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Templários - De Milícia Cristã a Sociedade Secreta - Vol 2 (excerto)

Published by D'Almeida ©, 2017-07-01 05:56:37

Description: Editor: Apeiron Edições © * Autor: Eduardo Amarante © * Capa: Gabriela Marques da Costa © * Tipografia de capa: D'Almeida Ateliê * Paginação e arte final: D'Almeida Ateliê

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Colecção Mandala VOLUME 2A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu

TítuloTemplários – de Milícia Cristã a Sociedade SecretaVol. 2: A Génese de Portugal no Plano Peninsular e EuropeuAutorEduardo AmaranteCoordenação e revisãoDulce Leal AbaladaRevisãoIsabel NunesGrafismo, Paginação e Arte finalDiv'Almeida Atelier Gráficowww.divalmeida.comIlustração e Técnica da capaGabriela Marques da CostaArte Digital / Assemblage DigitalTemplários ajudam D. Afonso Henriques a criar Portu-Cale - 2011gabriela.marques.costa@gmail.comwww.gabrielamarquescosta.wordpress.comwww.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538+351 915960299Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.ptDistribuiçãoCESODILIVROSGrupo Coimbra Editora, [email protected]ª edição – Fevereiro 2011ISBN 978-989-8447-07-4Depósito Legal nº 321688/11©Apeiron EdiçõesReservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, porqualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográficosem a prévia autorização do editor.Projecto Apeiron, Lda.www.projectoapeiron.blogspot.comapeiron.edicoes@gmail.comPortimão - Algarve

Eduardo Amarante VOLUME 2A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu apeiron edições



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2SIMBOLISMO DA ILUSTRAÇÃO IMAGEM TEMPLÁRIOS, 2 Gabriela Marques da Costa (a pintora) Nesta obra, um dos meus objectivos pri- mordiais era dar uma sequência de cor e grafismo para que o observador pudesse identificar a imagem do segundo volume como sequência do primeiro. Assim con- tinuei a utilizar o fundo da mesma cor, um bordeaux acastanhado e o céu estrelado em nuances de luz expandida, como que se fos- se um foco divino a iluminar a personagem principal - Os Templários. A escolha da cor para o fundo repre- senta o sólido das ideias vincadas, a segu- rança relativamente à sua Fé e ao mesmoPintura de Gabriela Marques da Costa tempo a calma dos seus princípios. As nuan- Capa e Contracapa ces expandidas das estrelas são como que uma bússola guiando-os, pois os Templários foram sempre homens que palmilharam ter- ras sem fim. As estrelas que aqui são apre- sentadas, apesar de estarem expandidas, re- presentam a verdade, o espírito e a espe- rança. Estes três elementos, tal como outros nobres sentimentos, estavam sempre no objectivo destes homens. A Cruz Templária aqui patente já não é mais aquela Cruz vermelha simples, mas sim a Cruz vermelha redonda, pois nesta obra, para além de simbolizar o passar do tempo nesta Ordem significa também que estes evoluíram e burilaram o espírito be- névolo.Um dos elementos que salta logo ao olhar do observador é o Cálice. OGraal era aquele que esta Ordem protegia e guardava. O Graal aparece aquicom toda a sua carga simbólica, tendo servido de cálice na última ceia 7Apeiron Edições |

Eduardo Amaranteimaculada, e principalmente, não podemos esquecer o místico sangue deCristo que aqui foi derramado, como reservatório sacro. Contudo, para mimtoda esta carga simbólica tão forte e importante teria de ter um pouco maisde orgulho patriótico, já que foram os “pobres soldados de Cristo do Tem-plo de Salomão” a ajudar D. Afonso Henriques a fundar “Portu-cale”... As-sim representei o selo de D. Afonso Henriques no Graal... pois há quemafirme que o nome do nosso País deve-se às palavras - Porto Graal - que paramim simbolizam o território escolhido pelos Templários para guardar oSanto Graal. Ora, na sequência desta explicação aparece em primeiro plano, do ladoesquerdo, D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal em atitude debra-vura e combate contra os “infiéis muçulmanos”. Os Templários prece-dem-no na imagem, simbolizando o suporte a D. Afonso Henriques nas suasbatalhas e conquistas, ajudando assim a formar este condado de Portu-cale.Estes aparecem em aglomerado, simbolizando um pequeno batalhão deguerra, guardando as Terras Nacionais. Atrás dos Templários encontra-se o Selo Templário, apenas com a suaborda circular, dando assim ao leitor uma sequência e identificação daimagem com a do volume 1. Do lado direito à frente, temos um outro primeiro plano em paralelocom o de D. Afonso Henriques, em que o Mosteiro de Alcobaça se faz sali-entar com a imagem de Bernardo de Claraval. A imagem deste monge cis-terciense não está aqui por acaso, pois para além de ter sido o grande im-pulsionador para a existência da Ordem do Templo, representa também asua vinda a Portugal pouco antes da sua morte, para lançar a primeira pedradeste Convento Cisterciense, tendo as terras sido doadas por D. AfonsoHenriques. Isto simbolicamente está representado na imagem, pois tanto oConvento como D. Afonso Henriques estão lado a lado em primeiro plano. Falando da contracapa, esta segue também uma linha muito semelhanteà contracapa do volume 1, aparecendo elementos novos simbolizando a evo-lução da Península Ibérica. Do lado esquerdo do Templário que detém a nova Cruz Templária noseu peito, encontra-se uma imagem ténue de monges cistercienses a cultivaras terras. Isto simboliza a agricultura implementada por estes nos seus Mos-teiros e na população. Logo abaixo do Selo Templário, símbolo que os representava, encontra--se um conjunto de pequenas imagens em sequência representando a linha8 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2do tempo na Península Ibérica. Assim, da esquerda para a direita, tal qual alinha do tempo, temos representado o Jardim das Hespérides - local desi-gnado pela mitologia grega como sendo uma terra mítica e muito fértil. Emseguida, a imagem que nos aparece é referente às explorações feitas pelosFenícios, Cartagineses e Gregos às nossas terras. A imagem de Viriato apa-rece logo de seguida como pacificador e lutador justo pela sua Lusitânia, emdisputa com o Império Romano. A imagem do Senado de Roma bem como ade Júlio César e Viriato simbolizam a traição deste contra Viriato... Contudoséculos mais tarde os Templários ajudaram D. Afonso Henriques a con-quistar Portu-cale, a nossa antiga Lusitânia que Viriato tanto ansiou... 9Apeiron Edições |



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2ÍNDICEINTRODUÇÃO 191ª Parte – A LUSITÂNIA NO CONTEXTO IBÉRICO 25 25CAPÍTULO I 28VESTÍGIOS PRIMÁRIOS DA CULTURA PORTUGUESA 291. O contexto estratégico da Península pré e proto-histórica: 32 Atlântida e Lusitânia 362. A cultura megalítica: antecedentes “históricos” da raça 37 38 lusitana 39 2.1. Pequenos apontamentos sobre o lendário povo de 42 43 Tartessos 453. O enigmático alfabeto ibérico 48CAPÍTULO II 51O PRIMEIRO MOSAICO DE POVOS DA PENÍNSULA 52OCIDENTAL 53 a) Os lígures b) Os iberos c) Os fenícios d) Os gregos e) Os celtas f) Os cartaginesesCAPÍTULO IIIPANORÂMICA GERAL DOS POVOS DA LUSITÂNIAPROTO-HISTÓRICA1. Os grupos étnicos2. Os caracteres etnogénicos 2.1. Os lusitanos 11Apeiron Edições |

Eduardo AmaranteCAPÍTULO IV 56O PODERIO DE ROMA E A RESISTÊNCIA DOS POVOS DO 57OCIDENTE PENINSULAR 601. A resistência lusitana 612. Viriato: dois homens, dois destinos 64 67 2.1. A face heróica da resistência lusitana 2.2. Testemunhos históricos da resistência heróica de Viriato 713. A resistência lusitana sobrevive com Sertório4. Pequenas bolsas de resistência e o estratagema romano para 74 a subjugação definitiva dos povos peninsulares 78 81CAPÍTULO VDA LUSITÂNIA PRÉ-ROMANA À PROVÍNCIA ROMANA 82DA LUSITÂNIA – SUA GRADUAL DESAGREGAÇÃO: 86a romanização 871. A nova delimitação geográfica da Lusitânia 892. Os limites da Lusitânia segundo fontes historiográficas3. As principais estradas romanas na Hispânia e, em particular, 90 92 as suas vias “secundárias” na Lusitânia 94 3.1. Características das vias romanas4. O gradual e lento processo da romanização 97 4.1. O incremento económico da Hispânia 97 4.2. Administração e organização social e política do poder: das citânias e das villae aos municípios5. A influência do cristianismo na Lusitânia6. As consequências da desagregação do Império Romano2ª Parte – AS ORIGENS HISTÓRICAS DO REINODE PORTUGALCAPÍTULO INOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A HISTÓRIADOS GODOS1. Os ostrogodos e os visigodos. Relatos das suas origens12 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 22. A organização hierárquica 100 2.1. A linhagem real: a sucessão 101 2.2. Religião e Magia 102 a) Mitos e símbolos primordiais. A água 103CAPÍTULO II 105A CONQUISTA DO IMPÉRIO ROMANO PELOS“BÁRBAROS” 113 113CAPÍTULO III 115A TEIA POLÍTICO-RELIGIOSA NO TRIUNFO DO 119CATOLICISMO EM ROMA1. A conversão dos godos e o concílio de Niceia 122 122 1.1. Mitra e Jesus, o pólo da discórdia 1.2. Mitraísmo e Cristianismo, a “Religião Mistérica” e a 128 128 “Religião Messiânica” 130 133CAPÍTULO IV 134A INVASÃO DOS POVOS BÁRBAROS NA 135PENÍNSULA IBÉRICA 1401. Antecedentes históricos 143CAPÍTULO VOS REINOS VISIGÓTICO E SUÉVICO NO OCIDENTE.O CONTEXTO ESTRATÉGICO DA RELIGIÃO NAPENÍNSULA IBÉRICA1. Prisciliano e Priscilianismo 1.1. Os concílios peninsulares. A heresia prisciliana e suas acusações2. Notas introdutórias sobre o movimento monástico3. Tomar, signo do passado, semente do futuro4. A disputa religiosa e a estratégia política para a unificação da Península: arianismo versus catolicismo5. A opção trágica do reino dos suevos na Península6. Consequências da disputa político-militar na Península13Apeiron Edições |

Eduardo Amarante7. A cultura clássico-cristã na Hispânia 1458. O actual território português na época dos dois reinos. Os 146 primórdios do reino de Portucale 148 149CAPÍTULO VI 151DOS POVOS BÁRBAROS AO IMPÉRIO MUÇULMANONA PENÍNSULA 1541. Os muçulmanos e o Islão 1542. A coexistência entre muçulmanos e cristãos 155 157CAPÍTULO VIIA RECONQUISTA CRISTÃ. O REINO DAS 170ASTÚRIAS-OVIEDO 1711. Pelágio, o nome da resistência 1722. Afonso I, o político da organização do reino das Astúrias 1753. Breves apontamentos sobre os sucessores de Afonso I e a 177 gradual solidificação da monarquia cristã 181 186CAPÍTULO VIIIO FEUDALISMO, NOVO “SISTEMA” DE ORGANIZAÇÃOPOLÍTICO-SOCIAL1. O senhor feudal e a sua relação com a Igreja e os bispos2. A Ordem de Cluny e a institucionalização do poder eclesiástico3. Indícios da desagregação do poder feudalCAPÍTULO IXPORTUCALE, TERRA PORTUCALENSE, CONDADOPORTUCALENSE. OS PRIMÓRDIOS DA ANUNCIADAINDEPENDÊNCIA1. Mumadona na origem da formação do Condado Portucalense. Fontes históricas2. Os sucessores de Mumadona em terras portucalenses14 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2CAPÍTULO X 189FUNDAÇÃO E FORMAÇÃO DO CONDADO 191PORTUCALENSE 1921. A situação política na Hispânia nos finais do século XI. A 194 196 influência “francesa”2. O monaquismo e a importância da Ordem de Cluny. Usos 199 200 monásticos em Portucale e Coimbra no século XI3. A linhagem do conde D. Henrique e de D. Raimundo. 205 205 Relação com Hugo de Cluny 212Conclusão 2153ª Parte – A AFIRMAÇÃO DE PORTUGAL COMO NAÇÃO 221 227CAPÍTULO PRELIMINAR 234RESENHA HISTÓRICA SOBRE O MOSAICO DE POVOS 239EXISTENTES NA PENÍNSULA NO SÉCULO X1. O ano 1000, ano de viragemCAPÍTULO IA POLÍTICA INDEPENDENTISTA DO CONDADOPORTUCALENSE1. D. Raimundo e D. Henrique2. D. Teresa e o destino do Condado. D. Afonso Henriques3. A política dos barões portucalenses. D. Afonso Henriques e os primeiros passos para a formação de PortugalCAPÍTULO IIO PROCESSO DA FORMAÇÃO E INDEPENDÊNCIADE PORTUGAL1. A emblemática batalha de Ourique. De milagre a primeiro mito de Portugal2. Os primeiros passos para a independência3. Os limites geográficos do reino e sua população15Apeiron Edições |

Eduardo Amarante4. A expansão do território. A conquista de Santarém 241 e de Lisboa 2445. A posição estratégica de Tomar e a Ordem do Templo. Gualdim Pais 250 2526. A política colonizadora e administrativa de D. Afonso 255 Henriques 2577. A génese de Portugal 2578. As Ordens militares em Portugal 261 264CAPÍTULO III 266O PAPEL DAS ORDENS MONÁSTICAS NA FORMAÇÃODE PORTUGAL 2671. O declínio da regra beneditina2. Da reforma cisterciense à fundação da Ordem de Cister 2683. A Ordem de Cister em Portugal 2714. A política real e os cistercienses 274 4.1. A fundação do mosteiro de Alcobaça. S. Bernardo e D. 275 Afonso Henriques 277 284 4.2. A carta de doação dos coutos de Alcobaça. O mosteiro e 286 sua importância para o desenvolvimento e afirmação de 288 um país 291 293 4.3. O povoamento do território português 297CAPÍTULO IVA ORDEM DO TEMPLO NA FUNDAÇÃO E AFIRMAÇÃODE PORTUGAL1. Origem da cavalaria em território português2. Os inícios da Milícia de Cristo em terras portucalenses3. As terras doadas pelos monarcas à Ordem do Templo4. A arquitectura templária5. O castelo de Tomar e a sua charola 5.1. Tomar e o “tesouro” dos templáriosConclusãoBIBLIOGRAFIA16 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2 “Despontava triste e ameaçador o século VIII para a Cristandade. No Oriente a Pérsia, a Síria, o Egipto, a Índia eram presa dos aguerridos soldados de Maomé. (…) “Hugo des Payens, não tardou, senão antes, a espalhar-se pelos diversos reinos daEuropa, principalmente naqueles, onde a necessidade de defesa dos inimigos da fé de Cristo, era imperiosa, como acontecia às nações peninsulares.Portugal, nascido por essa ocasião dum condado leonês e dum incessante conquistar aos sarracenos, no vacilar da meninice, precisava mais do que outra nação dessesvalorosos soldados para que na desmedida valentia das suas armas e na grandeza da fé ardente dos seus nobres peitos tivesse amparo para seus trémulos passos.Cristão e conquistado palmo a palmo aos muslins, obrigara os seus primeiros reis a convidarem essa milícia a ter aqui uma província. De certo, melhor campo para dar cumprimento ao seu voto – guerra aos infiéis e dilatação do nome de Cristo – não o encontravam melhor e nem mesmo em tão boas condições. Escusavam de ir por essas longínquas terras ao local onde Jesus padeceu, para ganharem o céu e seguirem à risca o preceito da época: cruzarem-se.Aqui, no belo solo peninsular, tinham formosas cidades, fortes castelos, povoações a convencer e dilatados terrenos que durante séculos tinham sido pisados pelos maometanos, inimigos da mesma crença, enfim todos os requisitos para que esta faixa de terra lhes servisse de teatro às suas façanhas gloriosas e vasto campo às provas da sua incontestável lealdade. Além desse vasto elemento de conquista, tinha a mais o guerreiro português o sagrado solo da terra, em que nasceu, a picar-lhe o amor da independência e a protecção dos seus a afiar-lhe o cortante gume das reluzentes espadas que pouco tempo tinham de descansar nas suas pendentes bainhas. (In Vieira Guimarães, Ordem de Cristo, Empreza Historia de Portugal, Lx.1901). 17Apeiron Edições |



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2 INTRODUÇÃO Falar dos templários e relacioná-los com uma temática tão ances-tral como aquela que proponho abordar, poderá parece um tanto ouquanto descabido de sentido. Porém, o conhecimento da História, talcomo hoje a entendemos, é construído pelos sucessivos factos quecompõem a estrutura orgânica de um povo, de uma nação. Neste con-texto, optei por dividir este volume em três partes. • A primeira, sob o título “A Lusitânia no contexto Ibérico”, traz àluz do dia esses míticos povos e civilizações que, tendo já desaparecidonas brumas do tempo, constituíram, pela importância que tiveram, ofundamento do longo e demorado processo histórico que hoje vive-mos. Falar, pois, da Atlântida, da Lusitânia ou mesmo da quase des-conhecida Tartessos é recuar a uma idade muito antiga, quase perdidana memória dos homens – e os relatos que as referenciam são obs-curos e, por isso, motivo de controvérsia. As fontes de autores clássicos referidas nesta obra são o principalsuporte de análise, cuja temática versa sobre as raízes étnicas e geo-gráficas do povo que originou o Portugal da actualidade. Podemosquestionar até que ponto o povo lusitano, cujo passado remoto as-cende às antigas civilizações desaparecidas, tem relação com o Portu-gal independente, descobridor e europeu. Aparentemente não tem ne-nhuma, se pensarmos como Alexandre Herculano, que afirma que opovo português não descende dos lusitanos; mas, se concordarmoscom a maioria dos historiadores, que afirmam que somos os legítimosherdeiros dos antigos lusitanos, então compreenderemos melhor onosso modus vivendi na aventura e na procura de um mundo de sonho,de um ideal por cumprir. Neste sentido, passado e futuro interligam--se para uma maior consciência da nossa própria identidade. Concor-do com uma frase que, a este propósito, J. Leite de Vasconcelos escre-veu: “Quanto mais intenso for o conhecimento da História, tanto mais firmeserá a consciência da nacionalidade”. Ou seja, o conhecimento de nós pró-prios, como povo, é proporcional ao conhecimento que temos das nos-sas origens. Assim, a consciência da nacionalidade é tanto mais fortequanto o nosso empenho em descobrir e conhecer as nossas raízes an-cestrais; 19Apeiron Edições |

Eduardo Amarante • A segunda, sob o nome “As Origens Históricas do Reino de Por-tugal”, constitui o corpo doutrinário deste volume, pois faz a ligaçãoentre um passado de amálgama de povos sem uma identidade própriae um futuro desenhado de ambições definidas; ou seja, na roda daHistória, o passado e o futuro fecham o círculo da identidade de umanação, cujo presente, ponto de charneira, é o garante das aspirações deunião, das realizações de causas e sonhos para o nascimento de umfuturo reino independente. Nestes termos, todos os factos históricos efenómenos aí ocorridos nada mais são do que etapas ou períodos queconformam a história de um povo e de um país. Um dos temas centrais desta segunda parte é a abordagem doprocesso de pré-formação de Portugal. E abordá-lo no contexto daOrdem do Templo é, em primeiro lugar, o mesmo que falar, não ape-nas das raízes míticas, mas também das religiosas e sociopolíticas, quecontribuíram para o desenvolvimento do que o português é nos diasde hoje: como pensa, como sonha e como age; e, em segundo lugar, omesmo que estudar e analisar, para compreender, o caldo de ideias e omodus vivendi das suas gentes que, ao longo de milénios, evoluíram nosentido de propiciar as condições ideais para que reis, por um lado, eordens monástico-militares, por outro, pudessem operar eficazmenteno seu solo. Todo este processo tinha em vista a realização do míticoprojecto de uma nova Idade de Ouro (obedecendo à Lei cósmica dosciclos da Natureza que tão bem conheciam) encarnada, naquele mo-mento histórico, pelos templários no plano global do mito do QuintoImpério. Missão essa que correspondia, em termos práticos, à implan-tação de um império universal inspirado nos mais elevados valoresespirituais do homem, modelo do homem novo renascido das cinzasda matéria – depois de purificado pelo poder do fogo – à semelhançado mito da Fénix. • Por fim, a terceira, sob o título “A Afirmação de Portugal comoNação”, transporta-nos para os primórdios da nacionalidade, numaépoca como que mítica (se ainda a podemos definir desse modo), emque a vontade, a audácia e o valor caminhavam lado a lado na lutapela conquista territorial com o objectivo autonómico, em primeiroplano, e independentista como pano de fundo; uma nação que, aolongo de vários séculos, teve diferentes denominações: começou porser Lusitânia e fez-se, mais tarde, Portugal, graças a um punhado de20 | Apeiron Edições

Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2barões portucalenses que nunca perderam de vista alcançar a tão so-nhada independência. Nos seus intentos não estiveram sós. Vários fo-ram os vectores que concorreram para a sua concretização. A conjun-tura político-religiosa que se vivia na época contribuiu sobremaneirapara que as gentes do rectângulo peninsular mais ocidental da Europaaproveitassem os bons ventos para daí tirar dividendos. Contudo, um outro aspecto não menos importante em todo estemovimento autonómico e, numa fase posterior, independentista, foi avinda de cruzados (alguns deles cavaleiros templários) para as terrashispânicas. Entre eles destaca-se D. Henrique que, correspondendoaos anseios dos barões portucalenses, intentou gradualmente separar--se da tutela de Leão e Castela. No entanto, foi seu filho, D. AfonsoHenriques, o primeiro monarca português, que, com o apoio de cru-zados ou, melhor dito, da Ordem do Templo, conseguiu levar a bomtermo tal empresa. A Ordem Templária ainda tinha poucos anos de existência quan-do, já em 1126, D. Teresa (rainha regente, após a morte de seu marido,D. Henrique) lhe doou terras e castelos. Ou seja, menos de uma dé-cada após a sua fundação, encontramos cavaleiros templários em ter-ras hispânicas a combater ao lado de D. Afonso Henriques e dos ba-rões portucalenses contra o inimigo da fé cristã. À medida que conse-guiam vitórias, mais território conquistavam e também mais poder aOrdem do Templo obtinha no contexto europeu, pois quer os Reisquer a Santa Sé, face a este quadro, não lhe regateavam benesses. Concluindo, a fundação de Portugal deveu-se muito à Ordem doTemplo e, sobretudo, a S. Bernardo, seu mentor que, situado em terrasde Claraval, não deixava de orientar política e espiritualmente os tem-plários, que lutavam pela fé cristã. Desse modo, Portugal, emergindocomo nação, tornou-se um objectivo primordial no quadro de uma no-va Europa que pretendiam construir – longe das querelas que a mina-vam por dentro –, com gente valorosa que pudesse servir os intentosdo monge cisterciense. Um país que, por sinal, estava na região maisocidental da Europa (e olhava o oceano imenso), um mundo por des-bravar e propício a contactos e intercâmbios com outras culturas. Eraessa, no imediato, a missão a realizar no plano europeu e, nestes ter-mos, veremos que Portugal não nasceu por obra do acaso. 21Apeiron Edições |



Rio Douro LUSITANIA Rio Tejo Rio Guadiana 1.ª ParteA LUSITÂNIA NO CONTEXTO IBÉRICO



Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta, Vol. 2 CAPÍTULO I VESTÍGIOS PRIMÁRIOS DA CULTURA PORTUGUESA Sob a designação de Península Ibérica entende-se o território situa-do aquém dos Pirenéus, no extremo ocidental da Europa. Este vastoterritório foi berço de inúmeras culturas desde, pelo menos, a proto--história. Este período caracteriza-se por situar-se entre a pré-história,da qual só temos notícia pelos inúmeros monumentos arqueológicosou por referências e tradições clássicas de antigos escritores (muitasdelas obscuras e escassas), e a época histórica. Apesar de não ser pos-sível classificar cronologicamente o início de uma e o fim de outra (poresses limites cronológicos variarem de país para país e mesmo entre ospovos peninsulares), podemos dizer que a idade proto-histórica termi-na com a entrada dos romanos na Península (por volta do século IIIa.C.) iniciando-se, assim, o período histórico caracterizado pelo conhe-cimento dos factos através das fontes escritas. 1. O contexto estratégico da Península pré e proto-histórica: Atlântida e Lusitânia Alguns investigadores, apoiados nas ciências actuais e nas fontesdos autores antigos, na sua maioria romanos, têm feito importantesestudos sobre os povos ibéricos. Não obstante, se bem que não abun-dem os dados sobre a Lusitânia, esta tem sido quase sempre tratadano contexto algo genérico de “povos de Espanha”. São raras ou inexis-tentes as obras que versam com alguma profundidade sobre a Lusitâ-nia como fenómeno particular de entre os povos ibéricos. Pensamosque esta lacuna parece ser demasiado grave para não se tentar pôr umfim a ela. E isto por várias razões, das quais expomos aquelas que serevelam como sendo as mais significativas: 25Apeiron Edições |


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