Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore "Poemas completos", Júlio Dinis

"Poemas completos", Júlio Dinis

Published by be-arp, 2020-03-24 18:58:01

Description: Poesia

Search

Read the Text Version

«Não as quero, que podem essas flores Renovar na memória, As mal curadas, as pungentes dores, De uma recente história. «O caminho da existência É então grato e florido. Ai! Bem fácil é o olvido De tudo o que a alma sofreu! Como à roseira da várzea Que todo o ano floresce, A cada flor que fenece Uma outra flor sucedeu. «Uma outra flor, e mais bela E cada vez mais viçosa. Uma outra flor, outra rosa,

Ou antes, outra ilusão. Nunca, nunca o desalento Extingue o fogo sagrado Que arde no altar consagrado Que se chama o coração.» 1864.

SAUDADE «A saudade, a fada amiga Que nos renova o passado, Como em jardim encantado, Por seu mágico condão... Os prazeres da criança, Alvos sonhos de inocência, Os fogos da adolescência, O nascer do coração... «A saudade, a ama dileta, Que o sono nos acalenta, E junto de nós se assenta A falar-nos com amor! Essa fiel guardadora De nossas gratas memórias

Que sabe as longas histórias Da nossa vida, de cor! «A saudade, a irmã bem-vinda, À noite, às horas quietas, Em que amantes e poetas Livre curso à mente dão; A virgem pálida e triste, De branda melancolia, Que as penas nos alivia, Que nos mitiga a paixão! «Tens ao teu lado a saudade Falando-te em voz dolente. De uma memória recente, De uma luz que se apagou... Luz que tomaste por guia

Para termo da viagem; Mas que o sopro de uma aragem, Brandas, apenas, apagou.» 1865.

PRIMAVERA Nota: Última carta em verso que Júlio Dinis dirigiu a José Joaquim Pinto Coelho. Era desta maneira que festejava os aniversários do seu primo. «Veste-se a planta de flores Quando a Primavera assoma; E a espessura de verdores Perfuma com o seu aroma. «Mas nem sempre a mesma vida Transluz nas flores abertas; Uma seiva empobrecida Só lhes dá cores incertas. «Todos os anos floresce, Ao despertar este dia,

A planta que, ignota, cresce, Da minha pobre poesia. «Porém, desta vez, roçada Do mal, pela mão funesta, Uma flor só, desmaiada, Abriu para a tua festa. «Mas seja o tributo pago, Embora com pobre oferta; Essa mesma aí a trago, Desbotada e mal aberta.» 1866.


Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook