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JornalAVozDePaçoDeArcos_4_2016

Published by dalilafmad, 2016-05-25 06:24:10

Description: Edição Bimestral nº4 do Jornal A Voz De Paço De Arcos, 2016

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A Voz deJORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTESFUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Serrão de Faria | Bimestral | N.º 4, Abril de 2016 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA

ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA1 – A VPA é um jornal bimestral de PROPRIEDADE: Associação Culturalinformação geral na área da cultura e “A Voz de Paço de Arcos”da língua portuguesa, em particular nadefesa dos interesses dos habitantes da DIRECTOR: José Serrão de Fariavila de Paço de Arcos e das localidadescircundantes. DIRECTOR-ADJUNTO: José Manuel Marreiro2 – A VPA pretende valorizar todasas formas de criação e os próprios SUBDIRECTOR: Maria Aguiarcriadores, divulgando as suas obras. EDITOR: José Lança-Coelho 3 – A VPA defende todas as liberdades, [email protected] particular as de informação,expressão e criação. Ao mesmo tempo, COLABORADORES: Luís Álvares;afirma-se independente de quaisquer Vitória Fidalgo; José Lança-Coelho;forças económicas e políticas, grupos, José Manuel Marreiro; J. Barata;lóbis, orientações, e pretende contribuir Dinis Antunes; José Serrão de Faria;para uma visão humanista do mundo, João Queiroz; Maria Aguiar; Silvinopara a capacidade de diálogo e o espírito Valente; Zélia Coutinho; M.G.; Guil-crítico dos seus leitores. herme Lopes; Martinha Muñoz; Edgar- do Xavier; António Santos; Angela 4 – A VPA recusa quaisquer formas Alvares, Rosangelade elitismo e visa compatibilizar aqualidade com a divulgação, para levar a Capa: Aguarela de Serrão de Fariainformação e a cultura ao maior númeropossível de pessoas. Paginação: Andreia Pereira Impressão: www.artipol.net Tiragem: 2000 exemplares. Endereço Internet: associacaocultural- a-voz-de-paco-de-arcos.pt Redacção, Administração e Publicidade: Rua 1.º de Maio, 6-A, 2.º Dto. 2770-140 PAÇO DE ARCOS Depósito Legal: 61244/92 Retrato de Ricardo Baptista, fundador e grande impulsionador da Festa do Cavalo de Porto Salvo. Aguarela de Serrão de Faria2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

EDITORIAL AAssocia- que encerra. ção Cul- Ao mesmo tempo, a nossa associação, tural A de que este jornal é porta-voz, leva a Voz de Paço efeito desde 16 de Abril até ao próximo de Arcos na dia 15 de Maio, o seu Salão da Primavera, sequência do uma mostra de Artes Plásticas, patente trabalho que ao público na estação do SATU, dentro tem desen- do Centro Comercial de Oeiras, onde volvido, vem estão expostas diversas obras dedesta vez divulgar a Festa do Cavalo, em artistas do concelho de Oeiras.Porto Salvo, e outros polos de interesse Outras iniciativas estão pensadas, cujacultural desta simpática localidade. realização se seguirá brevemente, peloTerra de tradições equídeas, Porto que contamos com a boa vontade e oSalvo não as deixa por mãos alheias empenho de todos. Até lá!e, por isso, anualmente, renova opassado com uma festa, onde o cavalo José Lança-Coelhoé apresentado nas diferentes vertentesPor lapso, na página 12 do número anterior de A Voz de Paço de Arcos,chamamos Jardim das Rolas, ao novoParque das Perdizes, pelo facto pedimosdesculpas aos nossos leitores.PARQUE das PERDIZES é um bonitoespaço verde, que se estende desdeas traseiras do Oeiras Parque, junto àCooperativa Nova Morada até à Estrada dePaço de Arcos, junto ao novo Quartel dos Bombeiros. Foi inaugurado a 30 de Agosto de 2013, pelo actual Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, dr. Paulo Vistas.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 3

CAMINHOSCanejo, local que ficou conhecido grandes causas, ao longo de muitas gerações, pela deu a sua vida existência de uma taberna com o por valores quemesmo nome, onde se bebia água-pé e não têm preço ecomia bons petiscos, é o ponto de partida nos quais acre-para este nosso percurso. ditava.Logo após passarmos o viaduto da Nesta rotundaA5, deparamos com uma rotunda bem fronteira ao Hotelcuidada, onde estão belos exemplares de Holiday Inn Ex-velhas oliveiras para ali transplantadas. press e ao FitnessContinuando pela antiga estrada de Hut, foi instaladaPaço de Arcos, surge à nossa direita um uma obra de van-vasto terreno rural, confinante com a guarda compostaAldeia do Meio e onde se realiza a Festa por vários tutores,do Cavalo de Porto Salvo, seguindo- que representamse a Rotunda Sérgio Vieira de Mello, os individuos ori-o diplomata brasileiro assassinado em undos de diversasAgosto de 2003, em Bagdad, quando se nações, com asencontrava ao serviço da ONU , e que cores da bandeirateve um papel de destaque no processo das Nações Uni-de transição de Timor-Leste. Grande das, para além da de Oeiras.humanista, militante e interventor em Mais à frente, junto do Beco do Araújo, temos um anti- go cruzeiro, fron- teiro a um velho portal. Logo a seguir ergue-se um belo edifício, actual sede do Atlético Clube de Porto Salvo, fundado em 20 de Junho de 1948, que tem mantido a prática do futebol e cujo presidente actualRotunda Sérgio Vieira de Mello(Aguarela de Serrão de Faria) é Vítor Marques. No lado con-4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

Coreto e edifício da SIMPS (Desenho de Serrão de Faria)trário surge-nos o Torrãozinho, café e actuais in “ex-cavalariças do palácio”.pastelaria, local de encontro de várias No lado esquerdo desta via, ainda existemgerações. algumas lojas do antigo aglomerado Aqui começa a Rua Conde de Rio Maior, central da localidade, a par das modernasquinto neto do Marquês de Pombal instalações dos CTT e BPI. Do lado direitoe Presidente da Câmara Municipal temos a histórica colectividade SIMPSde Oeiras por quase quatro décadas, “Sociedade de Instrução Musical de Portodeixando o seu nome ligado a muitas Salvo“, cujo presidente é Alberto Adelino.obras do Concelho. Foi sua a decisão À esquerda ergue-se um núcleode transferir a sede da Câmara, para as habitacional muito antigo, casas dosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 5

CAMINHOS Antigo cruzeiro ansiada pela população. Está incluída num importante complexo, que é com- Café Torrãozinho e Sede do Atlético Clube Porto Salvo posto pelo Centro Paroquial, Centro de Dia, lar e outras valências de apoioromeiros, casas de pasto e onde existe o religioso e social, que ainda estão emactual restaurante “Casa Velha“. implementação. Foram construídos nos Do lado direito, após um terreno ca- terrenos contíguos à Capela de Nossamarário com um projecto a aguardar exe- Senhora de Porto Salvo. No centro destecução, surge a histórica Capela de Nossa conjunto sobressai um moderno cruzeiroSenhora de Porto Salvo, construída em e a estátua do papa João Paulo II, da1530, no monte Caspolima, tendo sido ini- autoria de Carlos Oliveira e António San-cialmente uma pequena ermida, fruto da tos, sendo a estrutura de Daniel Oliveira.promessa de navegadores portugueses, Outras casas de romeiros encerram estesalvos de uma tempestade no Cabo da espaço histórico.Boa Esperança. O grande afluxo de pere- Do lado direito encontramos um parquegrinos e romeiros, vindos de Lisboa, cri- empresarial, do qual se destaca o Centroou a necessidade em 1670 da construção de Inspecção Automóvel CIMA e queda actual capela e fez crescer a povoação termina na Praça Manuel Soares junto daà sua volta e que só anos mais tarde teve empresa por sí criada.acesso aos seus serviços religiosos. Do lado esquerdo deparamos com um Em 26 de Julho de 2015, foi finalmente terreno agrícola, onde, na parte final foiinaugurada a nova Igreja há muito construído um edifício que integra as in- stalações da Junta de Freguesia, o mercado e algumas lojas. Aqui acaba a Rua Conde de Rio Maior e começa a Estrada de Leião, no princípio da qual, do lado esquerdo fica o Bairro de Auto Construção, onde tem a sua sede o “ Clube Leões de Porto Salvo” , fundado em 23 de Março de 1970, que na última década muito desenvolveu a Restaurante Casa Velha6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

sua actividade emprol do desporto,nomeadamente naginástica artística,andebol e futsal,sendo o maiorclube nacionalnesta modalidade,com mais de 180atletas federados,integrando todosos escalões.O clube dispõede modernas ins-talações para a Capela de Nossa Senhora de Porto Salvo (Aguarela de Serrão de Faria)prática destas mo-dalidades, com um Segue-se uma nova zona habitacional,moderno pavilhão da autoria do arqui- que se estende até Talaíde e onde está atecto Tomás Taveira, sendo seu presidente Escola Aquilino Ribeiro. Do lado direito,Jorge Delgado. após a zona industrial, estende-se umNova Igreja CIMAJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 7

Junta de Freguesia Leões de Porto Salvoamplo terreno agrícola até Leião, antigo Grupo das Joaninhas. O percurso terminaaglomerado habitacional de cariz rural, no final da estrada de Leião, onde se ergueonde se encontram as seguintes colectivi- o “Chafariz“ , estrutura hidráulica, que sedades : Grupo Desportivo de Leião e o compõe de minas, aqueduto e chafariz propriamente di- to, assumindo funções de cap- tação, transporte e distribuição de água. Foi cons- truído no tempo do Marquês de Pombal. Serrão de Faria e José MarreiroChafariz de Leião (Aguarela de Serrão de Faria)8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

EVENTOSFesta do Cavalo de Porto Salvo Este even- los, folclore, sevilhanas, garraiada, atrela- to nas- gem, passeio equestre na Rota dos Vinhos ceu no de Carcavelos, espectáculo Oeiras Eques- ano 2000 pela tre, dressage de póneis, gala equestre, equi- carolice de Ri- tação de trabalho, concentração e desfile de cardo Baptis- cavaleiros e amazonas. ta e José João Porto Salvo sempre foi uma zona rural Dinis, no en- com tradições hípicas, que vêm desde o tanto três anos tempo do Marquês de Pombal, que aqui antes, em 1997, possuía grandes cavalariças, cheias de realizou-se um belos cavalos, no entanto, nunca foi cri-primeiro ensaio, com a vinda de cerca de 12 ador, não possuía eguas reprodutoras,cavalos do picadeiro de Leião, pertencentes nem tal era necessário, pois como pri-a José João Dinis, acompanhados pelos res- meira figura política, poderia escolherpectivos alunos. os animais que desejasse na Caudelaria Em 2001 e 2002 a fes-ta é realizada apenassob a batuta de RicardoBaptista à frente de umacomissão organizadora. Em 2003 é criada a As--sociação Equestre dePorto Salvo, que desdeentão é a entidade res-ponsável pela organi-zação das festas que têmlugar na Aldeia do Meioe compõem-se de várioseventos, nomeadamente: Concursos de obstácu-Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 9

EVENTOS Ricardo Baptistade Alter Real, que na época tinha umefectivo de mais de mil equinos, tendo oMarquês de Pombal interferido directa-mente na sua administração. É também nesta zona, que nasceu a fábula das éguas fecundadas pelo vento, facto registado no brazão desta raça. Homero relata-nos na Ilíada (xvl. 150): Xanto e Balios, os cavalos imortais de Aquiles, que acompanhavam a correr o voo dos ventos, porque eram filhos do vento Zéfiro. Varrão, historiador roma- no, localiza este nascimento na zona de10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

Lisboa, facto confir- João Dinismado por Plínio eColumela, tambémhistoriadores roma-nos, e até mesmo, umcruzado, que esteveno assalto a Silves, noreinado de D. SanchoI , deixou relatado,que perto de Lisboa,junto ao Castelo deSintra, as éguas con-cebiam do vento e ospoldros eram muitovelozes. Tem portanto estafesta, as condições necessárias para ser um sucesso : Tradição, gosto e capital humano cheio de força, vontade, saber e um grande amor devotado a esse nobre animal, que é o PURO SANGUE LUSITA- NO. Serrão de FariaJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 11

CULTURA CLÁSSICAMitologia histórico , que habitou a zonaSerá Oeiras o berço do GINETE o nosso litoral IBÉRICO ? e ficaram céle- Será que a origem do Ginete Ibérico bres pelo mes-esteve na zona que hoje se estende entre mo motivo. ÉLisboa e Sintra, onde se situa o Concelho do nome destede Oeiras ? povo, que de- riva a palavra É comummente aceite que o nome de ginete, queLisboa, vem de Ulisses, Ollissipone. Mas tanto significaconforme nos diz Damião de Góis, na mi- o cavalo comotologia grega, Ulisses não é Ulyssipo, mas o cavaleiro esim Odyses e que é por isso que o poema também umade Homero se chama Odisseia e não Ulis- das formas de montar.-seia. Na mitologia greco-romana, Hércules é Ulisses vem sim à Península Ibérica, grego e nasce em Tirintio, cidade do Pelo-que na Odisseia é descrita como a ilha de poneso e é filho de Zeus, vem à PenínsulaCalipso mas que de facto é a ilha Al-An- Ibérica e aqui vem a morrer. Mas existedaluz, “ Jazirat- al- Andaluz, a tradução de uma outra mitologia , filha da tradiçãoilha do Atlântico ou Atlântida (História de local e originária no mito da Atlântida,Portugal de José Mattoso, vol l, pag. 363 ). onde Hércules é filho de Osiris, fundador Calipso é filha do Rei Gorgoris e tem da cidade de Tebas eum filho de Ulisses, Abidis, que a lenda vem à Península salvardiz ser o fundador de Santarém. os Lusitanos do gover- no tirânico dos Geriões, Segundo relata Cri- ficando no go- verno datias, coube a Poseidon Ibéria durante 42 anos.(Neptuno) a ilha Atlân- Deixou o poder a seutida, que dividiu com filho Hispano, que lheseus filhos. Gadeiros mudou o nome para His-fica com a zona sul, pânia. Hércules teve tam-hoje Cádis, a zona ga- bém uma filha chamadaditana. A zona central Leucipe, mulher de Eve-onde se situa Lisboa nor e que habitava umfoi entregue a seu fi- monte na Lusitânia quelho Elasipos ou Olisi- se julga ser Sintra. Leuci-po, que quer dizer : O pe significa “ a que possuique conduz cavalos cavalos brancos “.na corrida. Olissipone Esta zona que se estende desde Lisboadeve pois ter origem (Olisipo, o que conduz cavalos na corrida)neste nome de Olisi- até Sintra onde vivia Leucipe (a que con-po, que tem a ver com duz cavalos brancos) é onde hoje em diacavalos velozes, os ginetes da Lusitânia, opaís dos Lúcios ocidentais, descendentesdos Titãs, famosos pela sua celeridade nacorrida, como também os Cinetos, povo12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

se situa o Concelho de Oeiras. dias, na literatura clássica e no coração É aqui que Neptuno “o mar“ se espraia do “homem de cavalos“ como um íntimo poético inserido na sus alma, sonhos dena terra “ Vesta“ e nasce o cavalo guerreiro, aventuras, glória e proezas. Quando olha-o ancestral ginete da Lusitânia, o cavalo lu- mos para ele, sentimos nascer dentro desitano. nós emoções ancestrais, vindas do fundo dos tempos, cheias daquele saber que Vergílio descreve desta maneira e com existia nas trovas de então. Todos nós,estes versos tão bonitos, o nascimento de hipomolgos, ordenhadores de éguas, or-ARION , o primeiro ginete, filho do mar e denhamos a sabedoria, da qual os cavalosda terra, filho de Neptuno e de Vesta: são o suporte. Ordenhar éguas, seria ex-E tu Neptuno a cuja ordem certeira trair o leite materno do conhecimento, e osA terra golpeada pela vez primeira condutores de cavalos, os Cuneus ou Lu-Com teu magno tridente sitanos, descendentes de Neptuno, apare-Lançou do seio seu corcel fremente cem como Mestres e como transmissores do saber antigo e das tradições ancestrais. Neptuno tomando a forma de cavalo,violenta a deusa Vesta, sendo fruto dessa O ginete, o cavalo, o ginete, o cavaleirounião o cavalo Arion. e a gineta, a técnica de equitação, três in- gredientes mágicos, que ainda hoje, tanto Um cavalo alado, o mais rápido na corri- tempo passado, nos encanta e nos fascina.da e que também é símbolo da inspiraçãopoética, possui as asas da fantasia e da Serrão de Fariaimaginação, fecundos sonhos de glória ede saber. O cavalo chega então até aos nossosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 13

ENTREVISTAÀ conversa com Ricardo BaptistaQuerendo aprofundar mais a esta festa anual história da génese da Festa do e relacioná-la Cavalo de Porto Salvo, para melhor permanente aoesclarecimento dos nossos leitores, tivemos nobre animal.nova conversa com Ricardo Baptista. Foi escolhido oA primeira “ Festa “ teve lugar em 2000, nome de FESTAnos terrenos do Rocio, adjacentes à Capela, DO CAVALO ,terrenos esses que foram cedidos por D. porque feiras doJoão V à Irmandade de Nossa Senhora de cavalo já existiamPorto Salvo. No entanto, quatro anos antes, em muitas locali-em 1996, houve necessidade de renovar as dades.festas tradicionais de Porto Salvo, e em Este projectolugar das habituais cavalhadas, realizou- foi apresentado ao então Presidentese uma Gala Equestre, com a homenagem da Câmara Isaltino de Morais, que dea uma figura do mundo hípico, tendo sido imediato o aprovou, constatando aescolhido para o efeito Fernando Ralão, qualidade e o interesse turístico, que eleavô de João Ralão, secretário geral da APSL representava para o concelho e para a(Associação Portuguesa dos Criadores do região.Cavalo Puro Sangue Lusitano) e de Miguel Passou a integrar o plano de actividadesRalão, cavaleiro olímpico. da câmara logo a partir do ano 2000. Com o sucesso alcançado nesse ano, O sucesso desta “Gala Equestre“ foi tal, colocou-se a necessidade de se arranjarque se impõs a necessidadedesereinventar Ricardo Baptista e Carlos Cardoso, desde 2007 à frente da Festa. (Desenho de Serrão de Faria)14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

um espaço maior, o que foi conseguido Dr. José Cunha, primeiro Patrono da Festa do Cavalopela cedência de dez hectares da firma de Porto Salvo. (Desenho de Serrão de Faria)Pimenta e Rendeiro. Com a colaboração daAPSL, através do seu secretário, Eng. Ralão num festival que juntou pais e filhos. Estee às boas condições existentes, avançou-se ano é Ex-libris da Festa a décima sétimapara a primeira prova oficial de Equitação edição do passeio equestre Rota do Vinhode Trabalho. de Carcavelos. Novo desafio se colocou no ano seguinte : Além do Concurso Completo de Atre-A realização de um festival taurino , o que lagem, que tem o apoio da Federaçãoaconteceu em benificio de Instituições da Equestre Portuguesa, também vai ser feito,freguesia, para as quais foi entregue toda a pelo primeira vez, o Concurso de Cavaloreceita ilíquida. de Sela Modelo e Andamentos e reeditar o Na quarta edição da “Festa“, forma-se a Concurso de Equitação à Portuguesa.Associação Equestre de Porto Salvo com ofim de se encarregar da organização deste Serrão de Fariaevento, da qual Ricardo Baptista é o sócionúmero 1. Em 2004 a Festa é assegurada por JoãoFrancisco Dinis e Paulo Vistas e em 2007de novo por Ricardo Baptista e CarlosCardoso, o homem do folclore e etnografia,mantendo-se os dois até hoje à frente daorganização desta festa. Desde o início, que se sentiu a necessidadede se homenagear uma figura ligada a estemundo mágico dos cavalos, tendo sidoescolhido para primeiro Patrono, o dr.José Cunha, eminente cirurgião e pai docavaleiro tauromáquico Frederico Cunha.Desde então, todos os anos é atribuídoum troféu de prestígio, com o seu nome,ao melhor conjunto presente. Foi aqui, nofestival taurino de 2002, que Duarte Pintofez a sua apresentação como cavaleiro, eem 2004, chegou a vez a seu primo Tomás,Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 15

PERFILPorto Salvo na carreirade Duarte PintoOcavaleiro tauromáquico paço-ar- para Cava- quense Duarte Pinto, neto do sau- leiro Pratican- doso e famoso hoquista campeão te,a 8 de Maiodo mundo Emídio Pinto e filho do tam- de 2004, daíbém cavaleiro tauromáquico do mesmo partindo paranome e apelido, tem ligada a sua vida a brilhantecomo profissional das arenas à fregue- carreira quesia de Porto Salvo. Isto, porque foi numa tem vindopraça de toiros erguida na típica vila do a cumprir.nosso Concelho que, na tarde de 28 de Com alterna-Abril de 2002, se estreou em público o tiva na noitecontinuador da dinastia Pinto, durante de 23 de Julho de 2009, concedida porum festival integrado na Festa do Cavalo. seu pai na praça de toiros do CampoE foi também em Porto Salvo que, dois Pequeno, Duarte é um dos mais consis-anos depois, Duarte Pinto prestou prova tentes jovens valores da nossa tauro- maquia, profissão que divide com a sua actividade de Economia de Produção, depois de se licenciar em Engenharia Agronómica, no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Por estarmos à porta de mais uma Festa do Cavalo de Porto Salvo, recordamos aqui a sua relação com este nosso conterrâneo ilustre: Duarte Pinto.Duarte Pinto, Festa do Cavalo 2012 (Óleo de Serrão de Faria) João Queiróz, Director do Novo Burladero16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

ARTEAs várias fases, em imagens, de como se pinta umaaguarela. Aguarela de Serrão de FariaJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 17

ARTEO que é a obra de arte uma espécie de suicídio.Apropósito do «Salão da Primavera», Ala Vavarez - mostra de Artes Plásticas que, a Uma obra de arte Associação Cultural A Voz de Paço não tem qualquerde Arcos está a realizar, aqui ficam algumas importância paradefinições de obra de arte, incluindo a do a sociedade. Só écompilador das mesmas. importante paraNão há preconceito que uma obra de arte o indivíduo.por fim não vença. Vladimir Nabo-André Gide - Cada um de nós é um kov - Uma obradeserto: uma obra é sempre um grito no de arte não expõegrito no deserto. uma verdade preestabelecida; ela incarnaFrançois Mauriac - O que ouve maiores uma verdade vivida.tolices neste mundo talvez seja uma obra André Maurois - Admirar certas obras éde arte num museu. mais que uma falta de gosto, é uma falta deEdmond De Goncourt - Uma obra de arte carácter.é uma ideia que se exagera.André Gide - Uma grande obra de arte é Jean Rostand - Uma obra de arte, como tudo o que é cariz humano, é um aglomerado infinito de subjec- tividade e, por isso mesmo, não pode ser classificada ob- jectivamente. José Lança-Coelho18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

CURRICULUM VITAE | Serrão de Faria Nasceu em 1937 e é natural de xilogravura na Cooperativa deAzinhaga. Gravadores Portugueses. Em 1944 frequentou o Colégio Desde muito cedo, que sentiuAlemão e posteriormente o Infante o apelo pela pintura, que herdouSagres. da mãe e do avô materno, tendo tido algumas aulas de pintura A partir de 1948 ingressa no Liceu com mestre Ramos Ribeiro, eSá da Bandeira, em Santarém, posteriormente trabalhado comlicenciado-se na Escola de Regentes João Veiga, Manuel Fernandes eAgrícolas. Rosa Mendes, artistas da escola impressionista. Em 1982 tira o curso de gravura eem 1983 de serigrafia, litografia e A sua primeira mostra individual foi em 1960, no Posto de Turismo de Santarém. Na década de sessenta e setenta dedicou-se à pintura do cavalo lusitano, tendo em 1981 participado na primeira exposição temática, no Clube da Golegã, sobre esse nobre animal. Nos anos seguintes realizou as primeiras mostras individuais sobre o mesmo tema. Em 1974 fundou o stubook de equídeos da raça lusitana, sendo o seu primeiro vogal, o equivalente hoje em dia a director. Em 1986 edita o seu primeiro livro : CABALLUS, uma edição de autor, com apresentação de Edgardo Xavier e Fernando de Andrade. Segue-se PORTO SENTIDO, edição exclusiva da Somague em 2000 e em 2002 o livro com o mesmo título, com textosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 19

de Maria do Carmo Seren e prefácio Também no mesmo ano a segundade Guy Ferreira, Edições Ello. edição de O SOLAR DO CAVALO. Em 2003, O GINETE IBÉRICO, Em 2008, POEMAS DE RISCO,edição exclusiva e limitada para o poemas e desenhos do autor. Grafilipe.BCP, e com o mesmo título, ediçõesEllo, com apresentação de Edgardo Em 2010, O CASTELO DE SÃOXavier e Fernando de Andrade. JORGE, com textos de Carlos Consiglieri e Marília Abel. Grafilipe. Em 2003, DOIS DEDOS DECONVERSA, textos de João Pequito, Em 2013, VINHOS COM ARTE,apresentação de Saldanha Rocha e primeiro volume, com textos deprefácio do Padre A, José da Silva António Marreiros Neto e JoséSousa-Roma Editora. Fonseca, e em 2016, o segundo volume da mesma obra. Em 2004, FUTEBOL, iluminuras etextos consagrados, coordenados por Actualmente, através da editoraFernando Correia. Sete Caminhos. Amazingcircle, está envolvido em vários projectos livreiros e de Em 2005, VALES TRAÇADOS com comercialização de múltiplos detextos de Sílvia Pinheiro. Grafilipe. obras de arte. No mesmo ano, O SOLAR DO Participou em mais de cinquentaCAVALO, com textos meus. Grafilipe. exposições colectivas, entre elas : Terceira Exposição de Artes Plásticas Em 2006, OLIVENÇA NO da Amadora, em 1970, NovosLABIRINTO DA SAUDADE. Textos Gravadores, no Casino Estoril, emde Carlos Consiglieri e Marília Abel- 1982, na galeria Nilestad, na Noruega,Dinalivro. 24 Pintores, na Casa da Imprensa, em Lisboa, nas várias Internacionais de No mesmo ano UM CONTADOR Artes Plásticas de Vendas Novas, NaDE ESTRELAS com legendas do Gala do Zoo, na Taberna Literária, emautor. Grafilipe. Santarém, Gigantes do Adamastor, em Lisboa, no Celeiro da Patriarcal Em 2007, ARION, O CAVALO em Vila Franca de Xira, ImpressõesPENINSULAR, textos de Serrão de Multiplas, no Museu da Água, e naFaria. Da Dinalivro. Casa do Brasil, em Santarém. Segue- se no mesmo ano, AO SOLDA LEZÍRIA, com textos do meu avôJosé Serrão de Faria Pereira. Grafilipe.20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

CURRICULUM VITAE | Serrão de FariaMostras individuais,além da primeira em1960, no Posto de Turismode Santarém, realizoumais de cinquenta, entreelas em 1969, no Salão deTurismo das Caldas daRainha, na Galeria Palmaem 1986, na Noruega em1987, na Galeria Gravuranos anos de 1988 e 89,no Museu da Repúblicae Resistência, na GaleriaLCR, em Sintra, nosRecreios da Amadora, noMuseu Martins Correia,na Livraria Ferin, naBiblioteca Municipal deAlenquer e na GaleriaAtelier Serrão de Faria,onde durante váriosanos apresentou umaexposição temáticarelacionada com o GineteIbérico.Foi Director da revistaRédea Curta, ilustrador Junto do quadro de sua autoria - D. SEBASTIÃO, na Câmarado jornal diário A Capital, Municipal de Golegã (foto Serrao de Faria)do jornal Voz da MinhaTerra, da revista Rotadas Linhas, colaborou com a revista frente, como director do jornal A VozMediaRO, estando actualmente à de Paço de Arcos.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 21

ESPAÇOSRestaurante Casa Velha Lourenço Sér- gio, homemSituado em Porto Salvo, na estrada experiente que vai para o Cacém, mesmo em no campo frente à centenária capelinha, orestaurante Casa Velha, propriedade de da restau- ração, dis- tingue-se pela quali- dade dos seus pratos. Com uma agradável e acolhedora sala de jantar no primeiro andar, o restaurante Casa Velha tem uma ca- racterística muito interessante, pois para além dos habituais e triviais pra- tos quotidianos – está aberto todos os dias – apresenta um prato diário di- ferente. Deste modo, se gosta de um bom naco de novilho, polvo à lagareiro ou cozido à portuguesa, marque na sua agenda, respectivamente, terça-feira, quinta-feira e sábado. O peixe é fresquíssimo, comprado todos os dias, até porque Sérgio Lou- renço nos confessou que, quotidiana- mente, faz as compras de manhã, para que tudo esteja o mais fresco possível.22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

ESPAÇOS Para os apreciadores debom vinho, embora hajade todas as regiões dopaís, recomendamos o dacasa, que é o bom néctarda Quinta da Lapa. No respeitante às so-bremesas, elas tambémnão deixam os seus crédi-tos por mãos alheias,indo desde a fresca sala-da de frutas até ao pudimcaseiro, passando por umfabuloso bolo de choco-late com nozes no interi-or. Em suma, aconselha-mos os nossos leitores avisitar este restaurante,de onde, decerto, sairãofartos e bem dispostos,com a degustação de umadose a um preço normal. José Lança-CoelhoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 23

AFETOSPorque é que os afetos estão na modaNunca se falou tanto de afetos de nós (cau- como hoje. Será que esse precioso sas subjeti- sentimento, veio para ficar ou só é vas), tal comoocasional? os nossos me- dos, os nos- Vamos começar pelo significado de sos conflitosafetos: trata-se de um sentimento de apego, e anseios. Oternura, afeição, amizade, amor, carinho, afeto valori-dedicado, destinado, etc.. Como uma za tambémpalavra tão pequena consegue ter uma os factos ecarga tão grande, que temos andar de braço os aconteci-dado, não só para receber mas também mentos do nosso passado e as nossas pers-para dar. petivas em relação ao futuro. O que me leva a debruçar neste tema Existem diversos fatores e acontecimentosfoi o facto de ter sido nas últimas eleições que fazem alterar a forma comopresidenciais que se realizaram no nosso percecionamos a realidade, por exemploPaís, “arma” que alguns candidatos um indivíduo com uma depressão, nemutilizaram com sucesso, para buscar que seja pequena, vê o mundo de umavotos ao eleitorado. Nunca estivemos forma triste e sente-se pior do que detão sedentos de afeto, como nos dias que facto é, isso produz insegurança e baixa dacorrem. Nem nos preocupamos, com a sua autoestima. Neste caso, os afetos têm umalinha programática. representação negativa da própria pessoa. Para entender a afetividade é necessário Hoje em dia, não falamos com as compreender, antes, alguns elementos dopessoas, mas sim com máquinas. Para nos mundo : as representações, as vivências ecomunicarmos com os nossos familiares e os sentimentos. Durante toda a nossa vida,amigos,ouépore-mail,telefone, telemóvel, os factos e os acontecimentos vividos porskype, facebook, etc., nunca há tempo nós são as experiências de vida e passam apara falar cara a cara. Quando precisamos fazer parte da nossa consciência. Dos factoslevantar dinheiro ou fazer transações, e acontecimentos teremos lembranças epagamentos, recebimentos, transferências, sentimentos, portanto, lembrar-nos-emosetc., fazemos através das máquinas não apenas das nossas experiências de vida(caixas multibanco), os formulários que mas também se elas foram agradáveis oupretendemos preencher são através da não, aprazíveis ou não, marcantes ou não.internet, etc. etc.. Resumindo e concluindo, Quando entramos em contato com o meioa nossa parte afetiva fica afetada … Está físico e social, recebemos estímulos atravésprovado que, a melhor forma de comunicar de nossos órgãos e sentidos. Esses estímulosos afetos, é a gestual e a presencial, onde chegam ao nosso mundo interno e lánão podemos enganar por muito tempo os recebem significações. Julgo saber, que aoutros, enquanto as outras podemos passar nossa vida afetiva é composta de dois afetosanos e anos incólumes. básicos: o amor e ódio. Esses dois afetos estão presentes na nossa vida e também Os afetos valorizam tudo aquilo que estáfora de nós, como os factos e os aconteci-mentos, bem como aquilo que está dentro24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

estão juntos nas nossas expressões, ações além de se manifestarem como emoções,e pensamentos. Não é por acaso que a podem expressar-se como sentimentos.sabedoria popular, nos diz que “o ódio, gerao amor” Sãoasrelaçõesdeamizade,amor,simpatia e afeição, que sentimos pelos nossos pais, A afetividade não se limita a viver por pelos nossos amigos e pela nossa família.estes meros sentimentos, mas sim pelaprática, pela ação que vem oriunda do Afetos podem ser transmitidos por umasentimento. Afeto manifestação ou um impulso de ânimo.é uma atitude,e não somente Os afetos sãoum sentimento. essenciais paraA relação de estabelecer umamãe para com os relação de paz efilhos é um afeto harmonia e con-natural. Já as tribuem para orelações afetivas nosso bem-estarde amizade ou de e felicidade. Pen-amor, necessitam so que ninguémde ser cultivadas. consegue viver sem afetos e cari- Apesar do con- nho… A base deceito de emoções qualquer relaçãocomo expressões interpessoal feliz,da vida afetiva, a emoção dá-se como ex- saudável e per-periência interna, “algo sentido”. Essa ex- feita está nos afetos. Afetividade no olhar,periência inclui a perceção de modificações nos gestos, nas palavras….que ocorrem no organismo, tal como o ba- Muitos de nós vamos à procura de partetimento cardíaco acelerado, que julgo ser dos afetos, quando lêm a nossa Revista “Acomum a todos Voz de Paço de Arcos”, e penso que entre outras funções, também têm a missão de Outras reações orgânicas que acom- nos dar essa parte. A mim têm–me dado, e apanham as emoções e tornam-se indícios Vocês Estimados Companheiros de leitura,de vivências ou estados emocionais do também…indivíduo são: tremor, riso, choro, lágrimas,expressões faciais, etc..As reações fogem ao Luís Álvaresnosso completo controle. Paço de Arcos Os sentimentos básicos (amor e ódio),Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 25

CONTOJá esqueciMeu pai e minha mãe encontraram-se pela primeira veznum cenário móvel e vari-ado de sombrinhas, colari-nhos engomados, chapéusaltos, calças justas, escurase tudo isto num domingo desetembro, quase ao poente.A banda dos bombeiros,disposta no pequeno core-to do jardim, tocava lentasvalsas vienenses e entre asárvores da longa avenida Zélia Carmo Coutinho. (Desenho de Serrão de Faria)caminhavam lindas mulhe-res, os braços enluvados de negro até aos vosos e soberbos sombreando a pele esti-cotovelos, os pescoços apertados em altas cada e lúcida do rosto.gargantilhas de renda. Nas veias dos seus Minha mãe era então uma jovem de 16braços, no ponto onde acabava a luva anos, quase uma criança, alta e magra.de renda negra e sobre a pele cândida Os cabelos escuros encaracolados mascomeçava o brilhante jogo dos cotovelos, macios como asas de certas aves, faziamescondiam colares de conchas, enfiadas um violento contraste com o rosto rosadonuma fita de veludo verde, recordação do e assustado, onde brilhavam dois grandesúltimo verão passado na praia da Nazaré olhos negros. Na fronte, ampla e cândida,ou na da Figueira da Foz e era o sussurro a noite e o dia alternavam-se docementemarinho daquelas conchas que tornava e quando falava ou sorria era como umatão musical o pulsar das suas veias. Ora força gentil da natureza, um elemento detentadoras, ora retraídas, as mãos escon- graça e de pureza como os que existemdidas em regalos de tule pendentes de no ar, na luz, nas plantas, na paisagem. Efitas, as belas mulheres caminhavam de deveria com certeza ter causado uma pro-olhos baixos ao encontro dos oficiais de funda impressão ao meu pai, pois que ele,altos quépis, mangas dos casacos borda- ao vê-la pela primeira vez, caiu da bicicle-das com arabescos de prata, bigodes ner- ta…26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

Essa bicicleta era a única nesta vila, quase macios e ao mesmo tempo agudos, quealdeia, ladeada por montes e campos de convidassem todos a caminhar nas suascultivo onde a terra, sob a erva delicada e veredas até ao cimo do cume.viva, rescende a resina e a fungos, a salva O rio que faria correr por aquele vale deve-e a menta… ria espumejar por entre as pedras, precipi-Ao fundo, o imenso rio. E era para aí que tar-se de penhasco em penhasco numaa minha mãe me levava e eu sonhava que vala profunda, entre paredes a pique eno fundo daquelas águas havia outra montanhas negras de floresta. E quandopraia com algas que emitiam luz, bancos despontasse à saída do vale, na planura,em coral, conchinhas de madrepérola dar-lhe-ia a lentidão e a dignidade deque os peixes, em cardume, rodeavam verdadeiro rio, de leito amplo entre mar-como se estivessem a pedir atenção e afa- gens suaves, de pouca água, esparsa entregos. Mas por vezes o rio zangava-se, cres- seixos brancos e ilhas de areia dourada. Acia em maré-viva, massacrava o corpo da corrente acompanharia até à foz, até aoareia até a deixar juncada de limos e pei- mar, folhagens prateadas de olivais, largosxes mortos. Quando amansava lambia a pâmpanos, agulhas de pinheiro e aquelaorla do seu vestido de espuma e beijava-a erva mole que cresce nas ribeiras. E aotão suavemente que ela acabava por ador- longo das margens quietas poria moradi-mecer nos seus braços. Já a tarde então as brancas sobre colinas verdes, capelasdescia, tarde tépida, longa, em que o azul solitárias entre dois ciprestes-guardiõesdo céu repousava sobre os montes verdes, e queria que no ar ressoassem, desde ma-sobre errantes nuvens brancas. E era nes- nhã até ao fim do dia, os risos das crianças-sas horas que eu, na minha imaginação que a alegria livre e pura da infância, ade moça já crescida, queria reconstru- inocência daquela idade maravilhosa eir esta vilazinha pobre e transformá-la secreta se visse nas pedras, nas folhas, nanuma cidade que fosse minha de tal cor do vento, no chilrear dos pássaros, nomaneira que todos, ao entrarem nela, sussurrar das frondes, no murmúrio dassentissem que aquela cidade era eu, que fontes e no cantar dos campos.aquelas ruas eram os meus braços abertos Mas… tudo isto é um devaneio… O que eupara aco- lherem os amigos. Queria edi- quero na verdade é que um homem bom,ficá-la à saída de um vale ventoso, à beira ao ver-me pela primeira vez… tombe dade colinas verdes de olivais, de vinhas, de bicicleta…bosques e de ciprestes, de azinheiras e de Será que ele já chegou, já me olhou… ecarvalhos e um pouco mais atrás ficariam sorriu?... E eu esqueci?...os montes de flancos selvagens, montes Zélia Carmo CoutinhoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 27

ACONTECE Entrega do Jornal A Voz de Paço de Arcos nº 3 Entrega do número 3 do nosso jornal, pelo Dr. Nuno Campilho, presidente da Junta de Freguesias a Ma- ria Luciana Seruca também na companhia de Serrão de Faria.Salão Primavera A Associação promoveEstá a decorrer desde o passado dia 16 um momen- de Abril, até dia 15 de Maio, o \"Salão to musical.Primavera\", exposição de artes plásticas No dia 8 depromovida pela Associação Cultural \"A Maio actuamVoz de Paço de Arcos\". os MaranusEsta exposição de trabalhos de pintura, e termina nodesenho, ilustração, aguarela, escultura e dia 15 com afotografia, está aberta todos os dias das 15 actuação do PINTURA AGUARELAàs 20 horas (sexta-feira e sábado encerra Coro de San- DESENHO ESCULTURAàs 22 horas) na Estação do Satu/Oeiras ILUSTRAÇÃO FOTOGRAFIAParque. Inauguração 16-04-2016 às 17 horasDiariamente, pelas 17h, com especial in-cidência aos fins de semana, haverá, en- to Amaro de Momento(s) Artístico(s) Poesia, Música, Coros… entre outrostre outros, momentos de poesia, música Diariamente às 17he coros.No dia 7 de Maio (próximo Sábado), pelas Oeiras. Visite-nos de 16.04.2016 a 15.05.201617 horas, Carlos Gutkin, vai protagonizar Uma vez mais, Horário de domingo a 5ª feira das 15h às 20h 6ª feira e sábado das 15h às 22h Marcação prévia para visitas guiadas desafiamos os Apoios nossos ami- gos e leitores a visitar esta exposição, es- pecialmente nos fins de semana de 7/8 e 14/15 de Maio.TriangulaçõesInaugura dia 7 de Maio às 19h00 e vai estarpatente até ao dia 7 deJunho a Exposição depintura/instalação donosso associado LuisVieira Baptista.O Horário é de segunda--feira a Sexta das 10h00às 17h00.28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

BREVESEdifício DannyNo nosso número anterior disse- mos que o edifício “Danny” jáse encontrava livre da contenda queopõe proprietário a arrendatário, oque, viemos a saber posteriormentenão corresponde à verdade, assimcabe-nos apresentar o nosso pedidode desculpas aos nossos leitores pelareprodução daquela informaçãoerrada.Drogaria Casa Franca Complexo Desportivo «Adriano Canas»ADrogaria Casa Franca da Rua Costa Pinto está em liquidação total para Desde 16 de Abril deste ano que,encerramento. O prédio faz parte do o Complexo Desportivo de Por-projecto da Câmara Municipal de Oei- to Salvo recebeu o nome de «Adrianoras de adaptação de edifícios dos centros Canas», numa cerimónia que juntou ahistóricos para habitação destinada a jo- Câmara Municipal de Oeiras e o Atléti-vens pelo que estará para breve o início co Clube de Porto Salvo.das respectivas obras de recuperação.Praia do Lagoal-Caxias Exposição 13º Salão de AbrilApraia do Lagoal – Caxias vai funcio- nar em pleno esta temporada com AAssociação dos Artistas Plásticosa abertura das instalações de apoio, bar de Paço de Arcos – Paço de Ar-incluído, o que é uma boa notícia para tes, realiza o seu «13º Salão de Abril»,os numerosos turistas e locais que a fre- exposição de pintura, escultura e fo-quentam, espera-se que o futuro passeio tografia, nos dias 24 e 30 de Abril, e 1 demarítimo previsto para esta praia, que se Maio, das 16 às 19 horas, no salão Paçoencontra em fase de estudo de impacto de Artes, na Rua José Pedro Silva, 14 B,ambiental não ponha em causa a sua Paço de Arcos (Alto da Loba).continuidade como praia como acontececom a antiga praia junto ao forte de SãoBruno.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 29

ENTREVISTA A MIGUEL PARTIDÁRIOAVoz de Paço de Arcos acompanhou momento exce- a apresentação do livro “Histórias cional. Estou des- que Não Cabem na Cabeça de lumbrado comNinguém” do jovem ator e escritor Mi- o apoio das pes-guel Partidário no passado dia 23 de abril. -soas e sobretudoUm livro assente numa cómica e bem-hu- de figuras tão im-morada crítica social e que promete vir a portantes comodar muito que falar. as que tenho cáA apresentação ficou a cargo da jornalis- hoje, sem dúvi-ta Paula Castelar e do músico Laurent da que dá outroFilipe, com intervenção de António Sam- tipo de confiançapaio da Nóvoa. Fomos falar com o autor para continuar.para saber o que lhe passava pela cabeça V.P.A - Para além de seres ainda muito jo-naquele momento tão importante na vida vem (18 anos), escreveste este livro entrede qualquer artista. os 11 e os 16 anos de idade, não sentes queV.P.A. - Miguel, sei que sempre tiveste talvez possas fugir um pouco à norma daum gosto especial pela escrita, como te tua geração?sentes agora que finalmente tens um li- M.P- Às vezes sinto-me como um extrater-vro para partilhar com as pessoas? -restre…mas é como dizia o Frank ZappaM.P. - Não tanto pela escrita, é mais pela “Sem desvios da norma, o progresso não écriatividade no geral. Mas está a ser um possível” esta citação guia-me na vida e por isso até a introduzi no livro. Sou muito diferente da malta da minha geração, é verdade, mas apenas porque optei por um caminho e por gostos diferentes e porque tive oportunidades no crescimento que mui- tos dos meus amigos não tiveram. Por ve- zes falta-nos coragem30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

para ir mais longe, a mim nunca me ensi- gosto do lado bom da vida e por isso faço anaram a ter medo. crítica que tenho a fazer sempre com boaV.P.A - E queres deixar-nos algumas pis- disposição. Penso que as pessoas poderãotas sobre como é o teu livro? sentir isso quando lerem o livro, toda aM.P - Costumo dizer que este livro é como gente tem gostado precisamente por esseuma receita: bom humor que do meu dia-a-dia trans-400 gr de critica social mito para a escrita.uma mão cheia de parvoíce V.P.A- Impõem-se agora perguntar onde é100 gr de lamechisse que as pessoas podem adquirir o teu livro?150 gr de comédia M.P. - O livro está à venda sobretudo pelauma pitada de filosofia internet no wook, no site da Chiado Edi-e muita muita treta e ingenuidade tora, mas penso que numa deslocação porNunca me conformei com as coisas da exemplo à FNAC ou à Bertrand poderãovida e sempre tive a noção de que é pre- encomendar o livro, também está disponívelciso ter opiniões, pensar, para poder mu- no site deles.dar, melhorar. Daí ser absolutamente Pode parecer suspeito vindo da minhanecessário criticar e repensar a sociedade. parte, mas acredito que vale a pena!Ao mesmo tempo, nunca fui pessimista,nunca me dei a pensamentos depressivos, José Lança-CoelhoO João Pestana Reformou-se (...texto com supressões...)Em declarações à imprensa, a mítica condições para prosseguir! Após uma vida personagem da infância de muitos inteira devoto à causa de adormecer aque- seres humanos portugueses, afir- les “piquenos” irrequietos para que osmou: adultos se possam livrar deles por uns mo--Após vários anos dedicado ao meu em- mentos a fim de recolherem ao quarto e…prego de colocar crianças a dormir, de- fazerem as coisas deles… não me interessa ocidi reformar-me. As razões por detrás que fazem no quarto a meio da tarde; paradesta reforma são unicamente a falta de depois saírem do quarto outra vez, algumasJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 31

ENTREVISTA A MIGUEL PARTIDÁRIOvezes com a roupa ao contrário, e prosse- escolhido. É tido por todos como o maisguirem com a sua desinteressante rotina adequado para o cargo, já por muitas vezesa que chamam vida. Muitos anos em que conseguiu adormecer milhões de pessoasretirei as “coisas” mais irritantes que as mu- apenas falando.lheres criam em 9 meses, mais coisa menos Com João Pestana reformado, cabe agora aocoisa, da frente de muitos pais, mães, avós, ex-ministro das finanças e do estado, Vítorprofessores, etc… para depois o quê? Nem Gaspar, a função de adormecer aquelasum agradecimento? Nem um convite para coisas “piquenas” e irrequietas que muitoficar mais um tempo a beber um café e a comem e recursos exploram… não me con-comer umas bolachas? Nada!? As pessoas denem, é assim que são conhecidas as cri-são muito ingratas! Ainda por cima, nunca anças lá para as direitas.me foi permitido brincar ou confraternizar Vítor Gaspar foi escolhido entre 214.087 can-com uma criança acordada, muitas até du- didatos para a posição. Depois de ter estadovidavam da minha existência! Tudo porque no desemprego (à semelhança das milharesos paizinhos tinham medo que elas, talvez, de pessoas que lá colocou) o ex-ministroaprendessem comigo e acabassem numa consegue agora um emprego diferente daprofissão menosprezada. Tenho a dizer área da sua especialidade (já ninguém lheque a minha função na sociedade é impor- confia um cargo que implique gestão detantíssima! E nunca em situação alguma dinheiro permitindo lucro). No entanto,recebi apoios, o estado não me ajuda. Para Gaspar aceita o cargo. Entende que a suaalém disso, a petição para proporcionar antiga profissão era algo para o qual nãosalário à minha profissão foi chumbada, era talhado. Agora sim, enveredou por umtudo porque todos os pais em Portugal não ramo profissional adequando à sua pessoa.querem dispor de 12 cêntimos por mês para Gaspar adormecia milhões de portugueseseu poder receber um salário decente. Nun- com os seus discursos, as centenas de ga-ca me foram reunidas condições aceitáveis tos pingados a que se chama deputados, opara executar o meu trabalho de forma pessoal do partido, os jornalistas, etc… Ten-prática, no entanto, nunca me queixei, sem- do em conta o seu historial, considera-sepre adormeci os “piquenos” e pouco pedi que não será difícil adormecer as crianças,em troca. Pois eu lamento esta sociedade bastar-lhe-á falar no seu lento e monótonoem que vivemos! Não tendo condições, que- discurso, com a sua voz baixa e calmante:ro a reforma imediata! as crianças adormecem logo! E são capazes de fazer xixi na cama, mas isso já não é pro-O SDAP, Sindicato de Discretos Adormece- blema de Gaspar, quando esteve no gover-dores de “Piquenos”, não se quis manifestar no nunca se preocupou com o bem-estarsobre o assunto, também porque apenas das pessoas, não é agora que se vai começarJoão Pestana estava inscrito no sindicato, a preocupar.não havia mais ninguém. (...)No entanto, com a enorme lista de de-sempregados neste país, já houve muitos Miguel Partidário, in Histórias que Não cabemcurrículos enviados! Um candidato já foi na Cabeça de Ninguém32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

ESTÓRIASAos poucos as vozes tomaram conta da irmãos solenes em cânticos que sobem aos casa, fortes, sonoras, melodiosas… céus…cânticos gregorianos…a atmosfera encheu- Algo quebra o meu torpor, e caiose daquela magia em que a musica se repentinamente nesta sala onde me sento etraduz. tudo me é familiar…Fechei os olhos e imaginei o velho claustro O momento passou, a música ficou, masonde a fonte entoa delicada melodia e os agora são apenas vozes entoando um Tepássaros se dessedentam. No banco de Deun…pedra tocado por tímidos raios de sol de Levanto-me e vou até á janela, lá fora outraum Inverno que faz questão de ficar, está vida, movimento, sons, gente…sentado o velho irmão, as mãos nodosas Além um carro que pára, outro que sai,enroladas nas dobras fundas do seu habito o miúdo que trás a bola, a árvore grandesecular, medita talvez…ou quem sabe abanando ao vento…E assim acaboudormita como uma criança feliz… e Deus lá o sonho. A magia essa ficou no brilhode cima olha e sorri!.. dos meus olhos ouvindo o som que vaiNa capela fria de pedra talhada aquele morrendo, mas que a lembrança guardou.Cristo solene e triste olha lá do fundo…e oanjo de rosto redondo e rosado com suasasas de oiro ouve atentamente aqueles M.G. 33Chegaram hoje. Vieram com seus gritos estridentes de alegria!...Ri com elas gargalhadas de saudade,abrindo cortinas de poesia. Chegaramnegras, luzidias. Atarefadas, alegres,cheias de energia…Meus olhos brilham correndo com elasem vertiginosa alegria.Em voltejos, em bulícios de esperança,que é assim que o meu coração as recebe,e como o frade de Assis, murmurobaixinho, bem vindas irmãs andorinhas!... M.G.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016

ESTÓRIASMULHERES ESQUECIDASNuma reunião informal de seniores Esta mulher, há sempre a tendência de se falar nasceu em Lis- das memórias da adolescência. boa em 1847Foi o que sucedeu um destes dias em que e faleceu naveio à baila, os vários estabelecimentos mesma cidadede ensino que frequentáramos; ou em 1921, foiseja o liceu ou as escolas comerciais e casada com oindustriais. Nesse grupo de mulheres, Poeta Gonçal-havia 3 ou 4, que tinham andado no ves Crespo,Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. foi a primeiraAbro aqui um parenteses, para dizer mulher a ingressar na Academia deque desde muito nova, ouvira o meu Ciências de Lisboa, sob o pseudónimoPai referir-se à igualdade de direitos das de Maria de Sucena. Ficaram céle-Mulheres; Um dos nomes portugueses bres, na época os Serões literários,que citava era o da escritora feminista e frequentados por escritores e poetas naactivista Maria Amália Vaz de Carvalho. sua casa de Loures, Palácio de Pintéus.Quando interrompi as minhas amigas Como escritora, além de poesias, pu-para interroga-las se sabiam a origem do blicou vários romances, como, UMAnome do dito Liceu, ao qual, após a PRIMAVERA DE MULHER, Arabescos,implantação da República assim fora CARTAS A LUÍSA. Assinou tambématribuído… Para espanto meu, olharam Crónicas jornalísticas e ensaios. Foi umaumas para as outras, mas nenhuma soube das primeiras activistas defensoras dosresponder. Então os vossos professores, Direitos das Mulheres.pelo menos os de Português, nuncaaludiram a isso? Pois então aqui vai: - Maria Aguiar34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

ESTÓRIASA vida de Jesuina ra tendo inclusiveAtingir mais de 100 anos não é sido “Mes- uma coisa que se veja com muita tra” de ou- frequência. Por isso vamos fazer tras jovensreferência a uma senhora que já passou que queri-essa idade e reside na freguesia de Porto am apren-Salvo. Foi no já longínquo dia 18 de Ja- der tal ac-neiro de 1903, ou seja há 103 anos, que tividade. Depois denasceu no Monte do Freixial (Santa Su- casar pas-sana) concelho de Alcácer do Sal, a Dona sou a ficarJesuína Maria Soeiro. Na sua juventude em casa atrabalhou no campo como era normal na costurar e a tratar dos filhos que entre-época pois a escola não fazia parte do dia tanto foram nascendo e que foram 5, 3a dia das jovens e depois como costurei- rapazes e 2 raparigas, dos quais são vivas as raparigas. Após a morte do marido ocorrida em 1969 veio para Paço de Ar- cos para casa da filha mais velha ten- do-se dedicado a cuidar de crianças e a trabalhar como costureira em casa das “senhoras”. Há cerca de 30 anos que passou a viver em Porto Salvo em casa da outra filha. Tem 4 netos e 7 bisnetos. Apesar da sua idade avançada continua a fazer a sua vida normal com as res- trições que tal idade lhe exige mas que não a impedem de fazer croché, malha, manter uma conversa bastante lúcida e com uma memória invejável que muitos jovens adorariam ter. “Jesuina Soeiro, uma centenária de Porto Salvo” J. BarataJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 35

TESTEMUNHODinis Antunes, Presidenteda Junta de Freguesia de Porto SalvoOque me levou a ser presidente de encarar todas as questões de frente, ouvir junta? a população e agir o mais rápido que Vim morar para Porto Salvo fosse possível, uma vez que as pessoasmuito novo, por isso, eu cresci com esta esperavam, avidamente, pela resolução delocalidade. Durante a minha juventude, diversos problemas que se arrastavam nodedicava o meu tempo livre na organização tempo.de eventos para a população. Aos 18 Como se pode verificar, sempre estiveanos, já integrava a direção da Sociedade empenhado no desenvolvimento dede Instrução Musical de Porto Salvo Porto Salvo. Sempre trabalhei, embora(SIMPS) que, naquela época, era a única de formas diferentes, para o bem estarcoletividade dedicada à área da educação, desta comunidade. Portanto, a minhacultura e recreio. candidatura foi entendida comoMais tarde, resolvi apresentar a minha imperativa por muitas pessoas. Foi vistacandidatura à presidência da SIMPS. como uma forma de mudança mas, acimaIniciei funções em 2000 , tendo como de tudo, as pessoas acreditaram que eraprincipal objetivo a recuperação do possível mudar Porto Salvo. Como nósedifício, que estava bastante degradado, sempre dizemos, é possível ser feliz embem como o desenvolvimento das Porto Salvo.atividades e criação de outras.Em 2009 , integrei a assembleia defreguesia. Foi aqui que obtive umamaior consciencialização dos problemasda freguesia. A estagnação em quese encontrava esta freguesia, face aodesenvolvimento observado no nossoconcelho, era demasiado evidente. Estafoi, sem dúvida, a principal razão pelaqual decidi candidatar-me a presidente dajunta; era chegada a hora de Porto Salvocomeçar a evoluir; era urgente apoiaras famílias mais carenciadas. Enfim,36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

TESTEMUNHOO que mudou na minha vida por ser abertura depresidente de junta? um polo deA minha forma de estar na vida profissional distribuição deé a entrega total. Sempre agi nesta alimentação aconformidade. Portanto, na Junta não carenciados depoderia trabalhar de forma diferente. Porto Salvo.Contudo, reconheço que existem algumas Temos algunscoisas que mudaram na minha vida. Em sonhos queprimeiro lugar, o facto de não ter tempo livre desejamospara a minha vida particular, uma vez que ver realizadosestou sempre ao serviço desta comunidade brevemente, os(incluíndo os fins de semana). quais passamEm segundo lugar, mudaram as minhas por uma maiorperspetivas de ver as situações, a minha ligação socialárea de ação tornou-se mais humanizada, entre as empresas do Tagus Parque e do La-direi antes, que no desempenho deste goas Parque à nossa Freguesia, bem como atipo de cargo público, o mais importante criação de um centro de primeiros socorrosé sentir a essência do ser humano, aquilo e uma cantina Social com condições paraque se designa por “Humanitude”, ou solucionar problemas graves existentes naseja, a forma como a minha humanidade Freguesia.está indissociavelmente ligada à sua. Nestes dois anos e meio, a Freguesia de PortoEste conceito de natureza antropológica Salvo não é mais a mesma, resolveram-seexplica bem o “sentir”, “ser” e “estar” na vários problemas importantes, fizeram-comunidade; é por isso, que estou sempre se obras desejadas há muitos anos peladisponível para todas as pessoas, estou população, como exemplo, temos asempre pronto a ouvir e ajudar todos os construção da Igreja de São Joaquim efregueses, sem horários. Santa Ana, a Construção do ComplexoNão vou continuar a falar dos valores de Desportivo de Porto Salvo-Adriano Canas.Humanitude por serem demasiados mas, A Freguesia de Porto Salvo está maisquero reforçar que estou empenhado em solidária, nota-se que as pessoas têmtornar esta freguesia mais solidária, mais uma esperança de progresso pois veem adesenvolvida enfim, mais feliz. É neste mudança da Freguesia.contexto que, temos desenvolvido o nosso Porto Salvo, é uma das Freguesias em quetrabalho, isto é, o apoio à ação social, o as forças vivas estão unidas e empenha-apoio a todas as famílias, sem excepção. das no desenvolvimento de Porto Salvo. ALembro-me bem, logo nos primeiros dias quantidade e diversidade de Clubes e Co-quando cheguei à Junta, o número de letividades é enorme e todos com uma boafamílias que nos pediam ajuda para pagar organização, veja-se as vitórias Nacionais ea água e eletricidade era grande. Hoje, tudo Internacionais na área de desporto, Culturapraticamente este problema está resolvido. e Recreio que algumas têm obtido, como é oCriou-se, também, o gabinete de psicologia caso dos Leões de Porto Salvo e da SIMPS,e o Gabinete de ação social e reforçamos O Atlético Clube de Porto Salvo, tem umo apoio às famílias com necessidades papel extremamente importante na for-extremas. Recentemente, efetuou-se a mação da Juventude de Porto Salvo e mui-Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 37

TESTEMUNHOtas glórias deu aos seus associados a longo participando anualmente na corrida dasdos anos. Os quatro Ranchos Folclóricos localidades, O Grupo desportivo União deda Freguesia (Flores da Beira, Rancheiros Vila fria, acarinha os seus jovens dando-lhede Vila Fria, Os minhotos da Ribeira da condições de praticarem um bom futebolLage e a Associação Cultural da Ribeira de 11. A Associação de Moradores do Bairroda Lage) têm-na representado com grande dos Navegadores está a ter um papel pre-qualidade por tudo o nosso pais. O Clube ponderante na organização daquele bairro.recreativo de Leião, proporciona aos seus O trabalho destas instituições é de extremaassociados diversas atividades importantís- importância para uma boa união esimas, começando pelos jovens e indo ao desenvolvimento da Freguesia.encontro dos mais idosos. O grupo Desport-ivo da Lage continua com o seu atletismo, Dinis Antunes, Presidente da Junta de Freguesia de Porto Salvo. Restaurante SIMPS Aberto há A atividade desta prestigiada «Sociedade», vários inclui a escola de música e a muito antiga anos, já banda, onde se formaram milhares de teve outros ge- músicos amadores e profissionais. rentes, e desde 2013, é gerido José Marreiro por Francisco Gonçalves, quemantém a tradição da casa, mas tem feitoalterações nas «listas» para as adequar aogosto dos novos clientes que têm mudadoos seus hábitos e voltaram a preferir a cozi-nha tradicional portuguesa.Entre os pratos tradicionais, destacamos ojá famoso «Cozido Rico à Portuguesa», commuitos apreciadores e, a igualmente muitoapreciada «Sopa Rica de Peixe».Aberto de domingo a sexta-feira, tem umaclientela fidelizada, dada a variedade equalidade dos pratos que apresenta, salaagradável, onde se pode calmamenteapreciar uma boa refeição.Ao lado do restaurante, encontra-se o bar esala de convívio da coletividade centenáriaSIMPS que, como se diz noutro local, seencontram os sócios para os seus momentosde lazer.38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

À CONVERSA COM......o Presidente da AssembleiaGeral da SIMPSASociedade de Instrução Musical de 900 sócios, de Porto Salvo (SIMPS), é uma as escolas de instituição centenária, fundada música têmem 1914. 25 alunos, deA sua Galeria Museu foi levada a efeito várias classes,por uma comissão de sócios, cujo nome que aprendemera a Comissão do Centenário, tendo a tocar todos ossido coordenada por Manuel Felix instrumentos,Roldão, com o auxílio do seu braço A banda é o ex-direito, José Galopim, assim como os libris da SIMPS,restantes membros. onde também se praticam as seguintesNessa galeria podemos observar a actividades desportivas e culturais, como,história da SIMPS, constituída por andebol badminton, ginástica, e ballet.inúmeros documentos e fotografias que Nos diversos painéis que se observamse encontravam escondidas no esconsode uma escada da sociedade, por causa na Galeria Museu, podemosda Revolução do 25 de Abril de 1974, e vislumbrar diversos actos,descobertos em Janeiro de 2014. como as três inauguraçõesA década de ouro da SIMPS situa-se registadas na década deentre os anos de 1931 a 1941, período ouro.de tempo em que foram inaugurados, A colectividade funcionavaa escola primária em 1934, o jardim- como as antigas Casasparque Manuel Pereira Coentro em do Povo, como é exemplo1937, e, a 3 de Agosto de 1941 a sede da significativo a inauguraçãoSIMPS. da luz eléctrica em PortoActualmente, a SIMPS conta com cerca Salvo, ocorrida em 1955. A SIMPS organizava festas como casamentos, baptizados, e estava previsto inicialmente um consultório, e um quartel de bombeiros. Dentro das instituições a mais antiga é a Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo, e a seguir é a SIMPS. As festas são organizadas pela Junta de Freguesia, desde 1998, antes disso, era a SIMPS com as outras colectividades, como o Atlético Clube de Porto Salvo, os Leões de Porto Salvo e a Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo, que as levavam a efeito. José Lança-CoelhoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 39

HÓQUEI NO CONCELHOPerto do fim da fase atual do campeo- em segundo lugar atrás do SL Benfica, nato nacional de juvenis, os clubes depois de uma vitória frente ao Sportingdo concelho de Oeiras encontram-se em Clube de Portugal, por 10-1, enquantosituações distintas. O Clube Desportivo que a Associação Desportiva de Oeiras sede Paço de Arcos acaba de garantir o encontra na disputa do quarto lugar, lugarapuramento para a fase seguinte, ficando esse que será disputado no dia 16 de Abril, em Sines, onde o Oeiras irá defrontar o Vasco da Gama. No escalão de Seniores, o Clube Desportivo de Paço de Arcos encontra- se na nona posição, atrás da Juventude de Viana e do Hóquei clube de Turquel, numa altura em que faltam apenas seis jornadas para o fim da primeira divisão do Campeonato Nacional de Seniores. Guilherme LopesMUNDO ANIMAL social. No entanto a Câmara Municipal deOs animais e a comunidade Oeiras, tem tido um papel activo e integrativo na questão dos animais deAaceitação dos animais como parte da companhia . As campanhas de adopção, comunidade e da partilha de espa- aliadas aos cheques-veterinários e even- ços públicos é uma realidade, contudo tos/feiras animais têm contribuído ainda há um longo caminho a percorrer. para a consciencialização da nossa A mentalidade é ainda o principal comunidade. entrave para uma aceitação em pleno Dia 7 de Maio realiza-se novamente da presença dos animais em espaços de a Feira Animal em parceria com o lazer comuns. Hospital Veterinário de Oeiras; um dia A falta de cumprimento das responsa- bilidades cívicas inerentes a ser portador de actividades para patudos e tutores, de um animal é um dos principais bem como para curiosos e amantes dos entraves à mudança da mentalidade animais . São realizados workshops, demonstrações, campanhas de solida- riedade e estarão presentes inumeras marcas dedicadas aos nossos amigos de quatro patas . Um programa familliar e convidativo que irá realizar-se no Jardim de Oeiras. Martinha Munoz40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

CRÓNICAS por Silvino ValentePedi e recebeis possibilidades humanas e que só terão resolução por intervenção divina. APorque nos criou livres, Deus quer questão não reside no pedir, mas sim no que sejamos nós a colaborar com os que se deve pedir sem contrapartidas ou próprios talentos na construção de promessas.um mundo melhor e consequentemente A Fé diz-nos que o Senhor, conhecedormais justo, não esperando d’Ele a re- das nossas carências, atenderá sempre,solução de todos os problemas, por vezes embora às vezes não o entendamosdifíceis, mas que devem ser solucionados porque os Seus caminhos não são ospor cada um dos Seus filhos. nossos, os pedidos que lhe fizermos. NãoJesus Cristo ilustrou essa responsabili- foi Jesus Cristo que, atendendo às súplicasdade de forma clara quando transformou do Seu povo, deu a vista aos cegos, o andara água em vinho, a pedido de Sua mãe nas aos coxos, curou aos leprosos, perdoou osBodas de Caná, solicitando aos presentes pecadores e até ressuscitou o Seu amigoque enchessem as talhas de água, reser- Lázaro?vando para Si aquilo que não era possível A propósito: não nos devemos esquecerser realizado pelos homens. que também temos de Lhe agradecer…Não devemos, é certo, pedir ao Senhortudo o que nos vem à cabeça, quantas Silvino Valenteve-zes fruto das nossas ambições eegoísmo, mas isso não obsta a estarmosconfiantes que Deus está sempre atentoàs necessidades que ultrapassam asJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 41

CRÓNICAS por José Lança CoelhoA Literatura Portuguesa há meio séculoHá meio século, mais precisa- Raiz; João José mente, no ano de 1966, publicar- Cochofel, 46º am-se de autores portugueses, Aniversário (re-em Portugal, os seguintes livros: união da obraROMANCE – Augusto Abelaira, A En- poética); Joséseada Amena; Y. K. Centeno, Não só Saramago, Osquem nos Odeia; Poemas Pos-ENSAIO – Alberto Ferreira e Maria síveis; MárioJosé Marinho, Bom Senso e Bom Gosto Dionísio, Poesia Incompleta (1936-65);(Questão Coimbrã), vol. I; António José Natália Correia, Antologia da PoesiaSaraiva, História Ilustrada da Literatura Portuguesa Erótica e Satírica; VitorinoPortuguesa, Das Origens ao Romantis- Nemésio, Canto de Véspera;mo; David Mourão-Ferreira, Hospital CONTO – Jorge de Sena, Novas An-das Letras; Fernando Pessoa, Páginas danças do Demónio; Tomaz de Figuei-Intimas e de Auto-Interpretação; Jaime redo, Tiros de Espingarda;Cortesão, Portugal. A Terra e o Homem; MEMÓRIAS – José Gomes Ferreira,Jorge de Sena, Uma Canção de Camões; Imitação dos Dias; José Régio, A VelhaJosé Tengarrinha, História da Impren- Casa. V – Vidas São Vidas;sa Periódica Portuguesa; Luiz Pacheco, Também há meio século, neste ano deCrítica de Circunstância; Tomaz Kim, 1966, faleceram os seguintes homens deExercícios Temporais; Letras: António Pedro, Delfim Santos,TEATRO – Bernardo Santareno, O Ju- Emiliano da Costa, Jaime Brasil, Manu-deu; el do Nascimento.POESIA – Eugénio de Andrade, Poe-mas (1945-65); Fausto José, O Livro dos José Lança-CoelhoMendigos; Fernanda de Castro, África42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

POESIANa sua ausênciaBate-me o coração na boca. Sinto-o tão anatómico e semforte que, às vezes, penso que não é de grandes preocu-mim o som mas da terra onde me deito. pações estéticasDe tanta solidão aceito que por quem amo este desenho aba-me beijes. Tudo o mais verei de cor, cego lou-me muito. Éque estou de mágoa e sol, de desalinho. Tu sentido, forte, in-puxas-me para o caminho e contigo vou tenso, expressivosem ir inteiro. Deixo aqui os olhos para e guarda um desespero que prescinde atéver o meu amor primeiro e a boca para as da definição de sexo. As dores abissais sópalavras que direi. Deixo o espírito, essa na humanidade ocorrem e saber senti-las,tão rebelde ave, e também a emoção, o lê-las e comunicá-las como arte é talentosangue, a vontade. O resto que arrastas de poucos. Takahiro tocou-me tanto que odar-te-á sobras do vinho, pão antigo, sede escolhi para embrulhar a minha e a vossagasta, beijos que a ternura não basta. Mas alma.tudo é falso e de lata porque o ouro delei e a prata, a luz dos dias que tinha não Edgardo Xavier crítico de arteSbrilha na sua ausência. O corpo é este mas A.I.C.A. Portugal.)eu não estou. Poema de Edgardo Xavier, que fará parte dolivro “ Escrita Rouca “ , a sair brevemente, com prefácio de Rita Pais da Fundação SaramagoPeço agora licença para falar desta ilus- Takahiro Shiamatsutração magnífica de Takahiro Shiamatsu.Vi outras coisas dele mais consensuaismas esta serve-me melhor para reafirmarque, em Arte Atual, importa mais o que setransmite em termos de espiritualidade esentimento e menos os registos que ten-tam retratar a realidade objetiva com ati-tude fotográfica e sem emoção. Sem rigorJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 43

POESIA REFUGIADOSA Um Cavalo Imaginário ELESQuantos dariam apostam tudo…Tudo apostam nos filhos...Para sentir apostam na crianças…A vibração que te anima (eles são os seus Brilhos !Desde a crina aos cascos, as suas Esperanças!)Quando indiferenteAo ar que te rodeia ELESInvades o Espaço, a Natureza, chegamRecebes uma carícia desesperadosEm algum regaço molhados e friosOu evitas ser presa, (a tremer)Na faena? e nos caminhos geladosO brilho dos teus olhos, são braços de riosO teu porte, (cansados de sofrer…)A atitude humilde e galanteCom que, ufano, ELESMarcas território, chegam desarmadosFazem de ti, (e têm de lutar)Aos meus olhos, contra o marUm gigante, contra a burocraciaUm ser especial, contra o arame farpadoUm ser… humano! contra a agonia…(Trota, corre, voa! contra a carga militar…Entre o chão e o mito e já não têm medoÉ todo teu, o Mundo.) de morrer : estão na sorte António M. Santos jogados… (e querem apenas VIVER…) Santos ZoioTu e Eu Tu um oásis pleno, eu cheio de sede de amor.Éramos os dois Tu uma fina rosa transbordanteo mesmoe só um. [de aroma,Tu uma ilha virgem, Eu um aprendiz dos sublimes mistérioseu um náufrago sequioso [da jardinagem. [de viver. José Lança-Coelho44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

Para Samira e Viviane POESIAQue mistério da humanidade Mais uma carta de amorSem contrapartidaNasce uma boa nova Ainda vamos poder estudar aUma Mãe dá à vida memória. Talvez para o ano nosVais ser Mãe, Maria deixem ir passar férias juntos…É gritante, o teu louvor sabes, aqui só me resta a paisagemO verbo feito gente, no teu ventre do rio Tejo, e tu meu querido, comoDe uma virgem Mãe, que dá à luz te sentes no teu rio eterno? Por aquiÉ gritante, Maria, o teu dever o tempo tem mais anos que a idade,Ajuda-o a caminhar de riso franco, os homens soltamEnsina-o a crescer a palavra enquanto vou olhando aFala-lhe de amor realidade das lágrimas que me rolamÉ teu filho, Maria pelas faces, com o coração aos gritosQue contigo sorri nas ruas do corpo, algo se quebrouMulher, que lhe deste a vida em mim, pensando no adeus ao Porque lhe tiras a vida? poema. Na última carta que escrevo…Um mar repleto de pétalas de ro- enquanto olho a transparência dassas para Samira e Viviane… minhas mãos e leio um poema azteca com um filho por embalar nos olhos. Ângela Álvares Estou cansada desta terra onde cavo os meus poemas. RosangelaBREVES À SOLTAMês de Maria – Maio 2016 -Recitação Aassociada de «A Voz de Paço de Ar- do Terço, todos os dias às 21.15 h, du- cos», Graça Patrão, convida para arante o mês de Maio, no novo Quartel dos projecção das suas duas curtas metragens,Bombeiros de Paço de Arcos, Bairro Nova «Poetas no Parque» e «Amor em Saint Pe-Morada. tersburg», no dia 19 de Maio, às 16 horas, na Galeria Verney.Oeditor de «A Voz de Paço de Arcos», José Lança-Coelho, lançará a 21 de OClube dos Poetas de Paço de Ar-Maio, sábado, às 16 horas, na Universi- cos (CPPA) apresentará no dia 12 dedade Sénior de Carnaxide, Junta de Fre- Maio, às 16 horas, na Galeria Verney, oguesia de Carnaxide, Centro Cívico, com programa «Os Nossos Poetas Renascemapresentação do escritor Miguel Real, um no Parque», com coordenação de Josélivro sobre a temática da 1ª Guerra Mun- Lança-Coelho.dial, de que se comemora actualmente o1º centenário, a partir de anedotas e textosdo escritor e jornalista-capitão AndréBrun. (ver pág. 46).Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 45

LANÇAMENTOAntologia de textos sobre,e da autoria de, André BrunComo escreve o Major Mário Afonso deCarvalho no seu livro O Bom Humor noC.E.P. – França 1917-1918, «Ao citar estasanedotas e episódios, eu pretendo pres-tar também a minha homenagem - em-bora modesta - à superior inteligênciae ao cintilante espírito de André Brun,essa figura inesquecível de humorista e«blagueur» impenitente, que ainda pou-cas horas antes de morrer, a um amigoíntimo, que lhe perguntava: Então comovais André?, respondeu encolhendo va-gamente os ombros:- Como é que eu hei de ir? Vou de pre-to!...********** pneumonia.Segue-se uma das muitas anedotas que - Abra, já lhe disse!são atribuídas a André Brun, por Luís - Feche, que mando eu!d’Oliveira Guimarães, escritas no seu Comentário de André Brun com o seulivro Memórias dos Outros, e no Século eterno sorriso:Ilustrado. - O melhor é abrir até que morra umaUma boa sentença senhora e fechar depois para que morraA cena passa-se num hotel da capital à a outra!...hora do almoço.Uma senhora ordena ao criado: José Lança-Coelho- Abra aquela janela, senão morro aba-fada.Mas logo que o criado acaba de cumpriresta ordem, outra senhora pede:- Feche a janela senão morro com uma46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CONCELHO DE OEIRASA Linha há um séculoPretende-se com esta rubrica, dar a do também num conhecer personalidades que, por outro, intitulado qualquer motivo, deixaram os seus Fiscal dos Abu-nomes ligados ao concelho de Oeiras, não sos.só, por aí terem nascido ou falecido, mas ACADEMIAtambém, por aí terem vivido durante certos das CIÊNCIASperíodos das suas existências. de LISBOA –ABREU, Joaquim Manuel de Faria Lima Fundada pore – Desconhecido da maioria dos oieren- Aviso régio deses, deixou o seu nome para sempre ligado, 24 de Dezembro de 1779, em finais do sécu-à tão tristemente célebre Torre de S. Julião lo XVIII e em Lisboa, como a maioria dasda Barra, onde a partir de 1827 foi preso, academias, tinha entre os seus fundadores,devido aos seus ideais liberais, que o le- para além dos quatro grandes impulsio-varam a participar nos desacatos registados nadores – o Duque de Lafões, o Viscondenesse ano. Parece, também, que, pela mes- de Barbacena, o abade Correia da Serra ema razão, viria a falecer nas Pedras Negras, o Dr. Domingos Vandelli -, homens comopara onde foi degredado. João Faustino que, ficou célebre pela intro-Deste homem, sabe-se apenas que, nasceu dução dos balões para transporte de pes-no Brasil e que, em 1821, já se encontrava -soas no nosso país.em Portugal, desempenhando um cargo Embora tenha mudado de sede inúmerasna Secretaria de Estado dos Negócios da vezes, foi durante a Monarquia AbsolutaGuerra. Nos seis anos que medeiam esta que a sua estabilidade atingiu o auge, querinformação e a da sua já referida detenção, quanto a privilégios, quer no que respeita àsabe-se que manteve uma polémica com actividade.o padre José Agostinho de Macedo num Contam-se entre os seus presidentes,folheto que deu ao prelo, assinado com as homens notáveis que deixaram os seusiniciais A. L., em que parece inverter os seus nomes ligados à cultura portuguesa, de quedois últimos apelidos, Lima Abreu. apenas citaremos, o Prémio Nobel portu-Como jornalista, foi redactor do jornal guês, Dr. Egas Moniz, bem como o escritordiário, O Brasileiro em Portugal, colaboran- Júlio Dantas. Entre os seus inúmeros sóciosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 47

correspondentes, conta-se o pai da Teoria que Silvestre Aguiar é um dos autores queda Relatividade, o famoso Albert Einstein. saúda Sebastião José pela mercê do títuloEntre os sócios eméritos da classe de Le- de Conde de Oeiras.tras, conta-se o Visconde de Carnaxide que, AGUIAR, Vasco José – A Torre de S. Juliãofoi eleito correspondente em 14 de Maio da Barra é um dos símbolos da história dede 1914, tendo-se tornado efectivo três anos Oeiras, sobretudo, devido à profusão demais tarde, a 26 de Julho de 1917, atingindo personagens que, a ela se encontram liga-finalmente o estatuto de sócio emérito a 28 das.de Fevereiro de 1929, e vindo a falecer em Vasco José de Aguiar é mais uma das que se1935. encontram ligadas a esse cárcere, que tirouACADEMIA LITÚRGICA PONTIFÍCIA a vida a tanta gente, apenas devido às suas– Esta Academia foi extinta pelo Conde de ideias. Porém, ao contrário da maioria, dei-Oeiras, em 1767. xou o seu nome ligado a esta Torre, peloEra pública a inimizade que o Marquês auxílio que prestou aos presos políticos du-de Pombal nutria por D. Miguel da Anun- rante as lutas liberais.ciação, bispo de Coimbra e director da cita- Deste cavaleiro-fidalgo, sabe-se que foi ofi-da Academia, fundada nesta cidade, mais cial da Secretaria do Conselho de Saúdeprecisamente, no Mosteiro de Santa Cruz, Pública do reino; que escreveu um ro-no ano de 1747, pelo próprio Papa Bento XIV, mance chamado Viagem ao Interior da No-com o objectivo de ensinar os sagrados ri- va-Holanda, obra de carácter moral, críticatos, bem como a história eclesiástica. e recreativa, composta por 3 tomos, publica-Em 1758, D. Miguel da Anunciação publi- da em Lisboa, no ano de 1841; e, que faleceucou os estatutos desta Academia que, eram com avançada idade, a 17 de Outubro deda sua própria autoria, no que foi apreciado 1855.pelo Papa, que, entre outras oferendas, lhe ALA, João dos Santos – Este pintor do sécu-enviou a escrevaninha de ouro utilizada lo XVIII, encontra-se ligado ao concelho depelo Concílio de Trento. Oeiras, através do Convento da Cartuxa, emA Academia chegou a possuir tipografia Laveiras, Caxias.própria, onde se imprimiram os trabalhos João Ala deixou-nos pinturas notáveis,do seu director e dos seus membros, até de que se destacam, o tecto da igreja das1767, data em que, o Marquês de Pombal a Comendadeiras de Santos, e os retratos deextinguiu por decreto. alguns padres da Ordem de S. Bruno, queAGUIAR, Silvestre Gonçalves de – Sócio se encontravam no já citado Convento dada Arcádia Ulissiponense, onde tinha o Ordem na Cartuxa de Laveiras, que, maisnome pastoril de Siveno, aparece ligado a tarde, seriam mudados para a BibliotecaCarvalho e Melo através da dúvida. Nacional de Portugal.Embora Silvestre de Aguiar surja nas poe- Foi discípulo de André Gonçalves e,sias de Cruz e Silva, como ambos, junta- mesário da Confraria de S. Lucas, percurso-mente com Teotónio Gomes de Carvalho, ra das Academias de Belas-Artes no nossoterem feito votos nesta Arcádia em 1759, pe- país, desde 1733 a 1735.las melhoras do rei D. José I, a realidade éque tal composição é desconhecida. José Lança-CoelhoDesconhecida é, também, uma écloga domesmo ano, em que o árcade Elpino, afirma48 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016

RECEITAS As Receitas Adormecidas No Baú da Bisa Vou con- tar- -vos tura, parava a narrativa e suspirava). quem Eram agora as casas mais pequenas (apartamentos), que não possuíam es- era a Bisa e o paço para guardar o citado baú. Ainda espólio do seu havia a casa na quinta de Almoçageme, baú (ou é só sendo aí que ele foi alojado na adega. Um o do OUTRO belo dia, recebeu-se um telefonema do que contém caseiro, quase de madrugada, informan- tesouros por do apavorado que a casa fora assaltada e desvendar?). que os larápios tinham levado tudo. Des-Esta personagem, avó da minha mãe, de louças, a roupas, inclusive a televisãonascera em 1846, ficando assim apelida- e a aparelhagem; do roubo só escapara oda pelos bisnetos que lhe deram, até à piano e o célebre baú; talvez por ambosdata em que morreu, com 94 anos. Desde terem um peso bruto. Contudo, aindamiúda que eu ouvia referências à Bisavó, tentaram rebentar-lhe as fechaduras, quecomo tendo sido uma mulher de coragem não conseguiram, mas deixando-o dani-e determinação, que criara seis filhos sozi- ficado. Chamou-se, então, o serralheironha, pois perdera o marido muito nova. para o consertar, o que não foi fácil, mas…Com uma vontade férrea, deixava bem Tínhamos agora ao nosso alcance o con-expressa a sua exigência para que o baú teúdo do baú. Eu e os meus primos obtive-se mantivesse na Família e permanecesse mos licença para o vasculhar à vontade, einviolável. foi com espanto o que lá encontrámos.O apego da Bisa pelo Baú, vinha de longa Uma vez aberto, lá se encontraram inú-data. Contava ela com um certo orgulho meros objectos. Tais como: chapéus, lu-que o mesmo tinha sido do Senhor Mar- vas, mantilhas , bolsas de toilette, lequesquês de Pombal e Conde de Oeiras, quan- de muitas cores, etc. etc. No fundo dodo da sua viagem a Inglaterra, donde baú, estavam as armas (um florete, umtrouxera ideias inovadoras para o Reino. estoque, duas espadas) e várias bengalas,Fora nele que levara todos os seus perten- algumas com o brasão em prata; tambémces, tendo depois ofertado o mesmo a um aí se descobriu uma bela caixa forradaseu servidor de confiança, que foi um dos a damasco com outras menores e ata-antepassados da nossa família! (nesta al- das por fitas de cetim, contendo cabelosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 3 abril 2016 49

RECEITASentrançados, flores secas e também inú- É como se faz agora, não esquecendo omeras cartas, gravuras e fotografias, tão «resta sempre» (folhas de louro), muitaamarelecidas pelo tempo, que não davam salsa picada e azeitonas pretas que devempara identificar, e as receitas, das quais ficar em cima das rodelas dos ovos cozi-retirei apenas algumas, das que hoje lhes dos.dou conta. Permito-me ainda acrescentar, LOMBO DE PORCO À CAMPONESAque em pleno séc. XX, a chamada média 1 arrátel de lombo (750 g) que deve ficarburguesia, tinha uma mesa farta, sendo temperado de véspera com alhos, pi-as principais refeições (almoço e jantar) mentão e 2 chávenas de vinho branco.constituídas por sopa e dois pratos), bem Cobre-se o fundo da vasilha com bomcomo sobremesas variadas. Esta alimen- azeite, banha de porco e 2 cebolas às ro-tação não seria a mais inteligente, mas a das só a alourar. Deita-se então o lombo, efast-food dos nossos dias, também deixa vai-se picando com o garfo dos dois lados,muito a desejar! juntando-se 3 cenouras para fazer cama,(As receitas seguem pela ordem das mais o molho da marinada. (Não preci-ementas e com pesos da época). sa de ir ao forno). Serve-se com rodas deAlmoço : SOPA VERDE DE ERVILHAS limão. Como acompanhamento ficam– BACALHAU Á GOMES SÁ - LOMBO bem espargos.DE PORCO Á CAMPONESA – CREME BOLO DE NOZES COM RUMDE RUM ½ arrátel de açúcar (375 g), e o mesmoJANTAR: SOPA MARIA DIAS – PARGO peso de nozes moídas, 3 colheres de sopaGRATINADO – COSTELETAS ESCON- de pão torrado, igualmente moído, 12 ge-DIDAS – GELADO DE ALPERCES mas de ovos, 1 cálice de rum e chantillySOPA VERDE DE ERVILHAS: suficiente. Bate-se tudo muito bem, sen-Ervilhas, 1 arrátel (750 g); 2 alfaces; 1 do no fim adicionadas as claras em nevealho porro; 1 colher sopa manteiga; 3 ge- Serra da Estrela. A forma deve ser lisa emas de ovos; 1 chávena grande de leite; bem untada de manteiga, antes de ir aoquadradinhos de pão frito. forno. Na hora de servir cobre-se o boloOs vegetais depois de cozidos, passam-se com chantili.pelo passador de rede, juntando depois Como este almoço lhes deve ter aberto oa manteiga e as gemas com o leite, até le- apetite, deixamos que façam a digestão e,vantar fervura. Só na terrina de ir à mesa no próximo número, apresentaremos asé adicionado o pão frito. receitas do jantar.BACALHAU À GOMES DE SÁ Maria Aguiar50 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 4 abril 2016


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