________ A ________ REVITALIZAÇÃO D_E__U_M__A__C_O__M_U__N_I_D_A_D_E CARTAS DO BRASIL
Bodo Schulz ________ A ________ REVITALIZAÇÃO D_E__U_M__A__C_O__M_U__N_I_D_A_D_E CARTAS DO BRASIL 1ª edição Tradução: Dilmar Devantier Curitiba/PR 2020
Bodo Schulz A REVITALIZAÇÃO DE UMA COMUNIDADE Cartas do Brasil Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Tradução: Dilmar Devantier Título original: Eine tote Gemeinde wird lebendig Briefe aus Brasilien von Pfarrer Bodo Schuls Revisão: Sigolf Greuel Josiane Zanon Moreschi Capa: Endrik Silva e Ruben Benjamim Thiem Diagramação: Josiane Zanon Moreschi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sueli Costa CRB-8/5213 Schulz, Bodo A revitalização da comunidade: cartas do Brasil / Bodo Schulz; tradução Dilmar Devantier. – Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2020. 96 p. Título original: Eine tote Gemeinde wird lebendig ISBN 978- 65-87285-19-1 1. Cartas 2. Igreja – Trabalho pastoral I. Devantier, Dilmar I. Título. CDD-254.1 Índices para catálogo sistemático: 1. Cristianismo : Trabalho pastoral 254.1 Salvo indicação, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia na ver- são Nova Almeida Atualizada © Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores. Editora Evangélica Esperança Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 [email protected] www.editoraesperanca.com.br
Sumário Prefácio para a edição brasileira............................7 Cartas.........................................................................11 Prefácio para a edição alemã.................................13 Carta 1 - Início de 1957..............................................17 Carta 2.............................................................................21 Carta 3 - Auge da crise..............................................27 Carta 4 - Abrange o período de 1959 a 1961, quando é visível um movimento espiritual................................................................31 Carta 5 - Esta carta abrange os anos de 1961 a 1964, com ênfase no cuidado com os “filhos na fé”, os grupos que se reúnem nas casas e o preparo de colaboradores.................................................37 Carta 6 - Período de 1966 a 1968, com ênfase no amadurecimento daqueles que chegaram à fé............................43 Carta 7 - Abrange o período de 1967 a 1969............................................................47
Carta 8 - Abrange o período de 1967 a 1969............................................................55 Adendo I.........................................................................61 Adendo II - Carta aberta à Assembleia Sinodal do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná, 1961.......................63 Posfácio - De volta à Alemanha.............................75 Dados biográficos do pastor Bodo Schulz............................................................83
Prefácio para a edição brasileira Bodo era original. Impossível conversar com ele sem ser impactado de alguma maneira. Ele era intencional em tudo o que fazia. Viveu para servir a Jesus. Conduzir pessoas a um encontro pessoal com o Salvador era o alvo de seu mi- nistério. A partir de seu testemunho, Jesus en- trou na vida de muitas delas e as transformou. A presença do Espírito Santo foi visível em seu trabalho. Sua ousadia e coragem deixaram marcas. Pessoalmente, encontrei Bodo apenas 7 vezes entre 1965 e 2018. Cada um destes en- contros foi especialmente marcante, como uma espécie de retiro espiritual. O primeiro encontro aconteceu por volta de 1965, quando eu tinha sete anos de idade. Bodo havia sido convidado pelo Pastor Edgar Liesenberg, de Pomerode/SC, minha terra na- tal, para uma semana de evangelização. Foi uma semana intensiva. O templo da Comunida- de de Pomerode Centro estava completamente 9
lotado na ocasião. Como era seu costume, a Pa- lavra de Deus foi anunciada com toda clareza. Uma daquelas noites ficou especialmente mar- cada em minha memória. Pregando o Evange- lho ele alertava com respeito a uma prática co- mum entre os pomeranos de então: a idolatria do ocultismo e do espiritismo, convidando as pessoas a um encontro com Cristo. Lembro-me de quando chegamos em casa naquela noite, ouvi meu pai dizer para minha mãe: “Ele pegou pesado”. E minha mãe respon- deu: “Mas ele estava certo”. Aquela semana, mais precisamente aquela noite, foi um divisor de águas para a minha família. Jesus foi acolhi- do em nossa própria casa. A maior parte dos relatos a respeito de Bodo — sua vida, ministérios e testemunho — ouvi em Ituporanga/SC, onde Bodo foi pas- tor de novembro de 1954 a abril de 1969. Ini- cialmente na condição de estudante de Teolo- gia no início dos anos 80 e, mais tarde, como pastor de 1992 a 2006. Em cada uma das Co- munidades da Paróquia em que Bodo foi pas- tor (Ituporanga, Bela Vista, Cerro Negro, Rio Batalha, Rio do Norte, Rio Antinhas, Rio das Pedras, Petrolândia, Vidal Ramos, Atalanta) descobri profundas marcas de sua passagem 10
por ali, sempre na companhia de sua fiel e de- dicada esposa, Dorli. Muitas histórias e muitos testemunhos de pessoas alcançadas pelo Evangelho e de co- munidades luteranas que tomaram a decisão de ser Igreja de Jesus. Os escritos que seguem são um claro indício do agir de Deus naquele período, movido por um homem que aceitou o chamado e entrou na galeria de homens e mulheres que amam mais o Senhor do que a si mesmos. Histórias que apontam claramente para aquele a quem Bodo serviu. Os textos são, entre outros, uma troca de correspondências entre Bodo e o pastor evangelista Joachim Braun, da Alemanha, que passou por Ituporanga em diferentes ocasi- ões neste período. Neste contexto em que o Evangelho produz um confronto entre a tra- dição cultural religiosa reinante e a visão bí- blica de igreja, Braun serve a Bodo como um mentor, um guia espiritual (que todos neces- sitamos) e que ajuda a refletir e a encontrar caminhos. Entre os caminhos que ele aponta merece destaque a orientação: “Leia a Bíblia como se fosse a primeira vez e ore”. Um cami- nho que me parece ser da mais alta relevância hoje, 50 anos depois. 11
Que o conjunto de textos que se segue nos sirva de desafio e inspiração para a missão na qual estamos envolvidos, para revitalizar nos- sas vidas, ministérios, comunidades e plantar novas igrejas. Sigolf Greuel Pastor da Comunidade Encontro 12
Cartas Entre 1957 e 1969, o pastor Bodo escreveu diversas cartas ao pastor Joachim Braun, na Alemanha, retratando a situação e o avivamen- to ocorrido em Ituporanga naquele período. 13
Prefácio para a edição alemã1 A publicação e a distribuição das cartas deste livro de um pastor no Brasil aconteceu graças a pessoas que, constantemente, se afligiam com a pergunta: “Será que o Evangelho ainda tem, hoje, força para transformar o mundo?” Diante dos problemas que surgem através da busca de uma ordem de vida justa e de paz para todos os povos, que está longe de qualquer solução, muitas pessoas são acometidas de resignação paralisante, outras querem usar a violência, guiadas por um espírito revolucionário. No en- tanto, ambas as alternativas significam a des- truição do ser humano. O autor destas cartas, pastor Schulz, co- nhece muito bem os caminhos e as tentati- vas de transformar o mundo com o emprego de todas as forças intelectuais e da vontade. 1 As cartas que seguem foram originalmente publicadas na Ale- manha, em 1970. 15
Como ex-pastor na DDR2 confrontou-se pesso- almente com o materialismo dialético. Ele pas- sou pela implacável escola crítica da teologia moderna. Mas em seus esforços e com o auxí- lio de uma autoconsciência aberta ao mundo, fracassou na tentativa de mudar a mentalida- de e as condições sociais das pessoas. No entanto o pastor Schulz não foi imobi- lizado por essas experiências negativas. Em suas cartas ele relata a respeito da outra gran- de possibilidade. Vivencia a experiência de ver pessoas sendo transformadas e suas condi- ções de vida serem mudadas. Apesar de todas as diferenças históricas e sociológicas entre a situação no Brasil e a nossa, na Alemanha, os testemunhos relatados também nos atingem. Representam uma resposta às nossas pergun- tas e dúvidas e por isso precisam ser divulga- dos e lidos por muitos. Realmente vale a pena o esforço. O mundo necessita do poder transfor- mador do Evangelho. O que pode vir de bom lá do Brasil? Nós respondemos: “Venham e vejam!” Gostaria de ter a oportunidade de poder levar comigo 2 DDR, sigla em alemão da antiga República Democrática Alemã, então separada da República Federal da Alemanha. (N. de Tradução) 16
para Ituporanga, Santa Catarina, no Brasil, os leitores deste livro. Tivemos a oportunidade de conhecer esse trabalho e esses colaboradores, vendo também “sua fé, seu amor e sua respon- sabilidade”. Hoje, refletimos com seriedade sobre o tema “Salvação e transformação do mundo”. Talvez seja evidente que o ser humano pode modificar o mundo — mas ele não pode renová-lo. O elemento propriamente “revolu- cionário” tem sua origem em Jesus. Isso é algo que temos esquecido. Por isso para sermos bem-sucedidos confiamos mais em nossas ide- ologias e esforços do que no Homem de Nazaré. Vivemos em meio a uma crise de confiança no Filho de Deus, testemunhado na Bíblia. Por isso é que as palavras ocupam o lugar da Palavra. Por isso silencia cada vez mais a oração que transforma o mundo. Estas poucas cartas são um testemunho animador para todos aqueles que foram chamados e se encontram no servi- ço de Jesus. Por isso: “Venham e vejam!” Joachim Braun, Pastor 17
Carta 1 Início de 1957 Assim não dá mais! Nossa comunidade deseja apenas que sejam atendidas as suas necessida- des religiosas. As preocupações do presbitério dizem respeito apenas à frequência na igreja. Da tua última visita ao Brasil sabes que as pes- soas aqui ainda frequentam os cultos. O número daqueles que vão à igreja sema- nalmente ainda é grande comparado com o que acontece na Alemanha. Nas cidades, a média de frequência é cerca de 30% do total de membros e nas comunidades do interior, em torno de 50%. Em lugares mais afastados é maior ainda. Diante de uma frequência tão alta, e tendo em vista a situação na Alemanha, poderias apelar para a minha gratidão. É claro, eu me alegro com a igreja cheia, mas após mais de meia dé- cada percebo minha comunidade, nossa vida eclesiástica, com olhos mais sóbrios. É tudo um cenário, uma bela aparência, mas, olhando de perto, revela-se como fraude. 19
Como é que posso fazer um julgamento tão rigoroso? É que não aparecem os frutos da fé. Tudo isso é “cristianismo de domingo de ma- nhã”, que não tem ligação alguma com a vida diária no restante da semana. Os que frequen- tam a igreja não têm comportamento melhor do que seus concidadãos que vivem na perife- ria da igreja, pois também eles tiram proveito do seu próximo nos negócios, exploram seus empregados, não têm sensibilidade para com a assustadora situação de penúria dos caboclos e outros brasileiros marginalizados. Parecem es- tar fazendo um jogo de aparências. Não são sal, não são luz! Seu engajamento só ocorre quan- do lhes trouxer algum benefício pessoal. Para de me consolar com a história da igreja invisível e com a “pobre serva cheia de máculas e rugas”. Não sonho com uma comunidade ideal, cheia de santos perfeitos, semelhantes aos cor- deiros, apresentando já aqui e agora, de forma pura, a igreja triunfante. Isso não existe. Mas eu desejo que além de todas as imperfeições, das máculas e rugas, se possa ver algo da igreja san- ta (Efésios 5.25-27). Com certeza esse é o alvo de Deus para com sua “ecclesia” (igreja)! Na Alemanha, muitas vezes já me chamaram à razão com base no artigo VII da Confissão de 20
Augsburgo.3 Então eu sempre faço a pergunta crucial: Se a igreja não for mais que um clube de pessoas com opinião semelhante, que prati- cam “autossatisfação religiosa”, então a igreja e a religião são ópio, ou melhor ainda, são a cau- sa da corrupção da sociedade. O que é que eu devo fazer? Permitir que me releguem a um mero funcionário religioso aco- modado à situação atual e que se conforma em cumprir o seu dever? Esse seria mais ou menos o ideal de vida de um funcionário público na Prússia: ordem, pontualidade e dedicação ser- vil ao Estado (Direção da Igreja). O que teria isso a ver com a promessa que fiz por ocasião de minha ordenação? E o que tem a ver com a ordem que Jesus deu aos seus seguidores: fa- çam discípulos? Será que Deus está sendo hon- rado quando se mantém tais corpos vivos atra- vés do uso de meios artificiais? Será que é esse o tipo de vida ao qual Jesus se refere em João 10.10? Não seria o caso de que o Pai, de fato, é honrado quando nós trazemos muito fruto e nos tornamos seus discípulos? (João 15.8). 3 Este artigo da Confissão de Augsburgo (1530), a qual faz par- te da base confessional da IECLB, trata do conceito de igreja, afirmando que seus sinais (evidências) são basicamente a pre- gação do evangelho e a ministração dos sacramentos (batismo e santa ceia). (N. de Tradução) 21
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