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Revista F | Ano 9 | 2023 | n.14

Published by Revista F, 2023-06-16 20:08:27

Description: A questão de acesso e preservação de arquivos preocupa todo o mundo da fotografia. Mas como toda a produção social, aquilo que é produzido por mulheres tem empecilhos acentuados: há maior dificuldade na preservação e acesso de arquivos, seja por recursos ou valorização.
Nessa 14º edição da Revista F, a publicação traz uma série de produções de mulheres fotógrafas, justamente para formar um contraponto a esse cenário, contribuindo para um registro histórico, social, jornalístico e, principalmente, visual.

Boa leitura!

Keywords: photo,journalism,woman,magazine,publicity

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14ª Edição - XIV ano

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Editorial 3 A questão de acesso e preservação de arquivos preocupa todo o mundo da fotografia. Mas como toda a produção social, aquilo que é produzido por mulheres tem empecilhos acentuados: há maior dificuldade na preservação e acesso de arquivos, seja por recursos ou valorização. Nessa 14º edição da Revista F, a publicação traz uma série de produções de mulheres fotógrafas, justamente para formar um contraponto a esse cenário, contribuindo para um registro histórico, social, jornalístico e, principalmente, visual. No Especial, por meio de fotos e palavras, conta a história de Heloisa Vecchio e sua íntima relação com a fotografia analógica. O ensaio traz imagens de seu processo criativo, fotográfico e de direção de modelo. Gabriela Teixeira é uma das entrevistadas e mostra sua diversidade fotográfica na medida em que conta como a prática pode atuar subjetivamente, especialmente, por meio do autorretrato. A fotografia de moda, área tão mercadológica, também está presente. Larissa Felssen explica a importância de se posicionar frente a estereótipos Já Dani Antunes conta sobre o @fotografademulheresreais, que mais do que um projeto é uma perspectiva de como encarar o mundo de desigualdade de gêneros e aparências. Um pouco disso e mais. Boa leitura!

SUMÁRIO Brasil de todos os cantos 06 Entre-vistas 11 Especial: Poesia em filme 20 Perfil 40 Frame 46 4

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BrasilDE TODOS OS CANTOS Mineirão: o berço do futebol de Belo Horizonte O estádio é um importante ponto turístico da capital mineira além de ter sido palco de grandes momentos da história do futebol brasileiro. Por Guilherme Marques Pacheco Andreata O Estádio Governador Magalhães ser humano e profissional. Foi onde meus Pinto, mais conhecido como “Mineirão”, familiares me ensinaram a amar o futebol está localizado na região da Pampulha, e tudo que o envolve”, comenta. O Estádio do “Mineirão” foi inaugurado em Belo Horizonte. Com capacidade para no dia 5 de setembro de 1965 e entre os 62 mil torcedores, o estádio já recebeu anos de 2010 e 2012, passou por reformas grandes nomes do futebol brasileiro e mundial, eventos esportivos dos principais estruturais para a Copa do Mundo de 2014. clubes de Minas Gerais, shows, além de pessoas que visitam diariamente a Esplanada. O fotojornalista Rodney Costa, na profissão há mais de 20 anos, descreve sua identificação com o Gigante da Pampulha. “Lá, vivi grandes momentos na minha carreira. Conheci pessoas, me envolvi com grandes personalidades e amadureci como 6 Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Foto: Guilherme Marques Pacheco Andreata

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BrasilDE TODOS OS CANTOS Secretaria de Cultura de Lagoa Formosa cria Museu Municipal e reativa Biblioteca Com o novo espaço criado pela Secretaria de Cultura, os lagoenses passarão a ter acesso a uma vasta diversidade cultural. Por Vanderlei Gontijo A Casa da Cultura de Lagoa Formosa, o Museu Municipal e a Biblioteca Pública estão atualmente dividindo o mesmo espaço. A deia de unir os três espaços partiu da Secretaria Municipal de Cultura, com o objetivo de proporcionar maior acessibilidade aos lagoenses nos locais públicos. A cidade tem uma vasta diversidade cultural, fica situada no Alto Paranaíba, em Minas Gerais e possui mais de 18 mil habitantes, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com informações da coordenadora de Cultura, Érika Castanheira, os novos projetos culturais que serão desenvolvidos no município necessitam de contribuição dos moradores para que as ações apresentadas obtenham êxitos. “Queremos contar com a Érika Castanheira, coordenadora de Cultura. Foto: Vanderlei Gontijo participação de todos os habitantes no intuito de adquirir, livros, objetos históricos, fotos, documentos, relíquias, utensílios para o bem e a preservação de nossa 8 domésticos e objetos que tenham cultura”, finaliza. referências históricas e culturais de nossa O local escolhido para a nova sede fica região”, comenta Castanheira. na Rua Eurípedes Ribeiro, no Centro. A participação da comunidade será através de doação e/ou empréstimo dos acervos. Ainda, a coordenadora ressalta a importância de preservar a memória da comunidade. “Esperamos que nossos esforços sejam vistos como uma oportunidade de estarmos todos unidos

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BrasilDE TODOS OS CANTOS A grandeza do Parque Ecológico de Americana Ponto turístico da pequena cidade no interior do estado de São Paulo se mostrou forte perante a pandemia da Covid-19. Por Luís Eduardo Giraldi Parque Ecológico localizado em Americana- SP. Foto: Luís Eduardo Giraldi Quando um cidadão americanense é É de conhecimento geral a polêmica perguntado sobre pontos turísticos de sua em relação à existência de zoológicos. cidade, provavelmente o primeiro lugar Mas o que muitos não sabem é que eles a vir em mente é o Parque Ecológico. são diferentes de parques ecológicos. Fundado em 1984, sempre foi bastante Enquanto no primeiro a intenção é o frequentado, em excursões escolares ou turismo, usando animais como atração, no nos passeios em família. Servindo até segundo o objetivo principal é preservar, para estudos infantis e universitários, a simulando habitats e criando uma área pandemia também afetou o local em 2020 verde para a cidade. 10 e 2021. Apesar dos impactos da pandemia A estrutura é grande em relação ao do novo coronavírus, o parque ainda é o tamanho da cidade, já que, segundo o site maior ponto turístico de Americana (SP), oficial da prefeitura, o lugar abriga 101 servindo também para aprendizado de diferentes espécies de animais. Inclusive, crianças e até mesmo de universitários. o diretor do Parque, João Carlos Tancredi, Por mais que a fase da pandemia tenha deixou bem claro em entrevista que “a sido difícil para o funcionamento do preocupação não é o turismo, mas sim local, Tancredi garante que o público está a preservação dessas espécies, que são voltando a frequentar e que essa é uma nativas em maioria.” crescente clara.

E-VNISTTRAES Da redação jornalística para o campo de pesquisa científica A jornalista, Taís Seibt, iniciou os estudos sobre fact-checking no Brasil e, atualmente, é uma das principais referências da área. Por Paulo Pessoa Foto: Taís Seibt Formada em Jornalismo pela Unisinos Taís: Nos primeiros anos da escola, 11 em Porto Alegre (RS), a jornalista Taís logo comecei a me destacar nas aulas Seibt, que já atuou em veículos como de redação. Ganhei vários concursos o jornal Zero Hora, iniciou os estudos literários, fui “Jornalista por um dia” do relacionados à área de fact-checking em jornal Zero Hora (ZH) mais de uma vez. 2015. Atualmente, é referência na área. Quando visitei a redação do ZH, em Porto Em entrevista à Revista F, a jornalista Alegre, que era uma das premiações do conta o porquê escolheu o jornalismo, concurso, eu fiquei encantada. E tudo isso os desafios e obstáculos que os(as) fez sentido quando, mais tarde, me tornei pesquisadores(as) enfrentam no Brasil e os repórter e trabalhei naquela redação por próximos passos da sua pesquisa. vários anos. Acho que não sei responder exatamente por que decidi trabalhar Revista F: Por que decidiu trabalhar com como jornalista, parece que sempre fui jornalismo? jornalista.

-EVNISTTRAES Revista F: E quando se interessou pela e isso estava mudando. Quando fui para o pesquisa acadêmica? doutorado, direcionei meu olhar para isso. Taís: Desde o início da faculdade eu já Queria investigar as rotinas de redações trabalhava para me manter. Entrei na tradicionais, nos meios nativos digitais, pesquisa acadêmica quando surgiu uma que abriram e seguem abrindo frentes de oportunidade de entrar na iniciação trabalho diversas para os jornalistas. científica como bolsista, o que também Terminei o doutorado e não parei me ajudava a pagar o curso. Essa nunca de pesquisar, estudar, aprender. configuração fez com que, desde o Estou ainda, como todos, analisando, começo, eu estivesse sempre com um interpretando, tentando buscar respostas pé na academia e outro no mercado de que não temos para o fenômeno que trabalho. Isso nunca mudou, até hoje vivo está diante de nós e não para de se assim. Peguei gosto pela pesquisa, tanto transformar. Tanta coisa já aconteceu que resolvi fazer mestrado logo depois de desde 2018, e não para de acontecer. formada. Mas ao mesmo tempo, nunca O próprio termo “desinformação” deixei de ser repórter. foi encontrando seu espaço nessas transformações, pela necessidade de Revista F: Como surgiu o seu interesse de se adaptar um vocabulário que já não estudo sobre fact-checking e o fenômeno traduzia o que estávamos tentando da desinformação? explicar. O fact-checking se transformou, Taís: Foi uma consequência de outros assumiu outras funções de verificação, foi olhares de pesquisa. No mestrado, estudei alçado a um papel de autoridade, pode- o processo de convergência jornalística se dizer. Quando comecei os estudos era na redação do Zero Hora, no qual, ainda apenas mais uma prática secundária deste era repórter durante o mestrado. Estava jornalismo nativo digital. investigando as mudanças de rotinas numa redação que estava começando um Revista F: O Afonte Jornalismo alterou processo de integração entre o impresso sua visão sobre o mundo? e o digital - hoje é meio louco pensar Taís: São várias coisas. Por um lado, nisso porque tudo já está altamente ser idealizadora de uma iniciativa integrado ao digital, mas naquela época independente, mesmo que pequena eram mundos paralelos. Conforme ia e sem recursos, exige diversificar avançando nas referências, vendo outros nossas competências: desde gestão, estudos, a realidade em outros países, planejamento, marketing. Não é mais só começou a mwwe chamar atenção a vida jornalismo. Então, a primeira mudança 12 fora das redações tradicionais. Até aquele de visão de mundo que Afonte me trouxe momento, reportagem fora das é sobre propósito. O que fazemos e por o jornalista tinha uma visão de carreira que fazemos? Quando a gente se insere de certa forma condicionada a trabalhar em uma organização, vamos fazendo em um veículo, e isso estava mudando. o que fomos contratados para fazer, Quando fui para o doutorado, direcionei a nossa “obrigação”. A chave vira um meu olhar para isso. Queria investigar pouco quando nos vemos tendo que as rotinas de redações o jornalista tinha investir tempo, que é um bem precioso, uma visão de carreira de certa forma criatividade e até dinheiro em uma coisa condicionada a trabalhar em um veículo, nossa. Tem que fazer sentido. Todas

-EVNISTTRAES investir tempo, que é um bem precioso, paga aluguel ou é chefe de família? Esse criatividade e até dinheiro em uma coisa valor de bolsa é um dos elementos de nossa. Tem que fazer sentido. Todas exclusão social no mundo acadêmico. as escolhas profissionais que fiz depois Faz pesquisa quem tem condições de se de criar Afonte, os projetos em que me manter nessa situação, seja com reservas envolvi e o quanto me dedico ao que faço, financeiras ou ajuda familiar. Então, é fazem parte dessa visão de mundo. bem difícil pensar numa dica. Porque se dedicar a um tema, estudar tudo o Revista F: Como a situação da pandemia que pode, criar redes de contato com impactou na produção da sua pesquisa? pesquisadores, participar de congressos Taís: A pandemia teve um duplo impacto acadêmicos e publicar artigos, nada disso no meu tema de estudo: primeiro, ajudou garante sucesso na carreira de pesquisa. É a colocar o tema em evidência, o que fundamental fazer tudo isso, mas tem essa foi bom, porque tinha uma pesquisa dificuldade de fundo. Precisamos batalhar recente sobre isso; segundo, despertou o pela educação, pela ciência, enquanto interesse de todo mundo sobre o tema, sociedade mesmo. então, pipocaram novas pesquisas aos montes, o que foi complicado, porque Revista F: Tem projetos futuros em ficou muito difícil me manter atualizada relação a checagem de fatos? sobre as discussões. Toda a escassez de Taís: Minha atuação está cada vez mais bibliografia que havia antes foi suplantada voltada à educação midiática, que inclui o por uma volumosa produção acadêmica fact-checking, estou menos na “linha de sobre esse tema. Meu grande desafio hoje frente” da checagem. Mas considero que é acompanhar tudo isso e ficar atualizada, isso também é um projeto relacionado porque tem muita coisa interessante e à checagem de fatos, porque formar relevante sendo produzida. leitores preparados para este mundo é fundamental. Revista F: Alguma dica para quem deseja seguir a carreira em pesquisa acadêmica 13 na área da comunicação? Taís: A carreira do pesquisador no Brasil é um pouco complicada. Quando você recebe uma bolsa de mestrado ou doutorado, precisa se dedicar exclusivamente à pesquisa, não pode ter vínculo empregatício. Uma bolsa de doutorado atualmente paga R$ 2.200, e não há férias, 13º, vale transporte ou qualquer outro benefício em cima disso. São 48 parcelas mensais de R$ 2.200, equivalente aos quatro anos de curso. Não se fala muito sobre isso, mas precisamos falar. É só fazer as contas: dá para arcar com os custos da pesquisa em si e mais com seus custos de vida, quando você

Fotografia também é espaço para a versatilidade As fotos de Gabriela Teixeira exploram diversas áreas e editorias do meio fotográfico. 14

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-EVNISTTRAES Por Fernanda Guedes Atualmente cursando Publicidade e quais suas inspirações na fotografia? Propaganda, Gabriela Texeira, 25 anos, Gabriela: Para ser bem sincera, por mais começou a fotografar por amor e já realizou que eu seja extremamente apaixonada trabalhos em diferentes áreas da fotografia. por tudo na fotografia, eu nunca tive uma Em entrevista especial para a Revista F, inspiração. Digo uma pessoa que me inspire a estudante conta como descobriu seu no mundo da fotografia, claro que admiro talento e sobre os tipos de foto que realiza. muitas fotografas, mas a minha maior De maneira independente, Texeira inspiração são as pessoas do dia a dia. É eu possui uma grande variedade de trabalhos. ver o sorriso de uma criança, uma mulher de Entre suas produções estão ensaios de etnia diferente, um casal de idosos na rua gestantes e recém-nascidos, eventos como de mãos dada. Minha inspiração é ver cor casamentos, aniversários e shows. Além e amor em todos os cantos e mostrar esse de outras criações como retrato artístico e meu olhar para as pessoas. Fazer elas se street style. apaixonarem por pequenos detalhes que se passassem reto não teriam percebido. Revista F: Quando surgiu o seu interesse por fotografia? Revista F: Qual o seu tipo de trabalho Gabriela: A fotografia sempre esteve na fotográfico favorito de realizar? minha vida desde pequena com aquelas Gabriela: Com toda a certeza o meu tipo câmeras de filme pretas da Kodak. Minha de trabalho favorito é quando o meu cliente família não tinha dinheiro para ter uma mas, me dá total liberdade para criar em cima da lembro de brincar com uma preta que não temática que ele escolheu. Onde eu posso funcionava mais, e ela era o meu brinquedo usar itens e lugares não convencionais e favorito. Quando as câmeras digitais inshot fazer fotos em que eles se enxerguem de surgiram, minha mãe conseguiu comprar e uma maneira totalmente única, acredito me deixava tirar fotos dela se arrumando que as experiências dessas fotos se tornam para sair, da família, e aos poucos eu gostosas na memória. comecei a me apaixonar por tirar fotos de coisas do dia a dia. Revista F: Para você, quais os pontos Fui crescendo e esse meu sonho de ter mais marcantes e característicos nos seus uma câmera e tirar fotos das pessoas trabalhos? nunca mudou. Até que no meu segundo Gabriela: Eu acredito que o meu ponto emprego, aos 17 anos, consegui juntar mais marcante dentro da fotografia é uma 16 dinheiro o suficiente para comprar uma GE mistura de criatividade junto com uma semiprofissional. Eu nunca tinha mexido em edição simples. Gosto que as pessoas se uma câmera dessas e foi amor à primeira vejam como elas são e gostar do que veem vista. Depois disso, fui conquistando através da minha fotografia. Acredito que equipamentos aos pouquinhos, garimpando alterações drásticas em fotos não mostram de usados até conseguir comprar o meu quem a pessoa é de verdade e a verdadeira xodó, que é a minha câmera profissional. essência de uma pessoa é ela ser quem é, com cicatrizes, marcas e manchas, da vida Revista F: Quem são suas referências e de cada um nesse mundo, que te torna

17 Créditos das fotos: Gabriela Teixeira

-EVNISTTRAES extremamente único. Então, eu sempre Revista F: Uma dica para quem quer iniciar prezo pelo bem-estar dos meus modelos, na fotografia: onde eles se sintam confortáveis comigo Gabriela: Comece, nem que seja com a e que eles se vejam lindos como são. Acho câmera do celular, mas comece. Você nunca que é o meu ponto mais marcante. vai saber o seu potencial se ficar no “e se”. Coloque em prática hoje, não precisa Revista F: Qual o trabalho ou foto mais começar sabendo tudo sobre iluminação, marcante que você já realizou? posicionamento de câmera e tudo mais. Gabriela: Até o presente momento Precisa só de vontade de querer pôr em o trabalho que mais me marcou foi prática; os equipamentos e sabedoria, você quando fotografei o meu primeiro show e conquista com o tempo. finalmente fui reconhecida como fotógrafa. Eu entrei na área onde eles ficavam e consegui ficar ao lado do palco tirando fotos dos cantores. Para mim foi surreal ter esse reconhecimento e ver que aos poucos eu estou conquistando o meu espaço. Revista F: O que você considera ser o maior desafio no meio da fotografia? Gabriela: Acredito que ter oportunidades, justamente por eu não ter um estúdio e estar tentando conquistar o meu lugar, as pessoas temem que as fotos fiquem “amadoras” por eu não ser conhecida o suficiente para isso. Chega a ser frustrante quando desmarcam ou fazem fotos com alguém que é maior nas mídias mas, não desanimo pois sei que ainda chego lá e irei conquistar meu lugar nesse meio tão concorrido e sem oportunidades no Brasil. Revista F: Como fotógrafa, o que ainda gostaria de realizar? Gabriela: Gostaria muito de fazer ensaios 18 que tragam reflexões sobre certos assuntos e alertar sobre. Um exemplo muito claro seria sobre os transtornos psicológicos, sobre desastres naturais, mas representar isso em pessoas. Eu tenho a vívida ideia de como quero fazer mas ainda me faltam recursos para pôr em prática e quem sabe um dia expor esses trabalhos em uma galeria.

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20 Poesia em filme Conheça o trabalho de Heloisa Vecchio, uma artista que tem uma relação intensa com a fotografia analógica e que descobriu no uso do filme uma realização pessoal e profissional.

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ESPECIAL Por Thays de Stenger Heloisa Vecchio descobriu a fotografia pela quantidade de trabalho que realizo, analógica por meio de processos internos eu sempre envio meus filmes para um de autoconhecimento. Quando estava no laboratório revelar”, explicou. 9º período de Arquitetura e Urbanismo, Em seu processo criativo, sempre pensa decidiu fazer um intercâmbio, pois sentia- primeiro no sentimento que quer transmitir: se exausta do curso e sabia que não era “Depois crio um esboço do que imagino. aquilo que gostaria de seguir como carreira. Aos poucos o roteiro do ensaio ganha forma Na Itália, em 2018, ao procurar por algo e detalhes. Faço os desenhos das cenas e que realmente queria fazer, encontrou a das composições que desejo criar”. fotografia. Após comprar uma câmera Esse planejamento é essencial para analógica – a Pentax MX – começou a trabalhar com analógica, pois cada clique fotografar e nunca mais parou. deve ser pensado muito antes de ser de fato No segundo mês fotografando em filme, clicado. Mas também faz fotografias sem realizou uma oficina de revelação p&b e tanto planejamento, sente a atmosfera do desenvolveu uma paixão profunda por momento e clica. Sua fotografia é sobre essa arte. Ali percebeu que não tinha mais sentir, sobre reviver uma memória e um volta e, com a fotografia analógica, sentiu a sentimento: ‘’São registros poéticos e realização pessoal e profissional. sensíveis’’. Aprofundou os estudos e experimentou diversas áreas de fotografia até entender o que realmente gritava em seu coração: os ensaios de nu artístico. Heloisa se considera uma artista multifacetada, pois gosta de muitas coisas e permite fazê-las. Atualmente trabalha com casamentos, ensaios, marcas, still em audiovisual, vende obras e também é professora de fotografia. Sua relação com a fotografia analógica é intensa. Desde que iniciou na área, teve um envolvimento profundo com o filme. E nesse processo se envolveu de corpo e alma. Quando via o resultado dos rolinhos 22 que clicava, tinha a certeza que era aquilo que deveria fazer da vida. “Eu me encanto pelos ensinamentos que a fotografia analógica me proporciona, desde a espera, a falta de controle, o pensar antes de clicar, as surpresas e suas transformações”, conta. A fotógrafa já revelou muitos filmes p&b de forma caseira, com a receita de Caffenol CL que tem o café como base. “Hoje em dia,

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38 Fotos analógicas de Heloisa Vecchio

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Perfil A importância da participação feminina na fotografia de moda O portfólio de Larissa Felsen coleciona trabalhos para diversas grifes nacionais e internacionais. Nos últimos anos, ela também passou a estudar sobre espaço das mulheres na fotografia de moda. Por Juliana Bernardino legenda foto O local escolhido para a nova sede fica na Rua Eurípedes Ribeiro, no Centro. 40 “A partir do momento que você fotografa, você impõem seu repertório com a sua visão”. Foto: Larissa Felsen

Perfil A fotógrafa Larissa Felsen (34) é um moldar o consumo feminino. “A partir 41 dos grandes nomes da fotografia de do momento que você fotografa, você moda, beleza e publicidade no Brasil da impõe seu repertório com a sua visão. O atualidade. Com 12 anos de carreira, ela olhar nada mais é do que o seu consumo conta com campanhas e publicações para de referências, tudo que você ouve e vê, grandes marcas e revistas como Arezzo, seu repertório enquanto ser humano. É Calvin Klein, Kryolan, Claudia, Marie Claire impossível fotografar imparcialmente. e L”Officiel Hommes. Atualmente, Larissa Quando fotografo, coloco meu coração, não só fotografa, mas também se empenha minha mente e toda a minha criatividade em discutir o espaço das mulheres no e isso faz parte do que eu sou, do que eu mercado de trabalho artístico. Natural de consumo e acredito”, declara. Atibaia (SP), sua relação com a fotografia começou no ano de 2004, junto com as Enquanto mulher, ela se coloca como primeiras câmeras digitais. Teve, então, a usuária do produto. E como fotógrafa, ideia de transformar o que era um hobby procura desconstruir a direção fotográfica em sua profissão, pois seu desejo era contar masculina, de forma que o produto na histórias através da narrativa visual da foto fique mais consumível para o público fotografia de moda. Em 2010, após concluir feminino. Larissa explica que a ideia não é sua graduação em Jornalismo, se mudou vetar homens da fotografia de moda, mas para a Grande São Paulo para trabalhar. ter mais mulheres atuando no mercado. Para ela, o trabalho das fotógrafas no século Recém pós-graduada em História da 21 é o olhar de desconstrução e há um Arte, seu trabalho de conclusão de curso longo caminho para a democratização da abordou a presença feminina na fotografia fotografia para as mulheres. dos séculos XX e XXI. Em sua pesquisa, uma profissional que se destacou foi a Considerando que vivemos em um fotógrafa norte-americana Jill Greenberg, tempo bastante imagético, a qualidade que já fotografou personalidades artística acaba por diminuir com a internacionalmente conhecidas e carrega velocidade da circulação de imagens e em seu portfólio diversas capas de revistas. vídeos. Com a ferramenta carrossel do Jill deu uma palestra na conferência TED Instagram, tornou-se possível trazer intitulada “The Female Lens” (em tradução uma grande variedade de fotos nas literal: “A Lente Feminina”), que questiona campanhas digitais. Assim, a marca “ao o fato de fotógrafos homens terem mais invés de escolher uma grande foto que vai espaço no mercado. Segundo dados de representar a coleção, escolhe um número 2021 da Organização para a Cooperação maior de fotos para mostrar o produto de e Desenvolvimento Econômico (OECD), todas as formas possíveis”. Neste sentido, embora as mulheres sejam maioria nas Larissa acredita que as redes sociais têm faculdades, isso não garante contratação sido prejudiciais para a fotografia do por parte das empresas, que ainda dão ponto de vista artístico. Para ela, cabe ao preferência ao gênero masculino. fotógrafo, que também é um artista, trazer de volta a qualidade artística independente Para Larissa, parece problemático que da grande demanda do mercado. em um universo essencialmente feminino como o da moda, seja um homem que, a partir da sua visão de mundo dentro da fotografia, produza as fotos que irão

Perfil Dani Antunes, a fotógrafa de mulheres reais Com frases de empoderamento em suas redes, ela incentiva mulheres a se amarem e aceitarem como são Por Nicole Thessing “Amar-se é um ato de coragem. Aceitar de plus size?”. A partir de então passou a o seu corpo, a sua personalidade, os seus receber cada vez mais pedidos de ensaios defeitos e os seus medos são coisas que de ‘mulheres reais’ e seu telefone não parou mostram uma força sem igual”. mais de tocar. Essa é a legenda de um ensaio postado nas Dani explica que os cursos de fotografia redes sociais de Dani Antunes, a fotógrafa ensinam que, além de tirar a foto, parte do de mulheres reais. Ela sempre trabalhou processo fotográfico é fazer o photoshop com beleza e moda, em especial com depois. “E eu me sentia muito errada ao maquiagem em estúdios de fotografia. fazer isso. Quem sou eu para dizer que a Até que se tornou mãe e começou a fazer característica da minha cliente não é boa o registros fotográficos de seu bebê e postar suficiente?”, questiona. De início, ela relata no site Fotolog, rede social que usava em que algumas pessoas estranharam e que 2009. As fotos fizeram sucesso, então achou que não iriam querer contratá-la. Mas decidiu investir neste talento. foi justamente por conta dessa proposta De início, trabalhou como fotógrafa de que ela fez tanto sucesso. baladas, pois o mercado de fotografia de “Eu vim te procurar para ver se eu sou moda, que era o que ela mais gostava, era bonita como eu, não bonita editada”, muito fechado onde morava. Em 2012, é o que Dani ouviu de mulheres que a conseguiu abrir um estúdio para fotografar procuraram após terem feito ensaios famílias e bebês, que foi como este projeto fotográficos em outros estúdios e não começou.Depois, seu foco passou a ser se reconhecerem nas fotos. “Eu trato gestantes e tinha também contratos de minhas fotos com cor e tudo mais, o mais trabalho para eventos, como formaturas real possível. Mas eu não mudo nenhuma e casamentos. Foi quando a irmã de uma característica das minhas clientes, amiga pediu que ela fizesse seu ensaio, pois nenhuma; porque o nome do meu trabalho iria participar de um concurso de Miss Plus é ‘fotógrafa de mulheres reais’, e quem eu Size. seria fazendo photoshop, mudando elas?” 42 “Nunca tinha feito fotos desse tipo, de O processo de aceitação pelo qual estúdio, de mulheres. Já tinha até feito algumas mulheres passam ao fazer o ensaio sensual, mas na casa da pessoa”. ensaio espelhou na fotógrafa: “eu também Apesar disso, resolveu aceitar o desafio. Ela não me aceitava como eu era”. “Isso conta que em 2012 ainda não conhecia o me transformou muito, principalmente feminismo e chegou a se questionar como profissionalmente. Às vezes, eu ficava a deixaria magra. Em seguida, pensou: “Por frustrada com o resultado do meu trabalho que eu tenho que deixar ela magra, se ela na formatura, no casamento. E hoje eu está justamente participando de um evento olho minhas fotos, meu trabalho, e tenho

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Perfil Perfil Foto: Nicole Thessing orgulho dele”. homem. A maioria vem por si”. Elas querem Dani conta que no decorrer dos anos ser fotografadas para se verem bonitas novamente, querem saber “se ainda são já recebeu muitas mulheres que sofriam bonitas”. Para Dani, esse acaba sendo um violência doméstica. “O marido usava processo importante de empoderamento da violência psicológica dizendo que ela e que tem muitos relatos de mulheres que não era nada, que ela era um lixo. E ela conseguiram se separar depois. aceitou aquilo como sendo a verdade dela”, lamenta. Algumas faziam o ensaio às escondidas do companheiro. “Ela não está vindo fazer o ensaio para mostrar para ninguém. Ela está vindo para entender que ainda é uma mulher bonita, que independente da violência física e psicológica que ela sofre em casa, ela ainda é uma mulher”. E ali ela se sente à vontade para “usar coisas que o marido sempre falou que é feio, que é coisa de puta, mas que ela gostava e deixou para trás por conta da violência psicológica, e ela ressignifica tudo isso”. E assim, o esmalte e o batom vermelho, condenados por muitos homens, aparecem. “Elas não vêm aqui para agradar

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Frame Autorretrato: criação e acolhimento Texto por Fernanda Guedes / Autorretrato por Gabriela Teixeira O autorretrato na prática “Eu sempre tive vontade de ser fotografada e de que as fotos saíssem do jeitinho que eu queria, mas por ter me frustrado muito com alguns fotógrafos, decidi que não deixaria ninguém tirar foto minha e nem eu mesma tiraria. Porém, quando eu estava passando por alguns problemas pessoais, decidi extravasar em forma de foto. Simplesmente me deixei levar pelos meus sentimentos. Peguei tintas, pincel e me pintei inteira como se fosse uma tela em branco. Então, coloquei a câmera em um tripé, coloquei o timer e tirei inúmeras fotos. Quando vi o resultado eu me vi diferente, me vi lidando com o que eu mais tinha medo, que era a minha imagem em uma câmera. Esse foi o maior passo que consegui dar para o meu processo criativo, pois agora eu podia testar em mim, sem medo de olhar para a câmera.” – Gabriela Teixeira, fotógrafa.

Expediente Produção: A Revista F é uma produção laboratorial do 47 curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Chanceler Prof. Wilson Picler Reitor Dr. Benhur Gaio Coordenador do curso de Jornalismo Dr. Guilherme Carvalho Professora responsável Dra. Marcia Boroski (MTB: 10737/PR) Projeto gráfico Núcleo de Imagem Ponto Zero Diagramação e layout Fernanda Guedes Foto de capa Thays de Stenger Edição de texto Nicole Thessing e Fernanda Guedes Estudantes Juliana Bernardino, Nicole Thessing, Thays de Stenger, Paulo Pessoa, Guilherme Marques, Vanderlei Gontijo, Luís Eduardo Giraldi e Fernanda Guedes Contato [email protected] Acesse o blog da Revista F www.blogdarevistaf.com.br

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