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os olhos do jacaio18

Published by Paulo Roberto da Silva, 2018-09-12 17:27:56

Description: os olhos do jacaio18

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esfolada da lida, muitas vezes lida, já sem um pedaço da capa, Jairo Ferreira Machadocom algumas páginas soltas, outras páginas coladas com visco de Ufolhas do mato. 251 Mas ainda assim, e mais pelo estado em que se encontrava, abíblia tinha o seu valor. A bíblia tinha a sua própria história; divinal, inspirada por 40autores; podendo ser autores de diferentes religiões e nações.Contém as bases do cristianismo, assim como o alcorão é a basedo Islamismo. Para as forças armadas, o sumiço de uma bíblia tinha menorimportância do que se tivesse sumido dali do quartel um fuzil. Para a imprensa – todos os dias falando da mesma guerra,que nunca acabava – talvez não... O padre encantou-se com a história e muito mais com ahistória de Emanuel Rói Osso, por quem rezara muitas vezes, apedido da própria mãe, quando ele tinha se evadido de casa, paraa “pedra do urubu”. Somente os dois sabiam. UV

Os olhos do JacaióAquela sala ampla cheia de ouvidos, não era um confessionário. E tampouco o padre tinha tempo para ouvir todos seus pecados, que resumidos, encheriam um livro. Edu não tinha dúvidas disso. De si mesmo, nada falou! Talvez o pároco não trouxesse perdão suficiente para todas as suas culpas; precisaria de um caminhão. Quem sabe confessasse noutra ocasião. Agora, era só uma questão de prioridade: uma pressãozinhaV no cabo, no terceiro-sargento, no segundo-sargento, no primeiro-252 sargento, passando pelo subtenente, pelos aspirantes, pelos tenentes, pelo capitão, major, tenente coronel, general, e até o marechal, dizendo que Rói Osso, antes de morrer dissera que doaria a bíblia para a sua Igreja; logo, ele, o padre, queria uma solução para o caso. A bíblia era do povo. O padre o ouvia atento lá no íntimo já fazendo seus planos – seria um avanço e tanto para resgatar a fé abalada do povo, a espiritualidade. Precisava daquela relíquia para expor lá na Igreja, como exemplo de fé e de amor ao semelhante – Tal Rói Osso, tal Cristo. De fato, o povo, depois de toda guerra e as mortes sem fim, estava precisando de um alento espiritual. A bíblia seria o regaste da fé esquecida há algum tempo com os efeitos prementes da guerra.

O padre disse, num dia daqueles viria ao quartel falar da Jairo Ferreira Machadoimportância da palavra de Deus na vida das pessoas. Inclusive Udaqueles que estiveram de arma em punho. Talvez, o fato ajudassea resgatar o amor entre os semelhantes e a confiança que a guerra 253tirara. Que a guerra já passara. Agora, era a bonança, o resgate doamor, do amor-próprio e do amor coletivo, a harmonia entre aspessoas. Talvez quem tivesse levado a bíblia, se arrependesse, ea devolvesse. Se não quisesse devolver de punho presente,colocasse a bíblia debaixo de uma cama de campanha qualquer,ninguém ficaria sabendo quem foi, disse o padre. Que ele perdoariae perdoaria também todos os familiares do arrependido. Mesmoque nunca ficasse sabendo quem foi. Deus bem sabia e o agraciaria com bênçãos dos céus! Aindamais uma bíblia que um soldado da paz deixara para a sua igreja. Foi assim que o padre começou o seu discurso. Falou tantoque o patrão-mor do exército já preferia que tivessem roubadode debaixo do seu nariz, não uma bíblia, mas um tanque deguerra. Teria menos problemas para encontrá-lo e devolvê-lo aoestado. Por certo, no início, o blindado causasse alguma boa sensaçãopor onde passasse, mas ninguém se entusiasmaria por muitotempo em possuí-lo e logo o tanque seria um elefante mortonuma via pública – ninguém o queria mais ali. Já uma bíblia como aquela, era um caso mais complicado.Tinha um forte apelo espiritual. Ainda mais uma bíblia com toda aquela história de utilidade– o dono tinha morrido abraçado a ela. Um jovem de ficha limpa,coroinha, cristão. E de cujo apelido a sociedade fazia picardias,falando como se falasse de um bobo da corte.

Os olhos do JacaióQue às vésperas de fugir para a “pedra do urubu”, confessara a ele, ao padre, que preferia morrer a dar um tiro num seu semelhante, caso fosse para a guerra. Foram aquelas as últimas palavras do padre. Agora o tenente coronel queria que o assunto parasse por ali. – “Deus me livre desse assunto chegar ao marechal”, disse quieto do banco onde sentava como ouvinte. “Aí o exército estaria saindo de uma guerra para outra pior”. Iria sentir o efeito daquela história na própria carne e na moral, na perda do cargo, com os jornais esmiuçando as suas entranhas, as entranhas do próprio exército. E os moços, desertores, esquecidos. E pior: o desgraçado daquele sujeito recusava-se a dar o foraV de seu quartel sem a bíblia, falando em honra...UV254

No dia seguinte, aborrecido e preocupado com toda aquela Jairo Ferreira Machado história de bíblia e a repercussão negativa, o comandante Uda corporação mandou enfiar Edu num camburão e soltá-lobem longe do seu quartel; como cachorro abandonado numa 255via não pública. Dias depois, Edu voltou tão maltrapilho quanto chegara alina primeira vez, tendo se instalado do lado de fora da entrada doquartel, fazendo greve de fome; logo, logo os jornais estariam ali,concluiu em tempo o comandante, então, que o colocasse paradentro do quartel, de imediato. E que o alimentassem, que dessem do de melhor, quecolocassem comida boca a baixo, antes que Edu adoecesse e oassunto alardeasse aos quatro cantos da terra. Já bastava termorrido ali um deles, o Rói Osso, que o povo já andava dizendoser por negligência do serviço médico do exército, por ser ele umdesertor. Edu lá, firme nos seus propósitos. Agora que sabia que Lucinha tinha outro, a bíblia seria a suafiel companheira de infortúnios e esperança; esperança, a únicacoisa que não queria perder. Permaneceria ali também por estima a Emanuel Rói Osso,até reaver o livro sagrado. Lembrava-o lendo a bíblia com fervordepois que ele, Edu, voltara da visita à casa de Lucinha – Rói Ossoagradecendo a Deus por sua volta. Edu nunca rezava.

Achava-se inútil e sem fé bastante para tirar algum proveito da oração; antes, era capaz de Deus não ouvi-lo. Não que não acreditasse no alcance das bênçãos pela fé, mas faltava-lhe inspiração. Sua mente vagava como um redemoinho de vento, que logo se desmancha no espaço. Deus, decerto, nem prestasse atenção e tampouco o ouviria. Rói Osso orava por todos.Os olhos do Jacaió Talvez se esquecesse de rezar por si mesmo, e por isso morreu... Não! Rói Osso, nunca morreria. Ele, Edu, não deixaria: escreveria a sua história. E já lhe batia a saudade. Embora não soubesse saudade do quê! Se de todos osV momentos que tivera na infância, ou mais tarde, na adolescência com Tami, depois com Lucinha e no baile com Cândida ou daquilo256 de bom que a vida lhe roubara, de repente. Agora, vez em quando sentia saudades de Tami, quando os hormônios vinham lhe incomodar o corpo febril durante as madrugadas frias, e via-se sozinho, sem a companhia de ninguém. Onde estaria Tami? No íntimo, sabia onde. E respondia para si mesmo – “em alguma zona de baixo meretrício”. E decerto, conhecendo-a bem no quesito da luxúria, lá Tami estaria no lugar onde sempre deveria estar. E Cândida? Sentiu saudades do murmúrio da cachoeira, do cheiro do alambique, e daquela noite no baile com ela. Cândida apertando a sua mão e olhando fundo nos seus olhos, no momento em que ele, Edu, lembrou-se da Menina de tranças, que era ela própria.

Tiveram juntos, uma única noite e uma tarde de sol, na enseada Jairo Ferreira Machadodo ribeirão, depois que se encontraram naquele dia, depois de Umuitos anos sem se verem. Mas aqueles momentos perduravamainda em sua mente – e vinham e iam, feito chuvas de verão. 257 No mais, seus pensamentos estavam com Lucinha. Naqueleprimeiro dia, quando suas mãos se tocaram, espontaneamente.Decerto, já havia uma explicação para aquele toque e depois,naquela noite, quando fizeram amor. Nesses momentos, Edu transpunha o portal blindado doquartel e se refugiava nas areias, e se banhava com Lucinha naságuas do rio. E via o beija-flor lá no galho do ingazeiro, fazendo oseu ninho. O casal, num arrebatado caso de amor. Lembrava quando sua vida começara a mudar. Quem sabe forao esplendor do luar, que lhe atirara nos braços a jovem moça quelhe fizera conhecer a essência do sentimento. A lua dizendo amém,enquanto romântica, e cheia de mistérios, fulgurava lá no céu. Muitas vezes, quando refugiado na “pedra do urubu”, tinhaa sensação da alma de Lucinha vir visitá-lo, aproveitando-se doclarão do luar. E naquelas noites não dormia, na intenção depermanecer mais tempo com ela. Mas assim que a lua se escondia,ela, a boneca cobiçada, ia de seus olhos. Por momentos, falavacom a lua como se falasse com Lucinha. Quando então, EmanuelRói Osso pareceu ouvir os seus pensamentos e perguntou-lhe seestava lunático. Estava. Verdadeiramente lunático. Pois nos braços da lua,sentia-se nos braços de Lucinha. Ela fora a razão principal de não ter ido à guerra. Primeiro,ela pediu que não fosse. Depois, ele próprio, não teve forças dedeixá-la. Além do que, o que tinha o amor com a guerra, já quenaquele momento, viviam simplesmente de ternura?

Certamente, a guerra não era lugar nem momento de ele, Edu, estar. Tampouco seria lugar para Emanuel Rói Osso, com toda sua grandeza de espírito e sentimento humano. Também não seria lugar para Toninho, que para ele, o mundo não deveria ter divisas, e tampouco morreria por elas. Muito menos iria à guerra, o Jose Surtido, com seu defeito físico, que não sabia de suas limitações para ser soldado; seriaOs olhos do Jacaió antes, como foi, considerado incapaz. E Foice Pequena, que ganhara o apelido porque se negava a roçar com foice grande, que era pura burrice, afirmava – pois com jeito e tempo chegava ao mesmo resultado dos outros que preferiam a foi maior.V Para Foice Pequena, decerto, não haveria fuzil que prestasse; muito peso para os seus braços! O gatilho pesaria em seus dedos.258 E provavelmente não atirasse em ninguém, com pena dos coitadinhos. Brutalidade, tanque de guerra, não eram ferramentas para Foice Pequena. Onde ele estaria agora?... E os outros, agora, senhores do mundo... UV

Edu, saudoso, mal ouvia a notícia que todos alardeavam Jairo Ferreira Machado naquele momento, devido aos chiados do rádio: a guerra Uchegara ao fim. 259 Mas nem precisava ouvir pelo rádio, bastava sentir a alegriados soldados pulando, agitando ao alto as armas, jogando paracima os quepes, e o povo gritando lá fora. No quartel, os aspirantes atiravam seus pertences paracima, para os ares, gritavam, choravam e se abraçavam unsaos outros, eufóricos. Lá de fora vinham os trovejares dosfoguetes, gritaria e buzinação. Os sinos da igreja badalavam sem parar, em verdadeiracomoção social. A guerra tomara um pouco ou muito da vidade cada cidadão dali e de outras estâncias e só agora, eles res-gatavam. Muitos tinham perdido parentes, conterrâneos, compa-nheiros na guerra. Um marido, um filho, um sobrinho. E mesmoque não fosse essa a razão, alegravam-se contemplados pelavida: a guerra não fazia sentido algum. Era só trocar os dirigentesque a ambicionavam, que a guerra não existiria. Agora, a própria sociedade sabia disso, e almejava um mundode paz, um mundo melhor. Edu nesse momento chorou. Queria que todos os companheiros do refúgio da “pedra dourubu” estivessem ali, ao seu lado. De qualquer maneira, estariamfelizes, onde quer que estivessem. Na terra ou no céu.

Edu preferia estar lá fora, naquele instante, abraçado a eles, pulando com eles, abraçado com Tami, com Lucinha, com Cândida. Não fosse a sua teimosia. E o fato de dois deles terem colocado o pé na estrada. Gostaria que Emanuel Rói Osso estivesse vivo, naquele instante; quando ele, de certeza, pegaria a bíblia e iria se isolar num canto, para melhor orar e agradecer. Pela graça alcançada. Lucinha vivera os momentos de guerra, com muita dignidade,Os olhos do Jacaió inclusive acolhendo-o, quando ele, Edu, estivera no seu quarto, naquela memorável noite. Lucinha arriscara-se dando-lhe guarida – oferecendo o próprio alimento e doando roupas do próprio pai. Lucinha também vivera a guerra; a guerra que não era de todos, mas todos haviamV perdido alguma coisa com ela. Edu havia perdido Lucinha. O pensamento da humanidade naqueles seis anos, estava260 voltado para a guerra. Em proporções maiores ou menores, cada um dava um pouco de si, ou perdia um pouco de si, naqueles anos. Rói Osso dera a própria vida. Ele, Edu, pelo que lhe constava, não dera nada. A não ser muito de sexo, de corpo, e amolação aos meganhas, com a insolência e a história do desaparecimento da bíblia. Tendo como aliado, o padre, um ferrabrás, um mata-mouros, que a todo instante ligava para o comandante do quartel, dizendo, “eu preciso daquela bíblia, senhor comandante”. Edu nunca queria cair nas garras de um padre. Aquela insistência era uma tentação dos infernos. UV

Era o não de 1942. Naquele momento vivíamos um regime Jairo Ferreira Machado ditatorial getulista, simpático ao modelo fascista do Uitaliano Mussolini, razão porque o Brasil demorou a tomarpunho das armas, para não contrariar o regime ao qual nosso 261representante mor era simpático. Sucedeu-se que nesse ano, o EIXO inimigo formado porAlemanha, Itália e Japão se embrenhou pelo Oceano Atlântico ecom seus submarinos, torpedearam embarcações civis brasileiras.A guerra já estava em fase adiantada e o Brasil precisou reagir.Entrou no bloco dos ALIADOS mesmo sendo um país que viviaeconômica e socialmente à margem das grandes potências, econtribuiu para a vitória sobre o inimigo. Calcula-se que foram vítimas dessa guerra, 50 a 70 milhões decombatentes. Anos depois, a bandeira branca foi hasteada na Itália. Mas a guerra não terminava para muitos civis opositores aoregime nazista de Hitler. Hitler pôs em prática o maior genocídiode que se tem notícia: o chamado Holocausto. A guerraprovocara também um sacrifício na vida econômica, industrial ecientífica do mundo, – falando-se da ciência do bem – deixandoarruinada a herança humana, senão na carne, na moral, mas nadesconfiança de um cidadão pelo outro – persistindo, a guerrapsicológica, a chamada guerra fria... UV

Em pensamento, Edu voltava à “pedra do urubu” e ao cajueiro, onde sempre via pousado o pássaro jacaió. Quem sabe ainda ele estivesse lá, como um joão-bobo, quieto no seu galho, por suaOs olhos do Jacaió inocência, correndo riscos de um gavião ou predador qualquer roubar-lhe a vida. O jacaió somente alçava voo à cata de um ou outro inseto voejante, que por descuido próprio passasse por ali. Fosse umaV borboleta ou insetos de outra natureza, atraídos pela resina que a árvore lhes oferecia262 Venturoso na investida, o pássaro golpeava a presa no galho até que ela perdesse os sentidos e voava, enfiando-se no buraco do barranco, próximo de onde se encontrava, sempre e tão somente, só. Talvez levasse comida à parceira, quem sabe... Edu lembrava e relembrava, triste, cabisbaixo, aqueles dias de iniciação de sua vida sexual, pois lembrando aqueles momentos, vinha-lhe a mente Tami e sua preterição por ela, depois que conheceu Lúcia. Agora, sua vida, enfurnado num quartel, assemelhava-se a vida do jacaió, enfurnado num quartel, – mesmo estando ali de livre e espontânea vontade – e só iria embora quando lhe devolvessem a bíblia do finado amigo, Rói Osso. Era uma questão de honra, já que honra era a palavra da moda naquele período – honra à pátria, honra às armas, honra à bandeira! Honra à bíblia!

Edu não era um daqueles soldados que voltavam da Jairo Ferreira Machadoguerra, cheios de divisas nos ombros e com medalhas no peito, Ucomo agora, devia estar desfilando o namorado de Lucinha,os braços dados com ela. Surtido, a contragosto, havia lhe 263confiado a má notícia. Já que não empunhara fuzil ou mosquetão nenhum, nemguiara um tanque de guerra, nem matara inimigo nenhum, agora,bem poderia ser útil prestando serviços aos necessitados, aoscarentes de fé, pensou Edu. O homem sempre tem alguma coisa de si a oferecer ao seusemelhante. O próprio ambiente do exército necessitava degente assim, interessada em ajudar e com destreza para certosafazeres, que outro não conseguia desempenhar a contendo. Aprópria vida lhe ensinara muitas coisas. Principalmente naquelas comunidades onde o exército sefazia presente – quando, muito, vez em quando, os soldadossaíam dos quartéis – e já que estava ali por querer, podia entrar esair, quando quisesse, sem restrições. Tomara que fosse de vez! Faria qualquer coisa, mesmo sem autorização do comandantedo quartel, para preencher suas horas vagas, enquanto esperavae esperaria a vida inteira, era o mínimo que podia fazer por RóiOsso. E lembrava de Lucinha, lá na cidade, braços dados com outro.E eventualmente, pensava em Tami, quando o tesão vinha-lheincomodar nas noites insones, lobo no cio. Não demorou muito e já tinha a sua freguesia e oscompanheiros de conversação. Os soldados, as pessoas de fora do quartel, vinham procurá-lopara trocar ideias, quando pediam-lhe que prestasse algum serviço,algum favor – como pregar um botão numa roupa, remendar,

Os olhos do Jacaiócosturar um coturno, fazer curativos, curar suas feridas. Falar de coisas do dia a dia. Era quando Edu aproveitava para contar suas histórias e fazer amizades. Assim conheceu muita gente e muitos queriam conhecer as suas aventuras – as anteriores à sua chegada ao quartel e depois, quando resolveu ficar, por incumbência de reaver a bíblia. Em tributo a alma de Rói Osso UVV264

Um dia lhe trouxeram, às escondidas, uma lista de todos que Jairo Ferreira Machado estavam no quartel na noite em que morrera Emanuel Rói UOsso. Os serviçais, os soldados, e os eventuais em trânsito por ali. 265 Da lista, eliminou quem não tinha acesso à enfermaria,sobrando os plantonistas, os de sobreaviso, os serventes dacozinha, os soldados de prontidão. Agia como se fosse umdetetive! Em princípio, sua desconfiança recaiu sobre os que eramcatólicos, mas depois se lembrou de que a bíblia era um símbolosagrado, que não contava com a simpatia de pessoas de outrascrenças. Ainda mais em tempos de guerra. Assim, poderiam querer roubá-la e queimá-la, nos moldes daSanta Inquisição – “Os autos de fé.” Então, até prova ao contrário,desconfiou de todos os nomes contidos na lista. Passados os dias da pressão e da coação do pároco, o chefedo exército já colocava panos frios nos fatos, embora aquele, odesertor – assim apelidado pejorativamente pelos mandões doesquadrão –, ainda insistisse em só sair dali quando tivesse a bíbliaem suas mãos. O general logo soube que ele estava investigando odesaparecimento da bíblia e deixou correr; também tinhainteresse em saber o paradeiro da sagrada escritura para logose livrar daquele constrangimento interno, passando por mauadministrador. Afinal, a bíblia tinha desaparecido de debaixo doseu nariz.

E via-se encafifado com o fato, ainda que o sumiço de uma simples bíblia nada representasse de tão importante ao seu comando. Uma simples bíblia... Sua função era a de gerenciar soldados, não cuidar de um livro de pequenas proporções. O exército todo e seu quartel – em particular – vivia ainda os eflúvios de uma recém-terminada guerra, com vitória. Estava mais interessado em arrumar a própria casa e se adequar à nova situação e as insígnias a mais que a guerra lheOs olhos do Jacaió conferiria ao peito. Entre os afazeres, o de muito eventualmente cumprir umas e outras honrarias: mandar carta de agradecimentos, senão de pêsames, aos parentes dos pracinhas que lutaram e voltavam vivos ou mortos da guerra. E vez em quando pregar no peitoV de alguém uma medalha de honra, hastear a bandeira, e de “sentido”, ouvir e cantar o Hino.266 UV

Não seria aquele pária ali, desertor, renunciado de guerra, Jairo Ferreira Machado de livre e espontânea pretensão, que iria roubar os méritos Umilitares de uma guerra ganha, pensava o general. Muito menospor tão insignificante livro. 267 Esquecido de um exército de homens e de mulheres quea história nunca esqueceu: Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel,Oseias, Malaquías, Mateus, Lucas, João, Tiago, Pedro, Marcos,Paulo, Samuel, Rute, Ester, Madalena, Cristo, José, Maria,cuja fé e bondade davam sustentação espiritual ao mundo. Àspessoas. Não! A bíblia não era um simples livro, como podiam pensar os deinsígnias no peito e ombros. Era uma bíblia, constando os escritos da aliança doshomens aqui na terra com Deus. Mesmo aquele que pensassediferente, ou não acreditasse em nada disso, olhava a bíbliacom certo respeito. Havia um regente maior, sem galões no peito e nem papasna língua. Sem aviões e tanques de guerra. Sem mosquetões,metralhadores e fuzis. Um homem simples, filho de Deus,chamado Jesus e sua palavra escrita em centenas de línguas.Aquele que certo dia morreu na cruz para a salvação dahumanidade. Como também sofreram todos aqueles seusseguidores que travaram uma guerra santa, sem armas,seguindo os seus mandamentos, desde então... Thiago, o

Os olhos do Jacaiómaior, martirizado, Pedro, crucificado, Mateus, morto por um ferimento de espada... quase todos torturados. Sem esquecer Madalena (Tami), apedrejada. UVV268

Edu acordou desolado naquela manhã. Jairo Ferreira Machado Sonhara com Lucinha. Não sabia precisar exatamente em Uque lugar estava e se já estivera lá com ela algum dia, em queterritório, cidade, ou país. Sabia, no entanto, que era um lugar 269distante; tão distante quanto a “realidade” vivida no sonho. Lucinha, no sonho, estava presa e ele haveria de libertá-la, antes que morresse. Contudo, tentava, tentava, mas nãoconseguia alcançá-la. Quando se aproximava, Lucinha parecia se afastar maisainda, com a mão direita estendida para o seu lado, como se nãoquisesse ir. Vestia-se como um anjo, em meio a brumas e nuvens;estava muito bonita e com a mão esquerda cobria o próprioventre, deixando escapar o brilho dos olhos, que deles Edu aindase lembrava: eram dois ônix. Ainda que tentasse a cada momento esquecê-la, nãoesquecia, e amanheceu incrédulo, sem poder mudar os fatos. Era como dizer à açucena que não mais florisse e nem exalassea sua fragrância – sabendo que no ventre daquela, haveria umaflor cativa, esperando apenas o aceno da primavera. O mais distante que pôde ir – no pensamento – foi à beira dorio, ao pé do ingazeiro, onde estava o beija-flor fazendo o ninho.Lucinha era o seu beija-flor de quem haveria de nunca esquecer. Muito tempo se passara, desde aquela vez em que esteveno quarto de Lucinha, assim, sem ser convidado, maltrapilho,e com ela fizera amor de verdade – entre a força da afeição e a

gana do tesão, já sabendo ser aquela a primeira e talvez a única noite juntos; depois disso, somente o tempo saberia, quando em seguida se meteu novamente na clausura da “pedra do urubu”, e de lá saiu por livre e espontânea vontade, junto com os demais companheiros, para se entregarem aos homens da farda verde-oliva. Quanto já tinha perdido! Dois amigos sumidos no mundo, outro curado do aleijão, umOs olhos do Jacaió falecido, mas que continuava muito vivo na sua mente, no seu peito. Emanuel Rói Osso virara uma unidade espiritual, com um imenso carisma de Santo, sem nunca ter pensado nisso um dia, tal Aristeu, o deus grego adorado protetor dos caçadores, pastores e rebanhos. Um deus beneficente que levava cura ondeV essa fosse necessária. Alguém, sem muito querer, ajudara-o a alcançar a notoriedade270 – roubando-lhe a bíblia numa daquelas madrugadas. Deus, de fato brasileiro, mudando a ordem das coisas – o assunto da guerra, aos poucos, foi sendo enterrado; falava-se agora, em reconstrução, em trabalho, em reconciliação. Preceitos da sagrada escritura. Um exército de homens estava no encalço da bíblia – com objetivos claros de reavê-la de uma vez por todas. Tal bíblia, tal alcorão, todas as religiões, numa só. Um único Deus. Dias depois, de livre e espontânea necessidade, um senhor de olhos tristes ultrapassou os portões do exército, trazendo um embrulho debaixo do braço, endereçado a Edu. De imediato, o coronel mandou que Edu comparecesse ao seu gabinete. Foi a primeira vez que sentou na ostentação de uma sala rica, mas, muito, muito carente de espírito. Era a bíblia.

Com todos os rasgos e defeitos, sequela do longo manuseio Jairo Ferreira Machadoimposto a ela pelas mãos de Emanuel Rói Osso. Foi exatamente Uisso que Edu observou de imediato e a identificou. 271 O coronel tinha a intenção de ele mesmo entregar a bíblia aEdu. Mas o general do exército – de corpo presente – foi quemse apresentou no dia da cerimônia, fazendo longo discurso– que todos os ensinamentos eram bem-vindos e a bíblia eraum símbolo da força espiritual. Logo, todo bom soldado deviamantê-la em sua mesinha de cabeceira. O senhor de olhos tristes se fazia presente. Edu o abraçou. Era o pai do soldado que teve a intenção detomar para si o livro sagrado – era um dos vigias da enfermarianaquela noite – e o fez com a intenção particular de tê-lo comolembrança daquele moço, tantos dias ali – com a bíblia em mãose depois, devido à repercussão do caso, teve medo de devolvê-la e sofrer represálias por isso. Assim como Ezequias, explicava sua incondicional devoçãoa Deus. Queria apenas uma lembrança daquele que era para si,um grande soldado, o maior de todos: Emanuel Rói Osso, quemorrera naquela enfermaria, com honras e glórias. Aquele não fora um dia como outro qualquer, naquelequartel. Viveu-se um estado de comoção; não houve quem nãoabraçasse Edu e chorasse. Ou por debaixo dos panos, não lhe passasse algunstrocados em paga por ter convivido com ele, já sabendo que Edurecomeçaria sua vida, do nada. Estava voltando da sua guerra particular, sem medalhas nopeito, sem uma única insígnia nos ombros. Somente com umavelha bíblia desbeiçada da lida, que tampouco lhe pertencia.

Os olhos do JacaióO portão do quartel se abriu e Edu saiu através dele, sozinho, levando a sagrada escritura debaixo do braço, com a garantia de que o General não permitiria nenhuma reprimenda a Ezequiel, que sem muito saber, dera seu exemplo de fé, separando a vida de soldado daquela que tinha como a maior dentro de si: a fé em Deus. UVV272

Naquele dia, o cajueiro à beira do caminho via-se florido e as Jairo Ferreira Machado mangangabas e as abelhas vinham colher de suas flores a Ubebida dos deuses, o mais puro néctar. 273 O sol do meio-dia, torrencial. A sombra era convidativa, masainda que não o fosse, Edu pararia ali para relembrar. Bem podiaseguir de carona, mas disse pra si mesmo, faria o resto do caminhoa pé, relembrando os velhos tempos de menino e de adolescente,quando ia ou voltava da escola. Descansaria um pouco, aproveitando-se para ter umaconversa com o seu amigo jacaió. Uma conversa de pé deouvido. Quiçá, ter também um tempo com Deus – se é que Deuso ouviria, agora. E deitou-se – como fazia Rói Osso – com a bíblia servindode travesseiro – só para lembrar o companheiro – procurandoentre os galhos o solitário jacaió. Naquele instante, caiu-lhe umaflor no peito. Só podia ser o jacaió dizendo-lhe, “aqui estou,menino fujão!” Menino, agora, homem. Mas o pássaro não estava mais sozinho. Eram três contandoa mãe e o filhotinho. Não sabia se sorria ou chorava. Encantava-secom o que via... Às avessas de uma guerra, o pássaro criara sua prole, tãolivre quanto se viam, agora, Toninho e Foice Pequena. Onde osdois estariam? Um dia, quem sabe, os encontraria...

Mas o livre-arbítrio mais sublime, era a alma de Emanuel, que partira para outra dimensão, para um mundo melhor. O jacaió também, a qualquer momento, expulsaria dali o seu filhote e ele voaria em busca de outro lugar, de uma companheiro ou companheira para tentar nova vida. Mas aquele jacaió, ali, parecia, nunca querer partir. Aquela era a sua árvore. As abelhas vinham e voltavam. As mangangabas vinham e voltavam. Como os aviões em tempo de guerra. Pensava assim,Os olhos do Jacaió quando o mormaço do sol da tarde o levou a uma dimensão nunca antes experimentada, em todas aquelas outras vezes que estivera ali. Ao redor da árvore existia uma infinidade de vida, em que ele antes nunca tinha reparado. E embalado pelo coral de vozes queV vinham dos insetos, como o som de um milhão de harmônicas, logo dormiu e sonhou...274 UV

Lucinha estava grávida. Seria mãe. Acordou assustado. O Jairo Ferreira Machado subconsciente tomava à dianteira avisando-lhe, que seria Umelhor não voltar a vê-la, pois se Lucinha estivesse grávida, ofilho, de certeza, era do namorado, não seu. 275 Talvez Afrodite também quisesse invocar-lhe – não volte! Ouquem sabe fosse Emanuel Rói Osso, enviando-lhe uma mensagemdo além, através das estrelas que via ao longe, no sonho – siga oseu próprio caminho. Logo depois escurecia. Confessava também às estrelas, perguntando, qual caminhoprosseguir... Hora em que o jacaió já devia estar dormindo. Levantou-se e foi em frente, já de caso pensado. No instanteem que a lua prateada surgia de detrás da serra com o seu olharde encanto, os olhos de Lucinha. Lucinha nunca sairia de seuspensamentos. Não tinha dúvidas, disso. Os vaga-lumes aqui, acolá, o acompanhando. Tempo depois, longe, viu as luzes da periferia da cidade,brilhando tanto quanto brilhavam antes as estrelas no céu. Nuncatinha se sentido tão só. Era o próprio jacaió, quando lá empoleiradonos galhos do cajueiro, enquanto vivendo suas orgias, com Tami. Deixou que o coração acompanhasse os seus pés. Os seuspés, mais que o seu coração, sabia o caminho onde decidira ir. Não muito tempo depois, estava diante da zona de baixomeretrício. Um poste no final de uma rua pobre iluminava olusco-fusco de uma casa de prostituição. Permaneceu ali uma

eternidade de tempo, olhando a tenuidade da luz. Sem saber se tinha o direito de chegar ou continuar em frente, após todos aqueles anos afastado de Tami. Desde que ela e Lúcia brigaram no pátio do colégio, e ele já estava apaixonado. O amor por Lúcia nunca mais deixara seu coração. Resolveu aventurar-se, afinal ali era o lugar dos homens em busca de algo que não tinham por completo em suas vidas. Homens, fisicamente carentes, e que pagariam qualquerOs olhos do Jacaió preço por uns momentos fortuitos, mesmo que por pouco tempo, pois logo a prostituída cairia nos braços de outro. Esperou os homens partirem e o silêncio tomar conta do lugar. Logo depois as luzes se apagaram. Decidido, adiantou-se e bateu na janela de Tami que acordou,V deveras, assustada. Era hábito o cliente entrar pelo salão, onde as frequentadoras do lugar aguardavam, e de comum acordo entre as276 parte, a escolhida aproveitava para surrupiar dele a paga de alguma bebida, enquanto acertavam o preço do deleite momentâneo. E só então ela o levava para o quarto. Quem seria então, vindo às avessas, àquela hora da madrugada? Tami abriu a janela e incrédula, levou a mão ao coração. Há muito tempo não o via. Somente tinha notícias dele. Uma hora diziam que tinha morrido, em outro momento, que estava preso, como desertor da pátria. Mais tarde, diziam que continuava no quartel por causa de uma bíblia. O que teria acontecido com aquele moço que certo dia a tinha deflorado, ou ela o deflorou, num dia de muito sol, sob o pé do cajueiro? Edu parecia muito diferente, embora a noite atrapalhasse sua visão, já um pouco embaçada. Não era mais o jovem de antes,

ou se era, não parecia tanto. Teve dificuldades para identificar Jairo Ferreira Machadoem meio à escuridão. Aquele rosto trazia os traços de algum Udesgosto, que ela não definiu de imediato. 277 Viu apenas aqueles olhos arregalados para o seu lado,como um duende trazendo de fora os mistérios da noite. Vindode outros mundos... Trazia na mão esquerda uma bíblia, que Tami olhava, sem nadaentender. Na direita, uma flor silvestre, que alguém derrubara emseu peito. Uma flor de cajueiro, presente do Jacaió para ela. Conhecia-o de cor e salteado, de corpo e alma. Mais de corpoque de alma, claro. Será que aquela alma desajuizada mudara? Oque a vida fizera com aquele moço? Ou era tudo aquilo resultadode uma insana guerra? Não era hora de perguntas. Puxou-o pela camisa para dentro de seu quarto, ajudando-oa escalar sua janela. Deitou-o em sua cama e o beijou com aganância da primeira vez, ainda sentindo naquela boca umpouquinho do seu próprio gosto, dos fluidos dele renascidos deseus sentidos. Era mulher da vida sim, mas carregava dentro de si a lucidezdaqueles primeiros dias, lá no cajueiro, e do pássaro jacaió. Edufora o primeiro e único. Os demais foram de menos. E o amoucomo nunca amara ninguém, depois dele, em todos aqueles anosde meretrício. Acordaram abraçados já com o sol entrando pela janela.Exalavam o mais puro e sagrado sexo. Tami aprontou-se com o vestido mais bonito e espetaculosoque tinha e se foi, levando a bíblia debaixo do braço. Antes, solicitou às colegas que servissem a Edu o melhorcafé da manhã, dando-lhes o dinheiro para que comprassem o

Os olhos do Jacaiónecessário. As colegas de trabalho em volta de Edu, cheias de curiosidade. Conheciam aquele homem – das muitas histórias que Tami contava, nos seus momentos de saudosismo – e que muitos já o julgavam morto. Agora queriam saber, por que ele estava ali... Tanto quanto queriam saber onde Tami fora levando uma bíblia debaixo do braço, àquela hora da manhã? E tudo que Edu fez foi silenciar-se enquanto engolia o pão e uma xícara de café com leite; o café mais gostoso que tomara naqueles últimos anos. A zona, não era de toda ruim! Lembrando que também era um prostituto, um prostituto da vida. Só não ganhara nenhum dinheiro, até então...V UV278

Era um domingo. A igreja repleta de fieis. Jairo Ferreira Machado Tami seguiu pelo corredor do templo, com a mesma Upompa que eventualmente desfilava pelas ruas da cidade, seja:excessivamente espetaculosa. Olhares femininos estupefatos 279fulminavam-na de cima abaixo. Os homens abaixaram a cabeça,consentindo-lhe somente um olhar de soslaio. Fez pouco caso, sorriu como sorriria uma noiva no dia docasamento, vendo o noivo esperando-a, no altar. “Branca e radiante...lá vai a noiva...” Podia ouvir Agnaldo Timóteo cantando prá ela. Madalena sim, mas não arrependida. O padre interrompeu o sermão e ficou observando ela vindo,espetaculosa, até chegar ao altar e entregar-lhe a bíblia, dizendoque era presente de Edu, para a mãe de Rói Osso. O padre já conhecia a história da bíblia e pediu que todosse ajoelhassem. – Aconteceu uma graça, disse – Aliás, duas graças – corrigiu-se a tempo. Primeiro era a bíblia, recuperada, o presente caído doscéus, em suas mãos. Ato seguinte ergueu a bíblia para que todosa vissem, depois pediu a recém-chegada que tocasse aquelesímbolo sagrado, na presença de todos. Era a segunda graça, disse o pároco. Tami nunca pusera os pés naquela igreja; não se achavamerecedora. E tampouco tinha pegado na escritura sagrada, defato.

Os olhos do JacaióTami obedeceu e também se ajoelhou, com os olhos cheios de lágrimas. Em seguida, foi-se da igreja, deixando para trás uma irresistível fragrância de mulher da vida. E como sempre, perfumada. De rua em rua, atravessou a cidade e chegou ao meretrício, de onde saiu ao entardecer, de braços dados com Edu. Ele voltara. E carregava sua mala, em direção à rodoviária. O sol se despedia do dia e os pássaros se recolhiam aos seus refúgios. De repente o jacaió cruza os ares e pousa num pequeno arbusto, como que viesse saudá-los, com saudade. Recordaram o antigo cajueiro e o olhar curioso do jacaió a testemunhar suas primeiras aventuras amorosas. Foi um dia incomum, naquela cidade de interior.V E foi à última vez que foram vistos juntos ali...UV280

Pode-se imaginar o sepulcro de Emanuel Rói Osso e alguém Jairo Ferreira Machadodepositando lá um buquê de flores. Rói Osso, que respondia por Utal alcunha, por que roía o osso, deixando a carne para os irmãosmenores, famintos, magérrimos. 281 UV

Os olhos do JacaióHomenagem póstuma de guerra: Segundo Batalhão de Carros de Combate – Inc. 2. III. 1942 Exc. 7. XI. 1944 Cabo/Fileira – Cidade Caçapava.V282 Acima citados os cidadãos recreenses que participaram da segunda guerra mundial – assim consta na placa e no livro publicado pelo ferroviário e escritor falecido, Senhor Aristides Dorigo, morador da cidade de Recreio, MG – em cujo município ainda se ostenta, esquecida, a “pedra do urubu”.

Homenagem também a todos aqueles, que não foram à Jairo Ferreira Machadoguerra, mas sofreram as consequências dela. E morreram um Upouco com ela. Os personagens aqui apresentados, inventadosou havidos de fato, nunca antes lembrados. 283 UV






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