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chuva de estrelas2

Published by Paroberto, 2019-07-29 18:38:11

Description: chuva de estrelas2

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alguém se apieda sobre os templos nota em meus óculos nas elevações das torres a lente faltante... cegonhas se aninham e a recompõe gratuitamente seus ninhos – Buen Camino, peregrino... de impávidos filhotes... e sigo em frente entardece numa prece de agradecimento e chegam Igreja do Santo Sepulcro em revoadas os corvos San Pedro de la Rua ponteando de preto portadas de San Miguel a abóboda celestial vagando no tempo românico anunciando o Ângelus semântico entardecer... nos cimos das catedrais... porções do Caminho nos campanários bênçãos os sinos dobram espectros de luzes o aceite da noite me vou sonâmbulo sem sair do lugar... **50** Chuva de estrelas

eu menino o hospitaleiro apaga as luzes olhos infantes também me apago alma elevada entre roncos e sonhos... cegonhas, andorinhas, corvos o pensamento todos peregrinos numa amanhã de pouco sol chegam dos campos distantes coroando os meus passos para ali se acolher antes ainda sonhar a alma já saciada os sonhos alegóricos agora busco o sacio do corpo e mais estranhos no menu do peregrino numa enxurrada de momentos mastigo o pão sou um espírito errante e degusto o vinho... no lusco-fusco da madrugada vinhas, sangue rutilante um mosteiro de luzes nele me rejuvenesço ressurge solitário lá longe.... e me recolho ao saco de dormir... **51** Jairo Ferreira Machado

Fonte de Irache Villa Mayor de Monjardín ali saboreio os meus olhos assim o vinho derramado mareados de lágrimas... e me embebedo Castelo da fecunda vida... de San Esteban de Deyo a força do vinho espanhol ouvidos atentos o sol os badalos dos sinos no apreço da chegada... entoando o advento parreirais de uvas do alvorecer... devaneios de resveratrol Los Arcos num lençol de campos... como arco triunfal Azqueta abóbadas elípticas diligente sobre a colina o sol se infiltrando por elas Pablito me espera projetando sombras nuas com o seu cajado de aveleira no meu chão de ruas... na doutrina do ensinar... **52** Chuva de estrelas



Ermita de San Blás mas o Caminho é chama... Igreja de Santa Maria calças e botas do século XV umedecidas de chuva e sereno agora meu corpo se agiganta opulência de espiritualidade... na vastidão das calçadas os sinos a minha frente badalam as horas um casal de peregrinos caminha as auroras avocam no apraz do silêncio os gorjeio dos pássaros incomum alvorecer sensação num repente no meu templo ambos começam a cantar entro e saio uma canção morna a todo momento salutar eloquência madrugada e harmonia uma chuva fina intermitente a paz de uma manhã venturosa o meu corpo ardente implorando que eu não vá **54** Chuva de estrelas

seguido café da manhã a incomum ocasião bocadilho num instante presunto romano São Pedro os agracia uma xícara mandando a chuva parar de café com leite é a aurora no regozijo e o sol pede licença de uma conversa sã... para também caminhar... arvoredos Viana se curvando sombrios palácios remotos nos percalços vielas de um verde túnel no entreposto da gastronomia sou peregrino de meus passos... chão de folhas sobrepostas ao Caminho num leito macio o descanso dos meus pés **55** Jairo Ferreira Machado

catedrais outro dia o sol da tarde trilhas de chão batido vazando os vitrais flores, amores-perfeitos caleidoscópio iridescentes numa poça d’água vagando reflito os meus feitos em meu olhar num peculiar a pouca luz buquê de nuvens... salpicos de estrelas botas e bolhas no meu chão brumas pelos campos de alegorias na seqüência da estrada um passo atrás lamentos calados... e me desprendo mais um pouco longa e infinda passagem das coisas materiais o meu íntimo ao menos tento... na imensidade da luz **56** Chuva de estrelas

o cajado Logroño meu sustento capital da Rioja meu Senhor... o sangue vinho santificado vou peregrino menino mergulham em minhas veias esplendor de emoção anunciada consagração Santiago de Compostela, o gótico e o sagrado Tiago se misturam homem apóstolo ao mundo industrial santo o povo oferecendo passado, presente, futuro a indiferença no Caminho dos meus passos... na cobiça da modernidade Felícia anciã Navarrete na oferenda agora peregrino gente dos figos e da água fresca San Juan de Acre boníssima mulher... me acolhe de braços abertos **57** Jairo Ferreira Machado



vieira símbolo Polvo, barro, sol e lluvia mãos espalmadas acenam es el Caminho de Santiago. setas amarelas falam Millares de peregrinos diretas Y mas um millar de anos. às meninas do meu olhar... Peregrino. Quién te llama? sol Qué fuerza oculta te atrae? raios estendidos ao longe Ni el Campo de las Estrellas o sentido único: Ni, las grandes catedrales. Santiago de Compostela... No es la bravura navarra, muros poemas ni el vino de las riorjanos de Eugênio Garibay ni los mariscos gallegos Nájera ni los campos castellanos. entre muralhas e morros Peregrinos... Quién te llama? a poesia me enaltece Que fuerza oculta te atrae? Ni lãs gentes del Camino Ni lãs costumbres rurales. **59** Jairo Ferreira Machado

No es la historia y la cultura Igreja Ni el galo de La Calzada, Santa Maria de la Real Ni el palacio de Gaudí, marco incomparável Ni El Castillo de Ponteferrada. reis Navarros panteões Todo lo veo al pasar, frondosas árvores e sombras y es um gozo verlo todo, entoam miragens... mas la voz que a mi me llama Azofra La siento mucho más hondo. a hospitaleira La fuerza que a mi me empuja Maria Tobias La fuerza que a mi me atrae, de risos e acalantos No sé expicala ni yo seus prantos Sólo el de Arriba lo sabe! e lágrimas... o rio Yalde Santo Domingo de La Calzada nos ares da idolatria lendas águas verdes que o galo canta multicoloridos patos a prosperidade monastérios do peregrino que se vai... e seus infindos mistérios... **60** Chuva de estrelas



Catedral del Salvador chega sepulcro a nebulosa madrugada de Santo Domingo lanternas acesas vitrine de galináceos alumiando minhas incertezas... rios de imaginação Belorado Santo Domingo sol dourado arquiteto mor refletindo a sua luz senhor das pontes na relva e dos mil horizontes alguém de longe aclama translado de rodas “buen camino, peregrino” canções entoadas ... procissões era prece Santo Domingo de La Calzada ... “promessa de vida estreito de ruas no seu coração”... plátanos das praças folhas emplumadas sombras, avejões **62** Chuva de estrelas

passageiro de mim ao longe passo a passo vou peregrino o céu se mostra no compasso do peito pleno índigo a certeza da chegada aos olhos peregrinos o rio Oja montes de Oca livre adiante de temidos a sagrados... entre ribanceiras e arbustos imensidão lá se vai... San Juan de Ortega Viloria de Rioja Monastério escombros lembranças capitéis de Anunciación... San Domingo equinócio primaveril relicário de pontes noite e dia são irmãos relíquias raios de sol dos séculos ancestrais se infiltram na escuridão e desenham poças de luzes no meu coração **63** Jairo Ferreira Machado

ao longe se exaltam beirando o rio Arlanzón torres e campanários El Cid descansa em paz num inusitado panorama a sua fatal espada Burgos à distância se projeta no cenário... paira Hontanas Catedral entre pedras bolhas e lágrimas de Santa Maria no meio do nada patrimônio cultural os realces longínquo do céu... vitrais reluzentes a sina de ser ruínas bênçãos no tempo presente torrões escarpados Monastério de Lãs Huelgas, soltos despejados pelo Caminho... albergue Seu Vitorino Parque El Parral e seu show “El Porrón”. peregrinos se agregam ali de corpo e alma chuva torrencial **64** Chuva de estrelas



Boadilla del Camino Carrión de Los Condes impávido pecaminoso Igreja de Santiago o rolo da jurisprudência Românica romântica o passado presente nos enigmas de outrora de um tempo não passam sem clemência em brancas nuvens Igreja os Cavaleiros Templários Santa Maria del Castillo irmãos Terradillos... Monastério dos Beneditinos El Burgo Ranero entre ruínas finda o dia descansam os peregrinos... o sermão que cala Frómista hospitaleiro aos poucos a entrada da noite... fica na lembrança... **66** Chuva de estrelas

certo peregrino Leon requer leoninos uma segunda sola do pé peregrinos se vão palmilha artificial mas tampouco o povo inteirando a sua própria lhes arremete consumida um olhar de aceitação... pelo Caminho... Santa Maria de Regla amanhece vitrais reluzentes e o peregrino se vai alumiam o altar no lusco-fusco de uma manhã lá estão os noivos nebulosa imponentes de pensamento o parco andar da dor num instante Mansilla de Las Mulas certo peregrino molambos de corpo ignora a privacidade cerimonial muralhas de alma... e num gesto de altivez toma a sua vez a hóstia santificada... **67** Jairo Ferreira Machado



o paladar Villar de Mazarife do pão ázimo montículos de pedras consagrado igualmente petiscos de rochas na boca dos demais totens que o admira evocação espiritual à distância do altar mistérios do Caminho... requintes pedra filosofal de uma fidalguia jazigos peregrinos charretes perfiladas profusão de almas cavalos quarto de milha na imensidão... lá se vão os contraentes hospital de Órbigo à luz da paixão perdura-se lá momento a ponte do Século XIII em que retornam por onde desfilam dos longínquos campos peregrinos de agora revoadas de corvos nas pegadas de outrora contornando as torres da igreja **69** no ensejo de um pernoite Jairo Ferreira Machado

passarelas vasta sina no marco das alamedas à luz de mim mesmo traços arquitetônicos floresce na relva sinuosos arcos triunfais a selva na homilia do templo... que ainda sou Astorga meus pés se vão palácio Episcopal complacentes e ordeiros... de Gaudí a galhardia Foncebadon pedras róseas entre místicas ruínas góticos entretons facetas se desnudam cruas num cenário altaneiro entre pedras e ruas Rabanal del Camino cães vorazes pedras à revelia contumazes amigos do homem nos campos lavrados nada mais buscam caminham que a mansidão da lua cheia... meus passos abençoados... **70** Chuva de estrelas

não importa o sol à frente e tampouco a chuva uma placa suscita vou peregrino me compondo Caminho Cultural Europeu magnânima poesia escrita nas sendas do meu coração em letras garrafais vivendas, harmonia nos anais do tempo santificadas benfeitorias a comunhão de povos no complemento nas obras de antigamente... a mochila relicários da ciência tanto quanto o saco de dormir na revelação da filosofia levo o cajado na exatidão da matemática fincado ao chão nos traços arquitetônicos minhas botas deixam marcas a mais pura sabedoria a cabaça d’água Sócrates, Galeno, Hipócrates pendurada à cintura... **71** Jairo Ferreira Machado



diligente coisas materiais numa linguagem universal indevidamente guardadas vai passando nas entranhas do meu ser de mochila em mochila que aos poucos de mar em mar deixo pelo Caminho de morro em morro... em meio a cultural mundial aos tantos pesos e medidas num só pensamento os meus pretensos vícios... lá vai o peregrino olho para dentro de mim mesmo com seus pertences e tudo que sinto as roupas poucas é a saliva mil vezes degustada a gula, a ira louca a boca seca calada... a preguiça, a luxúria uma sopa de letras a soberba, a avareza na fome do meu saber vaidades e dúvidas... histórias esquecidas e as muitas outras nunca narradas **73** Jairo Ferreira Machado

passadas águas os meus sentidos no deságüe de amenidades embevecidos sigo o meu destino... do calor que exausta os meus rins desaguando na exata soma as demasias de um sol escaldante... e os resquícios de suor meus músculos doídos não entornados meus tendões cansados pelos meus poros magoadas se vão meu coração bate forte minhas unhas na estrada... a sorte lânguidas falanges de uma sombra de árvore nas raízes de meus pés à beira da estrada os vieses meus ouvidos tamanhos de um cansaço santificado... colhem da relva a lassidão que me abranda o chiado amigo é luz de um desértico grilo que aos poucos do meu corpo cintila **74** Chuva de estrelas

tanto quanto a deixo pra trás o Caminho meu templo templário me leva de retorno num cenário de luzes: ao útero materno a energia vital – via Crucis e no berço da trilha alados ao Caminho amamento o meu ego os monturos de pedras minhas bolhas se calam que são lágrimas cadentes meus jardins elevados... se desprendem do meu céu meu peito se transborda e me faço emoção mais consciente meus segredos guardados cordilheira de morros segregados suspeitos... pecados largados suplícios entornados paro e ajoelho o meu pedido de perdão... **75** Jairo Ferreira Machado



não importa o país nas ruas de meus olhos a cor da bandeira correm os meus pais os cavaleiros templários a minha etnia, a minha crença cristãos peregrinos iguais... no combate aos mouros alta e soberana um e outro a Cruz de Ferro me acolhe morrendo a cada instante em seus também morro braços amenos tanto quanto com eles vivo sorrisos de contentamento sangue derramado o meu corpo levita na defesa da fé em sublimação... que sequer tem um dono pedra a pedra rosário de prece uma montanha se apruma escorrem de meus lábios amontoados de preces rezas de quermesse em franca comunhão... **77** Jairo Ferreira Machado

Manjarín berço esplêndido exótico, rústico, emblemático de San Tomás de las Ollas temático sobrevive ali Villafranca del Bierzo solidário “a Porta do Perdão” o último dos templários indulgências solícito à quem se abdica da chegada nas necessidades do ser entre Conventos Molina Seca e Colegiatas entre encostas caminha vago Palácios e Castelos o córrego Meruelo Igreja de Santiago no seu remanso de lava-pés nas raias itinerantes o meu salutar descanso entrelaçam Ponferrada o místico e o sagrado via dos minérios Jato está por ali peregrinos temporários no cerimonial do fogo Castelos dos Templários... labaredas de acolhimento... **78** Chuva de estrelas

transcendo-me mochila pesada entre magos e ruínas botas úmidas, lamacentas meu passado presente o Cebreiro nos altos Alto do Cebreiro santificada montanha palhoças galegas beleza tamanha... galáxias os celtas na Galícia se deleitam me estendem as mãos belezas sem par... me conduzem morro acima à distância se alonga irmãos íngreme agreste me ajudam a carregar chovendo nos meus olhos a mochila pesada nuanças de outeiros... o místico invade no Cebreiro meus sentimentos me deixo consumir longe do desprovido ter como se preciso fosse me agiganto sofrer, crescer pequeno no meu ser escorregar, cair me levantar e seguir... **79** Jairo Ferreira Machado

meus olhos derramam águas ressurjo da minha infinita ausência lacrimosas cacimbas Santo Graal fluindo emoção o Cálice Sagrado pelo vão das minhas sendas meu espectro espiritual paredões de concretos em mística exultação... margeiam os penhascos então me inclino e distantes se vão de joelhos ao chão meus olhos na imensidão santificado prisioneiro do passado o templo me acolhe meu ser se enaltece e me abraça na força da oração... ternamente sou dele... renasço no interior de um templo o meu tempo minha alma reluz passado, presente, futuro plena menino moço mineral dourado homem que lapida aos poucos peregrino de mim mesmo os meus sentidos loucos **80** Chuva de estrelas



o místico emoldura alto do Poio o meu simplório ser Fonfria, Biduelo, Triacastela numa benção de candura... Monastérios sou um celta de San Pedro e San Pablo... renascido da submissão beneditinos senão um druida renascentistas, barrocos na eterna busca do perdão... fraquejo ali minhas pestes sou todo Cebreiro vestido em poucas vestes no céu meus sentidos loucos uma ave se agiganta céu azul asas ao vento nuvens esparsas a passos largos me vou a Galícia me chama... místico, irreverente galáxia elíptico piso o chão de minha existência entoo com ela no meu vão de trevas... um voo de imaginação **82** Chuva de estrelas

dentro em mim pedra irremovível aquilo determinação que eu nunca saberia ressentimentos se não ousasse caminhar coração-pedra os passos de Tiago lousa rústica inacabada... vísceras cordilheiras células por células incógnitas veredas seladas, compactadas densas sarjetas no meu corpo viril escombros... me pergunto: dentro do meu ser quem sou? o quê sou? sou chão batido rigidez criada solo infértil ofuscado ensinada olho-me compactada mas tampouco me vejo desde os idos tempos ou se me vejo tropeçando a vida estou inacabado **83** Jairo Ferreira Machado



me basto o ocaso se adianta solto a mochila ao chão agora e junto com ela o céu derrama as minhas ambições em meus olhos me deito pingos da noite fecho os olhos uma prateada sou apenas um peregrino chuva de estrelas... cansado... Santiago de Compostela fluídica aura minha casa distante me cedo ao vento por instantes sou feito a minha família, os amigos um cordato galho verde bem junto de mim... o sangue flor maravilha corre em minhas veias que se desabrocha como um rio manso aos poucos... um remanso de águas cálidas **85** Jairo Ferreira Machado

me faço oração em silêncio longe ficam ouço a seiva os pequenos povoados se fazendo vida pueblos nas plantas ao redor pessoas tal como escuto que me saciaram a sede o soar das borboletas rezo por eles... que voam rei Alfonso IX senão a própria aranha peregrino medieval no tecer das teias... Igreja de Salvador me levanto Convento de Agostinos e novamente sapiências afins... Caminho Portomarín sorrio cavaleiros Juanistas os meus risos contidos hospitaleiros não sou mais menino às margens do rio Minho tampouco homem sou peregrino **86** Chuva de estrelas

Gonzar minhas aurículas e ventrículos gozando o olhar pulsam gozo íntegro em uníssonas sincronias de órgãos e alma... santificada húmus energia vital amortecem o meu pisar vitaliza os meus pés tampouco abranda ouço os meus próprios passos a minha exaustão flutuo... inalo o ar nos meus riachos que vem dos bosques sou o meu sangue casto oxigênio em mansidão noviço sou caio de meus penhascos ingênuo no meu ser me banho meus alvéolos agradecem nos meus lagos e se expandem saciados **87** Jairo Ferreira Machado

Ventas de Narón cães mansos vadios Palas del Rei vão na trilha de um cio flores ladeiam as trilhas vagando comigo perfumosas vias peregrinos também... em minhas pegadas... infindas pastagens alguém me deseja vacas mugem na Galícia ... Buen Camino, peregrino... a escuridão dos galpões e o clamor enigmas e senões... das palavras decerto se perguntam me ressuscita o tino o que se passa lá fora? sou flecha uma esperança voa atirada de um arco e em suas asas indo a boa aventurança... a ventos soltos milharal verde, plantações Santiago de Compostela **88** Chuva de estrelas

debrum de espigas e não importa, se não são... em Melide, ostentação o caminhante põe fé igrejas românicas e a seu jeito do século XII chega à Catedral poesias de montão de Santiago de Compostela chuva fina ocasional Arca, Monte do Gozo não faz mal algum Rua de São Pedro um pingo, alguns pingos Porta do Caminho peregrinos se vão... Casas Reais de passo em passo Praça de Cervantes novos andantes se incorporam Rua da Azabacheria ao Caminho setas amarelas vieiras grandes contingentes captam as luzes de meus olhos talvez turistas? galopando o meu coração E ainda que sejam são peregrinos também! **89** Jairo Ferreira Machado

o meu Caminho na Catedral, adentro-me às naves de trilhas, setas e sonhos... e me sento o meu templo as pernas bambas do cansaço se pronuncia amplo a mochila companheira em inabalável felicidade encostada ali Santiago de Compostela junta ao fiel cajado... me acolhe me ponho de braços abertos de frente pro altar no espaço de uma praça central as lágrimas me rolam pelo rosto me agiganto a volição da chegada... diante da Catedral... Santiago de Compostela enfim olho para os meus pés o meu prêmio maior e os agradeço vã ilusão... dobram os sinos da catedral **90** Chuva de estrelas



sinto que dobram para mim santidade é meio-dia o altar reluz a ouro estou na igreja e se move o turíbulo e a felicidade me enseja... botafumeiro Missa do Peregrino ora vai ora vem Botafumeiro pêndulo uma névoa de fumaça se espraia num imenso relicário aromática fragrância de incensos... em sã liturgia... grupo de religiosos o meu templo corporal em contínuos arrojos se revigora pleno espiritual de cordas acordam a roldana que se move solitária no cimo da Catedral... o Botafumeiro dança em meus olhos **92** Chuva de estrelas

à pujança da prata joelhos fincados no acaricio ao piso da catedral de meus sentimentos peço perdão purificação agradeço audaz lenitivo meus olhos vertendo um rastro lágrimas em profusão... de fumaça branca cinza sou celebração se faz labaredas benção, emoção no meu recinto uma unidade Santiago de Compostela irmanado e o Caminho aos peregrinos irmãos... que parecia chegado ao fim o Pórtico se faz recomeço... Glória do Apóstolo Tiago Apocalipse sou um ser revigorado e renovado... **93** Jairo Ferreira Machado

Santiago de Compostela mas não é o fim... sua imagem tampouco Finisterre será... fala pelos meus anseios... a cerimônia de purificação louvo a Deus se faz recomeço e abraço o Apóstolo o Caminho no Altar Mor apenas me conduziu meus olhos são lágrimas a caminhar rios, ribeirões... pelos meus riachos moro em mim mesmo e sendas de dentro... em novo endereço agora mais ser que fui antes o meu corpo sacrário meus neurotransmissores hospedeiro de mim se dobram minh’alma sem fim e se redobram me faço constelação aos caprichos da sensatez **94** Chuva de estrelas



elos de uma corrente meu momento reencontro de estrelas cadentes é de ressurreição a minha luz própria renasço enfim, mais lapidado estou e me concebo meu coração sorri o Caminho há de continuar por fim, perdoo. ad perpetuam... Praça do Obradoiro
os sinos da Cate- em minhas veredas dral badalam enquanto houver Caminho talvez me dizendo: enquanto a vida me permitir retorne a sua casa peregrino só então me vejo perdido em meio aos turistas que fotografam o Altar da Anunciação **96** Chuva de estrelas



“Se calarem os poetas, as pedras falarão” Se fecharem os caminhos, muitas trilhas nascerão “Me chamaste para caminhar na vida contigo Decidi para sempre seguir-te e não voltar atrás Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma É difícil agora viver sem lembrar-me de Ti” (Padre Zezinho) **98** Chuva de estrelas


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