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Flor(em)essencia

Published by Paroberto, 2021-02-03 18:28:00

Description: Flor(em)essencia

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■ José Alberto Vieira ■ 49 Às vezes, vejo o bem e não sinto nada de novo. Às vezes vejo o mal e finjo que não vejo.

50 ■ Flor(em)essência ■ Medo, medo, medo. Oh, ódio! Oh, inverno! Oh, desespero! Oh, estação lunar! Sem ninguém poder estender a mão. Compreender. Ajudar.

■ José Alberto Vieira ■ 51 ... pensamentos de pedra invadem meu sossego...

52 ■ Flor(em)essência ■ Mal começa o dia... a preguiça matinal, a cama desfeita, a cara não lavada, o café da manhã, consolo! Lá fora o sol, o carro à espera, os óculos, um sorriso e uma nova marca para fumar. E as pessoas: olhares toscos do amanhecer.

■ José Alberto Vieira ■ 53 Inconsciência do saber. Insutileza do querer. Roubo do pensamento alcance extremo: loucura.

54 ■ Flor(em)essência ■ O pensamento é a fala do saber.

■ José Alberto Vieira ■ 55 Satisfação do tempo num rosto estático: Morte. Queda da máscara num sorriso: Amor!

56 ■ Flor(em)essência ■ Na reflexão, a luz oscila ou muda apenas de sentido, sem mudar de direção? Mas o meio em que se propaga a luz continua o mesmo se estou com alguém.

■ José Alberto Vieira ■ 57 Pensamentos alheios inundam meu coração. Mas há um que mais me ilude, o meu próprio: há amor no caminho?

58 ■ Flor(em)essência ■ Ideias banais momentos perdidos no espaço estrelas compassos terra nós trancados dentro de nós batalhas guerras a vencer futuro branco/guardanapo...

■ José Alberto Vieira ■ 59 sumiu o amor lixa cogumelo rádio rim rrr rr r ...rrrrrrrrrrrrrrrrrr!

60 ■ Flor(em)essência ■ Amor, amor, amor... Chamei mil vezes amoooor... Apareceu você. Seio aconchegante... Meu pensar, meu pesar. Você fez novamente o que a minha serena razão não explica.

■ José Alberto Vieira ■ 61 Foguete luz lágrima perfume DESATINO DES-ATINO DES-A-TINO DE-SA-TI-NO Nesta noite não posso ter você

62 ■ Flor(em)essência ■ Quero saber, saber, saber, saber, saber, até... MORRER (ou começar a viver?)

■ José Alberto Vieira ■ 63 HÁ TEMPO. HÁ TEMPOS... Há tempo em que ajo Há tempo em que durmo Há tempo em que penso Há tempo em que penso em ser feliz Há tempo em que penso em Jesus Há tempo em que O vejo preso a uma cruz Há tempo que eu sou eu Há tempo que não sou ninguém Há tempo que procuro alguém Há tempo que ouço conselhos Há tempo que confio neles Há tempo que dizem quem devo ser Há tempo que choro Há tempo que perdoo Há tempo que ensino Há tempo que eu não aprendo nada

64 ■ Flor(em)essência ■ Há tempo que não sei o que fazer Há tempos em que penso na história Há tempos em que fui enganado Há tempos em que sou rei

■ José Alberto Vieira ■ 65 Há tempo que penso nas mulheres Há tempo em que as faço felizes Há tempo que penso mudar de vida Há tempo que estou na adolescência Há tempos em que penso que sou eu o maluco Há tempo que não sou ninguém Há tempos em que querem que seu seja alguém Há tempos em que penso no bem Há tempos em que sou feliz Há quem pense no que eu deveria ser Há quem pense que dou prazer Há momentos em que eu sou eu mesmo Há momentos em que me querem assim Mas maior é o tempo de eu estar só sem tempo

66 ■ Flor(em)essência ■ Modos de metamorfose crianças desiludidas não suportei Preconceito medo a isso ultrapassei Medos desespero chorei Metamorfose coletiva vida renascida espíritos renovados modos bem empregados Mas o medo do dia a dia do furor do trabalho da miséria e da fome continua...

■ José Alberto Vieira ■ 67 S.O.S um coração um desejo estridente um grito um tiro tudo guardado com fungos só o grito ainda rói

68 ■ Flor(em)essência ■ DANÇA Um covarde Um herói Não sou um não sou outro sou os dois em simultâneo

■ José Alberto Vieira ■ 69 Olho nos teus olhos a boca seca o coração em pasmo ... descubro-me a sorrir ... Bah! Eu te amo Eu te amo, baby Baby, deixa que eu te pegue te carregue no colo devagarzinho... Como tu gostas Que estranhos que bons esses sentimentos Salmos de amor Salvos pelo amor SALMOS!



■ José Alberto Vieira ■ 71 ■ Sobre o autor

72

Para além da esquizofrenia José Alberto Vieira, aos 17 anos, enfrenta os desafios de sua adolescência: sexualidade, conflitos familiares, primeiro amor, mudança de casa, de país, de tudo. Durante sua permanência na Ilha de São Miguel, Arqui- pélago dos Açores, Portugal, foi diagnosticado como portador de esquizofrenia, transtorno mental caracterizado pela perda de contato com a realidade, gerando situações em que a pessoa, fora da sua condição habitual, passa a ter alucinações, ouvindo vozes estranhas nas quais acredita, e vendo aquilo que, na verdade, não existe. E também reações de isolamento, embotamento afetivo e sintomas de desconfiança e perseguição. É uma situação difícil porque a família não está preparada para agir nessas circunstâncias, quando os delírios se sucedem e as construções de ideias falsas aumentam, ocasionando uma verdadeira confusão na mente do adolescente que, até então, tinha vida comum e feliz. Com José Alberto foi assim. Com uma infância experien- ciada numa família de cinco filhos, aluno bem comportado e com excelentes notas, praticante de jogos esportivos, dedicado à música desde muito cedo, criativo, saudável, com muitos amigos, dos quais era líder, e com todas as virtudes de uma pessoa em desenvolvimento, foi acometido pelo transtorno. Diagnosticado ainda no princípio da manifestação do quadro, conseguiu manter-se no seio da família, com acompa- nhamento psiquiátrico, assistência psicológica e terapêutica, tendo sido internado por ocasiões em que o surto exigia cuidados especiais. Medicado ininterruptamente, e com o apoio da família

74 e dos profissionais, venceu as piores fases da doença. Hoje, aos 47 anos, consciente das suas limitações, consegue manter-se em atividade, administrando a própria vida. Há sete anos está sem hospitalizações. Esta obra foi concebida com o propósito de compartilhar que é possível ao portador da esquizofrenia, se amparado pela família, por equipe multiprofissional, e, sobretudo, sob o controle diário da medicação, alcançar, manter e gerar dia a dia uma existência saudável, tranquila, intensa e feliz, vivendo para além da esquizofrenia. ✳ ✳ ||||✳ ✳



Livro diagramado com as fontes Minion Pro e Roboto Slab. Publicado on-line pela Editora Arte & Livros em fevereiro de 2021.



José Alberto Vieira, com seus habituais devaneios poéticos, perturbados agora pela oscilação entre o real e a fantasia delirante, e consciente da dor que o aflige, indaga-se sobre a razão das mudanças relacionadas a estudo e trabalho. E se pergunta: “Quem eu sou?” E a si mesmo responde: “Sou o mistério do Sol”. Assim é mesmo sua vida: “dissolvida” entre o sofrimento frequente e a coragem combalida. Em momentos de lucidez, quando consegue juntar os seus “eus”, constante e dolorosamente fragmentados, persevera na ideia de que os caminhos que levam à paz devem ser construídos passo a passo, com otimismo, ternura e confiança. 9 788583 880998


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