ZUCA SARDAN | FLORIANO MARTINSTHEATRO AUTOMÁTICO ATO III | ANO PASSADO, EM ARAXÁ
Theatro automático, 3 @ 2018, Zuca Sardan e Floriano MartinsARC Edições, coleção “Nuances postiças” # 6Capa: Floriano Martins Agulha Revista de Cultura http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/ Fortaleza CE Brasil _____ 2018
ATO III | ANO PASSADO, EM ARAXÁ BABALU MARIANA [GORDUCHA SIMPÁTICA] CARECA MONGE KASPUTINHO CARONTE PANFIRDESEMBARGADOR PLOTINO PREFEITO PÉRICLES DOUTOR PAUSÂNIAS EMBAIXADOR IVANOFF TATIANA [GORDUCHA ATREVIDA] GOLIAS VAMPIRO LUDOVÍCIO GOVERNADOR KAFKOS VIGÍLIA LEMA KAISER WALTER XETULIO BURGOS
• Porco Preto é a preferida e única cada de delícias de Araxá, um complexo que inclui dancing bar, motel e as mais variadas massagens. A cortina se abre e mostra uma cena dupla, que seguirá com ações em paralelo. À esquerda o dancing bar, luzes vermelhas, onde se encontram Babalu e Kasputin. À direita, um dos quartos de massagem, luzes azuis, com um ofurô de madeira ao centro. Nele já se encontra Xetulio Burgos. A seu lado, ainda em roupas, Vigília Lema e as duas gorduchas. BABALU – Ontem o seboso do embaixador passou dos limites… KASPUTINHO – E desde quando tens limites? BABALU – Eu faço o meu teatro, já sabes, e cobro caro o ingresso… KASPUTINHO – Ele ingressou? BABALU (rindo) – Ainda não, mas acho inevitável. Só estou valorizando a conta… KASPUTINHO – O que houve então? Conta… XETULIO BURGOS – Anda logo, minha deusa, tira essa roupinha, a água está morninha… VIGÍLIA LEMA – Já vou, minha montanha de prazeres. Tenho apenas que decidir qual das duasmassagistas entrarão comigo para cuidar bem de ti…
MARIANA (sorrisinho aberto) – A senhora saberá a melhor escolha… TATIANA (insinuando desnudar-se) – Mas a verdade é que já estou prontinha para cuidar dopresidente… XETULIO BURGOS – É esta, eu quero esta… VIGÍLIA LEMA – Melhor não, confia. XETULIO BURGOS – Vem logo… VIGÍLIA LEMA (escolhe a gorducha simpática) – Entrarás conosco no melhor dos sete mares…Fiquemos nuas… KASPUTINHO – Conta tudo, Babalu… BABALU – Eu fui preparar uma bebida para ele, ali atrás do balcão, quando o tarado me pegou portrás, com suas garras diplomáticas, e me deixou a ponto de ver o Vesúvio de ponta-cabeça… KASPUTINHO – Aposto que preparavas o teu famoso coquetel de vodca com beladona… BABALU – Ai monge, quando eu senti o teor de sua ganância, foi difícil, quase me entrego alitodinha…
KASPUTINHO – Não dês, minha ovelhinha preta. Precisamos de fé e coragem pra combater aBesta do Apokalixo!… BABALU – Embaixador Ivanoff é a Besta do Apokalixo?… KASPUTINHO – Quase, Babalu… Ele é o Embaixador da Besta do Apokalixo, que é… a HydraBolxevike que derrubou Papai Tzar. BABALU – Ai, que horror!!!… a Hydra derrubou o teu pai? Ele se machucou? Ela é muito braba?…Morde?… Safada?… Gostosa?… KASPUTINHO – Ela tem o rabo vermelho, escamado de medalhas… Jogou Papai no chão, pulouem cima, mordeu… BABALU – Papai gozou?… Ou… já está velhinho pra essas amenidades?… KASPUTINHO – Papai é muito corajoso. Pra irritar a Hydra ele disse: Bate mais!… Bate mais!… BABALU – Teu pai é safadinho… Na certa ela sacudiu o rabo… Ele gritou muito?… KASPUTINHO – Berrou… Gargalhou… Berrou… BABALU – Então gozooou… A Hydra na certa bateu nele com o rabo vermelho escamado demedalhas…
KASPUTINHO – Pois é… Assim também, com rabo coberto de medalhas… ninguém aguenta…Rabo com medalhas trazendo gravadas imagens de tratores, camponesas musculosas, foices,martelos… BABALU – Que sacanagem refinada… Isso o nosso Presidente não tem… XETULIO BURGOS – Ai, que bom… AAAAIIII!!!… Passa mais o Sabonete… AAAIIII!!!… Voumorrer!!!…. VIGÍLIA LEMA – Seu safadinho gostoso… Eu e Mariana vamos te esfregar até você choraaarrrr!!! XETULIO BURGOS – Também quero a Tatiana na banheira!!!… AAAAiii!!!… Antes que eu morra…a Tatiana!!!… VIGÍLIA LEMA – Nós quatro na banheira???… A banheira pode explodir!!! TATIANA – Vamos nos espremer bem espremidinhas… MARIANA (sorrisinho) – Tudo bem, Vigília, a gente dá um jeitinho… TATIANA (de pé na borda do ofurô) – Mente sã em corpo são… uma, duas, e… (tchipumba…) KASPUTINHO – Sete… Tinha sete cabeças a monstruosa Hydra gorducha…
BABALU – E o velho deu conta de tudo aquilo? KASPUTINHO – Irias adorar, minha preta, eram cabeças de serpentes, já imaginaste a festa quenão fariam contigo…? BABALU – Ai que meu céu se inflama todo… KASPUTINHO – Ah minha putinha cintilante, dá pra mim, dá… BABALU – Que é isso, Kaspa, nós somos como irmãos… KASPUTINHO – O que me importa? BABALU – Já sabes da última? XETULIO BURGOS – A última que entrar será a primeira a guardar um segredo meu em suacaixinha mágica… VIGÍLIA LEMA – Ai que painho tá como louco! Nunca vi assim… TATIANA (colando o corpo em Xetulio, abrindo espaço para Mariana entrar) – Ui que parece temmais alguém na banheira…
XETULIO BURGOS – É o meu segredo, que preparei para vocês… MARIANA – Mas eu vou saber dele primeiro, não é, meu presidente? XETULIO BURGOS – Vem, meu pecadinho, encosta no meu segredo… MARIANA – Ui como pode um mistério assim tão crescidinho… O que eu faço com ele? XETULIO BURGOS – Guarde contigo, preciosa. MARIANA – Todo comigo, pode confiar… XETULIO BURGOS – Meninas, agora os óleos, as massagens, o treme-treme da água, quero tudode uma vez, como se fosse a última… KASPUTINHO – Que última? O que estás sabendo? BABALU – Uma conversa que ouvi no bar, entre o prefeito e o governador… KASPUTINHO – Psssitttt!… Eles seguem na conversa, naquele canto em semiobscuridade… PREFEITO PÉRICLES – Mágnífico Kafkos, que tenhas deixado o Castelo pra passar uns dias emAraxá…
GOVERNADOR KAFKOS – Pois, Péricles, em Belory a situação está periclitante, resolvidesanuviar a angustiada mente nesta saborosa Araxá da minha mocidade querida, que os anos nãotrazem mais… PREFEITO PÉRICLES – Ora, Kafkos, você ainda está moço… Só precisa duma recauchutada eumas férias restauradoras. GOVERNADOR KAFKOS – E o abestado Desembargador Praxedes embolou, com seus carimbos,os papéis oficiais, emperrou a nossa Secretária Adelaide das Finanças, e estamos à beira da bancarota!… Sofro, Péricles, de perjúrios, pecados e falcatruas alheias… Sou um mártir… PREFEITO PÉRICLES – Caluda, Kafkos!… Não reclame que se as Parcas te ouvem, aumentammais teus tormentos!… GOVERNADOR KAFKOS – As três Parcas Gordas, do Sabonete Araxá?… Belíssimas, fataisGorduchas do Destino… PREFEITO PÉRICLES – Justamente… Elas estão agora atormentando nosso pobre presidenteXetulio… GOVERNADOR KAFKOS – Os problemas de Estado lhe afetam a saúde… Precisaria de apoio deDoutor Pausânias… PREFEITO PÉRICLES – Problemas de Mente insã com Pausânias são… resolvidos.
GOVERNADOR KAFKOS – Doutor Pausânias é um santo… Sua fama cresce em olor desantidade… PREFEITO PÉRICLES – Doutor Pausânias vai trazer de volta sorriso e vigor pro Presidente… GOVERNADOR KAFKOS – Certamente lhe prescreverá severo tratamento com o afamadoSabonete Araxá… Aliás, a par de seu prestígio de terapeuta, Doutor Pausânias é um herborista defama intercontinental!… Ainda ganhará o Prêmio Nobel!… PREFEITO PÉRICLES – Doutor Pausânias fez uma frondosa plantação de Pau Brasil… Descobriuqualidades maravilhosas da cesalpinácea, de sua madeira tintorial avermelhada… GOVERNADOR KAFKOS – Realmente, o Pau-Brasil é duro e incorruptível, a maior riqueza doBrasil. • Toda a conversa se dá em off, sob a conjugação esmaecida das luzes azuis e vermelhas, onde a plateia desfruta de gestos eróticos sugestivos tanto na ofurô quanto no dancing bar. Uma luz vermelha a mais se acende e ouvimos Babalu e Kasputinho: KASPUTINHO – Está ouvindo tudo, minha pretinha? BABALU – O simples caldo dessa conversa é uma revolução. Eu já vi governos caírem por menos…
KASPUTINHO – A ideia se agita em mim, derrubar um governo, algo que nunca fiz… BABALU – Ah meu bastãozinho de fogo, não posso crer. Por aqui mesmo, por essas mesas, já vipastarem planos de conquistas e fracassos, avarias internas, complôs, desenlaces, já programei orgiasdestinadas à gravação de teipes que demoliram dinastias… KASPUTINHO – Mas eu nunca tive o gosto de atuar diretamente no descaimento de umarepública… BABALU – Estas caem com um sopro atualmente… KASPUTINHO – Ah meu júbilo de carne! Crês que esse falatório em torno do Pau-Brasil possa darem algo? BABALU – Queres tocar o mistério sem me despir, meu cabrote? KASPUTINHO – Eihn!!? BABALU – Eu te levo onde queiras, não importa que seja mais à direita do Inferno ou mais àesquerda do Paraíso. Mas antes tens que me depenar e me foder todinha umas tantas vezes, seumonge de quermesse… KASPUTINHO – Então me ensinas a derrubar um governo?
BABALU – Eu te ensino até a fazer renda… KASPUTINHO – Não quero fazer renda, quero derrubar um governoooo!!! U-Ru-Ruuuuuu… BABALU – Não chores, meu amor, vou chamar Doutor Pausânias, ele tomará conta de você… Voujá ligar pra ele vir te examinar… (ela disca) plec-plec-plec… Alô, Doutor Pausânias!… Ah, meusantinho, venha cá correndo que meu amigo monge Kasputinho teve um troço, e quer derrubar umgoverno!… Muito obrigadinha, meu santo, esperamos pelo senhor!… Atéloguim… Plict… ProntoKasputinho, Doutor Pausânias é um santo, vai logo chegar, ele mora na casa ao lado do teatro. DR. PAUSÂNIAS (entra) – Pronto, Babalu, cá estou. Qual é o paciente ?… KASPUTINHO – Eu não sou paciente. Sou um monge revolucioná… gloffff… BABALU – Ai, Dr. Pausânias, o senhor enfiou um tubo pela boca do Kasputim!… DR. PAUSÂNIAS – Mens sana in porcores sano. Ouvir todos, só crer em porcos. Seu amigo é umporcalhão, estou olhando pelo buraco exterior do tubo, que lh’entrou pelos miolos, e noencefalograma só aparecem palavrões. Ocasião perdida não volta mais na vida. Ele devia terderrubado o Governo do Doutor Lening que destratou seu padrinho Tzar. Porque não derrubaste oDoutor Lening, seu porcalhão? KASPUTINHO – O sobrinho do Tzar e seus amigos me furaram de tiros, me costuraram defacadas, me deram veneno e me jogaram no rio.
DR. PAUSÂNIAS – Bem feito!… E por que não morreste, seu monge devasso? KASPUTINHO – Pois é, me esqueci de morrer… Ademais, morrer é difícil, prum monge… DR. PAUSÂNIAS – Esqueceste, sim, de espertinho que és, pensas que eu não sei? KASPUTINHO – Babalu me disse que és um santo, e estás me destratando!… DR. PAUSÂNIAS – Isso faz parte do tratamento, Kasputinho… Não chores… KASPUTINHO – Nunca fui tão destratado na minha vida, sniff-sniff-sniff… DR. PAUSÂNIAS – O que arde cura, o que aperta segura. A jararaca do vizinho é sempre maisgorda. KASPUTINHO – Mais gorda do que quem?… DR. PAUSÂNIAS – Mais gorda do que a tua… Se bem que o rabo de Babalu seja incomensurável… BABALU – Ai, Doutor Pausânias, o senhor é um santinho!… Sempre uma palavrinha amável pramim!… DR. PAUSÂNIAS – A sogra e a nora só se darão bem, quando o burro subir na jaqueira.
KASPUTINHO – Burro não sabe subir jaqueira, seu Doutor abestado. DR. PAUSÂNIAS (ofendido) – Mas que falta de cortesia!… É assim que me pagas por meudevotado tratamento?… BABALU – Mais respeito, Kaspa, com nosso bom Dr. Pausânias. Ele vai te curar, meu bem… DR. PAUSÂNIAS – Pois é, Babalu, além de ingrato e respondão, Kasputinho é um loucoextremado… KASPUTINHO – Eu não sou louco, Dr. Pausânias!!!.. Vós sim, sois um louco de pedra!!! DR. PAUSÂNIAS – Aí está a prova, meu filho, de que és um louco celerado. O louco celerado achaque ele é lúcido e que todos os outros é que são loucos. BABALU (assustada) – Todos???… Eu também, Dr. Pausânias?… DR. PAUSÂNIAS (cavo suspiro) – Sim, Babalu, essa é a tenebrosa, cruel verdade… • Desembargador Plotino entra em cena, debulhando sua encíclica. DESEMBARGADOR PLOTINO – Ah verdade proseada, quem te quer longe que te guie! Quantomais longe do monge, mais proseada a verdade fica. Querubim, te quero um bem. Bem morto e
esquecido, lá no fundo do quintal. Quem t’aqui fica sabendo, quem num tá esqueceu como voltar.Volte nulo, dê a volta, e estando diante da volta não volte nunca mais. Nunca mais. Nunca mais.Dizia um corvo amigo. Cave fundo, cave fundo, até que não saibas mais quem és. DR. PAUSÂNIAS – Já me haviam contado e não acreditei. A bunda de Babalu pode serincomensurável, porém seus frequentadores são incuráveis… DESEMBARGADOR PLOTINO – Se te encaram, não te cures. Não deixes nunca o sol se por emtua cumbuca. Não creias em extrato avulso, corda desafinada e acordo desvairado. Acorde mais cedo,melhor mesmo é não acreditar em nada. O verdadeiro descrente acorda ciente de que o mundo éoutro. Um horto recapeado, recheado de novas anomalias. Só um novo erro refaz o mundo. DR. PAUSÂNIAS – E onde é que desliga esse trambolho? DESEMBARGADOR PLOTINO – Um olho de cada vez. Vê melhor quem se recusa a crer. Quemde nós foi mais fundo, onde nem a gravidade pode alcançar? Quem se lembra da jaqueira e doquartinho dos fundos, que assombravam a casa velha nas noites de vento e chuva… Quem de nóscaminhou dentro enquanto o tatu caçava… Quem mais vezes se ofendeu com as primeiras pedrasatiradas… Valentinho, valentinho, tua cova será sempre a mais rasa. BABALU – Plotino, como estás garboso? DESEMBARGADOR PLOTINO – Arrasei, não? Minha lua babada… Minha baboseira em flor. Meusalpicão defumado!
BABALU – Ai! E sempre tão conquistador, com essa língua sobrando na boca, ui!!! DESEMBARGADOR PLOTINO – Quem é o varapau desengonçado? BABALU – Dr. Pausânias, nosso vizinho, veio curar o Kasputinho. Achei para que uma boa farsanada melhor do que a compressa certa. Aprendi com o senhor, meu mestre dos afagos… DESEMBARGADOR PLOTINO – Ah minha terebintina vencida, minha acácia desgalhada. Vejoagora que nossas aulas fora da escola foram prestimosas. BABALU – Eu me emplumo toda só de lembrar. DESEMBARGADOR PLOTINO – Mas não creio que o caso de Kasputinho seja para curar. Melhordeixa-lo avançar até tocar o fundo e descosturar o desmazelo. Não há dúvida de que o serviço foi bemfeito. Destrambelhou o ferrolho do juízo do iletrado… BABALU – Ele ficou mesmo todo retorcido. Agora só goza pra dentro. Deram um nó nas tripas domeu Putinho. DESEMBARGADOR PLOTINO – Despacha esse corifeu das catacumbas, com cara de vigário dequermesse. Se o que queres é a farsa completa eu faço pose de Orfeu e anuncias em megafone aosquatro ventos. Logo terás a casa lotada…
BABALU – E ainda matamos a saudade nos bastidores… Ah se quero, já quis e quero mais… KASPUTINHO – Aí está, Babalu quer me enganar… Eis agora traído meu santo e puro amor… DR. PAUSÂNIAS – Teu santo e puto amor?… Que imagem linda, Kásput!… És um poeta que sedesconhece… KASPUTINHO – Zpassiba balchói, gracias muchas, Doutor Pausânias!… Acabais de me salvar avida!… Ia me jogar pela janela!… Mas descobristes meu gênio poético!… Agora, tenho uma razão praviver… DR. PAUSÂNIAS – És um gênio da poesia russa!… Estavas tão só desorientado, naquela tuaobsessão de juntar Santidade e Bacanal… Estavas dilacerado entre as duas Entidades Mentaisinimigas… KASPUTINHO – Pois veja bem no que dá amoldar-se à fiação cultural da quermesse em quetrabalha! Aqui o público tanto mais razão terá quanto menos for consciente dela. E ainda mais essejuiz da vara tremida, com sua lírica colada a cuspe no varal das ilusões perdidas… Esse mirabolantepregador de trocadilhos… DR. PAUSÂNIAS – Eras um incompreendido, maestro Kásput. Precisamos agora dourar a pílula deteu renascimento. Bem poderias ser o introdutor de uma dramaturgia moderna. Estou seguro de queposso reunir um conselho de Maiorais da Bolsa e não terias problema algum com a produção de teu
teatro. A verdadeira poesia vai até onde o povo está e diz a ele que tome acento para o que virá demelhor. KASPUTINHO – Eu tenho tudo na ponta da língua. Posso agora mesmo recolher as confissões doacaso e os decálogos em pós da diversidade… DR. PAUSÂNIAS – Só evite o melômetro… Chega de farsa melosa ou melada. O público merecesentir na carne a faca cortante de sua própria verdade. KASPUTINHO – Sois um gênio, Doutor Pausânias… Descobristes a chave secreta de meucomplexo suicidário!… E agora, meu brasão de ouro, que devo fazer?… DR. PAUSÂNIAS – Faça uma poesia, presto, Kásput, faça prestíssimo, sem pensarrrrr!!!… KASPUTINHO (fingindo-se nervoso) – Sobre a Santidade?… sobre a Bacanália??? DR. PAUSÂNIAS – Uma ou outra, paspalho… mas presto, prestíssimo!!! Sobre o diabo descendo amontanha, não importa, mas sim que dês a firmeza do instante… KASPUTINHO (rola pelo chão) – Não consigo!!! Não consigo esquecer!!! DR. PAUSÂNIAS – Ou faça a poesia agora ur-gen-tís-simo, ou se suicide, atire-se pela janela,paspalho!… Será que apostei no bordão errado?!
KASPUTINHO – Zpassiba, Dr. Pausânias!!! Adeus mundo perverso, cruel…OOOOOOOOOOOO… DR. PAUSÂNIAS (monologando) – Kasputinho saiu correndo e se jogou pela janela… Um suicídiofrustrado… Embaixo da janela está a jaqueira, que o receberá de galhos abertos… Mas a experiênciado suicídio lhe dará um choque psíquico restaurador. Afinal, está provado: os melhores figos nemsempre são da figueira. BABALU – O senhor é um gênio, Doutor Pausânias!… DR. PAUSÂNIAS – Agora é que me dizes isto? BABALU – É que só agora reparei o quanto o senhor escreve certo por linhas tortas… DR. PAUSÂNIAS – Essa reza quer almas… BABALU – Olha só, o senhor sabe mesmo como deixar uma mocinha em pelos… DESEMBARGADOR PLOTINO – Uma mocinha roça a sombra da jaqueira e nela recolhe osfragmentos de seu amor errante, o galante estrupício que passou de um lado para outro da cuia dahistória. O verbo às vezes é um substantivo que derrapou numa curva mal iluminada da estrada… Porvezes vacilo no auxílio, mas nunca perco de todo a agulha dessa bússola redimida da insistênciahumana.
BABALU – Eu quero os dois em minha cama. Agora… DR. PAUSÂNIAS – Eu não entro nessa suruba suburbana… nem que fosse só com a bengala. Maschamarei… (liga e fala no handy)… Alô, Careca e Panfir, venham presto que tenho missão urgente pravocês, tragam cordas… muitas cordas… E venham, presto!!! BABALU – O senhor chamou Careca e Panfir pra participar da suruba?… Ai, que bom!…Obrigadinha, Doutor… o Senhor é tão bonzinho que pra sair da surubinha, conseguiu logo doissubstitutos!…. Essa sua bondade escondida não me engana… I-Hi-Hi… E as cordas?… São para meamarrar?… Que delícia!… DR. PAUSÂNIAS – Por seguro, se eles quiserem participar da suruba, juntamente com Plotino,aproveitem… Mas chamei-os para outra missão. DESEMBARGADOR PLOTINO – Não quero suruba de entrar na fila… E três machos dum lado euma mulher do outro… eu dispenso. E as cordas, pra que servem, afinal? CARECA e PANFIR (entram e indagam em uníssono bem ensaiado) – Pronto Doutor. Qual é amissão?… BABALU – Vou contar pra vocês!… Estamos planejando uma suuu… DR. PAUSÂNIAS – Sossegue um pouco, Babalu, tome lá essa rolha de champanhe…
BABALU – Pra enfiar aonde, Doutor, atrás ou na frente?… DR. PAUSÂNIAS – Na boca, sua boquirrota. E agora, Careca e Panfir, socorram Kasputinho, queestá emperrado no topo da jaqueira.• Careca e Panfir, debruçam-se à janela, jogam as cordas, e içam Kasputinho. KASPUTINHO – Eis-me de volta. Vida Nova!!! Vida Noooooovaaaaaa!!! Pensando morrer,relembrei meu passado tenebroso… DR. PAUSÂNIAS (conciliador) – Tudo bem, Kasputinho, todos nós cometemos nossasescorregadelas, mas… precisamos manter nosso ideal… KASPUTINHO – Justamente, Doutor Pausânias, quando jovem, eu organizei bacanais na minhalongínqua capela, com campônias e pastores…DESEMBARGADOR PLOTINO – Uma suruba socialista?… Muito revolucionário!…KASPUTINHO – Não, isso era antes da Revolução, nos tempos do Tzar, do misticismo russo…Então ainda existia o Remorso!… Campônias e pastores temiam Deus…E o PECADO!!!!… A TRANSGRESSÃO é que dava o Prazer Sublime!!!… Sem Pecado… qual é então agraça?…
BABALU (consegue enfim tirar a rolha) – Ai!… meu Kasputinho!… Dessa vez, você enlouqueceu devez… Socorra-nos, Doutor Pausânias… DESEMBARGADOR PLOTINO – Muito simples… Prendemos Kasputinho num manicômio. Esoltemos nosso genial Marquês de Sales!… KASPUTINHO – Talvez, talvez… Mas talvez também fosse o caso de ouvir aqueles que até aquinão se pronunciaram. PANFIR – Mas quem são? CARECA – Melhor: onde estão? EMBAIXADOR IVANOFF (em off) – Eu fui esculachado, a certa altura, porém jamais me deram odireito de defesa… PANFIR – Que injúria! CARECA – Nós aqui só falamos mal de quem merece! KAISER WALTER (em off) – Eu fui barrado na entrada dos fundos, apesar de meu nome constardo script. PANFIR – Talvez tenha sido um borrão da peça anterior…
CARECA – Passa a borracha, rápido! VAMPIRO LUDOVÍCIO (descendo do alto, por um fio, de ponta-cabeça) – Vê-se logo que aqui serepetem as mesmas peras podres de qualquer bandeja das artes… PANFIR – Quem é o mosqueiro? CARECA – Um sem teto que devia estar dormindo nos caibros… VAMPIRO LUDOVÍCIO – As bacanais ecumênicas organizadas pelo grande regente MongeKásput sempre foram inovadoras, com um molho que superava as devassidões palacianas de rotina.Suas luxúrias mediúnicas davam às sessões um sabor anárquico, que deixavam no chinelo as orgiasmeramente faustosas do tal Marquês… Fusão de dois mundos, com igual intensidade carnal eespiritual, ali se enroscavam tangível e intangível, visível e invisível, sonho e vigília… PANFIR – Nós perdemos tudo isso, Careca? CARECA – Por conta dos trocados que nos prometeram para nos livrarmos da tranqueira docenário daquele fracasso do exorcismo do primeiro ato… Arre… VAMPIRO LUDOVÍCIO – A grande libertinagem deve manter abertos seus canais a todo tipo deexperiência. Kásput sabe como poucos dar à euforia um sortimento múltiplo de efeitos, uma baciada
repleta dos melhores pecados e vultos que afloram por todas as partes celebrando o que temos demais ímpio e virtuoso em nós. KASPUTINHO – Menos, meu vampirinho dogmático… DESEMBARGADOR PLOTINO – Pois retiro agora mesmo o que sugeri a respeito do Marquês deSales… Que apodreça na masmorra! BABALU – Ai meu putinho, dá só um figuinho para nós… KASPUTINHO – Em vez dum figuinho, terás uma ferradura em brasa no rabo, pr'aprenderes asofrer… BABALU – Ai, que gracejo cruel, meu bem!… KASPUTINHO – Gracejo nada, Babalu. Veja lá, ao fundo, Careca e Panfir na fornalha,esquentando a ferradura… CARECA – Já está vermelhinha e fumegante… PANFIR – O-Ro-Rooooooooooo!!!… KASPUTINHO – AH-RA-RA-RAAAAAAAAAAAAAAA!!!!
BABALU (olhões esbugalhados) – Ai! piedade, Kasputinho!… KASPUTINHO (olhos revirados para cima) – Só o sofrimento nos livra do Pecado… • Careca e Panfir avançam, trazendo na tenaz a ferradura fervente… O público de cabelos em pé quer fugir, mas está preso ao acento, TOMADO DE PAVOR; com sulfurosa sensação de gozo-medo… Gritos e gemidos se elevam da plateia, do balcão nobre, e do poleiro… De repente o palco fica completamente às escuras e ouvimos um berro avassalador de Babalu, seguido de um silêncio não menos intrigante. Minutos depois surgem atores não identificados, cada um trazendo uma vela acesa que deposita na forma de um círculo em volta de um ofurô no centro do palco, dentro do qual se encontra Babalu, completamente nua. Os atores deixam as velas e se vão. BABALU – Esta vida é um descalabro persistente. Como pude ser traída e espezinhada pelomodelo mais tesudo de meus pecados imaginosos! Quantas vezes idealizei que a melhor revoluçãoseria construir um mundo novo no colo de meu argênteo Kasputinho! Um teatro feliz em meio anossos gozos crescentes e mirabolantes… Aquela trombeta barítono em que ele me deixava anunciaro futuro… O script multiplicado em alegorias céleres… O espalhafato como a medida eficaz paratodas as transações sociais… O espetáculo da luxúria… VAMPIRO LUDOVÍCIO (uma vez mais pendendo do alto) – Nada deveria abalar a genialidade domonge… Mas confesso que até mesmo para ele a tua ingenuidade foi como uma carrada dedinamite… Quem neste mundo está preparado para a verdade? Quem poderia imaginar que a tualascívia fosse incondicional? Em pleno palco? Converteste a farsa em realidade. Dentre todas elas amais banal… Terias mesmo que ser sacrificada, não havia outro modo do roteiro manter seu perfil
burlesco. Ninguém te ama, ninguém te quer, qualquer um te trocaria por outra mulher… Esta vida éum ardil mais-do-que-perfeito… CARONTE (entra, carrancudo, coçando as barbas brancas) – Pois então, Babalu, aqui estou, com abarca te esperando. BABALU – Velho gigante terrível, quem és tu, de rosnar tão feroz?… CARONTE – Sou o barqueiro do Inferno, vim te buscar. Estás na minha Lista dos Mortos. BABALU – Ai! Que eu não esperava o Céu, mas ao menos um Purgatório… Mesmo severo… CARONTE – Ora, Babalu, o Purgatório é um purgante… Ninguém pode rir… Ninguém pode fazerfesta… Nem sequer contar piada… Tens de rezar sem parar, a não ser para te auto flagelar. Tens noquarto um sacrário, onde guardas teu Remorso, um Ratão que toda noite vem te roer o coração e astripas… Não há lugar mais chato que… o Asilo Purgatório. E trepar… nem pensar. A-HA-HA-HAAAAAAAAAAAAAA!!!… BABALU – Mas Caronte, no Inferno os castigos são terríveis!!!… CARONTE – Pchitt… o Diabo tem os seus eleitos… que são bem tratados… Trepam e bebem,dançam, se divertem, fazem troça de tudo… Num Eterno Carnaval… BABALU – Será que serei uma de suas eleitas?…
CARONTE – Deusa Ishtar é a Suma Vestal do Inferno, Representante do Príncipe Plutone, praescolher as Damas Eleitas pro Jardim das Delícias… BABALU – Mas… e o Céu?… CARONTE – No Céu… ó Beatas e Sacões Broxas… Sua única diversão é ver a Televisão… BABALU – A televisão leva nossos programas?… CARONTE – A Televisão tem um só Canal, e o céu tem só um aparelho receptor. BABALU – Só um aparelho?… Mas e as Beatas e os Bondosos?… CARONTE – Juntam-se todos diante da tela, que transmite a imagem projetada no tubo que descepor trás do aparelho e vai até o Inferno, onde filma os suplícios dos Condenados… Assim, ostelespectadores suspiram aliviados e satisfeitos de estarem no Céu… BABALU – O programa é então bem parecido com os das nossas televisoras… CARONTE – A pouca diferença que faz é estar à frente ou por trás das câmaras… BABALU – Ora, mas tínhamos tudo isto em nosso teatro automático… Qual então a razão demorrer?
CARONTE – Não me perguntes, eu apenas cuido de garantir a travessia… BABALU – Quem sabe para renovar o público… CARONTE – Seja como for, eu sugiro o Inferno, mas claro, sem grandes expectativas… Vamosentão? BABALU – Como vamos? Eu ainda estou bem viva…! Não? CARONTE – Não! Estás mortinha e se não vamos logo essa carne já começará a expressar seudesacordo com os odores mais suportáveis da existência humana… BABALU – Mas eu estava conversando com Ludovício, ali (aponta para o alto, porém o lugar estávazio)… Não há mais ninguém, só escuridão… Como posso ter morrido? CARONTE – Olha, eu tenho um horário a cumprir. O teatro está vazio. O Público já foi embora. Sequeres, eu te deixo aqui, quem sabe amanhã aparece alguém a quem possas reclamar. Só nãoprometo voltar… A menos que haja outro morto para vir buscar aqui mesmo. BABALU – Não, não me deixes. Tudo menos essa indefinição de corpos e almas. Leva-me até oInferno. Quem sabe chegando lá se resolve alguma coisa. CARONTE – Então entra, rápido! Zarpemos!
• Golias e Amália acompanham a cena por trás da cortina. GOLIAS – Aproveitando a enchente que assola a cidade, Caronte ancorou a barca na janela. AMÁLIA – Excelente ideia, a do velho gigante!… Economizamos assim uma mudança de cenário!...Uma sorte na hora certa, pois estamos à beira de falência, nossos credores cercam o teatro!… GOLIAS – Mas veja, Amália, um tipo elegantíssimo diante da porta!… Que figura sublime!… Toucade veludo, e um manto enorme, um semblante austero e triste… DANTE (com a loba) – Nel mezzo del cammin di nostra vida mi ritrovai per uno teatro oscuro...Poscia che Caronte la barca volse contr 'l corso del vento, que la seguìo… ELITE DE PÉ (em delírio) – BRAVOOOO!!! PLAC-PLAC-PLAC!!! DANTE!!!! BRAVOOOOOOO!!! AMÁLIA (deslumbrada) – Desta vez estamos salvos, Golias!… Ainda acabaremos chegando ao Scalade Milano!!! Enfim nos livramos daquelas porcarias do Marquês de Sales que você patrocinava…Teremos agora um teatro sério, clássico, erudito, pra nossa sociedade mais fina… Que levem Babalupro Inferno! Chega de pornochanchadas!!! GOLIAS – Está bem, Amália… Mas veja, a Loba se grudou na perna do Dante!… O-Ro-Rooooooooooooo!!!
POVÂO DO POLEIRO – O-RO-ROOOOOO!!! BRAVOOOOOOO!!! Gruda, Loba!!!!GRUUUUUUDAAAAAAAAA!!! DANTE– Solta, Loba safada, SOOOOOLLLTTTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! LUCRÉCIA BONAPARTE (no balcão nobre) – Che bella você… che poeta divinale… GOLIAS (sussurrando) – Amália, espie lá no balcão… Lucrezia gamadona pelo Dante… Poderíamosfazer uma cena de amor apimentada, um trepa-trepa cabeludo dos dois na barca do Caronte, aoluar… AMÁLIA – Ai, Goilas, só pensas em sacanagem… Agora que temos uma chance dum teatro fino, lávens com tuas vãs pornocalhas… O Marquês de Sales te exerceu uma influência nefasta... DANTE– Poscia che Caronte… (estala os dedos) No! No!… (enxota a Loba) VIA!!! VIAAAAA!!! GOLIAS – Repetiu o verso!… A Loba o perturbou… Ah-Ha-Há… AMÁLIA – Mais respeito, Golias!… Dante é um gênio!… Vai recomeçar sua ária… Leva a mão aopeito… DANTE– Se quinci e quindi pria non é gustato darotti un corollario ancor di grazia Vai alla Casa delCaraglio!!!
POVÂO DO POLEIRO – BRAVOOOOOOOOOOOO!!! DANTE!!! DANTE!!!! GOLIAS (triunfante) – Está vendo só, Amália?… Dante também solta pornocalhas… AMÁLIA – O Dante é divino… Certamente se perturbou com aquela Loba canalha… GOLIAS – Isto tinha mesmo que terminar. Já ninguém se entende com ninguém… Querem um atonovo? Já nem sei a quem pergunto. Uns tolos que restaram nos poleiros e balcões. Viciados na trama.Heróis de subúrbio. Senhores abandonados pela vida. Quantas espécies relutantes, e todas elas tãocúmplices de tudo quanto mais condenamos com nossa arte. AMÁLIA – Golias, isto não é hora, talvez ainda possamos salvar nosso teatro automático… GOLIAS – Não, Amália, eu quero o fim, já chega, fomos difamados por todas as camadas sociais.Nossa arte já não sabe a que mundo pertence, o que significa que já não temos a quem defender. AMÁLIA – E todos esses meninos que preparamos para uma vida de representação? Como poderãoencarar a realidade sem vê-la como uma farsa? GOLIAS – Estão mais preparados do que nós, querida. Não te esqueças que a glória maior darepresentação radica justamente em se fazer passar pelo que não se é. O moto sendo perpétuo nãopode incorrer em dúvida. A sombra do cavalo em páreo tem que se desdobrar para manter a mesmavelocidade. Não adianta subornar o sol. O significado de uma palavra, qualquer que seja ela, nãopode ir além de sua camisa de força conceitual. Não há como libertar um dicionário. Porém as ideias
se enrijecem ou se liquefazem de acordo com o humor de quem as defende. O mel da jandaia podenaufragar o engenho como a vela da jangada pode soterrar o oceano. Onde o subúrbio vai pararquando se perdem os mapas que sobrepujam as camadas sociais? O belo, o novo, tudo é nada, e nosdesgovernamos de tal modo que um beliscão no traz de volta à alucinação perene. Alguém se arriscaa dizer quantas faces terá mesmo um cubo que aponta para dentro de si e a partir dali se expande emmúltiplas formas? Nenhuma realidade nos quer com o umbigo de fora. Se um de nós boia outro oespeta para que murche e afunde. O homem é só isto. Um roedor. Como voltar à mesa antes que aceia tenha chegado ao sim? Imagine. É só o que podemos fazer. O candeeiro se apagou. AMÁLIA – Ah meu mestre incurável. Haverá ainda um sanfoneiro? CARONTE (do lado de fora do palco, já na barca, se debruça pra dentro, na janela) – O que haviano teatro, Zé Fanho, entrou a bordo, vai tocar pros passageiros, na nossa viagem. Agora então…ADDIOOOOOOOOOOOO!… • Cai o pano com colossal estrondo: CAPOOOONNNGGGGGAAAAAAAAAAAAAAA! E ouve-se a sanfoninha chorando a partida…
ARC Edições coleção “Nuances postiças”1. Bazar dos Grandes Invisíveis, de Zuca Sardan e Floriano Martins 2. Livro desmedido de William Blake, de Floriano Martins 3. O livro invisível de William Burroughs, de Floriano Martins 4. Theatro automático 1, de Zuca Sardan e Floriano Martins 5. Theatro automático 2, de Zuca Sardan e Floriano Martins 6. Theatro automático 3, de Zuca Sardan e Floriano Martins
2018
Search
Read the Text Version
- 1 - 36
Pages: