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Identidade Ambulante

Published by mateusagostini10, 2017-12-05 13:41:50

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Identidade ambulante

Parque Muni Começava, antes mesmo da determi- cipal nação de Belo Horizonte como município, a história do Parque Municipal, 122 anos atrás, quando a comissão responsável pelo proje- to da cidade decidiu fazer de uma chácara, existente no meio da área que a futura cidade ocuparia, um centro de lazer e preservação ambiental. A região estava prestes a se tor- nar uma metrópole, que, com seu crescimen- to, empurraria para longe de sua área central o verde que até então era prevalente ali, e a busca se deu por um ponto ideal, para que isso não se perdesse. A seleção da Chácara do Sapo foi feita por ser ela uma área com um enorme potencial de biodiversidade vegetal, com um projeto de dois anos que inaugurou o parque no mesmo ano que a cidade. O parque serviu como residência para o arquiteto paisagista Paul Villon, responsável pelo projeto, e para o engenheiro encarrega- Projeto de dois anos que inaugurou o parque no mesmo ano que a cidade.

O nome atual se deu tro. O nome atual, Américo Renné Giannetti, se deu quase cinquenta anos após a fundação do parque, em homenagem ao prefeito respon- quase cinquenta anos após sável pela primeira grande reforma do espaço, com tratamento e recu- peração da água, das alamedas e dos jardins, além da implementação a fundação do parque. da fonte luminosa e da concha acústica para concertos e, nos anos seguintes, a construção do Orquidário Municipal e do Palácio das Ar- tes, últimas novas aquisições no parque, que, devido ao tombamento posterior, só viu reformas para conservação e readequação de aces- sibilidade e preservação do ambiente - sendo a mais recente destas a construção das Cascatinhas, que transpuseram a nascente da Fun- do da comissão construtora, Aarão Reis, pelo tempo em que o planeja- dação Hemominas, parte do projeto original do parque, para abaste- mento e transferência da capital para a cidade planejada de Belo Hori- cer as lagoas do Quiosque e dos Marrecos no lugar de desaguar no zonte estiveram em andamento. Conta com árvores hoje centenárias, Ribeirão Arrudas. que foram plantadas ainda em seu processo de fundação. São cerca Na época de sua construção, o Parque Municipal possuía cerca de 280 espécies, que são moradia para mais de 100 espécies de aves. de 600 mil metros quadrados, tendo quase toda sua perda de área Em 1898 foi inaugurado o Velo Club, para a promoção de festas es- ocorrido após 1905, quando da chegada da Estrada de Ferro Central portivas diversas, usando a área do parque. Foi construído o pavilhão que se tornaria, eventualmente, o Teatro Francisco Nunes, para que o público acompanhasse os eventos de corridas a pé, a nado, de bicicleta e velocípede, além de partidas de futebol - foi no parque a criação do Clube Atlético Mineiro, em 1908, por um grupo de estudantes que decidiu usar o espaço que viria a se tornar o coreto como o de sua fundação. Durante a década de 20 as atividades no par- que se expandiram ainda mais, passando a incluir a Estação dos Bondes (Mercado das Flores), a qua- dra de tênis, o coreto e a pista de patinação, com o Bar do Ponto tendo sua influência ampliada para a área interior do local. Nas décadas seguintes ainda se somaram diversas outras atividades esportivas no repertório do Parque, de peteca a remo; além de atividades de piano ao ar livre. Com a dissolução do Instituto de Belas Artes, Alberto da Veiga Guignard ainda transferiu seu curso para as dependências do parque, poucos anos antes da inauguração do Tea-

do Brasil na cidade, que signifi- cou seu corte. Um dos lados do parque tornou-se parte do Bair- gos, a Feira Hippie. Essa acontece na porta do local e expande sua in- ro Floresta e outra grande por- fluência internamente, pela facilidade de deslocamento do público de ção foi cedida para a constru- ambos espaços de um para o outro. ção da Faculdade de Medicina Vê-se a evolução histórica por meio dos serviços que se colocam da UFMG e da região hospitalar. de forma mais permanente no parque, os quais, com o passar do tem- Partindo destes maiores blocos po, tiveram sua demanda afetada, como é o caso dos lambe-lambes. e adiante perdendo para cons- Com o desenvolvimento da tecnologia das câmeras fotográficas, que truções diversas nos arredores, hoje estão sempre no bolso das pessoas, esses profissionais do par- o parque chegou em 1975 já que estão cada vez com menos clientes e caminhando para a extin- com 182 mil metros quadrados, apenas, da área original. Ele foi, então, ção, ainda que seu trabalho não consista numa simples foto, mas numa tombado como patrimônio histórico e artístico de Minas Gerais, garan- viagem ao passado repleta de nostalgia e memórias. tindo a preservação da área verde que ainda se mantém atualmente. Assim como todo o Parque Municipal. Ainda nos dias de hoje, o parque conta com uma visitação mensal de 500 mil pessoas. Tamanho fluxo de visitantes se deve à diversidade de atividades recreativas realizadas ali, às quais se soma, aos domin-

Vendedores anos, muitas coisas mudaram ali, principalmente o público que fre quenta o lugar. Atualmente, o espaço ambulantes virou palco de muita insegurança, porque muitos usu- ários de drogas e moradores de rua fizeram dali sua casa, e infelizmente eles acabam sendo violentos em diversas situações ou acabam repelindo a freguesia, que se vê intimidada por essas pessoas. Eles recla- Parte da história contada pelo Parque Municipal maram que os que deveriam fazer a segurança do lo- foi e continua sendo escrita pelos seus vendedores cal estão ali como enfeites, e não exercem realmente ambulantes. Por meio deles, os visitantes do parque a sua função. Além disso, eles também reclamaram podem reviver e produzir novas memórias, que am- do poder público, que deveria estar repassando cer- pliam a experiência proporcionada pelo local. Se não to valor para o parque como incentivo à cultura, mas fosse pela existência desses trabalhadores, provavel- que eles não veem nem sinal. mente o parque deixaria de ser um ponto tão turístico de Belo Horizonte. Com os dois lados de uma mesma moeda, o que real- Para a realização deste trabalho, procuramos nos mente se destacou foi o amor que sentem pelo local acima de aproximar dos vendedores para ouvir o que eles teriam tudo. Construíram uma vida inteira dentro do Parque Munici- a nos dizer. Com poucas e simples perguntas, passa- pal e mesmo com os pontos negativos as boas memórias se mos a ter conhecimento da relação, praticamente fami- destacam, ficam saudosos da época em que se preocupavam liar, que eles possuem com o local. Conversamos com menos. Os próprios conseguem reconhecer a sua importância seis pessoas diferentes: o pipoqueiro, o sorveteiro, a na construção da identidade do parque e consideram-se ele- moça do cachorro-quente, a moça do algodão doce e mentos importantes do lugar. Os vendedores ambulantes são dois lambe-lambes. Todos possuem uma vida ali den- a estrutura que mantém viva uma história de mais de cem anos tro há mais de dez anos, são muitas lembranças de um do patrimônio ambiental mais antigo da capital mineira. tempo que não volta mais. Durante nossas conversas, perguntamos para eles como foi que começaram a trabalhar ali, a maioria respondeu que o trabalho passou de geração em geração, os pais trabalharam ali e quando já não pode- riam mais exercer seus ofícios os passaram para seus herdeiros, que São muitas lembranças disseram que cresceram dentro do Parque. Não diferentemente dos pais, tiveram seus próprios filhos e seguiram a tradição, agora trazem de um tempo que eles para desfrutar do parque e aprender seus ensinamentos. Apesar dessa ser uma das perspectivas que nos foram apresen- tadas, nem tudo são flores. Mesmo com todo o carinho que possuem não volta mais. pelo local, alguns disseram que só continuam ali por falta de opção de emprego em um lugar melhor. Nos contaram que, com o passar dos













Abr Convenhamos que não conheço um lugar igo com tantas cores, sons e cheiros diferentes como o parque. Flores por todo lado, algodão doce, crianças gritando, pipoca, correria, verde para todo lado, respingos de fonte, sons duvi- dáveis dos antigos brinquedos... Os mesmos de sempre. Entretanto, dia desses me surpreendi quando voltei para aquele lugar depois de tanto tempo. Tudo pareceu tão diferente, mas ao mes- mo tempo tão igual. Lembro-me de quando papai me levava à cidade grande como se fosse ontem. A viagem era longa e cansativa, mas valia cada segundo. Era sempre uma novidade, um mundo novo que se abria na minha frente a cada passo. Aquilo era um pedacinho verde no meio de uma cidade em que eu só via cinza. Era de fato algo mágico. Anos depois, voltei com outros olhos, a antiga cidade cinza agora me acolhia no meu pequeno pedaço de liberdade: a vida morando sem meus pais. O lugar antigamente mágico virou rotina, e com o tempo foi virando apenas um borrão ver- de que passava rápido pela janela do ônibus. Acredito que o momento em que ele recu- perou sua cores foi quando ele se tornou ce- nário da minha primeira relação. As primeiras conversas, os primeiros abraços, as primeiras trocas de carinho. O parque virou meu abrigo, Tudo pareceu tão diferente, espaço que a cada dia se abria para novas experiências. E depois de tudo isso, hoje vejo o parque como um apa- nhado dessa infinidade de memórias, diversos momentos e mas ao mesmo tempo sentimentos morando em um só lugar. No fundo, acredito que o parque continuou o mesmo, tão igual quem passou foi o tempo, e quem mudou talvez fui eu.

Diagramação Carolina Senna e Leticia Fiuza Fotografia Alice Gonçalves e Marina Nadu Edição de imagem Alice Gonçalves Autores Alice Gonçalves, Luiza Freitas, Marina Nadu e Isabela Castro Publicação e Mockup’s F Mateus Agostini i m.


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