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EmbalagemMarca 1 - 2021

Published by EmbalagemMarca, 2021-03-01 11:42:45

Description: Revista EmbalagemMarca - primeira edição de 2021

Keywords: embalagem,embalagens,design,rótulos,tampas,fechamentos,Nestlé,economia circular,vinhos

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Ano XXII • EM 1/2021 O DESIGN NA BASE DA ENTREVISTA: CRISTIANI Jan+Fev ECONOMIA CIRCULAR VIEIRA, DA NESTLÉ BRASIL R$ 25,00 VINHOS COM AUMENTO DO CONSUMO DA BEBIDA NA PANDEMIA, CRESCEM AS VENDAS ONLINE E A DIVERSIFICAÇÃO DE EMBALAGENS VEM AÍ A 15a EDIÇÃO! INSCRIÇÕES A PARTIR DE MARÇO DE 2021



EDITORIAL CAMINHANDO PARA UM ANO MELHOR Wilson Palhares, Editor Na esperança, mas esforçando-nos ao máximo para conseguir, caminhamos para um ano que poderá ser menos ruim do que CABE DESTACAR 2020. Isso significa batalhar por inovação, diferenciação e, em OS ESFORÇOS nosso caso específico, oferecer aos leitores, anunciantes, patrocinadores JÁ INICIADOS e apoiadores em geral, instrumentos de trabalho e informação cada vez mais úteis. COM O OBJETIVO DE REFORÇAR Nesse caminho, esta edição apresenta conteúdo denso – como O CONCEITO sempre se caracterizaram os produtos ligados à grife EmbalagemMarca DE PREMIAÇÃO – Prêmio Grandes Cases de Embalagem – e diferenciado da massa emi- DIFERENCIADA tida por iniciativas que enveredam pela atividade jornalística para dar a EM QUE É TIDO seus escopos mercantis densidade maior do que a própria. Destacamos, O PRÊMIO neste número, as reportagens sobre Vinhos e sobre Economia Circular e Design, bem como a Entrevista do Mês, com Cristiani Vieira, da Nestlé GRANDES CASES Brasil. DE EMBALAGEM, ORGANIZADO POR Dentro da meta de fortalecer mais e mais cada um dos itens que NOSSA ASSOCIADA compõem nosso portfólio de trabalho, cabe destacar os esforços desde THE PACKAGING já iniciados com o objetivo de reforçar o conceito em que é tido o Prê- mio Grandes Cases de Embalagem, organizado por nossa associada ACADEMY The Packaging Academy, de premiação diferenciada. Lembramos que as inscrições para a próxima edição estarão abertas a partir de março, e a cerimônia de revelação dos ganhadores e entrega dos troféus já tem data marcada: 8 de novembro. Este ano, o evento combinará a versão presencial com a virtual, dando maior visibilidade aos apoiadores e par- ticipantes. Lembramos aos interessados em concorrer a conveniência de dedi- carem atenção às inscrições. Se tiverem dúvidas e necessitarem de ajuda, entrem em contato. Até a próxima. EXPEDIENTE Publisher: Wilson Palhares ([email protected]) • Chefe de Redação: Flávio Publicação bimestral da Palhares ([email protected]) • Diagramação: Jefferson Carvalhan (arte@ Bloco Comunicação Ltda. embalagemmarca.com.br) • Comercial: Marcos Palhares ([email protected]) Rua Carneiro da Cunha, 1192 • Administração: Eunice Fruet ([email protected]) • Assinaturas e circulação: 6º andar • CEP 04144-001 • São Paulo, SP ([email protected]) (11) 5181-6533 • (11) 3805-5930 www.embalagemmarca.com.br Não é permitida a reprodução, no todo ou em parte, do conteúdo desta revista sem autorização. Opiniões expressas em matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista.

EM 1/2021 • jan+fev SUMÁRIO 3 EDITORIAL - Inovação, diferenciação e instrumentos de trabalho cada vez mais úteis: as metas de EmbalagemMarca para 2021 8 DESIGN – Indústria de embalagens é um dos pilares da economia circular 14 ENTREVISTA – Cristiani Vieira, gerente de sustentabilidade da Nestlé, fala sobre as metas de redução de impactos da companhia 20 REPORTAGEM DE CAPA Surgimento de novas ocasiões de consumo, atração de novos consumidores e avanço do e-commerce no mercado de vinhos abrem espaço para embalagens alternativas, como latas e garrafas de alumínio, caixas cartonadas assépticas e bag-in-box 26 ARTIGO – Como fica o design de embalagens após a pandemia POR LUÍS BARTOLOMEI, DA CBA B+G 29 PET FOOD – Caixa de papelão para grandes volumes de ração aposta na conveniência 32 PRÊMIO – Grandes Cases de Embalagem ANUNCIANTES terá inovações em 2021 que tornarão o evento ainda mais diferenciado ACTEGA................................................. 11 ALL4LABELS...........................4a CAPA 34 ALMANAQUE – Como surgiram as latas decorativas de AMR......................................................... 13 biscoitos – Corona chegava ao Brasil em 1997 – KitKat, BOOMERA...........................................28 primeira marca a popularizar o consumo de chocolate BRASKEM................................. 2a CAPA CBA...................................................18-19 4 CONGRAF............................... 3a CAPA FLEXOPRINT.......................................... 5 GRANDES CASES...........................6-7 MAXCESS...............................................31 SIDEL...................................................... 27 TRIVIUM.................................................23 jan+fev 2021



VAI COMEÇAR! Em nome dos organizadores, patrocinadores e apoiadores da 14ª Edição do Prêmio Grandes Cases de Embalagem, realizado em 2020, convidamos você a participar de uma festa especial em 2021. Inscrições abertas a partir de 01.03.21 15a edição 2021

Platina Ouro Prata Apoio Especial Apoio Divulgação Educacional Cerimônia de Organização premiação 08.11.21 www.grandescases.com.br [email protected] /gcembalagem @grandescases grandescases

DESIGN NOVAS EMBAL UMA NOVA Se queremos realmente deter a degradação ambiental zas jamais antes alcançadas, mas também golpeou a nature- acelerada pela qual hoje passa o planeta, só a reciclagem za com força – e hoje a natureza revida, com efeitos percep- de detritos não bastará. Será preciso uma ação ainda mais tíveis como o aquecimento global. Não é sustentável. sofisticada do que esta. A mudança de paradigma para uma lógica menos linear Teremos de quebrar a lógica linear de extração, produção começou a ser discutida na década de 1970, junto com os e descarte, que ainda caracteriza os mercados globais, e então chamados movimentos ecológicos (ou verdes), e substituí-la por um ciclo mais virtuoso: transformou-se ao longo das décadas seguintes em uma 1. Extração, mas em quantidades cada vez menores, de nova abordagem sobre como produzir para o bem estar humano sem, ao fazê-lo, agredir o meio ambiente (e, com forma a preservar os recursos naturais que ainda nos isso, arruinar inclusive o próprio bem estar citado). restam; 2. Produção, mas desenhada para um tempo de uso de cada De lá para cá, essa nova prática, em seu processo artefato maior que o atual; evolutivo, já teve vários nomes: ecologia industrial, simbiose 3. Reintrodução (e não mais descarte) dos materiais, industrial, cradle to cradle (do berço ao berço) – até receber se possível, na mesma atividade fabril em que foram a denominação atual de economia circular. originalmente empregados, após o término de sua vida útil. O primeiro modus operandi (extração, produção e des- É sobre esse conceito e sobre a relação extremamente carte em escala industrial) nasceu na Europa a partir do próxima que ele guarda com o universo das embalagens – e século XVIII, e de lá se espalhou mundo afora. Gerou rique- com o design das mesmas – que esta reportagem de Emba- lagemMarca falará nas próximas páginas. Se examinarmos as montanhas de detritos que Michele Martini, analista de Sustentabilidade de se acumulam em aterros sanitários Brasil afora, logo Produtos sênior no Grupo Boticário. “Fatores como nos daremos conta de que são formadas, em grande desmontagem, colagem, encaixe, misturas de medida, por embalagens. materiais, tipo de fechamento etc. são decisivos para a reciclagem de qualquer embalagem.” Faz sentido: quase todo produto precisa chegar ao consumidor protegido por algum tipo de invólucro Tal constatação levou, diz Martini, à adoção – por exemplo, cosméticos e perfumes. O Grupo por parte do Boticário de diretrizes que norteiam Boticário é uma das maiores companhias deste a concepção das embalagens de cada cosmético e ramo, e referência mundial na criação de cadeias de perfume da empresa. O objetivo dessas diretrizes é consumo sustentáveis para os itens que fabrica. garantir que os invólucros, uma vez transformados em dejetos, voltem à cadeia produtiva – idealmente, à “Eu costumo dizer que o lixo, em última análise, mesma cadeia que os gerou. nada mais é do que um erro de design”, crava Michele Martini é analista de jan+fev 2021 “O LIXO É UM ERRO DE DESIGN”sustentabilidade do grupo Oboticário 8

LAGENS PARA ECONOMIA A ECONOMIA CIRCULAR, CONCEITO CONSOLIDADO NA ABORDAGEM DAS POLÍTICAS CORPORATIVAS DE SUSTENTABILIDADE, TEM NA INDÚSTRIA DE EMBALAGENS UM DOS SEUS PILARES POR ALEX RICCIARDI jan+fev 2021 9

São elas: Grupo Boticário mantém desde venda... é uma linha com uma única direção; daí seu 1. Desenvolver embalagens usando, sempre que 2006 um programa de logística nome, economia linear. reversa, e estabeleceu diretrizes possível, materiais reciclados pós-consumo; Este modo de produção, se não for descontinuado, 2. Projetar de forma a facilitar o futuro desmonte para novos desenvolvimentos tende a tornar o planeta Terra, a longo prazo, que ajudem nesse retorno simplesmente inabitável para os seres humanos. da embalagem, optando preferencialmente por Já o está tornando, há um bom tempo, aliás. Em fechos de rosca ao invés dos de batoque, ou por Metodologia da Braskem contraposição a essa lógica surgiu a economia circular. encaixe ao invés de colagem; para desenvolvimento 3. Preferir embalagens feitas com um só material, ou de embalagens mais “A economia circular é uma alternativa à economia então com materiais compatíveis entre si, o que sustentáveis linear, pois considera o ciclo completo de consumo facilita seu reaproveitamento. – desde a extração, passando pela concepção do Martini lembra ainda que embalagens com função produto até o descarte – de maneira sustentável, indo de refil são ótimas, pois sequer chegam ao estágio no além do proposto pelo modelo linear”, explica Fabiana qual se transformariam em lixo, dado que não saem Quiroga, diretora de Economia Circular da Braskem na da fase de uso (essa é a essência da ideia de refil). Mas América do Sul. ainda há uma curva de aprendizado a ser feita pelo consumidor brasileiro para que a refilagem seja mais “Por meio da circularidade é possível extrair o usada, lamenta ela. máximo de valor do uso de um determinado material, O Grupo Boticário, desde 2006, conduz um pro- como o plástico, para então reutilizá-lo e/ou recuperá- grama de logística reversa que é reconhecido pelo lo ao fim de cada ciclo de vida útil, transformando-o Prêmio ABIHPEC Beleza Brasil em função de seu resul- em matéria-prima para novas aplicações.” tado na reciclagem de embalagens. São mais de trinta cooperativas cadastradas, além de 4 000 pontos de Ela conta que, para a Braskem, o tema é tão coleta espalhados pelo país. importante que em novembro de 2018 a companhia “Junto a isso, contribuímos com a economia circu- (que se dedica à química e à petroquímica) firmou um lar utilizando diversos materiais reciclados em nossas embalagens: vidro, PET, PP e papel”, enfatiza Martini. A PRÁTICA QUE ANTECEDE a economia circular – e que hoje mostra claros sinais de esgotamento – é a economia linear. Sua lógica é bastante simples: obter a matéria-prima, processá-la, transformá-la em produto, vender pelo melhor preço possível e depois deixar para o consumidor a tarefa de cuidar daquilo que sobra. O que sobra, em geral, é a embalagem. Joga-se ela no lixo, o lixo (nem sempre) é recolhido pelo poder público, com uma parcela sendo destinada à recicla- gem, outra aos aterros sanitários e, lamentavelmente, com volumes não desprezíveis tendo destinos inade- quados. Na outra ponta, contudo, a ação continua: obtenção de insumos, fabricação dos bens, Fabiana Quiroga, da Braskem: Fabio Sant’Ana, da Braskem: “Ciclo completo de consumo” “O design é fundamental” ECONOMIA LINEAR: UM MODELO EM CRISE 10 jan+fev 2021

compromisso em prol da economia circular, convidando o globo a deixarem de ser lineares e tornarem-se outros atores do setor a fazerem o mesmo. circulares. Nela atua a especialista Thais Vojvodic, “O compromisso coloca a Braskem como parte da solução, trabalhando com todos os agentes incentivando e estruturando projetos para tanto. interessados visando transformar nossa economia linear em circular, onde as necessidades da sociedade “O modelo econômico linear – ‘extrair, produzir, são atendidas por materiais, processos e sistemas mais inovadores e mais sustentáveis.” jogar fora’ – está atingindo seus limites físicos”, alerta E, falando especificamente acerca de embalagens, Vojvodic. “A economia circular é uma alternativa que Fabio Sant’Ana (responsável pelo Desenvolvimento de Embalagens para a Economia Circular da busca redefinir a noção de crescimento, com foco em Braskem) pontua: “O design é parte fundamental do desenvolvimento de embalagens mais circulares, dado benefícios para toda a sociedade.” que até 80% do impacto ambiental de cada item virá do projeto de design”. “Isso envolve”, na opinião dela, “dissociar a “Nesse sentido”, continua ele, “é fundamental atividade econômica do consumo de recursos finitos, auxiliarmos nossos parceiros e clientes a criarem solu- ções mais circulares, as quais lhes ajudarão a alcançar e eliminar resíduos do sistema”. De acordo com metas de sustentabilidade estabelecidas para os próxi- mos anos. Esse é o maior foco da metodologia própria Vojvodic, o modelo circular, apoiado por uma transição da Braskem para a obtenção de embalagens mais sustentáveis”. para fontes de energia renovável, construiria capital A FUNDAÇÃO ELLEN MACARTHUR, sediada econômico, natural e social, baseado em três pilares: no Reino Unido, é o centro mundial para a concepção de políticas que levem cadeias econômicas em todo 1. Eliminação de resíduos e poluição já no nascedouro; 2. Manutenção de produtos e materiais em uso; 3. Regeneração dos sistemas naturais. Vale observar que, de acordo com estudos feitos pela Fundação Ellen MacArthur, a transição para uma economia circular em escala tem potencial de economizar mais de 700 milhões de dólares em utilização de materiais por empresas de bens de Thais Vojvodic é especialista na Fundação Ellen MacArthur CHEGANDO AO LIMITE FÍSICO jan+fev 2021 11

consumo e reduzir em 48% as emissões de carbono para produzir resinas PCR. Carlos Lopes, da J&J: “Temos até 2040. Porém, o que fazer, objetivamente, para que Esses braços industriais, contudo, não ofuscam o redesenhado nossas embalagens, tal transição ocorra? gerando economia para a empresa” papel da Boomera como idealizadora e operadora de Gui Brammer, da Boomera, nome Segundo Vojvodic, um dos caminhos é a adesão iniciativas voltadas à gestão de resíduos, apoiada por forte na área de economia circular ao chamado Compromisso Global, lançado em acordos com cooperativas de catadores espalhadas 2018, que já conta com mais de 500 signatários – pelo Brasil todo. dentre eles mais de 250 empresas que respondem por mais de 1/5 de todas as embalagens plásticas “A economia circular é a economia para a produzidas globalmente. O plástico, não custa prosperidade.” Assim Thais Fagury define a visão lembrar, é o material que mais vem sofrendo ataques, que a entidade que preside, a Associação Brasileira globalmente, quando o tema é sustentabilidade – de Embalagem de Aço (Abeaço), tem sobre o tema. ainda que as questões relacionadas com extração, “Aquele lema tão conhecido, ‘produzir mais com transformação, uso e descarte apliquem-se também menos’, não corresponde à economia circular, ao às demais matérias-primas. contrário do que muitos pensam, pois com ele apenas se retarda o desgaste dos recursos. Precisamos fazer “Ao assinar o Compromisso Global”, explica a mais”, enfatiza ela. especialista, “essas empresas se comprometeram a implementar a transição para uma economia circular E a Abeaço está fazendo: a entidade criou em de suas embalagens plásticas até 2025”. Isso será feito 2012, em conjunto com a Abrafati (Associação através de quatro metas: Brasileira dos Fabricantes de Tintas, o Prolata, ou Programa de Logística Reversa para Latas de Aço) – 1. Eliminar embalagens plásticas problemáticas e operado pela Boomera. Alguns dos principais focos do desnecessárias; programa são viabilizar o retorno de embalagens de aço descartadas após o uso dos produtos, fomentar 2. Garantir que 100% de suas embalagens sejam centros de reciclagem e parcerias com cooperativas de reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025; catadores de materiais recicláveis e valorizar o preço da sucata de aço para a confecção de embalagens. 3. Migrar de modelos de uso único para modelos de reúso quando isso for viável; O aço é circular desde que foi criado, lembra Fagury. Mais de 385 milhões de toneladas são recicladas 4. Aumentar o uso de plástico reciclado no no planeta por ano; só no Brasil, cerca de 200 ooo desenvolvimento de novas embalagens. toneladas de latas de aço pós-consumo voltam à cadeia produtiva via processo de reciclagem. Em países como ENGANA-SE QUEM PENSA que a adoção de Alemanha e Bélgica o índice de reciclagem das latas um modelo circular em todo o mundo, em todas as de aço pós-consumo supera 95%. No Brasil, 47% do economias nacionais espalhadas pelo planeta, levaria total das latas de aço consumidas são recicladas – o que a uma redução generalizada de rentabilidade para inclui embalagens de alimentos como ervilha, milho empresas e indivíduos. Na verdade, o mais provável é e sardinha, de bebidas, bem como latas de tintas, de que se daria justamente o contrário. massa corrida e de produtos químicos. As oportunidades existem, e seguem a lógica “O modelo de reciclagem instituído pelo Prolata de que todo tipo de resíduo gerado num processo foi inspirado nos cases da Suécia e Suíça, países bem- produtivo representa, em última instância, alguma sucedidos não só em seus índices de reciclagem (os forma de desperdício. quais chegam a 82% no caso das latas de aço), mas “Segundo análise feita pela União Europeia, investir Thais Fagury, da Abeaço: em economia circular pode levar a, até 2030, um “É preciso fazer mais” crescimento de 7% do PIB da Europa, além de reduzir o consumo de matérias-primas em 10% e diminuir as emissões de gás carbônico em 17%”, revela Gui Brammer, CEO da Boomera, consultoria especializada em recursos renováveis, e case de sucesso no aproveitamento lucrativo de resíduos na produção. A empresa possui uma fábrica em Cambé (PR), onde produz lonas tipo carreteiro com resíduos reci- cláveis, mirando o mercado agrícola com propostas inovadoras, como a mudança de paradigma de venda de produto para serviços, mediante o aluguel das lonas. No final de 2020, a Boomera também anunciou BoomeraLar, uma joint venture com a LAR Plásticos “ECONOMIA PARA A PROSPERIDADE” 12 jan+fev 2021

LUCRATIVIDADE REAL também nos modelos instituídos, que geram eficiência e preveem o compartilhamento de responsabilidade entre todos os elos da cadeia”, conta a líder da Abeaço. “Contudo”, alerta Fagury, “ações como essa não serão possíveis se não motivarmos o consumidor a colaborar. É fundamental que os consumidores compreendam que levar produtos embalados em materiais recicláveis – e reciclados de fato –, como o aço, é uma economia para toda a sociedade”. CORROBORANDO A IDEIA de que economia Zita Krammer, da Unilever: circular pode, na prática, trazer bons resultados, compromissos públicos globais Carlos Eduardo Lopes, diretor de desenvolvimento de embalagens da Johnson & Johnson, explica por em redução de impactos que a saúde financeira de uma empresa pode, e deve, decorrer da opção por práticas ambientalmente embalagens mais sustentáveis, que atendam às neces- sustentáveis. sidades dos seus consumidores, ao mesmo tempo em que garantem a segurança e a qualidade dos produtos “Temos redesenhado nossas embalagens no – e, muito importante, respeitam o meio ambiente. sentido de reduzir o uso de plástico, gerando uma O caminho percorrido até aqui já se materializou em economia anual para nossa companhia da ordem de desenvolvimentos em diferentes categorias, com mar- 300 toneladas de plástico”, relata ele. cas importantes como Seda e Omo, e rendeu à Unile- ver uma menção especial do Prêmio Grandes Cases Lopes informa também que, até 2025, a Johnson & de Embalagem em 2019. Johnson vai eliminar todo o plástico desnecessário ou problemático de suas embalagens; mudar embalagens Diante de tantas evidências, não há como negar de uso único para outras, que possam ser reutilizáveis; que a economia circular já está a caminho, e que será e garantir que 100% das suas embalagens de plástico uma força motriz importante a mover os países e as serão reusáveis, recicláveis ou compostáveis, dentre sociedades do futuro. Assim seja. outras providências. Chama atenção também a posição e a atuação de outra multinacional, a Unilever, acerca da questão da economia circular. Zita Oliveira Krammer, gerente de Sustentabilidade para Embalagens na Unilever Latam, é uma entusiasta da ideia de economia circular. “Acreditamos na economia circular e assumimos compromissos públicos globais, com metas para reciclagem, reciclabilidade, coleta e processamento dos materiais presentes nas embalagens”, relata a profissional. Como ocorre com outras grandes marcas, a Unilever definiu metas específicas para suas embalagens plásticas – que, vale registrar, são aliadas importantes nos negócios da companhia. As metas da empresa até 2025 com relação a esse material são: 1. Reduzir pela metade o uso de plástico virgem (eliminando assim mais de 100 000 toneladas do material presente em embalagens) e acelerar a utilização de plástico reciclado; 2. Ajudar a coletar e processar um número maior de embalagens plásticas do que a quantidade que a Unilever comercializa; 3. Ter 100% de suas embalagens recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis, também até 2025. Com esses objetivos definidos, a Unilever traça estratégias e define prioridades visando desenvolver jan+fev 2021 13

EDU LEPORO FOTOGRAFIAENTREVISTA REPENSAR AS AÇÕES E TORNÁ-LAS MAIS SUSTENTÁVEIS CRISTIANI VIEIRA, GERENTE DE SUSTENTABILIDADE DA NESTLÉ BRASIL, FALA SOBRE AS METAS DE REDUÇÃO DE IMPACTOS DA COMPANHIA, COM FOCO NAS EMBALAGENS Nos últimos anos, as embalagens vêm sendo consideradas as vilãs da polui- ção por diversos ambientalistas. E as grandes multinacionais são responsabilizadas pelo presença dessas embalagens no ambien- te. Mas as empresas, já há algum tempo, vêm agindo de forma a minimizar danos ao meio- -ambiente, com metas ousadas de redução de materiais em seus processos produtivos, prin- cipalmente em embalagens. Nessa entrevista, a gerente de Sustenta- bilidade da Nestlé Brasil, Cristiani Vieira, fala como a companhia enxerga seu papel nesse contexto e como a empresa está atuando para implementar melhores práticas em suas fábri- cas, além de implementar os compromissos globais da Nestlé no Brasil. Cristiani Vieira Gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil, responsável por liderar o desenvolvimento dos compromissos globais da empresa no mercado brasileiro, bem como garantir a aplicação das melhores práticas ambientais nas unidades fabris da empresa no Brasil. Possui vinte anos de atuação nas áreas de meio ambiente, segurança do trabalho e qualidade, em indústri- as dos ramos automobilístico, cosméticos e alimentício. Engen- heira Sanitarista Ambiental graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina, Especialista em Direito Ambiental e Engen- heira de Segurança do Trabalho pela Universidade de São Paulo e Master em Gestão Empresaria pela Fundação Getúlio Vargas. 14 jan+fev 2021

A Nestlé é criticada por ambientalistas por ser uma das maiores geradoras de lixo do pla- ATUALMENTE, 87% neta, principalmente plásticos. A companhia anunciou que concorda com a necessidade de DAS EMBALAGENS reduzir o uso de materiais de embalagem, e em meados de 2018 fixou a meta de ter 100% DA NESTLÉ de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025. O que significa sustentabilidade GLOBAL JÁ SÃO para a Nestlé? DESENHADAS PARA A meta de embalagens integra toda uma jornada de cuidados com o planeta que a RECICLAGEM. NO Nestlé conduz globalmente, sempre dentro de um conceito de criação de valor com- BRASIL, SÃO 95% partilhado. A responsabilidade e os cuidados com o meio ambiente são parte integral DAS EMBALAGENS. de nossos esforços em todos os locais em que estamos presentes. Constantemente ALÉM DISSO, A olhamos para nossas operações para pensar em como reduzir seus impactos. Um de COMPANHIA TEM nossos compromissos é, até 2030, atingir o impacto zero de nossas operações glo- COMO META balmente. São ações para garantir o melhor uso possível da água nas fazendas, nas REDUZIR, NO fábricas, nos escritórios. É também um olhar para os resíduos que geramos. Não desti- BRASIL, ENTRE namos nenhum resíduo da nossa produção aqui no Brasil para aterros. Também temos 2019 E 2021, 3,8 um compromisso de entregar nossos produtos em embalagens que sejam seguras e MIL TONELADAS não impactem o meio ambiente. DE PLÁSTICO EM EMBALAGENS No Brasil, a Nestlé lançou no final de 2019 a Iniciativa RE, cujo objetivo é promover a mudança de comportamento, educando, engajando e mobilizando o cidadão, contri- 15 buindo para uma mudança duradoura e impactante. Essa é a forma da Nestlé de falar de sustentabilidade, de mostrar transparência no que tem sido feito e no que está por vir. Repensar todas as nossas ações para torná-las mais sustentáveis, com uma visão que vai da produção até a destinação final dos nossos produtos para descarte e recicla- gem, passando por rever nossas embalagens. Como parte de seu compromisso para uma atuação mais sustentável, a Nestlé busca trabalhar com representantes da cadeia de valor e associações de classe para explorar diferentes soluções nesse sentido, como o Cataki, da ONG Pimp My Carroça, o Reciclar pelo Brasil, que apoia mais de 250 cooperativas em todo o País e o Cidade+, do Instituto Recicleiros, que amplia a atuação em municípios para uma coleta seletiva integrada às cooperativas com serviços ambientais. A Nestlé também desenvolveu o EcoBot, uma tecnologia que tira dúvidas e orienta as pessoas sobre o correto descarte e a destinação do lixo. Entre as funções disponíveis também é possível receber suges- tões para facilitar o dia a dia da reciclagem em casa e gerar impacto social, ajudando catadores e cooperativas que atuam com reaproveitamento de resíduos. Qual a porcentagem hoje de embalagens reutilizáveis e recicláveis nos produtos da Nestlé? Atualmente, 87% das embalagens da Nestlé global já são desenhadas para recicla- gem. No Brasil, são 95% das embalagens. Além disso, a companhia tem como meta reduzir, no Brasil, entre 2019 e 2021, 3,8 mil toneladas de plástico em embalagens. Quais são os principais programas da Nestlé no Brasil para redução no consumo de plástico? A Nestlé está intensificando suas ações para tornar 100% de suas embalagens reci- cláveis ​ou reutilizáveis a​ té 2025 e reduzir, no mesmo período, em um terço o uso de plásticos virgens. Essa é uma jornada que está sendo construída. Dentro do seu com- promisso, a Nestlé busca alternativas de materiais e embalagens e este é um processo desenvolvido dentro de um contexto de economia circular com um olhar direcionado para algumas frentes: o melhor design das embalagens; como elas podem ser reutili- záveis; como elas podem ser recicladas e como a Nestlé pode influenciar na melhoria do sistema de gerenciamento de resíduos pós-consumo. Prova dessa preocupação é a criação do Nestlé Institute of Packaging Sciences, em dezembro de 2018, em Lausan- ne, na Suíça, para avaliar e desenvolver vários materiais de embalagem sustentáveis e colaborar com parceiros industriais para desenvolver novos materiais e soluções de embalagem. jan+fev 2021

APÓS DIVERSAS Uma das ações divulgadas foi a retirada dos canudinhos de plástico de 100% das embalagens PESQUISAS E do Nescau Prontinho, com a inauguração de uma nova linha de envase em Feira de Santana (BA). A senhora poderia explicar um pouco mais como está esse processo? INVESTIMENTOS, FOI POSSÍVEL Desde janeiro de 2021, todas as embalagens de Nescau Prontinho, que são 100% produzidas na fábrica de Feira de Santana, já vêm com o canudo de papel. É possível ELIMINAR TAMBÉM que o consumidor ainda encontre a versão com canudos plásticos, produzidos antes OS PLÁSTICOS desta data, em alguns pontos de venda, mas os novos produtos, fabricados a partir de QUE MANTÊM janeiro de 2021, já virão 100% com canudo de papel e gradualmente vão substituir a UNIDAS AS versão antiga. Além da eliminação dos canudos plásticos, Nestlé e Nescau deram ainda EMBALAGENS importantes passos para a redução de uso de materiais de embalagens em suas linhas DE NESCAU de bebidas, fabricadas na unidade da companhia em Feira de Santana (BA). Após diver- PRONTINHO NA sas pesquisas e investimentos, foi possível eliminar também os plásticos que mantêm VERSÃO TRI- unidas as embalagens de Nescau Prontinho na versão tri-pack (com três unidades), que serão substituídos por envoltórios de papel, resultando na redução do uso de 278 tone- PACK, QUE SERÃO ladas de plástico. A companhia também conseguiu retirar os plásticos que envolviam SUBSTITUÍDOS os paletes de produtos que saíam da fábrica para distribuição, utilizando um novo siste- ma, com uso de cola, para manter os paletes unidos. Com isso, serão eliminados mais POR ENVOLTÓRIOS 16 toneladas de materiais plásticos por ano. DE PAPEL, A substituição dos canudos de plástico por papel será estendida a outras bebidas do portfólio RESULTANDO NA de cartonadas assépticas? REDUÇÃO DO USO DE 278 TONELADAS Sim. A mudança é válida para 100% das bebidas do portfólio da Nestlé. DE PLÁSTICO Recentemente a linha de Nescau Orgânico em PET asséptico chegou ao mercado sem o uso de tampas plásticas. Nesse caso, a tampa foi substituída por um rótulo termoencolhível , que 16 serve como lacre. A senhora pode detalhar como foi desenvolvida essa embalagem e como é feita a vedação? E qual a economia de material, já que o tamanho do rótulo foi aumentado? Para criar uma embalagem que mantivesse a segurança e a durabilidade do pro- duto sem a necessidade da tampa, a marca investiu em diferentes frentes, que vão do redesenho do recipiente ao ajuste de processos produtivos e equipamentos na fábrica. A solução encontrada pela companhia foi desenvolver uma embalagem denominada Abre-Fácil, que consiste de um envoltório a base de material PET (mesmo material da garrafa) que ao ser encolhido através de aplicação de ar quente, substituiu a função da tampa realizando a vedação e protegendo o produto. Para facilitar a abertura da emba- lagem, foi desenvolvido sistema de picotes que permite acessar o lacre de forma fácil, garantindo a usabilidade do produto e seu conceito de pronto para beber. Com a novidade, a empresa vai evitar a utilização de 610 mil tampas por ano, o que equivale a cerca de 2,6 toneladas de plástico. Além disso, evita um outro grande pro- blema já que, por serem muito pequenas e leves, muitas vezes essas tampas não são descartadas corretamente e podem parar no meio ambiente, inclusive nos oceanos. Essa solução será usada por outros produtos envasados nesse tipo de embalagem? A ideia é constantemente testar e utilizar novas soluções que possam ser aplicadas em todo o nosso portfólio. Outra ação da Nestlé anunciada no final de 2020 foi a retirada do filme plástico que envolvia a caixa de bombons Especialidades. Ouvimos algumas criticas de consumidores de que essa solução poderia prejudicar a segurança das embalagens. Como é garantida a inviolabilidade da caixa? Houve alguma mudança no acabamento da embalagem, já que a película dava uma garantia de “brilho” na prateleira? Para total segurança do consumidor as caixas vão contar com um sistema de lacração da embalagem 100% seguro e visível caso esteja violado. Outra mudança jan+fev 2021

importante são as embalagens de alguns dos bombons individuais – Classic, Galak e A PRODUÇÃO Sensação – que agora terão envoltório flowpack, com vedação hermética. Esse tipo de DA CAIXA embalagem, além de ser ideal para conservação do produto, também possui um pro- ESPECIALIDADES cesso de reciclagem mais simples. NESTLÉ NESTE NOVO FORMATO De quanto é a redução de plástico nesse caso? REPRESENTA, A produção da caixa Especialidades Nestlé neste novo formato representa, anual- ANUALMENTE, A REDUÇÃO DE mente, a redução de mais de 450 toneladas/ano de plástico no ambiente. Este volume MAIS DE 450 representa o peso de cerca de 100 elefantes. Além disso, com essa quantidade reduzi- TONELADAS/ANO da de plástico é possível dar meia volta na terra ou atravessar o Brasil cinco vezes. DE PLÁSTICO NO AMBIENTE Uma das grandes dificuldades dos donos de marca é a reciclagem de embalagens flexíveis laminadas. Em 2020, a Nestlé lançou um projeto piloto com os sachês de Leite Ninho. Como é 17 executado esse programa? Já há resultados? A iniciativa é um projeto piloto de alcance nacional que concilia a reciclagem de embalagens de sachê Ninho e o repasse de recursos para entidades sociais. Desenvol- vida com a consultoria TerraCycle, prevê a parceria com cooperativas de todo o Brasil, por meio da iniciativa Reciclar pelo Brasil – maior programa de reciclagem inclusiva do país, com 160 cooperativas de catadores de dezessete estados – e o engajamento de consumidores para a reciclagem das embalagens flexíveis do produto. Agora estamos trabalhando em expansões para atender outros tipos de embalagem e também para levar a iniciativa de coleta das embalagens para pontos de venda físicos. A senhora poderia citar outros casos de modificações de embalagens realizados pela Nestlé visando à sustentabilidade? No Brasil, a companhia tem desenvolvido diversas iniciativas nessas frentes, como a redução da altura de latas de Ninho que resulta na economia de folhas de metal utilizadas, novidades em embalagens de Nescau (canudos de papel), caixas de bombons (retirada do envoltório plástico) e nutrição infantil (sachês monomaterial de Mucilon e que utilizam menos plástico na sua composição). No total, todas as ações já resultaram na redução de mais de 7 500 toneladas de material de embala- gem entre 2017 e 2020. Que outras ações a empresa adotou – ou vai adotar – para conseguir atingir suas metas de sustentabilidade? A Nestlé tem como ambição para 2050 alcançar impacto ambiental neutro em suas operações e, para isso, estabeleceu uma série de metas progressivas de redu- ção dos impactos, como os esforços para produzir embalagens 100% recicláveis ou reutilizáveis até 2025, redução de 35% da água utilizada por tonelada de produto até 2020 e a ampliação do uso de fontes de energia renováveis. A empresa atingiu essas metas já no final de 2018, e continuará trabalhando para aumentar ainda mais seus índices. No Brasil, por exemplo, a Nestlé acaba de atingir a meta global de reduzir a uti- lização de água por tonelada de produto em 40% até 2020. A utilização de fontes de energia renováveis também está no radar e 100% da energia elétrica usada nas unida- des fabris, sedes administrativas e centros de distribuição da companhia no Brasil é de fontes renováveis. A Nestlé também está acelerando suas ações para combater as mudanças climá- ticas e se comprometeu com emissões líquidas zero até 2050. Os planos para atingir essa meta incluem restaurar terras agrícolas e florestas, aumentar o uso de energia renovável e reformular produtos que tenham uma melhor pegada ambiental e contri- buam para uma dieta balanceada. jan+fev 2021





TENDÊNCIAS O VINHO FAZ A FESTA COM AUMENTO DO CONSUMO DA BEBIDA DURANTE A PANDEMIA, CRESCEM AS VENDAS ONLINE E DIVERSIFICA-SE O USO DE EMBALAGENS ALÉM DE GARRAFAS DE VIDRO Os efeitos da crise sanitária causada pelo jan+fev 2021 coronavírus sem dúvidas estão sendo negativos – quando não, devastadores – para a maioria dos setores e atividades da economia. Mas há aqueles que não têm de que se queixar, a não ser quanto a entraves de desabastecimento na produção final, podendo mesmo festejar no que diz respeito ao desempenho comercial. É o caso da área de vinhos (incluindo fornecedores de diferentes sistemas de embalagem), cujo consumo per capita entre os brasileiros saltou de ínfimo 1,68 litro para 2,57 litros, segundo informa a Ideal Consulting, entre diferentes outras medições. O produto foi o escolhido por muitos como a bebida da quarentena. As razões do boom vão desde a restrição do consumo em eventos sociais, em bares e restaurante, até a alta cotação do câmbio, que ao incidir no preço final do produto tornou mais conveniente beber em casa do que fora. Boa parte disso se deve à adesão do público jovem ao consumo de vinhos, sem ser os chamados “de guarda”, envasados em recipientes não convencionais, isto é, garrafas de vidro. É esse quadro, que entre outros efeitos ajuda a entender a dificuldade enfrentada por algumas vinícolas, sobretudo as de menor porte, de se abastecerem com as tradicionais garrafas de vidro, como é explicado mais adiante. Sem dúvida isso abriu oportunidades para envasadoras já estabelecidas, mas também para novas concorrentes, buscarem conquistar com embalagens alternativas, principalmente latas de alumínio, públicos adventícios, oferecendo-lhes produtos “de entrada”, em geral mais suaves e frisantes. O certo é que se rompeu a barreira segundo a qual era um sacrilégio tomar vinho vindo em um recipiente de alumínio e, no mínimo, vulgaridade num bag-in-box e mais ainda numa embalagem cartonada asséptica. Em outros países há até notícias de vinho envasado em stand-up pouches, aqueles sachês plásticos que têm a propriedade de ficar em pé. . . Por aqui, todos esses sistemas avançaram, com ênfase no comércio online, no qual, registre-se, as garrafas de vidro predominam. 20

O ALUMÍNIO PEGA A ONDA Atendência de envasar vinho em latas, vista Trivium aposta em oportunidades com formatos diferenciados, além da lata convencional como um sacrilégio por enófilos e outros adeptos da exclusividade da bebida em também para formatos diferenciados “, diz Arthur Vivant Wines: de olho nos millenials garrafas de vidro, vem aumentando no mundo inteiro Souza, especialista de excelência comercial para a (principalmente nos Estados Unidos) e ganha corpo América Latina da Trivium Packaging, empresa glo- também no Brasil. Segundo o instituto Nielsen, as bal presente no Brasil que atua com embalagens de vendas de produtos nessa embalagem registraram alumínio para diferentes segmentos – o de vinhos aumento de 69% entre meados de 2018 e de 2019, e entre eles. continuam crescendo. A empresa oferece um portfólio de garrafas de Vinícolas tradicionais têm recorrido às alumínio com tampa de rosca, tendo como um dos latas como canal adicional de distribuição para focos o mercado de vinho. Os recipientes são feitos ocasiões específicas de consumo, como idas à nos Estados Unidos e têm seis formatos padrões, praia e confraternizações fora de casa, com oferta mas podendo também ser customizadas, com medi- principalmente de vinhos de teor alcoólico e sabor das que variam de 240 a 600 mililitros. mais suaves, os chamados “de entrada”. São produtos que visam também a consumidores jovens e não “As garrafas têm formatos que se assemelham habituados à bebida “segundo as normas da enofilia”. aos das feitas de vidro e fazem grande sucesso no mercado americano”, afirma o executivo. Para quem Foi o que fez, por exemplo, a Cooperativa Nova tem foco em diferenciação, a Trivium Packaging tem Aliança, do Rio Grande do Sul, que já em 2014 lançou garrafas com aparência incomum no mercado, “com um espumante suavizado, o filtrado doce Del Sole. A excelente receptividade por parte dos consumidores, Nova Aliança afirma que o desempenho comercial do não só em vinhos, mas também em novos conceitos produto (“o mais vendido na categoria no País”) cresce de bebidas obtidas de uvas, como coquetéis e frisan- 25% ao ano (ver EM+ nº 20, set/out de 2020). tes”, complementa Souza. Outro caso significativo é o da Vivant Wines, fundada há cerca de dois anos no Rio de Janeiro, sob licença de empresa de mesmo nome de grande êxito nos Estados Unidos, tendo por alvo inicial o público chamado de millenials, A proposta da empresa é ofe- recer vinhos leves, com graduação alcoólica em torno de 11%, abaixo dos 12,5% correntes no mercado. A fórmula deu certo, e a empresa encerrou o exercício de 2020 com vendas de 100 mil latas de cinco varie- dades diferentes de vinho, produzidas pela Vinícola Don Bonifácio, de Caxias do Sul (RS). Recentemente, fechou acordos para distribuição em 200 pontos de venda de diferentes bandeiras, em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os produtos podem ser encontrados ainda em hostels, quiosques de praia e até em alguns cinemas da rede Kinoplex. Mas a marca vem dando atenção também à via do e-commerce, canal que já recebe a gradativa adesão de empresas especializadas no comércio virtual de vinhos em lata, com marca própria, como a eVino – o que é visto como comprovação de um futuro promissor para uso da embalagem metálica. Dentro da tendência de uso de recipientes de alumínio para vinhos, há empresas se movimentando para viabilizar ofertas diferenciadas aos consumi- dores finais. “Enxergamos muitas oportunidades de mercado para o alumínio, não só para latas, mas jan+fev 2021 21

COMO AS CAIXAS GANHAM ESPAÇO Um segmento fornecedor de Scholle-IPN enxerga grande cada vez mais empresas de vendas online optam por embalagens para vinho que vem potencial para o BiB, a exemplo essa embalagem, acredita, citando como exemplo de ocupando espaços em decorrência da do que ocorre fora do Brasil sucesso a Fabenne, empresa paulistana que apostou pandemia, ao mesmo tempo que influencia no nesse sistema de embalagem para crescer (ver página aumento do consumo da bebida, é o de bag- ao lado). in-box, que se apoia em vantagens logísticas e na proteção do conteúdo por longos períodos A opinião é compartilhada por outro gigante do depois de a embalagem ser aberta. O vinho é setor, a Smurfit Kappa, que trabalha com sistemas acondicionado em um saco inserido em uma completos de embalagem BiB, fornecendo desde filmes caixa de papelão ondulado, que cumpre a e acessórios, sacos, torneiras e caixas, até linhas de função estrutural e de comunicação. O produto envase completas. “Observamos que esta ainda é uma é dispensado por meio de uma torneira que tendência nova no Brasil, mas bastante difundida em impede a entrada do ar, mantendo-se íntegro mercados de vinhos mais maduros, como os EUA e por até seis semanas depois de aberto. alguns países da Europa”, explica o CEO da subsidiária brasileira da empresa, Manual Alcalá. Esse tipo de “O mercado de vinho em bag-in-box no embalagem, que corresponde a cerca de um terço Brasil tem um grande potencial de crescimento, visto do consumo de vinhos na França, e de metade na que o atual consumo é concentrado na região sul, mais Escandinávia, ainda dá os primeiros passos no Brasil. especificamente no Rio Grande do Sul”, entende Kleber “Contudo, com o aumento das vendas de vinhos por Moura, diretor comercial Latam da Scholle-IPN, robusta e-commerce, acreditamos que a solução irá ganhar fornecedora local desse tipo de recipiente. espaço no mercado nacional.” “Temos observado que alguns hábitos têm Esse modo de venda vem sendo adotado por sido adquiridos por crescente número de pessoas crescente número de vinícolas renomadas, como a que vivem em outras regiões do País”, ele informa. Miolo, que estreou bag-in-box para produtos de sua Esses consumidores seriam influenciados por marca já em 2007. As variantes então lançadas foram estabelecimentos que vendem vinho em porções Seleção Tinto e Branco. “Inicialmente, essa embalagem (“taças”) retiradas de embalagens bag-in-box, foi concebida como opção para vinho de mesa de viabilizando um consumo maior dado o ticket (preço primeiro preço, como os de garrafão”, conta Marina final) menor do que o oriundo de garrafas de vidro. Gatelli, gerente de marketing da empresa. Ela relata Essa relação custo/benefício é válida também para o também que atualmente já é possível encontrar muitas consumo nos domicílios. marcas, nacionais e estrangeiras, oferecendo opções de variedades especiais em seus portfólios. “O bag-in-box “Cabe ainda ressaltar outras vantagens da está sendo visto como alternativa de embalagem, e não venda fracionada, como a não ocorrência de perda mais de produto”, Marina Gatelli observa. E informa de qualidade sensorial do produto, a logística de que em 2020 a Miolo registrou acréscimo de 30% no transporte e armazenamento favorável dos BIBs em volume de vendas de vinho nesse modo de embalagem. relação às garrafas, entre outras.” Não é por menos que Miolo já é tradicional usuária de BiB desde 2007, em versões de 3L e 5L, inclusive para as variedades especiais Smurfit Kappa jan+fev 2021 oferece sistema completo, dos itens de embalagem ao sistema de envase 22

MISSÃO: POPULARIZAR O CONSUMO DE VINHOS No final de 2017, três amigos fundaram em preservado por tempo maior depois de aberto, ele informa, ressaltando porém que essa cifra São Paulo uma pequena empresa, a Fabenne, porque o sistema impede a entrada de oxigênio ocorreu sobre uma base muito pequena. com o objetivo de ajudar a popularizar o e a degradação do vinho, o modelo poderia ser consumo de vinho no Brasil. Ao verem um mais atraente para os restaurantes. “Fizemos No final de 2019, a empresa recebeu aporte produto chileno acondicionado em bag-in-box acordos que permitiram aos estabelecimentos de 700 mil reais de investidores. Foi quando os (BiB) concluíram: “É isso que queremos”. oferecer um copo de vinho para acompanhar um sócios estabeleceram a meta de crescer 300%, prato executivo por apenas mais R$ 9,90”, relata sendo metade no canal food service e metade Quem conta a história é Adriano Santana Cornago. “No primeiro ano crescemos 500%”, em consumidores finais. Com a pandemia e a Cornago, um dos fundadores da empresa. O restrição generalizada à frequência de bares e projeto foi colocado em campo em 2019, com restaurantes, a primeira fonte secou. Os esforços marca própria e embalagens BiB de 3 litros, da Fabenne concentraram-se então no outro envasados em parceria com a Cooperativa São segmento de consumo – e o crescimento da João, localizada na Serra Gaúcha. A estratégia empresa foi de 315%, dos quais 98% desse desenhada à época era a de crescer com a venda volume veio de vendas online. “Hoje enxergamos no canal food service. nesse canal uma mina de ouro”, anima-se Cornago. O desafio comercial era convencer os restaurantes a mudarem a forma de vender Tendo iniciado o negócio com vinhos “de vinho. Em vez de manterem uma adega, entrada”, hoje a Fabenne mantém um leque de às vezes com apenas uma garrafa de cada produtos composto por um Essencial Cabernet rótulo, para ofertar taças por preços elevados Sauvignon (tinto), um Marcatto Giallo (branco) e e vender poucas doses (“taças”) nas refeições, um rosé. E planeja ampliar a linha de qualidade seria possível vender mais vinho se a venda superior, lançada recentemente com o Cabernet porcionada utilizasse o BiB. Como o produto Sauvignon Seleção Especial. A expectativa é de nessa embalagem tem custo por litro menor que a base de consumidores da empresa dê “um do que a opção em garrafas e o conteúdo fica passo adiante.” jan+fev 2021 23

ESPECIAL PARA DELIVERY DE BEBIDAS Na pandemia, o consumo de vinho pelos um portfólio de embalagens voltado à venda proporciona segurança e resistência física brasileiros triplicou, de 21,3 milhões de litros em de bebidas pelo canal online. Trata-se da linha ao longo  de toda a cadeia logística, e traz março para 63,4 milhões de litros em julho de eBottle, que segundo Manuel Alcalá, CEO uma experiência única em unboxing”. 2020, segundo a consultoria Ideal Consulting, da empresa no Brasil, “foi desenvolvida para e o e-commerce teve papel crucial nesse apresentar soluções diferenciadas às marcas O portfólio eBottle consiste de dez desempenho. interessadas em se destacar no comércio diferentes soluções que trazem muita eletrônico de bebidas”. flexibilidade para o varejo, pois permitem o Atenta às perspectivas de continuidade acondicionamento de uma, duas ou múltiplas desse crescimento, a Smurfit Kappa lançou De acordo com Alcalá, “o sistema garrafas de vidro.   POSSIBILIDADE PARA AS “CAIXINHAS” Ante o aumento recente do consumo de vinho Collina está pelos brasileiros, especialmente em casa, garrafas, atingindo assim outros públicos com uma Formato já é na “caixinha” empresas fornecedoras de embalagens opção mais sustentável e com menor custo dentro da consagrado em cartonadas assépticas registram expectativas de cadeia produtiva do vinho”, comenta a executiva da países vizinhos desde 2019 ampliação de uso desse recurso pelas vinícolas locais. SIG Combibloc. É o mesmo argumento apresentado Renata Kasahara, head de marketing da SIG Combibloc, por Martin. afirma existirem no País empresas interessadas nas soluções apresentadas pela multinacional suíça, Fora do País, essa tendência já está consolidada, mas diz estar impedida de revelar nomes pelo fato como acontece no Chile e na Argentina, onde a comer- de o processo estar em fase de negociação. Por cialização de vinho em embalagens cartonadas já sua vez, Ricardo Martin, gerente de marketing da atinge respectivamente 24% e 19%, exemplifica Rena- Tetra Pak, embora alegando a mesma razão de ta Kasahara, citando seus clientes chilenos Gato e confidencialidade para não abrir nomes, cita o vinho Santa Helena. As duas gigantes das “caixinhas” afir- de mesa Collina, da Cooperativa Nova Aliança, do Rio mam manter fortes expectativas de que essa ten- Grande do Sul, que desde 2019 é acondicionado em dência acabará por se estender também ao Brasil, “caixinha” de 1 litro de sua marca. como já aconteceu nos vizinhos do Cone Sul Uruguai e Paraguai. Isso sem falar na expressiva presença de As empresas dizem não identificar no “aumento rótulos de vinhos envasados em cartonadas na Itália significativo” no número de bebedores e de (Tavernello), na Espanha (Don Simón), na Alemanha engarrafadores de vinho rumo às embalagens (Domkellerstolz) e na França (Sevebelle). cartonadas um movimento de substituição das tradicionais garrafas de vidro que movimentam Os fabricantes desse sistema de embalagem maciçamente o mercado, atribuindo ao “interesse depositam boa parte de seu otimismo nas vantagens na diversificação” esse movimento. “Observamos logísticas que oferece. As “caixinhas” são mais leves muitas empresas buscando alternativas às tradicionais e ganham espaço no armazenamento e no transpor- te em relação às garrafas cilíndricas de vinho, por terem formato de paralelepípedo. 24 jan+fev 2021

O QUE OCORREU COM O VIDRO Na confusão da pandemia, os solavancos de consumo e abastecimento tanto de suprimen- cheio de oportunidades e tem um perfil de consumi- Mesmo com tradição no mercado tos como de embalagens, rótulos e caixas de dor que sempre busca pela inovação, o que abre um de vinhos, vidro promete inovações transporte, como matérias-primas para movimentá- espaço enorme para que todos os tipos de embalagem em formatos e aprimoramentos para -las, ecoou no mercado de vinhos, que de uma grande tenham oportunidades.” queda inicial passou por forte aquecimento. Houve manter posição de liderança queixas de escassez da embalagem exponencial da A Verallia informa que continuará aperfeiçoan- bebida: garrafas de vinho. do suas garrafas de vinho por considerar esse um mercado muito promissor no Brasil, com avanços De fato, como rememora Alexandre Mendes de de qualidade em diversas categorias, sempre com Oliveira, diretor comercial da Verallia, uma das duas a predominância das garrafas de vidro. “Um pouco grandes fornecedoras desse recipiente para as viní- maiores, menores, com formatos e cores diferentes, colas, ao lado da Owens-Illinois. “Em fins de 2018 e novos fechamentos, mas sempre em vidro”, arremata no primeiro trimestre de 2019, a fábrica de Campo o diretor comercial da companhia. Bom, no Rio Grande do Sul, dedicada basicamente à produção de garrafas de vinho, ficou ociosa algumas Do lado da Owens-Illinois, a postura também é vezes”, explica ele. “Desde então, o forno passou a ser de acreditar na recuperação nos próximos meses. dedicado ao mercado de uvas (vinhos, sucos e espu- “Continuamos buscando alternativas que possam mantes), atendendo plenamente essa demanda.” Oli- acompanhar a retomada da economia brasileira veira ressalta que mesmo com a queda do mercado e suportando o crescimento da presença do vidro em cancelamentos de compras em abril de 2020, no início todas as categorias que atuamos”, conclui Jekl. da pandemia, nenhuma linha foi parada. “É importan- te lembrar que não se desliga um forno por uma even- tual diminuição de demanda, sob o risco de perdê-lo”, afirma o executivo. Em junho do ano passado o mercado de uvas teve uma forte – e inesperada inclusive para as próprias vinícolas – retomada, e apesar de as linhas de Campo Bom continuarem a pleno vapor, não foi possível aten- der plenamente a demanda do setor. Nesse momento, a preferência no atendimento foi a clientes grandes, tradicionais e fiéis, montando-se um cronograma para atender novos parceiros. Para as vidrarias, a busca de vinícolas por emba- lagens alternativas para seus produtos seria motiva- da pelo esforço de encontrar novas oportunidades de distribuição e novos públicos consumidores. “O mercado de vinhos é milenar, e até hoje nada se mostrou mais adequado para acondicionar a bebi- da do que o vidro”, sentencia Oliveira, da Verallia. “Entendemos que esses testes mercadológicos são temporários, mas não perenes como o uso de garra- fas de vidro, e achamos que podem ser até interes- santes, mas, no final, não terão o mesmo desempe- nho nas questões ambientais, relacionadas à saúde e, inclusive, estéticas.” Daniel Jekl, gerente de marketing da Owens- -Illinois, outra gigante no mercado de fornecimento de garrafas de vidro para o mercado de uvas, tem opinião parecida. Para ele, a busca por formas alternativas de acondicionamento não é uma substituição do vidro. “Nossa percepção é que bebidas e alimentos premium sempre são remetidos ao vidro, e esse movimento está mais associado ao fato de que o Brasil é um país jan+fev 2021 25

ARTIGO COMO FICA O DESIGN DE EMBALAGENS APÓS A PAN POR LUÍS BARTOLOMEI, SÓCIO, CEO E HEAD DE CRIAÇÃO DA CBA B+G Tentar entender como será o design de embalagens depois que essa Luís Bartolomei é sócio, CEO e head de criação da CBA B+G crise sanitária passar é um grande desafio. Especialmente porque a pandemia ainda está por aí, brutalmente expressa ao nosso redor. experts, fornecedores e concorrentes, e um nível mais interessante de No entanto, a partir da experiência da primeira onda, podemos traçar colaboração entre as áreas internas. Ou seja, uma remodelação bastante uma série de aprendizados DC – depois da COVID-19. significativa vs o modelo AC – antes da COVID-19. Em mais de 25 anos de experiência – e talvez pelos próximos 25 Por fim, a esfera mais desafiadora: a das mudanças do consumo fren- – acredito que nunca tivemos ou teremos um espectro tão grande de te à embalagem, que como disse é um elemento de contexto. E o contex- mudanças, em todas as esferas do desenvolvimento de design de embala- to mudou abrupta e rapidamente. gens. Mudaram ou mudarão os processos de desenvolvimento, as estrutu- ras e modelos de negócios das agências especializadas e, principalmente, Todos nós, apaixonados, entusiastas ou executivos da cadeia do a relação do consumidor frente à embalagem, com algo em comum nes- negócio da embalagem, conhecemos uma vasta literatura a respeito do sas três esferas: o impacto da transformação digital. Na esfera dos processos, a onda transformacional começa no dia 17 de março de 2020. Deste dia adiante, implementamos uma série coor- denada de ações que aceleraram mudanças de ao menos três anos em um. Nosso processo criativo, por exemplo, é um fenômeno de grupo e pressupõe uma interação extrema, onde em um único projeto haja inú- meras contribuições – não havendo sequer um deles, digamos, autoral ou individual. O ambiente no-touch imposto pela pandemia requereu, além da saturação do uso de nossas ferramentas colaborativas, o fomento de discussões criativas em alguns casos quase filosóficas, alimentadas por ideias sem o contato físico e sem a dança da leitura corporal, elementos muito presentes no ambiente criativo e no processo de desenvolvimento tradicionais. Como resultado, esses novos processos acabaram por criar um vetor importante para a geração de ideias laterais, menos viciadas e, portanto, mais inovadoras. Na esfera estrutural e de negócios, não há ou haverá modelo clássico de agência de design com foco em embalagens possível. A embalagem sempre será um elemento de contexto que requer inúmeras habilida- des além do desenho. Nos últimos dez anos, vivemos na CBA B+G um processo de ampliação de nossas habilidades que culminaram em nosso reposicionamento justamente em 2020 – e lançado três dias antes do dia 17 – integrando design, inovação, pesquisa e branding em uma única proposta. E, com a aceleração imposta pela pandemia, a integração des- sas estruturas de pessoas, pensamentos e pontos de vista nos fez rever o próprio modelo de negócio, em alguns pontos honestamente mesmo sem perceber. Processos ágeis foram implementados sem afetação ou modis- mo, mas por senso de sobrevivência e objetividade, com a eliminação de etapas e ganhos residuais importantes em cada fase. Vivemos também um processo de abertura com o entorno e a cadeia: grupos de trabalho dinâmicos, uma ainda maior interação com o consumidor, mentores, 26 jan+fev 2021

NDEMIA? orçamento familiar ou também pelo medo da contaminação, fez com que nos déssemos conta, finalmente, da problemática do lixo, impulsionando tema. Em uma dessas abordagens, podemos compreender seu papel em projetos de redução de materiais e que garantissem retornabilidade ou diferentes ‘job to be done’, divididos em dois grandes grupos: o Físico – reciclabilidade no descarte. ligados a proteção, logística, a usabilidade, consumo, retorno, descarte e reciclabilidade – e um segundo grupo, o de Comunicação – ligado aos Apesar dos avanços no Físico, foi no grupo Comunicação que sentire- aspectos do ‘achar’, ‘compreender’, ‘escolher’, ‘converter a venda’ e mos a maior mudança. Com o crescimento do e-commerce, toda a lógica ‘orientar o consumo’. madura e estabelecida de encantamento para produtos de consumo massivo celebrada no trade físico – o chamado brick-and-mortar – se viu Calçando a pantufa do consumidor em quarentena, foram muitos refém da monotonia e escassez de recursos de articulação visual e verbal os fatores de mudança. Nos aspectos físicos, o medo da contaminação, no ambiente digital, seja ele nativo ou adaptado pelo canal tradicional. por exemplo, fez brotar soluções de menor contato ao ser carregado e a Como resposta a esta mudança, por exemplo, lançamos o modelo meto- proliferação de alças e pegas diferenciadas. A maior presença em casa e a dológico batizado de e-Pack, com o objetivo de repensar os formatos de redução dos profissionais para trabalhos domésticos, seja pela redução do estímulo ao shopper, mantendo o papel comunicacional da representação da embalagem, em um primeiro momento, e com um olho no futuro pró- ximo e novas tecnologias, como o uso da realidade aumentada. O modelo surgiu da observação do e-commerce tradicional e das plataformas de entrega e mídia, todos igualmente participantes do processo de venda; além de considerar as diferenças entre os dispositivos usados – mobile, tablets e desktops - tendo como base quatro pilares: fundamentos de design, shopper marketing, conceitos de UX/UI e o uso de uma ferramen- ta de varredura do olhar – eyetracking. Por fim, e a partir da caminhada sob a perspectiva dessas três esferas, o design de embalagem pós pandemia se mostra tão desafiador e oportu- no quanto as próprias mudanças dos hábitos de consumo. Revolucionado pelo digital e impulsionado por uma nova relação com a embalagem em si, ao mesmo tempo diferente física e digitalmente. jan+fev 2021 27



PET FOOD MAIS FÁCIL PARA TRANSPORTAR, ABRIR E SERVIR EMBALAGEM PARA GRANDES VOLUMES DE RAÇÃO ATibii Nutrição Animal apresenta ao mercado ADOTA CAIXA EXTERNA DE PAPELÃO ONDULADO o que denomina de “primeira embalagem COM ALÇAS, SISTEMA DE FÁCIL ABERTURA E COPO ecoeficiente” do mercado de pet food. A DOSADOR DESTACÁVEL POR MEIO DE PICOTES empresa de Campinas (SP) é focada em sustentabili- dade e, com a nova embalagem, afirma ter tornado todo o seu processo, desde a fabricação até o des- carte, 100% sustentável. A empresa criou, em parceria com a Klabin, uma caixa de papelão ondulado para as versões de 10,1 quilos e de 15 quilos do produto. O sistema traz em seu interior um saco plástico, como estratégia de ampliar a vida útil do ali- mento. O layout foi desenhado para facilitar o armazenamento e o manuseio, já que tem alças laterais. A abertura é feita através de uma área picotada, que facilita o refechamento. Além disso, a embalagem possui, em uma das faces, uma parte que pode ser destacada e transforma- da em copo dosador para as porções de ração. As embalagens anteriores desses volumes eram tubos de papelão rígido, que utilizavam bem mais material, com topo e tampa de plástico. “Somos conhecidos pela inovação das emba- lagens no mercado pet. Começamos com uma Alças para facilitar o transporte e zíper que simplifica processo de abertura. À direita, a novidade sobre amostras da solução que substituiu jan+fev 2021 29

Localize a patinha com a parte destacável Puxe a área picotada Sistema de fácil Aperte a patinha para abrir abertura por meio de zíper picotado lata muito charmosa que é um hit no Brasil todo. PARA RAÇÃO E OUTROS PRODUTOS Ela também é reciclável e vai permanecer para as rações de 1,5 quilo. As maiores, de 10,1 quilos e de A Graphic Packaging Interna- omnicanal. “No fabricante, a caixa 15 quilos, serão substituídas pela caixa ecoeficiente. tional apresentou recentemente pode ser paletizada diretamente Isso tudo vai trazer mais agilidade logística para o a IntegraFlute, uma embalagem e transportada sem embalagem distribuidor, mais praticidade para o tutor e mais híbrida durável, que combina adicional. Com espaço livre reduzi- segurança para o meio ambiente”, diz Mário Cleto uma bolsa interna flexível com a do, é dimensionada para ser clas- Giugni, diretor da Tibii. proteção estrutural de uma caixa sificável, o que significa que pode externa de papelão ondulado. ser processada por centros de “Por se tratar de um produto para pet food, Segundo a empresa, a novidade distribuição de comércio eletrôni- que demanda cuidados específicos, a embalagem é uma alternativa aos contêineres co”, ele explica. “Para os consumi- possui um bag interno para prolongar a vida útil e de plástico rígido e soluções bag- dores, a embalagem oferece uma a crocância do alimento. Esse bag, entretando, é -in-box multicamada. A embala- solução de embalagem perfeita, gem possui uma estrutura híbrida, da porta à despensa e até à lixeira. Para as porções menores, latas que combina uma bolsa flexível A caixa chega pronta para uso, (pode ser de papel ou de plástico) com alças fáceis de transportar, com a proteção estrutural e a recursos de distribuição simples e presença de uma caixa canelada. é uma estrutura ideal para arma- A bolsa interna é especificada de zenamento doméstico eficiente.” acordo com os requisitos de bar- reira de cada produto. Segundo a fabricante, a embalagem pode ser utilizada para produtos como rações secas e petiscos para ani- mais de estimação, carvão, café, detergente em gel, suplementos alimentares em pó e outros. O diretor de desenvolvimento de novos produtos da Graphic Packaging, Chuck Tarlton, diz que a IntegraFlute é uma solução 30 jan+fev 2021

muito menos espesso do que outras embalagens do PARA DESTACAR E MONTAR mercado, já que a caixa de papelão ajuda na prote- ção”, explica a diretora de Embalagens de Papelão Veja a seguir como o copo dosador incorporado à embala- Ondulado da Klabin, Gabriella Michelucci. gem de papelão ondulado pode ser destacado e montado. Ela conta que a embalagem foi pensada para Utilize o QR Code se preferir ver as instruções em vídeo. servir como a caixa de transporte e também para exposição em gôndola. “A nova embalagem é projetada e estruturada para transporte, mas com uso prolongado. Pode ser colocada dire- tamente nos displays e seguir sendo utilizada em casa. Daí a utilidade de um zíper e uma pá dosadora acoplada à embalagem. É um projeto pensado para todas as etapas logísticas do ali- mento”, diz Gabriella. A nova embalagem é reciclável e produzida com matéria-prima renovável, proveniente de flores- tas plantadas e certificadas, o que vai ao encon- tro do propósito da Tibii, que prioriza eficiência nas relações e na sustentabilidade em todo o ciclo produtivo. “Acreditamos que o planeta caminha no sentido da responsabilidade ambiental e social. O mercado pet demorou para acordar sobre a necessidade de se adequar e a Tibii está feliz por ser pioneira nesse movimento”, ressalta Giugni. jan+fev 2021 31

PRÊMIO MAIS QUE HÍBRIDO, MULTIPLATAFORMA EM 2021, DENSIDADE E FORMATO DA PREMIAÇÃO MAIS DIFERENCIADA DO SETOR SERÃO APRIMORADOS. A EDIÇÃO DESTE ANO TERÁ INOVAÇÕES QUE TORNARÃO O EVENTO AINDA MAIS INDISPENSÁVEL. As inscrições para a 15ª edição do Prêmio Gran- como resultado da soma de todos eles. Ela deve ser des Cases de Embalagem estarão abertas a analisada de forma abrangente, não apenas por seu partir de março, com inovações e aperfei- aspecto visual. Tendo esse fato em conta é que o çoamentos que certamente tornarão a conquista de Prêmio Grandes Cases de Embalagem foi concebido troféus um galardão de valorização ímpar para as mar- de modo a que os jurados que julgam os projetos cas ganhadoras. Com essa perspectiva, sugerimos às inscritos o façam sob o prisma da abrangência total. empresas interessadas aplicar-se desde já, com tempo E somente com a citação e a descrição de elementos e reflexão, ao preenchimento das fichas com a des- como os acima citados poderão ter conhecimento crição dos projetos concorrentes em que sem dúvida deles, o que a simples observação de amostras não investiram muito talento e outros recursos. permite. Essa recomendação é feita ante a constatação A empresa organizadora do Prêmio, The Packa- de que projetos de embalagem inscritos em edições ging Academy, em parceria com o sistema de comu- anteriores da premiação não apresentavam adequa- nicação que tem a revista EmbalagemMarca como damente (ou simplesmente não apresentavam) itens carro-chefe, está planejando desde o final do ano importantes– como componentes de sustentabilida- passado a formatação do evento de premiação agen- de, economia de materiais, energia e água, melhor dado para 8 de novembro. desempenho em linha e logística – que poderiam contribuir para um julgamento mais generoso dos A ideia central das providências em andamento julgadores. Muitos limitavam-se a exaltar o design, é ampliar o alcance da iniciativa, que em sua 14ª edi- com ênfase na maior parte das vezes apenas ao ção, realizada em outubro último em formato virtual, aspecto gráfico. com enorme êxito de sua apresentação (mais de 2 000 visualizações), se somará à cerimônia presencial, Ocorre que uma embalagem é a consolidação se as restrições causadas pela pandemia do COVID de um conjunto de fatores, a rigor ela só existe estiverem superadas. CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO 8/NOV 2021 32 jan+fev 2021

Platina Ouro Prata Apoio Especial Apoio Divulgação Educacional Organização [email protected] /gcembalagem @grandescases grandescases jan+fev 2021 33

Almanaque As primeiras latas Corona, em 1997 decorativas de biscoitos No final da década de 1990, o Durante o século 19, as tradições ideia, produzindo uma variedade mercado cervejeiro brasileiro mercado. Só passou a ser distribu- natalinas de decorar a árvore de de latas em formas e designs que tinha poucas marcas e a importa- ída novamente no Brasil em 2014, Natal e enviar um cartão de Natal eram ansiosamente esperados a ção era rara. Em 1997, a cerveja quando foi comprada pela Ambev. aos amigos estavam começando cada ano. mexicana Corona tentou atra- a decolar gradualmente. Foi no A partir daí, outras marcas da palhar a guerra das marcas bra- final de 1868 que surgiu um novo Europa – depois dos Estados sileiras. Na época importada e fenômeno na Europa: embalagens Unidos e de outros países – ado- distribuída pela Arisco, a Corona decorativas que transformaram taram latas decorativas para ala- dizia em anúncio publicado em biscoitos e chocolates em pre- vancar as vendas de chocolates e revistas: “Assista a guerra das sentes. biscoitos. cervejas brasileiras de som- Isso porque a Huntley & Palmers As formas das embalagens eram brero”. A cerveja mexicana criou uma lata especial para as mais diversas possíveis, desde ainda cutucava as principais comemorar o fato de seus biscoi- desenhos e fotos em latas qua- marcas do mercado: “Corona tos terem sido escolhidos pela dradas ou redondas, até estrutu- é a premium beer mexicana Rainha Vitória para o Natal no ras mais complexas, como carros de maior sucesso mundial. Palácio de Buckingham. Grandes e navios. E isso sem baixinho (refe- fabricantes britânicos, como A estratégia deu certo e dura até rência à Kaiser), sem jogador de Cadbury’s, Fry’s, Carr’s e Gray hoje. futebol (Brahma) e sem axé music Dunn’s, entre outros, seguiram a (Antarctica)”. Mas a Corona ficou pouco tempo no Chocolate acessível Até meados do século passado, de produção. Na época, a marca chocolate era um artigo de luxo, introduziu o slogan “Have a break”, devido ao seu preço. A primeira indicando que o chocolate podia marca a se popularizar foi a KitKat, ficar disponível enquanto o consu- que na década de 1930 introduziu midor “faz uma pausa”, em vez de os biscoitos wafer na composição ser consumido apenas em ocasiões de suas barras, barateando o custo especiais. ALMANAQUE EM VÍDEOhMtotpn:t/e/ibroit.Llyo/beamto-beiootBonioitcôonico: além do Jeca Tatu 34 jan+fev 2021




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