Antonieta VilhenaHistórias Vividastecidas de mor
Título Original:“Histórias vividas tecidas de Amor” Autora: Antonieta Vilhena Capa: Diva Almeida Ilustração: Diva Almeida (baseada em fotos da autora) Execução gráfica: Atelier Gráfico, Setúbal www.ateliergrafico.com.pt Encadernação e acabamentos: MJ Real Imo www.mjrealimo.info 2007
Antonieta VilhenaHistórias Vividastecidas de mor
Os álbuns dos meus netos foram vida comsangue a correr, nas minhas veias cansadas. Em cada um está o meu amor, o meu tem-po, a minha alegria de viver. São álbuns de histórias das vidas que euamo em cada minuto, das melhores horas dasua infância, correndo no tempo, das suas gar-galhadas, do seu choro, dos seus encontros, dosseus dias de festa, do infantário, da Escola, dosrecreios, da praia, das festas escolares. Foi muito bom ter podido fazê-los e relê-losa cada instante, enchendo as minhas horas desolidão, com tanta alegria. Avó Eta
Concebida pelo mistério da vida, na alegria, no amor ena verdade, num gesto feito luz, entras no mundo, envol-vida em simples sorrisos de paz, tecidos de rosas brancas. Foi Deus que te deu a vida, te guardou dias sem fimnum calor d'estrelas feito. Foi berço d'ouro o teu ventre,mulher chamada de mãe, onde o mistério foi verdade. Esperamos-te com muita ansiedade e muito amor. _19.10.96 Hoje tivemos uma grande alegria pois vimos uma fo-tografia tua, ainda na barriguinha da mamã. Ainda muito pequenina ou pequenino, muito frágil, masjá a verem-se os bracinhos e as perninhas. O teu pai dizia que ouvia o teu coraçãozinho e diziaisso com muita alegria. A tua irmã Joana vive com muita felicidade toda estahistória e só queria mexer na ecografia como se pudessejá mexer em ti, com todo o seu carinho. _6.12.96 Hoje fomos buscar-te a Alvalade Sado, à Escola onde atua mamã dá aulas. Ela vai de carro e tem de percorrer 217 km por dia. Émuito violento, mas ela vai sempre sorrindo, porque levao seu bebé muito escondidinho, dentro da barriguinha de-la. _13.01.96 Hoje a mamã foi ao médico e tirou uma fotografia aoseu bebé e todos ficámos a saber que é uma menina. Estamos desejosos que a menina saia cá para fora, pa-ra lhe darmos muitos beijinhos. _23.02.97 Já estás muito grande, ainda escondidinha na tua ma-mã. A Rita quis tocar na barriguinha, casinha do faz de con-ta, onde tu estás guardada e deste-lhe um grande pontapéna mão. Nós rimo-nos muito. 9
_17.03.97 Viram as tuas mãozinhas, os teus pezinhos e a tua ca-rinha na nova ecografia e todos ficaram felizes. A Joana quer que te chames Teresa. A tua avó Arlete ficou muito feliz por ir ter outra ne-tinha, pois gosta muito de meninas. O avô Amílcar estava encantado. _18.05.97 Eis que chega o grande dia e dia muito grande mesmo,pois a tua mãe esteve à espera que tu nascesses, desdemanhã cedo, até quase à noitinha. Foi tão lindo ver-te mesmo de fugida e contemplar oteu rostozinho bonito! Um fio de vida Num raio de luz Tão escondidinha Em berço d'ouro. Num grito só Sais para o mundo. Bendita sejas Teresa menina Doce mistério Sagrada hora Da tua entrada Na nossa vida Hora tão mágica Cheia de sons De luz e cor Caminha lesta Ao grande encontro Do nosso amor. Nasceste com 3,9 kg e és muito alta. A irmã da tua mãe, o teu tio, o teu primo, os teusavós maternos, a tia Leonor, o tio Nelson, a Madalena, oZé, o João Francisco, a Rita, a Joana Isabel e nós, teusavós paternos, esperamos-te, com muita alegria. 10
_21.05.97 Hoje fui fazer a tua matrícula num infantário, perto datua casa. É muito bonito. Tem lá muitos meninos e meninas pequeninas como tue as senhoras são muito simpáticas. Só vais para lá quando tiveres três meses e a mamãcomeçar a trabalhar. Hoje mamaste muito bem e quando te fomos visitardormias muito descansadinha. O pai disse logo: - Não façam barulho, pois podemacordar a menina. _24.05.97 Hoje caiu o umbiguinho da Teresa. Ela gosta muito do leitinho da mamã e não se cansa dechupar com sofreguidão o biquinho do peito, donde sai oalimento da vida. _18.06.97 A Teresinha hoje fez um mês e a Joaninha convidou-nospara irmos lá a casa comer um bolinho, para festejarmoso mês da irmã. A Teresa dormia regaladamente e a Joana e a An-tonieta iam comendo o bolinho feito pela mãe Ana. O João Pedro também fez honras ao bolo e a Joanadizia: - Se o “dad” come, eu também quero. E vá de co-merem à porfia. Sabes que hoje li uma redacção muito linda, feita poruma menina de 8 anos, de Genebra. Quando um dia souberes ler vais achar muito engra-çada. Eu passo a transcrever-ta: “Uma avó é uma mulher que não tem filhos, por issogosta dos filhos dos outros. As avós não têm nada que fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pi-sam as folhas nem as lagartas. Nunca dizem despacha-te. Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguematar-nos os sapatos. 13
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bo-lo ou uma fatia maior. Uma avó de verdade nunca bate numa criança, zanga--se mas a rir. As avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar osdentes. Quando nos lêem histórias, nunca saltam bocados e nãose importam de contar a mesma história várias vezes. As avós são as únicas pessoas grandes que têm sempretempo. Não são tão fracas como elas dizem, apesar de morre-rem mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma avó,sobretudo se não tiver televisão.” (In “Enfants de Partout”) Nós agora vamos passear ao Bonfim, no carrinho, poisjá estás a começar a choramingar e tu gostas muito depassear ao ar livre. Sabes que mudei de música, para dormires. Aquela eramuito suave e parece que gostaste mais desta do JeanMichel Jarre. Eu estou a abanar-te o berço com uma mão (hábitos datua irmã) e a escrever com a outra. _02.07.97 Não fomos só ao Bonfim. Demos uma volta à cidade etodas as pessoas minhas conhecidas diziam: - Ai que lindamenina! Sabes que eu já faço umas coisas esquisitas pois nãome lembro bem de como era com os meus filhos. Pus-te afralda ao contrário, com os bonequinhos para trás. Nomeu tempo não havia fraldas destas. Eram de pano etinham que se lavar à mão. Ontem quando fomos ao Bonfim, ia-me a custar muitoempurrar o carrinho. Parecia que estava pegado ao chão. Então, encontrei uma pessoa amiga que ao ver-me tãoaflita me disse que eu levava o carrinho travado. 14
_02.07.97 Hoje tivemos um encontro muito bonito, Teresinha. Es-tivemos muito tempo de mão dada e senti o bater do teucoraçãozinho. Estavas dormindo, mas a vida palpitava na tua mão-zinha tão pequenina. Depois abriste os olhinhos muito de-vagarinho e havia tanta luz nos teus olhos! Que mistério tão grande este, desta ligação entre nós,sem tu saberes quem eu sou. Quando o pai chegou, pareceu-me que já conhecias osseus passos, o som que saía do instrumento que ele estavatocando, uma flauta. Será que tudo isto é como eu penso? O que sentirias tuassim caladinha? Quando choras, o som do teu choro é tão lindo, tãomeigo, tão pouco violento. Espero que venhas a ser uma menina muito meiguinha,para nossa alegria. A tua irmã Joana também é muito meiga. Quando saicomigo dá-me sempre o braço e eu fico feliz. _04.07.97 Hoje fui a uma grande feira de artesanato em Lisboa. Vi lá na feira um carrinho de madeira feito à mão ecomprei-o, para quando fores mais crescidinha. _08.09.97 Acabei de ler um livro muito lindo que se chama “Vaionde te leva o coração”. De todo o livro, registei muito aparte final. É de uma avó já muito velhinha, que escrevemuitas cartas à neta e lhe deixa esta mensagem: “Quandoà tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes aque hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, sen-ta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com querespiraste no dia em que vieste ao mundo e sem deixaresque nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica qui-eta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele televar.” 17
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