A Voz de ANTÓNIO VILARDEBÓ UM INDUSTRIAL QUE DEIXOU A SUA MARCA EM PAÇO DE ARCOS JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 35, Junho de 2021 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA
ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA 1 – A VPA é um jornal bimestral de informação geral na área da cultura e Propriedade: Associação Cultural da língua portuguesa, em particular na “A Voz de Paço de Arcos” defesa dos interesses dos habitantes da vila de Paço de Arcos e das localidades Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B circundantes. 2770-167 Paço de Arcos 2 – A VPA pretende valorizar todas as formas de criação e os próprios Direção: Presidente - José M. R. Marreiro; criadores, divulgando as suas obras. Tesoureiro - António Alberto Lopes; 3 – A VPA defende todas as liberdades, Secretário - Francisco Rita Santos em particular as de informação, expressão e criação. Ao mesmo tempo, Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B afirma-se independente de quaisquer 2770-167 Paço de Arcos forças económicas e políticas, grupos, lóbis, orientações, e pretende contribuir E-mail: [email protected] para uma visão humanista do mundo, N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 para a capacidade de diálogo e o espírito Depósito Legal: 61244/92 crítico dos seus leitores. Diretor: José M. R. Marreiro 4 – A VPA recusa quaisquer formas Diretor-Adjunto: José Maria Santos Zoio de elitismo e visa compatibilizar a Subdiretora: Maria Inês Bastos qualidade com a divulgação, para levar a Editor: José Aguiar Lança-Coelho informação e a cultura ao maior número email: [email protected] possível de pessoas. Sede do Editor: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos António Vilardebó com a filha Maria do Rosário Impressão: www.artipol.net Sede do impressor: Rua da Barrosinha, n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal Colaboradores: Ângela Álvares; Alfredo Figueiredo; Amaral Figueiredo; Carlos Aguiar; Carmo Vieira; Eduardo Barata; Fernando Marques; Graça Patrão; João Pinto; João Oliveira; Jorge Castro; José Marreiro; Luís Àlvares; Mafalda Ascenção; M. Barão da Cunha; Maria Mendes; Maria Vilardebó; Mário Matta e Silva; Paulo Mascarenhas; Rogério Pereira; Santos Zoio e Virginia Branco ZFootioo,gDraefsiean: Phaousloe AMgausacraerleansh-aSseerrSãaondtoesFaria Capa: António Vilardebó, fotografia de Paulo Mascarenhas Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Fcoadceebarocooks: www.facebook.com/avozdepa- Publicidade: [email protected] Tel.: 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Subdiretora Honorária: Maria Aguiar 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
EDITORIAL Épara mim, a substituí-lo na função de editor neste um dos fun- número, fazendo votos para que no próxi- dadores da mo número já possa voltar a dar o seu con- Associação Cultu- tributo. Outras referência especiais para ral A Voz de Paço de Maria Aguiar, Santos Zoio, Edgardo Xavier, Arcos, em conjunto Florindo Ferreira dos Santos, e tantos com o outro funda- outros que não poderei aqui referir por falta dor, José Serrão de de espaço, mas que ficarão ligados à história Faria, um enorme da Associação. orgulho ao constatar que passados 6 anos, Estamos a publicar a história do Centená- completados no passado de 23 do corrente rio do CDPA, de autoria de Luís Morais, mês de junho, o nosso projeto, nosso sonho, em cadernos que poderão ser destacados e continua vivo e em desenvolvimento. reunidos em livro, e também, como suple- O progresso registado ficou a dever-se à co- mento, “A Cartuxa”, tendo como objetivo o laboração de muitos associados e amigos acompanhar da Candidatura de Oeiras a que generosamente dão o seu esforço na Capital Europeia da Cultura em 2027. Vol- vida da Associação e na feitura do jornal. taremos a falar mais detalhadamente desta São muitos os associados, e amigos, a quem publicação. agradeço o apoio dispensado, mas terei de Termino com o pedido da vossa atenção destacar alguns casos especiais que são os para o Concurso de fotografia que à frente grandes responsáveis pelo nosso trabalho. anunciamos. Começo por referir o editor José Lança Com o desejo de férias saudáveis e que a Coelho, a atravessar um período menos pandemia que continua a atormentar as bom da sua vida pessoal por razões de nossas vidas seja vencida num curto perío- saúde de pessoa próxima e a quem desejo do de tempo. as melhoras, motivo pelo qual estou agora José Marreiro Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 3
À CONVERSA COM ANTÓNIO VILARDEBÓ Uma Vida em Paço de Arcos piscina da Granja onde passava as minhas férias de verão. E fazia figuras (saltos orna- Sempre achei que havia um paralelismo mentais): ‘anjo’, ‘carpa’, ‘pontapé na lua’ e ‘pa- entre atletas e guerreiros. São fortes, re- rafuso’ ao despique com um amigo. Acho que silientes, corajosos, ambiciosos, aventu- dávamos um bocado de espetáculo, mas com reiros. Assim considero o meu Pai, hoje com bons resultados porque depois as raparigas 93 anos, e com uma história de vida bem re- queriam dançar connosco. cheada de acontecimentos. Maria do Rosário Vilardebó - Viveu a sua M. V. -E então Paço d’Arcos. Conte-nos vida toda em Paço d’Arcos, mas não nasceu como foi. cá... A. V.- Comecei a namorar a Isabelinha António Vilardebó - Vim viver para Paço quando estava a fazer o serviço militar em En- d’Arcos quando me casei com a Isabelinha genharia 1. Acabei o curso de Engenharia civil Batalha Reis. Ela já cá vivia desde os 8 anos de no Técnico e depois pus-me à procura de tra- idade. Eu nasci na Granja, distrito do Porto. balho. Ainda trabalhei na Câmara de Lisboa O meu pai era militar e fez comissões em a fazer projetos, mas não pagavam grande África, na Índia Portuguesa e posteriormente coisa, por isso, quando me falaram de um nos Açores levando a família com ele. Mas a senhor francês que estava a fazer entrevistas maior parte da minha juventude vivi-a em num hotel de Lisboa, fui até lá. Ele pediu-me Lisboa em Santos-o-Velho. que escrevesse num papel os meus dados e a M. V. - Sei que foi um atleta e que por pouco razão porque queria aquele trabalho. Assim participava nos Jogos Olímpicos. Quer fiz, mas quando vi que, sobre a mesa, havia contar como foi? uma pilha de candidaturas, saí da entrevis- A. V.- Desde muito novo que tive contacto ta com pouca esperança. No entanto, meses com o mar, e através da Mocidade Portugue- mais tarde recebi um telefonema dizendo que sa fui fazer vela. E tinha jeito para aquele des- tinha sido escolhido após uma análise grafo- porto pois desde cedo comecei a ganhar as lógica. E foi assim que começou a minha vida regatas, pelo que participei em muitos cam- profissional: a Novembal! peonatos nacionais e internacionais na classe Primeiramente fui para França aprender ‘o de Snipes e de Sharpies12. Foi-me apresen- ofício’. Levei a minha mulher, eramos recém- tada a hipótese de participar nas Olimpía- -casados, e ficamos seis meses. Esse tempo das de 1948 mas preferi ir ao Campeonato do serviu também para sedimentar uma ami- Mundo, nas Ilhas Baleares, onde ganhei o 2º zade para a vida com o tal senhor francês, lugar na classe de Snipes. Houve uma grande Pierre Jean Riboud - foi o meu patrão, mentor festa para a entrega das taças e quando fui e grande amigo. Quando voltei para Portugal chamado para receber a minha taça, que era comecei a construir a fábrica, de raiz - foi a entregue pelo General Franco, ele disse-me única coisa que construí enquanto engenhei- que só ma dava se dançasse com a filha (que ro civil. Estávamos em 1956, e eu já com um era muito alta e me pisou os pés). filho. A escolha do terreno foi na Estrada de M. V. -Mas também dava saltos da prancha Porto Salvo, a meio caminho de Paço de Arcos da piscina... e foi esta a razão que me trouxe a esta terra: É verdade, da prancha de 5m e da de 7,5m, da queria estar perto do meu trabalho. 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
o mercado civil, e em 1965, passados 10 anos do seu início, já fazia a impressão das emba- lagens em tipografia e, mais tarde, em offset e rotogravura. Detergentes, produtos de higie- ne e limpeza. E claro que tivemos que admitir mais operários. António Vilardebó e José Alfaia, ligados pela Vela M. V. -E que desafios foram surgindo? A. V.- Olhe, compreender quais as necessida- M. V. -A Novembal, agora Seda, é uma des que os operários tinham para poderem fábrica que continua no mesmo sítio trabalhar melhor. Por exemplo: os almoços. desde que nasceu, mas as outras que foram Era preciso fazer um refeitório, e assim foi construídas na mesma época-Chambon e feito. Outro exemplo: como havia muitas mu- Autosil-, já não existem. lheres com filhos pequenos e que faltavam A. V.- É incrível, não é? Resistiu a várias crises ao trabalho por não terem onde os deixar, económicas, a 2 fogos, e ainda ali está. Sinto propus aos operários que me ajudassem a um grande orgulho e uma grande alegria construir uma creche, para que pudessem lá sempre que passo por lá de carro. A única deixar os filhos durante o dia. Assim pode- estrutura que concebi e construí ainda está riam ir vê-los à hora do almoço, ou quando de pé. Mas claro que a fábrica se manteve houvesse necessidade (por exemplo quando porque as embalagens que foi produzindo ao estivessem doentes). E correu tudo muito longo dos tempos eram de qualidade. A No- bem. Outro exemplo: ter um posto médico vembal nasce com um único cliente: o Estado com uma enfermeira que pudesse socorrer os Português que precisava de embalagens tu- operários caso houvesse necessidade, e onde bulares para armazenamento e transporte de um médico viesse regularmente. E assim foi munições. O capital inicial era do Estado Por- feito. O Dr. José da Cunha foi um médico tuguês, de uma empresa Francesa, de onde sempre presente na Novembal. Tudo isto foi vinham as máquinas e o know how, e de 2 ac- inovador naquela época. cionistas portugueses, um deles o meu sogro M. V. -Sente que a Novembal foi uma espécie Edmundo Batalha Reis. Os primeiros empre- de filho para si? gados foram contratados: o Luís Querido, que A. V.- Talvez possa dizer isso...nasceu comigo, tinha estado na tropa comigo e que era um cresceu, e tornou-se independente. Dei-lhe homem capaz de resolver qualquer dificulda- muito de mim para a ver crescer e fortale- de, o Renato, depois o Custódio e o Manuel cer. Até um filho que lá ficou a trabalhar e Tavares que trabalhavam no metropolitano que hoje está no meu lugar, mesmo depois de Lisboa, a Maria Adelaide que casou com de ter passado para as mãos italianas e de ter o Custódio, e tantos outros, de que já não me mudado de nome para SEDA. Acho que fiz lembro do nome, que começaram a ser con- um bom trabalho, e sei que fiz muitos amigos. tratados tanto para a parte fabril como para a Quando vou ao Oeiras Parque ou lá abaixo à parte administrativa. vila, por vezes encontro pessoas que me vêm M. V. -A fábrica foi crescendo? falar com simpatia, e a maioria são pessoas A. V.- Sim, a Novembal começou gradual- que me conheceram na Novembal. mente a diversificar a actividade e passou a produzir embalagens e tubo de cartão para Texto: Maria do Rosário Vilardebó Fotografia: Paulo Mascarenhas Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 5
PUBLIREPORTAGEM 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
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CAMINHOS Da Estrada de Paço de Arcos até Caxias - Quinta Real Partimos para este “Caminhos” da Foi, recente- Estrada de Paço de Arcos, em di- mente, aberto reção a Caxias. pela CMO o Tomamos a Rua Conde das Alcáço- concurso para vas, grande benemérito a quem Paço construção dum de Arcos muito deve, e começamos terminal que re- por referir, à nossa esquerda a Creche solva, finalmen- da Ajuda de Mãe, que ocupa a antiga te, esta situação escola primária, e que dá apoio a inadequada, e muitas famílias, nomeadamente com que há mais de serviço de berçário, creche e escola, 20 anos, aguarda para além do acompanhamento das por solução definitiva, já que a previs- mães com mais dificuldades, de modo ta no projeto PIPA (plano integrado de a que a vida dos seus filhos possa ser Paço de Arcos), nunca pode ser imple- apoiada desde o início da gravidez. mentada por razões inerentes ao edifí- cio e às suas características que não o De seguida, registamos mais uma permitem. obra de ampliação e modernização, duma antiga vivenda do Bairro Fonte Fazemos votos para que desta tudo de Maio. Ao lado a pastelaria Queques corra de modo a acabar com esta si- da Linha, que tem angariado pres- tígio e notoriedade com a sua qua- lidade de serviço que atrai cen- tenas de clientes. Muitos destes clientes são passageiros das carrei- ras rodoviárias que, em frente, na rua, começam, e acabam, os seus percursos de ligação ao caminho de ferro. 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
tuação, que muito complica o trânsito seguimos em frente, e deparamo-nos e reduz o grau de segurança dos tran- com a vista panorâmica, soberba, sobre seuntes. a praia do Lagoal-Caxias. Daqui avis- ta-se até ao Cristo Rei e ao Cabo Espi- No prédio seguinte, uma churras- chel. Entre a estrada e a linha de cami- queira e um restaurante japonês com- pletam a oferta de restauração da rua. nho de ferro, temos um parque de esta- cionamento, e um jardim com bancos, Viramos à nossa esquerda, na rotun- que proporciona um bom espaço de re- da. No lado direito temos a residência pouso para quem, também, se desloca da nossa associada nº. 100, associa- a pé. da de mérito, a grande atriz Eunice Muñoz, que aos 92 anos está em digres- No lado esquerdo, continuam as obras são pelo país com a peça “A Margem de infraestrutura dum grande empreen- do Tempo”, contracenando com a sua dimento habitacional de grande quali- neta Lídia, trabalho que porá fim à sua dade, na Quinta das Giestas. extraordinária carreira artística de 80 anos. Os nossos parabéns e votos de muita saúde. Entramos na Av. Salvador Allende, e à nossa direita temos uma bela vivenda de autoria do Arqt. Formosinho San- ches, residência da família do escultor Profº. Joaquim Correia, que aqui tinha, também, o seu atelier, e onde foram produzidas as obras, que em grande número, constam da arte urbana da vila de Paço de Arcos, para além de muitas outras espalhadas pelo país. Continuamos avenida fora, com belas casas dos seus dois lados, até à entrada para a Quinta de S. Miguel dos Arcos, do lado esquerdo, hoje sede da empre- sa Tomás de Oliveira S.A., e urbaniza- ção de luxo, em condomínio fechado. Passamos a curva dos Raposos, onde, à direita, temos o bar/restaurante, Os Raposos, que foi recentemente vendi- do, pelo que se aguarda, em breve, a sua reabertura. Logo a seguir temos a rotunda, e a en- trada para a Quinta da Terrugem, mas Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 9
CAMINHOS Após uma pausa para admirar tão da família Rocha, depois um colégio, bela panorâmica, prosseguimos. Novas que encerrou este ano letivo, e segun- vivendas, construídas recentemente, do consta terá sido vendido. Aguar- com projetos modernos e com todas as damos, com curiosidade e interesse, o inovações tecnológicas, surgem antes que vai acontecer a este emblemático de chegarmos à Rua Trigo Morais, que edifício do centro de Caxias. segue para o Alto Lagoal. De seguida temos um edifício, Casa Seguem-se vivendas mais antigas, da Sineta, construído por iniciativa de construídas logo após a construção Taborda de Magalhães, que dá o nome da avenida, ladeadas por jardins e ár- à artéria, de autoria do Arqtº. Ventura vores, com destaque para os pinheiros Terra. Era propriedade da Apisal (As- que as protegem. sociação Pró-Infância de Santo Antó- nio de Lisboa), e funcionou como co- Começamos a descer para o Lagoal, lónia de férias do Asilo Santo António baixa de Caxias, pela Av. 7 de junho de Lisboa, e por cedência foi utilizado, de 1794, data do foral do Concelho de nos anos 50 do séc. XX, pelo Instituto Oeiras, e no lado direito temos a Rua de Altos Estudos Militares para aulas Dr. Castro e Silva, médico, que ficou na e, posteriormente, pela CMO, como memória de quem teve a oportunidade escola primária, onde muitos alunos de com ele privar, pela sua dedicação fizeram a instrução primária, antes da aos doentes e amigos. Esta rua tem um conjunto de vivendas em terreno des- tacado da Quinta do Lagoal. No lado esquerdo, começa o edifí- cio da Messe das Forças Armadas, que é um dos mais antigos da zona, e que dava apoio às unidades militares exis- tentes em Caxias, até fins dos anos 50, do século XX, e continuou, também, como colónia de férias. Presentemente tem atividade reduzida. A avenida acaba no cruzamento com a Av. Gomes Freire, começando aqui, também, a Rua Taborda de Magalhães, que é a nossa escolha para continuar em busca do nosso destino. No lado esquerdo, no meio dum bem cuidado jardim, temos a Vivenda Castro, projeto do Arqtº. Manuel Joa- quim Norte Júnior, que foi residência 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
construção da escola Nossa Senhora as suas lojas, em especial o Café Vera do Vale. Cruz, onde se juntava com amigos com iguais interesses intelectuais. Este edifício foi há poucos anos ven- dido e o comprador procedeu à sua A urbanização engloba, também, a recuperação, mantendo a fachada de Rua Bernardim Ribeiro, poeta, e a Rua acordo com o projeto original e home- Manuel Rodrigues, Ministro da Justiça nagem ao seu autor. O interior foi re- que procedeu ao desenvolvimento das novado e alterado para casa de habita- instalações da então “Correção”, com a ção. construção de vários pavilhões e ofici- nas modernas, e é constituída por doze No Oeste foi construído um novo prédios de terceiro andar. corpo, moderno, com o cuidado de não interferir negativamente no conjunto. Aqui moraram centenas de famí- lias, ainda há residentes do início, que Nos terrenos adjacentes está em viram crescer os filhos que partiram, construção uma vivenda isolada com na sua maioria, para outras paragens. três pisos. Era justo que mencionasse algumas Saudamos o critério de recuperação, famílias que ficaram na memória dos e construção, adotado que preserva o vizinhos pelas suas qualidades huma- essencial do projeto de um dos maio- nas e, ou, profissionais, mas não nos res arquitetos portugueses ao tempo, e cuja obra continua a ser uma referên- cia na arquitetura nacional. Chegamos ao Largo Alves Redol, principal centro da vila de Caxias. Construído na década 50 do séc. XX. começou por se chamar praceta, Prace- ta Dr. Oliveira Salazar, passou a Largo Dr. Oliveira Salazar, e depois de 25 de abril de 1974,naturalmente, perdeu essa designação, sendo rebatizado com o nome do escritor neo realista, que morava próximo, e que a frequentava Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 11
CAMINHOS é possível fazê-lo pela limitação do espaço, noutra ocasião será colmatada esta injustiça. Vamos, no entanto, recordar os comer- ciantes que abriram as lojas que compõem este núcleo tão importante na vida da vila. Assim, ainda na Av. Taborda de Maga- lhães, inicialmente Papelaria dum casal, que depois saiu para o marido trabalhar no Cristo Rei, tendo sido seguido pelo Sr. Carlos Lourenço, Sr. Gaspar e hoje é uma loja de tratamentos de beleza, Estúdio 13. Sr. Bento, hoje Florista Caxias Flor, e que, Passando ao Largo Alves Redol, temos o entretanto, tinha sido cabeleireiro. lugar de fruta e hortaliça, do casal Martins, que esteve ligado à Papelaria, e hoje é uma A mercearia do Sr. Martins, e da mulher loja de venda de sobremesas e aperitivos, Rosário Martins, ocupava a loja, onde hoje The Pop Star. Passamos ao prédio do lado temos a cafetaria Forno da Praceta. e temos a Padaria que era do sr. Leal, atual- mente é da Apapol. Ao lado a barbearia do Chegados à esquina da Rua Bernardim Ribeiro temos a Farmácia Nova de Caxias, fundada pelo Dr. Rui Lynce e mulher Dra. Luisa Voss. O Dr. Rui deixou-nos muito cedo mas a farmácia continua a ser dirigi- da pela Dra. Luísa Voss, inicialmente, e du- 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
rante muitos anos ajudada pelo emprega- No cimo da rua, num prédio adjacen- do Luís Varela e posteriormente, pela filha te, temos a loja, e oficina, do Sr. Perei- Ana Luisa e neta Catarina, três gerações de ra, outrora representante da Renault. mulheres dedicadas ao serviço da popula- Várias foram as gerações de automo- ção, o que é justamente reconhecido pelos bilistas que recorreram aos serviços caxienses. de compra, venda e reparação de au- tomóveis. Quando os carros precisa- Subindo chegamos à drogaria Barata, vam de muita assistência, e duravam fundada por D. Conceição Barata, con- muitos anos, a oficina tinha muita ati- tinua sob a dedicada e permanente ge- vidade. Os tempos mudaram, as tecno- rência do seu filho Manuel Barata, que logias também, e como tudo, a ativida- é, para a maioria dos caxienses, uma de sofreu muitas alterações pelo que instituição indispensável, pela sua cola- atualmente a situação é diferente. O boração na solução dos pequenos, e gran- Sr. Pereira, contínua tenazmente, com des assuntos, que com toda a confiança os a sua equipa, a atender os seus clien- clientes, e amigos consigo partilham. tes que continuam fiéis. É também uma verdadeira instituição. Ao lado, uma pequena loja que já foi loja de roupas, e que agora é um cabe- leireiro. Passando ao outro lado da rua, e des- cendo, temos a loja que começou por ser taberna e salão de jogos, matraqui- lhos e máquinas elétricas, do sr. João, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 13
CAMINHOS que passou a mini mercado, banco BPI, guindo-se um grupo de quatro sócios que e agora é a Papelaria Pincel D’Arte que saíram recentemente, dando lugar a um dispõe de diversos serviços atualmen- novo ciclo da vida desta emblemática casa te necessários, como o pagamentos de da vila. A empresa que adquiriu a gestão serviços, livros, artigos de criança, jogos do espaço renovou-o totalmente e rea- da Santa Casa, e outros de grande utili- briu-o com nova imagem e nova designa- dade para a população residente. ção, agora é o Saquinho Dourado. Nome da empresa que para além da fábrica de O principal ponto de encontro co- produção detém outro estabelecimento de meçou por ser a Pastelaria Vera Cruz, venda. Este renovado espaço vem dar outra do Sr. José Ribeiro de Magalhães, que animação ao local e é motivo de redobrado depois teve também a exploração das interesse. As maiores felicidades. bombas da Sacor (Galp), entretanto en- cerradas. O Café Vera Cruz abriu como Pastela- ria e Café com “ Reservado o direito de admissão” por ter a pretensão de sele- cionar os clientes. Assim, não estava disponível para solda- dos, ou operários, não vendia imperial, e muito menos vinho a copo. As mesas eram reservadas para a noite para assistir aos programas de televisão, eram poucas as fa- mílias que tinham tv em casa. Entre os frequentadores contava-se um grupo mais culto que constituía uma ver- dadeira tertúlia. Já referi Alves Redol, muitos outros poderiam ser referidos, mas ficará para outra ocasião. Após a morte do seu fundador, o Vera Cruz foi comprado pelo Sr. Santos, que o geriu durante cerca de trinta anos, se- 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
Segue-se uma loja que está desativada e pelo que o edifício foi adaptado para ser a que inicialmente foi a capelista da Nené, sede da então recém-criada Junta de Fre- que muitos recordamos com saudade, guesia de Caxias. centro comercial do Sr. José da Trigal, e por fim Banco Espírito Santo (Novo Mantêm-se quatro lojas, o talho, e mi- Banco). nimercado (encerrado), o vidraceiro-mol- dureiro que substituiu a loja de eletricista Aguarda-se uma nova atividade, qual? do Sr. Júlio. e o restaurante D. Carlos que E quando? é a continuação do extinto Trigal, embora explorado por nova empresa. No prédio seguinte começou por ser uma cervejaria, com imperial e tremoços, Estamos a chegar ao fim do nosso “Ca- popular, portanto, do Sr. David da Leitei- minhos de hoje”. Vamos terminar na ra. O casal tinha uma vacaria e a mulher antiga horta da Quinta Real, que estava vendia o leite diretamente na casa dos entregue ao Instituto Pe. António de Oli- clientes. veira, para servir escola agrícola dos rapa- zes internados, e que foi entregue à CMO Após o encerramento da cervejaria, que conjuntamente com o Mosteiro da Cartu- não se manteve por muito tempo, a loja xa. foi dividida em duas, onde se instalaram o talho, Sr. Fernando Garcia, e a Lavandaria Após trabalhos de limpeza, e arranjo de Beira Rio, do Sr. Manuel Barata e mulher. caminhos, está à disposição dos caxien- O talho deu lugar ao atual minimercado, ses este espaço de lazer, cheio de história e a lavandaria mantém-se mas na posse e que será alvo de novos investimentos da atual proprietária. na recuperação dos tanques e sistema de rega. Dobramos a esquina e temos a última loja já na Rua Manuel Rodrigues. Inicial- Também a parte da Quinta que já estava mente foi a sapataria do Sr. Carlos, depois na posse da CMO, foi agora reaberta, va- petisqueira do Sr. Faia e atualmente os lorizada com a colocação de réplicas das atuais donos batizaram-na com Trasmon- estátuas de Machado de Castro. As está- tana. tuas originais estão em recuperação para serem colocadas em lugar protegido, No terreno em frente, onde estão agora núcleo museológico dado o seu grande os postos de carregamento elétrico, exis- valor artístico. tiu o Restaurante Trigal que durante vários anos fez muito sucesso, Os Srs. José, E foi com esta nota de otimismo quanto Domingos, Augusto e Sousa, criaram um ao futuro deste património único que é espaço de qualidade, e com bom serviço um orgulho para a Vila, para o Concelho que a sua experiência, adquirida no Res- e para o país, que coloco o último ponto taurante Mónaco, permitia. Este espaço final destes “Caminhos de hoje”. estava ligado ao mercado, pelo que desa- pareceu com a demolição desta estrutura Texto: José Marreiro para dar lugar ao novo edifício. Fotografia: Santos Zoio O novo conceito de mercado não vingou Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 15
SAÚDE Agressões à nossa pele em tempo de Covid-19 V iver num palácio, usufruir feção das mãos, de um sistema de ar condi- que aliada ao cionado e de um sistema de uso da máscara proteção eficaz contra intempéries, nos protege de inimigos externos como micróbios in- um possível con- vasivos externos parece um sonho. No tágio com o virus entanto é aquilo que oferece a nossa Sars-CoV-2. pele! Graças a ela temos capacidade de movimentação com garantia de A questão des- uma defesa constante e com repara- ta nova postura ção de forma automática e contínua. tem uma explicação, que por ser de- masiado primária até nos parece um Estamos perante um caso de máxi- pouco confusa. No entanto podemos mo conforto, segurança e bem-estar! avançar com algumas informações. A primeira terá a ver com o agente infe- No nosso dia a dia, não ligamos mui- cioso, o virus. Todos temos uma vaga ta atenção a esse envelope maravilho- ideia de que se trata de agente infecio- so que se adapta tanto ao frio como ao so, mas não temos bem a realidade da calor e que permite atenuar os seus estrutura e forma desse intruso que efeitos adversos. Raramente temos nos provoca uma doença mortal. consciência do trabalho ininterrupto da nossa pele porque a sua multiplici- Com efeito existe por parte da dade de funções vitais são produzidas maioria das pessoas, uma confusão de forma discreta, quase despercebi- entre estas identidades, os virus e as da. bactérias. Mas a diferença é grande. Tanto é que, quando na presença de Sem a pele seríamos tão frágeis co- epidemias de gripe as populações são mo uma flor de estufa ao sol. No en- aconselhadas a não recorrer aos anti- tanto, não cuidamos devidamente bióticos. Estes estão direcionados pa- dessa barreira natural. ra destruir bactérias e são ineficazes quanto aos vírus. Vem a propósito uma nova situação relacionada com o Covid-19. Vivemos Os antivíricos são muito difíceis de atualmente uma obrigação de desin- 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
obter, aliás no caso do Covid-19 é pa- elementos fundamentais para evitar tente ter-se recorrido à vacinação e a secura da pele será o de preservar não se ter conseguido um antivírus. esse “unto” superficial, vulgarmente chamado de “manto ou película gor- A maneira mais primária de resolver da” que cobre toda a nossa camada o problema será a de evitar o contac- córnea, evitando a perda de água da to. Sabendo que a agressividade e a pele ou seja, a sua desidratação. capacidade de contágio são limitadas, a solução generalista adoptada foi re- Sabemos como uma pele desidra- correr a formas simples de destruir o tada, seca, é susceptível e fragilizada. vírus. Facilmente se deparam situações de dermites, escoriações e mesmo pe- Sabendo que uma das fragilidades quenas feridas que se vão agravando do vírus está na barreira lipídica que com as contínuas agressões. o envolve, donde o seu nome de coro- navírus, a forma de o eliminar está na Esta situação é aquela que se verifi- lavagem das superfícies com um pro- ca com o uso contínuo desses desin- duto que dissolva essa proteção. fetantes que eliminam essa barreira lipídica, fragilizando a pele. No nosso dia-a-dia, o contacto faz-se com as mãos. Mãos infetadas chegam Devemos, portanto, ter uma atenção rapidamente à face, nariz, vias respi- especial para essas situações e recor- ratórias, porta de excelência para a rer a produtos que vão proteger a pele infeção. das mãos após esses maus tratos obri- gatórios. Portanto foi estabelecida a necessi- dade absoluta de higienizar as mãos, Para mitigar essa situação devere- recorrendo à lavagem com sabonetes mos utilizar cremes hidratantes. Ao ou a desinfetantes com poder de dis- repor a untuosidade na pele vamos solver lípidos ou gorduras. contribuir para manter a sua elasti- cidade e diminuir a secura excessiva, Voltamos agora ao nosso ponto de precursora de situações gravosas da partida relativo à manutenção da ca- pele. pacidade de defesa da nossa pele. Sem entrar nos detalhes da constituição da Eduardo Barata pele e das várias camadas que a com- põem podemos referir que um dos Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 17
REQUALIFICAÇÃO Inauguração das novas instalações – obras de requalificação da União das Freguesias, em Paço de Arcos No passado dia 30 de maio, timosas obras de requalificação dos pelas 11.00h, foi inaugu- interiores desta Delegação da U. F de rada a sede da instala- Paço de Arcos, mas também pela sua ções da UNIÃO DAS FREGUE- inefável dedicação na decoração do SIAS, DE PAÇO DE ARCOS, respectivo espaço, renovando o espaço presidida pela Dra. Madalena com sentido de estética e tornando as Castro, na qualidade de Presi- instalações mais funcionais e agradá- dente da U.F em Paço de Arcos, veis, proporcionando, não só, o bem- e com a presença do Exmo. Sr. -estar de todos dos funcionários que Presidente da Câmara Munici- ali trabalham, mas também no especial pal de Oeiras, Dr. Isaltino Mo- interesse e proveito de todos os fregue- rais, acompanhado por vários ses de Paço de Arcos, na melhoria das Vereadores da Câmara, bem como, o condições do seu atendimento. Executivo da União das Freguesias de Paço de Arcos e outros representan- Amaral de Figueiredo tes de entidades oficiais da freguesia e Concelhia de Oeiras. Foram executadas obras de requalifi- cação do interior da Junta de Freguesia de Paço de Arcos, há muito solicitadas pelo seu anterior Presidente, Dr. Nuno Campilho e respectivo Executivo, mas que aguardavam autorização para a sua prossecução. De salientar, e desde já dando os pa- rabéns e felicitações futuras à actual Presidente, Dra. Madalena Castro, por ter alcançado as tão necessárias e pres- 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
SUPLEMENTO CDPA III CD PAÇO DE ARCOS UMA NOVA ERA, ANOS 60 E 70 Oclube em 1962, tem 905 sócios -presidente Alberto Soares, que apre- e pela primeira vez desde a sua sentou o seu pedido de demissão ainda fundação, os órgãos sociais em 1970. Em 1972 é eleito Pompeu do clube não apresentam ninguém da Carranca que completou um excelen- família Moreira Rato. O clube entra te mandado de dois anos, seguindo-se numa nova era, mas os problemas são Rui Correia que por motivos pessoais os mesmos, talvez agora mais difíceis se teve de ausentar para Espanha sen- de resolver. do substituído pelo Vice-Presidente Manuel Caetano. Em 76/77, Fernando Inicia-se um período de gestão instá- Ferreira de Sousa completa o mandato vel. Manuel Berjano assume a direção e em 78/79 regressa Pompeu Carranca, e renova o mandato no ano seguinte, não sem problemas, pois entre agosto mas em setembro de 63 apresenta a e setembro a direção manteve-se afas- demissão, sendo substituído pelo Vice- tada do clube por situações imponde- -presidente Alberto Soares. Seguiu-se ráveis, mas incomportáveis para a di- José Moraes Sarmento Honrado que reção. apresenta a demissão em julho de 64 sendo substituído pelo Vice-presiden- Esta instabilidade diretiva levou a te António Abrantes. Miguel Mendon- uma “montanha russa” das finanças ça em 65, José Barroso Júnior em 66 e do clube que nas décadas de 60 e 70 Bento Costa em 67 conseguem cumprir passou por crises graves, felizmente o mandato por inteiro, mas José Car- superadas rapidamente, como a esta- valheira vê a direção por inteiro pedir bilização financeira conseguida em 65 a demissão em setembro de 68 sendo por Miguel Mendonça e repetida em substituída por uma outra liderada por 68 por António Valente. António Valente por apenas 3 meses (restante do mandato). Em 69 Manuel Apesar disso não deixaram de ser fei- Berjano regressa e promove uma revi- tos importantes investimentos. Sem- são dos estatutos sendo eleito de novo pre com a ajuda preciosa da CMO e de e agora pela primeira vez na história do alguns importantes amigos do clube, clube, para um biénio, o de 1970/1971. foram feitas algumas obras de vulto na Mais uma vez não chegou ao fim do sede, no rinque “Leocádio Pórcio” e no mandato, pedido a demissão em julho Centro Náutico, mas foi neste período de 71, sendo substituído por Carlos Ra- que com a ajuda conjugada do Comen- mos que por sua vez substituíra o Vice- dador Joaquim Matias, Tito Moreira Rato, Mena Matos, Manuel Carvalho, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 19
SUPLEMENTO CDPA III Manuel Berjano e Pompeu Carranca, do. Emídio Pinto pelas valorosas ações foi finalmente possível concretizar o nas diversas comissões do pavilhão, sonho antigo de ver concluída a cons- Manuel Berjano em 69 na conclusão trução do Pavilhão Gimnodesportivo e dos processos e arranque de constru- a construção de raiz do Centro Náuti- ção do pavilhão, e Pompeu Carranca co. que garantiu a entrega do pavilhão à gestão do Clube, e que foi também o Foram tomadas diversas iniciativas verdadeiro obreiro da construção do para angariar fundos, como a “Galinha Centro Náutico, sobretudo pela sua Gigante”, mealheiro enorme onde a capacidade agregadora de vontades, e população depositou as suas ajudas, pela enorme capacidade de iniciativa. e que teve diversas “galinhas-filhas” dispersas por vários estabelecimen- Logo que toma posse como presi- tos comerciais de Paço de Arcos, ou dente, Pompeu Carranca pede uma re- o “Pé de Meia” angariando verbas de união com o Eng. Subtil presidente da leilões de bens doados pelos sócios, CMO e com o construtor João Pimen- ou a organização de um grande festi- ta, reunião essa que aconteceu em val taurino realizado na praça de toiros plena obra de construção do pavilhão, de Cascais, ou a montagem de um res- e onde consegue uma alteração subs- taurante durante as festas da Vila, que tancial ao projeto, passando a incluir conjuntamente com muitas outras, diversas salas e ginásios, potenciando sempre sob a máxima: “Se der lucro é a operacionalidade do clube. Quando para o Clube, se der prejuízos é para ficou em condições de ser utilizado, quem organiza”, foi juntando um bom João Pimenta convidou Pompeu Car- pecúlio, bem útil para pagamento de ranca para um jantar no restaurante parte das obras realizadas. “Mónaco” e entregou-lhe as chaves do pavilhão, dizendo “o pavilhão é meu e De destacar os desempenhos de Emí- eu quero que seja do CDPA, tome lá, dio Pinto, Manuel Berjano e Pompeu metam-se lá dentro e inaugurem o Carranca, fundamentais neste perío- espaço”. Foi organizada, de imediato, uma cerimónia de inauguração con- tando com a presença dos atletas de todas as modalidades do clube e com a presença do FC Belenenses para um jogo de Andebol e do FC Porto para um jogo de Hóquei em Patins. Mais tarde seria oficializada a cedência do espaço ao CDPA, em cerimónia presidida pelo Presidente da Republica Almirante Américo Tomas que, alguns anos an- 20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
SUPLEMENTO CDPA III tes, por ocasião do 47º aniversário do gem na pista do pavilhão, numa noite clube, tinha já estado na sede social. inesquecível com mais de 500 pessoas a gritar em uníssono bem alto: MUITO Pompeu Carranca ofereceu a João Pi- OBRIGADO! menta um grande jantar de homena- Importante ainda relembrar e des- tacar a 1ª revisão dos Estatutos do clube promovida por Manuel Berjano em 1969, que entre outras alterações projetou os mandatos da direção para dois anos, passando a ser bianuais e que a direção passasse a contar com 7 elementos. Em 1971, por ocasião do 50º aniver- sário, o CDPA viu a sua atividade reco- nhecida pelo Ministério da Educação Nacional, que lhe atribuiu a Medalha de Bons Serviços Desportivos. Em 1969 é iniciada a publicação de um mini-boletim para substituição do Boletim do clube cuja primeira série teve edição regular entre 1949 e 1955, e que a partir daí teve publicação es- porádica e pontual, pela dificuldade constante em angariar colaboradores e financiadores. No campo social, foi em 1972 que se organizou o 1º piquenique na Quinta dos Cedros no Linhó, propriedade do Comendador Joaquim Matias que na companhia de sua esposa, fazia ques- tão de todos receber à porta da quin- ta e que permitia aos sócios do clube, passar um dia inesquecível, usufruin- do de todos os recantos da grandiosa quinta, desde a piscina onde se reu- niam os mais novos, até aos muitos recantos onde se juntavam os mais velhos em são convívio e de onde de Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 21
SUPLEMENTO CDPA III completar o leque de ofertas náuticas depois da Vela e da Pesca Desportiva, uma secção de motociclismo que or- ganizou uma prova no Alto de Paço de Arcos em 1977, resultando em assina- lável êxito, mas que apesar disso não se repetiu, uma secção de Karaté pela mão do professor José Carlos Antunes e uma secção de Patinagem Artística, pela mão dos casais Carranca e Brus- selmans, que organizaram em 1977 um Festival que ainda hoje mantem o recorde de bilheteira em eventos do clube e que permitiu ao longo de 3 ho- ras de espetáculo, apreciar a evolução das nossas patinadores e patinadores. Em 1967 é reativado o Andebol depois de alguns anos de interregno, sentindo tempos a tempos se ouvia cantar o um forte crescimento na década de 70. Ricoco, terminando o dia, invariavel- Para alem disso, em 1964 é criado o mente, com uma tourada, corrida pelo cavaleiro Emídio Pinto (filho) e onde “Troféu Patrão Lopes “, da autoria do os mais afoitos mostravam as suas ha- escultor Domingos Soares Branco, tro- bilidades no toureio e nas pegas. féu esse que inicialmente era atribuído a quem ganhasse 3 vezes consecutivas Os novos tempos trouxeram novas ou 5 alternadas a grande regata oceâ- modalidades, e o CDPA passou a contar nica Paço de Arcos / Sesimbra e vol- com um Núcleo Filatélico por empe- ta e que hoje é atribuído ao vencedor nho e dedicação de José Ribeiro Duar- te, uma seção de Campismo e Carava- nismo, que permitia por todo o país encontrar tendas montadas em par- ques de campismo com uma pequena flamula do CDPA pendurada à entrada, uma seção de Xadrez, que apesar de à muito ser praticado no clube, passou a ter seção instalada em 1970, uma se- ção de Atividades Subaquáticas, para 22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
SUPLEMENTO CDPA III das regatas do dia “Patrão Lopes” por boa em 1976. ocasião das festas do Senhor Jesus dos O CDPA em 1971, viu António Carlos Navegantes em Paço de Arcos, sendo o nome do vencedor gravado numa Soares de Abreu, atleta do clube, tor- “chapa” fixa na base do troféu. nar-se campeão da Europa de Hóquei em Patins em seniores, ao vencer o No campo desportivo, destaca-se no 30º Campeonato de Europa de Hóquei Ténis de Mesa, a conquista do Cam- em Patins, disputado em Lisboa. peonato Nacional e da Taça de Por- tugal pela nossa equipa feminina em No Hóquei em Patins, os juniores 1969, o que levou à sua participação conquistaram o Campeonato Nacional pela 1ª vez numa prova internacional. em 1967, e os Seniores descem à II Di- A Ginástica Desportiva conseguiu o 3º visão Nacional pela 1º vez em 1978. A lugar na Taça de Portugal em 1973, e o direção de Pompeu Carranca conside- Andebol foi Campeão Regional de Lis- rando a descida injusta e no reconhe- cimento pelo esforço despendido pela equipa durante essa época, promoveu uma digressão com todos os atletas seniores a Barcelona, o que permitiu ao clube manter toda a equipa para a época seguinte, conseguindo o ime- diato regresso à 1ª Divisão Nacional em 1979. Começava assim uma nova fase para a modalidade rainha do clube. Mesmo sendo o CDPA reconhecido como uma das grandes universidades do Hóquei em Patins Nacional, não iria conseguir manter uma hegemonia competitiva na sua equipa sénior. Luís Morais Caro leitor, este suplemento é o terceiro de vários que iremos publicar contan- do a história de vida do clube. São destacáveis para que os possa reunir em livro. Siga-nos nos próximos números. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 23
EVENTOS Helicayenne - by paulmask.com Mais uma vez neste jornal mara- concurso de fotografia vilhoso em que apresentamos mensal (Regulamento actividades solidárias que temos: disponivel na página Revista internacional em português que seguinte). e posterior- irá demonstrar todas as nossas actividades, mente faremos um concurso anual com com vista a motivar pessoas, entidades e todos os envolvidos. empresas a juntarem-se aos nossos projec- tos, a lerem, a escrever, a criar actividades, Temos outros projectos que podem ver no e ajudar pessoas a serem responsáveis e nosso facebook e grupos, e gostaríamos de com atitude. ter mais pessoas a participar. Se é uma de- las entre em contacto connosco. Projecto Sénior - actividades semanais Email: [email protected] (pintura, desenho, jogos...), queremos an- Site: paulmask.com gariar voluntários para ajudar a fazer acti- Facebook: Heli cayenne vidades com os nossos parceiros. Página: Helicayenne Página Facebook: Helicayenne “Hora do Conto”, em que teremos um con- Instagram: @helicayenne tador de histórias para crianças, para ani- mar e divertir a população local (já temos Paulo Mascarenhas algumas parcerias). Precisamos de alguns voluntários. População em geral - Nas actividades que faremos, iremos ter um espaço para pes- soas e entidades poderem divulgar bens e serviços (para ajudar a crescer e serem sus- tentáveis). Temos a parceria com a ZeroP (https://www.zerop.pt) que tem um projeto de sensibilização ambiental, com foco no problema do plástico como lixo, ou seja, aproveita material não reciclado Ex: gar- rafas, tampas e outros plásticos, para fa- zer utilitários e brinquedos. Acreditamos no futuro desta empresa pois é daqui que parte a política de aproveitamento do lixo. Neste caso a ZeroP tem uma carrinha e irá divulgar e ensinar como se faz a recicla- gem, com maquinaria e desperdício. Concurso de fotografia - Iremos reiniciar o 24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
Concurso de Fotografia - “Oeiras 21” Regulamento Condições de participação Âmbito e aplicação 1. Inscrição gratuita. 1. Concurso promovido pela Associação 2. Candidatura individual. Cultural A Voz de Paço de Arcos, com 3. Uma, ou duas, fotos de cada uma de a colaboração técnica da Helicayenne, três freguesias, ou Uniões, à escolha do destinado a todos os fotógrafos, concorrente. amadores ou profissionais. O objetivo 4. Fotografias originais, sem elementos deste concurso é promover o Município de identificação, nem marcas de água, de Oeiras no âmbito da sua candidatura ou molduras. Com resolução mínima à Capital Europeia da Cultura 2027. de 300dpi. 2. Serão atribuídos prémios, um por 5. Suporte em papel fotográfico com a cada Freguesia ou União de Freguesias, dimensão de 15x20. e de entre estes, o vencedor absoluto e 6. O dossier de candidatura, deve conter duas menções honrosas. ficha de inscrição, fotos a concurso, 3. Na sequência do concurso, irão com a respectiva memória descritiva decorrer exposições itinerantes, pelo (incluindo indicação da freguesia ou concelho de Oeiras, com as fotos união a que respeita) e biografia do premiadas e outras selecionadas pelo autor, e ser enviado em papel para a Júri. sede da Associação Cultural A Voz de 4. As fotos serão sobre os temas: Paço de Arcos, Rua Thomaz de Mello património construído, personalidades nº4 B, 2770-167 Paço de Arcos. concelhias, paisagens etc, desde que 7. Os membros do júri e seus familiares alusivas ao Município de Oeiras. A directos, estão inibidos de se candidatar. abordagem do tema depende da interpretação do fotógrafo, devendo A Organização do Concurso a mesma ficar clara na memória descritiva. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 25
EFEMÉRIDE 6º. Aniversário da Associação Cultural A Voz de Paço de Arcos Homenagem a SERRÃO DE FARIA Anova fase da vida de “A Voz de Paço de Arcos”, começou em Junho de 2015, aquando da constituição da As- sociação Cultural A Voz de Paço de Arcos, que passou a ser a sua proprietária. Para comemoração do aniversário, foi ho- menageado um dos fundadores da Asso- ciação, e novo diretor do jornal, o associado José Serrão de Faria. Homenagem singela, e merecida, que con- tou com a presença de vários diretores, ami- gos e convidados e que se realizou na Sede da Associação, espaço cedido, em comodato gratuito, pela CMO. Foi convidada a sra. Presidente da UFO- PAC, Dra. Madalena Castro, que dirigiu pa- lavras de apreço ao homengeado, e à Asso- ciação, pelo trabalho desenvolvido em prol da Vila, da UFOPAC, e do Município de Oei- ras, que classificou como importante e que deve ser apoiado. O Presidente da direção, e atual Diretor do jornal, agradeceu a presença de todos, e o apoio que tem sido prestado às iniciativas do jornal e da Associação. Texto: José Marreiro Fotografia: Santos Zoio 26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
A VELHICE E A SUA DIGNIDADE Antivírus Para o Mundo * Relativamente ao surto entre o ser humano e o agente que pandémico que nos afe- provoca a doença, a frente de combate, tou, em 2020, da Covid-19, passa pelo corpo de cada um. Se essa os argumentos vão perdurar du- linha for quebrada algures no planeta, rante muitos anos. No universo entramos numa atmosfera perigosa. de pessoas de todos os quadran- Assim, é de toda a conveniência que tes deverá estar alinhado, na mi- os países muito ricos e desenvolvidos nha opinião, pelo menos em três tenham interesse que os países mais pontos principais, a saber: pobres e consequentemente em vias Ponto nº1 - Toda a nossa infraes- de desenvolvimento sejam protegidos. trutura digital deverá ser sal- Dito isto, em sentido figurado, se um vaguardada quiçá, melhorada, novo vírus saltar de um morcego para como tendo sido uma das bóias de sal- um ser humano, numa aldeia longín- vação mais importantes da pandemia, qua e pobre de alguma selva, em pou- atenuando assim um desastre de gran- co tempo poderá estar a “passear” nas des proporções. principais capitais do mundo. Ponto nº2 – Cada país deverá investir Poder-se-á argumentar, com algum e desenvolver mais no seu sistema na- cional de saúde, quer público quer pri- vado, embora saibamos, que por vezes os políticos e até os próprios eleitores, dos quais me incluo, conseguem igno- rar a lição mais óbvia, “assobiando” para o lado. Ponto nº3 – Sugiro que seja estabeleci- do, um poderoso sistema global, tipo Organização Mundial de Prevenção da Pandemia, de modo a monitorizar epi- demias futuras. Nesta luta ancestral, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 27
A VELHICE E A SUA DIGNIDADE propósito, o porquê da minha suges- pandemias. No entanto, julgo se as tão na criação de mais uma Organiza- sugestões atrás referidas, forem im- ção. Se já existe a OMS (Organização plementadas, o susto e o surto que a Mundial da Saúde), cuja função entre Covid-19 nos pregou e continua a pre- outras, seja da prevenção anti-pragas? gar, pode na verdade, fazer com que as No entanto, os fundos que apoiam essa doenças infecciosas se tornem menos Instituição são exíguos e como conse- comuns. Sabemos que a Humanida- quência sem força política. de não pode evitar o aparecimento de Assim sendo, precisamos, no meu mo- novos patógenos. Trata-se de um pro- desto entender, de uma organização cesso evolutivo e natural, desde que que se dedique exclusivamente à essa o mundo começou a ser habitado, e temática pandémica, e para tal neces- vai continuar no futuro. Felizmente, sita, que todos os países especialmen- nos dias que correm, já temos conhe- te os mais ricos, contribuam com di- cimentos e ferramentas para impedir nheiro, para que a mesma fique com que um qualquer vírus se espalhe e se alguma autoridade global de saúde torne em tragédias mundiais. independente. As principais funções Em jeito de conclusão, gostaria de seriam a criação de uma plataforma alertar que, se a Covid-19, em 2021, para a compilação de uma informação continuar a afetar a população mun- médica credível, monitorizar poten- dial, como infelizmente atingiu em ciais riscos, emitir alertas e orientar 2020, isso já não será uma calamidade a investigação e o desenvolvimento. natural ou o tão propalado castigo de O que sugiro, poderá parecer utópico, Deus. Será um erro humano bem se- mas se contabilizarmos as tragédias e cundado por um fracasso político. as verbas gastas nesta pandemia, não Precisamos de todos, para este “com- sei quantas Organizações do género bate dariam para constituirem. Pessoalmente, como um cidadão leigo *Luís Álvares e sem base científica, faço parte das pessoas que acham que a Covid-19 marca o início de uma onda de novas 28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
PSICOLOGIA O poder está dentro de nós Lembre-se que o poder para criar as pessoas ao o seu destino está dentro de si. seu redor, po- Os poderes de manifestação por de ajudar a meio da intenção e do pensamento po- construir re- sitivo, dependem exclusivamente de si. lacionamen- tos benéficos Há muitas decisões que tem de tomar para si, pro- e muitas considerações a serem avalia- mover o equi- das. líbrio e satis- fação interior É através da sincronia com o universo que tanto precisa. que é guiada(o) no caminho, para a ilu- minação e satisfação interior. Faça o seu melhor. Foque-se na sua sabedoria interior, nos seus relaciona- As oportunidades podem surgir a mentos e acredite que os seus desejos qualquer momento e, cabe-lhe a si tirar se vão concretizar. proveito das mesmas. Pode ser o momento de se abrir a no- Deve examinar os seus pensamentos vas amizades. Dê as boas-vindas a al- e comportamentos para ir ao encontro guém novo na sua vida, isso pode trazer do que deseja. A sua intenção torna-se consigo oportunidades de crescimento em manifestação, os seus pensamentos que de outra forma, não apareceriam em realidade e as suas ações criam o no seu caminho. mundo em que vive. Para mais informações poderá conta- tar-nos através do Facebook de Mafalda Este é o momento crucial para co- Ascensão ou do e-mail abaixo indicado. meçar bem o próximo ciclo. Dê largas E-mail:psicoesclarecimento@gmail. à sua imaginação, decida o que quer e com como pode fazer para o alcançar. Texto elaborado por: As pessoas que partilham a sua expe- Mafalda Ascensão riência de vida, são também elas pro- duto das forças do universo a transmitir Psicóloga de formação energia vital para a sua vivência. As atividades criativas são uma for- ma de desencadear a criatividade. En- volver-se neste tipo de atividades com Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 29
HOMENAGEM Despedida do Avô João Chegou a 10 de janeiro de 1929 logo a lhe deu o nome ao barco - toda a gente em desafiar as probabilidades. Nasceu Paço de Arcos sabia de quem era o “João prematuro, talvez não tão prematu- João”. Passeava o Ruffy, que o recebia em ro quanto isso, porque o pai era um malan- êxtase e o expulsava a rosnar. Gostava de dro, como nos disse tantas vezes. Foi bapti- pescar, e às vezes lá se comia um sargo ao zado dia 11, esteve numa caixa de sapatos à almoço. lareira meses, e vingou. O velho sempre foi rijo. Perdeu a mãe cedo, mas teve uma avó Tinha, e tem, no filho o maior compa- Fina que cuidou dele e dos seus irmãos nheiro e um orgulho infindável, embora como se fossem dela. nem sempre o demonstrasse. Os bisnetos tiveram a sorte de lhe poder gritar aos ou- Casou com a avó Mené, com quem este- vidos para ele conseguir ouvir. Todas as ve a vida toda, muitas vezes às turras, mas noites se despedia com um “até amanhã, sempre de mãos dadas. Aos 26 anos foi pai se Deus quiser”. No dia 23 de Abril de do melhor filho que podia ter tido e aos 51 2021, Deus não quis. Mas acima de tudo, iniciou funções do melhor avô que podia quem não quis foi ele. Ficam as memórias ter sido. Ia pôr e buscar os netos à escola e o privilégio de termos tido a companhia sempre que era preciso. Esperava horas in- dele tanto tempo. Gostamos muito de ti, findáveis pela Maria Maria enquanto ela avô João. Vamos obrigar a avó a arranjar o cumpria os castigos na escola (ou mais tar- cabelo e a cortar as unhas. Estarás sempre de, no secundário, enquanto ela socializa- connosco, nos almoços e jantares, nos ban- va com os amigos, embora ele fingisse que cos do jardim e nos passeios de barco. Até não sabia). Era o amuleto da sorte do João amanhã, quando Deus quiser.” João em todos os exames da escola e da fa- Maria Maria Mendes culdade - e isto explica o facto de ele ter tido sempre tão boas notas. Gostava tan- to dele que 30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
EFEMÉRIDE Seara Nova Équase certo que no próximo mês tinho da Silva. de Outubro os órgãos de comu- Não se pense que os seareiros foram nicação social darão relevo ao centenário do aparecimento da revis- homens ligados simplesmente ao inte- ta Seara Nova. Antecipando-me a essa lecto. Não! Muitos deles foram homens comemoração, exponho umas breves de acção, tal como o Cap. Sarmento anotações sobre essa revista de carác- Pimental ou o Major Sarmento de Bei- ter simultaneamente político e cultural res, que foi o homem que executou a que teve um papel decisivo na formação travessia aérea Lisboa-Macau, em 1924; política de feição democrática, durante lembro também, o empenho na luta várias gerações. conspirativa, em prol das ideias demo- cráticas, do monárquico António Sér- Esta revista de doutrina e de crítica, gio, contribuindo para que a sua acção cujo título os mentores foram buscar se confundisse com a evolução do pró- a um dos versos de Antero de Quental, prio republicanismo durante o Estado nasceu em quinze de Outubro de mil Novo; assiná-lo, igualmente, que vários novecentos e vinte um, sendo ditada redactores desta revista se envolveram pelo inconformismo dos republicanos no golpe militar de Beja, e posterior- Jaime Cortesão, Raul Proença e Câma- mente, alguns destacados militares do ra Reis, perante uma República desa- MFA, leitores da Seara, reuniram com creditada, e pelo desapontamento com «ela» na preparação do 25 de Abril. a orientação espiritualista da revista A Águia, órgão da Renascença Portugue- Dado o prestígio alcançado pela re- sa, à qual, anteriormente, Raul Proença vista a partir dos anos 60, levou que um e o historiador Jaime Cortesão tinham homem bastante conservador como o pertencido. General Spínola que, ao verificar a exis- tência de vários leitores da Seara entre Durante mais de meio século teve a os oficiais do seu staff, na Guiné, deci- colaboração de uma larga plêiade de diu também ele ser assinante da revista. autores, oriundos das mais diversas Mais, a influência da formação política correntes e ciências, incluindo a peda- por via da Seara Nova teve eficácia até gogia política, como era o caso de An- no pós-25 de Abril, quando a maioria tónio Sérgio, de Abel Salazar e de José dos seus colaboradores e os seus for- de Azeredo Perdigão. Nela, colabora- mandos, mais moderados, foram de- ram também os prestigiados escritores signados pelo novo poder político para Raul Brandão, Manuel Teixeira Gomes, substituir parte dos quadros do apare- Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Mi- lho do Estado, evitando nesses primei- gueis, Hernâni Cidade, Jorge de Sena e ros meses uma excessiva radicalização Irene Lisboa. E no campo da especula- política, como posteriormente se veio a ção filosófica, os pensadores José San- verificar. t´Anna Dionísio, José Marinho e Agos- Carmo Vieira Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 31
COMEMORAÇÃO 47º Aniversário do 25 de Abril No passado dia 8 de Maio, realizou- cando num diagnóstico pessimista mas -se no anfiteatro exterior Almei- realista das condições adversas ao acesso da Garrett, no Parque dos Poetas, da população a uma informação isenta e em Oeiras, uma sessão comemorativa do não manipuladora pelos grupos econó- 47º aniversário do 25 de Abril, promovida micos e financeiros que controlam os ór- pela Rede de Cidadania de Oeiras o nú- gãos de comunicação, salientando a ne- cleo de Oeiras e Cascais da Associação 25 cessidade premente de algo ser feito para de Abril e a MAPA Associação Cultural. alterar radicalmente essa situação. Com cerca de cem assistentes, o evento Depois disso, assistiu-se à declamação de dividiu-se em três momentos distintos: poemas pela actriz Paula Freitas, o poe- as intervenções evocativas, as interven- ta José Fanha e canções alusivas por João ções poéticas e musicais e uma visita, em Paulo Oliveira. O poeta Jorge Castro, que diversos grupos, às esculturas de vários todos os anos escreve e publica um poe- poetas previamente escolhidos. ma no dia 25 de Abril, também foi con- O Almirante Martins Guerreiro abriu a vidado a declamar o seu poema de 2021. sessão com uma intervenção onde desta- Após a sessão poética e musical, encer- cou as características peculiares da acção rada com cerca de cem vozes afinadas, militar e a subsequente adesão popular entoando a Grândola, foram organizados que transformou o derrube da ditadu- os grupos de 5 a 6 pessoas que se deslo- ra num momento único da História de caram até aos espaços escultóricos dos Portugal, em que os militares tomaram o vários poetas seleccionados, ler poemas poder com a plena intenção, logo anun- e apreciar o trabalho dos escultores que ciada e cedo cumprida, de o transmitir à assim os imortalizaram nas obras de arte sociedade civil por meios democráticos, que preenchem o Parque dos Poetas. num exemplo raro, até no concerto in- Todo o evento decorreu no estrito cum- ternacional, de cidadania e consciência primento das normas de segurança da política. Direcção Geral de Saúde no actual con- João Paulo Oliveira, em representação da texto. RCO e da Associação MAPA, destacou a Para o ano, cá estaremos… heroicidade e o desapego desses militares que devolveram à sociedade a Liberdade João Paulo Oliveira interrompida durante décadas, num acto Jorge Castro que deve ser celebrado com o respeito e a vénia que merece. O jornalista José Luís Fernandes fez um breve historial das condições da comu- nicação social na ditadura, durante o processo revolucionário, após o período de normalização democrática, desembo- 32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
CONTO O Cão que faz ão ão (história para miúdos, por vezes triste, mas verdadeira!) Um menino que gostava muito de O “Pitosga” tinha ler, um dia leu uma história ma- uma amiga. Era uma ravilhosa escrita em verso por um cadelinha que mora- senhor chamado Afonso Lopes Vieira, es- va na casa em frente, critor português já falecido, onde se dava do outro lado da rua, grande importância à amizade que os que vinha muitas vezes visitá-lo. Ficavam homens têm pelos cães e que os cães têm horas a conversar. Conversa de cão, já se vê! pelos homens. Esse menino era eu. Ainda hoje gosto muito de fazer festinhas aos cães A maioria das pessoas não consegue per- e gosto muito deles. Acho que eles também ceber o que os cães dizem. Só os ouvem gostam de mim! quando ladram, ou quando uivam. Quan- do eles falam uns com os outros, as pessoas O escritor começava assim a sua história: não percebem o que eles dizem. Mas eu O cão que faz ão ão é bom amigo como os consigo! Quem me ensinou foi este “Pitos- que são! Que o diga o pastor se ele é amigo ga”, que viveu comigo, desde que eu ainda ou não! E vocês vão também ver se eles são era um miúdo. Se vocês tiverem um cão, e amigos ou não. Peçam a alguém que vos quiserem falar com ele, basta pensarem o leia esses lindos versos. que vão dizer, olhando-o de frente, e depois esperam um bocadinho que ele fala, sem Eu já tive dois cães. Todos eram muito falar, e vão entender tudo... bonitos e meus amigos. O primeiro era o “Pitosga”. Chamávamos-lhe assim pois ele Na minha varanda havia um grande cai- via um bocado mal. Mas era muito patusco. xote de madeira. Eu e o “Pitosga” escondía- Uma vez, o meu primo Zé tinha apanhado mo-nos dentro dele, tapávamo-nos com um pássaro muito estranho, grande e colo- uma manta e ficávamos a falar um com o rido, e quando estávamos entretidos com outro. É claro que primeiro tive que apren- o pássaro, o cão dava grandes saltos para der a falar cão. E não é nada difícil! o agarrar. Porém, para além do meu primo não deixar que ele lá chegasse, ele também Depois de aprender a linguagem, conse- não ia na direcção certa, por ser pitosga. E gui aprender muitas coisas sobre os cães. nós fartávamo-nos de rir. Por exemplo: Eles gostam muito de crian- ças, mas embirram quando elas lhes pu- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 33
CONTO xam as orelhas, ou o rabo. Aprendi tam- uivam. bém porque é que eles abanam o rabo. As Esqueci-me de vos dizer que o “Pitosga” pessoas pensam que eles abanam o rabo só para mostrar que gostam delas, mas eles já morreu. E morreu de uma doença mui- também abanam o rabo como se fosse um to má. Apanhou uma pneumonia, porque relógio. Se a pessoa que o chamou é mui- quando tinha vontade de fazer xixi saía do to aborrecida e fala muito, abanam o rabo nosso caixote para ir ao quintal da minha com muito força e muito rapidamente, tia. Era Inverno. Dentro do caixote estava para contar os minutos. Ao fim de um certo sempre quentinho. No quintal estava sem- número de abanadelas, se a conversa que pre muito frio. Começou a a pessoa tem com eles não agrada, o rabo pára de abanar, as orelhas deixam de ouvir, sentir-se mal, deitou sangue pela boca abaixam-se e...acaba-se a conversa. quando tossiu. Depois, foi-se despedir-se de todas as pessoas da casa. Voltou para o Ainda fiquei a saber porque é que eles caixote, chorou ele e chorei eu, despediu- fingem ser muito maus, quando é preci- -se de mim, lambeu-me as mãos e...foi para so afastar alguém. O “Pitosga” contou-me o céu dos cães. Está, há cerca de 70 anos, que, no princípio do aparecimento do ho- enterrado no quintal que era da minha tia. mem na Terra, não existiam ainda os cães. O que havia eram lobos. E os lobos não Como fiquei muito triste, deram-me gostavam dos homens. E ainda hoje não outro cão. Este era bem grande. Quando gostam lá muito! Não gostavam porque ti- chegou a casa, olhou para mim com muito nham medo deles! E ainda têm! Mas os ho- amor. Na linguagem dele, sem saber que mens caçavam e deixavam sempre restos eu entendia fala de cão, começou a dizer: de comida nos locais onde viviam, e alguns Este miúdo deve ser boa pessoa! Estive a lobos menos medrosos, ou mais esfomea- farejar no caixote e ele teve aqui outro cão. dos, começaram a aproximar-se para co- Deve ter sido o “Pitosga”, que ouvi dizer, lá merem esses restos. Homens, menos me- no canil da Câmara, que tinha morrido. drosos, experimentaram atirar para mais Vou gostar deste miúdo e vou fazê-lo fe- perto pedaços de carne a um lobo menos liz. E fez! Quando eu lhe respondi em cão, medroso. Assim, lentamente, começou a foi uma alegria. Daí para a frente, e ainda estabelecer-se esta ligação dos lobos e dos durante alguns anos, falámos muito, e de homens. E depois reforçou-se com os cães muitas coisas. que derivaram dos lobos. Por isso, quando é preciso, os cães lembram-se que foram Depois eu fiquei mais crescido, e ele ficou lobos e arreganham a dentuça e ladram. O mais velho também, e fiz-lhe uma casota que ajuda a meter medo. Mas, para apren- nova para não ter que ficar no caixote, que derem a ladrar, tiveram que treinar muito. era já muito pequeno e já lhe dava muito Fartaram-se de emitir muitos sons, por ve- trabalho para entrar e sair. Ele foi ficando zes até ficarem roucos. Os lobos, que ainda cada vez mais velhinho, mais velhinho e... ficaram lobos, nunca quiseram treinar e, também foi morar para o céu dos cães. ainda hoje, não costumam ladrar. Apenas Nunca lhe dei um nome, era simplesmente o cão. Sempre foi leal e amigo como os que são! Que o diga eu, se ele foi ou não! Carlos A. S. Aguiar 34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
POESIA POESIA em DIAS de Pandemia … (que Só a Alguns poupa… ) a POESIA é um pouco louca… ( as Pessoas tombam como tordos…) - a Ceifa é de milhares… (por dia…) Mas… os JOVENS inconscientes (em louca euforia) continuam a “confraternizar”… nestas noites quentes (ao Luar…) Santos Zoio . 2021.06.29 Lai Zoio (a Musa…) Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 Nº 35.Junho de 2021 35
POESIA Sesimbra Quem sou eu Há uma pintura de luz Ando num vai e vem Derramada como óleo perfumado sobre a minha Mesmo sem ninguém cabeça Trago o silêncio na alma Uma espécie de unção marítima E levo comigo a calma Ao ritmo da ondulação e das marés Nos dias de verão Quando o amor inundou os nossos corpos O sol é a minha paixão Com o sal das águas mais profundas Mas em dias de muito frio As ruas estreitas são afluentes Até me arrepio! Aguarelas de cal na proximidade oceânica Aprendi a confiar Gravuras memórias na voz dos pescadores Nos mistérios do verbo navegar Ao largo o azul turquesa Da história, os heróis navegadores É a pictórica espera de uma estrada lunar Que honraram a Pátria com seus Um caminho distante sobre as muitas águas louvores Um rasto de prata no silêncio das noites As ondas enrolam-se em mim Quando a dormência se torna numa murmuran- São brincadeiras sem fim te espera Entre a espuma e a areia Há uma pintura de luz que o mar roubou ao céu Em noites de lua cheia Uma espécie de azul eterno Ouço poesias de amor Contido na nebulosa dos sonhos Quando a amada é uma flor Quando a tua silhueta Beijos e abraços enamorados Amor De verdadeiros apaixonados É como o canto sedutor da maresia no corpo marinheiro da viagem Ângela Maria Viegas Álvares Já não desejo a terra à vista Poema dedicado ao Dia do mar, 2021 Passei a amar as distâncias Quando o brilho do teu olhar Convoca as profundidades deste mar Onde os nossos corpos flutuando Se fundem no segredo das marés João Pedro Pinto 36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
Crianças As pedras do caminho Criança que és violada, explorada, (homenagem a Carlos Drummond de na idade de brincares com brinquedos. Andrade e ao seu poema “No meio do Trabalhas no duro, mal remunerada caminho”) p’ra venceres o desamor, o degredo. Vou tropeçando pelo caminho Nas minas, com a peneira são mineiros. meio incrédulo, meio desajeitado Se perto de um rio, pescam p’ra um nas pedras angulares de um longo Senhor. passado Meninos d’Oiro, indefesos, rotineiros. seguindo no presente mas devagarinho. Se sabem demais, seus corpos sentirão dor. Há sempre uma pedra na qual tropeça- Neste século vive-se em escravatura. mos O mundo aceita as vidas traficadas. com fortes probabilidades de nela cair Aos milhares, as crianças são torturadas. são os percalços do próprio sentir nefastos por vezes porque nele chora- Na Europa não são tão sacrificadas, mos. têm mais acesso à cultura e à ternura. Seis milhões por ano, são mortas p’la Se o caminho é longo e é sinuoso usura ! procura-se nele o que é carinhoso como aquele sorriso franco que sabes VIRGÍNIA BRANCO trazer Oeiras, 2021-02-05 Mas se evito as pedras em tom vitorioso alcanço de ti o que é mais gostoso gozando do teu ânimo para vencer. 12 de Junho de 2021 Mário Matta e Silva Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 37
POESIA Eu com O Grupo Orpheu Viajava eu entre jornais em geometrizados murais que então pintou! de épocas retardadas Ou então folheio Mário de Sá - Carneiro revivendo outras jornadas obra medida, rimada ou branca, mas tam- de respeitáveis entes imortais. bém diversa onde há uma “Dispersão” feita de promessa Tropecei no Grupo Orpheu que me chega em clamores de “fantasmas” em seus escritos, impressos, manuscritos “nevoeiro” ! reconstruí e devorei outros interditos passado de heterónimos versibilísticos, E conduzia-me o passado a tantos mais outros EU ! quase que em campa rasa hoje rebuscados retratos incertos agora retocados Geração isorrítmica que manifestou por vezes, cínica fama em frágeis pedestais! sua alta chama e sua vincada crença elevada erudição de uma Presença Seus textos são revolvidos, esquadrinhados páginas - companheiras que em tal saber ilustres amortalhados pela escuridão nos ficou ! alguns, perseguidos por seus rasgos de razão Recordei então de novo Pessoa postos aos ombros por uns ou então crucifi- nesse choque de emoções devastadoras cados ! deixado para as gerações vindouras febre delirante em Reis ou Caeiro qu’ inda O modernismo foi fermentado nesta ingra- soa ! tidão Com Cesário Verde, cantei Lisboa, porque em que os de Orpheu deixaram lutas e Lisboa é cantante fervor mesmo que em seu choque agreste de nove- onde encontro páginas e páginas de revolta centos e dor juventude dilacerada de tristezas e talentos viris denúncias... que valem o que valem... entre o campo e a cidade vive errante ! que são o que são ! Depois misturei versos e telas que o tempo Lisboa, Martinho da Arcada, 1997 conservou Mário Matta e Silva em museus, estações, monumentos da memória dum Almada que também nos deixou história 38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
HOMENAGEM Maestro Atalaya e Oeiras Li, com interesse, na edição n.º 34, de a realização de A Voz de Paço de Arcos, o artigo, José vários programas Atalaya e Oeiras, de José Maria de culturais com a Freitas Branco, pois é assunto que me está concordância e muito próximo: se trabalhei na Câmara apoio de outro Municipal de Oeiras, devo-o ao maestro. «maestro», o au- tarca dr. Isaltino Quando fui convidado pelo presidente de Morais, como: Livraria-Galeria Munici- Abecassis, para ser o 1.º diretor do recente pal Verney, Parque dos Poetas, Projeto Es- Departamento da Cultura da Câmara Mu- colas/Verney, Programa Fim do Império… nicipal de Lisboa, em 1989, constatei que o maestro deixara de colaborar no teatro mu- Votos de paz e saúde para Linda Atalaya nicipal S. Luiz, com o seu programa Música e Filhos… em Diálogo. Pedi para ele ir ao Palácio Gal- veias, sede do Departamento, onde o co- Também me tocou, no referido artigo, a nheci pessoalmente, tendo ele concordado referência à RDP, Rádio Difusão Portugue- em regressar. sa, visto ter lá colaborado, em 1976/77, no programa Contra Ponto, dirigido por José Também colaboravam naquele teatro, Manuel Nunes, que trabalhara na Alema- atores do Teatro Nacional D. Maria, in- nha, salvo erro. cluindo Alberto Vilar. Por lá passaram os quatro candidatos, de Conseguimos passar essas colaborações então, à Presidência da República (Rama- para outro teatro municipal, Maria Matos, lho Eanes, Pinheiro de Azevedo, Otelo Car- e aumentá-las, ficando representadas três valho e Otávio Pato), escritores Sophia de artes, cada uma por duas entidades: Músi- Mello Breyner Andresen, Urbano Tavares ca, pelos maestros José Atalaya e Vitorino Rodrigues, Romeu Correia, David Mou- de Almeida; teatro, pelo grupo do D. Maria rão-Ferreira; políticos Francisco Sousa Ta- e pelo Papa-Léguas; e Dança, pela artista vares, Ferro Rodrigues, Ribeiro Teles… internacional Ana Lázaro e por outro gru- po. Nessa altura, o presidente da RDP era um militar, Figueiredo, amigo de Ramalho Ea- Assim, proporcionou-se espetáculos di- nes e do maestro Atalaya, que me apoiou dáticos a escolas de Lisboa durante a se- várias vezes, quando quiseram acabar com mana e, aos sábados, ao público em geral, o Programa… pagando o preço do bilhete de cinema da sala ao lado, à 2.ª feira, dia mais económico. O trabalho na RDP deu-me experiência que me ajudou noutras iniciativas, nomea- Também por lá passaram outros vultos damente, na coordenação de tertúlias… da cultura, como Carlos do Carmo… Será possível recomeça-las em Oeiras, in- cluindo A Voz de Paço de Arcos? Na realidade, sem o maestro não teria terminado a minha carreira de servidor do M. Barão da Cunha Estado, na muito apreciada Câmara Mu- nicipal de Oeiras, onde se proporcionou Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 39
BAIRRO DA MEDROSA AS COMEMORAÇÕES DE UM ANIVERSÁRIO A memória de uma comunidade solidária celebrada em diversos eventos… 40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
Amemória de uma comunidade que imagens documentam. ao longo de 50 anos sempre ma- À cerimónia de descerramento da placa nifestou empenho em se manter comemorativa do cinquentenário do Bair- solidária não se pode perder. Por isso as ro estiveram presentes as autarquias e a Pa- celebrações registaram a adesão que as róquia, representadas ao mais alto nível. Das janelas e presentes no local, o momen- to foi seguido pela população do Bairro, aplaudindo e vibrando. Ponto elevado das celebrações foi a tarde musical realizada na EB M. Beça Múrias. O desfile de interpretações a cargo de artistas, todos eles com raízes no Bairro. A encerrar o evento foi feito anúncio de que as celebra- ções decorreriam até ao fim do ano! Rogério Pereira Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 41
HOMENAGEM Renato Santos PaçoArcuense, nascido em 17 de abril aliás, com de 1934, falecido em 18 de novembro várias pu- de 2020. blicações no Estudou na Escola Marquês de Pombal jornal “A Voz em Lisboa, no período noturno, onde tirou de Paço de o Curso Geral de Comércio. Entrou para Arcos”, desde a firma M.B.B, Teixeira, Lda/Couraça, na os tempos da maior organização de perfumarias em Por- sua fundação. tugal, nos anos cinquenta do século passa- O Sr. Renato do, exercendo funções de paquete/contínuo Santos fez vá- e mais tarde escriturário, na parte fabril na rias compilações de versos da sua autoria, Rua Santana à Lapa, em Lisboa. Mais tarde, com encadernação própria, constituindo transitou para os escritórios e armazéns na um espólio importante da sua dedicação e Praça D. Dinis, n.ºs 5 e 6 em Lisboa. amor à escrita. Aquando da sua transferência da fábri- Passarei a publicar e selecionar alguns ca, laboratórios e armazéns para a Estrada versos da sua belíssima poesia popular em de Paço de Arcos (1972), o amigo Renato sequência faseada, no jornal “A Voz de Paço Santos passou para a parte administrativa de Arcos”. Encontrámos de igual valia e in- como escriturário na secretaria, exercendo teresse cultural muitos documentos que o as suas funções com elevada competência Sr. Renato Santos guardou ao longo de dé- e aprumo profissional, pautando a sua con- cadas, nomeadamente “O Orfeão de Paço duta como pessoa muito afável e simpática, de Arcos”, datado dos anos cinquenta do e como exemplo de verticalidade durante século passado e memórias escritas, como mais de cinquenta anos ao serviço daquela o Boletim datado de 1957, da firma M.B.B empresa. Teixeira, Lda, entre outros, que eram pu- blicados bimensalmente, dentro da própria A sua veia poética, revelou-se, sobretudo, firma. após a sua reforma, desenvolvendo-a com valor e mestria, dedicando-se com muita O Autor e amigo pessoal. sensibilidade à Poesia e à arte de escrever. Desse exemplo, sãos os belíssimos versos, Alfredo Amaral de Figueiredo 42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
PATRIMÓNIO HISTÓRICO A família d’Orey e a Quinta dos 7 Castelos Existe em Santo Amaro de Oeiras um que rodeavam a Casa bonito jardim com uma casa que mais explicando a histó- parece um palacete que a Câmara de ria da família d’Orey. Oeiras vai recuperar. Moro mesmo ao lado, Pois esta Casa tem vai para 43 anos e acontece que muitas vezes uma história de amor passava junto do Jardim, na altura fechado, e sucesso nos negó- quando diariamente me dirigia para o com- cios que como se cos- bóio para ir para ir dar aulas na minha Escola, tuma dizer “até dava um filme!” Como estou então chamada de “Belém/Algés”. Olhando reformada e não vou dar aulas de Filosofia, através das grades, muito danificadas, ima- comecei a dedicar-me ao Cinema como reali- ginava quem teria vivido naquele Jardim e zadora… imaginei um guião a partir de alguns naquela casa, sem conhecer a história que conceitos que comecei a investigar: quem foi agora proponho contar. Quando em tempos Waldemar d’Orey fundador da Casa? E des- próximos visitei o Jardim, há muito aberto ao cobri com o apoio de bibliografia, que em 1899 público (pois a Câmara de Oeiras adquiriu o Waldemar d´Orey, proprietário de uma em- imóvel comprando-o à última herdeira que presa de importação e exportação de merca- lá viveu) fiquei surpreendida com os cartazes dorias, localizada no Cais do Sodré, solicitou autorização à Câmara Municipal de Oeiras para edificar uma habitação num terreno por ele adquirido no sítio dos Sete Castelos. A par- tir daqui comecei a desenvolver a “história”, inserindo-a no contexto histórico do princípio do séc. XX e romanceando alguns factos que no entanto tento aproximar da realidade, ten- do contactado um dos netos do Sr. Waldemar d´Orey ( Guilherme d´Orey ) que se dispôs a conversar comigo sobre a família. Como faço parte da Associação Espaço e Memória de Oeiras, apresentei o meu projeto para o filme que proponho realizar e este foi aceite. Conti- nuo a escrever o guião, e acima de tudo, pre- tendo traduzir em imagem alguns momentos significativos da família d´Orey evocando fac- tos que me parecem fascinantes e dos quais tenho já as fontes históricas mais significativas para o meu trabalho cinematográfico. Graça Patrão Bibliografia: OREY – uma família, uma empresa - de Maria João da Câmara Medialivros, Lisboa 2005 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 43
CULTURA “Há revista em Linda-A-Velha” Uma Boa Nova para o futuro – Domingos Lobo OIntervalo - Grupo de Teatro es- mais solidários, mais justos e mais felizes e treou no passado dia 17 de Junho, que o Teatro e os seus criadores, acompa- às 21h00, no Auditório Municipal nhem essa festa e essa mudança. Lourdes Norberto em Linda-a-Velha, o Elenco artístico (por ordem de entrada em espectáculo “HÁ REVISTA EM LINDA-A- cena): Miguel de Almeida, João José Cas- -VELHA”, com encenação de José Domin- tro, Dina Santos, Rita Bicho, Teresa Neves, gos Lobo e Direcção Geral de Fernando Pedro Beirão, Fernando Tavares Marques, Tavares Marques. O espetáculo irá estar Susana Cacela, João Pinho, André de Melo. em cena todas as quintas, sextas e sábados até 31 de Julho de 2021, sempre às 21h. Espectáculos: quintas, sextas e sábados O Intervalo – Grupo de Teatro, não quis às 21h00, até 31 de Julho. deixar de trazer esse singular género ao Reservas: 21 414 17 39 / 968 431 100 nosso espaço do Auditório Municipal [email protected] Lourdes Norberto, mesmo que limitados Para mais informações: de tempo e espaço. Assolados por uma terrível pandemia, Instagram: @intervalogrupodeteatro_ que nos fechou em casa por mais de ano e oficial meio, estamos precisados de rir, de cantar, facebook.com/intervalogrupodeteatro de inventar de novo a alegria que o vírus, ou o receio dele, nos sonegou. Intervalo Grupo de Teatro Há Revista em Linda-a-Velha, para além de ser breve memória sobre grandes êxitos da Revista, é tam- bém uma singela homenagem a grandes actores que fazem parte da nossa memória colectiva. E cons- titui-se, enquanto modelo, um de- safio aos nossos actores, músicos e técnicos, que se viram confronta- dos com uma complexa e exigente técnica teatral. Queremos que esta peça seja um hino à alegria, essa Boa Nova que trará, por certo, um mais pródigo futuro à humanidade saída dos dias agrestes do pesadelo. Que os próximos tempos sejam 44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
BREVES À SOLTA Artesanato no Jardim Municipal Afeira de Artesanato está inserida Iremos ter sempre vários e diferentes ar- num projecto da C.M.O. onde no tesãos em cada mês, com enormes artes, e primeiro Sábado do mês, com ini- cio no passádo mês Junho e até Outubro, em vários materiais tais como; estaremos presentes no Jardim Municipal Trabalhos de bijutaria artesa- de Paço de Arcos juntamente com a Feira nal, Trabalhos em tecidos, Tra- de Produtos Biológicos. A Feira de Arte- balhos com vidros, Trabalhos sanato decorrerá entre as 10.00 horas e as de cerâmica, Produtos Gour- 19.00 horas perto do Coreto. met, compotas e doces caseiros, licores e mel caseiro, cestaria, a arte do macramé, etc. Visite- -nos! Jesuina Soeiro Com os seus 108 anos de idade chega-nos uma foto- grafia de D. Jesuina Soeiro. Tendo em consideração que a filha mora em Castelo Branco, ela neste mo- mento está num lar nessa localidade. Continua lúcida e de boa saúde. Os nossos parabéns! Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021 45
RECEITAS DA TIA CÁTIA ovo e bata com a vara de arames, enquan- to adiciona o restante leite e as natas; Pasteis de Arroz doce 6) Ao arroz já cozido junte casca de limão, um pau de canela, o preparado líquido 12 Pasteis de natas com o leite e deixe cozinhar em INGREDIENTES lume baixo durante 15 minutos, mexen- do sempre. No final adicione o açúcar e - 50 ml de água deixe dissolver; - 300 ml de leite 7) Retire do lume e recheie as formas de - 80g de arroz carolino massa folhada com o arroz-doce; - Sal q.b. 8) Leve ao forno a 180º cerca de 25 minu- -1 placa massa folhada rectangular tos ou até dourar; - 20g de manteiga vegetal 9) Sirva os pastéis mornos, polvilhados - 4 gemas de ovos com açúcar em pó e canela. - 250 ml de natas - 1casca de limão Livro: Os Segredos da Tia Cátia - 1 pau de canela SBN978-989-741-576-0 - 80g de açúcar - Canela e açúcar em pó para servir q.b. Direitos reservados CASA DAS LETRAS (uma marca da Oficina do Livro) PREPARAÇÃO Editora: Marta Ramires 1) Leve ao lume um tacho com 50ml de 1º Edição Setembro 2016 água e 50ml de leite e o arroz. Tempere Deposito Legal DL 412863/16 com uma pitada de sal e deixe cozer ta- pado; 2) Durante esse tempo prepare as taças de massa; 3) Estenda a massa folhada, pincele com manteiga e enrole delicadamente para formar caracol; 4) Depois corte em rodelas de aproxima- damente 1cm e disponha no fundo de formas. Com os dedos, pressione a mas- sa contra a parede das formas para forrar na totalidade; 5) De seguida, separe quatro gemas de 46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 35 Junho 2021
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