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Seu Guia Maracanaú - Maio/2016

Published by Carlos Mota, 2016-05-31 13:25:22

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LIVRO A BIOGRAFIA DA CANÇÃO QUE NA VOZ DE BILLIE HOLIDAY DENUNCIOU O RACISMO NOS EUAretrato WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 9,50 | NO 65 | DEZEMBRO DE 2012doBRASILMEMÓRIA MARIA AUGUSTA THOMAZ, O PERFIL DA GUERRILHEIRA DA ALN-MOLIPO QUE MORREU 4 VEZES

retrato doBRASIL WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | NO 65 | DEZEMBRO DE 2012 5 Ponto de Vista Divulgação FALE CONOSCO: A ENCENAÇÃO DO MENSALÃO www.retratodobrasil.com.br Reveja a cena do ministro Gilmar Mendes construindo o chamado “maior escândalo CARTAS À REDAÇÃO da história da República” [email protected] 8 UM ASSASSINATO SEM UM MORTO rua fidalga, 146 conj. 42 Saíram em busca do criminoso – Pizzolato. cep 05432-000 são paulo - sp Esqueceram-se de que o crime – o desvio de 73,8 milhões do BB – não existia ATENDIMENTO AO ASSINANTE [Lia Imanishi e Raimundo Rodrigues Pereira] [email protected] 14 A VERDADE O ABSOLVERÁ? tel. 31 | 3281 4431 Há sete anos mergulhado na documentação de 2a a 6a, das 9h às 17h que recolheu para sua defesa, Pizzolato poderá ter a sua sentença revista pelo STF? Entre em contato com a redação [Lia Imanishi e Raimundo Rodrigues Pereira] de Retrato do Brasil. 20 A GRANDE VITÓRIA DO PT 34 ESTRANHA FRUTA PRECIOSA Dê sua sugestão, critique, opine. Lula apostou e ganhou com o candidato Strange Fruit, a história de uma canção, de Reservamo-nos o direito de editar novo e fez o PT recuperar a prefeitura da sua intérprete, Billie Holiday, do racismo e maior cidade do País. Isso basta? do clima dos EUA dos anos 1930 as mensagens recebidas para [Tânia Caliari] [Pergentino Mendes de Almeida] adequá-las ao espaço disponível ou para facilitar a compreensão. 28 A DIVISÃO APRESSADA 36 LIXO VALIOSO Faltou uma discussão nacional e quanto O que já foi chamado antes de DNA lixo Retrato do BRASIL é uma publicação ao longo prazo no debate da nova lei da agora abre novos caminhos para o estudo mensal da Editora Manifesto S.A. distribuição das riquezas do pré-sal do genoma humano [Téia Magalhães] [Flávio de Carvalho Serpa] EDITORA MANIFESTO S.A. PRESIDENTE 32 DE AZEREDO A CAROLINA 38 AS MORTES DE MARIA AUGUSTA Roberto Davis Batizada com o nome da atriz Carolina THOMAZ DIRETOR VICE-PRESIDENTE Dieckmann, a nova Lei de Crimes A história de uma moça que pegou em Armando Sartori Cibernéticos é melhor do que a Lei Azeredo armas contra a ditadura, não temia a morte DIRETOR EDITORIAL [Thiago Domenici] e morreu quatro vezes Raimundo Rodrigues Pereira [Renato Pompeu] DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAISReprodução Sérgio Miranda 42 DO BOTA-ABAIXO AO PAC SOCIAL Numa história de iniciativas sem muita EXPEDIENTE conexão, entenda a disposição do governo SUPERVISÃO EDITORIAL federal de valorizar as favelas do RJ Raimundo Rodrigues Pereira [Ana Castro] EDIÇÃO Armando Sartori 44 FASCINADO POR LENIN SECRETÁRIO DE REDAÇÃO Um obra sobre os principais feitos teóricos Thiago Domenici do líder da Revolução Russa de 1917 escrita REDAÇÃO por Lukács Lia Imanishi • Sônia Mesquita • Tânia [Marcelo Braz] Caliari • Téia Magalhães EDIÇÃO DE ARTE Pedro Ivo Sartori REVISÃO Silvio Lourenço [OK Linguística] COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Castro • Flávio de Carvalho Serpa • Laerte Silvino • Marcelo Braz • Pergentino Mendes de Almeida • Renato Pompeu • Sérgio Bondioni REPRESENTANTE EM BRASÍLIA Joaquim Barroncas ADMINISTRAÇÃO Neuza Gontijo • Mari Pereira • Maria Aparecida Carvalho DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS Global Press 4 | retratodoBRASIL 65

Reprodução Ponto de VistaA encenação do mensalãoComo se montou a prova do “maior escândalo da história da República”.E porque essa “prova” é falsa e precisa ser revista pelo STFVALE A PENA ver de novo. Está no relatos se desenvolverem, eu me per- excepcional, feito sob regras especiais,YouTube (http://youtu.be/-smLnl-CFJw), guntava, presidente: o que fizeram com para condenar os réus.nos votos dos ministros do Supremo Tri- o Ban-co-do-Bra-sil?”bunal Federal (STF) do dia 29 de agosto, Esta tese diz que, sob o comandono julgamento do mensalão. A sessão já Então, põe alguns dedos da mão es- de Henrique Pizzolato, o então diretortinha 47 minutos. Fala o ministro Gilmar querda sobre os lábios e explica: “Quan- de marketing e comunicação do BB, foiMendes. Ele esclarece que tratará da do nós vemos que, em curtíssimas ope- possível tirar, graças a uma propina que“transferência de recursos por meio da rações, em operações singelas, se tiram ele teria recebido, 73,8 milhões de reaisCompanhia Brasileira de Meios de Paga- desta instituição 73 milhões, sabendo para que uma trinca de quadrilhas co-mento (CBMP)”. Diz, preliminarmente, que não era para fazer serviço algum...” mandadas pelo ex-chefe da Casa Civil doque, a seu ver, “se cuidava” de recursos Neste ponto, parece tentar repetir o governo Lula, José Dirceu, comprassempúblicos. Faz, então, uma pausa. E adver- que disse e fala engolindo pedaços das deputados.te ao presidente da casa, ministro Ayres palavras: “E se diz isso, inclus... [pareceBritto, que fará um registro. De fato, é que ele quis dizer inclusive] não era para Deixaram os advogados da defesauma espécie de pronunciamento ao País. prestar servi [serviço, aparentemente].” falar por apenas uma hora em agosto. E conclui, depois de pausa dramática, E os ministros falaram por mais de dois Ele diz que todos que tivemos alguma ao final separando as sílabas da palavra meses, com uma espécie de promotorrelação com esta “notável instituição” para destacá-la: “Eu fico a imaginar [...] público, o ministro Joaquim Barbosa,que é o Banco do Brasil “certamente fi- como nós descemos na escala das de- brandindo a regra de condenar porcamos perplexos”. Lembra que o revisor, gra-da-ções.” indícios, e não por provas, réus a quemRicardo Lewandowski, “destacou que foi negado um dos princípios históricosreinava uma balbúrdia” na diretoria de RB vê a narrativa do ministro de do direito penal, o da presunção damarketing do banco e completa dizendo outra forma. Foi um dramalhão, um mau inocência.que parecia ser uma balbúrdia no próprio teatro. Mas, a despeito do grotesco, abanco como um todo. A seguir, ergue a tese central do mensalão é exatamente E deu no que deu. A tese central docabeça, tira os olhos do voto que lia meio a encenada pelo ministro Mendes. E só mensalão é tão absurda que ainda seapressadamente, encara seus pares. E foi possível aos ministros do STF con- espera que o STF possa revogá-la. Eladiz cadenciadamente: “Quando eu vi os cordar com ela porque se tratou de um diz que foram desviados para o PT os julgamento de exceção. Um julgamento tais 73,8 milhões de recursos do BB para comprar sete deputados e aprovar, 65 retratodoBRASIL | 5

por exemplo, a reforma da Previdência, reservado da CBMP, preparado por um início das investigações, em meados de que todo mundo sabe ter passado com grande escritório de advocacia de São 2005, quando se descobriu que Henrique apoio da direita não governista sem Paulo para ser encaminhado à Receita Pizzolato estava envolvido no esquema precisar de um tostão para ser aprovada. Federal, no qual a companhia lista todos do “valerioduto”. E ganhou forma aca- esses trabalhos, que confirma informa- bada no relatório final desta comissão, Dos autos do processo, com apro- ções constantes das outras três audito- entregue à Procuradoria da República ximadamente 50 mil páginas, cerca de rias do BB. Porém, acrescenta um dado em meados de abril de 2006. metade é dedicada a três auditorias do essencial: mostra que a empresa tem os BB sobre o uso do Fundo de Incentivo Vi- O então procurador-geral Antônio sanet (FIV), do qual teriam sido roubados Nem o Banco Fernando de Souza, menos de uma os tais milhões. Pois bem: em nenhuma do Brasil nem semana depois, encaminhou a denúncia parte, nem em uma sequer das páginas a Visanet processaram ao STF, onde ela caiu sob os cuidados dessas gigantescas auditorias, afirma-se Pizzolato até agora. do ministro Joaquim Barbosa. O que que houve desvio de dinheiro do banco. Não se propuseram Souza fez de destaque na denúncia foi a provar que ele tirar da lista de indiciados feita pela Nem o BB nem a Visanet processa- comandou o desvio CPMI, na parte que apresentava os que ram Pizzolato até agora. Simplesmente nem sequer operavam o FIV no BB ou que poderiam porque, até agora, não se propuseram a se houve o desvio ser vistos como responsáveis pelo des- provar que ele comandou o desvio, nem vio, todos os que não eram petistas. mesmo se houve o desvio. E também recibos e todos os comprovantes — como Souza — não ingenuamente, deve-se porque está escrito explicitamente nos fotos, vídeos, cartazes, testemunhos — supor — retirou da lista de indiciados to- autos que não era ele quem ordenava atestando que os serviços de promoção dos os que vinham do governo anterior, os adiantamentos de recursos para a para a venda de cartões de bandeira Visa do PSDB, entre os quais o diretor de empresa de propaganda DNA, de Marcos pelo BB foram realizados. Ou seja, que varejo, que tinha, no caso, o mesmo, ou Valério, fazer as promoções. não houve o desvio. até mais alto, nível de responsabilidade de Pizzolato. E excluiu também o novo O adiantamento de recursos à DNA A tese do grande desvio que criou o presidente do banco, Cássio Casseb, um era feito não pela diretoria que ele mensalão surgiu na Comissão Parlamen- homem do mercado. comandava, a Dimac, mas por um fun- tar Mista de Inquérito dos Correios já no cionário da Direv, a diretoria de varejo. Sob a direção de Barbosa não foi Esta diretoria era, com certeza, a gran- realizada nenhuma nova investigação de de interessada na venda dos cartões, peso e a tese do desvio de dinheiro do o que, aliás, fez com raro brilho, visto BB continuou sendo a peça central da ar- que o BB desbancou o Bradesco, o sócio mação acusatória. O delegado da Polícia maior da CBMP, na venda de cartões de Federal, Luiz Flávio Zampronha, chegou bandeira Visa. a ser mobilizado para investigar o que ainda se imaginava serem duas fontes Nesta edição, na matéria a seguir, de dinheiro possíveis para o mensalão: “Um assassinato sem um morto”, Re- o dinheiro do FIV e o de empresas então trato do Brasil mostra um documento dirigidas pelo financista Daniel Dantas, a Telemig, a Amazônia Celular e a Brasil Não foi Pizzolato: o jurídico do BB, já em 2001, autorizava a relação informal Visanet-BB Telecom, que também tinham Marcos Valério como agente publicitário.Reprodução Zampronha, tudo indica, chegou a conclusões diferentes das de Souza e de Barbosa, mas seu relatório não consta dos autos da Ação Penal 470, em julga- mento no Supremo. Tanto Souza como Barbosa desqualificaram o delegado no começo de agosto, quando ele deu de- clarações como a de que os empréstimos dos banqueiros ao “valerioduto” de fato existiram e a de que as acusações contra José Dirceu por formação de quadrilha não passavam de figuração. Preocupado em construir uma historinha — em torno de, como vere- mos no caso de Pizzolato, simplórias acusações de corrupção —, o ministro Barbosa não quis entender a estrutura jurídica do Fundo de Incentivo Visa- net, sua natureza propositadamente 6 | retratodoBRASIL 65

confusa. A CBMP, cujo nome fantasia Folhapressera Visanet e hoje é Cielo, é dirigidapela Visa Internacional, empresa com Henrique Pizzolato (o primeiro à direita), depondo na CPMI dos Correios, em 2005sede na Califórnia e uma gigante daera dos cartões de crédito e débito de a inexistência desses contratos, como falsas alegações, o ônus da prova. Eleaceitação global. se Pizzolato fosse o responsável pela é que tinha de provar que não recebeu situação, e não a direção do BB. propina. O fato de Pizzolato ter aberto Em duas centenas de países, a Visa seus sigilos bancário e fiscal logo quejuntou interesses contrários localmente A confusão estrutural, portanto, é o escândalo estourou e de a Receita— como, no Brasil, os bancos de varejo essa: por contrato considerado o mais Federal ter feito uma devassa monu-Bradesco, BB, Santander — em empre- adequado pela direção do banco, o BB mental em suas contas — especialmentesas dirigidas por ela, como a CBMP, nem ficava com o controle completo da para saber se ele não havia compradopela ambição comum de vender mais execução das operações de promoção o apartamento em que mora em Copa-cartões de sua bandeira. A Visa dá a dos cartões nem tinha interesse em cabana com a suposta propina — e nãoelas uma fração — 0,1%, um milésimo apresentar seus planos de venda de ter encontrado nada não convenceu osdo movimento de dinheiro dos cartões cartões de maneira muito aberta, para ministros, como se vê pelo mal informa-— para publicidade. Em 2004, por exem- não dar dicas de suas estratégias de do e patético depoimento do ministroplo, no Brasil, como o giro de dinheiro marketing para concorrentes, como o Gilmar Mendes.nos cartões Visa foi estimado em 156 Bradesco.bilhões de reais, a CBMP adiantou para Resta um porém: como os serviçosos bancos o milésimo previsto para Como se viu, Barbosa não tocou de promoção dos cartões de fato forampublicidade, 156 milhões de reais. nestes assuntos mais complexos. Aca- feitos, se não houve o desvio de dinheiro bou grosseiramente apresentando Pi- do BB, como explicar a propina — a qual, O dinheiro sempre sai na forma de zzolato como o mandachuva do dinhei- aliás, o Supremo não tem prova de queadiantamento, para que a máquina de ro do FIV, capaz de sacar dinheiro de lá Pizzolato recebeu? De última hora, umpromover a venda de cartões não pare. para não fazer nada — a não ser ajudar ministro do Supremo alegou, para con-A CBMP fica com 4% a 6% do dinheiro a quadrilha do PT, como ele acha que denar Pizzolato, que tanto era verdademovimentado pelos cartões, tirando provou. Barbosa não quis ver que, na que ele havia recebido o dinheiro de Va-essa parte como comissão dos que questão do uso do FIV, a figura central lério por meio de um contínuo da Previ,vendem produtos ou serviços pagos pe- do BB não era o diretor de comunicação o fundo de pensão dos funcionários dolos cartões. E assina contratos-padrão e marketing, mas o diretor de varejo, BB, que dividiu a quantia recebida comcom os bancos constituidores dessas interessado em vender mais cartões e, o próprio contínuo, a quem teria dadoempresas locais. Nestes, permite que portanto, ganhar mais comissões. 18 mil reais. O ministro, Dias Tofolli,o banco associado escolha se quer talvez deslumbrado com o ânimo anti-que ela pague diretamente aos forne- O ponto de partida de Barbosa foi o corrupção do STF, esqueceu-se de quecedores pelos serviços de publicidade fato de Pizzolato ter sido incluído na lista a contribuição de Pizzolato para o con-para promoção dos cartões ou se quer de recebedores de dinheiro do “valerio- tínuo — dada junto com outras pessoasreceber a verba para a promoção dire- duto”. Pizzolato defendeu-se dizendo para que ele reconstruísse um barracotamente em seu orçamento, prestando que apenas repassou dinheiro para o em que morava — era de bem antes docontas posteriormente a ela. Como PT do Rio, coisa verossímil, visto que, escândalo do mensalão.se lê na ilustração com um trecho do como já demonstrou RB, esta seção doparecer jurídico do BB, a escolha do partido foi a que mais recebeu recursos Nada a estranhar neste absurdo. Sebanco estatal foi a de não receber os do “valerioduto”, depois do publicitário a tese central do mensalão não tem pérecursos em seu orçamento, com o Duda Mendonça. nem cabeça, por que buscar coerênciaobjetivo de pagar menos imposto de nos seus detalhes?renda. Para tanto, não assinou contrato Pizzolato foi derrotado porque o STFcom a DNA para cuidar especificamente inverteu, para este julgamento e sobdestes recursos. Diz o texto do parecer reafirmadoem 2004 e firmado inicialmente em2001, quando o BB associou-se à CBMPe foi criado o FIV: os artigos 436-438do Código Civil trazem a figura jurídica“Estipulação em favor de terceiros”,que permite este tipo de relação — aCBMP pagar ao fornecedor da DNA porum serviço feito por demanda do BB. Oparecer afirma que não é necessária aformalização de contratos nem do BBcom a DNA para esse fim específico enem da CBMP com a DNA. O ministroBarbosa ficou cobrando de Pizzolato 65 retratodoBRASIL | 7

Mensalão 1 UM ASSASSINATO SEM UM MORTO Henrique Pizzolato foi condenado no STF por um crime – ter desviado 73,8 milhões de reais do Banco do Brasil. Mas o desvio não existe. Veja a prova disso na lista publicada a seguir por Lia Imanishi e Raimundo Rodrigues Pereira Na Idade Média, condenava-se Foram feitas três auditorias pelo era tão poderoso assim que teria sido uma bruxa sem precisar provar a exis- BB sobre o emprego dos recursos capaz de ocultar todas as provas con- tência material do crime. Sua confis- que o banco recebia da Companhia cretas do desvio realizado? Jamais. Ele são bastava. Com Henrique Pizzolato, Brasileira de Meios de Pagamentos pediu demissão de seu cargo no BB e ex-diretor de marketing e comunicação (CBMP) para uso em promoções e na diretoria da Previ, o fundo de pen- do Banco do Brasil (BB), foi pior: ele publicidade para a venda de cartões são dos funcionários do banco, logo nunca confessou que tivesse desviado de bandeira Visa – dos quais os 73,8 que seu nome apareceu no escândalo, 73,8 milhões de reais do BB para o milhões teriam sido desviados. É certo em meados de 2005. Como se pode suposto esquema de corrupção do que em todas as auditorias há indícios verificar na tabela que começa na pá- mensalão. Mas foi condenado por 11 de irregularidades. O ministro revisor gina ao lado, os projetos de uso dos votos a zero, no Supremo Tribunal da Ação Penal do mensalão, a AP recursos do fundo dos quais os 73,8 Federal, por esse crime. 470, Ricardo Lewandowski – que fre- milhões de reais teriam sumido eram quentemente corrigiu, para menos, a todos, se realizados, de enorme expo- Cadeira africana do século XVIII, peça fúria condenatória do ministro relator sição pública. Se não realizados, eram da exposição sobre a arte africana, Joaquim Barbosa – disse que a gestão praticamente impossíveis de inventar. 915 mil reais de patrocínio do Fundo dos recursos era uma balbúrdia. de Incentivo Visanet, no Rio, linha 17 Mais uma vez, pobre Pizzolato, ne- da tabela ao lado: o STF diz Uma das auditorias, feita em 2004, nhuma das instâncias com poder para que isso não existiu quando Henrique Pizzolato ainda tal mandou fazer essa simples prova da era diretor do BB, apontava muitas existência material do delito: investigarReprodução imperfeições no processo de uso dos se as ações de incentivo haviam sido recursos. Nessa auditoria, como nas realizadas ou não, requisito essencial outras duas, aparecem ­– algumas vezes, para condená-lo pelo desvio dos inclusive – variações da mesma preo- recursos destinados a elas. O PT, do cupação: a gestão era ruim, a tal ponto qual Pizzolato foi um dos abnegados que deixava a dúvida de saber se todos criadores (veja a história: “A verdade o os projetos de promoção e publicidade absolverá?”, à página 14), que tinha a haviam sido de fato realizados. Presidência da República, o Ministério da Justiça e, em tese, o comando do A corte não se preocupou em Banco do Brasil, o abandonou como obter as provas materiais do crime. O se ele fosse culpado. argumento dos ministros do STF foi o de que, em casos de gente muito po- A principal das três comissões derosa, com enorme capacidade para parlamentares de inquérito que inves- ocultar as provas, e, especialmente, em tigou a história, a CPMI dos Correios, casos de corrupção, a fim de evitar a presidida pelo petista Delcídio Amaral impunidade, se deveria condenar com e relatada pelo peemedebista Osmar base nos indícios. E pobre Pizzolato: Serraglio, ambos da chamada base como se viu, havia indícios de irregu- aliada, encomendou inúmeros inqué- laridades. ritos à Polícia Federal, todos eles em busca, digamos assim, dos criminosos. Mas, afinal, os projetos foram Nenhum em busca do “morto”. realizados? Ou não? Antes: Pizzolato 8 | retratodoBRASIL 65

A TABELA DA CBMP PARA A RECEITA FEDERALA ex-Visanet, hoje Cielo, diz que tem todos os comprovantes de que os eventos foram feitos Ano Nota BB Evento e documentação comprobatória Valor em R$ (mil)1 2003 0833b Marketing Cultural Brasília Music Festival; fatura dos fornecedores e imagens do 750 evento evidenciando a exposição da marca Visa2 2003 30 Marketing Esportivo Tênis Brasil Torneio Exibição; faturas da empresa Octagon 6003 2003 48 Marketing Cultural Projeto Educativo Formação de Professores; contrato de 300 patrocínio, notas fiscais, folheto do evento4 2003 1212 Guia D — Mapa Campos de Jordão, criação de espaços Ourocard em areas especiais 390 da cidade; cópias do mapa, evidências da exposição5 2003 1446 48a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos; relatório fotográfico dos eventos 320 publicitários evidenciando a exposição da marca Ourocard6 2003 1657 Marketing Esportivo Vôlei de Praia Shelda e Adriana; contrato de patrocínio, notas 900 fiscais da empresa Adriana B.B.7 2003 1677 Marketing Social — contratação de atletas, produção de camisetas e divulgação; 324,4 faturas das empresas envolvidas; fotos da campanha8 2003 1884 Publicidade em edifícios, relógios de hora e temperatura, painéis; faturas dos 2.839,8 fornecedores, imagens da exposição da marca Visa9 2003 1885 Mídia aeroportuária; veiculação de publicidade em aeroportos; faturas de 2.608,7 fornecedores; documentação relativa à divulgação10 2003 1898 Publicidade em edifícios, relógios de hora e temperatura, painéis; fatura dos 501,3 fornecedores, comprovantes de veiculação11 2003 1899 Publicidade em doze aeroportos de dez capitais; planos de produção, fatura dos 389,9 fornecedores, comprovantes de veiculação12 2003 2290 Mídia de apoio — Brasília Music Festival; fatura dos fornecedores, documentação 605,6 relativa ao evento13 2003 2805 Mídia avulsa — Rede Vida de Televisão; fatura dos fornecedores, plano de mídia 760 relativo à veiculação14 2003 3057 Mídia de apoio — Brasília Music Festival; fatura dos fornecedores, documentação 89,7 relativa ao evento15 2003 3058 Doação Projeto Criança Esperança; recibo da Unicef referente à doação, carta de 350 agradecimento à doação16 2003 3122 Patrocínio do XVIII Congresso dos Magistrados; contrato de patrocínio*, 200 informativos da Associação Brasileira dos Magistrados*17 2003 3163 Veiculação e produção do projeto Africa CCBB RJ; descrição do projeto, material 915 publicitário do evento18 2003 3580 Material de relacionamento Ourocard (kit vinho, faca para queijo); fatura do 1.493,2 fornecedor, relatório fotográfico do material19 2003 3625 Marketing cultural: “Exposições Itinerantes acervo numismático BB”; descrição do 1.873,2 projeto, relatório fotográfico do evento20 2003 3638 Marketing cultural: Filme Foliar Brasil; fatura dos fornecedores, material relativo à 150 campanha21 2003 3726 Patrocínio Casa da Gávea — fatura de casa de show, contrato de patrocínio 200 obrigando a casa a dar descontos para clientes Ourocard22 2003 3749 Guia D — 450 anos de gastronomia de São Paulo; fatura do fornecedor, cópia do 500 livro produzido expondo a marca Ourocard23 2003 3786 Mídia aeroportuária e exterior — prorrogação; planos de produção, fatura dos 599,1 fornecedores e comprovantes de veiculação24 2003 3790 Mídia aeroportuária — Viracopos — Campinas; planos de produção, fatura dos 73,1 fornecedores e comprovantes de veiculação25 2003 3792 Propaganda e publicidade na revista 19º Prêmio Colunista Brasília 2003; fatura do 7,8 fornecedor, documentação relativa à veiculação 65 retratodoBRASIL | 9

26 2003 3804 Renovação do patrocínio da Casa Tom Brasil; fatura do fornecedor, documentação 2.500 comprobatória do patrocínio27 2003 3843 Contratação de serviço técnico especializado — Trevisan Consultores; fatura do 534 fornecedor, proposta do serviço prestado28 2003 3859 Consultoria econômico-financeira da Projeta Consultoria; fatura do fornecedor, 12,6 contrato de prestação de serviços29 2003 3899 Marketing cultural “Bibi canta Piaf”; fatura dos fornecedores, documentação 40 relativa ao evento30 2003 3903 Patrocínio Paço da Alfândega Recife; descrição do projeto, contrato de patrocínio*, 1.000 documentação relativa ao evento*31 2003 4136 Patrocínio do filme Cabra Cega; material relativo ao patrocínio 15032 2003 4196 Marketing cultural DVD “Fábrica dos Sonhos”; material relativo ao patrocínio 11033 2003 4289 Patrocínio réveillon Rio de Janeiro; descrição do projeto, evidências do evento com 637,7 exposição da marca Visa34 2003 4380 Patrocínio a eventos de incentivo à venda de cartões – Programa Superação 2003; 1.200 regulamento e lista dos funcionários contemplados35 2003 4562 “Parada 450 anos de São Paulo” — patrocínio, ações promocionais e 600 apresentações “Pia Fraus 1”; faturas e material relativo ao evento36 2003 4570 Espetáculo teatral “Despertando para sonhar”; faturas e fotos do evento, matéria 50 de jornal37 2003 7540 Casa da Beleza “Ações Promocionais”; descrição do projeto, evidências do evento 49,3 (fotos e matérias de jornais e revistas)*38 2003 nihil TV Globo — campanha Ourocard Gestos Dia dos Pais; fatura dos fornecedores, 870,7 plano de mídia39 2003 nihil Mídia Shopping — campanha Ourocard Gestos; fatura dos fornecedores, planos de 350 mídia, material relativo à veiculação40 2003 nihil TV Globo — campanha Ourocard Gestos — Dia das Crianças; fatura dos 1.832,4 fornecedores, plano de mídia41 2003 nihil TV Globo — campanha Ourocard Gestos — Natal; fatura dos fornecedores, plano de 710,7 mídia42 2003 nihil Marketing cultural IV Festival de Teatro de Bonecos de Brasília; descrição do 52,5 projeto, documentação relativa ao evento*43 2003 LC** 06705 Patrocínio do Brasil Open 2003; nota fiscal de serviços do fornecedor, material 3.000 relativo ao evento, contrato de patrocínio44 2003 LC** 10713 Premiação da campanha “Superação 2003”; nota fiscal da BB Turismo Ltda., 861,5 regulamento, relação de funcionários contemplados45 2003 LC** 17232 Serviços de tecnologia para desenvolvimento de sistemas; nota fiscal do 500,6 fornecedor, contrato de prestação de serviços, relatório46 2003 LC** 11140 Patrocínio Vila Ourocard — promoção e aquisição de brindes; nota fiscal do 500 fornecedor, fotos de jornais e revistas falando sobre o evento47 2003 LC** 20176 Evento para clientes corporate e empresarial na Casa Tom Brasil; fatura do 400 fornecedor, documentação comprobatória do evento48 2004 783 Patrocínio do livro de registro da festa 450 anos de São Paulo; fatura da TV 315 Editorial, estimativa de custos, cópia do livro produzido*49 2004 785 “Embaixadores olímpicos”; faturas relativas a viagens dos atletas e a produção de 891,9 camisetas, planilha de custos de contratação de atletas50 2004 981 Patrocínio do livro O espírito e o sentimento da arte; estimativa de custos DNA, 15,9 comprovação de patrocínio51 2004 1016 Mídia aeroportuária; fatura de emissão dos fornecedores, planos de mídia, 1.629,2 comprovantes de veiculação52 2004 1017 Mídia em outdoors, relógios de temperatura, abrigos de ônibus e busdoors; fatura 1.864,7 dos fornecedores, comprovantes de veiculação53 2004 1141 Patrocínio do evento “Antes, as histórias da pré-história”; faturas da empresa 2.000 Fazer Arte, material publicitário54 2004 1170 Patrocínio do programa de rádio “Em boa companhia”; fatura do fornecedor, 2.900 comprovantes da veiculação10 | retratodoBRASIL 65

55 2004 1243 Campanha Visa Electron Pré-Datado; fatura dos fornecedores, plano de mídia, 2.87556 2004 1734 comprovantes de veiculação em jornais, rádio, TV e outros 23057 2004 1934 42058 2004 1969 Patrocínio do 12º Anima Mundi; notas fiscais da patrocinada (Idea), contrato de 86,659 2004 1378 patrocínio, evidências de realização do evento* 17260 2004 1709 350,461 2004 1684 Patrocínio da exposição ”Do neoclassicismo ao impressionismo”; recibos, contrato 1062 2004 1261 de patrocínio com a Artviva Produção Cultural 57063 2004 1263 79864 2004 1264 Projeto Som na Casa da Gávea; faturas da casa de shows, evidências da realização 280,765 2004 1345 do evento (cartazes e material publicitário) 12566 2004 2076 1.146,967 2004 2082 Campanha Visa Alavancagem de vendas no varejo; lista dos funcionários que 2.829,968 2004 2193 participaram de treinamento, material do evento 80069 2004 2248 2.10070 2004 2255 Patrocínio da exposição “Eduardo Sued”; descrição do projeto, contrato de 70071 2004 2353 patrocínio, evidências da realização do evento* 47,172 2004 2372 73,573 2004 2429 Seminário sobre Turismo da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São 20074 2004 2469 Paulo; fatura da BBTur* 9,175 2004 2524 35076 2004 2566 Projeto Agência Carta Maior — Boletim diário de imprensa, internet; plano de mídia, 7077 2004 2749 nota fiscal do agente de veiculação 46278 2004 2844 50079 2004 3165 Publicidade na Rede 21; plano de mídia, nota fiscal do agente de veiculação 11.50080 2004 3647 206,581 2004 3690 Publicidade na Rede TV — TV CUT; plano de mídia, nota fiscal do agente de 188,782 2004 3745 veiculação 184,783 2004 3827 1.740 Pesquisa de lançamento do cartão de crédito Banco Popular do Brasil; fatura relativa aos serviços, relatório interno sobre pesquisa Mídia aeroportuária; fatura dos fornecedores, planos de mídia e fotos das campanhas Mídia exterior (outdoors, abrigos de ônibus, busdoors etc); faturas dos fornecedores, planos de mídia e fotos das campanhas Projeto “Tênis Brasil Espetacular”; fatura da Octagon referente ao projeto Campanha “Isto É Cinema”; recibos da Editora Três, material relativo à campanha (revistas, DVDs e material publicitário) Festival Internacional de Cinema de Brasília; fatura dos fornecedores, documentação relativa ao evento Estratégia de mídia — produção de folders; fatura dos fornecedores, exemplar do material produzido Show de Zezé de Camargo e Luciano na churrascaria Porcão; documentação relativa ao evento, lista das agências contempladas Patrocínio dos 52º Jogos Universitários Brasileiros; faturas da BBTur, evidências da realização do evento* Complemento Registro festa 450 anos de São Paulo; fatura da TV Editorial, cópia do livro produzido* 35º Festival de Inverno de Campos do Jordão; fatura dos fornecedores, relatório fotográfico do evento Patrocínio do Bloco Maria Fumaça ; recibo referente ao patrocínio, evidências do evento (cartazes e material publicitário) Contratação da Trevisan Consultoria; faturas da Trevisan, proposta de serviço técnico relativo ao mercado de eventos Patrocínio da exposição “Antoni Tapies”; evidências do patrocínio na exposição (cartazes e material publicitário) Mídia aeroportuária e exterior; planos de mídia, fatura dos fornecedores, comprovantes de veiculação (TV, cinema, rádio etc.) Circuito Cultural Banco do Brasil 2004; fatura dos fornecedores, evidências do evento Circuito Cultural Banco do Brasil Etapa Belo Horizonte; fatura dos fornecedores, evidências do evento Circuito Cultural Banco do Brasil Etapa Porto Alegre; fatura dos fornecedores, evidências do evento Programa de rádio “Em boa companhia”; fatura dos fornecedores, planos de veiculação e textos de veiculação no rádio 65 retratodoBRASIL | 11

84 2004 3839 Previ — Encontro de conselheiros de administração e fiscal; fatura dos 19,785 2004 3958 fornecedores, evidências do evento (relatório fotográfico) 221,186 2004 4072 268,587 2004 4088 Circuito Cultural Banco do Brasil Etapa Porto Alegre; fatura dos fornecedores, 2088 2004 4120 evidências do evento 5089 2004 4230 488,190 2004 4261 Circuito Cultural Banco do Brasil Etapa Joinville; fatura dos fornecedores, 311,891 2004 4297 evidências da realização do evento 115,592 2004 4326 119,993 2004 4336 Cota de patrocínio Holiday on Ice Super; recibo da cota de patrocínio, contrato de 466,294 2004 4351 patrocínio 12095 2004 4561 10096 2004 4611 Cota de patrocínio da 69ª Reunião da Associação de Ex-Alunos da Universidade de 20097 2004 4762 Viçosa; recibo e documentação comprobatória 8098 2004 5030 114,499 2004 nihil Circuito Cultural Banco do Brasil Etapa Manaus; fatura de fornecedores, evidências 17,3 da realização do evento Patrocínio Livro Brinde Culinária; descrição do projeto, cópia do livro Previ — Encontro de conselheiros de administração e fiscal; fatura dos fornecedores, relatório fotográfico do evento Campanha de lançamento do cartão BB Crédito Pronto; fatura de fornecedores, exemplar de material de campanha “Embaixadores Olímpicos — Giovane Gávio”; fatura de fornecedores, contrato de patrocínio, relatório fotográfico e matérias de jornais “Embaixadores Olímpicos — Carlão, Paulão e Pampa”; fatura de fornecedores, contrato de patrocínio, fotos e matérias de jornais Prorrogação de patrocínio — Vôlei de Praia Adriana e Shelda; nota fiscal da empresa Adriana B.B., contrato de patrocínio Patrocínio da “Festa Pré-Caju”; recibos referentes ao patrocínio, relatório fotográfico do evento Evento “Círio de Nazaré”; fatura de fornecedores, documentação comprobatória do evento Campanha de ativação cartão Ourocard Visa — Pesquisas; fatura dos fornecedores, plano de mídia Veiculação de publicidade na revista Investidor Institucional; fatura do fornecedor, plano de mídia * Sem exposição ou menção à marca Ourocard ou Visa ** Lançamento contábil – o número da tabela é precedido, no documento, pelos números 51000 Nihil: Falta o número no documento original Nota da redação: a soma do valor dos eventos de 2003 e 2004 que, segundo o STF, não teriam sido feitos e cujo valor teria sido desviado é de R$ 73,8 milhões. A lista de eventos apresentada pela Visanet soma R$ 74,1 milhões. A diferença pode ser atribuída ao fato de um ou outro evento passar do orçamento de um ano para o outro.12 | retratodoBRASIL 65

Na Justiça, o procurador-geral indevidos pela companhia, terem sido Reproduçãoda República, Antônio Fernando de todas as ações de incentivo realizadas.Souza, mal recebeu, em abril de 2006, E observou, apenas, que algumas po- Todo mundo viu: Shelda e Adriana,as grandiosas conclusões da CPMI, dem ter sido realizadas sem promover promovendo as marcas Visa ede que teria sido cometido um dos especificamente os cartões da bandeira Ourocard, patrocínio domaiores crimes da história política do Visa, que era o essencial para a CBMP, Fundo de Incentivo Visanet,País, graças ao desvio de dinheiro do uma empresa controlada pela Visa linha 6 da tabela, 900 mil reais.BB, fez apenas uma depuração política Internacional, parte do oligopólio O STF diz que isso não existiunas conclusões, para deixar somente internacional dos cartões de crédito epetistas na lista dos indiciados (con- débito de uso global. viços de promoção; e 2) disse que ofira o “Ponto de Vista”, à página 5). laudo 2828, do Instituto Nacional deE abriu o inquérito 2245, que seria Barbosa e o procurador-geral ti- Criminalística da Polícia Federal, quepresidido – em nome do STF, visto que veram toda a condição de entender a examinara a documentação e ao qualas investigações envolviam pessoas estranha forma de funcionamento do ele fizera as perguntas consideradascom foro privilegiado – pelo ministro Fundo de Incentivo Visanet: a CBMP essenciais para esclarecer o caso, haviaJoaquim Barbosa. pagava os serviços de promoção dos afirmado que Pizzolato e seu então cartões por meio da DNA, serviços chefe, Luiz Gushiken, secretário de Tanto o procurador-geral Souza esses programados pelo BB, sem que Comunicação do governo Lula, eramcomo o ministro Barbosa viram a existissem contratos entre a CBMP e a os principais responsáveis pelo desviocomplexidade do problema e não DNA, nem entre o BB e a DNA, para – no entanto, no laudo 2828 os nomesquiseram encará-lo, fazendo sim- operação desses recursos específicos. de Gushiken e Pizzolato nem sequerplesmente uma investigação policial, Nos autos existe um parecer jurídico foram citados.de campo, e não só de documentos, do BB que considera perfeitamentepara saber se os serviços haviam sido legal essa engenharia jurídica. Ela foi O ministro Barbosa, ao defender arealizados. aceitação da denúncia que afinal criou Lewandowski a Ação Penal 470, também evitou Os dois se depararam, concreta- poderia repetir: todos os problemas estruturais quemente, com os advogados da CBMP, a acusação não precisavam ser compreendidos paradona e gestora – formalmente, por foi provada. se contar efetivamente ao plenáriocontrato – dos recursos que teriam O STF votou com do STF a história. Como ele mesmosido desviados. Desde o início do ano, a faca no pescoço disse, fez uma historinha. Reorganizouo procurador-geral Souza tentava ob- a denúncia do procurador-geral parater da companhia os papéis originais construída desde 2001 pelo banco destacar, em primeiro lugar, duas su-das prestações de contas feitas pela estatal e a empresa de cartões multina- postas ações de corrupção de petistas,agência de publicidade DNA, de Mar- cional e seus outros sócios. Sobre ela, a de João Paulo Cunha e a de Henriquecos Valério, a respeito dos serviços, é óbvio, Pizzolato não teve a menor Pizzolato. Essas historinhas, para aseus e de fornecedores contratados influência. mídia mais conservadora, caírampara fazer os trabalhos de promoção como o queijo no macarrão. Comopara a venda dos cartões, mas a CBMP Barbosa e Souza não viram nos disse o ministro Ricardo Lewandowskiresistia. autos, ou não quiseram ver, também, nos dias da votação da aceitação da que as vendas de cartões de bandeira denúncia em 2007, e que poderia ter No dia 30 de junho de 2006, Bar- Visa no BB eram atribuição essencial repetido agora: “A imprensa acuou obosa autorizou a busca e apreensão de da diretoria de varejo (Direv), sendo Supremo. Não ficou suficientementedocumentos da CBMP. A empresa ape- que o funcionário que autorizava comprovada a acusação. Todo mundolou à presidência do STF. Mas a então formalmente as ordens de serviço de votou com a faca no pescoço.”presidente, Ellen Gracie, reafirmou a promoções dos cartões a serem pagasbusca, feita em julho. Houve petições pela CBMP era indicado pelo diretordos advogados da companhia para da Direv.que fossem devolvidos documentosprotegidos pelo princípio da inviolabi- No encaminhamento da denúncialidade das relações advogados-clientes. aceita pelo STF em agosto de 2007,Os documentos que ficaram foram no entanto, Souza cometeu dois ab-encaminhados ao Instituto Nacional surdos: 1) garantiu que o desvio dede Criminalística. dinheiro do BB havia ocorrido, sem ter feito a prova contrária, muito Àquela altura, Barbosa tinha am- simples, de verificar os abundantesplas condições de entender o proble- comprovantes de realização dos ser-ma. Ele poderia ter visto – se é quenão viu – o material que nos permitiuconstruir a tabela desta reportagem,do final de 2006, de um dos maioresescritórios de advocacia do País aserviço da CBMP, que argumentou, afim de evitar o pagamento de impostos 65 retratodoBRASIL | 13

Sergio BondioniMensalão 2 14 | retratodoBRASIL 65

A VERDADE OABSOLVERÁ? Henrique Pizzolato — na foto, na sacada de seu apartamento em Copacabana — está há sete anos mergulhado na documentação que recolheu para sua defesa. Ela é profunda e coerente. Poderá levar à revisão de sua sentença? por Lia Imanishi e Raimundo Rodrigues PereiraO APARTAMENTO EM Copacabana onde mora Henrique tório estadual do Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro.Pizzolato, ex-diretor de marketing e comunicação do Banco do Valério disse que o pacote conteria exatos 326.660,67 reais. OsBrasil (BB), tem uma sacada da qual, em dias sem nuvens, se jornais da época entrevistaram a vendedora do apartamentopode ver o Corcovado e o Cristo Redentor. Mas Pizzolato não e descobriram que Pizzolato o comprou por 400 mil reais. Ecurte muito a paisagem. De modo geral, é introspectivo, olha sugeriram então que o imóvel teria sido pago basicamente comcomo se fosse para dentro de si ou para o passado. E a história o dinheiro enviado por Valério.do imóvel é parte de sua tragédia. Em setembro deste ano, por unanimidade, os 11 juízes Pizzolato comprou o apartamento no começo de 2004, cerca do Supremo Tribunal Federal condenaram Pizzolato sob ode um mês depois de ter, segundo conta, repassado, a pedido argumento, entre outros, de que o dinheiro que Valério alegoudo publicitário mineiro Marcos Valério, um pacote para o dire- estar contido no pacote seria a propina que ele recebeu por 65 retratodoBRASIL | 15

Resumindo a devassa feita pela Receita Federal: Pizzolato descontava da renda tributável a mesada da madrasta que o criou desde os nove anos ter desviado 73,8 milhões de reais do BB e bens obtidos nos 20 anos até aquela ples, não têm carro, tiveram oito imóveis, para o esquema corrupto do mensalão. data, em meados de 2005. venderam a metade deles, os de menor A conclusão seria óbvia: com a propina, valor, para pagar um primeiro advogado. Pizzolato comprou o apartamento. Foram encontrados, segundo a Recei- E o bem maior que têm hoje é o aparta- ta, três erros em suas declarações dessas mento de Copacabana, de cerca de 150 No julgamento, no entanto, ne- duas décadas: uma no aluguel de um metros quadrados. Os dois são arquitetos. nhum dos juízes mencionou a história imóvel, outra no valor de uma “contri- Compraram o apartamento e o reforma- da compra do apartamento. Por que buição de melhoria” relativa a um terreno ram completamente, organizando-o em não? Retrato do Brasil já sabe, como também de sua propriedade e a terceira torno de uma sala ampla e agradável, com demonstrou no artigo anterior desta quanto ao fato de ele ter contabilizado saída para uma sacada, na qual Andrea, edição, que o suposto desvio de 73,8 como sua dependente a madrasta que fumante há anos, faz suas incursões milhões de reais do BB para o esquema o criou desde os seus nove anos. Em periódicas. do mensalão não existiu. A propina, resumo, em números redondos: total da então, também não existiu? – RB per- dívida com o IR pelos erros encontrados, Não têm filhos. No apartamento, gunta. É segunda-feira, 5 de novembro. 5 mil reais; multa, mais 3 mil reais; juros moram também dois amigos, Pizzolato é um homem metódico, sobre a soma das duas parcelas anteriores um casal com uma bebê, o organizado. Em dois minutos vai ao ao longo do período transcorrido entre a que anima o ambiente e ajuda reduzir as seu escritório e volta para a sala com data do pagamento e as infrações, 7 mil despesas per capita. Pizzolato e Andrea se uma pasta na qual está a conclusão de reais; total, pago por Pizzolato à Receita conheceram em São Leopoldo (RS), onde uma devassa feita pela Receita Federal no dia 29 de dezembro do ano passado, cursaram arquitetura. Na época, ficaram em suas contas logo após o estouro do 15 mil reais. famosos graças a um trabalho de facul- escândalo do mensalão, abrangendo dade. O professor pediu que projetassem todos os seus rendimentos, aplicações Pizzolato e sua mulher, Andrea – ele, catarinense; ela, gaúcha – são gente sim- Pizzolato foi basicamente um sindicalista pela CUT, em Toledo, em Curitiba; em Brasília, como representante dos funcionários do BB. Mas teve também um início de carreira na política. Foi candidato a vereador, a prefeito, a governador. Para marcar posição, tornar o PT conhecido, buscar os primeiros votos. Na foto, com Lula, em 1990, quando foi candidato a governador do Paraná.Reprodução16 | retratodoBRASIL 65

um condomínio de classe média num Casseb, um nome do mercado, ex-diretor incriminar Pizzolato. Diz que, desde oterreno vazio da cidade. Eles sugeriram, do Citibank, foi nomeado presidente do início do funcionamento do Fundo decomo alternativa, uma “comuna”, para BB. Foi ele quem convidou Pizzolato Incentivo Visanet (FIV), nome oficial domigrantes que tinham se apossado de para assumir a Diretoria de Marketing e fundo de onde vinham os recursos paraum terreno, inundado durante parte do Comunicação (Dimac). a promoção da venda e uso dos cartões,ano. O projeto era vanguardista: previa havia um problema com a questão daso aproveitamento de água das chuvas, o Pizzolato assumiu em 17 de fevereiro competências.uso de energia solar, tetos com plantas, de 2003. Dias antes, o conselho diretor docozinhas comunitárias, ausência de muros BB tinha aprovado a renovação do con- No item 6.4.10 do relatório da audito-internos. Deram palestras sobre o assunto trato do banco com a DNA, a empresa de ria está escrito: “As normas internas sobreem outras universidades e se tornaram Marcos Valério, para prestar serviços de competências e alçadas, no período derelativamente conhecidos. publicidade e promoção na área de varejo. 2001 a meados de 2004, não continham Duas outras agências trabalhavam para o referência específica quanto às instâncias Depois da faculdade, foram para BB na época, a Lowe e a D+, também decisórias para aprovação, no âmbitoToledo, interior do Paraná, cidade cuja especializadas, para as outras duas áreas do Banco, da utilização dos recursos doeconomia gira em torno da Sadia, a grande de negócios do banco: a das contas de Fundo de Incentivo Visanet.” A seguir,produtora de carnes e derivados, levados governos e a das de empresas. no item 6.4.10.1, o relatório da auditoriapelas propostas da Pastoral Operária. diz: “As primeiras referências formaisForam da turma que criou sindicatos e o Durante o julgamento, o ministro-re- relacionadas ao assunto ‘competênciasPartido dos Trabalhadores na região, junto lator Barbosa insistiu que Pizzolato era o e alçadas’ localizadas constam no ane-com pessoas como os atuais ministros do principal e único responsável pelo desvio, xo nº 3 à Nota Dimac 2004-2708, degoverno Dilma, Paulo Bernardo e Gilber- para um esquema de corrupção petista, de 19.07.2004, que trata do ‘Fluxo de regis-to Carvalho. Pizzolato foi presidente do recursos do fundo de incentivos Visanet tro dos processos e utilização do Fundo’,sindicato dos bancários de Toledo e da para a promoção da venda de cartões de aprovada pelo Comitê de AdministraçãoCentral Única dos Trabalhadores (CUT) bandeira Visa pelo BB, que é a tese centraldo Paraná. Pizzolato se aposentou quando do mensalão. E detalhou esta acusação em Cda Dimac em 21.07.2004.”se demitiu da diretoria do BB e da Previ, vários aspectos. Um deles: Pizzolato não omo se vê pela sua data e ori-logo após o escândalo do mensalão, com havia respeitado as competências defini- gem, essa nota foi elaborada pela31 anos de banco. Era, talvez, o bancário das pelo banco para ordenar os serviços Dimac, na gestão de Pizzolato,mais conhecido no País. Na primeira da DNA na promoção dos cartões. para aumentar o controle do uso doseleição direta entre os funcionários do BB recursos do fundo Visanet, como elepara eleger um representante no conselho Barbosa, a rigor, escolheu Pizzolato explicou a RB. Ela impunha, quando dode administração do banco, em 1993, teve como bode expiatório de um problema uso de recursos de terceiros – no caso,53 mil votos, mais que a soma de votos de que de fato existia. Mas não fora criado os recursos do FIV obtidos da CBMP-todos os outros dez candidatos, escolhi- por Pizzolato. E, além do mais, o próprio Visanet –, as mesmas competências e Pizzolato estava tentando ajudar a resol- alçadas praticadas pelo banco no casoNdos em prévias nas várias regiões do País. ver esse problema desde que assumiu a de recursos próprios, de seu orçamento. o cargo até 1996, tinha um diretoria do banco e, já em maio, uma gabinete na sede do banco em auditoria identificou a necessidade de A auditoria também mostra que vi- Brasília. Mas não parava por lá. se aumentar o controle sobre o uso dos nha havendo uma pequena melhoria naViajou pelo Brasil inteiro. Estima ter pas- recursos da Visanet. observância dessas normas já no governosado por agências do banco em cerca de anterior, de Fernando Henrique Cardoso,3 mil municípios, em apoio à campanha “Levei quase um ano trabalhando e que após a intervenção de Pizzolato,contra a fome impulsionada pelo famoso nisso lá dentro, junto com a diretoria de no governo de Luiz Inácio Lula da Silva,Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, Organização, Controle e Estratégia, que houve uma grande melhoria. Vejamos:e sua Ação da Cidadania contra a Miséria apontou o que poderíamos melhorar. em 2001, 54,76% das ações de incenti-e Pela Vida, apoiada no governo, pelo BB Em julho de 2004, já conseguimos mu- vo ao uso do cartão Visa foram feitase pela criação do Conselho Nacional de danças. A partir dali, a DNA passou a com inobservância de alçada; em 2002,Segurança Alimentar. ter que mandar relatórios mensais. Todo 20,53%; em 2003, 21,59%; mas em 2004, o trabalho foi para dar maior eficiência apenas 7,20%. A auditoria citada ainda Depois, foi eleito diretor da Previ, ao gerenciamento dos recursos. Em no- conclui: “Os eventos realizados em 2005fundo de pensão dos funcionários do vembro de 2003, o Conselho Diretor do têm seus processos melhor instruídos, re-BB. Nessa condição foi nomeado para banco aprovou alguns aperfeiçoamentos fletindo o resultado dos aprimoramentoso Conselho de Administração da Brasil na Dimac. Implantados esses novos pro- que vêm sendo implementados a partirTelecom, na qual a Previ tinha parte do cedimentos, começamos a trabalhar em de meados do segundo semestre de 2004,negócio. Lá conheceu Cássio Casseb, várias áreas, e a dos recursos da Visanet existindo, porém, oportunidade de me-que era, também, conselheiro da empre- foi uma”, diz Pizzolato. lhorias para aprimorar procedimentos.”sa – indicado pela Telecom Italia Movel(TIM). Por sugestão do então ministro A maior das três auditorias internas Durante o julgamento, Barbosa disse,Antônio Palocci, para quem os mercados do BB sobre o uso dos recursos desse também, que os gerentes-executivos danão gostariam da nomeação de um pe- fundo, feita por 20 auditores em quatro diretoria de marketing eram subordinadostista para a presidência do banco, como meses no segundo semestre de 2005, a Pizzolato. A acusação tem o objetivocontou a RB um alto dirigente do PT, aborda o problema das competências da de afirmar que Pizzolato era muito po- gestão de recursos do fundo de incen- deroso e que, embora esses gerentes tivos Visanet. Mas o faz de modo mais amplo que o usado por Barbosa ao tentar 65 retratodoBRASIL | 17

Danevita disse ser do BB e que teria se recusado a assinaruma campanha falsa de R$ 60 milhões. Mas não era doBB nem poderia haver campanha nesse montanteassinassem as notas de serviço para uso social inicial do fundo foi da CBMP- publicidade no chamado núcleo de mídiado FIV, era ele quem mandava. Pizzola- Visanet, e não do BB. do BB – isto está claro em seus própriosto não tinha competência para demitir depoimentos na AP 470 –, fato que Bar-um gerente-executivo. De fato, eles só O item diz, ainda, que esse fundo bosa, é claro, não considerou.podiam ser substituídos por ordem do “é administrado por um comitê gestorpresidente do BB. “A Dimac não é uma – composto pelo Diretor Presidente, Di- Danevita foi funcionária, em Brasília,diretoria de negócios, mas uma diretoria retor Financeiro e Diretor de Marketing de diversas agências de publicidade quede apoio. O diretor não pode contratar, da Visanet”. E que constam, dentre os prestaram serviços ao BB, a última delasdemitir funcionários, nem autorizar gas- procedimentos previstos no regulamento sendo a DNA. Este depoimento apare-tos”, explica Pizzolato. do fundo, que: “a) o incentivador (banco) ceu em 2009. Qualquer pessoa de boa-fé deve apresentar ao comitê gestor, para que examine a acusação de Danevita sabe O ministro Barbosa encaminhou à análise e aprovação, proposta descreven- que é completamente absurda a afirma-Visanet pedido de esclarecimento sobre do a ação de incentivo, seus propósitos, ção de que ela teria poder para autorizarquem ocupava os cargos que comanda- os resultados e os custos; b) após as apro- alguma despesa do BB, ainda mais novam o uso de recursos do FIV. Os docu- vações técnica e financeira, as despesas valor de 60 milhões de reais, equivalentementos obtidos na CBMP depois de uma com a ação serão pagas diretamente pela ao das maiores campanhas de publicidadebusca e apreensão na sede da companhia Visanet às empresas executoras do proje- já feitas no País.foram analisados pelo Instituto Nacional to.” A conclusão é óbvia: se as despesasde Criminalística e resultaram no laudo são “pagas diretamente pela Visanet”, Pizzolato explica que as notas2828. Neste laudo está claro quem era o “após as aprovações técnicas e financei- técnicas eram notas internas daresponsável e quem nomeava o gestor ras” do “comitê gestor da Visanet”, que diretoria de varejo informando àdos recursos do BB no FIV. Não era os recursos não saíram “diretamente de marketing que havia aporte de recursosPizzolato e nem era ele quem nomeava dos cofres do BB”. E que para retirá-los do Fundo Visanet e que estes seriamesse funcionário. da conta da CBMP-Visanet era preciso usados em campanha publicitária. “O que as ações fossem aprovadas técnica e marketing fazia o trabalho braçal. QuemAté o ministro revisor, Ricardo financeiramente por ela. fazia o briefing, que dava as características Lewandowski, aderiu à tese de da promoção a ser feita, era o varejo. Barbosa de que Pizzolato desviou Barbosa serviu-se de quatro das Era ele que dizia ‘quero pôr tanto numarecursos públicos. Disse Lewandowski, no chamadas “notas técnicas” do BB para campanha do Dia dos Pais, tanto paravoto que condenou Pizzolato: “Convém uso dos recursos do fundo, cuja soma patrocinar vôlei’. A utilização dos recur-assentar que os recursos direcionados ao totaliza os 73,8 milhões de reais que sos da Visanet era feita de acordo comFundo Visanet, além de serem vinculados teriam sido desviados, para incriminar a demanda da diretoria de varejo. Minhaaos interesses do Banco do Brasil, saíram Pizzolato. Três delas – uma é de período estrutura, no marketing, era, originalmen-diretamente dos cofres deste, segundo em que Pizzolato estava em férias – foram te, direcionada para fazer o trabalho dedemonstrado no item 7.1.2 do relatório assinadas por ele, de fato. Mas também, e promoção e propaganda do banco. Aode auditoria interna do Banco do Brasil, Barbosa não disse, foram assinadas pelo vir um trabalho extra – a promoção dosàs folhas 5.236, volume 25, parte 1”. chefe da Direv, o diretor de varejo do cartões Visa –, essa mesma estrutura era BB e pelos gerentes-executivos das duas utilizada”, diz. Andrea, que está há sete anos diretorias. Barbosa disse, absurdamente,estudando a defesa do marido, abre que somente Pizzolato era o responsável. Ele compara o seu trabalho noo volume 25, parte 1, da AP 470, marketing ao de um comandante danas folhas mencionadas por Lewan- Para justificar a concentração da cozinha que manda no ambiente da co-dowski. A repórter lê. De fato, dali culpa em Pizzolato, Barbosa usou o zinha, mas não controla o almoxarifadonão se depreende, de forma alguma, depoimento de uma senhora, Danevita nem a tesouraria, que paga as contas.que os recursos saíram dos cofres do Magalhães, que se tornou símbolo das “Imagine que você esteja fazendo umBB. Pelo contrário, o item 7 explica vítimas do mensalão para a revista Veja. O jantar para 20 pessoas. Aí chega alguémque “o Fundo de Incentivo Visanet depoimento está nos autos, mas foi dado e diz: ‘Vêm aí mais cinco pessoas parafoi criado em 2001 com recursos sem a presença do advogado de Pizzolato. jantar.’ Você concorda. E pergunta:disponibilizados pela Companhia Nele, Danevita diz que teria sido demi- ‘Essas cinco pessoas vão pagar quanto?’Brasileira de Meios de Pagamento tida do BB por ter se recusado a assinar Eu tinha um orçamento para fazer um(CBMP) para promover, no Brasil, a uma autorização para falsos serviços de jantar para 20. Aí chegava a diretoria demarca Visa, o uso dos cartões com a promoção e publicidade no valor de 60 varejo e dizia que tinha mais dinheiro,bandeira Visa e maior faturamento da milhões de reais. Ocorre que Danevita que viriam mais cinco pessoas. A notaVisanet”. Ou seja, mesmo o capital nunca fui funcionária do marketing do técnica era eu dizendo: ‘Estou de acor- BB. Ela era funcionária das agências de18 | retratodoBRASIL 65

STFBarbosa foi o juiz que autorizou a apreensão dos documentos da CBMP-Visanet e também quem pediu os esclarecimentos parasaber qual o autor das ordens para que a empresa depositasse os recursos do Fundo de Incentivo nas contas da DNA. Sabiatambém que os recursos não passavam pelo orçamento do BB. Dispensou tudo isso. Para “pegar Pizzolato”?do, vou usar meus cozinheiros e minhas como os recursos não eram públicos, seu não impactava o orçamento do BB. Depanelas, e como vocês arrumaram mais uso não precisava ser submetido à Secom. qualquer forma, era a Direv que emitiadinheiro, posso servir mais pessoas.’” Por isso, depois, aproveitei uma reunião as notas essenciais para o relacionamento para comentar isso com os assessores na com a Visanet, os chamados JOBs (de “Quando eu descobri que era assim Secom e, depois ainda, com o ministro job, em inglês, trabalho), encaminhados àque funcionava”, continua Pizzolato, “eu Gushiken. E ele me disse que era isso CBMP e que propunham o gasto de valo-falei com o dono da casa, para saber se mesmo, isso era uma boa notícia, porque res determinados para fazer a campanhaeu poderia receber esses cinco extras. Fui o banco teria mais dinheiro para propa- apresentada. “Esses jobs não passavamprocurar o Casseb, presidente do banco. ganda. E concordou que esse dinheiro pela diretoria de marketing. Antes deEle me disse que os recursos não eram não se submetia à Secom.” estourar esse escândalo, eu nem sabia dado orçamento do banco, eram privados. E existência deles”, diz Pizzolato.me mandou falar com o Edson Monteiro, Pizzolato explica o procedimentovice-presidente de varejo e distribuição e para liberar recursos do Fundo Os jobs não apresentavam a campanhaque era, também, do conselho de admi- Visanet: todo início de ano, a detalhada como nas notas que circulavamnistração da Visanet. Monteiro me disse Visanet encaminhava uma carta ao BB dentro do banco. O regulamento daque, sim, era assim que funcionava. E me informando o montante de recursos Visanet também não exigia esse deta-mostrou um parecer do departamento que haviam sido disponibilizados pelo lhamento. Pizzolato diz que era assimjurídico do banco dizendo que os recur- conselho de administração da Visanet porque mais de 20 bancos eram acionistassos eram privados e que era conveniente para a promoção dos cartões Visa. A di- da Visanet, e nenhum queria entregar apara o banco que a Visanet pagasse retoria de varejo recebia esta carta e podia campanha que faria para o concorrente.diretamente a agência de publicidade, gastar o dinheiro sozinha ou com outraspara não haver trânsito dos recursos pelo diretorias. Se precisasse da diretoria de Os repórteres de RB ficaram dez diasconglomerado, por questões fiscais.” marketing, o gerente-executivo da Direv ouvindo Pizzolato, lendo documentos e fazia uma nota técnica conjunta com a acompanhando Andrea, que nos mostrou Pizzolato completa sua história: “Mas Dimac, que selava o acordo de trabalho sua luta de sete anos mergulhado noseu disse: ‘Eu já aprovei o plano anual de entre as duas diretorias. autos do processo para entender o que secomunicação do banco, que vai para a passou. Nossa opinião é a de que Henri-Secom [Secretaria de Comunicação do As notas informavam que havia o que Pizzolato diz a verdade. Pizzolato éGoverno], e esse dinheiro extra não esta- valor disponibilizado pelo fundo que cristão. Parodiando a Bíblia, pode-se dizerva incluído nisso’. Monteiro me disse que, que a verdade o libertará? 65 retratodoBRASIL | 19


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