TítuloA Alma de um PovoHistória e Lendas da Tradição BarrosãAutorAgostinho VerasDirector EditorialEduardo AmaranteRevisãoIsabel NunesGrafismo, Paginação e Arte finalDivalmeida Atelier Gráficowww.divalmeida.com/atelierTécnica da CapaDivalmeida Atelier GráficoImagem da capaEntrudo da Misarela – Vila NovaFotografia de Carlos MendesIlustraçõesAgostinho VerasImpressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.ptDistribuiçãoBucelas - LisboaProjecto Apeiron, [email protected]ª edição – Março 2013ISBN 978-989-8447-27-2Depósito Legal nº 356359/13© Agostinho Veras & Apeiron EdiçõesReservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial,por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográficosem a prévia autorização do editor.Projecto Apeiron, Lda.www.edicoes-apeiron.blogspot.comedicoes.apeiron@[email protected]ão – Algarve
Agostinho Verasapeiron edições Misarela
A Alma de um PovoÍNDICEIntrodução 9 13Capítulo I 22Enquadramento histórico 35 55Capítulo II 66A origem de Vila Nova e Sidrós 94 110Capítulo III 117Da Romanização à independência de Portugal 128 144Capítulo IV 154O surgimento de Vila Nova e Sidrós e o modo de vida 177 188Capítulo V 191As vias, pontes e os combates históricosCapítulo VIEdição e análise das memórias paroquiais de 1758Capítulo VIIA epopeia dos descobrimentos e as migraçõesCapítulo VIIIOs grandes investimentos que ditaram o progressoCapítulo IXAs vivênciasCapítulo XOs medos e as crençasCapítulo XIAs Festas agrárias e religiosasCapítulo XIIAs lendasConclusãoBibliografia 7Apeiron Edições |
A Alma de um Povo – INTRODUÇÃO – A paixão pela cultura e tradições da minha terra habitano meu íntimo desde que me conheço. Esta relação provo-cou em mim emoções e sentimentos que me acompanhamdesde criança. As saudades intrínsecas desse passado hu-milde e respeitoso deram-me alento para lembrar comsaudade a alma genuína vivida pela nossa estirpe ao longodos tempos. Nesse sentido, este trabalho reúne transversalmente anossa história geográfica, mas, acima de tudo, a nossa pró-pria identidade. Na composição deste volume usei um mé-todo de trabalho muito simples que me ajudou a desvendarartefactos, símbolos, lendas e realidades adormecidas nanossa memória. Basicamente, comecei por associar os con-tos e as lendas aos locais a que estas fazem alusão e vice--versa. Esta simbiose levou-me aos mais longínquos recôn-ditos da nossa origem. A entreajuda, o trabalho comunitário e o intercâmbiosocial surgiram obviamente das coisas mais simples da vidaonde a união faz a força. O encorajamento mútuo e ambi-cioso dos nossos antecessores em defesa do sustento de to-da a comunidade garantiu uma evolução minuciosa gera-cional. Essa alma foi testada ao limite em múltiplas ocasi-ões, lutando de peito aberto com a disposição integral dematar ou morrer em defesa e protecção do próprio valorétnico e nacionalista. Tal louvor pertence-nos, é nosso, nin-guém o pode negar, está imortalizado na própria históriade Portugal. 9Apeiron Edições |
Agostinho Veras A nossa capacidade nativa e engenhosa de sobrevivênciaaglutina verticalmente a vida terrena ao céu, através deuma corrente redentora sagrada descendente de Deus, quefornece aos crentes o mais forte sentimento de fé e alentoespiritual. Foi “a comer o pão que o Diabo amassou” que se cons-truiu com grande dificuldade o património legado pelosnossos antepassados mais vetustos, e cabe-nos a nós pro-tegê-lo e dignificá-lo. Esse passado penoso suscitou o apare-cimento de contos e lendas singulares que maravilhamqualquer alma desatenta. Porém, o êxodo rural em massaocorrido no interior, bem como o desaparecimento das pes-soas mais velhas, contribui definitivamente para o sumiçogeral de todas essas vivências e saberes, que nos acompa-nham desde os primórdios tempos. Hoje, é muito raro ou-virmos alguém contar um conto ou cantar uma cantiga danossa tradição popular. A nossa história e a nossa culturadependem em grosso modo da divulgação dessa herançapara memória futura, visto caminharmos a passos largospara a extinção e abandono da ruralidade. A força anímicade um povo reside na capacidade em (re)viver as suas tra-dições. Só assim nos amarrámos eternamente à origem e aosegredo das coisas. O povo que o não fizer, contribui deci-didamente para a morte de toda essa sapiência que nosprende ao passado. Foi com o receio dessa perda, que decidi meter mãos àobra. Com a cooperação dos mais velhos recolhi e recupe-rei o que me foi transmitido ao longo da minha vida. Estacompilação textual dará a conhecer às novas gerações algo10 | Apeiron Edições
A Alma de um Povoque pertence a todos nós, descendentes legítimos desse es-pólio passado. Estes testemunhos jamais deixarão esquecereste povo maravilhoso portador de uma força interior in-comparável, que dignifica e honra a sua persistência sadiana labuta árdua do dia-a-dia com o intuito de nos dar umavida melhor. Resta dizer que este volume reúne factos e elementostranscritos do mesmo modo que foram contados, sem pre-judicar ou melindrar minimamente a sua essência primitiva.Mais haveria para contar se este trabalho fosse concebidomais cedo, mas, como diz o povo: mais vale tarde que nunca. Agora, que o leitor se prepare para conhecer o vero espí-rito desta gente admirável que construiu um lugar extraor-dinário, e que, em sua memória, jamais deixarei esquecer. Hino de Vila Nova1 Vila Nova, Vila Nova Vila Nova é um Jardim Toda a gente diz assim Oh que linda a nossa terra Viva Vila Nova Jardim das flores Viva Vila Nova Terra dos nossos amores Viva Vila Nova Viva para sempre Viva Vila Nova Mais a sua gente1 Este hino era cantado no seio popular em dias importantes; fosse na tristezaou na alegria. 11Apeiron Edições |
Agostinho Veras Ninguém poderá falar da aldeia de Vila Nova e esquecerSidrós ou vice-versa. Podemos e devemos agrupá-las namesma estirpe e denominá-las irmãs. Esta raiz coabita nonosso íntimo desde sempre, visando o desenvolvimentomútuo e harmonioso em prol de um povo uno. Esta uniãoé claramente visível nos infindos laços de sangue, na possee partilha de terras, e na vida comunitária que mantemoscomummente desde os primórdios tempos. Todavia, para interpretarmos melhor todo este contex-to, é preciso regressarmos ao passado mais longínquo e(re)lembrar todas as nossas tradições mais antigas, contex-tualizando-as no tempo desde o início das primeiras civili-zações indígenas que se fixaram na Península Ibérica, pas-sando pela formação e desenvolvimento progressivo dePortugal na Europa e no Mundo. Só assim obteremos umaresposta cabal, capaz de nos transmitir a real façanha danossa origem enquanto povo.12 | Apeiron Edições
A Alma de um Povo – CAPÍTULO I – Enquadramento histórico A história de Portugal surge naturalmente com a chega-da dos primeiros habitantes à Península Ibérica, e daí, com odespontar das primeiras tribos indígenas. Estas, alimenta-vam-se basicamente da caça, da pesca e de frutos silvestres.Eram grandes sábios na cultura Megalítica e arte rupestre. Há cerca de 2.000 a.C., os povos indo-europeus, pré--Celtas, eram nómadas, não possuíam assento fixo. Sabe-seque já trabalhavam de forma incipiente na agricultura edesenvolviam trocas comerciais, para além de se iniciaremna navegação. Posteriormente, por volta do ano 1.500 a.C. chegaram osIberos, possivelmente provenientes do norte de África.Contudo, os estudiosos não encontram qualquer relação deconsanguinidade com o povo Ibero indígena. Com a im-plementação da agricultura e da domesticação generaliza-da de animais, surgiram as primeiras tribos sedentárias,sobretudo junto às bacias de rios. Eram tribos politicamentebem organizadas, que viviam em consonância com a natu-reza. Porém, em situações de conflito revelavam-se corajo-sos e destemidos em defesa do seu espaço dominante, vi-vendo em constante alerta face a possíveis ataques de ou-tras tribos análogas, que por hábito invadiam as demais,mormente em busca de alimento. Os Fenícios chegaram por via marítima entre 1.200 e1.000 a.C., desenvolvendo importantes relações comercias.Eram grandes comerciantes e mercadores, procurando e 13Apeiron Edições |
Agostinho Verastransportando matérias-primas e diversos produtos manu-facturados. Mais tarde, por volta do ano 630 a.C. chegaram os Gre-gos, quando o império Fenício declinava. Os Celtas chegaram entre o século VI ou V a.C. Era umpovo guerreiro e agricultor, conhecido pela sua sabedoria ecultura Castreja. Rapidamente se difundiram por toda a Pe-nínsula dando origem aos Celtiberos. Introduziram o fabricodo ferro e daí novas armas surgiram. Veneravam o espíritodas montanhas e das águas e cultuavam o sol e o fogo. O domínio Cartaginês na Península Ibérica confirma-se porvolta do século IV a.C. A chegada deste novo povo foi bemacolhida e esta influência estendeu-se até ao século III a.C. Os Romanos invadem a Península Ibérica no ano 218a.C. com o intuito de decapitar o domínio Cartaginês e, aomesmo tempo, tomar posse das grandes explorações mi-neiras de ouro, prata e cobre, o que veio acontecer. Admi-nistrativamente dividem a Hispânia em duas províncias: aHispânia Citerior a oriente e a Hispânia Ulterior a ocidenteonde se inclui a Lusitânia2, cada uma com o seu pretor. OsRomanos trouxeram consigo as culturas do trigo, das vi-nhas, dos olivais e desenvolveram as indústrias da tecela-gem, das minas, das pedreiras, das vidreiras e da olaria.Construíram uma extensa rede de estradas3, pontes e intro-duziram ainda o Latim como língua predominante. Roma não perde tempo e tenta a todo custo o domínioda Lusitânia, mas os Lusitanos já possuíam um espírito in-2 Esta ainda longe do jugo de Roma.3 É daqui que surge o ditado: todas as estradas vão dar a Roma.14 | Apeiron Edições
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