade – característica do Barroco Eixo de simetria – característica da arquitetura barroca

27 Frontispícios – elemento recorrente na época Medalhões – elemento recorrente na época Aqui ainda aparece a figura da elipse (típica do Barroco) Saliências e reentrâncias – característica do Barrocono Escadaria sobressalente – elemento de grande importância no Barroco Concavidade – característica do Barroco Eixo de simetria – característica da arquitetura barroca

28Fachada. Planta em cruz grega.Fonte: Atenção especial a forma como ohttp://www.panoramio.com/map/?pla arquiteto dispõe as colunas diantece=24f30d90e1d6ab8822880b26bb4 das paredes.9bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln=12.484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=2 Fonte:4f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc http://www.panoramio.com/map/?pla97b3b328 ce=24f30d90e1d6ab8822880b26bb4 9bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln=12Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:45 .484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=2 4f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc 97b3b328 Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:32 Planta do subsolo da igreja. O retângulo no centro é a capela Della Sant Martina. Fonte: http://www.panoramio.com/map/?pla ce=24f30d90e1d6ab8822880b26bb4 9bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln=12 .484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=2 4f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc 97b3b328 Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:35

29Detalhe do lanternim e os Igreja ao fundo com o arco triunfal de Severo empendentes triangulares. primeiro plano. Fonte:Fonte: http://www.panoramio.com/map/?place=24f30d9http://www.panoramio.com/ 0e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328#lt=41.8map/?place=24f30d90e1d6 93411&ln=12.484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=ab8822880b26bb49bfcc97 24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328b3b328#lt=41.893411&ln=12.484913&z=0&k=1&a=1&t Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:45ab=8&pl=24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328Acesso em: 24 mai. 20014,às 22:25

30 Igreja ao fundo com ruinas romanas em primeiro plano. Fonte: http://www.panoramio.com/map/?pl ace=24f30d90e1d6ab8822880b26b b49bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln =12.484913&z=0&k=1&a=1&tab=8& pl=24f30d90e1d6ab8822880b26bb4 9bfcc97b3b328 Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:55Interior da igreja destacando a luz vinda da cúpulae as colunas destacadas das paredes, poremmuito próximas.Fonte:http://www.panoramio.com/map/?place=24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln=12.484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328Acesso em: 24 mai. 20014, às 19:37

31Altar decorado com bronze, mármore e madeira.Fonte:http://www.panoramio.com/map/?place=24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328#lt=41.893411&ln=12.484913&z=0&k=1&a=1&tab=8&pl=24f30d90e1d6ab8822880b26bb49bfcc97b3b328Acesso em: 24 mai. 20014, às 22:32

32 V. C. IGREJA SANTA MARIA DELLA PACE: “O motivo, desta vez, é especificamente urbanístico: o planejamento simultâneo de uma igreja com notável importância social e da praça à sua frente” (Giulio Carlo Argan) Localização da Igreja Santa Maria della Pace Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Santa+Maria+della+Pace/@41.899865,12.471674,17z/data =!3m1!4b1!4m2!3m1!1s0x132f605ab1250557:0xc189bac7b74ea23d Acesso em: 24 mai. 20014, às 19:50 Essa igreja está localizada na Via Arco della Pace, 5, 00186 Roma, Itália. Elafoi concebida como forma de pagamento da promessa que o papa Sisto IV (1414-1484) fizera em reza por tempos de paz na época em que conflitos destruíam a cidadede Florença. A igreja foi dedica a Santa Senhora da Paz (NOBLAT, 2008). Sua construção iniciou-se em 1482, sob encomenda do Papa Sisto IV. Suaautoria é atribuída ao arquiteto Baccio Pontelli, projetando a igreja de nave única, comcapelas nas paredes laterais na forma de nichos. No século XVI, o cardeal Oliviero

33Carafa (1430-1511) encomenda a Bramante o claustro. Bramante foi, provavelmente,também o autor do domo octogonal (WATKIN, 2011, p.292-293). Finalmente, em meados do século XVII, Pietro de Cortona recebe a encomendado papa Alexandre VII (1599-1667) do projeto de restauração da igreja. Cortonaprojetou, então, sua fachada e a pequena praça à sua frente (RAWN, 2008). Paravalorizar ainda mais o edifício, Cortona cria uma pequena praça em frente a ele, coma retirada de alguns prédios. A fachada compreende todas as características de uma pintura barroca,apresentando profundidade, com atenção aos mínimos detalhes e com unidade deforma. Cortona emprega de forma bastante forte a relação claro/escuro do barrococom os seus jogos de volumes côncavos e convexos; o recuo do frontão estilizado ea quebra da cornija, aliados a uma espécie de frontispício semicircular e ao vestíbulo,criam volumes em toda a fachada. Este efeito somente é percebido de forma nítida aose deslocar pelo espaço da praça criada pelo mesmo arquiteto, permitindo o vislumbretotal dos elementos barrocos. Ainda segundo RAWN (2008), outro forte elemento na fachada é a percepçãode todos os elementos unidos em uma massa uniforme – diferentemente do queacontecia no Renascimento, em que cada elemento tinha seu papel bem definido nacomposição, aqui todos eles concorrem para conquistar a atenção dos olhos doespectador. Esse efeito torna-se ainda mais notável através da preferência de Cortonapor utilizar poucas e discretas cores em seus projetos, optando pelo mármore brancocomo textura nessa fachada, assim como Borromini fazia em seus projetos. O arquiteto também utiliza colunas dóricas no vestíbulo, marcando a entrada,e colunas mistas na parte superior. Elas reforçam o eixo de simetria que a fachadaapresenta, porém sem a repetição exacerbada de elementos.

34Frontão e frontispício semicircular – elementos recorrentes na épocaMedalhões – elemento recorrente na épocaSaliências e reentrâncias – característica do BarrocoConcavidade – característica do BarrocoEixo de simetria – característica da arquitetura barrocaNártex – referência romana que aqui cria um jogo claro/escuroColunas dóricas – referências da arquitetura gregaColunas mistas – demonstram a liberdade no Barroco

35FachadaFonte: http://2.bp.blogspot.com/-riWywdeab5g/UbJGzhFm9zI/AAAAAAAADME/malF6Se5Mlc/s400/Santa+Maria+della+Pace+by+Patzyar.jpgAcesso em: 24 mai. 20014, às 19:39 Fachada Fonte: http://3.bp.blogspot.com/- Fbs7MCUZYec/TsQ8FkVyi8I/AAAAA AAAAqk/lNMdT0_qnCA/s1600/Chies a%2Bdi%2BSanta%2BMaria%2Bdell a%2BPace%2B-%2B1656- 1657%252C%2BPietro%2Bda%2BC ortona%2Bcopia.jpg Acesso em: 24 mai. 20014, às 19:42

36 Fachada Fonte: http://3.bp.blogspot.com/- Fbs7MCUZYec/TsQ8FkVyi8I/AAAAA AAAAqk/lNMdT0_qnCA/s1600/Chies a%2Bdi%2BSanta%2BMaria%2Bdell a%2BPace%2B-%2B1656- 1657%252C%2BPietro%2Bda%2BCo rtona%2Bcopia.jpg Acesso em: 24 mai. 20014, às 19:42Aquarela da fachada da igreja Santa Mariadella Place.Fonte:http://mylandscapesketches.blogspot.com.br/2011/10/santa-maria-della-pace-rome.htmlAcesso em: 24 mai. 20014, às 19:37

37 VII. CONCLUSÃO“A especialidade de Cortona é a decoração, o que explica a amplitude e a variedade, mas também os limites, de seus conhecimentos históricos e teóricos em matéria de arquitetura.” (Giulio Carlo Argan) A arte barroca é, inquestionavelmente, um movimento singular. Assim o éporque conseguiu unir artistas de conhecimentos vastos a religiosos dispostos ainvestir de forma exorbitante em suas obras. Mas o que torna, sobretudo, o Barrocouma arte única é sua expressividade quanto ao mais pertinente conflito interior dohomem: a razão e a fé. Seria o homem capaz de equilibrar essas duas forças? Apósexperimentar espaços que o fizessem se sentir tão minúsculos e indiferentes, e depoispassar por ambientes cujas estaticidades e formalidades deixavam aquém no tocanteemocional, o homem descobre-se num emaranhado de questionamentos sobre o queele representa para o mundo. Surge, então, um drama que aparece na forma deantagonismos, exageros e sinestesias. O movimento sugerido pelas obras barrocasrepresenta o desejo de fazer com que o expectador interaja com elas, na tentativa deabsorver sua complexidade. É possível enxergar as influências do Barroco em muitas épocas, ganhandoforça maior no século XX – após se cessarem as ondas dos revivers do século XIX.As artes de vanguarda dos anos XX demonstram isso através do expressionismo deMunch, que deseja extravasar o drama interior do homem; ou do cubismo de Picassoe Braque, que traz como tema a quebra da estaticidade. No modernismo, podem sercitados Oscar Niemeyer, com ênfase para a ideia de movimento, através das curvas;as obras de Tarsila do Amaral, que pretendem demonstrar figuras comuns, assimcomo muitas pinturas barrocas. Ainda falando do movimento modernista, aparece acidade de Brasília, cuja simetria, monumentalidade de vias e importância dada aoverde fazem lembrar o Barroco. O legado de Pietro da Cortona – assim como os demais pintores de afrescosda época – se faz notável nas obras de Escher e reaparecem na Op-Art, por terem oilusionismo como tema. Isso porque Cortona leva à noção do infinito, do anseio pelacriação de um mundo à parte – no qual o homem pode, por instantes, refugiar-se dosconflitos que o tomam. A maneira como Cortona faz entender a relação entre colunase paredes faz lembrar um conceito muito recente – o de planta livre, de Corbusier.

38Mais que em termos estéticos, Cortona ainda alcança os tempos posteriores atravésde sua preocupação em fazer com que o usuário se sinta acolhido no espaço. Esseconceito, em dias atuais, é primordial para a concepção de inúmeras obrasarquitetônicas, tornando-se improvável que se desvincule o perfil do público-alvo aoprojeto. Falando-se em acolhimento, lembra-se da interação do expectador com a obra.Isso remete a uma forte característica da arte contemporânea: justamente o desejode fazer com que o observador participe ativamente das composições, através daexploração dos sentidos, da instigação aos questionamentos sobre si e sobre omundo, e sobre o que venha a ser a arte. O fato é que a obra física do Barroco jamais foi reproduzida, mas é notória eperpétua a herança filosófica que deixou. Afinal, trata-se de um movimento de umaadmirável grandiosidade no ato de se usar todos os recursos a seu alcance paraexprimir algo que independe do tempo ou local em que se vive, que abrange ahumanidade inteira – e por que deixar de repetir? – a velha e indomável batalha entrea emoção e a razão.

39VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Editora Afiliada, 2010. MOCELLIN, Renato; CAMARGO, Rosiane. História. São Paulo: Editora do Brasil, 2010.2. ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura: Tempo, leituras e leitores. São Paulo: Editora Moderna, 2010.3. FURTADO, Douglas R. B. Música Barroca. Disponível em: http://artebarroca.info/mos/view/M%C3%BAsica_Barroca/ Acesso em: 20 abr 2014 03:21.4. FAZZIO; MOFFETT; WODEHOUSE. A História da Arquitetura Mundial.5. FEIST, Hildegard. Pequena Viagem pelo Mundo da Arquitetura. São Paulo: Moderna, 2003.6. STRICKLAND, Carol. Arquitetura Comentada: uma breve viagem pela história da arquitetura. 1ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.7. GYMPEL, Jan. História da Arquitetura: da Antiguidade aos Nossos Dias. São Paulo: Editora Landy, 2004.8. HASKELL, Francis. Mecenas e Pintores: Arte e Sociedade na Itália Barroca. São Paulo: Edusp, 1997.9. GONZALEZ, J. J. Martin. História de la arquitectura. Estados Unidos: Gredos, 1964.10. WATKIN, David. A history of western architecture. 1.ed. Nova York: Laurence King Publishing, 2011.11. ARGAN, Giulio. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o barroco. São Paulo: Schwarcs, 2004.12. CARVALHO, Daniel. Santi Luca e Martina. Disponível em: http://eng.archinform.net/projekte/4957.htm Acesso em: 25 mai. 2014, às 13:55.13. GIUSEPPE VASI’S GRAND TOUR. Pigneto Sacchetti. Disponível em: http://vasi.uoregon.edu/ Acesso em: 25 mai. 2014, às 14:00.14. ROMEARTLOVER. Villa Sacchetti. Disponível em: http://romeartlover.tripod.com/superind.html Acesso em: 25 mai. 2014, às 14:2015. ITCS VITTORIO BACHELET. Roma. Disponível em: http://www.bachelet.it/ Acesso em: 25 mai. 2014, às 12:0016. DOZENS, Join. Pietro Da Cortona. Disponível em: http://pt.wahooart.com/@/PietroDaCortona Acesso em: 25 mai. 2014, às 13:55.17. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

4018. CHASTEL, Andre. A arte italiana. São Paulo: Martins Fontes, 1991.19. NOBLAT, Ricardo. Arquitetura - Santa Maria della Pace. Disponível em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/08/21/arquitetura-santa-maria-della- pace-121382.as Acesso em: 24 mai. 2014, às 18:00.20. RAWN, Brian. Close Look: Pietro da Cortona, Santa Maria della Pace Façade. Disponível em: http://penn-arth102.tumblr.com/post/45893858565/close-look-pietro- da-cortona-santa-maria-della-pace Acesso em: 24 mai. 2014, às 18:00.


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