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Templários - De Milícia Cristã a Sociedade Secreta - Vol 3 (excerto)

Published by D'Almeida ©, 2017-07-01 05:58:43

Description: Editor: Apeiron Edições © * Autor: Eduardo Amarante © * Capa: Gabriela Marques da Costa © * Tipografia de capa: D'Almeida Ateliê * Paginação e arte final: D'Almeida Ateliê

Keywords: editoras portuguesas,apeiron edições,sociedades secretas,livros dos templários,santo graal,livros famosos,gabriela marques da costa,ilustradores portugueses

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Colecção Mandala VOLUME 3A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal A Missão Marítima

TítuloTemplários – de Milícia Cristã a Sociedade SecretaVol. 3: A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: A Missão MarítimaAutorEduardo AmaranteCoordenação e revisãoDulce Leal AbaladaRevisãoIsabel NunesGrafismo, Paginação e Arte finalDiv'Almeida Atelier Gráficowww.divalmeida.comIlustração e Técnica da capaGabriela Marques da CostaArte Digital / Assemblage DigitalPortugal e a nova Ordem de Cristo - 2011gabriela.marques.costa@gmail.comwww.gabrielamarquescosta.wordpress.comwww.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538+351 915960299Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.ptDistribuiçãoCESODILIVROSGrupo Coimbra Editora, SAcomercial.cbr@cesodilivros.pt1ª edição – Fevereiro 2011ISBN 978-989-8447-08-1Depósito Legal nº 321688/11©Apeiron EdiçõesReservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, porqualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográficosem a prévia autorização do editor.Projecto Apeiron, Lda.www.projectoapeiron.blogspot.comapeiron.edicoes@gmail.comPortimão - Algarve

Eduardo Amarante VOLUME 3A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal A Missão Marítima apeiron edições



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3SIMBOLISMO DA ILUSTRAÇÃO IMAGEM TEMPLÁRIOS, 3 Gabriela Marques da Costa (a pintora) Esta criação artística só por si tem uma carga simbólica muito grande, principal- mente pelo tema que retrata, mas há que notar que esta obra não pode ser vista ape- nas como obra individual, pois é a conti- nuação de mais duas obras sobre o mesmo tema e que retratam a evolução dos Tem- plários na História. Contudo, esta capa mar- ca algo muito importante e determinante para a sobrevivência desta Ordem do Tem- plo: a sua transformação em Ordem de Cristo. Começando no plano de fundo da capa,Pintura de Gabriela Marques da Costa observamos pela terceira vez que as capas Capa e Contracapa desta trilogia continuam com a mesma vi- bração de cor dando, desta forma, uma se- quência visual ao leitor da história destes “pobres cavaleiros do Templo de Salomão”. O bordeaux acastanhado é a cor que predomina no plano de fundo, simbolizan- do assim a segurança relativamente à sua Fé, a convicção das suas ideias, e ao mesmo tempo a calma dos seus princípios místicos. As nuances de luz expandida represen- tam o céu estrelado, simbolizando assim o avanço do tempo e a transformação desta Ordem Templária na Ordem de Cristo. Quis também que o fundo continuasse com as mesmas nuances de cor, pois representa a consistência das ideias, a verdade, o espírito e a esperança, bem como os sentimentosnobres que a Ordem Templária tinha e que foram passados para os seusseguidores, agora com o novo nome – Ordem de Cristo. 7Apeiron Edições |

Eduardo Amarante O selo templário aparece logo em seguida ao fundo bordeaux, simbo-lizando que a Ordem do Templo continua implícita mesmo depois da cria-ção da Ordem de Cristo. O selo acaba também por nos remeter para aimagem de um vórtice do tempo, como que a trazer para o presente toda ahistória do nosso passado referente a esta temática. Logo de seguida aparece o Cavaleiro de Cristo representado de umaforma soberana, sobre tudo e todos. Aos seus pés temos as naus em marcade água, pois foram estas que ajudaram os navegadores portugueses nassuas descobertas continentais; daí todas as caravelas terem nas suas velasvibrantes ao vento a cruz da Ordem de Cristo. Aos seus pés encontram-setambém Dom Dinis, Dom Manuel, Infante Dom Henrique e Dom João II. Ao colocar o Cavaleiro de Cristo, o meu objectivo não era dizer que aOrdem era mais importante do que os Nobres, mas sim que estes não teriamtido os seus anseios de estado tão bem sucedidos se não tivessem esta Or-dem por trás a suportar e orientar as suas batalhas, conquistas, descobertas erotas marítimas. Dom Dinis aparece-nos no canto inferior esquerdo com dois pinheirossobre a sua mão representando o seu cognome – o Lavrador. Em seguidaapresenta-se Dom Manuel, não cronologicamente mas simbolicamente, sen-do cognominado de - O Afortunado - e sobre a sua mão, a caravela dosdescobrimentos. Conta a História que as madeiras das caravelas vinham dos pinhais dePortugal que Dom Dinis mandou plantar outrora. Seguidamente aparece o Infante Dom Henrique, o grande navegadorPortuguês. Sobre as suas vestes aparece um lírio simbolizando a castidade ea santidade. Coloquei o Infante Dom Henrique no topo dos 3 reis, pois estefoi governador da Ordem de Cristo. Por último temos Dom João II no canto inferior direito. Este tem junto aopeito o ceptro, não que os outros reis não o pudessem ter também, poisforam tão reis quanto ele, mas porque o ceptro simboliza o poder absoluto,soberano, a autoridade suprema bem como a proeminência; e este foi osímbolo que melhor se encaixou com D. João II, pois o seu cognome é - oPríncipe Perfeito. Em primeiro plano temos o Convento de Cristo, bem como a porta deentrada do Castelo de Castro Marim, tudo num só plano parecendo aosolhos do observador um só Castelo. O meu intuito foi mostrar que napassagem da sede da Ordem, primeiramente em Castro Marim e depois pa-8 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3ra Tomar, apenas houve uma mudança a nível geográfico, pois os funda-mentos para a Ordem de Cristo continuavam os mesmos. Falando agora do elemento primordial da capa e o primeiro plano,vislumbramos logo uma cruz a vermelho. Esta representa a cruz Templária atransformar-se na cruz de Cristo. O apontamento da cruz Templária que se encontra inclinada denota odeclínio, e por trás desta encontra-se a renascer em vermelho vibrante a novacruz da Ordem de Cristo. O pequeno apontamento dentro da cruz que está a cair é o fogo, mas nãoo fogo que queima, que devasta e que destrói o conhecimento, mas sim ofogo do conhecimento, o fogo do renascer, tal como uma Fénix. Passando à contracapa, continua com muitas semelhanças em relaçãoaos volumes 1 e 2. Contudo, os elementos novos dão novos contextos einformações a esta contracapa. Do lado esquerdo do Cavaleiro que detém a nova cruz da Ordem deCristo no seu peito, denotamos que Filipe - O Belo - se encontra paralelo aoTemplário e a olhar para este. Esta carga simbólica representa todo opensamento e vontade em terminar com a Ordem Templária. Do outro ladodo selo encontramos o Papa Clemente V, que seguiu as ideias e orientaçõesde Filipe de França, terminando assim, de vez com a Ordem do Templo daforma mais desumana, cruel e traidora. Contudo, estas duas personagenscontrastam com as vitórias da Ordem do Templo, agora reformada emOrdem de Cristo. Tudo isto está patente na imagem em marca de água domapa de Piri Reis sobre o símbolo do Selo Templário e as naus Portuguesas aganharem velocidade com as invisíveis sílfides e zéfiros a soprar as velas emnosso favor. Pensa-se que estes cavaleiros detentores de muitos segredos erituais tinham em seu poder os mapas de Piri Reis, ajudando assim o nossoPortugal a descobrir nomeadamente o Brasil e outras paragens continentais. Quando criei esta capa, um dos meus objectivos foi mostrar ao obser-vador que Portugal ficará ligado a esta Ordem de Cristo para todo o sempre.A sua simbologia, nomeadamente a cruz transformada aparecerá ao longoda história da nossa pátria, pois ainda nos dias de hoje se faz alusão a essacruz. A cruz da Ordem de Cristo pode passar imperceptível a muitos olhos donosso quotidiano devido à rotina das nossas vidas ou até mesmo, muitasvezes, por ignorarmos o seu significado e a sua importância… Mas a verda-de é que continua lá com a sua carga simbólica e sempre lembrando aonosso povo que Portugal já foi o centro do Mundo. 9Apeiron Edições |



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3ÍNDICEINTRODUÇÃO 171ª Parte – O PROCESSO PERSECUTÓRIO PARA A 23CONDENAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO E SUA 25DISSOLUÇÃO 27 30CAPÍTULO I 34A ORDEM MONÁSTICO-MILITAR DO TEMPLO NO 40CONTEXTO MEDIEVAL EUROPEU 411. O papel do homem e da mulher na Idade Média 432. A Ordem Templária como braço secular dos cistercienses 443. O fortalecimento visível e externo da Milícia 464. O desenvolvimento invisível e interno da estrutura 49 4.1. S. João Baptista e S. João Evangelista 56 4.2. O culto joanino e as duas Igrejas de Cristo 58 4.3. Outros símbolos herméticos 61 4.4. A Ordem do Templo e os iniciados muçulmanos 63 4.4.1. As escolas de iniciação 73CAPÍTULO II 78O MÓBIL DA PERSECUÇÃO AOS TEMPLÁRIOS 781. A decadência da Milícia cristã 83 1.1. O cerco aperta-se2. O “acordo” secreto para a eleição de Clemente V3. O princípio do fim: a trama da acção persecutória e a política do facto consumado4. 13 de Outubro, a sexta-feira negra do ano 1307CAPÍTULO IIIO PROCESSO DE ACUSAÇÃO E A CONDENAÇÃO1. Os delatores e os autos de acusação2. As falsas confissões 11Apeiron Edições |

Eduardo Amarante3. Os jogos de poder e os prisioneiros de Chinon: os falsos 87 depoimentos 91 954. O enquadramento do Pergaminho de Chinon 100 4.1. Apontamentos breves sobre o Pergaminho 104 4.2. A problemática do perdão e da absolvição 106 1115. As fases do processo de condenação 1146. O processo de defesa dos templários e o veredicto final 1177. O processo jurídico da dissolução da Ordem do Templo8. A reabertura do processo Jacques de Molay 1189. A “profecia” cumpre-se 12110. O processo de condenação fora de França: o reconhecimento 129 da inocência e a falácia do processo11. Notas conclusivas 129 1302ª Parte – O ARDIL VISIONÁRIO DE D. DINIS –A “NOVA VERSÃO” DA ORDEM DO TEMPLO 132CAPÍTULO PRELIMINAR 137A ACÇÃO TEMPLÁRIA FORA DE FRANÇA 1431. A relação política entre os monarcas e os cavaleiros 147 templários nos séculos XIII e XIV 147 1.1. Traços gerais sobre a acção política do rei D. Dinis 1492. A falácia do processo e os seus reflexos em Portugal e nos 152 reinos peninsulares 1563. A restauração da Ordem do Templo em Portugal: a Ordem de Cristo e o seu primeiro Mestre4. O projecto templário de D. Dinis e o culto do Espírito SantoCAPÍTULO IA NOVA VERSÃO DA ORDEM DO TEMPLO– A ORDEM DE CRISTO1. A nova missão dos cavaleiros de Cristo 1.1. A nova sede da Ordem: O convento de Cristo2. O perfil do Infante e a planificação do projecto marítimo 2.1. Tomar, a mentora das viagens oceânicas12 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3 2.2. As lendas da América e da Atlântida 157 2.3. Sagres, a escola da cruzada marítima 1593. “Quem quer passar além do Bojador...” 1644. Em demanda do reino do Preste João 1675. O enigma Cristóvão Colombo 1726. A política de sigilo da Ordem de Cristo 173 6.1. O tratado de Tordesilhas 176 6.2. A (re)descoberta do Brasil 1777. O mito do 5º Império na epopeia marítima 1818. O papel do conhecimento antigo na gesta dos descobrimentos 1829. Notas finais 184CAPÍTULO II 185O FIM DA ORDEM DE CRISTO E O DECLÍNIO 185DE PORTUGAL 1901. D. João III e o estabelecimento da Inquisição 192 194 1.1. A perseguição aos judeus na Península no século XVI2. A perda da independência e o jugo espanhol 196 196 2.1. A morte de uma nação 202 205CAPÍTULO IIIREFLEXÕES GERAIS SOBRE AS RAÍZES 209DO GENE PORTUGUÊS 2091. Traços breves das fontes portuguesas 2112. Sebastianismo e 5º Império 2123. O gene luso sob o olhar da ciência 2143ª Parte – RESQUÍCIOS DA SOBREVIVÊNCIADA ORDEM DO TEMPLO COMO SOCIEDADE SECRETACAPÍTULO IA MENSAGEM ATEMPORAL DOS TEMPLÁRIOS1. Os mistérios na Antiguidade2. A concepção do Homem/Templo3. A simbologia do número 54. A simbologia do castelo de Tomar13Apeiron Edições |

Eduardo AmaranteCAPÍTULO II 217O PLANEAMENTO GLOBAL TEMPLÁRIO 217A SINARQUIA COMO FÓRMULA SECRETA 223PARA A SOCIEDADE 2231. A missão iniciática templária. O Pactio Secreta 2272. O projecto sinárquico dos templários 2273. Definição de sociedade secreta. A ciência oculta 230 3.1. A organização secreta templária4. Notas conclusivas 237 239CAPÍTULO IIIO PROFÉTICO DESÍGNIO TEMPLÁRIO NO FUTUROADENDAAOS POBRES CAVALEIROS DE CRISTO E DO TEMPLODE SALOMÃOUma singela homenagemBIBLIOGRAFIA14 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3 Quando as bandeiras com a Cruz de Cristoflutuavam ao vento sobre mares estranhos e jamais sulcados por lenhos do Ocidente, o cavaleiro da Ordem sorria aos perigos, porque lá naPátria, por entre as arcarias do Convento de Tomar, onde discorria o espírito do Infante D. Henrique, cem companheiros o aplaudiam, e com precesfervorosas, chamavam sobre ele as bênçãos do Céu. Brito Rebelo 15Apeiron Edições |



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3 INTRODUÇÃO Quando se aborda a temática templária vem sempre à ideia a for-ma trágica do seu fim e, naturalmente, desejamos saber qual o crimegrave que cometeram para lhes ter sido imputada tão pesada pena. Este volume dos Templários permite ao leitor conhecer os mean-dros dos interesses políticos, económicos e mesmo religiosos que semoviam nos bastidores. Esses jogos de conveniência, que tinham co-mo palavra mágica a sede de poder dos seus protagonistas, engendra-ram o plano macabro de desmantelar uma Ordem monástico-militarindefesa e, provavelmente, ingénua quanto ao modus operandi da época. Se a prioridade de Filipe o Belo era o desejo de concentração daautoridade política (uma vez que a Ordem do Templo constituía-secomo um “Estado dentro do Estado”), por outro lado a fraqueza de ca-rácter do Papa Clemente V, aliada à dúvida e à incapacidade de res-ponder aos jogos políticos do monarca francês, ditava a lei de dissol-ver uma Ordem que também era uma ameaça para o próprio poderpapal, pois havia-se tornado uma “Igreja dentro da Igreja”. Posto isto,temos que o maior crime da Ordem do Templo foi ter-se tornado, aosolhos do povo (de que granjeava grandes simpatias), uma opção efi-caz, capaz e viável contra os poderes institucionalizados da altura. Daíos templários terem sido tão infamemente caluniados, com falsasacusações de práticas de diabolismo e de acções inumanas, esses mes-mos cavaleiros que tinham apenas como objectivo unir o mundo e oshomens num universo de fraternidade e concórdia, entregando assimas suas vidas a esse fim. Este volume, intitulado A Perseguição e a Política de Sigilo dePortugal – a Missão Marítima”, é constituído por três partes: Na primeira parte desta obra, sob o título O processo persecutóriopara a condenação da Ordem do Templo e sua dissolução, pretende-se ex-planar a trama que se gerou nos corredores do poder, e que a Ordemdesconhecia de todo: por um lado, tomando os seus verdadeiros ini-migos por aliados, e, por outro lado, o modo como foram capturados ejulgados pelos seus presumíveis “amigos”. Em sequência, apresen-tam-se não só alguns poucos documentos das actas do processo de acu-sação, como também o processo de defesa que os templários intenta- 17Apeiron Edições |

Eduardo Amaranteram como resposta às confissões forçadas, revelando terem sido sujei-tos a tortura. Em relação aos meios de tortura utilizados, o leitor époupado às descrições mais violentas sem, no entanto, deixarmos deapontar as mais frequentes como forma de, por si, tomar consciêncianão só do modo bárbaro como eram feitas, mas também da razão porque muitos dos cavaleiros templários se viram obrigados a prestar fal-sas confissões, ao gosto dos seus carrascos, a fim de se libertarem des-se sofrimento. Apesar deste desfecho dramático que, com toda a certeza, nem osseus fundadores nem S. Bernardo contariam, o facto é que, depois dedissolvida e passados tantos anos, a Ordem do Templo pertence inde-levelmente ao imaginário colectivo da Europa, como uma marca pro-funda dos séculos XIl a XlV. Na segunda parte, sob o título O ardil visionário de D. Dinis: a ‘novaversão’ da Ordem do Templo, analisa-se a atitude e as acções tomadaspelo monarca português face às acusações e aos processos persecu-tórios a que a Ordem foi sujeita. É manifesto que, em Portugal, a suapresença perdurou por mais dois séculos. A perseguição e a dissolu-ção da Ordem, no século XIV, em alguns países da Europa, fez comque o nosso país beneficiasse da vinda de mais cavaleiros templáriospara o seu território, a fim de continuarem a missão civilizadora queantes haviam encetado. Anos mais tarde, através da Ordem de Cristo,sua herdeira na missão, operaram nas caravelas portuguesas sob opavilhão da Cruz de Cristo, (re)descobrindo terras, sendo que à maiorde todas elas deram o nome paradigmático de “VERA CRUZ”, ouseja, a Terra da Verdadeira Cruz, conhecida nos dias de hoje por Bra-sil. Somente em meados do século XVI é que vemos dissipar-se dopanorama político-social e religioso do país esta Ordem sem que, noentanto, não tivesse deixado de marcar profundamente o modus vi-vendi das suas gentes. Por fim, na terceira parte que tem por título Resquícios da sobrevi-vência da Ordem do Templo como sociedade secreta, faz-se uma análise domodo como a Ordem, desde o momento da sua dissolução oficial, foiparticularmente mantida em território português, fruto da acção domonarca D. Dinis, permitindo a continuidade da sua missão sob, en-tão, a bandeira da Ordem de Cristo. Só após o desaparecimento desta18 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3última, os seus membros tiveram de tomar a difícil decisão de seguirum dos dois caminhos: 1. emigrar (utilizando a terminologia actual), ou melhor dito, explorar e fixar-se nas terras já descobertas (distantes da in- fluência perniciosa do poder papal e do seu braço inquisi- torial), nomeadamente em Vera Cruz ou mesmo em terras do Oriente (travessia facilitada depois da viagem de Vasco da Gama), ou quiçá, África, em demanda do lendário reino cristão; 2. ficar em terras do continente europeu, onde exerceriam a sua actividade de forma clandestina no seio das socieda- des. É uma evidência encontrarmos testemunhos da presença templá-ria, particularmente do seu símbolo mais emblemático, a cruz, nosquatro cantos do mundo. Contudo, resulta complexo inferir, por faltade provas documentais, a sua presença efectiva e o contributo quepossam ter dado no desenvolvimento de algumas culturas mais atra-sadas. Parece que, neste aspecto, sumiram ou assim quiseram queacontecesse. Em relação ao segundo aspecto, parece ser mais fácil encontrar osseus vestígios em datas mais recentes. No entanto, é complexo saberao certo se existe alguma organização ou irmandade, de cariz secreto,das muitas que hoje proliferam e subjazem nas nossas sociedades actu-ais, que seja herdeira directa da então Ordem do Templo. É este umcampo bastante movediço e perigoso para qualquer estudioso da ma-téria, pois apesar da existência de vestígios templários em algumas des-tas sociedades, ditas secretas, não é certo que alguma delas tenha sido,de facto, depositária dos antigos conhecimentos tradicionais então naposse da Ordem do Templo. Pode mesmo ter acontecido que o planoprojectado, e o ideal nele subjacente, para erigir um novo mundo te-nham ficado, desde o século XVI, irremediavelmente perdidos para aactual humanidade. O que se guarda desses monges-guerreiros, queseguiam o lema “Nada para nós, Senhor, mas para glória do Teu nome”,reflecte bem o ideal por que lutavam. O que deles resta é a memóriados seus feitos… e o segredo que levaram com eles. 19Apeiron Edições |



1.ª ParteO PROCESSO PERSECUTÓRIO PARA A CONDENAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO E SUA DISSOLUÇÃO



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 3 CAPÍTULO I A ORDEM MONÁSTICO-MILITAR DO TEMPLO NO CONTEXTO MEDIEVAL EUROPEU Ao longo desta obra, composta por quatro volumes, dissemos queo conceito de uma Ordem ao mesmo tempo monástica e militar mo-dificou o espírito das Ordens cristãs e introduziu o imperativo de umaeficácia terrestre imediata. A Regra de S. Bento caminhava nesse sentido, pois exigia dos mon-ges um trabalho que lhes permitisse equilibrar a mente e o corpo demodo harmonioso (mente sã em corpo são). No entanto, vimos que aOrdem do Templo foi mais longe, visto exigir não só um trabalhoassociado à oração, como ainda uma função militar. A religião professada pelos cavaleiros templários não se reduzia aalcançar uma vida melhor no Além mediante a renúncia e o sacrifíciopelos outros, no sofrimento e na pobreza. Era, acima de tudo, umareligião do aqui e agora, uma religião activa que actuava para suprimira pobreza e a ignorância, e combater a opressão dos maus chefes:“Proteger os pobres, viúvas, órfãos e igrejas.” Jacques de Vitry, bispo de Acre em 1216 e grande amigo dos tem-plários, dizia-lhes na altura: “Sois cavaleiros em batalha e como monges nas vossas casas.” Esta dualidade reflecte-se na Regra templária que, na época, se dis-tinguia de qualquer outra. De facto, ela comporta “práticas religiosascombinadas com hábitos guerreiros, uma prescrição minuciosa, uma discipli-na estrita mas não excessiva, e sobretudo a preocupação de que tudo seja feitocom graça e de um modo digno da Casa do Templo.” 23Apeiron Edições |