Diário de uma quarentena Extraindo algo bom de um tudo ruim Jessica Thayrine
Desacelerei! Que momento... É incrível como o reconhecimento interior acontece quando paramos. Desaceleramos. Nunca me ouvi tanto. Em meio a situação desoladora, o jeito foi firmar o toco, ver o que dá pra tirar de tudo isso. Deu certo. Me conheço mais do que nunca e decobri que tenho até um pouco de controle da vida... Ôba!
Pois bem... O que mais rolou foi mix de pensamentos, coisa inútil e reflexão. Nuuu! Coisas que cansei de ouvir, que até martelavam na minha cabeça. Na maioria das vezes quem manobrava o martelo era eu mesma. Acordei. É... me preocupo com todos, mas não estão nem aí pra mim. Beleza, bora equilibrar. Em um curto tempo viajei pra tudo que é lugar. Por toda a América Latina, sem mal sair do meu quarto. Café virou água. Se eu chegar nos 50 na velocidade que cheguei nos 25, ferrou.
Mais um dia... Impeachment? Ainda não. Caiu mais um ministro. Fiquei deprimida sem precisar me explicar pra ninguém. Que libertador! Não precisei inventar desculpas para não ir nos rolês. Porque quem tem amigo sensível é ouvir um \"vc nem me ama\" direto. Quantos filmes! E aqueles documentários que a gente fica bobo de tanta informação escondida?! Descobri que o moço da padaria que chamei a vida inteira de João se chama Marrone. Não volto lá tão cedo. Tem tempo que não controlo bem os dias da semana. Quase não sei que dia é o que.
Por fim... Aprendi que não preciso de muitas coisas lá de fora. Muito ♥do que preciso já tenho comigo. E nem é material Não estamos no mesmo barco. O que foi momento de paz e aprendizagem pra mim, foi momento de tormenta para outros. Váriosss não tem condições nem de seguir as orientações de segurança. Enaltecer o discurso da equidade, gente! Aprendi que não precisamos estar em movimento o tempo todo. Parar. Ir devagar. Também é sair do lugar. Não preciso estar presente o tempo todo. Respeitar nosso espaço é valioso. Dá saude. A arte... que valor! Imagina esse momento sem música, sem filme, poesia, livro! Que tenha seu devido valor após tudo isso. Ela liberta, engrandece, nos faz comunicar, acalmar, aprender... Uma verdadeira terapia. Tenho certeza que de agora em diante colocarei mais em prática a música poética do querido Cartola: Deixe-me ir. Preciso andar Vou por aí a procurar Sorrir pra não chorar Quero assistir ao sol nascer Ver as águas dos rios correr Ouvir os pássaros cantar Eu quero nascer quero viver Se alguém por mim perguntar Diga que eu só vou voltar Depois que me encontrar (Cartola - Preciso Me Encontrar)
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