Te re s a N a za r
Teresa Nazar – Liberdade e ousadia nos anos 60 “Na vida não tem sentido ficar apegada às coisas. Em circunstâncias diferentes de sua carreira artística, Teresa Quando se almeja algo novo é preciso abandonar Nazar sempre entendeu que a arte é uma forma de ampliação de tudo o que veio antes” conhecimentos. Consciente das múltiplas transformações tem- porais, utilizou em suas obras nos anos 1960, como estratégia Teresa Nazar básica de comunicação, materiais e técnicas atualizadas, expli- citando e, de certo modo, facilitando a apreensão e a intelecção S/Título (da série Astronautas), 1966. das incertezas e das aspirações da sociedade dessa época, em Chapa de ferro, tela de arame, madeira, borracha, tubo de ferro, oposição à massificação crescente pós Segunda Guerra Mundial, plástico e tinta sobre compensado, 122 x 69 cm. que absorvia os progressos científicos e tecnológicos, consumin- Untitled (from series: Astronauts), 1966. do-os sob a ótica de interesses menores e imediatistas. Entendeu, Iron plate, wire mesh, wood, rubber, iron tube, plastic and paint com antecedência, que a arte da segunda metade do século XX on plywood, 122 x 69 cm. não se prestaria apenas para fins expressivos pessoais, de uma sensibilidade mais ou menos aguda ou de uma visão alienada so- 2 cialmente – desligada do seu tempo e das dificuldades pessoais de seus conterrâneos. Antecedeu assim os preceitos elaborados pelo principal manifesto da vanguarda brasileira, elaborado e publicado na cidade do Rio de Janeiro por Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Lygia Pape, Maurício Nogueira Lima e entre outros, Lygia Clark, em janeiro de 1967 e conhecido como Declaração de Princípios Básicos da Vanguarda Brasileira. Para a artista, viver e criar sempre foi um desafio instigante, uma relação dialógica estabelecida por intermédio de signos, formas e cores – vivenciais aos usufruidores de suas criações plásticas. Um diálogo que tinha como propósito principal ser expressão mútua, não somente uma forma de falar por outro ou para o outro, mas com o outro – uma manifestação igualmente significativa para o público e para a própria artista. Uma maneira de transpor a impessoalidade da vivência social, capaz de des- pertar no ser humano a consciência de si mesmo, de construir ou de reconstruir seus valores, intensificar experiências, reelaborar o mundo que o envolve sobre o qual age, mas também que o pressiona e o modela. Teresa Nazar, desta forma, compreende a configuração es- tética e social dos anos 1960: um tempo dinâmico exposto à tecnologia que evoluciona e revoluciona o cotidiano – unindo sentimentos que interferem no processo criativo dos artistas
3
e que transcendem o meramente particular para projetar-se ainda mais a proposta inicial da artista, um confronto direto esteticamente no universal. com o conturbado momento histórico da época. Assim, os fragmentos e os recortes de materiais industrializa- Ao expor fragmentos e detritos da decantada sociedade tec- dos se transformam em ferramentas primordiais para a sua cria- nológica, a artista realiza uma experiência estética diferenciada: ção plástica. Uma forma talvez de sinalizar um tempo difícil, não uma crítica ao estatuto real da contemporaneidade que privilegia só para o Brasil, sua pátria adotada, mas para o mundo em geral. os processos produtivos tecnológicos vigentes, em detrimento da Visionariamente, a pintora entendeu os fatos, hoje considerados humanidade. Daí a aparente instabilidade criada em suas obras, históricos (o Ato Institucional Número 5, a prisão dos estudantes tensão permanente entre superfícies e volumes. do 3º Congresso da UNE, a proibição da exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro de artistas brasileiros seleciona- Felicitada pelos principais críticos de arte brasileira, Teresa dos para representar o Brasil na Quinta Bienal de Paris, o Pacto de Nazar aprofundou ainda mais as suas pesquisas estéticas. Varsóvia, o fim da Primavera de Praga, as grandes manifestações Mário Schenberg, ao escrever sobre esta nova fase da artista, estudantis e greves em Paris, o assassinato do líder pacifista afirmou: “Na VIII Bienal, Teresa causou uma grande surpresa Martin Luther King e até as transgressões criativas do Festival pelo progresso rapidíssimo que realizara em pouco tempo. Ver- de Woodstock). Enfim, um tempo que exigia posicionamentos dadeiro salto. Sua pintura ganhara um arrojo e uma liberdade claros, sem subterfúgios. A artista reformula radicalmente a sua imprevisíveis, graças à sua audácia no emprego de novos ma- obra situando-a neste novo contexto histórico, traduzindo em teriais e a virada para novas formas de realismo... Sua visão do criações visuais seu engajamento social, estético. mundo não podia ser transmitida adequadamente pela simples representação gráfica e colorística tradicional”.1 Em 1966, Fre- Objetos subtraídos do cotidiano, industrializados são apro- derico de Morais acrescentou: “Do último ano para cá, Teresa priados como matéria de ressignificação poética. Destituídos de Nazar transformou radicalmente sua temática, iniciando uma seu destino original, desprovidos de qualquer tipo de glamour, série interessantíssima sobre vôos de astronautas, na qual usa ganham uma nova potência quando migram para a arte. Denun- materiais dos mais diversos – placas de metal, restos de objetos ciam o estado efêmero da vida, ressignificam valores. industrializados, etc. – como que a sugerir a mesma ambiência dos vôos interplanetários... É preciso prestar atenção em Teresa Os cânones tradicionais do bom gosto, se aplicados à primeira Nazar”.2 Harry Laus também destacou a sua grande mudança vista na obra desta fase da artista, são inutilizáveis. Teresa Nazar artística: “Teresa Nazar abandonou a pintura de cavalete e de- deliberadamente incorporou e ao mesmo tempo ultrapassou as dica-se a serrar, parafusar, pregar elementos dos mais variados características artísticas das correntes reinantes da época: Novo para a realização de seus quadros. É uma pintora da vanguarda Dadaísmo, Novo Realismo, Nova Figuração, Pop-Art. Assim como paulista”.3 Antonio Bento, em 1966, reforçou: “A temática ‘pop’é Susan Sontag, Teresa Nazar entendeu a significativa contribuição adequada às novas realizações da artista... Teresa Nazar utiliza-se da estética Camp para aquele período. A pintora decisivamente de objetos e chapas prateadas, que revitalizam a sua composi- eliminou o que seria assimilável facilmente, substituindo-o ção... uma pintura inovadora e anticonformista, baseada numa por uma composição vigorosa à margem do caudal da arte de temática da nossa época, como a da navegação sideral, com os imediata intelecção e consecutiva comercialização, à procura seus foguetes, cápsulas e astronautas, heróis modernos empe- de uma arte objetual, entre a pintura e a escultura, uma crítica nhados na aventura da conquista do cosmo”.4 O historiador de direta à sociedade industrial de consumo, que lhe possibilitou arte José Roberto Teixeira Leite confirmou: “a artista destacou-se uma visão particular do mundo, índice da liberdade artística por suas interpretações pictóricas do cotidiano, bem como pela alcançada pela imaginação irrestrita desta artista. série de quadros dedicados aos astronautas e aos vôos espaciais, servindo-se então de uma linguagem claramente influenciada Independente e livre de objetivos esculturais, os materiais pela Pop norte-americana”.5 industrializados escolhidos pela artista impulsionam e dinami- zam a composição final da obra: lâminas finas, maleáveis são Apesar de Teresa Nazar não concordar, muitos críticos inseri- recortadas arqueadas, dobradas, sanfonadas. Além dos metais, ram a sua produção visual na Pop-Art. A artista, em depoimento Teresa Nazar acrescentou em seus painéis materiais plastificados, para o Jornal do Brasil, discordou: “Há muito tempo – por ne- tecidos variados, pregos e até parafusos. cessidade e obrigação – acabei com a pintura de cavalete. Creio nos materiais que procuro e utilizo porque, através deles, chego Perfeitamente integrados à composição, adquirem certa a concretizar um pedaço do tempo no qual existi”. Em seguida autonomia de aparência inesperada, incomum. Apesar de optar completou: “Minha arte é bem distinta daquilo que os pop-art pela não utilização de materiais considerados nobres e sacrali- americanos mostram em suas obras, pois, sendo o artista um zados pelas artes plásticas, seus painéis superam vicissitudes termômetro de sua época, ele retratará os símbolos do mundo e alcançam densidades unívocas. As emendas e as suturas, re- que o rodeia dentro de seus limites geográficos. O homem ame- solutivamente visíveis ressaltam não apenas as precariedades ricano não tem tempo de parar para pensar. Por isso a Pop-Art destes materiais, mas da própria humanidade. As confrontações formais e figurativas aparentemente contraditórias reforçam 4
americana reflete um mundo agitado, cheio de cartazes lumi- e cola PVA, parafusos, interruptores, cabos elétricos, arrebites nosos, produtos alimentícios e garrafas de coca-cola”.6 – objetos côncavos ou convexos – convivem formalmente nas composições e alegorias visuais de Teresa Nazar. Metáforas que Em depoimento, iconoclasticamente, a autora reforça a sua abrigam objetos, formas e cores vibrantes: operações simbólicas independência estética afirmando que as nomenclaturas e as desvinculadas de relações imediatistas de significados-signifi- classificações artísticas deviam ser eliminadas: “Chegou um cantes, somente testemunhas da realidade circundante. Para a momento que você não precisa dizer: isto é uma pintura, um de- artista, os materiais funcionam como coautores da obra, pois senho, uma gravura ou uma escultura. Você pode utilizar todos os expressam intrinsecamente o essencial, o indisfarçável, certa materiais escultóricos, gráficos, pictóricos em uma única obra”.7 verdade inalcançável à arte por outros meios. Os materiais, muitas vezes constroem tensões, integrantes e inseparáveis Apesar da não concordância explícita da artista, de sua filia- do ideário visual concretizado pela artista. Uma cosmogonia ção à Pop-Art, algumas de suas obras (distantes do marketing e visual que redimensiona as discussões sobre a própria criação da apologia de consumo) se aproximam, tangenciam conceitu- artística (iniciada por Teresa Nazar com as suas pinturas dos anos almente esta corrente artística. 1950), para um diálogo mais amplo com diferentes técnicas e diversificados materiais, assim os seus quadros avolumam-se e Após ser aclamada pelo crítico Mário Schenberg como “ar- testam os limites sacralizados da pintura: uma tradução parti- tista da vanguarda paulista”e alcançar visibilidade nacional por cular, convincente, sensível de Teresa Nazar. intermédio de suas participações com grande destaque em duas Bienais Internacionais de São Paulo - a pintora foi convidada Com esse resgate histórico da produção plástica de Teresa (em plena ditadura militar) para realizar junto com os mais im- Nazar nos anos 1960, a Galeria Berenice Arvani reforça a opinião portantes artistas daquela época: Hélio Oiticica, Antonio Dias, de Walter Zanini que, em 2005, afirmou que Teresa Nazar “criou Rubens Gerchman, Nicolas Vlavianos, Pedro Escosteguy, Maria múltiplos campos de imagens, construídos através de grande Helena Chartuni e Carlos Vergara – de um dos mais polêmicos liberdade de formas articuladas, singulares... é recorrente o eventos da década de 60: o Happening na Avenida São Luís/ assemblage de coisas industrializadas ... descobrimos em seus Galeria Atrium de São Paulo, que, segundo Carlos Vergara, foi cenários geralmente conturbados, uma presença significativa para desmitificar a arte: “Somos realistas. As coisas devem ser de razões femininas, sócio-culturalmente e psicologicamente vistas como são. Vamos tirar o paletó da obra de arte para que entre as maiores de um período de luta por emancipações ... A o público se sinta à vontade para ver”. 8 contribuição de Teresa Nazar permanece.” 11 Em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo Teresa João J. Sp i n ell i acrescentou “o propósito do apeningue é social e artístico ser- vindo-se da psicologia do choque para despertar no espectador 1 SCHENBERG, Mário. “Teresa Nazar”. Galeria Atrium, São Paulo, 18 de agosto o impacto ante a obra de arte... algo momentâneo, que pode de 1966. chocar o meio mostrando a insignificância das coisas e das idéias, o desprezo pelos valores estabelecidos e também algo mais: a 2 MORAIS, Frederico. “A melhor Exposição é a de Teresa Nazar”. O Globo, Rio validade na escolha dos meios de expressão artística”.9 de Janeiro, 18 de setembro de 1966. Este evento, um manifesto iconoclasta, na época foi aclama- 3 LAUS, Harry. “Coexistência Pacífica”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 de do e ao mesmo tempo detestado pelo público e parte da crítica setembro de 1966. de arte. Os críticos mais engajados com a arte contemporânea o defenderam. O diretor do Museu de Arte de São Paulo – MASP, 4 BENTO, Antonio. “Os Astronautas de Teresa Nazar”. Última Hora, Rio de Pietro Maria Bardi, com discernimento e firmeza afirmou: “a Janeiro, 16 de setembro de 1966. arte brasileira continua a se desenvolver como estava previsto, participando sempre, e cada vez com mais intensidade, dos mo- 5 LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura. Rio de Janeiro: vimentos de renovação que surgem agora, uns após outros, em ArtLivre, 1988. p. 349. Verbete Nazar, Teresa. toda parte. Para muitos isto é errado; para outros, justo... tudo o que escapa do campo do conhecimento fácil e corriqueiro ainda 6 A Arte de Impacto de Teresa Nazar. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1966 não é aceito”. 10 7 FAAP. Departamento de Pesquisa e Documentação de Arte Brasileira da Ao se apropriar e adequar para a arte objetos e materiais até Fundação Armando Álvares Penteado. São Paulo, 27 de setembro de 1977. hoje relegados culturalmente, a pintora institui formalmente 8 Vamos participar desse apeningue. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 de uma nova leitura, um novo olhar. Para esta artista não existiam materiais nobres ou menos nobres. Cabia unicamente ao criador agosto de 1966. rever e superar padrões e convenções estipulados por antigas 9 Apeningue, o que é? O Estado de São Paulo. 12 de agosto de 1966 gerações de artistas e ou historiadores de arte. Assim, telas 10 BARDI, Pietro Maria. Simpatia para com o “happening” dos artistas. Diário de arame, palhas de aço (Bombril), tecidos, placas metálicas recortadas ou dobradas, madeira, gesso misturado com estopa de São Paulo, 17 de agosto de 1966 11 ZANINI, Walter. Sobre Teresa Nazar. In Tereza Nazar na Vanguarda Paulista. Spinelli. João. [ET alii]. São Paulo. Museu de Arte Brasileira – FAAP - 2005 p. 14 5
Teresa Nazar – Freedom and Audacity in the Sixties “In life, there is no sense in clinging to things. When you crave something new, you have to leave behind everything that came before.” Teresa Nazar In different circumstances of her artistic career, Teresa Nazar closed down Brazilian Congress –, the imprisonment of students always felt that art is a form of expansion of knowledge. Aware participating in the 3rd UNE congress, the prohibition of Brazilian of the multiple temporal transformations, she used in her work in artists, selected to represent Brazil in the Fifth Paris Biennial, of the Sixties, as a basic communication strategy , modern materials exhibiting their works in the Museu de Arte Moderna of Rio de and techniques, making the understanding and intellectual accep- Janeiro, the Warsaw Pact, the end of the Prague Spring, the large tance of the uncertainties and aspirations of society explicit and, student manifestations and strikes in Paris, the murder of pacifist in some way, easier. This in contrast to the growing massification leader Martin Luther King and even the creative trespasses of the after World War II, which absorbed the scientific and technologi- Woodstock Festival). In short, a period that demanded taking clear cal advances, consuming these from a standpoint of lesser and stands, without subterfuges. The artist reformulates her work shortsighted interests. She understood, in an early stage, that radically, placing it in this new historical context, translating into art, in the second half of the twentieth century, was not merely visual creations her social and aesthetic engagement. to be used for personal expression of a more or less refined, but socially alienated, sensitivity – disconnected in time and from the Objects pinched from daily life, industrialized objects, are personal difficulties of her fellow citizens. She thus preceded the appropriated as poetic re-signification matter. Robbed of their precepts established in the main manifest of the Brazilian avant- original destination, without any type of glamour, they acquire a garde, drawn up and published in the city of Rio de Janeiro by Helio new potency when migrating to art.They denounce the ephemeral Oiticica, Rubens Gerchman, Lygia Pape, Mauricio Nogueira Lima state of life, giving new significance to values. and, among others, Lygia Clark, in January 1967 and known as Declaration of the Basic Principles of the Brazilian Avant-Garde. The traditional standards of good taste, when applied at first sight to the works of this phase of artist, are useless. Teresa Nazar For the artist, living and creating always were a stimulating deliberately incorporated and at the same time exceeded the artis- challenge, a relationship as a dialogue based on signs, forms and tic characteristics of the then prevailing currents: New Dadaism, colors – to be experienced by the observers of her plastic creations. New Realism, New Figuration, Pop-Art. Just as Susan Sontag,Teresa A dialogue that had as its main purpose mutual expression, not Nazar understood the significant contribution of Camp aesthetics just a form of speaking for another or to another, but with the to that period. The painter decidedly eliminated whatever would other – a manifestation as significant for the public as for the artist be easy to assimilate, substituting it by a vigorous composition herself. A way of transposing the impersonality of social experien- outside of the mainstream of the art of immediate perception ce, capable of awakening in the human being a self-consciousness, and consecutive marketing, in search of an object-oriented art, of building or rebuilding his values, of intensifying experiences, between painting and sculpture, a direct criticism of the industrial of re-elaborating the world that surrounds him and on which he consumption society, which provided her with a particular world acts, but also which pressures and models him. view, an indicator of artistic freedom attained by the boundless imagination of this artist. Teresa Nazar, in this way, understands the aesthetic and social configuration of the Sixties, a dynamic period exposed to technolo- Independent and free from sculptural objectives, the indus- gy that evolves and revolutionizes day-to-day life – uniting feelings trialized materials chosen by artist drive and energize the final that interfere in the artists’ creative process and transcend the composition of her work: thin, flexible blades are cut, bent, folded merely private to project themselves aesthetically in the universe. and pleated. Besides metals, Teresa Nazar added to her panels plastic materials, different fabrics, nails and even screws Thus, fragments and cuttings of industrialized materials beco- me essential tools for her plastic creation. A way to signal a difficult Perfectly integrated into the composition, these materials period not only for Brazil, her adopted homeland, but also for the acquire a certain autonomy of an unexpected, uncommon appe- world in general. As in a vision, the painter understood facts that arance. In spite of not opting for the use of materials considered today are considered historical (Institutional Decree nr. 5 – which as noble or consecrated by plastic arts, her panels overcome vicis- situdes and attain unambiguous densities. The resolutely visible 6
joints and stitches emphasize not only the precariousness of these In an interview, the artist, iconoclastically, emphasizes her materials, but of humanity itself. The apparently contradictory aesthetic independence, affirming that the artistic nomenclatures formal and figurative confrontations further reinforce the initial and classifications ought to be eliminated: “A time has come when proposal of artist: a direct confrontation with the troubled historic you need not say this is a painting, this a drawing, this an etching moment of the period. or a sculpture. You can use all sculptural, graphic and pictorial materials in one single work.” 7 Exhibiting fragments and waste of the extolled technological society, the artist carries out a differentiated aesthetic experien- In spite of the artist’s explicit disagreement of her association ce: a criticism of the royal statute of contemporariness, which with Pop-Art, some of her works (far from the marketing and the privileges the technological productive processes in force, to the apology of consumption) conceptually come near or are tangent detriment of humanity. Hence, the apparent instability created in to this artistic current. her works, the permanent tension between surfaces and volumes. After having been acclaimed by critic Mário Schenberg as Congratulated by the main Brazilian art critics, Teresa Nazar “artist of the São Paulo avant-garde” and attain national visi- went still deeper into her aesthetic research. Mário Schenberg, bility through her highlighted participations in two São Paulo when writing about this new phase of the artist, stated “At the International Biennials, the painter war invited to take part (in Seventh Biennial Teresa caused a great surprise due to the very fast the midst of the military dictatorship) , together with the most progress she made in a short time. A real leap. Her painting gained important artists of that period –Helio Oiticica, Antonio Dias, an unforeseeable boldness and freedom, thanks to her audacity Rubens Gerchman, Nicolas Vlavianos, Pedro Ecosteguy, Maria in the use of new materials and the turn to new forms of realism. Helena Chartuni and Carlos Vergara - in one of the most polemic Her view of the world could not be properly transmitted through events of the sixties: the Happening at Galeria Atrium / Avenida the simple traditional graphic and coloristic representation.“1 In São Luis in São Paulo,which according to Carlos Vergara was to 1966, Frederico de Morais added: “Since a year ago, Teresa Nazar demythicize art: “We are realists. Things ought to be seen as they transformed her thematic radically, starting a very interesting are. Let us take the jacket off the work of art so the public feels series about space flight, in which she uses the most diverse ma- at ease watching it”. 8 terials – metal plates, remains of industrialized objects, etc. – as if to suggest the same ambience of interplanetary flight…. One must In an interview to the newspaper O Estado de São Paulo, Teresa pay attention to Teresa Nazar.”2 Harry Laus also highlighted her added: “The purpose of this happening is social and artistic, using great artistic change: “Teresa Nazar abandoned painting on an shock therapy to awaken in spectator the impact in the face of a easel and now is dedicated to sawing, screwing, fixing the most work of art … something momentary that may shock the milieu, diverse elements to execute her paintings. She is a painter of the showing the meaninglessness of things and ideas, the disdain for São Paulo avant-garde.”3 Antonio Bento, in 1966, agreed: “The pop established values and something else, too: the validity of choosing thematic suits the new productions of the artist…. Teresa Nazar means of artistic expression.”9 utilizes objects and metal plates, which revitalize her composition… an innovative and non-conformist painting, based on a current This event, an iconoclastic manifestation, was at the time thematic, like space navigation with its rockets, capsules and as- acclaimed and at the same time detested by the public and part tronauts, modern heroes dedicated to the conquest of cosmos.”4 of the art critics. The critics more engaged in contemporary art Art historian José Roberto Teixeira Leite confirmed: “The artist defended it. The director of the Museu de Arte de São Paulo – MASP, stood out through her pictorial interpretations of everyday life, as Pietro Maria Bardi, stated with insight and firmness: “Brazilian art well as her series of paintings dedicated to astronauts and space continues to develop as foreseen, always and ever more partici- flight, using here a language clearly influenced by American Pop.”5 pating intensely in the movements of renewal arising now, one after the other and everywhere. For many this is wrong, for others, Though Teresa Nazar does not agree, many critics insert her fair… Everything that escapes from the field of easy and routine visual production in Pop-Art. The artist, in an interview for Jornal comprehension is still not accepted.”10 do Brasil, disagreed: ”Since long – for need and obligation – I stopped painting on an easel. I believe in the materials I search for On appropriating and adapting to art objects and materials and use, because through them I manage to make real a piece of till now culturally rejected, the painter formally instituted a new time in which I existed.”Then she concluded: ”My art is very distinct reading, a new view. For this artist there were no noble or less from what American Pop-arts show in their works, because, the noble materials. It was solely up to the creator to review and artist being a thermometer of his time, he will portray the symbols overcome standards and conventions stipulated by previous ge- that surround him within his geographical limits. The American nerations of artists and/or art historians. Thus, mesh screens, steel does not have time to stop and think. Therefore, American Pop-Art wool, fabrics, cut or bent metal plates, wood, gypsum mixed with reflects an agitated world, full of neon signs, food products and cotton waste and PVA glue, screws, light switches, electric wiring, Coca-Cola bottles.” 6 rivets – concave and convex objects – coexist formally in Teresa Nazar’s compositions and visual allegories. Metaphors that shelter objects, forms and vibrant colors: symbolic operations not tied to 7
any immediatistic relation of significant-meanings, just witnesses of surrounding reality. For the artist, the materials function as co-authors of her work, as they intrinsically express the essential, the undisguisable, a certain truth not reachable by art by other means. The materials often build tensions, which are an integral and inseparable part of the visual complex of ideas made real by the artist. A visual cosmogony that provides a new dimension to the discussions about artistic creation itself (initiated by Teresa Na- zar with her paintings of the Fifties) to a wider dialogue, including different techniques and materials, her paintings thus acquiring more volume and testing the limits of consecrated painting: a particular, convincing and sensitive translation by Teresa Nazar. With this historical retrieval ofTeresa Nazar’s plastic production of the Sixties, the Galeria Berenice Arvani endorses the opinion of Walter Zanini, who in 2005 affirmed that Teresa Nazar created multiple image fields, built through a great liberty of articula- ted, single forms... The assemblage of industrialized things is recurrent... we discovered in her generally troubled scenarios a significant presence of feminine reasons, socially, culturally and psychologically among the most important of a period of battles for emancipation… The contribution of Teresa Nazar remains.”11 João J. Spi n e lli 1 Schenberg, Mario. “Teresa Nazar”. Galeria Atrium. São Paulo, August 18, 1966 S/Título (da série Astronautas), 1966. 2 Morais, Frederico. “The best exhibition is Teresa Nazar’s”. O Globo, Rio de Chapa de ferro, tela de arame, plástico, parafusos, objetos e tinta sobre compensado, 110 x 80 cm. Janeiro, September 18, 1966 3 Laus, Harry. “Pacific Co-existence”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, September Untitled (from series: Astronauts), 1966. Iron plate, wire mesh, plastic, screws, objects and paint on 16, 1966 plywood, 110 x 80 cm. 4 Bento, Antonio. Teresa Nazar’s Astronauts”. Ultima Hora. Rio de Janeiro, September 16, 1966 5 Leite, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura. Rio de Janeiro: ArtLivre 1988. P. 349 entry Nazar, Teresa 6 The Impact Art of Teresa Nazar. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 1966 7 FAAP. Department of Research and Documenmtation of Brazilian Art of the Fundação Armando Alvares Penteado. São Paulo, September 27, 1977. 8 Let us take part in this happening. O Estado de São Paulo, São Paulo, August 18, 1966 9 Happening, what is it? O Estado de São Paulo, São Paulo, August 12, 1966 10 Bardi, Pietro Maria. Sympathy with artists’ “happening”. Diario de São Paulo, August17, 1966 11 Zanini,Walter. About Teresa Nazar. InTeresa Nazar in the São Paulo Avant-Garde. Spinelli, João (et alii). São Paulo. Museu de Arte Brasileira – FAAP – 2005 p.14 8
S/título (da série Astronautas), 1967. Chapa de ferro, gesso, pva e tinta sobre compensado, 82x110 cm Untitled (from series: Astronauts), 1967 Iron plate, gypsum, PVA and paint on plywood, 82x110 cm 11
Série Espacial V, 1967. Chapa de ferro, tela de ferro, plástico, gesso, pva e tinta sobre eucatex, 121 x 141 cm Space series V, 1967. Iron plate, iron screen, plastic, gypsum, PVA and paint on plywood, 121 x 141 cm À Dir., S/título (da série Astronautas), 1966. Chapa de ferro, tela de arame, plástico, acrílico e tinta sobre compensado, 110 x 80 cm on the right, Untitled (from series: Astronauts), 1966. Iron plate, wire mesh, plastic, acrylic and paint on plywood, 110 x 80 cm. 12
13
S/Título (da série Astronautas), 1966. Chapa de ferro, tela de arame, gesso, vidro, madeira, parafusos, pva e tinta sobre compensado, 112 x 226 cm. Untitled (from series: Astronauts), 1966 Iron plate, wire mesh, gypsum, glass, wood, screws, PVA and paint on plywood, 112 x 226 cm. 14
Foguete, 1966. Chapa de ferro, tela plástica, gesso, vidro, parafusos, pva e tinta sobre compensado, 80 x 110 cm. Rocket, 1966. Iron plate, plastic screen, gypsum, glass, screws, PVA and paint on plywood, 80 x 110 cm. 15
16
Objeto, da série Mulheres, déc. 1970 Alumínio, madeirite, gesso, cola, plástico, ferro e tinta. 55 x 40,5 x 40,5 cm Object, from series: Women, 1970s Aluminum, plywood, gypsum, glue, plastic, iron and paint. 55 x 40,5 x 40,5 cm 17
Caixa-Objeto, da série Mulheres, 1967. Alumínio, ferro, tela de arame, tela de plástico, madeira e tinta. 36 x 62 x 17 cm Object - Box, from series: Women, 1967. Aluminum, iron, wire mesh, plastic screen, wood and paint. 36 x 62 x 17 cm 18
19
S/Título (da série Mulheres), déc. 1970 Gesso, tecidos, pva e tinta sobre compensado, 110 x 53 cm Untitled (from series: Women), 1970s Gypsum, fabrics, PVA and paint on plywood, 110 x 53 cm À dir., S/Título (da série Mulheres), 1975. Couro, sisal, gesso, tecido, pva e tinta sobre compensado, 123 x 53 cm on the right, Untitled (from series: Women), 1975. Leather, sisal, gypsum, fabric, PVA and paint on plywood, 20 123 x 53 cm
21
Tríptico, déc.1960 Chapa de alumínio, sisal, resina de poliéster e tinta sobre compensado, 110 x 161 cm Triptych, 1960s Aluminum sheet, sisal, polyester resin and paint on plywood, 110 x 161 cm. 22
S/Título (da série Mulheres), déc. 1970 Chapa de ferro, sisal, resina de poliéster, gesso, plástico, acrílico, pva e tinta sobre compensado, 83 x 111cm. Untitled (from series: Women), 1970s Iron plate, sisal, polyester resin, gypsum, plastic, acrylic, PVA and paint on plywood, 83 x 111cm. 23
S/ Título, déc. 1960 Chapa de alumínio, sisal, resina de poliéster, gesso, plástico, pva e tinta sobre compensado, 112 x 162 cm. Untitled, 1960s Aluminum sheet, sisal, polyester resin, gypsum, plastic, PVA and paint on plywood, 112 x 162 cm. 24
Teresa Nazar: Reflexões Visuais. Mom ento s Teresa Nazar nasceu no dia 1º de abril de 1933 em Mendoza, Argentina. Faleceu em 16 de junho de 2001 em São Paulo, cidade adotada e amada pela artista. Antes de vir para o Brasil, recebeu na sua cidade natal uma formação artística e humanística exemplar ministrada pela Universidade Nacional de Cuyo, que lhe outorgou, em 1961, uma bolsa de intercâmbio cultural. A artista, para se aprimorar em litografia, veio para São Paulo, onde estudou na FAAP com Marcelo Grassmann e Darel Valença. Este intercâmbio lhe possibilitou, além de seu aperfeiçoamento em gravura, ser assistente da pro- fessora Hebe de Carvalho na própria FAAP e ser selecionada para participar como monitora da VI Bienal Internacional de São Paulo. Estas experiências e o contato direto com os mais importantes artistas que participaram dessa mostra determinaram, depois de seu retorno à Argentina, um desejo de voltar a São Paulo e aqui permanecer. Em entrevista, Teresa Nazar explicou o motivo dessa sua escolha: “eram anos de grande agitação político-social e, na capital paulista, florescia um movimento cultural de grande envergadura. Nela gostaria de realizar o que penso em pinturas. Depende, no entanto, de várias circunstâncias”1 Para Vergniaud Gonçalves a artista acrescentou: “Odeio a ro- tina. Gosto de São Paulo também porque, quando acordo, nunca sei o que vai me acontecer. Estou descobrindo um novo mundo.”2 Em 1962, a artista aqui fixou residência definitiva, instalou seu ateliê e se casou em 1965 com o escultor grego Nicolas Vla- vianos, com quem teve dois filhos: Myrine e Gabriel. Desde o início de sua carreira artística em Mendoza, Teresa Nazar reconfigurou plasticamente a representação da humani- dade. No começo, solidária, registrou aspectos significativos da cultura dos indígenas argentinos, seus conterrâneos esquecidos pelo poder público. Esta fase foi elogiada pelo jornal Los Andes, de Mendoza. Esta publicação destacou de imediato o seu sur- preendente domínio técnico concluindo: “não obstante, apesar de jovem, em suas composições com figuras indígenas, pode-se apreciar a incorporação de alguns elementos que já apontam para um estilo pessoal.”3 Além dos especialistas em arte da Argentina, os brasileiros também reconheceram a extensão dos conhecimentos técnicos compositivos e pictóricos de Teresa Nazar. A sua primeira exposi- ção individual, aqui apresentada na antiga Galeria Selearte, foi referendada pelos críticos dos principais jornais paulistas. Geral- do Ferraz, considerado até hoje um dos críticos mais exigentes do Brasil, além de valorizar as suas habilidades técnicas afirmou: “A jovem pintora trata a pintura a óleo em cuidadosa matéria, sobre ritmos e coloridos de uma conscienciosa elaboração ... Teresa é 25
uma figurativa que não cede a nenhuma transação no mundo Inquieta e audaciosa, Teresa nunca se acomodou. Ela en- abstrato... busca, isto sim, correspondências plásticas de vibração tendeu que a arte está sempre em movimento, sintonizando o ativa e de enquadramentos dinâmicos... tudo isto em favor de mundo e a humanidade em permanentes mudanças e mutações. uma pintura que se arma sem esforço numa espontaneidade Por isso, nunca aceitou repetir meramente o já alcançado, es- admirável.”4 truturado de suas criações plásticas. Por isso, liberta, procurava incessantemente os meios libertadores do pensar visualizar e Na mesma época, José Geraldo Vieira, Quirino da Silva, Mário fazer arte. Assim, a pintora se distanciou cada vez mais de solu- Schenberg e Sergio Milliet também enalteceram esta sua pri- ções fáceis e repetitivas impostas pelo ainda insípido mercado meira mostra no Brasil. Quirino da Silva admirado escreveu: “sua sul-americano de artes visuais. Nazar, até o fim de sua vida, em obra é toda estruturada por um desenho forte que se harmoniza tempo algum, afastou-se de seus valores pessoais e de suas con- com um colorido depurado.”5 vicções estéticas. Isenta de proselitismos e de soluções traiçoeiras da arte, jamais embarcou nas ondas da moda. Só lhe interessava José Geraldo Vieira acrescentou: “Teresa Nazar apresenta uma a expressão e a representação dos anseios de uma humanidade objetividade figurativa em teor majestoso ... uma intuitiva com- livre que também lutasse a favor da liberdade da vida e da arte, posição proto-cubista e também expressionista entre Georges suas principais metas de vida. Braque e Rouault ...” Assim Vieira sinalizava as heranças e influ- ências positivas dos grandes mestres na obra de Teresa Nazar.6 Uma parte da crítica de arte entendeu esse novo momento criador de Teresa, surpresos com seus progressos em tão pouco Para Sergio Milliet: “Teresa Nazar tem a recomendá-la, antes tempo, muitos críticos a selecionaram e a indicaram para impor- de tudo, um conhecimento perfeito da composição. Uma com- tantes mostras coletivas, ao lado dos mais significativos artistas posição sem dúvida geométrica, mas não fria, mesmo porque plásticos brasileiros dos anos 1960. adquire como predileção pelas curvas, uma sensualidade real- çada ainda pela cor e pelo amor a matéria. A seriedade da sua Sem medo de errar, avançou cada vez mais em suas pesquisas arte é ademais, extremamente simpática nesse momento de de materiais e técnicas inovadoras. Desistiu definitivamente tantas seduções estéticas.”7 da pintura a óleo de cavalete, à procura de outros e inusitados suportes para as suas novas criações. Depois de afirmar que Já para Mário Schenberg, “a pintura de Teresa Nazar se filia as nomenclaturas e as classificações artísticas precisavam ser a um expressionismo figurativista de marcado caráter cubista ... abolidas, rechaçadas, defendeu o uso livre de elementos gráficos, esta jovem artista possui uma visão vigorosa das paisagens e das pictóricos e escultóricos em uma única obra, preconizando um pessoas ... a cor é ainda subordinada ao desenho e à composição novo tempo, um novo momento de sua carreira. dos volumes ... que acentuam os vários planos de seus espaços cubistas, sem constituir o meio principal de expressão.”8 Com materiais inusitados, Teresa idealizou duas novas séries. Segundo o crítico Mário Schenberg a sua nova “visão de mundo Raramente, não só no Brasil, um artista plástico em sua não podia ser transmitida adequadamente pela simples repre- primeira mostra individual conseguiu tanto apoio e o reconhe- sentação gráfica e colorística tradicional.” Para ele, a partir de cimento de suas qualificações técnicas, temáticas, coloristas e 1965, “Teresa continuou a progredir muito. Houve, sobretudo, compositivas.Apesar do sucesso desta e das outras exposições uma transformação radical na sua temática, que se tornou apresentadas pela artista nas principais galerias de arte de São atualíssima, tratada de maneira convincente. Basta mencionar Paulo e do Rio de Janeiro (Astréia, Atrium, PetiteGalerie, Goeldi), a a sua série interessantíssima de quadros sobre os voos dos as- pintora entendeu que não poderia parar no tempo, se acomodar, tronautas em que utiliza largamente placas e outros elementos mesmo com essa excelente aceitação dos críticos e dos princi- metálicos assim como objetos. O tratamento tão vivo e sugestivo pais colecionadores de arte da época. A partir daí, Teresa sentiu das figuras é característico de sua fase atual. Também nas telas a necessidade de enfrentar novos desafios em sua carreira. Em sobre temas cotidianos, como no quadro com as mulheres no entrevista para um jornalista, a pintora afirmou: “Na vida não cabeleireiro, Teresa revela uma capacidade de apreensão realista tem sentido ficar apegada as coisas. Quando se almeja algo novo pop muito original e uma eficácia de comunicação artística ... A é preciso abandonar tudo o que veio antes.”9 posição de destaque de Teresa Nazar na vanguarda da pintura paulistana se consolidou e, sua presença já se faz sentir mais Apesar de realizada como artista e de ter suas obras disputa- amplamente em todo o movimento neo-realista brasileiro.”10 das pelos principais galeristas e colecionadores da época, Teresa Nazar, paralelamente às suas atividades artísticas, desenvolveu Nos anos 1960 Teresa Nazar participou das principais ma- um profícuo e elogiado trabalho como professora na Faculdade nifestações de vanguarda das artes plásticas brasileiras: do de Artes Plásticas da FAAP, destacando-se, até hoje, entre os primeiro happening de São Paulo, junto com Helio Oiticica que mais respeitados mestres deste centro universitário.Em de- apresentou pela primeira vez em São Paulo neste evento passis- poimento, entre tantos outros artistas, Alex Vallauri ressaltou tas da Escola de Samba da Mangueira usando os seus Parangolés; a contribuição das aulas de desenho ministradas na FAAP por de importantes mostras organizadas por Walter Zanini no Museu Teresa Nazar, considerando-as de fundamental importância para a sua formação artística. 26
de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e inclusive tradicionais do desenho e da pintura a óleo, uma forma irreverente de bienais de São Paulo – as de 1965 e 1967. Nesta última, tam- distante dos convencionalismos da representação artística em um bém conhecida como a “Bienal da Arte Pop”, suas obras foram momento difícil da história do Brasil, em plena ditadura militar. As- destacadas pela ousadia formal, técnica e temática incomuns sim, presentificou e questionou em suas obras, de forma eloquente, em paralelo à produção inovadora da representação dos Estados a permanente equação: razão versus emoção frente às máquinas Unidos que na ocasião expôs obras de Jasper Johns, Andy Warhol, cada vez mais robotizadas do dia a dia do cidadão comum. RoyLichteinstein e entre outros Robert Rauschenberg. Quando questionada sobre as influências da Pop-Art em sua A pesquisa de novas técnicas e materiais insólitos fundamen- produção plástica, Teresa Nazar respondia: “Para mim a arte tou o processo criativo de Teresa Nazar nos anos 1960. Liberdade, universal não tem fronteira”, reafirmando, mais uma vez, com ousadia e inovação desmedidas, em especial para uma artista que antecedência o primeiro item da Declaração de Princípios Básicos dominou com maestria, desde o início de sua carreira, as técnicas da Vanguarda Brasileira. João J. Sp i n ell i 1 Silva. Quirino da. Teresa Nazar. Diário da Noite. São Paulo 13 de julho de 1961 2 Gonçalves, Vergniaud. São Paulo fascina artistas de outras terras. Shopping News. São Paulo, 23 de julho de 1963 3 Jornal Los Andes. Expone oleos Teresa Nazar. Mendoza, 13 de agosto de 1960 4 Ferraz. Geraldo. Uma artista na paisagem. O Estado de São Paulo. 22 de março de 1963. p. 7. 5 Silva. Quirino da. Teresa Nazar. Diário de São Paulo. 8 de março de 1963. Segundo caderno. P. 2 6 Vieira. José Geraldo. Teresa Nazar. Folha de São Paulo. 12 de março de 1963 7 Milliet. Sergio . Teresa Nazar. Folha de São Paulo. 12 de março de 1963 8 Schenberg Mario. Teresa Nazar. Galeria Selearte. São Paulo. 1963 9 Gonçalves, Vergniaud. São Paulo fascina artistas de outras terras. Shopping News. São Paulo. 23 de julho de 1963 10 Schenberg Mario. Teresa Nazar. Galeria Atrium, São Paulo. 18 de maio de 1966 27
Te r e sa Nazar : V isua l R eflections. Moments Teresa Nazar was born on April 1, 1933 in Mendoza, Argentina. She elaborated … Teresa is a figurative artist who doesn’t compromise died June 16, 2001 in São Paulo, the city she adopted and loved. with the abstract world… but she does seek for plastic correspon- dence of active vibration and dynamic framing … all this favoring Before coming to Brazil, she received in her hometown an a painting that is effortlessly built on an admirable spontaneity.”4 outstanding humanistic and artistic education at the Univer- sidad Nacional de Cuyo, which awarded her in 1961 a cultural On the same occasion, José Geraldo Vieira, Quirino da Silva, exchange scholarship. The artist came to São Paulo to perfect Mário Schenberg and Sergio Milliet also exalted her first exhibi- herself in lithography, studying at FAAP University with Marcelo tion in Brazil. Quirino da Silva wrote, in amazement: “her work Grassmann and Darel Valença. This interchange made it possible is totally structured by a strong drawing that harmonizes with for her, in addition to improving her engraving skills, to become refined coloring”.5 the assistant to Professor Hebe de Carvalho at FAAP and be chosen to participate as guide at the 6th São Paulo International Biennial. José Geraldo Vieira added: “Teresa Nazar presents a figurative These experiences and the direct contact with the most important objectivity on a majestic note…an intuitive proto-cubistic and also artists who participated in this exhibition motivated her wish, expressionistic composition between Georges Braque and Rou- after her return to Argentina, to come back to São Paulo and stay ault…”. Thus, Vieira signaled the legacies and positive influences here. In an interview, Teresa Nazar explained the reason for her of the great masters on the work of Teresa Nazar.6 choice: “those were years of great political and social turmoil and in the capital a widespread cultural movement bloomed. Here I In the opinion of Sergio Milliet: “Teresa Nazar is commendable, aspired to express in paintings what I felt. It depended, however, above all, for her perfect knowledge of composition. A composi- on various circumstances”1 tion that is undoubtedly geometric, but not cold, since it acquires, through its preference for curves, a sensuality further enhanced To Vergniaud Gonçalves the artist added: “I hate routine. I like by the colors and her love for the subject. The serious nature of São Paulo also because, when I awake, I never know what is going her art is also extremely sympathetic in this moment of so many to happen to me. I am discovering a new world.”2 aesthetic seductions.7 In 1962, the artist set up residence here definitively, installed For Mário Schenberg, on the other hand: “Teresa Nazar’s pain- her studio and in 1965 she married Greek sculptor Nicolas Vla- ting is associated with a figurative expressionism of a markedly vianos, with whom she had two children, Myrine and Gabriel. cubistic character…. This young artist has a vigorous view of landscapes and people… color is still subordinated to the drawing Since the beginning of her artistic career in Mendoza, Teresa and the composition of volumes….that stress the various planes Nazar reconfigured plastically the representation of humanity. of her cubistic spaces, without constituting the main means of In the beginning, showing solidarity, she portrayed significant expression.”8 aspects of the culture of the Argentine Indians, her fellow citi- zens forgotten by the public authorities. This phase was praised Rarely, not just in Brazil, did a plastic artist in her first indivi- by the Mendoza newspaper “Los Andes”. This publication also dual exhibition gather so much support and recognition of her emphasized her surprising mastery of technique, concluding: technical, thematic, coloring and composition qualifications. In “notwithstanding her youth, one can already perceive in her spite of the success of this and other exhibitions, which the artist compositions with Indian figures, the incorporation of some presented in the main art galleries of São Paulo and Rio de Janeiro elements that already indicate a personal style.”3 (Astreia, Atrium, Petite Galerie, Goeldi), the painter felt she could not just stop in time and ease off, even with all this excellent In addition to the Argentine art specialists, Brazilians also ack- acceptance on the part of critics and major art collectors of that nowledged the extent of the technical composition and pictorial period. At this point, Teresa felt the urge to face new challenges skills of Teresa Nazar. Her first individual exhibition, held in the in her career. In an interview to a journalist, the painter stated: old Selearte Gallery, was referenced by the critics of the major “In life, there is no sense in clinging to things. When you crave São Paulo newspapers. Geraldo Ferraz, considered even today something new, you have to leave behind everything that came one of Brazil’s most demanding critics, in addition to praising before.”9 her technical skills, stated: “The young painter treats oil painting as a subject full of care, over rhythms and colors conscientiously Though an accomplished artist with works being disputed by the main galleries and collectors of that time, Teresa Nazar, 28
in parallel to her artistic activities, developed a productive and In the Sixties, Teresa Nazar took part in the major manifes- much lauded career as a Professor in the Plastic Arts Department tations of the avant-garde of the plastic arts in Brazil: from the of FAAP, being considered, until today, one of the most respected first happening in São Paulo, together with Helio Oiticica, who masters of this University. In a testimonial, among other artists, presented for the first time in São Paulo in this event the dancers Alex Vallauri emphasized the contribution of the drawing classes of the Escola de Samba da Mangueira, using their “Parangoles”; given by Teresa Nazar, considering them of fundamental impor- from important exhibitions organized by Walter Zanoni in the tance to his artistic education. Contemporary Arts Museum of the São Paulo University and in- cluding the São Paulo Biennials of 1965 and 1967. In the latter, Restless and daring, Teresa never conformed herself. She also known as the Pop Art Biennial, her works stood out due to felt that art is always on the move, in tune with the world and their formal audacity, uncommon technique and thematic, in humanity in permanent changes and mutations. Therefore, she parallel to the innovative production of the US representation, never accepted just repeating what was already attained and which on this occasion showed works of Jasper Johns, Andy Wa- structured in her plastic creations. Therefore, released, she sought rhol, Roy Lichtenstein and, among others, Robert Rauschenberg. continuously the freeing means of thinking, viewing and making art. Therefore, the painter distanced herself ever more from the The search for new techniques and unusual materials was easy and repetitive solutions imposed by the still insipid South the fundament of Teresa Nazar’s creative process in the Sixties. American visual arts market. Until the end of her life, Nazar never Freedom, boundless audacity and innovation, especially surpri- abdicated from her personal values and aesthetic convictions. sing for an artist who since the beginning of her career mastered Free from proselytisms and the treacherous solutions of art, she the traditional techniques of drawing and oil painting, led to an never embarked on the waves of fashion. She was only interested irreverent form, far from the conventionalisms of artistic represen- in the expression and representation of the yearnings of a free tation at a difficult time in the history of Brazil, in the midst of a humanity, which also fought for liberty of life and art, the main military dictatorship. She thus set in the present and questioned goals of her life. eloquently in her works humanity’s permanent equation: reason vs. emotion, in face of an ever more robotized machinery in the Some art critics understood this new, creative moment of ordinary citizen’s day-to-day life. Teresa, surprised at the speed of her progress in such a short time. Many critics chose her and nominated her for important When asked about the influences of Pop-Art on her plastic collective exhibitions, along with some of the most significant production, Teresa Nazar replied: “For me, art is universal, has no Brazilian plastic artists of the sixties. boundaries”, reaffirming once again the first item of the Decla- ration of Basic Principles of the Brazilian Avant-Garde. Unafraid of erring, she progressed more and more in her rese- arch of innovative materials and techniques. She definitively gave João J. Sp i n ell i up oil painting on an easel, looking for other unusual supports for her new creations. After stating that artistic nomenclature and 1 Silva, Quirino da. Teresa Nazar. Diário da Noite. São Paulo July 13, 1961 classifications should be abolished and rejected, she defended the 2 Gonçalves, Vergniaud. São Paulo fascinates artists from other lands. Shopping free use of graphic, pictorial and sculptural elements in a single piece of art, proclaiming a new era, a new moment in her career. News. São Paulo, July 23, 1963. 3 Newspaper Los Andes. Tereza Nazar exhibits oils. Mendoza, August 13, 1960. With unusual materials, Teresa idealized two new series. Ac- 4 Ferraz, Geraldo. An artist in the landscape. O Estado de São Paulo, March 22, cording to critic Mário Schenberg, her new “world vision could not be adequately transmitted by simple traditional graphic 1963. P.7 and coloristic representation”. To him, starting in 1965, “Teresa 5 Silva, Quirino da. Teresa Nazar, Folha de São Paulo, March 8, 1963, Second continued to make great progress. There was, above all, a radical transformation in her thematic, which became extremely mo- section, p.2 dern, treated in a convincing way. Suffice it to mention her very 6 Vieira, José Geraldo. Teresa Nazar, Folha de São Pulo, Marfch 12, 1963 interesting series of pictures about the space flights, in which 7 Milliet, Sergio. Teresa Nazar. Folha de São Paulo, March 12, 1963 she uses abundantly plates and other metallic elements as well 8 Schenberg, Mario. Teresa Nazar. Galeria Selearte. São Paulo, 1963 as objects. The vivid and suggestive treatment of the figures is 9 Gonçalves, Vergniaud. São Paulo fascinates artists from other lands. Shopping characteristic of her current phase. Also on the canvases with everyday themes, such as women at the hairdresser’s, Teresa re- News. São Paulo, July 23, 1963. veals a capability of a very realistic and original pop capture and 10 Schenberg, Mario. Teresa Nazar. Galeria Atrium. São Paulo, May 18, 1966 an efficient artistic communication… Teresa Nazar’s outstanding position at the forefront of São Paulo painting was consolidated and her presence was already widely felt in the whole Brazilian neo-realistic movement.”10 29
TERESA NAZAR Principais Exposições Main Exhibitions 1958 Exposição individual Biblioteca Pública Gal. San Martin, Mendoza, Argentina 1960 Exposição individual Museo de Bellas Artes de San Rafael, San Rafael, Argentina 1963 Exposição individual Galeria Selearte, São Paulo SP 1963 XII Salão Paulista de Arte Moderna, Galeria Prestes Maia, São Paulo SP 1964 Exposição individual Galeria Astréia, São Paulo SP 1964 1a Exposição Jovem Desenho Nacional, Museu de Arte Contemporânea -MACUSP – São Paulo SP e Museu de Arte de Belo Horizonte MG 1965 1o Salão Esso de Artistas Jovens, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro RJ e Museu de Arte Contemporânea - MACUSP – São Paulo SP 1965 VIII Bienal Internacional de São Paulo – Fundação Bienal – São Paulo SP 1966 Exposição individual Galeria Goeldi, Rio de Janeiro RJ 1966 III Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, Brasília DF 1966 XXI Salão Municipal de Belas Artes, Museu de Arte de Belo Horizonte MG – Menção Honrosa 1966 Happening – Manifesto Apeningue - Coletiva Oito Artistas - Galeria Atrium, São Paulo SP 1966 Salão de Abril da Petite Galerie, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro RJ 1967 IX Bienal Internacional de São Paulo – Fundação Bienal, São Paulo SP 1967 1a JAC - Jovem Arte Contemporânea - Pintura – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MACUSP, São Paulo SP –Menção Especial do Júri Internacional 1967 Exposição “Caixas” - Petite Galerie, Rio de Janeiro RJ 1967 IV Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, Brasília DF 1968 XXIII Salão Municipal de Belas Artes - Museu de Arte de Belo Horizonte MG - Prêmio Aquisição 1968 “9 Artistas do Brooklin” - Galeria Astréia, São Paulo SP 1969 “Arte-Objeto” - Paço das Artes, São Paulo SP 1970 VI Salão de Arte Contemporânea de Campinas – Museu de Arte Contemporânea de Campinas – MACC – SP – Prêmio Aquisição 1972 “Múltiplos”, Galeria Múltipla de Arte, São Paulo SP 1972 V Panorama da Arte Brasileira - Museu de Arte Moderna, São Paulo SP 1974 VI Panorama da Arte Brasileira – Museu de Arte Moderna - São Paulo SP 1976 “Imigrantes nas Artes Plásticas de São Paulo” - Museu de Arte de São Paulo - MASP - São Paulo SP 1978 “Objeto na Arte, Brasil Anos 60” - MAB - Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo SP 1993 “Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956 – 1967” – Museu de Arte Moderna de São Paulo SP 2003 “Israel e Palestina: Dois Estados Para Dois Povos”, Sesc Pompéia - São Paulo SP 2005 Exposição Retrospectiva “Teresa Nazar na Vanguarda Paulista (1965-1975)” - MAB – Museu de Arte Brasileira – FAAP São Paulo SP 2009 “Recentes na Coleção” – MAB - Museu de Arte Brasileira – FAAP São Paulo SP 2016 “Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB”, MAB – Museu de Arte Brasileira - FAAP, São Paulo SP 2019 Exposição Individual Teresa Nazar – Liberdade e Ousadia nos Anos 60 – Galeria Berenice Arvani São Paulo SP Coleções Públicas Public collections Universidade Nacional de Cuyo, Mendoza Argentina Museu Gal. San Martin, Mendoza Argentina Universidade de Houston, Texas EUA MACC - Museu de Arte Contemporânea de Campinas SP Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco Olinda PE Fundação Cassiano Ricardo, Museu Municipal de São José dos Campos SP Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte MG MAC USP - Museu de Arte Contemporânea de São Paulo SP MAB - Museu de Arte Brasileira da FAAP, São Paulo SP 30 MASP - Museu de Arte de São Paulo SP
O Ônibus, 1975. Couro, sisal, resina de poliéster, tecido, plástico, gesso, aço inox, madeira, pva e tinta sobre compensado, 115 x 166 cm. The Bus, 1975. Leather, sisal, polyester resin, fabric, plastic, gypsum, stainless steel, wood, PVA and paint on plywood, 115 x 166 cm 31
exposição 26 de março a 27 de abril de 2019 exhibition march 26th to april 27th 2019 Coordenação/coordination • Berenice Arvani Assistente de Coordenação/Coordination assistant • Leonardo Guedes curadoria e textos/curatorship and texts • João Spinelli Comunicação/press • A4&Holofote Comunicação Projeto gráfico/graphic design • Fonte Design tradução/ Translation • mário Povel Fotografia das obras/photos • Fernando Silveira / FAAP e Sérgio Guerini agradecimentos / acknowledgments • Myrine Vlavianos e Gabriel Vlavianos Rua Oscar Freire 540 • cep 01426 000 São Paulo SP tels 3082 1927 • 3088 2843 [email protected] www.galeriaberenicearvani.com
Search
Read the Text Version
- 1 - 33
Pages: