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RODRIGUES, Juniores - Datados

Published by Sandro Brincher, 2022-05-17 22:43:45

Description: Poemas

Keywords: poemas,poesia,poetry

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[29/12/17] (A doença pode ser você casca purulenta acne inflamada um mal que fere olhares e que mata de dentro - de você - pra dentro - outros - passe uma pomada tome uma cápsula ou corte o mal pela raiz livrai-nos do desprazer de morrer dia a dia pelo teus olhos cansados: estamos) Boa noite e até amanhã! 51

[29/12/17] Acordo estando acordado é a noite que se estende os sinais chegam o sol não passa pela espessa cortina a tevê permanece ligada na minha imaginação o corujão nunca acaba 52

[29/12/17] Admiro quem cria com os cacos alheios o novo cheirando a cola o mofo saboroso tantas referências - e intertextos - interferências pensadas eu só consigo fazer pastel de vento e eu tento tanto que me dá até azia 53

[29/12/17] Essa caneta descreve o tédio com tanta precisão que é preciso esquecê-la lá no fundo do papel castigo, por assim dizer, tão irrealizado, o mundo 54

[29/12/17] Nada derreterá o sol porque o tempo que passa pra nós é um cisco pras estrelas nada derreterá essas mãos enquanto elas puderem guardar os trapos que as sombras da noite esquecem pelo mundo afora 55

[29/12/17] Desnoite: tudo que pode acontecer deve ficar no guarda-volumes [29/12/17] Pedra terra raiz impossível anular essa voz 56

[29/12/17] Um coração cheio de agulhas fora do corpo pulsando quem colocou meu coração no meio-fio com etiqueta e título e preço a combinar? pra mim só a calçada a pausa do semáforo e a dor de um passeio calmo 57

[29/12/17] Confundo as pedras qual será valiosa? pedras são como vinhos? o rótulo define o valor boca nariz olhos alguém escuta as pedras antes do esmeril? tenho ouvido mas só escuto a mim mesmo 58

[30/12/17] A chuva cai - já é dia trinta - e estala como labaredas lambidas de tinta na ferida aberta da vida o sopro veio do mar a vida alerta voltar também é caminhar o meio certeza são cinzas como as transições em Escher quem daria a vida por uma vida sem repetições sem meio termo a roda gira a terra gira a pomba voa e nunca toca o solo nunca toca 59

pois a flauta é oca sem o ar da vida doada quem daria a vida por uma vida sem restrições são camadas dessa pele que chora sem hora de parar não importa o quanto doa e se repita crepita a chuva e é sempre a mesma o mesmo gesto o musgo a flor que se abre quem daria a vida por uma vida sem resoluções os titãs se levantam o titânio os contém lendas são lentas para surgir 60

para parar para sumir como a chuva que é uma ideia que não se vai mesmo quando não vem quem daria a vida por uma vida sem revelações o fogo tem voz numa língua distante que nunca entenderemos sem momentos ausentes mas sempre estamos abertos aos domingos e feriados negociando férias (quem já entendeu a voz aquela voz do fogo já estendeu as mãos e saudou a chuva) 61

[31/12/17] Querer morrer sozinho é uma ambição nunca se está sozinho - até a última sinapse - quem sabe morrer morre junto mãos entrelaçadas até a última gota - metáfora da vida - quem quer nascer de novo e de novo não precisa saber nada - mapa da memória - basta estar na hora e lugar marcados um mercado de pulgas - balança do Universo 62

[31/12/17] Devemos caminhar leves sobre a Terra copular o barro brotar flores incandescentes sabotar o acaso com um plano simples: andar de lado e voltar de costas 63

[02/01/18] Há na tela um movimento que assombra nunca se viu tamanha virtude em verdade, nunca se viu o monstro da caverna na tela o horror herda a tez a tela é espelho nela te vejo e repito a pantomima sórdida uma bomba atômica não mudaria uma vez o fantasma alegoria a mancha no pano de projeção 64

[02/01/18] Era uma farsa teu nome e algumas palavras num papel - nunca falei que cheiroso - não eram você - que alguma vez encarnei - eram ecos de mim retornando tarde - nem um pouco me entrego - batendo na cara ao entrar - sentando direto no sofá - e sem esforço empurrando na garganta - corredor da alma - tudo que a agulha no vinil não captou - agonia doce do adeus 65

[03/01/18] O poder das estrelas o poder de uma estrela é brilhar até não mais poder e depois cair em sérias tentações continuum essa série de desventuras até onde nenhum já mais esteve uma estrebaria galáctica onde apeiam vilões anti-heróis e gente comum viajantes que vão e vêm que veem estrelas o tempo todo mas o grande enigma que me persiste: de onde vem o ar que essa gente respira 66

[03/01/18] Quando a humanidade crescer demais não haverá espaço para todos apenas poucos poderão ir para o espaço e a geleia de corpos vai ser feita lá e aqui nós não nos ligamos ainda que pro Cosmos não importa o sabor 67

[03/01/18] Uma mente desconectada vale mais palavras que mil * Uma mente desavisada devassa um mar de mil imagens * Uma mente criptografada não vale menos que um bitcoin 68

[05/01/18] Unhas são constelações nos mostrando a passagem do tempo unhas não têm volta apontam o futuro são feitas de puro passado não deixam furos e são marcas da vida de cada universo e são camadas um sambaqui de memórias unhas não contam histórias elas são você eu o Cosmos enquanto são varridas pra debaixo do tapete 69

[10/01/18] Quando a coisa saiu dos trilhos? os filhos das filhas de deus tiveram certeza e elas foram tomadas tal qual uísque barato ratos rondaram a cara do rei o ornamento era a pele pelos cantos a peste pelos olhos da plebe lágrimas negras nos campos de batalha as máquinas nos céus os drones o dedo de deus no botão que dizem vermelho a falta de juízo afinal sempre faltarão dois minutos 70

[21/06/18] Nesses dias em que eu penso em pôr fim a tudo eu ouso dizer ou gritar de dentro por dentro porque ela escuta eu ouso declarar que por mais que ela marque pesado meu domínio é preciso a vida, por mais que seja dura não supera a minha ossadura 71

[12/06/18] Eu sempre falo do caminho como um caminho algum leva a lugar nenhum e, num lugar comum, se você quiser, caminho em alto e bom som se, assim sozinho, alcanço um balanço e faço, do aço e concreto, um lugar de descanso 72

[19/06/18] Faço pausas para rever rever em reverso verso sobre tudo e sobretudo eu ainda não tive sinal que ative enfim o final da frase em que estive sim só corre o que socorre de fato só foge o que esconde no mato a alma e encarna no nó que escorre em escarlate como a língua do cachorro que esconde o choro que choro quando late em desespero que revela toda a ausência que cabe nessa noite que ele impaciente vela 73

[21/06/18] Associo coisas a coisas e coisas nenhuma é a mesma coisa só o fato de ser tão possível só o olfato impossível desse cão já enche de medo todas as coisas mas o que o cão não sabe são as palavras das coisas o cão não sabe da seiva de som com cor e letra do cinza da gaiola sabe o apertado da coleira 74

[26/07/18] Não há sono se alguém morre agora se há o sol banhando do lado de lá um bêbado e uma criança ao mesmo tempo eu economizo porque acho que se morre alguém não há sono no além 75

[25/11/18] Tão cedo o azedume se declara e, cara, resume-se a isto e isso aqui: o peso das eras assim como eras pedra e viraste amor assim como era ardor e a dor foi o que se viu em seus olhos que eram olhar e hoje, sãos, são o oco e pouco a pouco somem os sons do delírio urbano um ano e já era se foi pra longe mas não por um caminho tão longo. Tudo se traduz nessa luz verde que te impele a não mais parar 76

[25/11/18] Muito trabalho dão as lutas assim como as frutas 77

[25/11/18] Eu queria uma ilha isolada de tudo que é meu eu queria o cálice a certeza eu queria ter o poder de poder ter paciência a espera é uma ilha ocupada pelas saudades incuradas 78

São José da Terra Firme / SC 2014-2018 79

Sobre o autor juniores é um mineiro de Brasília radicado em Santa Catarina há mais de vinte anos, é licenciado em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando no PPGLit-UFSC e curador do projeto Tenda Literária contemplado com o Prêmio Elisabete Anderle 2019. Desde 2006 atua como professor na rede estadual catarinense. Compositor em hiato criativo. 80

Sobre a editora Os livros da Katarina Kartonera são basicamente feitos à mão, exclusivos, frutos de uma consciência político-social de inclusão, que recicla materiais, como os papelões, recuperando-os ecologicamente e vinculando na produção e comercialização a participação de escritores, catadores e interessados por confecções de livros artesanais. KK 81

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KATARINA KARTONERA Coleção de poesias e narrativas contemporâneas Ficou gemendo pero ficou sonhando (transcruz&sousainvencione al portuñol selvagem), Douglas Diegues, 2008; O Sexo Vegetal, Sérgio Medeiros, 2009; Peças Sintéticas, Dirce Waltrick do Amarante, 2009; O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo, Wilson Bueno, 2009; Contos Maravilhosos, Kurt Schwitters (Tradutores: Maria Aparecida Barbosa, Walter Sille Krause, Heloísa da Rosa Silva, Gabriela Nascimento Correa), 2009; A Carne do Metrô, Rodrigo Lopes de Barros, 2009; Sempre, Para sempre, lá e cá: Poemas de Velimir Khlébnikov (Trad. Aurora Bernardini), 2009; Arte e Animalidade, Coleção de textos sobre arte e animalidade. Organizadores: Ana Carolina Cernicchiaro, Evandro Rodrigues e Sérgio Medeiros, 2009; Os Chuvosos, Wilson Bueno, 2009; Fio no Pescoço, André do Amaral, 2009; Lo que ocurre en silencio, Andrew Bernal Trillos, 2010; Las Putas Drogas, Cristino Bogado, 2010; Triplefrontera Dreams, Douglas Diegues, 2010; Bafo e cinza, Sérgio Medeiros, 2010; Dez Romances Breves, Luiz Roberto Guedes, 2010; Mulher Asfalto, Alain-Kamal Martial (Trad. e adapt. Lucrécia Paco), 2011; Figurantes, Sérgio Medeiros, 2011; Trajeto Kartonero, Evandro Rodrigues, 2011. Poços, Wiliam de Oliveira, 2012; XupandoXilokona— xô®xêka— miniantolojia autoerôtika provisoria, Jorge Canese, 2012; Anúncios, Adolfo Montejo Navas, 2012; As metades do corpo, Ricardo Aleixo, 2012; Receitas. Edward Lear (Trad. Dirce Waltrick do Amarante), 2012; Deliranjo. Charles A. Perrone, 2013; Histórias do Córrego Grande, Leandro Durazzo, 2015; Sinapse, Nunes Zarel·leci, 2015; Mínima Alice, Wilson Bueno, 2015. Ahô-ô-ô-oxe, Amador Ribeiro Neto, 2015; A Ovelha Negra, Mily Schabbel, 2016; O Menino da sua mãe, Djami. Sezostre, 2016; O gato e el diablo, James Joyce. Tradução Félix Lozano Medina, 2019. Ojepotá e outros três tristes contos tétricos, MORAIS, Alison Silveira (Org.) et al, 2019. Delicadezas, Clélia Cardoso Camargo, 2020. 83

Este livro foi impresso em fonte Georgia. 84


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