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ECCLESIA 186

Published by catequese.gdl, 2016-11-04 12:47:24

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A Diocese de Beja viveu esta quinta-feira um dia histórico, com a passagem de testemunho entre D. António Vitalino, no seu 75.º aniversário, e D. João Marcos, na diocese alentejana desde 2014, como coadjutor. O Semanário ECCLESIA apresenta uma entrevista de fundo a D. António Vitalino, na diocese alentejana desde 1999, que encara com “muita naturalidade” a transição. D. João Marcos, por sua vez, fala dos desafios que se lhe apresentam e dirige-se à Diocese de Beja pela primeira vez como seu bispo. Apresentam-se ainda três textos de diversos setores da ação eclesial, procurando traçar um retrato da realidade diocesana e dos seus desafios. 28 29

Aqui, não vemos as nossas pertenças mas as pessoas Ao completar 75 anos de idade, D. António Vitalino encerrou um ciclo como bispo diocesano de Beja, iniciado em 1999. 17 anos de serviço que são passados em revista, nesta entrevista à Agência ECCLESIA em que se fala do passado e também do que o futuro reserva. Entrevista conduzida por Luis Filipe Santos Agência ECCLESIA (AE) – Com a tivesse tempo de ver as celebração dos 75 anos, a sua vida necessidades e como era o ganha um novo rumo. trabalho. A partir deste momento ele D. António Vitalino (AV) – Como o fará os seus planos e os seus Direito Canónico prescreve, aos 75 projetos. Irá decidir o que é mais anos os bispos devem pedir ao importante para esta diocese. Papa a sua resignação. Depois, Espero que, através da minha conforme a situação, Roma decide: maneira de ser e pelas conversas fica mais tempo, passa para que tivemos à mesa, o tenha administrador ou então para ajudado neste caminho. Nos últimos emérito. Eu providenciei, em tempos, todas as solicitações que tempos, primeiro para ter um recebia reencaminhava por mail ou coadjutor com direito a sucessão e fazia uma cópia para o meu depois, quando chegasse a idade sucessor. (75 anos) passasse a responsabilidade da Diocese de AE – Já arrumou as suas coisas? Beja para o bispo coadjutor. AV – Não. Arrumo depressa as minhas coisas. Só os livros… E o AE – Fez o mesmo que o seu melhor é deixá-los porque já não antecessor, D. Manuel Falcão, que tenho tempo de os ler e também já o ajudou a integrar-se nesta não utilizo muito os livros em formato diocese. de papel porque a maior parte deles AV – Fiz de maneira diferente, estão informatizados. porque pedi um coadjutor. Fi-lo para que ele 31 30

perceberam que é importante de explicar as razões. Às vezes não AE – Com quase duas décadas na aspeto, às vezes, um pouco ingrato partilhar. Mesmo sendo uma diocese se sabe fazer projetos, contas e diocese de Beja, que legado deixou porque toca na carteira, na vida e pobre devemos partilhar com todos orçamentos. Qualquer obra exige a estes cristãos do Alentejo? nos hábitos das pessoas. Muitos e corresponder aos grandes apelos um orçamento e quais os recursos AV – Eu, simplesmente, limitei-me a estavam habituados a levar a sua que se fazem. que se podem libertar. Acho que continuar o trabalho próprio de um vida e a não partilhar. Organizei uma O meu antecessor também o fez, nesta área fiz algo, que nem todas bispo e que é a missão da Igreja. administração diocesana onde quem mas muitas vezes do seu património as dioceses têm feito e têm muita Acho que ajudei as pessoas a tem partilha com quem não tem. pessoal e da sua família. Eu como dificuldade em fazê-lo. relacionarem-se com Deus e umas Criámos também o Estatuto sou de família de trabalhadores e com as outras. O meu legado é mais Económico do Clero. relativamente pobre tentei incutir AE – Sem esquecer a da atenção real às pessoas isso nas próprias famílias. informatização da diocese de Beja. concretas que nos abordam. Sejam AE – Normas e orientações onde a AV – Creio que foi a primeira elas mais ou menos cultas. Sejam partilha está no centro AE – Numa região com algumas diocese, embora com meios elas pobres ou ricas. Sejam elas AV – Sim. Acontece que, num caso carências, a autossustentabilidade artesanais, mas funcionava. A partir jovens ou adultos. A atenção às ou outro alguém quer esconder das instituições é uma necessidade do ano 2000 posso recolher os pessoas é uma forma que me algo, mas depois quando aparecem fundamental. dados, muito rapidamente, sejam caracteriza, embora o tempo e as os problemas mostra-se a verdade. AV – Tentei ajudar e incutir esse económicos sejam pastorais. Tenho forças comecem a faltar. Como se diz: «O diabo deixa sempre espírito para que as instituições tudo em base de dados. o rabo à solta». sejam autossustentáveis. Se não o AE – Deixou a sua marca também são têm noutras áreas. AE – Aconteceram-lhe casos AV – Há um legado que todos desses? dizem, não sei se é verdade, que a AV – Vários. Além de procurarmos nível da comunicação as pessoas ajudar, também chamamos a estavam mais informadas. Enviava atenção para que sirva de exemplo. muitos emails para o clero, Há normas da Igreja para a consagrados e leigos. Realizámos administração extraordinária. também um sínodo, foi o primeiro da Ninguém pode perante uma Diocese de Beja, e espero que as entidade bancária ter uma obra, até conclusões a que chegámos nas pode ser muito meritória, mas assembleias tenha servido para contrair empréstimos que vão organizar os planos dos próximos endividar a paróquia. É necessário anos. sempre uma credencial do bispo e No entanto, há um trabalho que não dos diferentes órgãos colegiais. se vê muito, mas é essencial: cuidar Muitas vezes, as pessoas não da administração da diocese. É um estavam habituadas a isso. Acho que deixei um clero e colaboradores que 32 33

fotografias. Uso muito por causa da Os alentejanos gostam de conviver minha família e dos padres. Temos e partilhar, mas tem de ser no seu muitas paróquias e padres que ambiente. estão nas redes sociais e assim é fácil comunicar. Quando algum faz AE – Acompanhados com um copo anos envio a minha mensagem. Isso de vinho e um petisco… alegra as pessoas… AV – Verdade. Com um copo de vinho. Com perguntas e respostas. AE – É também uma forma de Temos de estar próximos e escutá- controlar o clero… sabe o que los. Isso é a coisa mais interessante colocam nas redes sociais? que podemos fazer aqui no Alentejo. AV – (Risos). Alguns com a mania No entanto, temos de ter cuidado e das selfies… Estão aqui e acolá… não exagerar. Se tal não acontece Andam a viajar, em vez de estarem dizem logo: “o bispo também gosta nas suas paróquias. Mas não ando da pinga”. A moderação é o melhor. a controlar… Vejo também se há queixas das paróquias. AE – As mulheres vão à Igreja e os homens ficam na taberna. AE – Foi o primeiro bispo a divulgar consideramos meio analfabetas. AE – Apostou nas relações AV – Também temos homens que uma mensagem em vídeo aos seus Estive, recentemente, numas humanas. Essa proximidade com as vão à Igreja, mas são poucos. diocesanos… jornadas da emigração – aproveitei pessoas leva-o até uma taberna Costumo dizer que a maior AV – Sim. Sem grande experiência também para visitar algumas alentejana para dialogar? celebração e o maior encontro que coloquei uma mensagem no missões – e vi pessoas reformadas AV – Sim. Infelizmente, o tempo é tive com homens alentejanos foi nas YouTube quase com meios com o tablet e a fazerem-me pouco, mas nas visitas pastorais é migrações. Uma vez, perto de Bona artesanais. Não tínhamos aqui, na pedidos de amizade através do uma coisa que procurava fazer. (Alemanha) estive com a diocese, esses meios e em Beja não facebook. Fico admirado como Ainda, recentemente, o meu comunidade e encontrei mais de existe uma televisão regional. O pessoas tão simples utilizam esses sucessor (D. João Marcos) me 200 alentejanos. Tivemos uma longa YouTube aceita tudo… meios. Temos de saber utilizar estes contou que numa visita pastoral conversa e muitos esclarecimentos. meios na evangelização. teve um grande diálogo, com muitos Depois passámos para o religioso e AE – Uma forma de chegar mais homens, num café. Disse que foi a até cantaram cânticos alentejanos. longe… Utilizou outro púlpito. AE – Utiliza com frequência as coisa mais interessante que ele Foi uma oração sentida e vi muitos AV - Hoje em dia, as redes sociais, redes sociais? fez… Porque os homens vão pouco alentejanos a verterem lágrimas. sobretudo o facebook, são muito AV – Sim, mas não coloco lá quando à Igreja. Ao contrário das mulheres. usadas. Mesmo por pessoas que me levanto ou quando me apetece comer. Partilho mensagens e 34 35

AE – Com a barragem do Alqueva - esse problema foi-se diluindo. Com as expetativas no Alentejo subiram as albufeiras, a água vai-se com a hipotética imagem de uma infiltrando na terra e vai alterando a região verdejante. Um autêntico paisagem. Existem projetos de oásis… comunidades estrangeiras, alguns AE – Sendo natural do Minho, é Hoje, a paisagem está AV – Um pouco. Mas temos um deles vegetarianos, que querem mais adepto do «vira minhoto» ou substancialmente alterada. cultivo intensivo e extensivo de olival lutar contra a desertificação. A do «cante alentejano»? AV – O Alentejo mudou muito… e vinha. Esta região tem a maior vegetação está a modificar o AV – Gosto mais do cante Tanto a nível económico como na mancha de sobreiros do mundo e Alentejo… alentejano. É mais calmo, mais agricultura. Atualmente, deixou de temos também muitas azinheiras. sentido… Costuma-se dizer que os ter um cultivo de sequeiro e passou Outra especificidade é a carne do AE – E a outra desertificação, a alentejanos cantam com o ventre e a ter um cultivo intensivo e extensivo porco alentejano que se alimenta de humana… não apenas com o céu-da-boca. O de vinha, oliveiras e hortícolas. Isto bolotas e é muito diferente de AV – A pior desertificação que pode vira minhoto é mais da garganta aconteceu após 2003 com o outras carnes. Muitos espanhóis haver é a humana e a espiritual. para cima. Exprime alegria, mas não Alqueva. Temos o maior lago compram aqui os porcos Infelizmente, aqui no centro é tão sentida como o cante. O artificial da Europa. Em pouco alentejanos para fazer o célebre alentejano, ela continua a existir. cantar típico do Alentejo tem um tempo, aquela bacia encheu e presunto «pata negra». Ourique e Temos muitos concelhos a perder ritmo próprio. Em qualquer taberna alterou a paisagem. Dizem que as Barrancos produzem muito porco população. Desde que estou em ou rua os alentejanos cantam… reservas de água da barragem do alentejano. Temos algumas Beja, perdemos mais de 20 mil Antigamente, as mulheres cantavam Alqueva dão para cinco anos, indústrias ligadas a este setor. habitantes. Embora, o litoral também na ceifa. mesmo que não chova. Aquela alentejano continue mais ou menos barragem tem fins múltiplos porque AE – Apesar destas marcas que com a mesma população. No AE – Outrora o Alentejo era produz também energia. No entanto, levam o Alentejo ao mundo, a entanto, muitos deles são considerado o celeiro de Portugal. infelizmente a ligação com todas as desertificação ainda predomina. estrangeiros, desde a Ásia ao leste albufeiras do Alentejo central ainda AV – Com as albufeiras que se europeu. Temos famílias reduzidas e não está terminada. fizeram – temos a maior envelhecidas. Muitas das famílias percentagem no país têm medo de procriar porque os recursos económicos não chegam. Apesar dos cultivos serem intensivos, ela é muito mecanizada e utiliza pouca mão-de-obra. Os serviços e as autarquias são os setores que utilizam mais mão-de- obra. 36 37

civil e política para resolver estes comunista. Mas que tinha bom problemas. As minhas crónicas eram relacionamento com eles e são AE – Ao longo destes anos, criticou maior porto petrolífero, mas um bocadinho nesse sentido. Mas todos boa gente. O Papa João com alguma frequência o poder emprega poucas pessoas. Estes sempre com o cuidado de não ferir Paulo II admirou-se e perguntou-me: político. Acusando-o de se esquecer projetos não vieram desenvolver o esta ou aquela pessoa, este ou “Os comunistas são boa gente?». do Alentejo. Acha que os políticos Alentejo humanamente, mas vieram aquele partido. Ele vinha de uma situação diferente ouviram a sua voz? enriquecer alguns monopólios cujas da Polónia. AV – Não critiquei por criticar. Só sedes estão em Lisboa ou no AE – Sendo o Alentejo um bastião Aqui, no Alentejo, como dizia o meu quando havia problemas com a estrangeiro. Sabemos que na do partido comunista, como era o antecessor «os comunistas deram população. Todavia, evitava fazer Comunidade Europeia, cada um seu relacionamento com os partidos voz a este povo que estava críticas partidárias. Falei com paga impostos onde achar que é políticos. oprimido». Têm o seu mérito frequência sobre a falta de mais favorável. AV – Desde os meus tempos de devemos colaborar com eles, investimentos na região e a pároco, em Santo António dos enquanto forem escolhidos escravatura na mão-de-obra. Notei AE – Tinha uma crónica semanal na Cavaleiros (Loures-Lisboa) sempre democraticamente. que as autoridades ficaram mais Rádio Pax. Naquele microfone me relacionei bem com os atentas e atuaram. Os denunciou várias vezes a comunistas. Nessa altura, o AE – Às vezes as ideias pré- intermediários que exploravam ao exploração do homem pelo homem. presidente da Câmara Municipal de concebidas não correspondem à nível de mão-de-obra começaram a AV – Esta realidade existe em todo Loures era comunista e era muito realidade. desaparecer embora, ainda existam. o lado. Mas cada um deve falar da meu amigo. Sempre soube distinguir AV – Nunca me esquece que um dia Tivemos também projetos que foram realidade que conhece. Aqui, as coisas. Os comunistas – como se estava na feira Ovibeja e estava muito apregoados e onde se aproveitava para denunciar estes diz – não comem pessoas ao numa conversa amiga com o investiu muito dinheiro, mas não têm casos porque não via empenho da pequeno-almoço. Eles são pessoas presidente da câmara daqui, que futuro. sociedade e têm sentimentos. Recordo-me era da CDU, e passou lá o primeiro- bem da primeira visita «ad Limina» ministro e perguntou-me: «então a AE – Por exemplo? que fiz, em 1999, já como bispo de Igreja e o partido comunista em AV – O Aeroporto de Beja não tem Beja, e apresentei ao Papa João diálogo?». Eu apenas disse: «Aqui, tido muito uso… E o complexo de Paulo II a nossa diocese. Disse-lhe não vemos as nossas pertenças Sines. É o que as autarquias e que o povo mas as pessoas». E o primeiro- alentejanoquase sempre escolhe o ministro encaixou… Temos de ver as partido pessoas e não as suas ideologias. 38 39

Isso nem sempre acontece noutras AE – Durante estes anos regiões do país. O departamento arrependeu-se de algo que fez e AE – A sua diocese recebe muitos AE – Nesses festivais musicais, a veio dar visibilidade a este setor. No não devia ter ou feito e também o turistas, tanto na costa vicentina Igreja tem o seu espaço? entanto, não podemos esquecer inverso? como barragem do Alqueva. A AV – Depende dos párocos. Alguns que aqui as distâncias são grandes AV – Temos de confiar nos pastoral do Turismo foi uma aposta vão lá e organizam celebrações e para se poder visitar esses colaboradores, desde da área social no seu múnus episcopal? para esses jovens. Alguns não monumentos temos de andar muitos até à área da evangelização. AV – Infelizmente, não trabalhamos querem apenas música. Na costa quilómetros. As distâncias impedem Algumas coisas passaram-me ao muito essa área porque temos alentejana procuramos adaptar os que os turistas visitem muitos lado e só vi quando já era tarde. É pouca gente. Fala-se muito que o horários das celebrações para desses locais emblemáticos. quase impossível sabermos de tudo. Alentejo aumentou muito a sua horas mais próprias. Algumas são Temos que nos rodear de bons população turística, mas isso não de noite. Já disse aos párocos que AE – Há uma classe operária que colaboradores e pessoas de corresponde muito à realidade. A estão no litoral, que não podem muitas vezes é esquecida, os confiança, para que não se costa vicentina é parque natural e fazer nesse tempo as suas férias. mineiros. Fez algum trabalho cometam ilegalidades e não se pode construir alojamentos, específico com esses homens que monstruosidades. Temos de evitar a como se fez noutras regiões. Mas AE – O património da Diocese de andam nas profundezas da terra? megalomanias. Nestes pontos, num quem gosta de praias calmas e a Beja é uma mais-valia. Polos que AV – Logo no princípio, fiz algum caso ou outro, devia estar mais beleza natural escolhe esta zona. atraem também muitos turistas. apostolado junto deles. Até servi de atento. Na altura do festival sudoeste, na AV – A parte do património artístico intermediário entre os sindicatos e Zambujeira do Mar, está muita e cultural é bom e está preservado. os patrões. Era tudo por causa da juventude. padroeira, Santa Bárbara. Cheguei a celebrar com os mineiros. 40 41

AE – Apesar destas contingências AE – Podemos dizer que tem um deixou obras feitas. coração alentejano, mas as veias AV – Restaurámos a antiga casa são minhotas? episcopal, o seminário e o centro AV – O meu sotaque continua a ser pastoral, a sé de Beja. Isso é a minhoto, embora tenha saído da parte das estruturas. Na minha terra aos 10 anos. Estive evangelização tentei, mas nem pouco tempo no Minho, apenas nas sempre consegui, fazer dos férias. Estive em Lisboa e na alentejanos, missionários. Criei a Alemanha. Depois vim para o escola de ministérios e uma Alentejo. Tentei não me alentejanar formação ambulante de no sotaque, mas o meu coração missionários. está com este povo. Mesmo não . continuando a residir aqui, tentarei AE – Lançou essas sementes… E a estar e acompanhar a vida deste nível da pastoral vocacional? povo. AV – Aí é o grande problema da diocese. É a terceira vez que AE – Deixa a cidade de Beja e vai mudámos de equipa formadora. residir onde? Espero que a nova equipa dê mais AV – Vou para uma comunidade resultado. É um trabalho difícil carmelita. Posso escolher, mas porque há poucos jovens. Se calhar propor aos superiores. Apesar de temos de aproveitar mais os termos uma comunidade carmelita ministérios laicais. Muitas coisas que em Beja, aqui não vou ficar de os padres e os diáconos fazem, os certeza. Perto da família, em Braga, leigos podem fazer. Mas é preciso também existe uma comunidade mas remunerá-los e haver meios. Ainda também não quero ficar. Restam há um grande caminho a duas comunidades: Lisboa ou percorrer… Mas já temos Fátima. instituições orientadas por leigos. AE – Quantos quilómetros é que fez nesta diocese? AV – (Risos)… Não sei, mas mais de um milhão… E, sobretudo, a conduzir. 42 43

Beja: Novo bispo apostado em contrariar «uma vivência cristã débil e rotineira» O bispo de Beja, D. João Marcos, Este procedimento vai ao encontro reagiu hoje à sua nova missão “com do que está estabelecido no cânone confiança e serenidade” e traçou 401 do Código de Direito Canónico, sob a presidência de D. Manuel Um bispo coadjutor é nomeado por como meta na diocese a renovação o qual determina o pedido de Clemente, cardeal-patriarca. iniciativa da Santa Sé e, ao contrário da vida cristã, com base na resignação do bispo diocesano que Seguiu depois como bispo coadjutor dos bispos auxiliares, goza do direito dinamização das comunidades e na atinja essa idade. para a Diocese de Beja, a pedido de de suceder ao bispo diocesano busca de vocações. O novo bispo de Beja, de 67 anos, D. António Vitalino, que em diversas quando este cessa as suas funções. “Estamos num tempo de mudança e exercia até agora a missão de ocasiões se manifestou sobre a A mudança aconteceu hoje de forma mais do que tentar remendar o coadjutor, para a qual foi nomeado necessidade de contar com um automática, de acordo com o tecido eclesial que herdámos é pelo Papa Francisco a 10 de bispo coadjutor a quem possa cânone 409 do Código de Direito fundamental fazer uma sementeira outubro de 2014. confiar a sua missão quando Canónico. nova”, salientou o responsável Em relação ao seu antecessor, D. atingisse os 75 anos. católico em entrevista à Agência João Marcos deixa “uma mensagem ECCLESIA, que apontou como de muita gratidão” pelo objetivo contrariar “uma vivência “acolhimento” que lhe fez e pela cristã débil e rotineira”. “paciência” que teve consigo ao “Aqui, tal como em outras dioceses, longo destes dois anos. há zonas onde há bastante vida “D. António Vitalino foi quem me cristã e há outras em que quase ensinou a exercer o ministério não há. O que temos devemos dar episcopal e quero desejar que, graças a Deus por isso mas os neste tempo mais sossegado que tempos que vivemos pedem-nos ele irá usufruir, assim o pensamos, uma refundação da Igreja Católica, que o Senhor o abençoe e o ajude a capaz de enfrentar os desafios que viver sempre numa intimidade este século XXI nos coloca”, sempre maior com Deus”, reforçou. completou. D. João Marcos sucedeu esta D. João Marcos é natural da quinta-feira a D. António Vitalino Diocese da Guarda; frequentou os como bispo da Diocese de Beja, seminários do Patriarcado de depois do Papa Francisco ter Lisboa, sendo ordenado sacerdote aceitado a renúncia deste último no a 23 de junho de 1974 por D. dia em que completou 75 anos de António Ribeiro; a ordenação idade. episcopal aconteceu a 23 de novembro de 2014, 44 45

Mensagem à Diocese de Beja Caríssimos irmãos e irmãs, filhos e que vivem sós e isoladas: desejo ser filhas no Senhor para todos vós a presença amiga do nosso Bom Pastor, Jesus Cristo, que Como foi noticiado, Sua Santidade o nos ama com o mesmo amor divino Papa Francisco aceitou o pedido de que recebe do Pai. resignação do Senhor D. António Saúdo ainda as autoridades civis e Vitalino, pelo que sou eu agora, por militares dos concelhos do Distrito vontade de Deus, o vosso pastor. de Beja e dos concelhos de Quero agradecer publicamente ao Santiago do Cacém, Sines e Santo Padre a confiança que Grândola, do Distrito de Setúbal, deposita na minha pessoa, ao que integram a diocese de Beja. colocar-me à vossa frente como Porque servimos as mesmas bispo diocesano. populações, conto com a ajuda de Agradeço também ao Senhor D. todos e a todos ofereço também a António Vitalino que durante os dois minha colaboração, dentro daquilo últimos anos me foi introduzindo na que é normal esperar de um bispo realidade desta diocese e me da Igreja Católica. ensinou a exercer o ministério Àqueles que me perguntam quais episcopal. Desejo, do fundo do são os meus projetos, apenas posso coração, que o Senhor o responder que venho para edificar recompense por todo o bem que me convosco a comunhão eclesial, a fez neste tempo, e, sobretudo, pela Igreja, por meio da evangelização, sua dedicação à diocese de Beja ao da liturgia e da ação pastoral. Nesta longo de todo o seu pontificado. hora de grandes mudanças, todos Saúdo, antes de mais, os sentimos a urgência de uma sacerdotes e os diáconos, meus evangelização básica que, em vez colaboradores mais próximos, e os de procurar remendar o tecido religiosos e religiosas que vivem e eclesial quase desfeito que trabalham na diocese, herdámos dos tempos da enriquecendo-a com a diversidade cristandade, proporcione aquela dos seus carismas. Dirijo também a renovação minha saudação a todos e a cada profunda preconizada e preparada um dos católicos praticantes e não pelo Vaticano II, pela qual praticantes, às famílias, aos jovens, os últimos Papas têm aos idosos, aos doentes e, sobretudo, às pessoas 47 46

interceder por nós e nos dar o as proposições do Sínodo Espírito Santo. Quando há dois Diocesano recentemente celebrado. anos cheguei a Beja desejei, e Vamos também preparar-nos para ainda agora continuo a desejar, não comemorar festivamente em 2020, ter no meio de vós outra sabedoria com a ajuda do Senhor, os 250 anos a não ser Jesus Cristo, e Jesus da restauração da diocese. Quanto Cristo crucificado. (1Cor2,2) Eu ao mais, vamos trabalhar acredito no Evangelho e sei que o humildemente na consolidação dos futuro da humanidade está fundamentos do edifício eclesial que esboçado no Sermão da Montanha o Senhor quer levantar connosco que o resume. Como São Paulo, para podermos enfrentar as também eu quero afirmar perante grandes tempestades que se pugnado, e que tanto nos tem sido Evangelho de Jesus Cristo Filho de vós neste momento, com a firmeza desenham no horizonte deste século recomendada por eles. Deus e da Virgem Maria, de que sou capaz, que não me XXI. A única riqueza que vos trago e vos desprezado e morto na Cruz, envergonho do Evangelho (Rm 1, Acredito que não nos faltará a ajuda quero dar abundantemente é o ressuscitado e glorificado à direita 16). Tenho experiência de que nele do Senhor, porque ao longo da do Pai para se manifesta o poder de Deus que minha vida sempre experimentei e conduz da fé para a fé (Rm 1, 17), confirmei que Ele é fiel e de uma fé infantil, muito ao nível da acompanha, por meio do seu religiosidade natural, para aquela fé Espírito, aqueles que envia. adulta que frutifica pela Confio o meu ministério à frente caridade (Gal 5, 6), fé que se cultiva desta diocese a Nossa Senhora, de e testemunha na comunhão da cujas aparições em Fátima vamos Igreja. celebrar o centenário, a São José, Quero ser para todos um sinal vivo padroeiro da nossa diocese, a São da esperança cristã, sobretudo para João XXIII e a São João Paulo II, que tantos de vós que atravessais tomei como protetores no dia da momentos difíceis porque estais minha ordenação episcopal, e ao desempregados, doentes ou tendes mártir pacense São Sesinando. desfeita a vossa vida familiar e Conto com a vossa colaboração e sofreis a solidão e carências de oração para poder apascentar-vos ordem material e espiritual, e peço a com aquele amor e sabedoria que Deus a graça de ser manifestador tornarão suave o jugo que hoje é da Sua misericórdia para quantos colocado sobre os meus ombros. habitam e trabalham no Baixo Acreditai que é grande o lugar que Alentejo e no Alentejo Litoral. tendes no meu coração de pastor. Vamos dar continuidade ao trabalho O Senhor vos abençoe! do Senhor D. António Vitalino, procurando traduzir na vida da Beja, 3 de novembro de 2016 diocese D. João Marcos 48 49

Mensagem ao Clero da Diocese de Beja no meio de vós, sou o mais fraco de Paróquia numa Casa e Escola da Queridos Padres e Diáconos, da Ordem dos Bispos para apascentardes a grei do Senhor sob todos, o menos digno de honra e Comunhão, verdadeiros oásis de Por vontade de Deus, não por a ação do Espírito Santo, o menos decoroso. Não digo isto Misericórdia, como nos pede o Papa minha vontade, sou posto à vossa anunciando o Evangelho, por uma oportuna e falsa Francisco na Bula Misericordiae frente como Cabeça, Pastor e celebrando os sacramentos, orando, humildade, mas para que não deixe Vultus. Esposo da Igreja de Beja pelo nosso configurando-vos com Cristo. de ser claro para mim e para vós Renovo o convite para que no dia amado Papa Francisco. Saúdo-vos As palavras que neste momento me que obedecendo-me, é ao próprio 13 de Novembro nos reunamos a todos na caridade de Cristo, que ocorrem e me parecem mais Senhor que obedeceis. Sois as todos em Beja para encerrarmos nos amou, que Se entregou a Si adequadas para mim e para vós são minhas mãos e os meus pés, sede solenemente o Ano Jubilar da mesmo por cada um de nós e nos estas da Primeira Carta de São meus cooperadores, na verdade e Misericórdia e agradecermos ao constituiu como Apóstolos à frente Paulo aos Coríntios: Não pode o na caridade. E se vedes que a Senhor o pontificado do Senhor D. das comunidades cristãs da nossa olho dizer à mão: Não preciso de ti. cabeça está coroada de espinhos, António Vitalino que, como vós Diocese. Nem tão pouco pode a cabeça dizer não estranheis que também as próprios testemunhastes, Agradeço-vos a amizade com que aos pés: Não preciso de vós. Pelo mãos e os pés sejam cravados. apascentou esta Diocese com tanto me acolhestes desde o primeiro contrário, os membros do corpo que Rezai por mim, para que as minhas amor e dedicação. momento da minha nomeação como parecem mais fracos são os mais debilidades e deficiências não sejam O Senhor vos abençoe, vos bispo coadjutor, amizade que se foi necessários, e aqueles que impedimento para a ação do fortaleça e vos guarde no Seu santo consolidando ao longo destes dois parecem menos dignos de honra no Espírito. Sejamos solícitos e serviço, assim como às anos. Saúdo-vos agora com corpo são os que cercamos de próximos uns dos outros, para que o comunidades a que presidis. redobrado afeto, consciente de que maior honra e os nossos membros Senhor, com a nossa colaboração, sem vós, sem uma comunhão menos decorosos nós os tratamos possa transformar esta Igreja Beja, 3 de novembro de 2016 autêntica e cultivada entre nós com maior decoro. Deus dispôs o Diocesana e cada D. João Marcos todos, o meu ministério episcopal corpo de forma a conceder maior pouco ou nada será. Sendo eu, honra ao que é menos nobre, a fim ainda que muito indignamente, a de que não haja divisão no corpo, cabeça e os olhos da Igreja mas todos os membros tenham igual diocesana, vós sois as minhas mãos solicitude uns pelos outros. Se um e os meus pés: pés calçados com o membro sofre, todos os membros zelo para procurar as muitas partilham o seu sofrimento. Se um ovelhas perdidas e para levar a membro é honrado, todos os todos o Evangelho da salvação, e membros compartilham a sua mãos para acolher e abençoar, para alegria (1Cor 12, 21-24.26). trabalhar e servir os irmãos. Como Lembram-me estas palavras que eu, prometestes no dia da vossa agora revestido de honra e de ordenação, sois cooperadores poder 50 51

O Acto e o Destino mas, acima de tudo, há que culturais e espirituais, à luz de uma recuperar o tempo perdido, pastoral esclarecida, projectada encarando o porvir de forma sobre o nosso tempo. Como figuras coerente. Prestes a iniciar um novo tutelares desta revisitação, perfilam- ciclo de três anos, a equipa do se os vultos de três bispos: D. Fr. Departamento do Património Manuel do Cenáculo, o primeiro 2016 foi, em certa medida, um suspensão de projectos e Histórico e Artístico da Diocese de titular da cátedra bejense; D. José annus horribilis na vida do candidaturas a fundos comunitários Beja voltou à actividade no terreno do Patrocínio Dias, o “reconstrutor” património religioso na Diocese de para a reabilitação de monumentos e dirige o olhar, agora, para uma da vida diocesana após uma longa Beja. Circunstâncias de diversa e museus, com todos os data que se situa um pouco mais agonia; e D. Manuel Franco Falcão, ordem impuseram-se ao trabalho já impedimentos daí resultantes; e uma além desta meta: 2020. Perfar-se- um dos agentes essenciais da sua consolidado e fizeram eclodir vaga sem precedentes de furtos nas ão, então, 250 anos sobre a contemporaneidade, qual fíbula viva problemas imprevistos: intervenções paróquias, que causou, entre outros (re)fundação da Diocese, criada em entre o passado e o presente. efectuadas sem supervisão técnica prejuízos, o desaparecimento de 10 de Julho de 1770 pelo papa Na óptica do património diocesano, em diversas igrejas e obras de arte, bens culturais significativos para a Clemente XIV, com a Bula “Agrum aproxima-se indubitavelmente um algumas das quais classificadas; identidade das comunidades. Universalis Ecclesiae'. triénio de intenso trabalho, em que Com discernimento e serenidade, há A celebração de uma efeméride com aos tradicionais desafios do sector – que retirar ensinamentos da a magnitude da que consideramos inventariar, defender e valorizar os conjuntura que esteve na génese de não se pode esgotar na amnese bens culturais – se impõem, cada tal situação, nostálgica de fastos pretéritos. Pelo vez com maior força, duas outras contrário, ela oferece uma prioridades. Uma consiste em dar oportunidade privilegiada para se voz a esse património, seja ele avaliar, com profundidade, a imóvel, integrado, móvel ou situação da Igreja na região. Mais: imaterial, abrindo-o à sociedade, coloca um repto sério ao para que transmita, sem pechas, a conhecimento (e reconhecimento) sua de todo um conjunto de valores 52 53

mensagem de fundo, quantas vezes questão: num território em que escamoteada ou silenciada, numa cresce sensivelmente o número de “aldeia global”, atenta às razões da visitantes, continua a ser difícil fé, mas com crescente dificuldade aceder às igrejas e a outras em “lê-las”. A outra, complementar referências do “parque desta, reside em incrementar a monumental”, tal como continua a ligação de tal herança a um faltar informação de qualidade, em desenvolvimento sustentável da diversas línguas. Fala-se muito na região que ela serve (e que nela se retaguarda da hotelaria e da revê). restauração, mas a vanguarda do Sem a firme aportação das acolhimento permanece obsoleta, comunidades locais, não existe mesmo quando são cada vez mais futuro, a médio e a longo prazo, os voluntários disponíveis para para muitos dos nossos colaborar. Eis um campo em que vai monumentos e respectivos acervos. ser necessário terçar armas, até Isto obriga a apostar no diálogo, a porque algumas entidades trabalhar em rede, a viabilizar responsáveis pelo seu complementaridades. Deixou de enquadramento tropeçam haver lugar a “capelinhas” na sistematicamente nas próprias gestão de um património colectivo pernas. cujo desenlace está vinculado, A temática mariana oferece, em claramente, à capacidade de 2017, um notável fio condutor para interagir com o Estado, as a redescoberta diocesana de tão autarquias e as “forças vivas” da extraordinário legado espiritual, região. Daí a importância de muito arreigado entre nós. projectos como o Festival Terras Constituirá também, decerto, sem Sombra de Música Sacra, uma excelente oportunidade para nos iniciativa da sociedade civil que une aproximarmos de 2018, o Ano o património cultural, a música Europeu do Património Cultural, em religiosa e a biodiversidade; a rede cuja celebração o Departamento do diocesana de museus, hoje com oito Património da Diocese de Beja está, unidades; ou o Centro UNESCO desde os primórdios da iniciativa, para a Arquitectura e a Arte assaz empenhado. Quanto a 2019, Religiosas, sediado em Santiago do será uma preciosa rampa de Cacém. lançamento para o ambicioso Em cima da mesa continua a programa de 2020. magna José António Falcão Diretor Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja 55 54

As distâncias que é preciso No fim do passado ano pastoral percorrer para chegar às periferias encerrou-se o primeiro Beja, uma diocese em caminho territoriais da diocese, sendo Sínodo diocesano. Foram três anos penosas a muitos títulos, são bem de trabalho intenso com grupos de O presente precisa sempre de uma discreta e do ardor missionário de mais fáceis de ganhar do que reflexão pela diocese inteira. incursão na história para a sua bispos como D. Manuel Falcão e D. chegar àqueles muitos que ou não Durante a sua realização foi claro o compreensão. Assim é com a António Vitalino que acaba de ouviram falar de Jesus ou, se desejo de uma maior participação diocese de Beja restaurada em entregar esta Igreja diocesana ao ouviram, não chegaram a deixar-se dos leigos na construção de uma 1770. Quem quiser encontrar uma cuidado pastoral de D. João Marcos. enamorar por Ele. Por outro lado, as Igreja viva, mistério da salvação de explicação objetiva da situação atual Mas o tempo também faz parte da populações da diocese não são Deus para os povos do Alentejo. da diocese, não pode passar por dinâmica de desenvolvimento e do uma exceção àqueles que, por esse Muito se contestou, muito se cima das vicissitudes por que progresso na fé dos povos. Nestas país fora, vivem uma religião sem desejou em ordem à mudança para passou nesses longos anos, em que circunstâncias, restaurar é, quase prática, uma fé sem Cristo, uma vida uma fé cristã viva, esclarecida e os bispos se sucediam quase sempre, começar de novo como sem valores. Como fazer-lhes um adulta. Dele ficaram propostas anualmente, ou residiam fora ou aconteceu ao longo da história da anúncio que tenha escuta e exequíveis que poderão inspirar nem sequer chegavam a tomar diocese. resposta, é a pergunta que nos projetos para uma pastoral de posse. Este dado histórico prestou- As alterações políticas por que colocamos? renovação da diocese. Mais uma se a muitos desvarios de toda a passou o país, tiveram também forte A desertificação humana vez, será um começar de novo sem ordem, inclusive à instalação de um repercussão no Alentejo e persistente, perante o manifesto perder o caminho já feito. clero sem bases sólidas na teologia naturalmente na vida da diocese. desinteresse ou a incapacidade dos Este é mais um ano para defrontar e com deficiente formação espiritual. Alguns leigos inseridos em poderes políticos, nacionais ou novos desafios, percorrer novos Só a partir de 1922, com a entrada atividades pastorais abandonaram o locais, de encontrar formas de caminhos. A celebração do de D. José do Patrocínio Dias, a seu campo de trabalho e foi valorizar o território com meios que centenário das aparições de Nossa diocese teve estabilidade episcopal, necessário um tempo de adaptação permitam a fixação e respondam Senhora em Fátima, é ocasião para formação adequada do clero, às novas realidades sociais e aos interesses de realização a realização de um ano pastoral em organização administrativa eficaz e políticas, até se restabelecer a pessoal, torna difícil a que «Com Maria seremos Igreja evangelização sistemática. A sua confiança no desejo comum de fazer evangelização. Os núcleos Viva», grande desafio para um ano ação fundada numa fé profunda, caminho no respeito mútuo e na populacionais são cada vez mais pastoral na descoberta e construção numa confiança ardente no poder colaboração ativa. reduzidos, o envelhecimento da Igreja, tomando Maria como do Espirito santificador e num Neste ano corrente, a diocese de crescente reduz a capacidade típica modelo. intenso programa de ação pastoral, Beja, a segunda em extensão de uma população jovem para transformou o panorama desolador territorial, dispõe de cinquenta e responder aos desafios da fé. Padre António Domingos Pereira de uma Igreja sem rumo. cinco padres no ativo, dos quais Novas formas de trabalho são Vigário-geral da Diocese de Beja A partir e na sequência desse treze religiosos, com uma média precisas para responder a uma grande obreiro, D. José do etária, no total, de 58.8 anos. situação social que tende a agravar- patrocínio Dias, restaurador de uma se. diocese carente de tudo, tem a diocese beneficiado da inteligência 56 57

à semelhança de Jesus. Na seus residentes, o que faz lembrar A Diocese de Beja em tempos de verdade, a Diocese de Beja reveste- uma catástrofe social. Por outro se de grande complexidade. Com lado, apesar de Bispos ilustres mudança 12.300 Km2, as distâncias são terem pastoreado a diocese, a enormes: de Beja a Barrancos são herança liberal, maçónica e No dia três do corrente mês de funções de Bispo titular a três de 112 Kms; de Beja a Sines são 100 e anticristã deixou raízes que novembro, D. António Vitalino novembro. A treze, no termo do Ano 90 de Beja à fronteira do Algarve. A perduram. Gerações e gerações de Dantas completa 75 anos, as Bodas Jubilar da Misericórdia, a diocese vai desertificação humana é um grande alentejanos nasceram, cresceram e de Diamante. Ordenado Bispo a três dar graças e manifestar ao imponderável que se abate construíram as suas vidas, sem de Julho de 1996, com o título de Aniversariante a sua profunda instintivamente sobre as povoações, referência a Cristo e à Igreja. Isto Flos e Bispo auxiliar de Lisboa é gratidão pelos dedicados serviços roubando-lhes esperança e alegria. repercute-se, em especial, no nomeado Bispo de Beja, pelo Papa prestados à frente dos seus Na década de sessenta do século desinteresse que têm pela S. João Paulo II, a vinte e cinco de destinos. O Programa é como passado a Diocese tinha 350.000 educação cristã dos filhos. Há uma Janeiro de 1999, onde entra segue: 15h00 – Sessão no Auditório habitantes, hoje são 211.496. No forte religiosidade natural e uma solenemente a onze de Abril. Depois do Seminário de Beja, com último quartel do mesmo século, o devoção a Nossa Senhora, a de dezassete anos à frente dos intervenção de uma leiga, uma concelho de Mértola perdeu mais de “Santinha”, que se alimenta com a destinos da diocese, pediu ao Papa jovem, uma religiosa e um metade dos festa anual Francisco a sua renúncia, por limite sacerdote. Duas peças musicais do de idade, a qual foi aceite, Coro do Carmo e do Coro de sucedendo-lhe o seu Bispo Câmara de Beja. Um diaporama Coadjutor, D. João Marcos. O novo sobre a vida do Senhor D. António e Bispo de Beja foi ordenado na Igreja uma palavra final do homenageado. de Santa Maria de Belém, a vinte e 16.30 – Cortejo litúrgico da Igreja de três de novembro de 2014, tendo Santa Maria para a Sé e solene entrado solenemente na diocese concelebração eucarística, presidida oito dias depois. Os dois Bispos, na por D. João Marcos, novo Bispo mensagem dirigida à diocese, falam Titular da Diocese. No termo da assim da mudança: - «Mudam os celebração será entregue ao Bispo pastores, mas permanece o único Emérito de Beja uma lembrança, Pastor. Parafraseando S. Paulo: preito de gratidão dos seus “nós não olhamos para os pastores diocesanos. visíveis mas para o Invisível: os visíveis são passageiros, ao passo O SEU ZELO DE PASTOR que o Invisível é eterno”. Jesus Cristo Nosso Senhor é o Pastor Quero lembrar que o essencial na eterno, o Bom e o Belo Pastor que vida da Igreja não são os meios vos apascenta, cheio de amor e de ricos da contabilidade e da sabedoria, por meio dos pastores estatística, mas a atitude de quem da Igreja».Por limite de idade, D. dá a vida por amor, António Vitalino cessa as 58 59

e alguma superstição. Foi nesta Carmo, Beja, fiquei impressionado apresentadas e aprovadas na revolucionário do Alentejo Verde, terra de“sequeiro” que o Senhor D. com a dinâmica imprimida e com o sessão de encerramento no dia não pode deixar de ser um grande António procurou “regar” com a sua diálogo estabelecido com as quatro de Junho do ano corrente desafio para a Igreja que tem a oração e ação. Tomou a peito instituições civis sediadas na área irão alimentar os programas água viva do Espírito Santo. Como arrumar a casa nos aspetos da paróquia, escutando anseios e pastorais diocesanos dos próximos pintor, a missão do novo Bispo é organizativos e administrativos, aplaudindo êxitos, partilhando anos. pintar Jesus no coração de cada informatizando a Cúria e serviços problemas e a todos deixando crente, pelo pincel da Palavra de diocesanos. Pôs todo o seu palavras de apreço, estímulo e Deus. Com o vasto e apaixonante empenho nas chamadas missões gratidão. Na paróquia conviveu com D. JOÃO MARCOS, NOVO horizonte do mundo da arte e a populares e nas visitas pastorais. todos os grupos, escutando e mais-valia da sua experiência como Quando em Abril de 2008 fez a visita apontando caminhos. O Sínodo BISPO DE BEJA pároco, catequista itinerante do pastoral à paróquia do Diocesano, o primeiro da Diocese, O Alentejo vive, atualmente, a maior Caminho Neo-catecumenal em deve-se ao seu inconformismo revolução da sua história. A água do Portugal e no Brasil, e Diretor perante a apatia reinante. Por ele Alqueva vem transformar o Espiritual dos Seminários dos Olivais pretendeu acordar, sensibilizar e alentejano de criatura em criador, e Redemptoris Mater, o novo Bispo lançar a Diocese para uma pastoral pela ferramenta da água que tem à está firmemente convencido que o mais dinâmica e responsável, menos sua disposição. São 120.000 ha, futuro da Igreja Diocesana depende clerical e mais eclesial. O início foi a dos quais 80.000 já irrigados e da qualidade da pedagogia da convocação de cerca de quinhentos 40.000 em vias de irrigação. O Iniciação Cristã que se conseguir e cinquenta padres e leigos. As sistema apanha 66% dos implantar. Por isso se faz catequista propostas agricultores. Olivais, vinhas, semanal desta experiência piloto. pomares, milho, papoila para fins terapêuticos, mudam o visual do Padre António Aparício Alentejo e o ritmo de vida das Diocese de Beja pessoas ligadas ao campo. Este dinamismo 60 61


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