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Revista Cultura do Automóvel - ed. 35 - maio22

Published by Paroberto, 2022-04-29 21:21:45

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No 35 – maio 2022 cultuaraudtoomóvel automóveis e motocicletas lançamentos - impressões - história Encontro de Águas de Lindóia Gurgel, a história og pozzoli cugnot lingotto

EDITORIAL Máquina do tempo Alguns amigos, às vezes, me perguntam qual é o a máquina funciona mesmo? motivo para que eu nnn edite, todos os meses, esta revista Cultura do Automóvel. O mesmo acontece sempre Além da satisfação de ver uma que eu revejo o filme Roberto publicação da forma que eu Carlos a 300 km Por Hora. sempre vi, desde pequeno, e Ver como era o autódromo de sempre trabalhei, há 46 anos, Interlagos mais de 50 anos contar histórias antigas é, atrás, justamente quando eu como eu já disse muitas vezes, comecei a frequentá-lo, me uma máquina do tempo. transporta para lá. Pena que ele não é mais assim. Virou Interrompi por uns instantes um shopping center. a edição da reportagem sobre os carros da Gurgel – ou “do” nnn Gurgel, como eu prefiro me E mesmo com os pés bem referir –, para escrever este fincados na realidade atual, editorial, enquanto a máquina qualquer um pode sentir-se do tempo ainda me mantém no passado, bastando visitar nos anos 60. É que não faço um encontro de veículos e apenas uma pesquisa para outros objetos antigos, como relembrar detalhes que se o grande Encontro Brasileiro perderam na minha memória, de Automóveis Antigos, que utilizo exatamente a máquina voltou a acontecer em Águas do tempo para voltar ao de Lindóia, depois de uma passado e reviver tudo aquilo pausa de dois anos. Aproveite. que vi ao vivo e está guardado na minha mente. E não é que 2 Maio 2022 Cultura do Automóvel

NESTA EDIÇÃO 35 No 35 - Maio 2022 sumário 04 7o Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos O tradicional encontro de Águas de Lindóia voltou 06 A história da Gurgel Conheça o início da saga do criador, João Amaral Gurgel 26 A coleção mais tradicional do Brasil Og Pozzoli colecionava automóveis e histórias 30 O primeiro automóvel do mundo Nicolas Cugnot criou também o primeiro acidente 32 Uma fábrica vertical Prédio da Fiat em Turim tinha cinco andares e uma pista 36 O museu do Centro Cultural Movimento Acervo que conta histórias de motos em Socorro, SP 40 Chevrolet Monza faz aniversário Está fazendo 40 anos que ele chegou para nós 44 Carros no cinema Conheça o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora Cultura do Automóvel Maio 2022 3

encontro ÁLgiunadsóidae O maior encontro de veículos antigos do Brasil 44 MMaaiioo 22002222 CCuullttuurraaddooAAuuttoommóóvveell

encontro CCuullttuurraaddooAAuuttoommóóvveellMMaaiioo 22002222 55

encontro águas de lindóia Os colecionadores estavam ver os cerca de 800 veículos eufóricos. Sem poder capacitados para receberem os participar do maior encontro prêmios destinados para o evento e de veículos antigos do Brasil, o que estavam espalhados em torno do EBAA – Encontro Brasileiro de lago da praça Adhemar de Barros. Automóveis Antigos – desde 2019, No total, chegaram à cidade cerca de devido à pandemia, eles tiveram 1.700 veículos antigos, que se muito tempo e paciência para posicionaram em uma área de 70 mil preparar seus melhores veículos. É a metros quadrados, no coração da sétima edição do evento com o time cidade. Só a praça de alimentação atual de organizadores, mas a cidade tinha mais de 1.500 m2 e ainda havia de Águas de Lindóia já tinha uma 450 estandes para venda de peças, tradição de décadas nessa memorabilia, miniaturas, camisetas e especialidade. antiguidades em geral. Conhecido como mercado de pulgas, para Neste ano, cerca de 100 mil algumas pessoas esse é um dos pessoas visitaram o evento, em cada maiores atrativos do evento. um dos quatro dias de duração, para Reuniram-se em torno do lago cerca de 800 carros, aptos para receberem premiações 6 Maio 2022 Cultura do Automóvel

águas de lindóia encontro Cada vez mais, o universo dos os fabricantes de equipamentos e veículos antigos, que encanta a produtos para a criação e restauração todos, mesmo quem não participa dos veículos. Isso ficou bem claro ativamente, aumenta, pois não são neste ano, com a participação desses mais apenas os colecionadores que profissionais em torneios como “Em levam suas relíquias para serem Busca do Brilho Perfeito”, no qual expostas ao público, mas também os os competidores disputam para ver profissionais do setor, como os qual é o carro com a melhor e mais comerciantes especializados, os brilhante pintura, assim como os donos de oficinas de customização e cromados, a tapeçaria e detalhes. Pontiac GTO 1967, um dos carros contemporâneos mais fantásticos de toda a mostra. Está na minha lista Cultura do Automóvel Maio 2022 7

encontro águas de lindóia Outro torneio é a “Batalha dos Ford F1 1951, o vencedor na Batalha dos Construtores Construtores”, no qual os participantes mostram seus projetos É claro que as principais empresas de customização. Participam dessa que trabalham dessa forma estavam modalidade os veículos Hot Rod, bem representadas no 7o EBAA, com Street, Customs e Modificados. muitas barracas oferecendo veículos antigos para a venda. De acordo com O mercado de veículos clássicos a organização do evento, havia cerca esta vivendo uma fase de exageros, de 400 veículos à venda. Aconteceu em especial o dos chamados novos também durante o 7o EBAA o clássicos, modelos nacionais dos segundo leilão de veículos antigos de anos 70 e 80, que agora já têm mais Águas de Lindóia. de 30 anos de fabricação. O grande interesse por eles faz com que os valores de comercialização desses modelos sejam muito altos, maiores, até, do que o de alguns clássicos atemporais. Motivo, também, de terem surgido dezenas de empresas especializadas na comercialização de veículos espalhadas pelo país, algumas delas indo além, pesquisando, procurando e comprando veículos mais antigos perdidos por aí. E os entregam na casa do cliente. Durante o evento também aconteceu o segundo leilão de veículos antigos de Águas de Lindóia 8 Maio 2022 Cultura do Automóvel

águas de lindóia encontro O colecionador Norman Santos de Vitória, ES, rodou 1.150 km com seu Ford 1932 para chegar ao EBAA Os participantes do encontro de 1.150 km com um Ford de 1932. E a Águas de Lindóia chegam de todas maior distância mesmo ficou com as partes do país, como o grupo que Fábio Luiz, que veio de Fortaleza, veio de Salvador, na Bahia, com 16 no Ceará, percorrendo 3.400 km carros, um caminhão e uma com um Dodge Polara 1980. cegonha. Essa turma do Veteran Car Clube da Bahia viajou 1.900 km para Caravana do Veteran Car Clube de Salvador participar do evento. O prêmio de maior distância percorrida, no entanto, coube ao colecionador Norman Santos, que veio de Vitória, no Espírito Santo, percorrendo Cultura do Automóvel Maio 2022 9

encontro águas de lindóia Hudson Hornet 1951, réplica do carro da Nascar Muitos outros prêmios foram outorgados para os expositores. Na Batalha dos Construtores, o prêmio ficou com a equipe Ogros Garage, com o projeto do Ford F1 1951. Destacaram-se também, nessa categoria, o caminhão GMC COE 1954 de Eli Luiz, da Gabys Custom Cave, e o Ford Maverick do Roberto da SBS Performance. Na categoria Tributo, levaram o prêmio Odil Porto, com uma réplica do Fusca 1975 da Telesp, antiga viatura da Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, e Eduardo Mina, com a réplica do Hudson Hornet 1951, da Nascar americana. A réplica do Fusca 1975 da Telesp, antiga Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, ganhou o prêmio Tributo 10 Maio 2022 Cultura do Automóvel

águas de lindóia encontro O Cord 810 de 1936 do Fernando Leibel levou o prêmio Best In Show pré-guerra O clube destaque foi Alfa Romeo Plymouth Superbird 1970 de Juliano Clube e havia três grandes prêmios Gonçalves. Um dos homenageados “Best in Show 2022”, o nacional foi da noite foi o colecionador Dante para o Alfa Romeo Fúria da coleção Forestieri, que tem mais de 40 anos Automóveis no Brasil, de Leo dedicados aos carros antigos. Ele Steinbruch, o pré-guerra foi para o chegou em um Dodge Brother de belíssimo Cord 810 de 1936 de 1929 e recebeu a homenagem das Fernando Leibel e o pós- mãos de Mingo Abonante, guerra foi para o organizador do EBAA. Cultura do Automóvel Maio 2022 11

encontro águas de lindóia O Plymouth Superbird 1970 de Juliano Gonçaves também levou o prêmio Best In Show, na categoria pós-guerra O Plymouth Superbird estava exposto junto com outros muscle-cars dos anos 60 e 70 12 Maio 2022 Cultura do Automóvel

águas de lindóia encontro O Encontro Brasileiro de relacionados a automóveis ou não. Automóveis Antigos, que chamamos Dificilmente alguém sai de lá sem simplesmente de encontro de levar alguma recordação. E para Lindóia, é, dos grandes, o mais quem está procurando peças para democrático. Isso tanto para os sua restauração, é lá o local mais participantes, como colecionadores e indicado para começar a procurar. profissionais do ramo, quanto para o público, que tem na cidade de Águas Além dos veículos espalhados ao de Lindóia um local muito aprazível redor do lago, que são os clássicos em qualquer época do ano. No fim premiáveis, muitos outros carros vão de semana do encontro, os carros estacionando pela cidade, formando antigos são uma atração a mais no verdadeiras exposições paralelas. E passeio. E que atração! muitos deles também estão à venda. Circular entre as ofertas, mesmo que As barracas da feira de pulgas não se pretenda comprar nenhum oferecem muitos objetos veículo, também é um ótimo interessantes, antigos ou não, divertimento. Nas barracas da feira de pulgas é sempre possível achar objetos muito interessantes, antigos ou não Cultura do Automóvel Maio 2022 13

encontro águas de lindóia Alfa Romeo foi o destaque deste ano A coleção Automóveis no Brasil, iniciada pelo entusiasta Fabio Steinbruch e preservada por seu irmão Leo Steinbruch, após sua morte repentina, teve grande destaque no 7o EBAA. Leo montou até um lounge para happy hour, com direito a shows musicais. Os carros de sua coleção ficaram expostos nesse local e o Alfa Romeo Furia levou o prêmio máximo do evento, o Best In Show nacional. O Alfa Romeo Clube, fundado por Fabio, foi o clube destaque deste ano. 14 Maio 2022 Cultura do Automóvel

águas de lindóia encontro No fim do último dia, apesar do cansaço de quem trabalhou por quatro dias (sem falar na preparação), ou mesmo de quem apenas circulou pelas atrações, a certeza é que todos já estarão se preparando para o próximo ano. l Cultura do Automóvel Maio 2022 15

história orgulho brasileiro A marca Gurgel se tornou sinônimo de automóvel nacional Ao lado, João Amaral Gurgel no protótipo que tinha suas iniciais como nome. Abaixo, com os mini carros Karmann Ghia e Gurgel Jr. II 16 Maio 2022 Cultura do Automóvel

história Otítulo não é exagero. Tenho certeza de que os novos colecionadores de automóveis antigos, especialmente aqueles que se dedicam aos nacionais, conhecem, e muito bem, o Gurgel. Mas podem não conhecer a história da Gurgel, ou mesmo a história “do” Gurgel, João Conrado do Amaral Gurgel, o criador da saga que leva o seu nome. Lembro vagamente do João ainda muito pequeno, fui com meu pai ver os mini carros que ele produzia em uma fábrica na zona sul de São Paulo. Era o Gurgel Jr. II, uma belezinha de mini carro, que fazia qualquer criança, como eu, sonhar de desejo. Era uma grande evolução do Gurgel Jr., versão com carroceria do Mo-Kart de competição, criado em 1960 por Silvano Pozzi e exposto no Salão do Automóvel de São Paulo, nesse mesmo ano. Antes do Gurgel Jr. II, o Gurgel II foi construído, em 1961, mas não passou de protótipo, assim como o JAG, que tinha esse nome devido às iniciais do criador. Gurgel tinha, desde 1964, uma revenda Volkswagen, a Macan, e também com esse nome continuou a fabricar mini carros, como o mini Karmann Ghia, outra belezinha que fazia as crianças suspirarem. Mas seu futuro estava mesmo com a VW: mediante acordo com o grande fabricante, lançou, no Salão do Automóvel de 1966, o Gurgel 1200, a partir de uma ideia brilhantemente simples: carroceria leve de fibra de vidro sobre o chassi Volkswagen. O Gurgel 1200 tinha quatro versões, Augusta, Ipanema, Enseada e Xavante, sendo que três delas fizeram enorme sucesso no salão. Cultura do Automóvel Maio 2022 17

história gurgel No Salão do Automóvel de 1966, o estande da Macan exibia o Gurgel Ipanema, à esquerda, e o Xavante, à direita O Gurgel Ipanema e o Xavante foram expostos no estande próprio do fabricante, ainda a Macan, e o Gurgel Enseada ganhou lugar de destaque, no estande oficial da VW. O Gurgel Enseada era o mais estiloso, com bancos de vime estilo Saint Tropez, o Xavante o mais rústico, idealizado para trabalho de jipe, o Augusta era a versão de luxo, com rodas cromadas mais largas e calotas, e o Ipanema foi o que se consolidou, passando por muitas melhorias em 1969, quando Gurgel trocou a Macan pela Gurgel Veículos Ltda. Foi quando chegou o Gurgel Ipanema QT, que podia ter motores de 1.300 ou 1.500 cm3. No estande da Volkswagen, o Gurgel 1200 Enseada 18 Maio 2022 Cultura do Automóvel

gurgel história O Gurgel Bugato, vendido em kits para montar em casa, era realmente muito estranho. Hoje, muito raro Mais uma vez a minha máquina do Nem preciso dizer que tanto ele tempo entra em ação e eu me quanto eu, seu carona mais assíduo, lembro de quando o primeiro curtimos muito o jipinho e, desde jipinho Gurgel chegou em casa, para então, fiquei fã da marca. Jamais teste na revista Quatro Rodas. Era esqueci daquelas portas de plástico um Ipanema, já com muitas de abriam e fechavam na vertical, alterações em relação ao Gurgel comandadas por alavancas. 1200 de três anos antes. Algum tempo depois chegou outro Expedito Marazzi descreve essa jipinho na nossa garagem, o Gurgel novidades em sua avaliação: “o Bugato. Estranhíssimo, tinha uma recorte dos para-lamas é diferente, grade frontal que lembrava a Rural assim como a parte inferior das Willys e o motor era exposto, na laterais, há tomadas de ar nos para- traseira. Mas o motor tinha uma lamas traseiros e a tampa do motor cobertura parecida com um baú, que ficou maior. O parabrisa está preso a não abria, apenas era retirada, e era articulações mais à frente e o painel presa com cinturões de couro. de instrumentos é novo e mais bonito do que o anterior”. O Gurgel Bugato era vendido em kits para montar, por isso cada um Foi nessa ocasião que o jovem era diferente do outro, nos detalhes. Expedito aprontou uma das suas, em O que ficou na minha garagem era nome da reportagem: desceu as da frota da fábrica e era o mesmo íngremes escadas da praça Charles que participou do filme Roberto Miller, em frente ao estádio do Carlos a 300 Km Por Hora, pilotado Pacaembu, o que rendeu uma por Erasmo Carlos (veja reportagem fotografia muito instigante de sobre o filme nesta edição). autoria de Lew Parrella, aquele mesmo que comprou o Puma DKW Na hora não gostei do jipinho, do Expedito. Chegando ao pé da mas, devido à sua extrema raridade – escada, policiais que estavam por foram vendidos cerca de 20 kits, perto o aguardavam, com caras de apenas –, gostaria muito de rever um poucos amigos. Quase foi preso... desses, ao vivo. E, quem sabe, pilotá- lo. Quem será que tem um? Cultura do Automóvel Maio 2022 19

história gurgel João Gurgel demonstrando a capacidade de seu jipinho X-10, na pista da fábrica, em Rio Claro, SP Daí em diante, João Gurgel entrou cidade de Rio Claro, e cresceu. em um crescendo de popularidade e Seguindo pelo caminho dos jipes sucesso, com seus jipinhos baseados utilitários, foi o Xavante que deu na mecânica VW a ar. A fábrica nome à linha, passando a chamar mudou para o interior paulista, na Xavante XT, depois X-10. Raio-X do Gurgel X-10 20 Maio 2022 Cultura do Automóvel

gurgel história O Gurgel X-10 tinha a proposta da ainda havia algumas versões com as extrema aventura, inclusive vinha pás presas nelas. com pás incrustradas nas laterais, acima das porta deslizantes, e com o O Gurgel X-12 ficou muito tempo estepe sobre o capô dianteiro. O em produção, sempre evoluindo e sucesso total veio com o X-12, mais com várias versões adaptadas para robusto e com linhas de carroceria cada tipo de utilização. O Gurgel mais agradáveis. As portas agora X-12 TR tinha capota rígida e, na abriam da forma convencional e minha opinião, era o mais bem resolvido deles. Gurgel X-12 em ação Gurgel X-12 com as pás nas portas Gurgel Xavante XTC de 1974 Cultura do Automóvel Maio 2022 21

história gurgel Este Gurgel quase ninguém viu João Conrado do Amaral Gurgel tinha uma mente à frente de seu tempo. O Gurgel II, exibido no segundo Salão do Automóvel, em 1961, provavelmente não se tornou comercial porque era muito avançado, para a época. O volante podia ser deslocado para os dois lados e o câmbio tinha polias variáveis, com o mesmo princípio dos câmbios CVT atuais. O carrinho, realmente, tinha um visual meio espacial. 22 Maio 2022 Cultura do Automóvel

gurgel história Gurgel Itaipu, na versão inicial, de 1974, e na versão utilitário, que foi utilizada por algumas empresas públicas O Gurgel Carajás, em 1984, era uma prévia dos utilitários esportivos populares que viriam muito tempo depois Para João Gurgel, o sucesso com continuou firme nos modelos com os jipinhos não era suficiente, queria motores a gasolina, mesmo com o mais. Ainda nos anos 70, criou álcool praticamente dominando o alguns modelos elétricos, como o mercado dos automóveis regulares. Itaipu, em 1974, e o utilitário E-400, Em 1981, ele apresentou o Xef, em 1980, que chegou a ser vendido sedã de duas portas e três lugares, para empresas públicas. bonitinho, mas que não teve sucesso Se os carros elétricos ainda têm comercial. Em 1984 foi a vez do muito a evoluir nos dias de hoje, Carajás, uma peruona com motor quarenta e poucos anos atrás seria VW dianteiro refrigerado a água e adequado dizer, até, que eles não câmbio junto ao diferencial traseiro. tinham chance. Por isso, Gurgel Esse foi bem recebido pelo mercado. Cultura do Automóvel Maio 2022 23

história gurgel história antiga Esta historinha eu demorei uns 20 anos meio e com as pernas para a frente. para contar para alguém. Fernando, filho Aquelas duas alavancas do Seletraction, do João Gurgel, era meu colega na Escola que freava, cada uma, uma roda traseira, Politécnica da USP e, um dia, chamou a era, então, uma tentação, pois ficavam ao turma para visitar a fábrica de seu pai, em alcance dos meus pés. Para “ajudar” o Rio Claro. Lá chegando, o encontramos se piloto, eu apertava uma vez uma, outra vez divertindo prá valer com um chassi sem outra. E o jipinho dançava na terra. Até que carroceria, só banco e volante, na pista de apertei, sem querer, a alavanca errada, e lá terra da fábrica. Foi quando o João nos fomos os cinco rolando na terra. Disfarça alertou que aquilo era muito perigoso, pois aqui, uma lavadinha acolá, fomos embora o veículo pelado não oferecia nenhuma com o nosso piloto capotador se achando proteção. E foi embora. o pior dos motoristas. Foi quando pegamos um X-12 militar, que Vinte anos depois, em uma aula de tinha o para-brisa basculante, e fomos pilotagem em Interlagos, resolvi contar a para a pista. Éramos cinco e, uma vez cada ele, agora um dos instrutores do curso, que um, assumia o volante para fazer algumas eu estava “pilotando” o Seletraction na peripécias. Na vez do, bem, vamos chamá- hora da sua “barbeiragem”. Uma semana lo de “Gaivota”, eu fiquei atrás, bem no sem falar comigo. Até a aula seguinte. 24 Maio 2022 Cultura do Automóvel

gurgel história Gurgel BR-800, Supermini e MotoMachine, os três últimos modelos de carros compactos feitos pela Gurgel Mas foi em 1988 que João Gurgel alguns MotoMachine, ainda menor, deu a cartada da sua vida, lançando o mas que dependia da nova fábrica no BR-800, pequeno carro urbano com Ceará para sua produção. motor dianteiro de dois cilindros Foi essa fábrica que sugou todos os contrapostos refrigerado a água. seus recursos, depois que o governo Abriu a empresa e o carro era cearense não honrou um acordo de vendido apenas aos novos acionistas, cooperação que viabilizaria sua juntamente com o pacote de ações. construção e posterior produção dos Em 1991, ele foi substituído pelo veículos. Assim, a Gurgel foi à Supermini e, antes dele, vendeu falência em 1994. l Cultura do Automóvel Maio 2022 25

coleções OPogzzoli E a sua grande coleção Og Pozzoli em sua casa em Cotia, nos arredores de São Paulo. Lá, ele construiu várias garagens, para abrigar os seus quase 200 automóveis Eu sempre quis fazer uma muitos deles adquiridos de grandes reportagem com a coleção de personalidades públicas, mas ele automóveis do Og Pozzoli, tinha também muito apreço pelos cheguei a propor a ele escrevermos bons carros europeus. um livro com as suas histórias, que A maior parte de seu acervo de eram muitas, e muito interessantes. quase duas centenas de automóveis Sei disso porque sempre que alguém ficava em sua casa, nos arredores de o visitava, não saia de lá sem café São Paulo, cujo enorme terreno lhe com biscoitos e algumas permitiu construir várias boas histórias. garagens, cada uma com modelos de épocas e Teve um jornalista, no estilos parecidos. entanto, que chegou No fundo de uma primeiro: Expedito delas, as famosas Marazzi escreveu a jardineiras, espécie de primeira reportagem com ônibus aberto nas o colecionador em 1974, laterais, todas de para a revista semanal madeira. Uma delas Fatos & Fotos. Também chegou a interessar sei disso porque ele me Gianni Agnelli, presidente da Fiat dizia sempre que o encontrava: “teu italiana. Na recusa, Og explicou que pai foi a primeira pessoa a fazer uma não faria nada a mais com aquele reportagem comigo!” milhão de dólares oferecido que não faria com o seu. E ainda ficaria sem a Og, além de um gentleman, era jardineira. também um bom anfitrião, sempre Og faleceu em 2017 e a sua coleção recebendo grupos de amigos, e foi transferida para a Fundação Lia amigos dos amigos, que, Maria Aguiar, que a exibirá em um invariavelmente, ficavam fascinados museu a ser construído na cidade de com o seu acervo. Visitando a sua Campos do Jordão. coleção, fica clara a sua preferência l pelos automóveis norte-americanos, 26 Maio 2022 Cultura do Automóvel

coleções Os carros de Og ficavam todos sobre cavaletes e dispostos em ordem cronológica de fabricação Um dos meus preferidos era este Buick Sedanette 1941, com motor de oito cilindros em linha e dois carburadores Cultura do Automóvel Maio 2022 27

coleções og pozzoli Quem assistiu o filme Sabrina, com Humphrey Bogart, reconhecerá o estilo de uma das garages de Og Em cada garagem, além dos carros, a memorabilia exposta nas paredes era outro item de grande interesse 28 Maio 2022 Cultura do Automóvel

og pozzoli coleções Cada uma das várias garagens na casa de Og abrigava uma época e um estilo de automóveis A ala das jardineiras era a mais interessante da coleção, com muitas histórias. Uma delas atiçou a cobiça da Fiat A primeira reportagem com a coleção do Og foi feita por Expedito Marazzi, em 1974, para a revista Fatos & Fotos Cultura do Automóvel Maio 2022 29

história O primeiro automóvel do mundo Também causou o primeiro acidente do mundo, em 1770 Automóvel = auto, por si só, + A enorme caldeira à frente da roda móvel = que se move. Ou seja, dianteira tornava muito difícil dirigir o automóvel ganhou essa o carro, de forma que, conta-se, ele denominação por se mover sem foi o protagonista do primeiro ajuda externa, que era feita, acidente automobilístico da história, anteriormente, por tração animal. quando o seu condutor perdeu o controle e derrubou um muro. Se O automóvel mais lembrado como não tem uma fotografia da época, há sendo o pioneiro é o Benz Patent gravuras desenhadas a respeito. Motorwagen, de 1886, mas esse foi o O modelo original foi considerado primeiro a ter um motor a uma grande invenção, na época, combustão interna. Mais de um apesar de pouco utilizado na prática, século antes, o inventor francês e por causa disso, em 1800 ele foi Nicolas-Joseph Cugnot circulou incorporado ao Musée dês Arts et com seu veículo automotor, que era Nétiers, onde se encontra até hoje. movido por um motor a vapor. Ou Em 2010, uma réplica do carro de seja, um motor a combustão externa. Cugnot foi construída e exibida no Paris Motor Show, funcionando O automóvel, na verdade, era uma convenientemente, e reexibida neste enorme carroça de três rodas de 2,5 ano, no Salão Retromobile. toneladas, capaz de rodar a 3,6 km/h l e transportar a artilharia do exército. 30 Maio 2022 Cultura do Automóvel

história Reprodução desenhada da cena onde o carro de Cugnot perde o controle e derruba um muro Este é o primeiro automóvel do mundo, o original de 1770, ainda exibido no Musée dês Arts ei Nétiers, em Paris Cultura do Automóvel Maio 2022 31

história Uma fábrica vertical O prédio da fábrica da Fiat em Turim tinha cinco pavimentos e uma pista de testes na cobertura 32 Maio 2022 Cultura do Automóvel

história Na infância, quando ainda que os automóveis subiam até a brincava com carrinhos da cobertura. E mais: lá eles faziam os Matchbox, eu costumava testes finais com os carros que eram construir maquetes de prédios de produzidos. cartolina ou papel-cartão, que Esse é o Edifício Lingotto, geralmente eram garagens ou inaugurado em 1923 para abrigar a oficinas, na mesma escala das nova fábrica da Fiat, em Turim. Por miniaturas. E todas as maquetes uma imposição de espaço, uma vez tinham uma característica comum, que o terreno é cercado de linhas que era um estacionamento na férreas, a fábrica foi projetada para cobertura. Notei, anos depois, com a ter cinco pavimentos, mais a pista na popularização dos shopping cobertura, sendo que os automóveis centeres, que, para aproveitar lá produzidos iam subindo os melhor os espaços, a cobertura andares à medida em que recebiam passou a ser utilizada para componentes, até chegar no topo. estacionamento. Em seu tempo, o Edifício Lingotto foi a maior fábrica de automóveis do Mal sabia eu, naquela época, que já mundo e lá foi produzido o Fiat existia um prédio na Itália, cuja Topolino, de 1936. construção começou em 1916, em l O Edifício Lingotto tinha uma área total de um milhão e meio de metros quadrados, com produção e escritórios Cultura do Automóvel Maio 2022 33

história lingotto No local de experimentação dos veículos produzidos, atualmente são feitos eventos, como essa corrida de scooter 34 Maio 2022 Cultura do Automóvel

lingotto história Atualmente o Edifício Lingotto abriga um hotel, um centro comercial, um teatro e um shopping center Cultura do Automóvel Maio 2022 35

museu Passeio histórico Museu de antigas, bom pretexto para ir para a estrada OO museu de motocicletas do Centro Cultural Movimento foi instalado no prédio tombado da antiga rodoviária que faz um motociclista nos acervo, conta várias histórias por fins de semana? Vai para a meio da exposição de motocicletas, estrada, logicamente. Não roupas de pilotos, documentos e todos, mas muitos. E os que não vão, troféus, o que, entre os motociclistas gostariam de ter ido. mais antigos, causa uma verdadeira É senso comum entre motociclistas viagem ao passado. que a estrada é o melhor lugar para Entre as maiores curiosidades, está curtir seus brinquedos, sejam novos, uma BMW R35 de 1938, utilizada clássicos, grandes ou pequenos. E, pelo exército alemão na Segunda para um bom pretexto, que não seja Guerra, uma Triumph Type H de o clássico café na estrada, é o museu 1915, esta usada na Primeira Guerra, do Centro Cultural Movimento, em e uma réplica da Mobylette com a Socorro, interior paulista. qual o piloto Alexandre Barros Iniciativa do motociclista Carlos iniciou sua carreira nas pistas. Coachman, o Carlãozinho, que traz Conhecer o Centro Cultural em seu sangue as motocicletas, a sua Movimento, então, será uma atração história e a enorme vontade de a mais para os grupos que costumam contá-la, o museu foi instalado no se aventurar pelas estradas nos fins prédio tombado da antiga rodoviária de semana, até poque ele fica da cidade, que tem caráter histórico. exatamente na região preferida pela Carlãozinho, que é o curador do maioria dos viajantes. l 36 Maio 2022 Cultura do Automóvel

museu O acervo do museu Cultura do Automóvel Maio 2022 37

livro Duas Rodas e uma Nação Os planos do livro são tão Carlãozinho no lançamento do livro em Socorro antigos quanto os do museu anos de história, um pouco de Omuseu do Carlãozinho, no nostalgia, claro e muita evolução. Centro Cultural Movimento, Um segundo evento em São Paulo, em Socorro, SP, foi o local na Coleção Remaza, reforçou a escolhido para que ele lançasse o chegada da obra, com uma recepção livro que ele planejou décadas atrás, que reuniu personalidades da Duas Rodas e uma Nação. Nada história da motocicleta em um local mais apropriado, o clima de história também perfeitamente conectado misturada com as motocicletas do com o início da popularização da local forneceram o ambiente ideal. motocicleta no Brasil. A Coleção Remaza reúne Em seu livro, o curador do museu motocicletas da sua fase áurea no conta a história da motocicleta em país, os anos 70, quando as marcas nosso país, incluindo os personagens japonesas invadiram o mercado e e as marcas que ajudaram a construir conquistaram os novos (e velhos) esse legado. motociclistas. l De acordo com Carlos Coachman, autor e coordenador editorial da Carlãozinho no lançamento do livro em São Paulo obra, “esta é a realização de um sonho, uma missão que teve início lá atrás, em parceria com meu pai, Carlão, que infelizmente não poderá ver sua conclusão, mas que esteve presente em parte dos desafios e me inspirou a fazer acontecer, assim como tantos amigos e parceiros que montaram na garupa nesta jornada.” Sem pretensão de ser o manual definitivo do assunto, o livro é enriquecedor para a cultura nacional como um todo, pois conta com registros que retratam desde o surgimento da motocicleta e das competições em duas rodas no país até a atualidade, em mais de 120 38 Maio 2022 Cultura do Automóvel

livro O acervo da Coleção Remaza A Coleção Remaza mostra as primeiras motocicletas japonesas que chegaram ao país e que nos conquistaram Cultura do Automóvel Maio 2022 39

história coCmheevmroolreat4M0oannzoas Sempre existiram os motoristas Foi esse modelo, inclusive que mais fiéis a marcas, daquele tipo colecionou fiéis, em toda a sua longa que trocavam seus carros vida. Ou seria o Monza? quase novos por outro igual, a ponto de os vizinhos às vezes nem Este ano o Chevrolet Monza perceberem a troca. Eu tinha um tio completa 40 anos desde o seu que trocava de Volkswagen Parati lançamento e os colecionadores todos os anos, religiosamente. Seu estão comemorando. O carro tem, filho herdou uma dessas peruas e se sim, uma boa posição na história. tornou o segundo paratimaníaco da família. A marca VW deve ter sido Sua chegada, em 1982, foi muito a que mais conquistou seguidores, celebrada, por várias razões. Foi desde o tempo dos fusquinhas. o primeiro modelo mundial a ser produzido no Brasil, igual ao similar A Chevrolet, no entanto, nunca que já existia na Europa e que havia ficou muito atrás, desde 1969, com sido reestilizado, para sua terceira o lançamento do primeiro Opala. geração, apenas seis meses antes de ser lançado aqui. 40 Maio 2022 Cultura do Automóvel

história A versão de três volumes e quatro portas fez o Monza ser líder por três anos seguidos Outra razão foi a sua modernidade, desejado no mundo, mas ainda com linhas, detalhes e soluções usual no Brasil. Apesar disso, e técnicas inovadoras, como o motor também do fraco motor 1.6 e do dianteiro transversal, antes visto câmbio de apenas quatro marchas, apenas no Fiat 147, que era um imediatamente o Monza se tornou carro compacto e popular. O Monza o ícone do status, naquela época mostrou que essa configuração era fortemente representado pelo viável também em carros maiores. automóvel que cada um possuía. O primeiro Chevrolet Monza Mesmo assim, ele precisava veio com carroceria hatch de duas melhorar, e isso aconteceu em muito portas, um formato já não muito pouco tempo após o lançamento. O Monza Classic foi lançado em 1987 Cultura do Automóvel Maio 2022 41

história chevrolet Monza Chevrolet Monza 500 EF, uma homenagem à vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis O último Monza foi produzido em 1996 42 Maio 2022 Cultura do Automóvel

chevrolet monza história A reestilização de 1991 deu uma sobrevida ao Chevrolet Monza No ano seguinte, o Chevrolet marchas de relações mais curtas. Monza ganhou motor 1.8 e a bela Antes de passar por uma profunda carroceria de três volumes (como a chamávamos, naquela época), reestilização, o Monza ganhou em inicialmente de quatro portas e 1987 motor 2.0 e, em 1988, foi depois com duas portas. O hatch apresentado o 500 EF, o primeiro sobreviveu até 1986. Monza com injeção de combustível. Era uma homenagem ao piloto A fórmula do sucesso estava feita: Emerson Fittipaldi, que tinha carro bonito, confortável, espaçoso acabado de vencer as 500 Milhas de e com bom desempenho, que se Indianápolis. tornou líder de vendas por três anos consecutivos. O Chevrolet Monza totalmente reestilizado chegou em 1991 e foi A versão esportiva S/R do Monza apelidado de Tubarão (um apelido veio em 1985, apenas na carroceria comum a vários modelos, como o hatch, com grande apelo visual e Chevette e o Puma). O novo Monza detalhes exclusivos, como as rodas e não era só diferente, mas também os bancos Recaro, e uma pitada de mais aerodinâmico, o que lhe rendeu mais desempenho, com carburador uma pequena sobrevida. O último de corpo duplo e câmbio de cinco Monza foi produzido em 1996. l Cultura do Automóvel Maio 2022 43

carros no cinema Carros na telona Roberto Carlos a 300 km Por Hora Dificilmente veremos o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora nas telonas novamente, mas ele já foi um dos campeões de bilheteria entre os títulos nacionais no início dos anos 70. Pudera, o rei Roberto Carlos estava em um momento de grande popularidade, na época, e seu gosto pelos automóveis, que era conhecido por seu público mais fiel, ajudaram o filme ser o mais assistido do ano de 1971. Mesmo aqueles que já não curtiam o cantor nessa fase, em que ele estava trocando o gênero Jovem Guarda para o romântico, o filme agradou vários públicos, em especial àquele que curtia corridas de automóveis. Isso mesmo sendo uma inocente ficção, já que, para os entendidos da competição, nem naquele tempo as situações apresentadas seriam factíveis. Atualmente o filme do Roberto se tornou cult, tanto pelas músicas como pelos carros, e pode ser assistido nos canais fechados de televisão. O rei Roberto Carlos incorpora o mecãnico Lalo, que sonha ser piloto de corridas e conquistar a namorada do patrão 44 Maio 2022 Cultura do Automóvel

carros no cinema Gurgel Ipanema QT, dirigido pela personagem da atriz Libânia Almeida, um dos destaques automobilísticos do filme A chamada para os jornais destacava os atores que contracenaram com Roberto Carlos Cultura do Automóvel Maio 2022 45

carros no cinema roberto carlos Da trilogia de Roberto Carlos, A mais de 50 anos depois, pois resgata 300 km Por Hora foi o último, de os ambientes e as atitudes 1971, e é, sem qualquer dúvida, o características daquela época. melhor deles. Os dois primeiros, Em Ritmo de Aventura, de 1969, e O Para nós, amantes de carros, o Diamante Cor-De-Rosa, de 1970, ambiente a ser lembrado é mesmo o eram mais veículos de promoção do Autódromo de Interlagos, cru e cantor do que filmes sérios. Mas são maravilhoso, acabado de sair de uma boas diversões, principalmente para reforma que durou dois anos. O os seus fãs. filme mostra os boxes em novo local (antes eles ficavam na subida do Roberto Carlos a 300 km Por Café, bem ao lado da pista) e as Hora tem um bom enredo e uma primeiras arquibancadas, ainda certa magia, principalmente visto inacabadas. A mocinha do filme, Libânia Almeida, com sua Honda CB 350 customizada, e no sonho de Roberto Carlos Roberto Carlos não era ator e isso assumir a produção da Simca e usou pode ser comprovado nos dois filmes o filme como plataforma de anteriores, mas podemos considerar divulgação dos seus Dodge Dart e a sua atuação como muito boa, em A Charger. Até os caminhões que 300 km Por Hora, vivendo um aparecem no filme são Dodge. mecânico pobre e tímido que sonha ser um piloto de corridas. A motocicleta era pilotada pela atriz Libânia Almeida, talvez a pior Além da pista, relembramos alguns atuação de todo o filme, no papel de locais da época, como a revendedora Luciana, a namorada do piloto. É de motocicletas Motonasa e a por ela que Lalo, o personagem de concessionária Chrysler Ibirapuera Roberto Carlos, se apaixona. Veículos. De uma saiu a motocicleta da mocinha do filme, uma Honda Erasmo Carlos também está muito CB 350 com equipamentos que se bem no papel de Pedro Navalha, usavam na época, como um guidão bem mais à vontade do que Roberto. bem alto e um enorme e cromado Até mesmo a bonequinha Cristina “santo antônio”, e da outra todos os Martinez, no papel da Neusa, carros da Chrysler, que acabava de namorada do Erasmo, estava muito bem em frente às câmeras. 46 Maio 2022 Cultura do Automóvel

a 300 km por hora carros no cinema Esse tipo de chamada geralmente ficava nos saguões dos cinemas, para anúncio a espectadores de outros filmes Um grande trunfo do filme é a Raul Cortez em seu Dodge Dart e durante as filmagens presença de atores consagrados como Otelo Zeloni, em seu último filme, Flávio Miglaccio e o engraçado Mario Benvenutti, em muitas cenas importantes. E também Raul Cortez, como o patrão/piloto, canastrão como sempre foi (mas com boa atuação), Reginaldo Faria e Walter Foster. Joberte dos Santos, locutor oficial de Interlagos, na época, também está no filme, interpretando a si mesmo. Quem tem menos de 40 anos provavelmente nunca tinha ouvido falar nesses nomes, mas os mais “antigos” certamente lembrarão deles com carinho. Cultura do Automóvel Maio 2022 47

carros no cinema roberto carlos Alguns carros do filme: Gurget QT, da Luciana, e o Dodge Charge R/T “roubado” do personagem de Reginaldo Faria Estou bancando aqui o crítico de Dois jipes da Gurgel são usados no cinema, comentando o trabalho dos filme, um Ipanema QT, que tempos atores, mas o assunto principal nesta depois evoluiria para o Xavante e o nova seção da revista é mesmo falar X-12, o veículo de maior sucesso da sobre os automóveis do filme. Dois marca brasileira, e o estranho e Dodges são usados, o Charger R/T quase desconhecido Bugato. que Roberto Carlos “rouba” de Reginaldo Faria para treinar em Uma curiosidade interessante, de Interlagos (que, estranhamente, está cunho pessoal, é que os dois jipes sempre vazio e disponível), e o Gurgel passaram um bom tempo na Dodge Dart de Raul Cortez. O garagem da minha casa e eu acabei carro de corridas de seu rodando bastante com eles. Por isso, personagem, o piloto Rodolfo Lara, o Bugato não é desconhecido para é um protótipo Lola/Avallone, mim, mas sempre foi estranho. O também com motor Chrysler. motor traseiro ficava à mostra, em algumas unidades, parcialmente Algumas cenas do filme nas quais podemos ver o Autódromo de Interlagos em 1971 48 Maio 2022 Cultura do Automóvel

a 300 km por hora carros no cinema Duas cenas de contos de fadas, no final do filme: Roberto com o Gurgel Ipanema QT e Erasmo com o Gurgel Bugato coberto, em outras e com uma intercaladas com cenas que simulam tampa removível, no caso daquele a disputa de Roberto Carlos, com o que ficou na minha casa (o mesmo Avallone A11, e o Tite Catapani, que Erasmo Carlos passeia no interpretando um piloto inglês, no bosque, no final do filme). Lola T-210 amarela. Já o Gurgel QT era mais comum, O próprio Antônio Carlos chegando a disputar a preferência Avallone interpreta o piloto italiano entre os buggies, em alta naquela Antonioni, pilotando um Lola T-70, época. Desse jipinho, jamais poderia em cenas até engraçadas. O mesmo me esquecer da porta, que abria para carro, só que pintado de outra cor, baixo por meio de uma alavanca também aparece nas cenas da interna. A versão militar tinha as corrida, pilotado por Wilson famosas pás encaixadas nas duas Fittipaldi, mas isso acontece porque laterais do veículo. ele participou da corrida verdadeira no ano anterior e foi repintado para As cenas da corrida foram filmadas as cenas do filme. no ano anterior, na Copa Brasil, e Cultura do Automóvel Maio 2022 49

carros no cinema roberto carlos Cena final da corrida: Roberto Carlos disputa com Tite Catapani, que interpreta um piloto inglês Roberto Carlos com o diretor do filme, Roberto Farias, e Antônio Carlos Avallone, interpretando o piloto italiano Muitos pilotos que correram na Eduardo Celidônio e seu Snob’s Copa Brasil de 1970 estão no filme, Corvair, Salvatore Amato com seu como Emerson Fittipaldi, que protótipo Amato-Ford e Anísio venceu a prova com um Lola T-210, Campos com um AC-Porsche. Norman Casari, com um Lola T-70 Para quem ainda não viu, vale a e Jayme Silva, com um Fúria/FNM. pena assistir ao filme Roberto Carlos A prova tinha ainda Toninho da a 300 km Por Hora, seja pela Mata com um Alfa Romeo P33, diversão ou simplesmente para rever Camillo Christófaro e sua carretera, todas essas memórias. l 50 Maio 2022 Cultura do Automóvel


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