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Amanhã Será o Hoje

Published by D'Almeida ©, 2017-07-05 23:18:21

Description: Editor: Edição de Autor * Autor: João Farelo © * Capa: D'Almeida Ateliê © * Paginação, arte final, impressão e acabamento: D'Almeida Ateliê

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AMANHÃSERÁ O HOJE JOÃO FARELO



Ficha técnica Título original “Amanhã Será o Hoje” Autor João Farelo Revisão de texto pelo Autor Capa Fotografia e Arranjo gráfico de Diva Almeida Concepção Gráfica Diva Almeida Impressão Atelier Gráfico artes gráficas & plásticasSetúbal | [email protected]ção, encadernação artesanal e acabamentos MJ Real Imo EditoraSetúbal | [email protected] ISBN: 972-8670-55-9 Edição do autor 2005



AMANHÃ SERÁ O HOJEJOÃO FARELO



PrefácioPoemas são janelas que se abrem aos olhos dequem as tenta entender. Porém, só o Poeta éque guarda a essência do momento, a razão dopensamento no gesto de as abrir;Nasce o Homem, nasce uma Vida feita simbioseentre o existir e o Ser. O tempo corre entrepatamares de sentires e o Homem molda-se,torna-se espaço e deixa entrar a eterna luz doconhecer;Sente que é feito de opostos e de vontades queé preciso dominar para ser uno num fio con-dutor tão constante que lhe permita sentir que“amanhã será o hoje”.Não é fácil, mas possível. M.ª José Almeida MJ Real Imo Editora



Gostava de ter mil e um livros para os poderdedicar aos mil e um amigos, mas…Como só tenho este, dedico-o à pessoa quepacientemente foi rasgando e guardando astoalhas de papel dos restaurantes, os guar-danapos e os muitos sítios onde escrevia…À minha filha Maria João



Nota do AutorA jeito de biografiaTenho sessenta e um anos de idade e cinquenta decomerciante. Sou o João “Farelo”.Entre peixes e pintos, sementes e pesticidas, flores epassarinhos, fui vivendo e aprendendo.Na verdade, os meus melhores mestres foram os cli-entes. Nestes cinquenta anos de balcão, nocontacto com tantos milhares de pessoas, foiinevitável absorver uma cultura tão diversa como aminha.No pouco tempo livre que me restava, de vez emquando saía-me um “desabafo” que passava para oprimeiro papel que encontrava, se o encontrasse, etantos se perderam!...Este livro é como eu… despretensioso. Não fiz qual-quer esforço para o escrever. Foi saindo aospoucos, como suor em dias quentes.São poemas que falam sobretudo de mim; dos meusmedos, das minhas esperanças, das minhas crençase da minha filosofia de vida.Enfim… um livro vulgar… como eu.



GÉNESE Inventei-me Assim mesmo Como sou !... Aos poucos, Modelei A minha mente !... Gizei ideais, Valores Que fossem lei E... lentamente, Fiz crescer Meu cerne !... Cavei fossos E metas Que nunca ultrapassei !... Cravei fundo Raízes Feitas querer !... Dei frutos Que me fizessem ser Para lá de mim !... Até agora... Inventei-me Assim !... 11

JURO COMPOSTOQuando eu nasciTambém me foi destinadaA governação;De algumas coisas...Sobre os meus ombrosTambém assentou o poder;Algum...Foi-me entregue o destinoDe certas pessoas,A responsabilidade de uma parteDo mundo;Nasceu também o solNesse dia,E mais uma sombraQue não existia,Mais um soproE uma alma,E um jugo pesado, Tudo me foi dado,Nesse dia antigo E o mais que há-de vir !...Tudo me foi dado; Mas alguém sofreuPoder de pensar As dores que eram minhas,E saber que penso, Carregando com a cruzCoração para amar, De um pecado antigo,E um grama de senso, P'ra me deixar livreO dom de sofrer De falhar sozinho,E ser desprezado, Deixando-me a luzUns olhos para ver, No fim do caminho.E ouvidos para ouvir, E um dia virá O Senhor das terras, Pedindo-me contas Do meu escudo de ouro, Que lhe hei-de dizer ?!... Se vou despendendo No meu dia a dia Todo o meu tesouro !... 12

ESPIRAL Cada vez mais, Vou-me enrolando para dentro, Criando uma quitina rija Que aguenta quase tudo. E quanto mais me enrolo E me concentro em mim, Mais me isolo. Sou o centro da tempestade. Enquanto tudo se agita à minha volta Se desmorona e ergue, Eu sou a paz A água calma; Calma em relação à minha volta, À tempestade maior, Porque de facto, Enquanto me enrolo para dentro Me isolo E me concentro em mim, Eu sou a tempestade ! 13

ECCE HOMO Homem,É aquele que se levanta Em cada vez que cai. E caindo outra vez, Se levanta de novo. E que depois de dar Tudo o que tem, Dá mais um pouco. E quando exangue, Exausto e quasi louco, Num esforço supremo, Ingente, enorme...Como se fosse um povo, Se levanta De novo. 14

RECEIOS Verde é a esperança que tenho em ti. Uma esperança toda feita de enlevo E de receios... De confiança E de receios... De ansiedade E de receios... De amor E de receios... Enfim !... De receios E de outras coisas !... Receio não poder estar perto de ti Quando tu precisares... E também Estar perto de ti Quando tu não precisas... Receio precisar de ti Quando tu não estiveres... Receio estares perto de mim Quando eu não precise... Mas, sobretudo... O meu maior receio é... Já não poder recear Quando tu precisares !... 15

HOMEOPATIASou o lugar comumA frase feitaO anormalNeste mundo de loucosSou o remédioFeito da maleitaQue morrendoSe vai curando aos poucos. 16

NATAL 84 Há um riso apressado Em toda a gente, Um embrulho de cor Em cada mão, Uma febre presente Uma ansiedade, Uma trégua na luta, Na maldade; Quase ausência de mal No coração !... A missa é uma tarefa, Presépio ?!... Obrigação; Bolas, sinos dourados, Pinheiros derrubados, Uns dias de ilusão !... Ninguém pára um momento A contemplar, Aquele que nasceu Há dois mil anos, E as cruzes em mil adros Abrem braços, Como a querer abraçar A humanidade, Inquieta e sem sentido Fugaz e quase-vã !... No dia 26 ?!... Outra manhã. 17

REIDescobri que há muitoQue sou rei,Numa vida de sonho,Onde o que quero é lei,Onde tenho o direito de pecar,De ser bom, de ser mau,De apontar e errar,De moldar a vontadeSem matar os sentidos,De fazer uma guerraSem mortos nem feridos,Porque sou rei e quero,Porque sou eu e posso,Porque a força que tenhoMaior que a dum colosso,É puro pensamento,É mar que não tem margem,É fogo que não morre,É rio que na voragemArrasta a sapiênciaDum tempo qu'inda corre,E a força controlada,Como bomba no nicho,Devora-se a si mesma,Derretendo ouro e lixo,E aquilo que amalgama,É tudo que há em mim,São pepitas e lamaDo meu veio sem fim;E vou vivendo, assim !... 18

O AFAGO E O COICE Sou como uma concha De várias camadas, Em vez de calcário De várias idades, Sou feito de gostos, Desgostos da vida, E as minhas verdades São coisa aprendida !... Sou feito de vento, Veloz e suave, Garras de veludo, Grito e canto de ave, Sou isto e aquilo, Saber e ignorância, Sou frio e calor, Fedor e fragrância, Sou a cruz de Cristo, A força e a carga, O homem que chega, O barco que larga, Sou riso e careta, Verdade e mentira, Sou morno e sou quente, Sou bombo e sou lira, Se acaso pudesse Escolher o que fosse, Seria o que sou, O afago e o coice. 19

SOCORROAi musasQuem me acodeQue me sintoTão cheioDe mil palavrasPor 'scolher,Que queriaTer um crivoQue as crivasse,E deixasse algoQue se pudesse ler.Mas a malhaÉ tão fina,Tão fininha,Que não deixa passarNem uma letra;E o que escrevo;É só palavra solta,Que a ninguém enche,Que em ninguém penetra.Por issoGrito às musasQuem me acode,Venham jáQue estou quaseQuase cheio,Retirem-me as palavrasVãs e ocas;Venham musasPonham-me à mostraO veio. 20

OURO DE LEI Penso mil vezes Aquilo que não digo. Digo mais vezes Aquilo que não penso. Mas quando penso, E digo, Nunca sai Coisa que valha, Coisa que tenha Senso. Ai !... Se eu pensasse, E não pensasse tanto !... Ai !... Se eu dissesse Só aquilo que sei, Seriam prata Os versos que hoje canto Seriam de outro Os versos que calei. 21

A LISTA Um dia pus-me a assentar O nome dos meus amigos, E só da lista telefónica Assentei vinte e dois mil, Mas era a lista do sul… E fui à lista do norte E ainda à lista do centro, Depois à classificada, Confesso, não aguento, Escrever tanta morada; Pelo Natal que passou Só postais mandei cem mil, Já meti escriturários, Não sei o que hei-de fazer, Já cheguei à conclusãoQue isto assim não pode ser; Gastei todo o meu dinheiro Em selos e em papel, E pensei que ao ficar pobre Os amigos fugiriam, E fiz então lista nova Para ver os que ficavam, Já eram cento e dez milE em cada hora aumentavam; Desisti… e hoje vivo Como quem vive no céu, Nem acredito que existaAlguém mais rico do que eu. 22

QUERIAS !…QUERIAS !… Só quero verdes campos, Primaveras, Onde o sol seja eterno, E as flores não feneçam. Prados rasos, sem montes Que me cansem o corpo, Lagos calmos de águas Cristalinas, cheias de peixes, Que sejam vermelhos, E aves, muitas aves, Que cruzem os céus Em voos sem sentido. Não haja despertar, Nem pôr-do-sol, Nem haja noite, Chuva, dor ou morte, Nem haja a luta eterna Pela vida, onde ganha O mais forte, Só quero verdes campos, Primaveras !… 23

ENTROPIAEu sei que pago caroEste conforto,Que aufiro dia a diaE que irradio,Sai-me do corpoO ouro gota a gota,Roubando-me o calor,Deixando o frio,Deixando-me o cansaçoEm troca da energia,Pedra filosofalQue me sustenta,Me dá este confortoDia a dia,Eu sei que ainda existoHoje e agora,Muito mais mau que ontem,E melhor que amanhã,E em cada momento vou-me emboraEu sei que sou um mini universoSujeito pela lei à entropia,Vivendo intensamente este momento,Morrendo pouco a poucoDia a dia !... 24

DEO GRATIAS Louvado seja Deus, Porque me deu as nozes... E... os dentes !... As aves E a lei da gravidade !... O mar, E não me deu as barbatanas !... A luz do sol, E as “cataratas” !... A lonjura, E um passo curto !... Os olhos e os ouvidos, A língua e o nariz, Os dedos, Os sentidos, Os cegos e os surdos, Os mudos e... os outros...!... Louvado seja, Porque me deu a vida !... O veneno, E a vontade de viver !... E muito... mais que tudo... A liberdade De escolher !... 25

EUSou o grito da vitóriaSou lamento do vencidoSou a derrota e a glóriaSou amado e sou temidoSou o ferro e sou o ouroSou o santo e o pecadorSou a vida e a agoniaSou a esperança e sou a dorSou o primeiro e o últimoSou o tudo e sou o nadaSou o bruxo e sou a fadaSou o pai e sou o filhoSou a semente e o frutoSou o caule, sou a folhaSou dividendo e produtoSou a carga e o carregadorSou escravo e sou senhorSou a verdade e o mitoSou o grito, sou o grito !... 26

AOS MEUSQUERIDOS FILHOS Tenho três filhos Que são três cadilhos, Pendurados no xaile Desta vida, Xaile que é manto Que nos cobre a todos, Que mantém Esta família unida. São três tesouros, Três ametistas raras, Como três coroas Pontas de tiaras, Cada um feito Com tantos desvelos, Que é um bem senti-los, Que é um gosto vê-los. E são lindos, lindos, De uma perfeição Que nos faz pensar; Mas que anjos darão !… E são meus, são meus, São minha riqueza, Um pouco de mim, Minha chama acesa; E quando chegar, Decerto o meu fim, Vão continuar A ser eu, por mim !... 27

CANCRO Lágrimas que não correm Abrilhantam-me os olhos; Pelas veias Corre-me o sangue em borbotões, E o pensamento, Inexplicavelmente, É mais célere Que o meu entendimento !... Uma emoção estranhaBorbulha em qualquer sítio de mim !... Afastando camadas de comodismo De hábitos antigos, Para... nascer !... Uma ânsia mais que física, Uma insatisfação do intelecto, Uma revolta absurda, Destrói-me lentamente !... 28

CONCEITOS Tantas horas usadas Que agora sei Perdidas Tanta verdade imposta Que agora sei Mentiras Tanto custo a crescer E tão incerta a vida Tanta coisa a aprender Tanta coisa esquecida Tanto ódio rotulado Tanta palavra ambígua Tanta imagem trucada Que mostramos aos outros Tantas coisas no mundo Para serem mudadas Tantas horas perdidas Que agora sei Usadas. 29

A CRUZO meu crucifixoJá não tem arestas,Nem portas estreitasPor onde um camelo !...Nem cravos...Nem Cristo !...Nem uma argolinhaAonde prendê-lo !...O meu crucifixoJá não tem arestas,Nem vértices duros,Nem bicos,Nem frestas !...São só dois pauzinhosCruzados “em cruz”...Só falta Jesus... 30

LOBOTOMIA?!... Vou arranjar outro Deus Que não me exija demais, Ou um cérebro idiota Que não pense todo o dia, Ou um botão que o desligue Quando vem esta agonia De saber que este teatro Tem sempre as portas abertas Vinte e quatro horas por dia !... Se fosse parvo de todo Que feliz me sentiria !... Deve haver outra maneira... Talvez a lobotomia ?!... 31

ESPERANÇALá longeMuito longe...Onde começa tudoHá uma esperançaQue me espera;Um marFinalmente chão;Uma praiaLivre de escolhos;Uma mulher que não se cansaE que sempre espera por mim;Ou a última página,A das soluções;Ou a errata da minha vida;Ou outro raio de outra coisaQue não sei o que é,Porque não a tenho... ainda,Mas... quem sabe ?!...Lá longe ou mais além... 32

VIDA Navegando Neste mar de medos, Uma promessa Me serve de farol; Uma esperança Me sustenta, Me anima E me dá coragem !... Ressuscitarei. Flutuo... Sem dominar, Nem ventos, Nem correntes; A minha rota Está ao sabor das marés; Já nem a morte temo !... Ressuscitarei !. 33

DA MINHA VARANDAO rio é pouco mais azul que o céu,A lamber a cidade enorme e quieta,As nuvens são castelos ambulantesEm busca de distante e ignota meta,Ao longe, o infinito é só um traço,Por trás da estranha Tróia de cimento,Ruas de asfalto, torres de vidro e aço,Só o mar é o mesmo, imenso e lento,Ao lado vê-se a serra a emoldurarEste quadro - cidade - entardecer,E os guindastes do cais parecem armasDefendendo esta paz de enternecer;Vê-se assim a cidade, de onde vivo,Com olhos de poeta sonhador,Tudo é beleza aos olhos de quem sonha,Até o grito é canto, até o negro é cor. 34

CADA VEZ MAIS… O SILÊNCIO…A CONTEMPLAÇÃO… Como se fosses, Amor, A madrugada, Ainda fria Da noite que morreu !… Quero sentir o cheiro Do teu corpo, E respirar-te, Como se fosses eu !… Deixa que em ti descanse, E que me aqueça, Pois tenho um frio terrível Nos sentidos !… Perdoa-me o silêncio, E a quietude, Pois tenho a incerteza Dos perdidos !… 35

MOMENTOSMorrendo aos poucosVivo em cada horaMomentos de alegriasE de penas,E arrasto os diasQue correm velozes,No querer viver e serMais e melhor.Sem parar um momentoP'ra pensar,Na ânsia loucaDe ser sempre jovem,Vivo esta vida,Que não quero viver.E sou assimComo me deixam ser. 36

O RIO Já não sei se sou só eu Ou se somos todos nós Que vivemos neste charco De águas quase semi mortas; Eu sei que apenas flutuo Com medo de esbracejar Apenas ondulo o corpo Num suave movimento Que me mantém a boiar Arrastado na corrente Que faz o vento do leste, Preguiçoso e quase aragem, Que me empurra não para a margem, Mas cada vez mais para sul; E os meus olhos tão cansados Já não sabem se é miragem A sombra que vejo ao longe E que me parece a foz; Já não sei se vou sozinho Ou se vamos todos nós !... Mas sei que vou a jusante Da nascente onde parti, Já acredito que o charco Onde pensava viver É afinal um riacho Que corre direito ao mar; Apesar de estar cansado E ver o fim com temor, Não me empurrem, Por favor... 37

HOMEM DO TRAÇO RASGADOQue tens como teu fadoTracejarTraceja entãoTraceja sem pararPois se tracejas com traço rasgadoO teu traço é mais firmeE ao teu ladoEu quero rever-meNesse traço sem destinoSendo apenas um pontoDe partidaSendo um traço que parteAo desatinoSendo um rasgoAté ao fimDa vida !... 38

POR AQUI VOU Por aqui vou Por ali não Vou pela estrada Que não tem chão Por ali não Por aqui vou Sou peregrino Sou como sou E se quisesse Ser como o vento Ia às estrelas Em pensamento Ai como queria Ter uma meta Ai como eu queria Não ter escolha Ser assim como Os outros são Mas tenho a sina Da decisão Nos cruzamentos Lá vem a lei Por aqui vou Por ali não 39





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