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a-filha-da-figura

Published by Paroberto, 2020-11-11 22:24:32

Description: a-filha-da-figura

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Eis a noiva Serena e altiva Vai se casar com o deputado contrabandista (Ninguém diria que o noivo não paga impostos) A Figura até parece a rainha da Suécia ou da Inglaterra Há uns resquícios nela da Figura Feminina de Malevich Mas o contorno é rude (próprio da nossa época) Como se ela não pudesse ser uma tela num museu asséptico mas só este grafite áspero (num muro desmoronado num morro virulento patrulhado pelo Exército) 52



A lua de mel foi em Foz do Iguaçu Os “jovens” eram maduros e queriam se energizar nas famosas cataratas Hospedaram-se num apartamento cedido por um mafioso coreano 54



A Figura voltou de lá grávida Optara de novo pela inseminação in vitro Escolhera (e teve sorte) um infame laboratório brasileiro no outro lado da fronteira Na Argentina ou no Paraguai 56



Enfim ela deu à luz Não foi parto natural Não quis 58



O Figurão não viu a Figurinha Ele foi assassinado na fronteira Uns árabes o decapitaram A mamãe criou sozinha a filhinha Eram felizes A mamãe gostava de lançar a Figurinha para cima Para ouvir os seus gritinhos excitados 60



Depois a mãe dava-lhe umas mordidas deliciosas Até a Figurinha berrar de dor 62



A Figurinha era uma coisa indescritível Não era bela como a mãe Porém feia como o pai Até mais feia do que ele Coisa medonha A mãe teve depressão pós-parto A mãe quis jogá-la fora com a água do banho! Brigavam muito! 64



Um dia a Figurinha se agarrou na mãe E pôs-se a agredi-la com violência Com todo o ódio do mundo A menina a deixou muito machucada O rosto da Figura ficou desfigurado 66



Desde esse dia a Figura e a Figurinha passaram a se odiar muito Viviam sempre juntas mas uma queria arrancar a pele da outra Era uma situação insuportável para ambas 68



A Figurinha rasgou a saia da mãe num espetáculo do Balé Bolshoi A Figura ficou com os olhos marejados Não se sentiu humilhada diante dos outros Era só por causa do vestido rasgado Um vestido exclusivo (comprado em São Paulo) A Figurinha estava destruindo o caríssimo guarda-roupa da mãe 70



A Figurinha decidiu atormentar ainda mais a mãe Até matá-la de desgosto Beliscava-a o tempo todo A Figura estava acabada Em frangalhos E não era nada velha 72



[A Figurinha mudou de lugar, mas não parou de beliscar a sórdida Figura.] 74



A Figura conseguiu convencer a Figurinha a frequentar a escola A melhor escola do município Queria dar a ela a melhor educação possível Assim ela arranjaria um bom partido e iria embora de casa para sempre Era a sua esperança 76



Um dia a filha foi embora de casa Não se sabe para onde Brasília talvez Pois um senador (de quem era a amante) lhe havia oferecido uma excelente colocação na capital federal A Figurinha deixou de presente para a mãe dois pássaros carniceiros Muito sinistros Porém silenciosos Que só ficavam olhando para ela (Não eram os cisnes dos palcos do Bolshoi) 78



Convém informar que a Figurinha finalmente engravidou Está longe de Brasília Em Miami Dizem que o pai é um militar O presidente do Brasil Ou o vice-presidente 80



Confirmou-se (nem parece fake news) que o pai do rebento é mesmo o presidente do país Não exatamente o atual Mas sim um dos nossos ditadores de antanho (tivemos tantos) Um general muito bravo De óculos escuros Sem olhos (os vermes os comeram no século passado) Ele teria se levantado do caixão só para dormir com a Figurinha Dizem que isso aconteceu numa noite em que todo o cerrado estava pegando fogo Incêndio criminoso 82



FIM

Ficha catalográfica M488f Medeiros, Sérgio, 1959- A filha da figura (novela) [Recurso eletrônico on-line] / Sérgio Medeiros. 1. ed. – Florianópolis : Rafael Copetti Editor, 2020. 84 p. : il. 15,5 x 20 cm ISBN 978-65-86877-13-7 (e-book) 1. Novela brasileira. 2. Literatura brasileira. 3. FicÇão brasileira. I. Título. CDU: 869.0(81)-32 Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

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©2020 Sérgio Medeiros ©2020 Rafael Zamperetti Copetti Editor Ltda., para a presente edição. Nesta edição respeitou-se ao estabelecido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado pelo Brasil em 2009. Conselho editorial Editor Rafael Zamperetti Copetti Álvaro Faleiros |USP|; Coordenadora editorial Fabiana V. Assini Andrea Santurbano |UFSC|; Assistente editorial Raquel M. Keller Andréia Guerini |UFSC|; Annateresa Fabris |ECA/USP|; Projeto gráfico, capa e diagramação Paulo Roberto da Silva Aurora Bernardini |USP|; Dirce Waltrick do Amarante |UFSC|; Imagem da capa e ilustrações Sérgio Medeiros/???? Giorgio De Marchis |Università degli Studi Roma Tre|; Revisão de provas Rafael Zamperetti Copetti | Fabiana Leila de Aguiar Costa |UNIFESP|; V. Assini Lucia Sá |University of Manchester|; Luciene Lehmkuhl |UFPB|; Mamede Mustafa Jarouche |USP|; Maria Aparecida Barbosa |UFSC|; Maria Lucia de Barros Camargo |UFSC|; Mariarosaria Fabris |USP|; Paulo Knauss |UFF|; Pedro Heliodoro Tavares |UFSC|; Rita Marnoto |Universidade de Coimbra|; Rosi Isabel Bergamaschi Chraim |Psicanalista|; Sandra Bagno | Università degli Studi di Padova|; Stefania Pontrandolfo |Università degli Studi di Verona|; Tania Regina de Luca |UNESP/Assis| 2020 | 1a Edição Proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio salvo mediante expressa autorização por escrito da editora. Todos os direitos desta edição reservados para o Brasil à Rafael Zamperetti Copetti Editor Ltda. Caixa Postal 5190 Trindade | Florianópolis | SC | Brasil | CEP 88040-970 Tel./6 48 | 3234.8088 [email protected] | rafaelcopettieditor.com.br Foi feito Depósito Legal. Impresso no Brasil | Printed in Brazil

_______________1a_e__d_iç_ã_o__b_r_a_s_il_e_i_ra__2_0_2_0_______________ Esta obra foi composta por Paulo Roberto da Silva em Work Sans. Publicada on-line por Rafael Copetti Editor em novembro de 2020.

Sérgio Medeiros é poeta e artista visual.

Quando nos casamos, levei o Sérgio para conhe- cer Santa Catarina, estado onde nasci e que é conhecido como a Suíça brasileira. Ele ficou posi- tivamente impressionado com a geografia e o clima variados da região. Mas aos poucos mostrei a ele que as montanhas catarinenses, assim como as montanhas suíças para James Joyce, podiam provocar claustrofobia. A filha da figura  nasceu quando ele viu que eu tinha razão. Dirce Waltrick do Amarante   9 786586 877137 90


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