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2018 BAZAR DOS GRANDES INVISÍVEIS

Published by Floriano Martins, 2018-11-23 09:14:56

Description: 2018 BAZAR DOS GRANDES INVISÍVEIS
ZUCA SARDAN [ztampas] | FLORIANO MARTINS [cordel]

Keywords: poesia,desenho,cordel

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Pelo grifo que pinga a história desconfio que estou atrasado. Ao ligar o skype ouço arquejos do horizonte, destino queimado. A cigana que leu a minha mão, se fosse cobrar por seus erros, já teríamos comido outra lenda, falsos olhares fugindo aos berros. Mil cascos furados o oceano engulha, uma língua presa a outras definha. Vi palmeiras rejeitando deixar a ilha, a dor esmagada que ainda não tinha.Um céu pra cada lado, um véu retinto, a corneta do Armagedom desafinada.Medalhas foram comidas com desgosto. Ao final, o tio nem brada nem nada.

Para Gilda perdi meus humores. Hoje me esgueiro entre horrores, feito espada repleta de dores, aquarela que apagou suas cores. Com Gilda se foram meus atores,tanta fortuna no mel dos penhores,noite azarenta entre mil senhores. Não sei mais como amar Dolores. Quando as pérolas gemem e garfos entortam o nariz certamente nada mais falta, nem mesmo mascar o verniz. A solidão devora castelos em suas orgias derretidas. O alquimista não cobra tostão por essas tendas pervertidas.

A tempestade tem mil patadasprontas para ruir cada margemde limites que firam a natureza e embaralhem dor e miragem.Jair pôs uma pulga em cada cós. As margens todas se roçavam.Mascavam sua dieta inanimada.Por vezes entre elas se coçavam. Cada vez que a casa cai o jardim suspira fundo, Ciente do que deva pensar das dores desse assunto. O fardo de cada queda sua decifra a miséria do mundo. Decerto há quem faça reserva do paradeiro de cada defunto.



O patuá fornido caçoou do gambá. Não levo comigo queixa ou catinga Nada que azede na curva do olhar.A diaba pra espumar mija na pinga.Com ela minha vida é na contramão.Não passa um caldo ou raspo o tacho que não seja na boca da Gigantona.Dentro dela me perco e nem me acho. O céu jamais se conformou com seus cabelos pintados. Não é que chova ou não, ou que desabe o retocado. Dele o que bem se espera (ele sabe ah como ele sabe) é que não mude nunca de cor antes que um dia tudo acabe.

O inferno faz de conta que é céuquanto mais untas teu nome ao meu.De goma e sonho fazemos mil hóstias, salões de espelhos e remos de Orfeu.Não gastamos tanto verbo para nada. De mãos vazias nem Deus retorna. Querubim cresceu, Salomão se fez, sem esquecer no alforje a bigorna. São trevos, são pinos, são laços, há quem veja até um cadafalso, onde se esqueceu um dia o grito na ferrugem da dor do espinhaço. Querem ver com quantas dobras Se corrige uma súbita distância? Olhem bem o breu agora (agora) antes que ele engula outra ânsia.

Para não perder o fino legado fiz a entrega em dois bocados. Primeiro a carcaça pelo ralo,e em trapos embalei os pecados.Fiz do céu um farnel de estrelas.Viagem sem mapa ou tempero. Quem sabe o vinho e o rosáriodecifrem a rota sem desespero. Um cisco no olho esquerdo e perdi o melhor da cilada. Quem saberia dizer por que fugiste no melhor da estrada? Mesmo intrigado dali não saí, noites a fio no pé da escada,até que o olho apagasse o cisco.Quando o abri não havia nada.



Leda penteando as algas do mistério na peruca aguarda pelo último ato.Babo sussurra um trombone lá atrás,a plateia se requebra, é o mecenato. Leda faz de si inesperada omelete. Mãe e Morte sacrificam suas filhas. Voltem sempre, tragam amigos. O inferno não desconta as milhas. Mais vale um truque velho que ainda recorde o recado do que uma virtude novinha que lembre antigo pecado. O tempo guardado em sigilo no cofre ou em uma bacia não vale o arremedo do gato ou o enguiço de uma enguia.

O diabo foi moendo a fenda, a lenda, o pavio queimado, a voz ressecada. Pouco sobrou até que a imaginação voltasse a nutrir a totalidade de nada. Na catraca do céu ingressos forjados,na muralha do inferno quem se arrisca. Por aqui passou um sacerdote sapeca, e disse que o diabo não era boa bisca. O homem jamais fez ideia do que poderia ter sido. Fez de Deus o seu coringa, sempre a reclamar do pedido. Quer ver a mulata assanhada, fumegando diante do espelho? Revele a idade da prata ou as molas que apoiam o coelho.



∞Antes que a plateia perceba que o lero enfiado chegou ao fim, SalpicãoQuaresma atravessa o fundo do palco disfarçado de cisne branco, cantarolandoa coda com que havia sonhado ao convidar os dois magos da loucura. Céu aberto, céu mais fino, nuvenzinha de algodão. Quando bate o mel no vento vem comer na minha mão. Sai de mim, te esfarela na porteira do sertão. Nuvenzinha mais fininha faz do céu um sabichão.



2018


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