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DANÇA LESOU - Relato de experiência.

Published by Grupo de Pesquisa, 2022-04-29 19:19:40

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CONHECENDO A DANÇA LESOU: Experiência vivida na Gruta Antônia Luzia José Renilson Targino Ferreira Filho RESUMO Este trabalho objetiva relatar a minha experiência vivida na Gruta Antônia Luzia, comunidade localizada na Zona Rural de Bananeiras-PB, a partir das ações desenvolvidas no projeto da AJAC ( Associação de Jovens da Arte e Cultura), intitulado „II Bananeiras Fest: Culturas do Brejo” patrocinado pela Lei Aldir Blanc, Governo do Estado da Paraíba. No texto, relato sobre a origem, o conceito, as características, as músicas da Dança Lesou e o uso da mesma no contexto escolar. Essa experiência vivida, me permitiu o conhecimento necessário para abordar este conteúdo nos mais diversos espaços e contextos. O trabalho deu-se por meio de entrevistas semi- estruturadas, contato com arquivos de músicas escritos por moradores da Gruta Antônia Luzia, como também por meio de demonstração prática, caraterizadas com rodas de Lesou. Para conclusão do processo, foi organizado uma festa – demonstração no dia 27 de novembro de 2021, compondo o Evento “Bananeiras Fest: Culturas do Brejo”, evento aberto à comunidade. Palavras-chave: Dança Lesou, Dança, Bananeiras, Contexto Escolar.

INTRODUÇÃO O texto a seguir tem como objetivo relatar a minha experiência vivida conhecendo a Dança Lesou, uma manifestação da tradição popular de Bananeiras-PB, pouco conhecida e disseminada. A experiência foi vivida na Gruta Antônia Luzia, localizada na Zona Rural de Bananeiras – PB, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2021, onde tive a oportunidade de conhecer com alguns moradores, a origem, o conceito, as características e as músicas dessa tradição popular. A experiência foi vivida no contexto das ações desenvolvidas no projeto da AJAC ( Associação de Jovens da Arte e Cultura), intitulado „II Bananeiras Fest: Culturas do Brejo” patrocinado pela Lei Aldir Blanc, Governo do Estado da Paraíba. Tais experiências deram base para que pudesse organizar um pequeno e inicial estudo e, assim, desenvolver este texto, que de forma breve, conta sobre o que é a Dança Lesou , trazendo para os leitores, principalmente os Bananeirenses uma reflexão sobre a importância de conhecer e valorizar a sua cultura, bem como de reconhecer-se como parte dela, pois esta é herança de seu povo. CONHECENDO A DANÇA LESOU: UM RITMO PULSANTE No início de setembro recebi uma ligação de Joilson Custódio, grande amigo e ator, que é Presidente da AJAC ( Associação de Jovens da Arte e Cultura), me propondo participar do projeto “Bananeiras Fest: Culturas do Brejo”, patrocinado pela Lei Aldir Blanc, Governo do Estado da Paraíba; onde teria que vivenciar uma experiência de pesquisa e registro na Gruta Antônia Luzia sobre a Dança Lesou e em seguida, apresentar um resultado desta experiência vivida no dia 27 de novembro de 2021, na mesma comunidade, compondo a programação do “II Bananeiras Fest: Culturas do Brejo”, evento realizado pela AJAC ( Associação de Jovens da Arte e Cultura). No primeiro momento, inúmeras perguntas surgiram: “O que é Dança Lesou?”, “Onde é a Gruta Antônia Luzia?”, “Porque Lesou?”, “Quais características desta dança?”, “Qual sua origem”?”, “ Tem músicas próprias?”, “ As músicas falam de quê?”, “Quais as vestimentas?”. Permeado pela curiosidade e amor pelas danças populares, aceitei o convite para embarcar neste campo desconhecido.

E no dia 17 de setembro, foi o dia marcado para visitarmos pela primeira vez a Gruta Antônia Luzia, localizada na Zona Rural de Bananeiras- PB e conhecermos a Dança Lesou. Fomos recebidos de forma calorosa e marcante pelo Mestre Francisco Soares da Silva, mais conhecido por Seu Nanã e pela Mestra Antônia de Azevedo Soares, mais conhecida como Dona Biba. Figura1 – Seu Nanã e Dona Biba Fonte: Autoria própria Na visita, foi nos oferecido um cafezinho com batata doce, banana e uma boa conversa, onde perguntamos sobre a Dança Lesou; por que se chamava Lesou; sua origem e suas características. Figura 2 – Visita a Gruta Antônia Luzia no dia 17 de setembro de 2021 Fonte: Joilson Custódio

A primeira pergunta fiz a Dona Biba, onde perguntei a mesma o que era a Dança Lesou; e ela com seu jeitinho único de ser, com um sorriso largo, logo me respondeu: “ A Dança Lesou é uma brincadeira que a gente brinca, se diverte, dança, que relembra o pessoal da gente de antigamente. Eu conheci a Dança Lesou desde pequena, meus avôs que brincavam. Desde que eu nasci tinha esse Lesou no meio do mundo, na casa do povo. Eu tinha uma tia que o pessoal ia tudim para casa dela e passávamos três dias brincando. Ai esse povo vai morrendo, aí vai ficando tradição, e a gente foi dizendo a gente vai brincar o Lesou, a gente vai brincar o Lesou, aí ficamos brincando”. A Dança Lesou é uma dança cuja origem é creditada aos antigos moradores que habitavam a Zona Rural de Bananeiras-PB, mas precisamente o Sítio Porteiras. Seu Francisco Soares da Silva, mais conhecido por Seu Nanã, nos conta como conheceu a Dança Lesou e onde talvez se originou a mesma: “Eu conheci a Dança Lesou desde pequeno, aprendi com meu Pai, que se chamava João Soares da Silva e era conhecido como João de Sula. A gente antes de morar aqui na Gruta Antônia Luzia, morava lá no Sítio Porteiras, e toda véspera de São João a gente brincava, no dia de São João não tinha mais graça, também brincava na véspera de São Pedro, mas não era como o São João. Essa dança faz tempo demais, existe desde os tempos dos meus avôs que brincavam e eu acho que foi eles que inventaram para brincar, para festejar, para lesar e usar o tempo, porque naquele tempo não tinha televisão, então tinha que fazer alguma coisa. Depois de um tempo a gente comprou uma casa na Gruta Antônia Luzia e viemos morar aqui e continuamos dançando o Lesou”. A partir deste relato de Seu Nanã, percebemos que a Dança Lesou foi criada por antigos moradores do Sítio Porteiras, Zona Rural de Bananeiras-PB, como forma de divertimento e festejo. Era sempre dançada na véspera de São João e São Pedro por seus moradores. Hodiernamente, após a mudança de Seu Nanã e Dona Biba de localidade, a Dança Lesou continua sendo dançada pelos moradores do Sítio Gruta Antônia Luzia, na zona rural de Bananeiras-PB, que mantêm viva a tradição da brincadeira. Mas porque se chama Dança Lesou? Perguntei e logo fui respondido por Dona Biba, sempre ágil e vivaz: “Ah isso aí eu não sei não, porque o nome era lesou, mas naquele tempo a gente tudo besta sabia lá o que era Lesou, o que significava o nome, mas agora eu paro para pensar, e é um bocado de gente besta bestando( Ri), um bocado de gente na roda brincando e lesando, lesando na roda (Ri novamente). Lesou é lesar, brincar, se divertir, festejar. Agora que eu penso, mas naquele tempo era uma brincadeira melhor do

mundo pra gente, era um dia de rei antigamente. Sabe o que é um dia de rei? Um dia que a pessoa aproveita muito. Todo dia quando acho uma coisa boa, eu digo “- ah é um dia de rei”, e no dia do lesou era um dia de rei, que a gente brincava, se divertia, dançava, era feliz” Pelo relato de Dona Biba, a palavra LESOU vem dos termos e expressões coloquiais cotidianos da Zona Rural, que significa a ação de perder ou não ter sanidade mental ou que revela falta de bom senso. É comum nos dias atuais, precisamente no interior da Paraíba, usarmos a palavra LESAR para chamarmos alguém para “Bater perna” (passear); “Gastar tempo”; se divertir ou mesmo quando o outro não entende o que foi dito, por exemplo : - Fulano, vamos lesar por aí! Que significa vamos se divertir por aí, vamos andar por aí, ou quando se é dito “- Homi deixa de ser leso” que significa deixa de ser bobo, besta, lento. Neste sentido, talvez LESOU, venha dessas expressões coloquiais cotidianas e significa se divertir, dançar, brincar, festejar, ser “Leso” no bom sentido. A Dança Lesou é realizada por homens e mulheres de todas as idades, e é organizada no formato de roda e com as mãos dadas, onde giram a roda e realizam movimentos de sapateado com os pés, acompanhados por músicas cantadas pelos próprios brincantes. À medida que as músicas são cantadas e a roda gira, um casal entra na roda realizando movimentos livres de improvisações em dupla, e consequentemente revezando os pares. Caso a roda seja grande, pode dançar até dois casais dentro da roda, mas sempre tem que ter um casal dentro. Marluce Azevedo, filha de Dona Biba e Seu Nanã nos conta um pouco sobre a organização da dança: “ Todas as músicas que cantamos, toda vez tem que ter um casal dentro da roda, se caso a roda for grande, pode colocar até dois casais dentro da roda, porque toda vez um vai soltar. O homem vai soltar uma e pegar outra mulher ou a mulher fica, sai o homem e pega outro homem e vai sempre trocando; até terminar o Lesou tem que ter casal dentro” Eu tive contato com as músicas da Dança Lesou, onde tive a oportunidade de redigir todas e organizar uma sequência juntamente com Marluce Azevedo. Ao todo são 19 músicas, que serão disponibilizadas nos anexos deste artigo. As músicas são constituídas de versos que muitas vezes se repetem em mais de uma música, e refrãos que são cantadas em coro. As músicas segundo Dona Biba falam “sobre o dia-a-dia, sobre a agricultura, das flores, dos costumes, das crendices, dos ditados populares, de coisas que hoje o povo nem usa mais”.

Foto 3 – Marluce de Azevedo Fonte: Autoria própria Conversando com Marluce Azevedo, que além de herdeira da Dança Lesou, é também professora na Escola Municipal do Ensino Fundamental Antônio José da Costa, e que desenvolve um projeto de leitura usando as músicas do Lesou na mesma, me contou que ao estudar as músicas do Lesou para trabalhar a leitura com seus alunos, percebeu que elas falam: “De gaiola, de cobra verde, falam do dia-a-dia, do sol, fala de muita coisa. Quando comecei a estudar as músicas do Lesou para trabalhar a leitura com meus alunos, comecei a perceber coisas que outrora nem percebia. Por exemplo, a gente cantava “Chora Bananeira, Bananeira Chora” e eu nem percebia que era a cidade de Bananeiras, eu pensava que era o pé de banana (ri), mas pode ser as duas coisas. Também não sei o que os antigos estavam pensando na hora de compor. Como as músicas muitas vezes é feita na hora, de improviso, a pessoa que inventou a música deve ter pensado em Bananeiras cidade ou no pé de banana. Mas os versos sempre é falando do dia-a-dia, de coisas que acontecem no cotidiano. Por isso que eu digo que as vezes tem coisa que a gente cantava e nem percebia, por exemplo na música MURA TORTA O QUE FAZEER NA RODA ? Agora que eu fui ensinar que eu parei para pensar, o que será que estamos falando? O que é uma mura torta? Ai fico pensando. Mas se você começar a ler bastante as letras, estudar bem minuciosamente, você percebe que falam sobre coisas que tem ao redor, pois falam da serra, da agricultura, dos pássaros, das frutas, e também dos namoros e conselhos amorosos”

Assim, constatamos que as músicas da Dança Lesou falam sobre muitos assuntos, mas sempre relacionados ao cotidiano rural , a assuntos da comunidade Rural e sobre suas crenças e crendices. É importante salientar que existem as 19 músicas que como falei anteriormente serão disponibilizadas nos anexos desse artigo, porém na roda do Lesou, o brincante também está livre para improvisar seus versos na hora da brincadeira, compondo o que vem no seu coração no momento de alegria e festa. Eu mesmo compus um verso na hora da brincadeira: “Aqui na Gruta da Antônia Tem a dança do Lesou Uma dança muito linda Recheada de amor” Para dançar o Lesou, não precisa de uma roupa específica, cada um pode ir vestido ao seu modo. Dona Marluce Azevedo nos contou como cada pessoa se vestia na época que o Lesou era mais presente na comunidade: “Não temos uma vestimenta certa para dançar Lesou. Antigamente cada um comprava sua roupinha para passar o São João e São Pedro. Como todo mundo era pobre, cada um comprava um paninho de chita para fazer seu vestidinho pro São João, ai nós íamos para casa de uma senhorinha, que inclusive morreu agora pouco, ela era a costureira, nós íamos de manhã para casa dela e ia levar essas roupas, e a tarde nós íamos buscar e de noite íamos para novena tudo a pé, antes de dançar o Lesou. Então cada um fazia seu vestidinho do seu modelinho e os homens cada um, ia com sua roupa, e cada um usando seu chapéu de palha ou de couro, porque naquele tempo era normal os homens andar de chapéu. Mas cada um ia com sua roupinha, todo mundo arrumadinho. Pois indiretamente, a dança Lesou era o momento de paquerar, de pegar na mão da pessoa que você era apaixonada(o), então todo mundo ia arrumadinho”. A partir da fala de Marluce Azevedo, percebemos que as vestimentas da Dança Lesou, não são vestimentas características da dança, cada brincante vai ao seu modo. As mulheres com seus vestidinhos, cada um com seu modelo e os homens cada um ao seu modo, muitas vezes usando calça e blusa de botão, mas uma característica em comum é que antigamente as mulheres sempre usavam o tecido de chita e os homens o chapéu. Na mesma fala, também percebemos uma característica forte na Dança Lesou: a ação de paquerar. Antigamente a roda do Lesou era o momento reservado para as paqueras, a oportunidade de escolher a pessoa amada para entrar com você na roda para dançar ou na simples ação de pegar nas mãos na hora da roda. Na família de Seu Nanã e Dona Biba já aconteceu até casamento por conta da Dança lesou. Dona Maria José, mais conhecida como Maria Pequena, conheceu seu marido na Dança Lesou, ela falou:

“conheci meu marido no Lesou, paquerei, namorei e me casei. Agradeço demais ao Lesou”. São poucas as referências teóricas sobre a Dança Lesou. Os conhecimentos desta dança são apenas passados de geração para geração, pela oralidade, fazendo com que a tradição se mantenha viva, mas pouco conhecida e disseminada por outras pessoas, correndo o risco de desaparecer. Atualmente a Dança Lesou existe na memória corporal dos seus brincantes, mas não é dançada com tanta frequência. O que percebi pelas conversas que tive com os brincantes da Dança Lesou que ainda mantêm a tradição, é que eles não são beneficiadas devidamente pelas políticas públicas ; eles não tem o devido reconhecimento como uma tradição local e é muito comum a geração atual não valorizar essas manifestações culturais. Pela fala de Dona Biba, dar para perceber o quanto as novas gerações não tem interesse em continuar as tradições e como ela almeja que a Dança Lesou se mantenha viva: “ Eu quero muito que o Lesou continue existindo, até os derradeiros filhos. Como é que diz? Até a derradeira geração. “Eu quero que outra pessoas conheçam, para ficarem brincando e que nunca se acabe, fiquem brincando. Que toda véspera de São João fiquem brincando, porque o pessoal agora não querem mais brincar, não querem mais dançar, ficam todo (ri) , querem só ir para rua, que na rua tem baile, aí aqui ficam só nós, os daqui mesmo. Está difícil desse povo novo gostar da tradição. Os meus filhos gostam, mas os netos num querem não, querem só ficar por aí, mas eles brincam também. Mas eu quero muito que a Dança lesou sempre exista e nunca se acabe”. Percebemos na fala de Dona Biba o amor pela Dança Lesou e o desejo que ela tem de outras pessoas conhecerem e continuarem mantendo viva essa tradição. E por falar em manter viva a tradição, a professora Marluce Azevedo, desenvolve uma proposta de abordagem do Lesou nas turmas de Ensino Fundamental I da Escola Municipal do Ensino Fundamental Antônio José da Costa, situando a tradição popular da comunidade no contexto escolar, como uma expressão social que de fato é de suma importância, uma vez que o conhecimento da herança cultural é fundamental para que o aluno/morador reconheça o contexto social , cultural e histórico que lhe constitui.

Foto 4 - Escola Municipal do Ensino Fundamental Antônio José da Costa Foto: Autoria própria Marluce Azevedo nos fala como iniciou esse projeto e como é desenvolvido: “ Aqui na Gruta, sempre trabalhei do primeiro ao quinto ano, não era séries separadas não, como tem pouco aluno, aí era misturado, multiseriado, aí no multiseriado como era mais fácil eu trabalhar assim. Os meninos tudinho aqui já estavam acostumados, os maiores ajudando os menores. Aí no plano de aula, foi proposto trabalhar as músicas antigas e as brincadeiras antigas, aí pensei em usar as músicas da Dança Lesou, que é antiga e que é algo da nossa comunidade. Invés de usar outras brincadeiras de roda e outras músicas, eu coloquei as nossas músicas porque já era uma oportunidade deles conhecerem nossa tradição. Aí um dia vieram um pessoal da Universidade Federal da Paraíba fazer um projeto aqui na Gruta, um pessoal do curso de pedagogia, aí quando elas vieram, começamos juntas a trabalhar com a Dança Lesou, trabalhamos durante um tempo e fizemos uma culminância apresentando todo o resultado. No projeto, trabalhávamos a leitura a partir das músicas do Lesou, e todo o formato da dança. Elas aprendiam cantando, dançando na roda e brincando. No projeto, ensinamos o que é Lesou, as músicas e como se brinca. Assim eles aprenderam a ler, mas também aprenderam a nossa cultura e a importância de manter ela viva”. O que Marluce está fazendo na Escola Municipal do Ensino Fundamental Antônio José da Costa é de grande valia para manter viva a tradição do Lesou, pois a dança popular tem grande importância no âmbito escolar. Estudar nossa cultura, costumes, músicas e danças são essenciais no currículo do ensino básico, afinal essa diversidade de práticas culturais são marcas e rastros importantíssimos em nossa cultura brasileira. O que ela desenvolveu e desenvolve na determina escola, deve ser servida de modelo. Os conhecimentos que ela aborda em seu projeto, ensina o contexto histórico e cultural da Dança Lesou e desperta a experimentação da dança nos corpos dos alunos.

Essa experiência não somente os ensina a ler, mas ensina a apreciar elementos da cultura que elas estão inseridas, que é importante na formação do cidadão capaz de valorizar seu próprio contexto cultural. Pensando nesse contexto de experimentação e compartilhamentos de conhecimentos, capaz de disseminar saberes culturais, organizamos para a conclusão dessa experiência vivida com a Dança Lesou, uma festa – demonstração no dia 27 de novembro de 2021, compondo o Evento “Bananeiras Fest: Culturas do Brejo”, evento aberto à comunidade. COMPARTILHANDO CONHECIMENTO: FESTA- DEMONSTRAÇÃO DO LESOU Minha vó sempre dizia: “De que serve tanto conhecimento, se a gente não compartilha com o outro? E foi assim que eu aprendi, que quando algo nos é ensinado, devemos ensinar ao outro, devemos compartilhar. Não devemos guardar em um baú empoeirado o que aprendemos ao longo do caminho, devemos partilhar. Pensando nisso, para a conclusão dessa experiência vivida com a Dança Lesou, decidimos realizar uma festa – demonstração, compondo o Evento “Bananeiras Fest: Culturas do Brejo”, onde na oportunidade compartilhamos todo os conhecimentos adquiridos nesta experiência que durou 3 meses. Foto 5 – Moradores e convidados dançando o Lesou Fonte: Autoria própria

O evento foi realizado na Gruta Antônia Luzia, aberto à comunidade, no dia 27 de novembro de 2021, às 17 horas. Nesta oportunidade, moradores e convidados, foram recepcionados pelo Trio Rainha, trio composto por moradores bananeirenses que trouxeram muita música autêntica e de raiz. Após isso, foram surpreendidos por um Boi de Reis, tirando muitos sorrisos e fazendo os mais velhos relembrarem de antigamente. Logo em seguida, foi a nossa demonstração do Lesou. Iniciamos dando as boas vindas a todos e explicando que a festa-demonstração era resultado de uma pesquisa da que compunha parte de um projeto da AJAC ( Associação de Jovens da Arte e Cultura) patrocinado pela Lei Aldir Blanc do Governo do Estado da Paraíba. Eu, juntamente com Marluce Azevedo, contamos sobre a origem da Dança Lesou e suas características, e em seguida apresentamos o Lesou para todos que estavam ali presentes. Além dos moradores da Gruta Antônia Luzia, também tinha pessoas de João Pessoa, do Rio Grande do Norte e da cidade de Bananeiras. Muitos das pessoas presentes, que nunca haviam dançado o Lesou na vida, participaram da Roda de Lesou. A medida que íamos brincando, novos versos e movimentações iam surgindo. A roda auxiliou na construção da coletividade e na esperança de vida longa do Lesou. Foi perceptível como esta vivência suscitou o interesse das pessoas para conhecerem melhor a Dança do Lesou e futuramente lutar junto conosco pelo o devido reconhecimento que ela merece. Ainda que desconhecesse a origem, as letras das músicas e os códigos pré-definidos desta dança potente e pulsante, houve uma identificação imediata. A alegria que pairou no terreiro de Dona Biba e Seu Nanã é resposta positiva que o trabalho realizado foi de grande valia. Os relatos mostrados a seguir, nos confirma isto: “Foi muito legal vivenciar esta experiência e aprender um pouco mais sobre a dança que já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto, nem dançado. Eu sempre quis ver a dança lesou, mas nunca tinha tido oportunidade. E hoje eu tive”.

“A dança Lesou e bom demais de dançar, eu gostei demais. Principalmente a parte do Pião que dar para a gente ficar livre e ser quem você é e mostrar seu jeito de dançar”. “Para mim dançar o Lesou foi uma experiência única que vou levar para minha vida toda. Gostei muito de aprender uma dança nova e saber que aqui em Bananeiras tem uma tradição tão bonita, mas que pena que é pouco conhecida”. Através destes relatos, pode-se observar a importância desse projeto, tendo a Dança Lesou como foco. Ressalto aqui que esta vivência não foi somente importante por conta da apreciação e a experiência de vivenciar elementos da cultura da gruta Antônia Luzia, mais precisamente a Dança Lesou, mas também foi importante para muitos entenderem que devemos valorizar o contexto cultural que estamos inseridos. DESPEDIDA: CONSIDERAÇÕES FINAIS “Dona da casa der adeus que eu vou embora Tá chegando a hora d’eu me a retirar E quando eu canto este samba por despedida Minha partida é de fazer você chorar”. ( Música final da Dança Lesou) Ao final deste trabalho realizado a partir das ações desenvolvidas no projeto da AJAC (Associação de Jovens da Arte e Cultura), intitulado “II Bananeiras Fest: Culturas do Brejo” patrocinado pela Lei Aldir Blanc, Governo do Estado da Paraíba, que se propôs pesquisar, registrar e compartilhar a Dança Lesou, Patrimônio Imaterial de Bananeiras, constata-se que a experiência vivida constituiu um rico início de disseminação desta dança. As ações deste projeto da AJAC, marcam uma iniciativa inédita no município, no que diz respeito ao resgate, valorização e registro da memória do Patrimônio Imaterial de Bananeiras, pois as referências teóricas sobre a Dança Lesou eram quase inexistentes. Os seus conhecimentos eram apenas passados de geração para geração, pela oralidade, fazendo com que a tradição se mantesse viva, mas pouco conhecida e disseminada por outras pessoas, correndo o risco de desaparecer. Assim, a Associação de Jovens da Arte e Cultura – AJAC, com essa iniciativa, abrem novos caminhos e passam a ser um valoroso instrumento impulsionador para que a Dança Lesou possa ser mais conhecida, disseminada e valorizada.

Percebi durante o trajeto desta experiência, que a Dança Lesou existe na memória corporal dos seus brincantes, mas não é dançada com tanta frequência, talvez por não serem beneficiadas devidamente pelas políticas públicas; por eles não terem o devido reconhecimento como uma tradição local ou por conta da geração atual não valorizar essas manifestações culturais. A Dança Lesou é uma dança potente, de ritmo pulsante; onde sapateamos com os pés a terra que nos alimenta; pegamos nas mãos dos nossos semelhantes e fazemos uma roda simbolizando a união que tanto precisamos em tantos momentos da nossa vida; cantamos em coro músicas que falam do cotidiano, da agricultura, das flores, do sol, das frutas, de tudo de lindo que nos rodeia e que muitas vezes nem nos damos conta da imensidão de belezas que Deus nos presenteou; dançamos sozinhos mostrando nossa individualidade e acompanhados mostrando que sempre precisaremos do nosso semelhante. Agradecemos a dona e o dono da casa que abriram suas portas e nos receberam de braços abertos para mais uma experiência ser vivida. A Dança Lesou é união, partilha, festejo, alegria, gratidão e esperança por dias melhores. Aqui o trabalho não tem um ponto final, espero que essa pesquisa possa de alguma forma servir para futuras pesquisas e venha a contribuir para a valorização dos elementos da cultura local, na formação do cidadão que é capaz de valorizar seu próprio contexto cultural. Vida longa a Dança Lesou!

ANEXOS

MÚSICAS DA DANÇA LESOU Tradição do Sítio Gruta Antônia Luzia 1- Vamos Vadiar 2- Mura Torta 3- Minha Machadinha 4- Chora Bananeira(s) 5- Balão Balão 6- Celina, meu Balão. 7- Tu já levaste um galope 8- Olha o Passinho 9- Quem venceu, venceu 10- Maria, você não namore 11- Ai Morena 12- Ô Siriri 13- Eu pisei no Lírio 14- Lagartixa 15- Quem não pode espera um ano 16- Camaleão 17- Capitão 18- Ô Pião 19- Despedida

1- VAMOS VADIAR Vamos vadiar, Lesou passou Vamos vadiar, passou Lesou Vamos vadiar, cavalheiro tire dama. Vamos vadiar, lesou passou Vamos vadiar, passou lesou Vamos vadiar, cavalheiro solte a dama. 2- MURA TORTA Mura torta que fazer na roda? (2x) Entorte lá que eu entorto cá Sai da roda para outro entrar Mura torta que fazer na roda? (2x) 3- MINHA MACHADINHA Rá, rá, rá, Minha Machadinha (2x) Quem te pôs a mão sabendo que és minha (2x) Tu sois minha e eu também sou teu (2x) Pula machadinha para o meio da rua (2x) No meio da rua não é de ficar (2x) Porque tem alguém para ser seu par (2x) Toca concertinho para nois dançar.

4- CHORA BANANEIRA(S) Chora Bananeira, Bananeira chora, chora Bananeira que meu amor foi embora. Em cima daquela serra tem um velho Gaioleiro quando ver moça bonita Faz gaiola sem ponteiro. 5- BALÃO, BALÃO Balão, balão, balão, balão, balão, três vezes balão (2x) Alecrim da beira d’água não se corta de machado Se corta de canivete do bolso do namorado. Balão, balão, balão, balão, balão, três vezes balão (2x) Quem tiver raiva de mim que não possa se vingar Dane o dedo na parede e como barro até inchar. Balão, balão, balão, balão, balão, três vezes balão (2x) Em cima daquela Serra tem uma fita voando Não é fita, não é nada é o meu amor que vai passando. Balão, balão, balão, balão, balão, três vezes balão (2x).

6- CELINA, MEU BALÃO Celina, meu balão (3x) Celinaaaaaaa Cobra verde , não me morda que aqui não tem curador Nos braços de uma donzela, eu morro e não sinto dor. Celina, meu balão (3x) Tanta laranja madura beliscada do xexeu O rapaz que beija a moça não vê o azul do céu. Celina, meu balão (3x) Aplantei e semeei carrapicho no vestido A coisa que eu tenho mais ódio é homi casado enxerido. Celina, meu balão (3x)

7- TU JÁ LEVASTE UM GALOPE Tu já levaste um galope, dois e três é de levar (2x) Não acharás com quem dançar Eu danço assim, não danço Mas aprendi a dançar em portuga (2x). 8- OLHA O PASSINHO Olha o passinho Sindó, sindó Caiu no laço Sindó, sindó Se embaraçou Sindó, sindó E nosso amor E nosso amor. 9- QUEM VENCEU, VENCEU. Quem venceu, venceu, venceu Ô Vencedor E quem venceu de lá pra cá Ô vencedor Na minha terra tem palmeira Ô vencedor Aonde canta o sabiá

Ô vencedor. Menina se queres, vamos Ô vencedor Não se ponha a imaginar Ô vencedor Quem magina cria medo Ô vencedor E quem tem medo não vai lá Ô vencedor. Quem quiser ver coisa Ô vencedor Vá lá dentro da cozinha Ô vencedor O abano pendurado Ô vencedor Namorando a bassorinha. 10-MARIA, VOCÊ NÃO NAMORE. Maria, você não namore Seu pai souber, pode não gostar Pode namorar, pode namorar Você solteira e quer se casar.

11-AI MORENA. Ai morena, não deixe o jucu voar Ai morena, na partida eu vou chorar Sete, sete são catorze Três vezes sete, vinte um Tinha sete namorado e não me casei com nenhum. Eu plantei um pé de tripa Pra comer tripa assada O pé de tripa morreu E eu não comi tripa nem nada. 12- Ô SIRIRI. Ô siriri, ô meu bem, ô siriri Roubaram meu amor e deixaram eu sem amar Eu agora arrumei outro E quero ver você tomar. Menina se queres, vamos Não se ponha a maginar Quem magina cria medo E quem tem medo, não vai lá. Lá vem a lua saindo Por detrás do aveloi Tu morreste cabra besta Pra deixar a mulher pra nós.

13-EU PISEI NO LÍRIO. Eu pisei no lírio O galho baixou São João me diga onde Anda meu amor. Zig-zig foi pra rua No cavalo sem espora Zig-zig ficou lá E o cavalo veio embora. 14-LAGATIXA Eu encontrei a lagatixa, ô xiu , xiu, xiu Amontada numa besta, ô xiu , xiu, xiu Com uma carga de castanha, ô xiu , xiu, xiu Jogando ponta cabeça, ô xiu , xiu, xiu. Refrão : Abra a roda ô gente, ô xiu , xiu, xiu Que é pra vadiar, ô xiu , xiu, xiu Roda, roda cavalheiro, ô xiu , xiu, xiu Cada qual no seu lugar, ô xiu , xiu, xiu. Menina se queres vamos, ô xiu , xiu, xiu Não se ponha imaginar, ô xiu , xiu, xiu Que magina cria medo, ô xiu , xiu, xiu Que tem medo não vai lá, ô xiu , xiu, xiu. Refrão : Abra a roda ô gente, ô xiu , xiu, xiu

Que é pra vadiar, ô xiu , xiu, xiu Roda, roda cavalheiro, ô xiu , xiu, xiu Cada qual no seu lugar, ô xiu , xiu, xiu. Alecrim da beira d’água, ô xiu , xiu, xiu Não se corta de machado, ô xiu , xiu, xiu Se corta de canivete, ô xiu , xiu, xiu Do bolso do Namorado, ô xiu , xiu, xiu. Refrão : Abra a roda ô gente, ô xiu , xiu, xiu Que é pra vadiar, ô xiu , xiu, xiu Roda, roda cavalheiro, ô xiu , xiu, xiu Cada qual no seu lugar, ô xiu , xiu, xiu. Vovozinha tão velhinha, ô xiu , xiu, xiu Da cintura de retroz, ô xiu , xiu, xiu Dê uma volta na cozinha, ô xiu , xiu, xiu E vá fazer café pra nós, ô xiu , xiu, xiu. Refrão : Abra a roda ô gente, ô xiu , xiu, xiu Que é pra vadiar, ô xiu , xiu, xiu Roda, roda cavalheiro, ô xiu , xiu, xiu Cada qual no seu lugar, ô xiu , xiu, xiu.

15- QUEM NÃO PODE ESPERA UM ANO Quem não pode espera um ano Espera dois, espera três Quem não pode espera quatro Espera cinco, espera seis. Eu plantei e semeei Carrapicho no vestido A coisa que tenho mais ódio É de velho enxerido. Quem tiver raiva de mim Que não possa se vingar Dane o dente na parede E coma barro até inchar. Quem tiver raiva de mim Que não possa se vingar Bote corda no pescoço E der o diabo pra puxar. Sete, sete são catorze Três vezes sete, vinte um Tinha sete namorado E não me casei com nenhum. Bote a chaleira no fogo Sapeque o peixe na brasa Quem não quiser ter despesa Não bota LESOU em casa.

16-CAMALEÃO O camaleão, o rabo é dele Sustenta nega Senão tu cai O cachimbo é de ouro É de sambucai. 17-CAPITÃO Olha viva, olha viva Olha viva o capitão Quem for bom me acompanhe Quem for ruim, não venha não. 18-O PIÃO O pião entrou na roda, ô pião (2x) Rodai pião, bambeia ô pião (2x) Agora o chapéu é teu pião, ô pião (2x) Rodai pião, bambeia ô pião (2x) Amostra tua figura, pião (2x) Amostra a palma da mão, pião (2x) Amostra o bico da calça pião (2x)

Sapateia no tijolo pião (2x) Entrega o chapéu a outro pião(2x) 19-DESPEDIDA Dona da casa der adeus que eu vou embora Tá chegando a hora d’eu me a retirar E quando eu canto este samba por despedida Minha partida é de fazer você chorar. Pesquisa feita por: José Renilson Targino Ferreira Filho Setembro/outubro/ novembro de 2021.


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