Antonieta VilhenaHistórias Vividastecidas de mor
Título Original:“Histórias vividas tecidas de Amor” Autora: Antonieta Vilhena Capa: Diva Almeida Ilustração: Diva Almeida (baseada em fotos da autora) Execução gráfica: Atelier Gráfico, Setúbal www.ateliergrafico.com.pt Encadernação e acabamentos: MJ Real Imo www.mjrealimo.info 2007
Antonieta VilhenaHistórias Vividastecidas de mor
Os álbuns dos meus netos foram vida comsangue a correr, nas minhas veias cansadas. Em cada um está o meu amor, o meu tem-po, a minha alegria de viver. São álbuns de histórias das vidas que euamo em cada minuto, das melhores horas dasua infância, correndo no tempo, das suas gar-galhadas, do seu choro, dos seus encontros, dosseus dias de festa, do infantário, da Escola, dosrecreios, da praia, das festas escolares. Foi muito bom ter podido fazê-los e relê-losa cada instante, enchendo as minhas horas desolidão, com tanta alegria. Avó Eta
_Junho/93Ao meu neto(a) Antes de NascerÉ já tarde para mimA tua vindaMas eu espero-te ansiosaSonhando com o teu sorriso,Com os teus olhos, azul violetaFruto da minha raizSonho sentir-te nos meus braçosJunto ao meu coração.Ouvir as tuas doces gargalhadasOu as tuas primeiras palavrasVer dar-te os primeiros passosCaminho da vida em flor.Levo os dias a sonharNessa hora sagradaDe te sentir junto a mim.Terei tempo? Tempo de vida?Tempo de te contar históriasA do Capuchinho vermelhoOu de fadas encantadasCom a sua varinha de condão?És a criança dos meus sonhosDe todas as minhas noitesVejo-te a brincar na praiaCom a tua pazinha amarelaVejo-te a saltar no baloiçoAo encontro do destinoFazendo danças de rodaOu jogando ao berlinde.Eu vou esperar a tua vindaPrometo que estarei contigoQuando vier o OutonoEstarei também na doce PrimaveraE quando eu não estiverHás-de saber quanto te ameiMesmo antes de saber como tu eras. 7
_Novembro de 93 Ao João Francisco Eu vi, eu ouvi. Eu vi como teus pais transformaram a sua casa dejantar num quarto lindo, para receber o seu filhinho. No dia 27 de Outubro eu vi com que ansiedade teupai te esperava e como ficou feliz quando pôde ver-te depertinho. Eu vi-te, com o teu avô Celestino e a tua tia Leonor,através dos vidros, chuchando no dedinho, quando aca-bavas de nascer. Eras tão pequenino, tão indefeso, mas tão cheio devitalidade, mexendo as mãozinhas, como quase a quererfalar-nos. Ouvi a tua mãe falar-te com muita doçura, como se tupudesses entender tudo o que dizia. Vi a alegria enorme dos teus avós maternos, vaidososdo menino lindo que tu és. Vi a comoção da tua bisavó e o amor dos teus tiosmaternos. Vi a tua mãe colocar-te ao peito com muita ternura,ajudada pela avó Maria, dar-te o leitinho branco da vida. Vi o amor a explodir no coração do teu avô materno. Ouvi teu pai contar-te histórias que ele inventava:“Era uma vez duas rãzinhas uma em cada mãozinha”. Vi-o mudar-te as fraldinhas, dar-te o banho, ouvircontigo música suave. Vi como ele ensinava a Zara a amar-te e a não tefazer mal. Vi os filmes que o teu avô paterno e o teu pai fi-zeram, para que um dia mais tarde tu pudesses ver comoeras em bebé. Vi-te sorrir, ainda tinhas só meia dúzia de dias. Que pequenina e bem feita era a tua boquinha. Vi quando falavas com as mãozinhas, sem perceber oque querias dizer. Ouvi o teu choro forte mas vi como era suave o teudormir, como tinhas um ar calmo de menino bom. 8
_11/11/93 Hoje vi um filme em tua casa e tu tinhas soluços. Era tão engraçado ver-te soluçar, sempre sem parar. Vi a tua tia Alice oferecer-te um patinho amarelo commeiazinhas iguais. Amanhã vens um bocadinho para a minha casa, en-quanto os teus pais vão ao Jumbo fazer compras. Parece que vamos ter o nosso 1º grande encontro. Eu hoje ouvi o teu pai dizer que te dá banho, mudaas fraldas e nunca aparece no filme porque é ele sempreque está a filmar. _12/11/93 Afinal não vieste para a minha casa mas eu fui estarcontigo. Foi o nosso primeiro encontro. Nós e a cadela Zara. O teu pai colocou uma música muito linda e ali fi-cámos os três muito sossegadinhos, sentindo a presença decada um. Primeiro fazias uma carinha muito aflita como se ti-vesses uma dorzinha na barriga. Mas depois adormeceste. Tão calmo, tão bonito! Havia uma ligação entre nós muito suave, muito té-nue, que nos dava uma grande paz. Foi um momento muito lindo. Tu não falavas, porque não sabias e eu não falavacontigo porque estava muito emocionada e não queria per-turbar-te. No silêncio, apenas quebrado pelo som harmonioso damúsica, tivemos o nosso primeiro grande encontro. _13/11/93 Ouvi dizer que saíste à rua com os teus pais. O que terias sentido a olhar o mar azul de Albarquel? Grande mistério este de saber o que tu pensas ou oque tu sentes. Quando falo com o Síris ou com a Zara fico sempretambém a pensar o que sentirão eles. 9
Ouvi dizer que o João Pedro te tinha ido ver. Quero que saibas do entusiasmo dele e da Ana quandote viram. Tive de lhes dar uma foto tua. A Joaninha só fala em ti. Que feliz ela vai ficar quando vir a tua fotografia, deboquinha aberta quase como a querer falar. Tão amado que tu és, João Francisco. Tão deliciosamente esperado por todos. Sentir no jeito de cada um que te olha, a ternura, ocalor, o afecto, a dádiva, deve ser muito bom. Será que registas tudo isso? Ou ficas indiferente, chu-chando no teu dedinho minúsculo? Jamais poderemos saber destes grandes mistérios davida. _16/11/93 Hoje vieste fazer uma visitinha aos teus avós. Nós não estávamos. Tínhamos ido a Lisboa, mas os teus pais esperarammuito tempo até que viéssemos. O avô Celestino esteve contigo ao colo e parecia queolhavas para ele com muita atenção. Se tu te pudesses queixar havias de dizer que fazí-amos muito barulho a falar. Também cá estava o tio Alberto. Tu chuchavas na tua chuchinha, sem ligar nenhuma àbarulhada que fazíamos. _23/11/93 João Francisco, sabes que hoje fomos a tua casa parao teu avô Celestino ajudar o teu pai a pendurar um ar-mariozinho dos seus tinteiros? O avô fez dois buracos grandes na parede e não con-seguia pendurar o armário. O teu pai estava triste pois gostava muito do seu ar-mariozinho. Depois de muito trabalho lá apareceu tudo feito. E tu sempre a dormir, indiferente ao que se estava apassar. Mas estava na hora do banho e a mamã, docemente, 10
foi acordar-te com a musiquinha do teu “aparelho de te-levisão”. Então o avô lá te filmou a tomares o banhinho. O papá lavava-te com muito cuidado e a mamã segu-rava-te a cabecinha e tu todo encantado. Quando te tiraram do banho choraste, pois só te ape-tecia estar dentro de água. _27/11/93 Joãozinho Hoje fizeste um mês de vida e vieste visitar os avós. Os teus pais foram fazer compras e a tua prima Joanaficou a olhar por ti. Estiveste sempre a dormir. Às vezes chuchavas na língua. O teu pai comprou-te um lindo elefante e pôs-se aconversar contigo e a brincar com dois bonequinhos. Veio visitar-te um amigo dos teus pais e a mulher queé enfermeira. É o Raposo, que tem uma livraria. Apareceu também a tia Leonor que fica sempre en-cantada contigo. A tia Ana Maria e o João Pedro também te vieram ver. És um menino muito amado. O Doutor Alpendre disse que vais ter olhos cinzentos eeu fiquei muito vaidosa em pensar que vais ter olhos dacor dos meus. A Joana pegou em ti com muito medo de te deixarcair e eu tirei-vos uma fotografia. Vamos ver se ficaráboa. Eu gostava muito que ficassem bem bonitos, os meusdois netos queridos. _28/11/93 Hoje fui ao supermercado e encontrei a tua mãe e eladisse que estavas no carro. Vim a correr ao teu encontro mas estavas a dormir. O teu pai estava contigo. 13
_29/11/93 Hoje o avô Celestino fez 68 anos e tu vieste dar-lheos parabéns. Trazias um casaquinho azul escuro que te ficava muitobem. O pai disse que era fato de cerimónia para festejar osanos do avô. Fizemos muito barulho mas tu não acordaste. Só quando o Síris ladrava é que te mexias. A Ana Maria trouxe-te uma vaquinha muito linda quefazia um barulhinho. E tu dormindo, dormindo um sono repousado de me-nino feliz. De novo tivemos um encontro muito bonito. Eu fui a tua casa para ficar um bocadinho contigo en-quanto os teus pais foram às compras. Pensei ser muito fácil ir a pé, mas a tua casa fica lámuito longe e cheguei cansada. Teu pai deixou-nos uma linda música e foi muito agra-dável o nosso encontro a três. Sim, porque a Zara também lá estava. Eu descalcei os sapatos e ela foi-me aquecendo os péscom o seu pelinho quente. Depois, já estava escuro e eu não queria acender aluz para não te ferir a vista. Ficámos assim às escuras até o avô Celestino chegar. Voltaste então para o quarto dos papás que chegaramnesse momento. E tu já tinhas fominha, por isso ficaste contente dever a tua mamã que foi logo dar-te leitinho morno que saicorrendo do seu peito. Hoje fui passear com os teus avós maternos que sãomuito simpáticos. Fomos tomar café a um barco que está parado no rioe se chama Évora. Tu foste passar uns dias a Albufeira com os teus pais eos teus avós ficaram em tua casa, a cuidar da Zara. O avô Celestino lembrou-se de fazer uma brincadeira etelefonou para o Inatel de Albufeira pedindo que cha-massem ao telefone o menino João Francisco Moreira mas 14
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