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Published by santoszoio2007, 2021-05-30 08:46:43

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A Voz de JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 34, Abril de 2021 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA CARTUXA DE LAVEIRAS-CAXIAS PASSADO VERSUS FUTURO

2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 FICHA TÉCNICA ESTATUTO EDITORIAL 1 – A VPA é um jornal bimestral de informação geral na área da cultura e da língua portuguesa, em particular na defesa dos interesses dos habitantes da vila de Paço de Arcos e das localidades circundantes. 2 – A VPA pretende valorizar todas as formas de criação e os próprios criadores, divulgando as suas obras. 3 – A VPA defende todas as liberdades, em particular as de informação, expressão e criação. Ao mesmo tempo, afirma-se independente de quaisquer forças económicas e políticas, grupos, lóbis, orientações, e pretende contribuir para uma visão humanista do mundo, para a capacidade de diálogo e o espírito crítico dos seus leitores. 4 – A VPA recusa quaisquer formas de elitismo e visa compatibilizar a qualidade com a divulgação, para levar a informação e a cultura ao maior número possível de pessoas. Propriedade: Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos” Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos Direção: Presidente - José M. R. Marreiro; Tesoureiro - António Alberto Lopes; Secretário - Francisco Rita Santos Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos E-mail: [email protected] N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 Depósito Legal: 61244/92 Diretor: José M. R. Marreiro Diretor-Adjunto: José Maria Santos Zoio Subdiretora: Maria Inês Bastos Editor: José Aguiar Lança-Coelho email: [email protected] Impressão: www.artipol.net Sede do impressor: Rua da Barrosinha, n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal Colaboradores: Antonieta Barata; Carmo Vieira; Eduardo Barata; Fernando Marques; João Pinto; Jorge Castro; José Aguiar Lança-Coelho; José Freitas Branco; José Marreiro; Luis Alvares; Mafalda Ascenção; Maria Aguiar; Maria Maya; M. Barão da Cunha; Mário Matta e Silva; Neza; Paulo Mascarenhas; Renato Pinto; Rogério Pereira; Santos Zoio; Sara Carvalho; Virginia Branco; Zélia Coutinho Fotografia: Paulo Mascarenhas e Santos Zoio, Desenhos e Aguarelas - Serrão de Faria Capa: Cartuxa, fotografia de Paulo Mas- carenhas Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Facebook: www.facebook.com/avozdepa- codearcos Publicidade: [email protected] Tel. : 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Sub diretora Honorária: Maria Aguiar

3 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 EDITORIAL S ão muitas e varia- das as novidades, sentar ao concurso de Capital da Cultura, ainda!, em tempo que ocorrerá em 2027, e que trará inúme- de pandemia. Assim, depois de no celho, em que «A Voz de Paço de Arcos» último número, termos espera participar de algum modo. referido o início da construção do Centro o Concelho de Oeiras se encontra numa Cultural José de Castro, grande e febril expansão. e a passagem do 1º cen- tenário do Clube Desportivo de Paço se concretize, não se esqueça de usar a de Arcos (CDPA), desejamos chamar a máscara e guardar distância dos seus se- atenção para outros importantes eventos melhantes, para irradiarmos a maldita que se avizinham: O completo remodelamento do Con- vento da Cartuxa, onde a Câmara Mu- nicipal de Oeiras irá criar um Centro de Arte Contemporâneo que, trará ao con- celho todos os grandes eventos das Artes Plásticas, bem como os seus artistas. Como se isto não bastasse, temos ainda que destacar, o facto de Oeiras se apre- ros eventos e benfeitorias ao nosso con- Numa palavra, temos que concluir, que Porém, caro leitor, para que tudo isto pandemia, o mais depressa possível. José Aguiar Lança-Coelho - Licenciado e Mestre em Filosofia pela FLUCL (Escreve de acordo com a antiga ortografia) ELOGIO FÚNEBRE «A VOZ DE PAÇO DE ARCOS» apresenta as suas condolências à família da Sra. Zélia Coutinho, falecida na madrugada do passado dia 14 de Abril do corrente. Zélia Coutinho, mulher de um dos fundadores e do primeiro director de «A Voz de Paço de Arcos», Joaquim Coutinho, foi uma assídua colaboradora do nosso jornal, sobretudo, através da realização de inúmeros contos literários, modalidade em que era exímia. A direção

4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 N o passado dia 17 de feve- reiro de 2021, foi, final- mente, entregue à CMO, para recuperação e gestão por 42 anos, este tão im- portante património histórico, cheio de memórias nos seus mais de 200 anos de existência. Após o abandono dos últi- mos frades Cartuxos, em 1835, ficou ao abandono e a ter uti- lizações esporádicas, como ar- mazém, dormitório, etc, foi, em 1903, ocupado pelo Pe.António Vieira para instalar um estabe- lecimento destinado a casa de correção, e educação, de rapazes delinquentes. Este estabelecimento sofreu muitas vicis- situdes ao longo da sua existência, desde logo a sua denominação, e as suas ativida- des ligadas ao ensino e formação dos rapa- zes, como será demonstrado em artigos a publicar no suplemento “A Cartuxa”, cujo primeiro número está em anexo, fazendo parte integrante deste do nº. 34 de A Voz de Paço de Arcos. Para o futuro grandes desafios se põem. A Igreja será entregue à Paróquia de Laveiras- -Caxias, para exercício das suas atividades religiosas, sociais e culturais. Relativamente ao Convento, de enormes dimensões, com muitas salas, tem condi- ções para receber muitas atividades dentro do projeto definido como Centro de Artes Contemporâneas. As oficinas de razoáveis dimensões, e os espaços exteriores também são adequados a vários projetos artísticos, sociais, culturais e até desportivos. A Voz de Paço de Arcos, e o suplemento “A Cartuxa”, associam-se aogrande desíg- nio da CMO, que é a candidatura a Capi- tal da Cultura-2027, e põem as suas pági- nas ao dispor dos Oeirenses, que queiram publicar artigos sobre a história, e suges- tões para projetos a implementar para aproveitamento das enormes potencia- lidades do rico património existente no nosso município. Ficamos a aguardar as vossas participa- ções. Texto: José Marreiro Fotografia: Paulo Mascarenhas Finalmente - O convento da cartuxa é nosso ARTIGO DE CAPA

5 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 N o anterior “Caminhos” debru- caminho de ferro cei-me da janela da cozinha de e do terminal de minha casa, e referi o que de camionagem. mais importante daí podia observar. Foi assim por força do confinamento, que presarial, desaconselhava saídas à rua. Felizmente, está aqui implan- já podemos circular, com as devidas pre- cauções, claro, pelo que vou descer, e sair de 40 anos, é pelo portão da garagem, para, a pé, seguir propriedade da até à Praceta Dionísio Matias, no Centro Histórico da vila de Paço de Arcos, térmi- nus da nossa crónica de hoje. Começo logo pela parede do prédio onde está instalada uma Caixa de Mul- tibanco, equipamento estratégico para a população local satisfazer as suas neces- sidades de operações bancárias. Ao lado, o Supermercado Joaninha, do segurando, à população, os serviços das Grupo Bugiofarol, que integra também, suas respetivas atividades. o restaurante Fornos do Padeiro, logo ao lado, e a Pastelaria Queques da Linha, referidos, temos uma loja Mercedes, da localizada umas centenas de metros Mercauto, empresa do grupo Santogal, e mais adiante, a caminho da estação de no prédio seguinte uma loja, e uma ofi- Este grupo em- que tado há já cerca família Tavares, que também reside na zona, é uma mais valia para a zona, as- Entre o supermercado e o restaurante Da minha garagem ao Centro Histórico de Paço de Arcos - Praceta Dionísio Matias CAMINHOS

6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 CAMINHOS cina, também de automóveis, da marca des surgiram Audi. Em frente, um parque de estaciona- mento, agora atravessado pela ciclovia permitem empresarial. Estamos junto à rotunda seu cabal apro- ajardinada que liga às vias para Caxias, veitamento. Rua Conde das Alcáçovas, para Porto Salvo, Estrada de Paço de Arcos, a ponte chegar à esta- para a Tapada do Mocho, e à que esco- lhemos para seguir no nosso caminho, a nho de ferro, Av. Senhor dos Navegantes. Seguindo por aqui abaixo, temos à vila, junto à nossa direita o vale onde corre a Ribeira qual dos Arcos, sobre a qual serpenteia a es- trutura do SATU, e no seu fim, ou início merciais. Uma como se queira, a estação principal deste loja chinesa, adiado transporte, desativada em frente à qual está a praça de táxis. No lado contrário, após alguns pré- dios antigos, recentemente restaurados, e muito bem, deparamo-nos com dois grandes edifícios habitacionais, com lojas, escritórios, clínica de fisioterapia, a Fisiocontrol, e nas caves um grande espaço que após ter sido tido como ter- minal de camionagem, depois parque de estacionamento público, está a servir de armazém a serviços cama- rários. Gran- des dificulda- no seu cami- nho que não o Estamos a ção de cami- o interface da temos várias lojas co-

7 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 uma churrasqueira que tem no frango Cultural José de Castro e duma Unidade assado o seu principal produto, café- -pastelaria, loja de telemóveis, e no piso superior um cabeleireiro onde a profis- sional Karol atualmente exerce após ter díamos deixar de mostrar a nova pintura passado por outras localizações onde dos muros do acesso à estação e aos pré- tem deixado a sua marca de boa profis- dios da zona superior. sional e de simpatia. Em frente, a esta loja, temos o mo- numento de homenagem à canceleira Órgão de Tubos de grande qualidade. Maria Mendes, cuja envolvente está a necessitar de cuidados de jardinagem cia de estabelecimentos comerciais, que para que recupere a sua qualidade per- proporcionam uma boa cobertura em dida. A atenção dos serviços respetivos. Voltamos à Av. e estamos em frente ao antigo quartel dos BVPA que aguarda, para breve, o início das, há muito aguar- dadas, obras para construção do Centro de Serviços de Saúde. É sempre com muito agrado que refe- rimos melhoramentos, pelo que não po- A Igreja Paroquial da Sagrada Família cumpre a sua missão religiosa, social e cultural nesta notável estrutura arquite- tónica e bem equipada. Foi recentemen- te enriquecida com a instalação dum Em frente, temos uma nova sequên- todo o centro histórico da vila. Comecemos por referir mais duas lojas de chineses, que estão bem entrosados no conjunto, ao lado, a loja mais movi- mentada da zona, o Pingo Doce. Na esquina, a loja de utilidades para o lar, Telelux, e a clínica dentária Den- tális. No outro lado da rua temos o res- taurante, pastelaria Casa do Adro, com a

8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 CAMINHOS sua simpática es- planada. Continuando, chegamos à Casa Maia, antiga e prestigiada loja de eletrodomés- ticos, utilidades para o lar, e ser- viços elétricos. Entramos na Praceta Dionísio Matias, onde decor- rem obras de requalificação, estando para breve o seu fim. Novo espaço de encontro, modernamente equipado para permitir o seu usufruto, com mais qualidade, pela população. Aqui encontramos mais lojas que en- riquecem a oferta de produtos essen- ciais à população. Comecemos por uma nota negativa, o fecho da pastelaria Pic- cadilly. Outrora local de encontro, e de ter- túlia, de muitas famílias da vila, veio a decair de qualidade e atratividade nos últimos anos, acabando por fechar portas. Será que a renovação da praceta vai atrair investidores para a sua reaber- tura? Esperamos que sim. A vila precisa e merece aquele espaço que está na me- mória de várias gerações. A seguir, mesmo ao canto, a drogaria Jomarsil, seguindo-se a florista O Can- tinho da Rosa, casa antiga, e prestigia- da, que tem passado de pais para filhas, e que se mantém a prestar os seus serviços

9 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 com profissionalismo e competência. Outra casa emblemática e que merece a simpatia dos seus frequentadores é a Leitaria Vitória, que também tem passa- do de mães para filhas. Esperemos que a fase difícil, por mo- tivos de saúde, seja ultrapassada, e que possa acompanhar a nova vida da prace- ta. O Centro Clinico do Jardim antecede uma loja atualmente encerrada, B.C.S., que tem sido de papelaria e de materiais e serviços de escritório, e que esperamos possa retomar quanto antes. A loja Casa Mário de malhas e confe- ções, há muitos anos a debater-se com dificuldades, que só a tenacidade do seu proprietário tem permitido a sua ma- nutenção, presta importantes serviços à comunidade, sobretudo às pessoas mais idosas, pela sua proximidade. Fa- zemos votos que a nova vida da praceta também lhe traga novas oportunidades de negócio. Na loja da esquina está o Banco Bankinter. Voltamos ao centro da praceta para seguir a fachada principal do mercado, as suas lojas de rua com talho, mercea- ria-charcutaria, florista e Papelaria, na lateral sul a loja onde está instalado o Gabinete de Apoio ao Centro Histórico, e onde estão, provisoriamente, serviços da União de Freguesias.

10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Em frente, a Loja do Xico, antiga loja Grande empresa, quer nacional quer in- de tecidos e de roupa, logo ao lado a ternacionalmente, e que tem mediado loja dos CTT, sempre com fila à porta muitos dos grandes empreendimentos, por força das restrições à COVID, mas que estão a modernizar a vila. também com o aumento de clientes, desde que em Caxias deixou de haver qualquer loja que preste serviços àquela empresa. Na esquina do prédio a sul temos uma loja de prestação de serviços de costura. Finalmente, e após muito anos de de- socupação, o prédio da outra esquina entrou em obras de recuperação, voltan- do às suas funções de sempre, habitação e comércio. No prédio contíguo virado para o mercado, temos a mesma situa- ção, também está em obras. E assim, também com investimento privado, Paço de Arcos se vai modernizando. Continuando pelo passeio abaixo, temos a Padaria Spica Pão do Mundo, temos a empresa mediadora de imo- biliário ERA, (e que continua a ser). frente, a entrada lateral para o merca- Segue-se a Funerária de Paço de Arcos, que, com duas lojas na vila, presta servi- ços funerários há já várias décadas tendo adquirido bastante prestígio. Depois da loja de Condomínios no outro lado a loja de seguros. Em do que aproveitamos para fazer uma visita ao seu interior. É uma tristeza, uma desolação. O mercado tem vindo a perder clientes, e logo comerciantes, ao longo das últimas décadas, daí o estado lastimoso a que chegou. Estão previstas grandes obras de recupera- ção, e adaptação às necessidades atuais que são bem diferentes das de então, o CAMINHOS

11 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 futuro será bem diferente, esperamos tudo do seu rico centro histórico. que não demore em demasia. Entretanto, há alguns, poucos, comer- Junta de Freguesia de Paço de Arcos, ciantes que fazendo das tripas coração, hoje delegação da União das Fregue- se mantêm a trabalhar como podem, sias de Oeiras, S. Julião da Barra, Paço prestando prestimosos serviços à co- de Arcos e Caxias, e temos uma surpre- munidade trazendo até ao consumidor sa, estas instalações foram moderni- produtos essenciais, e de primeira ne- cessidade, tais como flores, pão, fruta, nais. Os nossos parabéns. hortaliça, carne e peixe. São, como se disse, já poucos os comer- ciantes que aguardam por melhores dias. Es- peremos que a obra de reconversão da prace- ta atraia mais clientes à zona, e que a anun- ciada reconversão do mercado venha com- pletar o cenário indis- pensável à vida mo- derna da vila, e sobre- Por fim, chegamos à antiga sede da zadas, ficando mais atrativas e funcio- Por hoje ficamos por aqui, com uma sensação de otimismo para o futuro. O investimento em curso e as novas iniciativas em perspetiva asseguram uma maior dinâmica na vida da vila para bem dos seus habitantes. Texto: José Marreiro Fotografia: Santos Zoio

12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 MEMÓRIA CULTURAL S empre ouvi e li o seu nome ligado à o que queria o meu caro amigo, num país Geração de 70, aos génios que a cons- tituíram e, às Conferências do Casi- no, mas tenho de lhe confessar que, pouco teoria darwinista, se vissem, como afirma- sabia da sua vida, para além de que, era en- genheiro agrónomo, amigo dos «monstros chimpanzé»? sagrados», Eça, Antero e Oliveira Martins, que foi nosso cônsul em diversos países, era um leitor assíduo de autores como nomeadamente, na Rússia, e nesse local as- sistiu à célebre Revolução Bolchevique de Proudhon. Este último muito do agrado 1917. Assim, tirei-me de cuidados e pus-me dos seus amigos Eça e Antero, com quem a estudar a sua biobibliografia. Aprendi, então, que nasceu na véspera habitava na Travessa do Guarda-Mor, no do dia de Natal do ano de 1847, em Lisboa, Bairro Alto, onde eram discutidos todos os cidade onde frequentou o Colégio Alemão, assuntos até a manhã nascer, e que tinha o único da época onde havia a disciplina de como vizinhos dois padres que se queixa- Ginástica, e onde adquiriu bons conheci- mentos de alemão, inglês e francês. Seguiu- noite, e a quem Eça gritava como resposta: -se a matrícula no Instituto Geral de Agri- «- Sempre, sempre, ao lado da igreja!» cultura de Lisboa, onde cursou Agronomia e Engenharia Florestal, - uma vez que o seu e Antero, se servia do pseudónimo Carlos pai tinha propriedades no Turcifal, em Tor- res Vedras, onde era produtor e exportador tânica, porém, desconhecia que fora um de vinho -, obtendo altas classificações, no dos fundadores do jornal, que vi o meu avô ano de 1866. Porém, quando julgava que materno comprar toda a vida, refiro-me à poderia ficar a exercer o magistério em República. Agronomia, foi preterido por o seu traba- lho final defender a teoria da evolução das juntamente com Antero, foram os ideólo- espécies de Darwin. A este propósito, deixe-me perguntar-lhe, Lisbonense», que, infelizmente, o Jaime conservador, ultra católico, reaccionário e, onde havia professores que só aceitariam a va um, «um papagaio transformar-se em Sei agora que, para além de Darwin, Hugo, Lamartine, Baudelaire, Poe, Zola e formou o célebre Cenáculo, na casa onde vam de não conseguir dormir durante a Sempre soube que, o Jaime, tal como Eça Fradique Mendes, para escrever poesia sa- Desconhecia também que Batalha Reis, gos das célebres «Conferências do Casino Meu caro Jaime Batalha Reis:

13 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 não conseguiu pronunciar a sua, devido à noutras da especialidade, o que me leva a portaria de 26 de Junho de 1871, emanada pensar que os professores da faculdade já pelo marquês de Ávila e Bolama, presiden- te do Governo da altura, proclamando que cias darwinistas. as ditas Conferências «expunham doutri- nas e proposições que atacam a Religião e cia tudo o que respeita à sua vida. Em 1876, as Instituições políticas do Estado.» Mas, meu caro Batalha Reis, o que que- ladélfia, comemorativa da independência ria o meu amigo, quando se propunha na dos EUA, onde fica seis meses (Out 1876 sua conferência, criticar os diferentes sis- temas socialistas, e principalmente, os de algodão e tabaco. Em 1880, é membro da Proudhon, Karl Marx e Engels, que são no- mes que ainda hoje, em pleno século XXI, mões. Em 1900 é delegado de Portugal na metem medo aos reaccionários. Se com o Conferência Internacional para a Protec- Darwin o penalizaram, o que esperava dos ção da Fauna Africana. pais do socialismo? Já agora só lhe faltava falar no Lenine. Aí é verdade, também sa- -me com uma informação curiosa, relativa bia que se encontrava na Rússia, quando se à sua ideia de guardar todos os seus papéis, deu a Revolução de Outubro de 1917, como a que chamou Explicação do Universo. cônsul de Portugal. Antes de ser cônsul, deve dizer-se que, espólio em muitas dezenas de caixas, que foi professor catedrático de Botânica e de doou à Biblioteca Nacional. Economia Rural e Florestal, no Instituto Geral da Agricultura, época em que escre- ve inúmeros artigos na «Revista Agrícola» e se deviam ter esquecido das suas preferên- A partir daqui, reconheço que desconhe- é nomeado comissário à Exposição de Fi- - Mar 1877) a estudar a cultura da vinha, comissão executiva do tricentenário de Ca- A missiva já vai longa, por isso despeço- Foi a sua filha Beatriz que organizou o seu Cordiais cumprimentos de José Lança-Coelho

14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 BAIRRO DA MEDROSA R esumo e decisões da 1ª Reunião da Comis- são de Festas, dia 10 de Abril, (Esplanada do CVO). Presentes: Rogério Pereira (DS); Madalena Sintra Duar- te (FB); J. Boiça (EMACO); Ricardo Maia Moura (Escu- teiros); Inês Mendes, em representação da Carolina Mendonça (CVO) - Ausência jus- tificada: Jorge Boiça (CFO) Foram tomadas as seguintes decisões: ENVOLVIMENTO: •Envolver todas as populações que inte- gram os bairros da Quinta da Medrosa e não apenas os “bairros das caixas”. O envolvimento das comunidades de todos os bairros da marginal à via-férrea e da estrada da Medrosa à Ribeira da Lage de- verá ser progressiva e decorrente da di- nâmica que se vá criando. Esta nova con- figuração tem por objetivo não apenas DURAÇÃO criar uma identidade territorial como também poder-se integrar na dinâmica do Projeto da Candidatura de Oeiras a Capital da Cultura 2027. Sobre este pro- jeto esta Comissão de Festas passará a ter J. Boiça como elo de ligação à Câmara e em próxima reunião trará mais infor- mações no sentido da nossa dinâmica se fazer em sintonia; •A comunicação será um elemento fun- damental e assim, para além do Face- book (a cargo da Madalena) irá ser criado um grupo de comunicação reunindo ela própria, a Inês e o Jorge Boiça, de forma a se assegurar o funcionamento e a pe- riodicidade da informação por outros canais, designadamente pelo uso do Ins- tagram (Inês) e de uma newsletter (Jorge) – Este grupo deverá reunir logo que pos- sível e será coordenado pela Madalena. •As comemorações terão três fases: o momento em que se assinala a data ofi- cial da inauguração do “bairro novo”; uma segunda fase coincidente com as festividades dos Santos Populares; e a terceira fase, desde o S. Pedro até ao fim do ano, com as festas de Natal Comemorações do 50 º Aniversário do Bairro Pequenos Almoços Refeições Rápidas Pastelaria Omeletes Saladas Tostas Sumos e muito mais! Rua Alfredo Lopes Vilaverde, Nº 15, Paço de Arcos - 2770-009 (No Prédio Das Finanças) 961 251 090

15 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 PROGRAMAÇÃO DA PRIMEIRA FASE •A 1ª fase, terá início no dia 18 de Maio, com o lançamento da Placa que assina- la os 50 anos do Bairro das Caixas e terá, naturalmente o envolvimento das Autar- quias. O Rogério fará o primeiro contac- to com a Junta de Freguesia e posterior ligação com a CMO em articulação com o Boiça •No fim de semana seguinte (dias 21, 22 e 23) deverão desenvolver-se atividades: o Desportivas (de ginásio e de rua) a se- rem planeadas pela Carolina e pelo Jorge o Culturais, a serem planeadas pelo Boi- ça com o apoio do Rogério o De debate, a serem planeadas pelo Castelão, com o apoio do Rogério o Musicais e artísticas, a serem planea- das pelo Rogério o Religiosas, a serem planeadas pelo Ri- cardo o Organização de uma exposição docu- mental “Medrosa, nós somos a memória ração que habitou o Bairro e da chegada que temos” em local a definir, a cargo do de novos habitantes na consideração das Boiça – devendo desde já ser reunida por mutações comportamentais e de integra- todos, a documentação disponível que ção social tendo-se concluído pela neces- na próxima reunião da Comissão lhe de- verá ser entregue para poder ser monta- da a exposição ORIENTAÇÕES PARA AS FASES SEGUINTES • A 2ª fase coincidente com os festejos dos Santos Populares, no decurso do mês de Junho, terão de ser planeadas pelo Ricardo que levará em conta a pró- pria tradição dos bairros; •A 3ª fase de Junho até Dezembro, inte- grará um conjunto de iniciativas a pla- near por esta comissão, mas ficou desde já a perspetiva de visitas ao património local (Forte de S. Julião da Barra) e con- figuração de uma Memória Descritiva para instalar elevadores em todos os prédios do Bairro Novo (responsável a designar). Além da Memória Descritiva planear todas as etapas de forma a que a Câmara Municipal se interesse pelo Projeto e passa vir a participar no finan- ciamento além do desenvolvimento de campanha de angariação de fundos, durante os festejos dos Santos Popula- res. •Em momento a definir, a Comissão irá avaliar que passos deverão ser da- dos para se vir a formalizar a criação de uma Associação de Moradores TAREFAS IMEDIATAS No decurso da nossa reunião foram feitas várias apreciações sobre a evolução da co- munidade local, da elevada idade da ge- sidade de se fazer prédio a prédio, rua a rua o levantamento dos novos moradores para, em passo seguinte, se definir uma orientação face ao novo quadro a que se chegar… Outra tarefa imediata é a de ir acompa- nhando as medidas de confinamento e segurança a fim de cada um dos respon- sáveis ir ajustando o seu plano às condi- ções impostas pela pandemia. Rogério Pereira

16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 CONTO O Barão do Baleal T inha aquele ar abotoado, aga- loado, abotinado dos barões ainda aparen- que se prezam. Um empregado, tada com o criado, escravo, estava encarregue de o duque de Bra- despir para o meter na banheira, para gança era a es- o meter na cama, para o vestir de ma- posa do barão. nhã e para o empinocar para festas de Falava de cima gala. Tinha o trabalho de ir caçar de vez la voz gutural como têm (tinham) as em quando com os amigos. Para isso senhoras de bem. Ao marido fazia-lhe havia outro escravo que lhe carregava festinhas no bigode farto e na careca com a arma, apanhava a caça quando para compensar. havia, tomava conta do cão de caça e ainda arrastava a cadeira para o barão rão estavam a estudar no estrangeiro se sentar quando estivesse cansado. D. Micas fazia-lhe a cama de lavado com lençóis de linho perfumados, mas estrangeiro, dizia ela, a D. Gertrudes, às vezes sem ele saber, deitava-se nela na sua voz gutural, mas um pouco me- para cheirar e sentir a textura dos teci- dos e adormecia. Acontecia nalgumas ocasiões o barão chegar e vê-la deitada. Aproveitava e fazia sesta com a Micas foram chama- deitava-se com ela, só tirava as botas. dos num rompante. Puxava-a para si, ela acordava e depois - só eles é que sabem o que faziam que buscar o Sr. Barão, traga-o pela mão se a mim não me contaram nada. A senhora Dona Gertrudes Albu- querque Sanches, Meireles e Castro dos Remédios, para baixo com a criadagem com aque- Os filhos da Dona Gertrudes e do ba- como gostavam de dizer aos amigos. - Os meus filhos estão a estudar no nos gutural do que com as criadas, por se tratar de visitas finas. Numa dessas tardes em que o barão - Micas, venha cá imediatamente. Vá for preciso e traga também um bule de chá com uns biscoitinhos. ?????

17 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 - Desculpem a demora da Micas, mas num instante. Queridas amigas con- ela coitada ouve mal e não anda muito versem aqui com o meu marido só por boa da cabeça nos últimos tempos. - Não se preocupe Senhora Dona vou depois do chá. Gertrudes, nós sabemos o que isso é! Criadagem! Há que ter muita paciên- cia! Passado quase um quarto de hora chegou a Micas, um tanto desgrenha- que eu entornei lá uma coisa e vou lim- da, olhos arremelgados, compondo o par com a esfregona. cabelo disfarçadamente. - Peço imensa desculpa, mas estive a servir o chá com os biscoitos como eu fazer a cama de lavado do Sr. Barão e lá lhe pedi. Estas senhoras estão à espera. em cima não se ouve bem. - E o senhor Barão? Onde se meteu tornou o bule do chá por cima de uma ele? - Vem já, veio da caça e está a acabar os biscoitos caíram por terra e num de calçar as botas. - Tanto tempo para calçar as botas? cavalgou escadas acima e desapareceu Ele não tem lá o Juvenal para o ajudar? - Não senhora. Quando chegou o Barão, a Senhora De facto atualmente a criadagem já Dona Gertrudes nem queria acreditar. - Onde é que o senhor meu marido Miquelina de Sousa Espírito Santo. Há andou, que traz as ceroulas a verem-se? até algumas atrevidonas que se metem E a camisa às três pancadas. E o cabelo com os patrões. Conheço várias. desguedelhado como o da Micas. Até parece que vieram do mesmo sítio. Micas, fez a cama de lavado para o sr. barão? Eu já duvido, vou lá examinar um bocadinho. Bem, pensando melhor - Não, por favor, Senhora Dona Ger- trudes, grita a Micas. - Então porquê, ora essa! - Nesse caso deixe-me ir à frente por- - Cheira-me a esturro. Micas, vá lá Micas ficou tão sobressaltada que en- das visitas que gritou com o escaldão, impulso como se estivesse possessa, entre portas. - Mas que empregada tão estranha! não se consegue aturar, ripostou a D. Antonieta Barata 7/04/21

18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 D iariamente se ouvem críticas re- lativamente ao fornecimento de ve no processo de vacinas seja que escasseiam por produção provoca chegarem atrasadas ou pela entrega ser um descalabro em em menor quantidade do que o previs- to. As pessoas alheias aos processos far- na entrega de um macêuticos não possuem uma noção da elemento primá- particularidade que representa a produ- rio, uma deficiên- ção industrial de vacinas. Cada frasqui- nho que parece insignificante, tem uma ção ou ainda restrições de abastecimento, história que está bem arquivada no La- boratório produtor. As vacinas são medicamentos especiais trabalha de forma quase em contínuo pois operam, contrariamente aos medica- para responder às exigências da procura. mentos químicos, com organismos vivos ou elementos orgânicos derivados prove- nientes desses mesmos seres vivos, o que tecnológicas aplicadas na produção de obriga a um procedimento de execução vacinas. Na indústria farmacêutica existe fabril extremamente rigoroso. Quando referimos rigoroso, estamos produção de injetáveis intravenosos pois, a presumir que 70% do tempo relativo a também requere procedimentos em meio obtenção de um lote de vacinas é gasto no estéril. Mas no caso das vacinas a propor- procedimento de controlos aplicados ao ção produtiva é enorme, falamos em mi- longo de toda a cadeia de produção. Dito lhões de unidades pelo que o aumento de de outra forma, praticamente três quartos escala cria situações particulares. do tempo despendido na produção de um lote de vacinas é ocupado em verifi- cessário obter o fornecimento atempa- cação de conformidade com os procedi- mentos e controlo. Esse controlo é aplica- em empresas especializadas nesses itens, do num somatório de situações que vão começando pelo recipiente que reque- desde a aprovação das matérias primas, re um vidro especial (borosilicato), da dos sistemas de acondicionamento e da tampa constituída por um derivado silo- produção fabril até a aprovação final do xano especial, aos acondicionadores de lote de produção. Embora nas apresenta- plástico para os frascos, às cartonagens ções visionadas pareça um sistema sem- pre a rodar, a verdade é que ela é feita por armazenagem em condições adequadas quantidades fixas que são determinadas e uma manipulação eficiente. Uma falha pelo tamanho das unidades primárias de no sistema provoca uma paragem que se produção (cubas e aparelhos acessórios). Qualquer entra- cadeia. Um atraso cia de manuten- vão desenvolver uma perturbação em ca- tadupa num processo que supostamente Podemos ter assim, um a aproximação da responsabilidade e das necessidades um pequeno paralelo quando se refere à Em termos de produção fabril é ne- do dos componentes que são adquiridos e finalmente aos contentores para uma vai repercutir nas entregas e alterar todo Vacinas. Um processo complexo de obtenção SAÚDE

19 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 o fluxo programado. Tudo segue uma sé- rie de processamentos muito rigorosos. zação e controlo de todos os parâmetros é Cada lote de produção deve mostrar uma como já foi referido de uma complexida- homogeneidade constante que se deve de enorme. manter ao longo das várias produções. Os diferentes lotes de fabrico devem manter económica. Estes processos são devo- as caraterísticas de qualidade e eficácia radores de capital pois requerem uma de lote para lote. A obtenção de seringas deve acompa- progresso industrial. Obter o agente que nhar a produção de vacinas embora a responde a um problema sanitário, pro- sua proveniência não seja condicionada duzir melhor, mais depressa, de forma quanto à origem, mas sim quanto à qua- mais eficaz e segura, implica custos ele- lidade. De uma forma simples e sistemática podemos descrever o seguinte esquema do a que ao fabrico recorre a organismos global para o fabrico de vacinas. A) Pesquisa do organismo vivo atenuado ou outra sequência de matéria orgânica (anti- génio) adequada à finalidade proposta com todos os passos obrigatórios que garantam: eficácia, segurança, qualidade. (nesta pri- meira fase se concentram praticamente to- das as potencialidades de pesquisa, desen- volvimento científico) B) Obtenção de forma industrial dessa nova molécula e de todos os preceitos adequa- dos para a sua fabricação em séries de lotes equivalentes. C) Conseguir o fornecimento adequado de todos os acondicionamentos, em tempo útil, que permitam apresentar o produto na forma adequada de utilização pelo consu- midor. D) Instalações produtivas que devem estar preparadas não só do ponto de vista fun- cional (ambiente estéril) como recorrer a maquinaria eficiente que possa funcionar de modo contínuo. Estão aqui apresentados os principais passos. Os problemas de logística, organi- Podemos adicionar ainda, a questão aplicação sempre no topo da ciência e do vados. Como referido anteriormente atenden- vivos ou seus sucedâneos, a sua produção deve obedecer a precauções draconia- nas, com locais estéreis, com um pessoal especificamente habilitado, com fatos de condição estéril, e trabalhando em con- dições de assepsia máxima de forma a evitar contaminações nas culturas ou das preparações ou ainda, de se infetarem os próprios manipuladores. O controlo de qualidade inicia-se nos fornecedores das matérias primas e pro- longa-se nos materiais acondicionamen- to (frascos, rolhas, cartonagens, rótulos e armazenamento) até chegar ao produto final, em que cada lote de produção re- presenta milhares de frascos. Não pode ser descurado qualquer momento na ca- deia produtiva, incluindo as próprias con- dições de transporte. Imaginem que se verifica uma inqui- nação no sistema, ou que uma máquina se descontrola e deixa de filtrar, encher, rotular, ou acontece qualquer outra defi- ciência no percurso da cadeia de produ- ção… Um simples frasquinho contendo uma

20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 SAÚDE exata pequena porção de líquido inco- lor, acarreta uma trajetória de conhe- cimentos, práticas operacionais e tec- nológicas dignas de uma operação de divulgação e restringe a produção por âmbito espacial. A obtenção do produto específico pro- litadas ao seu fabrico. Esta é uma das priamente dito que constitui a vacina razões porque a OMS pede para as em- sofreu um acréscimo de conhecimentos presas detentoras de patente de con- tanto a nível da área da genética como cederem facilidades a outras unidades na especificidade nas áreas dos agen- tes infeciosos embora já houvesse uma pacidade de resposta a nível global. base de dados acumulados. Os conhe- cimentos de engenharia genética com há muito constituído um setor farma- utilização, por exemplo, da electropora- ção, e da tecnologia técnico farmacêu- tica como as nanoestrura, permitiram demia, o seu papel ultrapassa todas as avançar tão rapidamente para a solu- fronteiras. Os governos, as grandes or- ção do inóculo ativo (antigénio) e este ganizações de cidadãos do mundo de ser introduzido no excipiente próprio repente olham para as vacinas como e permitir a obtenção da preparação lí- a salvação do dia seguinte. Na reali- quida para injetável. No caso de uma das vacinas apro- na sua produção como na sua atuação. vadas, foi necessária adaptação a um Será importante atender à necessidade transportador específico para proteger de um tempo de reação após aplicação a proteína do ADN mensageiro, ele- mento básico da vacina. Trata-se de ter diferentes graus de eficácia, pelo que uma “nano cápsula” de lípidos que en- volve o agente ativo referido e permite a tempo e manter defesas adicionais até sua incorporação no líquido que cons- titui o excipiente. Esta forma facilita o ção da pandemia. seu manuseamento, mas deve recorrer a uma temperatura de conservação muito baixa. Todo este processo está sujeito a uma patente de produto que impede a sua outras organizações, mesmo que habi- fabris e assim permitir aumentar a ca- Em conclusão, as vacinas têm desde cêutico muito específico na defesa da saúde pública, mas em tempo de pan- dade o processo não é tão célere tanto com criação de imunidade. Esta poderá será sempre necessário um controlo no se chegar ao fim desejado, a neutraliza- Eduardo Barata

21 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 SUPLEMENTO CDPA II E m 16 de abril de 1944, dan- do corpo aos debates dos dois anos anteriores, reu- niram-se nos Armazéns do Mi- randa, adega do Sr. Antunes, 54 representantes do comércio e in- dústria da vila de Paço de Arcos. O pretexto… um encontro gastro- nómico. Foi encarregado o “Chico Pé Leve”, marinheiro de corpo in- teiro, de confecionar uma caldei- ra que ficaria para a história tal os elogios que recebeu de forma unanime. Terminado o repasto, José Matias Júnior iniciou as intervenções pedindo aos presentes que se pronun- ciassem sobre a situação desportiva da Vila. Manuel Pinhanços afirmou em seu nome e em nome dos “Cacetes de Paço de Arcos”, que nesta Vila, deveria existir uma coletividade desportiva, capaz de ombrear com as melhores das redonde- zas e que para isso bastaria o acordo de todos, para dar forma a este compromis- so. Foi secundado pelo Emídio Pinto, Rui Vieira Ramos, Manuel Furtado, Joaquim Moreira Rato, Raul Penaguião, Ernesto Castro e Silva, Daniel Braz, Armando Frei- tas e Tito Moreira Rato. No final da reu- nião, ficou assente que o Eng. Joaquim Moreira Rato teria plenos poderes para agir junto das coletividades existentes, propondo uma junção entre elas, a bem do desporto e para satisfação de Paço de Arcos. Já em janeiro desse ano, os três clubes nas suas Assembleias Gerais se tinham mostrado favoráveis a uma possível fu- são, o que veio de alguma forma facili- tar essa missão, tendo sido criada uma comissão para estabelecer as bases da união. Presidida por José Matias Júnior, teve Joaquim Moreira Rato e Luis Moreira Rodrigues como representantes do PASC, António Costa Lynce e Manuel Moreira Rato, pelo DAPA, e Domingos Ramos da Silva e Rui Vieira Ramos pelo PAHC. Das bases acordadas destaca-se o facto de to- dos os clubes entrarem na nova Associa- ção em igualdade plena de direitos, que os bens, direitos e divisas transitassem igualmente para a responsabilidade do novo clube, que se deveria chamar Clu- be Desportivo de Paço de Arcos e que a escolha das cores a adotar, seria confiada CD PAÇO DE ARCOS (FUNDAÇÃO: 21-08-1944)

22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 ao bom gosto das senhoras da vila. Pouco depois a comissão redatora dos missão composta pela Junta de Fregue- estatutos, iniciou os seus trabalhos ba- seados nos Estatutos da Federação de Ci- clismo, os primeiros a serem aprovados pela Direção Geral dos Desporto. A 21 CDPA, tanto no campo desportivo como de Agosto de 1944, o plenário dos três no cultural e social, mas já lá vamos. O clubes, presidido por Manuel Pinhanços, grande problema do clube sempre foi o aprovou os estatutos e elegeu a Comis- são Administrativa do CDPA presidida po de futebol existente no local da atual pelo Eng. Joaquim Moreira Rato. O Clube praceta ficou condenado pela necessi- tinha então 608 sócios e a sede adotada dade de construção da praça da Vila em foi a do DAPA, pelas excelentes condições 1946, tendo a CMO em oficio enviado ao apresentadas. A insígnia do clube, idealizada por Ma- promisso formal da construção de um nuel Rocha Ferreira, vulgarmente conhe- cido por Manuel Branco, é composta por nunca aconteceu. Mais tarde, esse docu- um escudo encimado por 3 círculos reu- nidos que aludem aos três clubes funda- dores, estando ao centro o azul do PASC que dá a sua direita ao preto do DAPA e a dos terrenos contíguos à atual Escola de esquerda ao verde do PAHC, e que estão Eletromecânica (onde está hoje o pavi- entrelaçados numa alusão à “união faz lhão), para a construção do campo de a força”. O escudo dividido perpendicu- larmente, tem o lado direito preenchido Margiochi, colocou como condição para pela metade do escudo nacional, repre- sentando a projeção nacional do clube. O ção nos terrenos contíguos (atual Bairro lado esquerdo dividido em duas partes, Comendador Joaquim Matias), o que foi sendo a superior atravessada por faixas considerado inaceitável pelo executivo douradas e vermelhas, cores da freguesia Municipal, tendo sido gorada essa opor- de Paço de Arcos, dispostas obliquamen- te e na metade inferior as inicias CDPA a campo de futebol. Ainda jogou em cam- dourado sobre fundo azul, significando pos emprestados até 1957, altura em que que a criação deste clube foi “ouro sobre extinguiu a modalidade. azul” no panorama do desporto nacional. Desde cedo é percetível que o CDPA e contrato de exploração com fim anuncia- a Vila de Paço de Arcos são indissociáveis do para novembro de 1955 e esteve sem- caminhando sempre lado a lado, o que pre na preocupação dos seus dirigentes. seria reforçado na parceria encontrada Em abril de 1953 uma delegação do clube para a organização das festas do Senhor dirigiu-se mais uma vez à CMO a fim de Jesus dos Navegantes, a cargo de uma co- sia, pela Igreja Paroquial e pelo CDPA (até aos dias de hoje). Inicia-se assim a época de ouro do das suas instalações desportivas. O cam- CDPA em 20/12/1946, assumido o com- parque desportivo, o que na realidade mento foi importante para regularizar a cedência do atual pavilhão desportivo. Já em 1947, a CMO propõe a aquisição futebol. O então proprietário Francisco a cedência, a autorização para constru- tunidade. O CDPA nunca mais teve o seu O rinque de Hóquei, arrendado, tinha o SUPLEMENTO CDPA II

23 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 precaver esse problema, tendo apenas área. António Roberto Alves, grande de- conseguido que nesse mesmo ano o piso fensor do teatro amador, foi o ensaiador fosse totalmente substituído. Era já uma da maior parte das peças representadas longa luta pela construção de um novo pelos grupos cénicos do CDPA. Os atletas rinque, que rapidamente evoluiu para um do clube, na sua maioria e as suas namo- novo pavilhão a ser construído no final da radas na quase totalidade, eram atores e Av. Marquês de Pombal e que apenas ter- minou já nos anos 70, com a construção ta ter sido por esta época que, num dos do atual pavilhão. Paço de Arcos, era já famoso pela or- ganização anual de regatas de grande agradou a todos, de tal forma que passou cartaz. Em 1952 começam as sucessivas a ser cantado nos balneários do clube e direções do clube, uma luta pela constru- ção de um Posto Náutico. O clube tinha có”. Destes grupos de Teatro amador des- “herdado” uma pequena barraca existen- te nos terrenos contíguos à praia velha e o Emídio Pinto, a D. Isabel de Carvalho em julho de 1954 submeteu à apreciação (Bebé) e o Zé Manuel Pinhanços que se da Administração Geral do Porto de Lis- boa, um projeto para a construção nesse Lalande o levou diretamente do Grupo local de um posto náutico destinado à re- colha e guarda de embarcações. O pro- jeto foi aprovado e incluído nas obras de era nome sonante para o meio artístico, melhoramento daquela administração, adotou o nome de José de Castro, inspi- mas nunca foi realizado. Dele apenas fi- cou o direito de aluguer do terreno, con- cedido ao clube, que com muito esforço atendia todos os atletas no seu consultó- conseguiu segurar o espaço contruindo rio, sem nada cobrar. um mini-pavilhão com cerca de 3.000m2, sem ambição nem beleza, carinhosamen- te apelidado de “O Barracão” e que ao temáticos e por todos apreciados, como tempo ia satisfazendo as necessidades por exemplo o baile azul, em que os se- mais prementes. Mais uma vez, teríamos nhores tinham de levar gravata azul e de esperar pelos anos 70 para ver esse as senhoras um vestido azul, ou o baile projeto evoluir. Como coletividade com forte imple- mentação cultural, não foi de estranhar funcionava a biblioteca, os sócios leva- em 1949 o aparecimento da Biblioteca e vam a família a beber um café depois das a impressão do primeiro número do Bo- letim do CDPA, mas foi sobretudo o Tea- tro que teve maior preponderância nesta a tendência do antigo casino e as cartas atrizes nesses grupos pelo que se acredi- quadros de uma dessas peças, se can- tasse um estribilho de alegria que muito em todas as ocasiões festivas…, o “Rico- tacam-se diversos artistas entre os quais destacou de tal forma que a atriz Maria de Teatro do CDPA para o Teatro Nacio- nal D. Maria II. Como Zé Pinhanços não rado no de seu primo, Dr. Ernesto Castro e Silva, na época médico do clube, que A sede do clube fervilhava de atividade. No salão eram os bailes, quase sempre das artes, que obrigava a “asa de grilo” e vestido comprido. Na marquise onde refeições e a jogar uma partida de xadrez ou damas. No piso de baixo, mantinha-se SUPLEMENTO CDPA II

24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 marcavam presença. O Clube, jovem, vigoroso, fortalecido pela união, cresce a olhos vistos no pla- no desportivo, sobretudo no Hóquei em Patins. O curriculum nesta modalidade até 1961 é impressionante: 8 Campeo- natos de Portugal (1942, 44, 45, 46, 47, 48, 53 e 55); 27 Campeonatos Distritais de Lisboa (1ª Categoria, 1943, 44, 46, 47, 48, 49, 52, 55 e 58; Reservas, 1952; 2ª categorias, 1942, 43, 44, 46, 47, 48, 49, 51 e 53; 3ª categorias, 1943, 46, 47 e 50; Juniores 1942 e 52; Principiantes 1951 e 52); 2 Torneios de Abertura (1944 e 45); 6 Taças de Honra de Lisboa, (1941, 43, 44, 46, 48 e 49); 1 Torneio de Outono (1942); 1 Torneio Especial de 2ª categorias (1945) e 2 Torneios da Costa do Sol em 2ª Cate- gorias, (1950 e 52). Nestas duas décadas o CDPA viu atletas seus em representação da seleção nacio- nal, conquistarem campeonatos do Mun- do, da Europa, a Taça Latina, o Torneio das Nações e o Torneio Internacional de Lisboa. Foram eles: Jesus Correia, Correia dos Santos, Emídio Pinto, Armando Vilaverde, An- tónio Costa Henriques e Virgílio Domingos. Foi também a época das grandes desloca- ções, como a primeira de uma equipa Portuguesa a Espanha em 1946, a di- gressão às ilhas ou ainda a visita ao Brasil, Angola e Moçambique em 1956. Mas o CDPA não era só hóquei. Foram muitas as modalidades desportivas iniciadas nessa época. O Cicloturismo em 1949, o Voleibol em 1954, o Andebol em 1956 e a recupe- ração do Basquetebol em 1958 (ambos pela mão de Élio Coelho), para além das já estabelecidas, como a Natação que utilizava o tanque da quinta da Libânia (onde hoje está a Igreja Paroquial), para os treinos de piscina e que viu esta ati- vidade transferida para a doca em 1951. Foram muitos os feitos alcançados, como a taça conquistada “a ferros” na piscina do Estoril-Praia com a preciosa colabora- ção do Vilaverde ou as muitas conquistas do Manuel de Los Rios, em provas de mar aberto. Reformulada por Armando Maia, Ernes- to Tavares e Vitoriano Marques, também a secção do Ténis de Mesa muito contri- buiu para o enriquecimento da nossa sala das taças. Vencedor do Torneio Costa do Sol em 1952, 58 e 61; Campeão de Lisboa 2ªs categorias em 1953; Campeão de Lis- boa 1ª Categoria e 2ª Categorias Promo- ção em 1954; Campeão de Lisboa 2ª Divi- SUPLEMENTO CDPA II

25 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 são, 2ª categoria em 1957; Campeão de destas duas décadas: José Pereira Ma- Lisboa 2ª Divisão, 4ª Categoria em 1959. Em 1945, a direção decidiu a instala- ção da secção de Vela, coincidindo com 1949 e 1950; Manuel Moreira Rato 1946, o lançamento à água de 10 embarcações 1951, 1952, 1953 e 1954; João Monteiro tipo “Borja”, tendo nesse mesmo ano or- ganizado o 1º campeonato de Lisboa de Fernando Deus Ferreira, 1955, 1956, Borjas de que foi brilhante vencedor. Em 1957 e 1959; Manuel Fernando Costa, setembro de 1946, o CDPA organiza pela 1958; José Nunes Ferreira, 1960 e 1961. 1º vez as Regatas do dia Patrão Lopes. Justo ainda realçar, os presidentes tias, 1944; Joaquim Moreira Rato, 1944; Joaquim Tito Moreira Rato, 1945, 1948, Pais, 1947; Augusto Costa Lynce, 1949; Luís Morais CDPA No passado dia 16 de abril de 2021, na única para o biénio 2021/2022. sede social do CDPA ( salão nobre ) em Paço de Arcos, teve lugar pelas 18.00h até teve quase na totalidade dos elementos às 21.00h, a cerimónia da votação para a da lista anterior. eleição da lista única dos novos corpos sociais do CDPA para o biénio 2021/2022. Pelas 21.30h, o Presidente da Mesa da por volta das 23.00h. Assembleia Geral abriu a sessão para a tomada de posse dos elementos da lista De salientar, que esta lista única man- A sessão foi dada por encerrada pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral Susana Figueiredo SUPLEMENTO CDPA II Caro leitor, este suplemento é o segundo de vários que iremos publicar con- tando a história de vida do clube. São destacáveis para que os possa reunir em livro. Siga-nos nos próximos números.

26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Helicayenne - by paulmask.com V amos lançar a terceira edição da re- parcerias. vista Helicayenne Magazine com o tema Natureza. Participamos no jornal “A Voz de Paço de gos dos Castelos, com Arcos” com a foto de capa, tirada pelo Pau- quem iremos trabalhar conjuntamente em lo Mascarenhas, onde será o novo auditó- alguns projetos culturais. rio José de Castro. Nesta fresca edição, dedicada à Natureza, iremos destacar, para que aqueles que vamos falar dela, do que nos preocupa e têm dons escondidos os possam mostrar. toda a envolvência do seu papel. Selecio- namos algumas frases das nossas modelos cial, que podem usufruir e aproveitar as sobre o tema. Quero também dispensar muito do seu tempo. referir a par- Deixo-vos aqui alguns projetos, e respecti- ceria e o apoio vos responsáveis, em grupos do Facebook, da Associação para quem quiser ver, aderir e participar. Cultural A Voz Email: [email protected] de Paço de Ar- cos. O apoio do Facebook: Heli cayenne Presidente José Página: Helicayenne Marreiro, que Página Facebook: Helicayenne nos tem ajuda- do a crescer e a fazer novas Saliento, também, a Associação Portuguesa dos Ami- Temos vários programas e grupos, que Acreditamos que todos têm o seu poten- atividades existentes, sem que tenham de Site: paulmask.com Instagram: @helicayenne Paulo Mascarenhas EVENTOS

27 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 HOMENAGEM H ouve quem manifestasse estra- nheza pelo facto de o funeral do José Atalaya maestro José Atalaya ter decorrido se prolongou no cemitério de Barcarena, no concelho e de Oeiras, no dia 25-02-2021. Esse estra- nhar só pode derivar do desconhecimento da longa relação de José Atalaya com Oei- ras e que aqui evoco de forma resumida. Foi em Paço de Arcos, vila do Município tas de Oeiras, nos recuados anos 40 do sécu- lo passado, que o jovem José Atalaya vi- veu uma parte do acontecimento que por de Arcos. Atalaya foi um dos mais assí- completo transformou a sua vida: o en- contro com o compositor Luís de Freitas que aí eram promovidos pelo anfitrião e Branco, meu avô paterno. Esse encontro que se traduziam, na prática, numa espé- foi a causa da radical decisão de se dedicar cie de universidade informal que estimu- à música, abandonando a engenharia que lou intelectualmente várias das principais então cursava – e que curiosamente é hoje figuras da cultura musical portuguesa de abraçada pelo seu filho Luís (homónimo uma geração, como foi o caso de Joly Bra- do Mestre). Embora o verdadeiro início dessa de- -Radio Difusão Portuguesa seriamente cisiva relação pessoal tenha ocorrido no ameaçado. Há quem ainda hoje estranhe Alentejo, no Monte dos Perdigões, em Re- guengos de Monsaraz (propriedade que tivesse sido reconduzido e promovido, no século XVI pertenceu a um ilustre ante- passando a assumir o cargo de director da passado do compositor, Frutuoso de Góis, RDP no dia 9 de Julho de 1975, em pleno meio-irmão do célebre humanista renas- centista Damião de Góis), a verdade é que cesso. Estou, por isso, em condições de re- a relação que tão profundamente influiu velar que tal se deveu unicamente à acção na formação e na definição do rumo pro- fissional de intensifi- cou nesses arredores da capital onde Luís de Frei- Branco viveu nos últimos anos da sua vida, mais precisamente na “Vivenda Stuc”, em Paço duos participantes nos longos convívios ga Santos ou o de Fernando Lopes-Graça. (Para mais informação sobre o funciona- mento desse peculiar espaço de formação artístico-intelectual veja-se o meu livro Luís de Freitas Branco – O intelectual em Paço de Arcos, Mazu Press, 2019.) No período revolucionário de 1974/75, o chamado PREC, José Atalaya foi olhado com desconfiança pelos sectores da es- querda, tendo visto o seu lugar na RDP- que nesse ambiente político o Maestro “Verão Quente”. Segui de perto esse pro- de um “oeirense”, ou semioeirense – por José Atalaya e Oeiras

28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 HISTÓRIA E PATRIMÓNIO ter vivido a maior parte da sua vida adul- ta no concelho de Oeiras. Era meu pai, o José Atalaya. Na realidade, ela foi uma musicólogo João de Feitas Branco e então co-autora da “Música em Diálogo”. Facto membro do Governo. A sua intervenção que aqui quero realçar por considerar ser junto da cúpula do MFA foi decisiva. Fica justo fazê-lo, mas também, e principal- assim desvendado o mistério de uma no- meação considerada “politicamente in- terialização de uma harmoniosa cumpli- correcta”. Anos mais tarde, foi em Oeiras, com o artísticas na qual se tecia, se consolidava forte apoio do presidente da Câmara, já e se expressava uma das mais bonitas re- então Isaltino de Morais, que José Atalaya lações conjugais que pude presenciar ao realizou durante longos anos os relevan- tes ciclos da “Música em Diálogo”, um dos a Linda. seus importantes contributos para a di- vulgação da melhor música erudita e que sicais em Oeiras foram o benefício cultu- foi também uma valiosa forma de apoio ral dessa invulgar cumplicidade conjugal à carreira de vários artistas portugueses. agora por mim evocada como homena- Esta iniciativa, enriquecedora da vida cul- tural do muni- cípio de Oei- ras, e em que realizar em Oeiras, também com o apoio tive o gosto de da Câmara Municipal, os ciclos culturais participar múl- “Diálogo com as Artes em Diálogo” e “Ar- tiplas vezes a tes em Diálogo” que, embora com âmbito convite gene- estético mais alargado e explícito teor filo- roso do seu sófico, não deixaram de colher inspiração Autor, contou na acção antes desenvolvida pelo Maes- com o incon- tro no domínio da arte dos sons; e desejo dicional apoio acreditar que de alguma maneira tenham da Câmara dado continuidade ao trabalho por ele an- Municipal de teriormente desenvolvido. Oeiras (CMO), corporalizado na actuação de profissio- nais muito competentes e habilitados, dos ao Maestro Atalaya e creio ter deixado como Carlos Pinto, abnegado funcionário aqui esclarecida a coerência da escolha do do sector da Cultura da CMO. Mas a esse cemitério oeirense de Barcarena como lo- amparo institucional adicionava-se um cal de realização do funeral do meu bom outro apoio, mais íntimo, mais constante, Amigo José. mais essencial que por isso se constituía como preciosíssima ajuda, pouco visível ou até mesmo invisível aos olhos do pú- blico: a colaboração da Linda, mulher de mente, por ser modelar exemplo da ma- cidade de interesses culturais e de paixões longo da vida. A linda relação do José com Os saudosos sábados de diálogos mu- gem ao Amigo que partiu e como afectuo- sa reverência à Amiga enlutada. No período de 2017 a 2019 tive o gosto de Não tenho dúvida de que os munícipes de Oeiras estão profundamente agradeci- João Maria de Freitas Branco

29 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 C onforme sabemos, vemos e sentimos, esta crise pan- démica, trouxe consigo mudanças que afetaram as nos- sas vidas em todas as áreas sem excepção. É caso para dizer, que pela primeira vez apercebemos, o que é uma regra sem excepção. Em termos individuais, não há dúvida que o confinamento mudou de situações imprevistas, traumas, tra- os nossos hábitos, de forma radical. gédias, ameaças ou fonte de tensão sig- Introduziu novas formas de encarar, nificativas, como problemas de saúde, como passar e superar o tempo, bem familiares, interpessoais, profissionais como as relações. A nível, profissional, ou financeiros. Sabemos todos, nes- com a institucionalização do Teletra- balho. Provavelmente, das melhores no plano teórico é fácil de enunciar, “descobertas” do confinamento, essa mas na prática é que “são elas”. Mas, mudança repentina, seja talvez um dos de uma certeza temos; se não nos de- maiores desafios da sociedade, ao nível bruçarmos sobre o modo como as en- mundial, que veio para ficar. Dito isto, e como a vida e o mundo não dificuldades serão maiores. pára, graças também à vacinação em Da experiência pessoal, da pesquisa massa, teremos com a respetiva ante- cedência, de ativar o modo como as de sumarizar e partilhar, as que julgo lidar na nossa vida, pós – pandemia, serem mais importantes que, estão ao de modo a não sermos, mais uma vez, alcance de todos e de cada um de nós, surpreendidos. Foi assim que, popularizou o conceito mos um pouco da nossa área de con- ultimamente mais badalado no nosso forto. Então aí vão algumas dicas: quotidiano, que se dá pelo nome de re- Autoconhecimento e autoconfiança – siliência. Assim sendo, gostaria de partilhar pontos fortes, de modo a identificar as com os nossos estimados leitores, o nossas emoções positivas, deixando de seu significado. Trata-se, portanto, de lado os nossos pontos fracos, que só um processos da nossa adaptação com originam pensamentos negativos, logo algum sucesso a experiências da vida se caso, a regra já tem excepções, que frentar e ultrapassar estas situações, as e dos contatos que efectuei, gostaria desde que tenhamos vontade e saia- Saber identificar e relevar os nossos A VELHICE E A SUA DIGNIDADE Resiliência - A nossa senha para enfrentar a vida pós-pandemia * “A vacina para o cérebro”

30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 teremos muito mais dificuldade em Criatividade – Transformar experiên- nos superar. Empatia e sociabilidade – Estabelecer de útil de modo a apaziguar a nossa au- vínculos afetivos com outras pessoas, to-estima. criando relações saudáveis, que nos permitam integrar nas redes sociais e Viver o presente – Não sofrer por an- emocionais, onde nos possamos apoiar, tecipação de situações futuras que po- ao invés de isolar no nosso cantinho. Positividade e humor – Perante a ad- versidade, não entrar em pânico, nem situação que atravessamos e estamos atuar precipitadamente. Tentar um en- foque positivo, se possível com algum fazer planos para um futuro a médio humor, que é um grande aliado. Flexibilidade – De uma forma geral so- zo, mas mesmo assim…. Se possível, mos resistentes à mudança. Todos te- mos objetivos a alcançar. Perante este percalço que ocorreu nas nossas vidas, Conclusão: teremos que ter a flexibilidade e per- Perante um trauma ou um choque, severança em adaptar a novos planos seja ele provocado por uma catástrofe e mudar as nossas metas quando for da natureza ou por consequência da necessário. Tolerância – Uma das grandes caracte- rísticas dos latinos, dos quais fazemos de adaptação e psicologicamente per- parte, é a falta de tolerância perante os turbados, ou tornamos resilientes. Sai- factos e situações. Temos urgentemen- te de inverter esse comportamento. O Essa é a nossa glória. Eu estou disponí- objetivo é saber controlar e compreen- vel para este desafio com resiliência. O der o próximo, bem como distanciar amigo leitor também? do stress provocado pelas frustrações ou incertezas. cias dolorosas e os insucessos em algo derão até nem acontecer, em detrimen- to do hábito de viver “aqui e agora”. A atravessar, provou que não vale a pena ou a longo prazo, mas sim a curto pra- para o dia-a-dia. violência humana, é possível que nós reajamos de duas maneiras: ou torna- mos vítimas, ficando com dificuldades bamos levantar cada vez que caímos. *Luís Álvares A VELHICE E A SUA DIGNIDADE

31 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Errar e aprender, é viver PSICOLOGIA A vida está repleta de obstáculos e vas para retirar dificuldades. Cada passo dado, e cada atitude to e aprender tomada, revelam o nosso estado do mo- mento. A tristeza e a mágoa bloqueiam a entra- da de experiências agradáveis na nossa positiva, de for- vida. Muitas vezes podemos manifestar há- superar as difi- bitos, pouco saudáveis, que impedem o culdades, que acesso à vitalidade que dispomos. É fundamental desenvolver a flexibili- dade perante as situações que surgem na compreensão dos factos e, permitem um vida, para viver de uma forma mais sau- dável e equilibrada. Para estarmos em plena harmonia, de- para direcionar a intenção da melhor for- vemos conhecer na perfeição cada deta- lhe sobre nós mesmos, nomeadamente, termos consciência das nossas potencia- lidades, limitações, aceitarmos e amar- consciência que a vida é uma dádiva e os mos tal como somos. O nosso objetivo é, encontrarmos física dos intensamente e, guardados eterna- e emocionalmente estáveis, conectados mente no coração. com todas as possibilidades que possam surgir. Nesse contexto; pense nas suas com- petências e aptidões, capacite esse senti- mento, criando as suas próprias afirma- ções pessoais. Mime-se com frequência, evitando a culpabilização e autocrítica. Aproveite as experiências menos positi- conhecimen- a enfrentar a vida com uma perspetiva mais ma a conseguir possam surgir ao longo do tempo. Essas experiências trazem uma maior olhar mais profundo para tomar decisões mais acertadas, canalizando a atenção ma possível. Proporcione momentos agradáveis pa- ra si e para os que mais ama, tomando bons momentos são para serem aprecia- Para mais informações poderá conta- tar-nos através do Facebook de Mafalda Ascensão ou do e-mail abaixo indicado. E-mail: [email protected] Texto elaborado por: Mafalda Ascensão Psicóloga de formação

32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 HOMENAGEM PÓSTUMA Regresso… ao Futuro S ara olhava as ruas estreitas en- quanto caminhava ao sol, projetan- do com a sombrinha um círculo de sombras que se moviam com ela. Chovera na véspera e o verde das velhas árvores, a beleza das azáleas que já floresciam e o intenso mas suave aroma das glicínias da- vam maior ênfase à primavera. Sentia ím- petos de correr com os braços bem aber- tos, como correm os pássaros em voo, mas Diogo estava à sua espera, doente - preci- sava do seu auxílio. Há largos meses que ele se sentia a agonizar... Primeiro fora um sobressalto, uma tristeza que se lhe espeta- ra no coração como uma faca cravada nas costas por mão desconhecida. A sensação era tão estranha que a princípio nem con- seguia identificá-la, como se os véus que socalcos a descer do lado da serra até à li- enfeitavam a vida se tivessem começado a nha de água. Não pediu à mulher que o rasgar diante dos seus olhos para lhe reve- larem os rostos no medo de morrerem an- gustiados. Nas mulheres que lhe sorriam, que ainda o sustinham. nos homens que se aproximavam em pas- sos decididos, nas crianças que brincavam pelas vidraças que o rasgavam de alto a bai- em cima de tapetes de relva, nos velhos xo, mas do quarto de Diogo apenas saíam que se sentavam a desfilar o rosário, em trevas e uma respiração ofegante e aflita. todos ele via a aflição, a garra da morte na Ela sorriu...vestia de branco, uma túnica flor da pele... Cansou-se das festas e abor- receu-se das pessoas... Descobriu que as vi- tórias que acumulara não lhe davam qual- quer prazer. Até já as viagens o cansavam e em que ele lhe queria oferecer o mundo: porque, mesmo ele, com todo o seu poder, um colar de diamantes e de safiras, tudo não era mais do que um viajante transitó- rio no palco da vida. Então, e de todas as suas casas, espalhadas pelo vasto mundo, escolheu aquela porque era a mais distan- te de tudo e de todos, uma pequena forta- leza cravado próximo de um rio, rodeado to, se transformara numa seara de oiro. de férteis campos de trigo e de vinhas em Correu as cortinas e voltou a descerrá-las seguisse, mas Sara veio, simplesmente... e eram as mãos dela que ainda o agarravam, No largo corredor o sol entrava a jorros solta, larga, que mal lhe tapava os joelhos e trazia uma joia - a única que aceitara nos tempos em que passeavam de mãos dadas encastoado em oiro. Vem, Diogo... Diogo piscou os olhos cegos pela luz. Sara segurava-o diante da janela que se abria para o campo que, no calor de agos-

33 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 quase de seguida. O campo de trigo desa- pareceu; era agora um deserto esburacado, das por canteiros, levantadas em sebes; uma paisagem desolada sob um céu de eram brancas, vermelhas, cor-de-chá e chumbo. - É por isto que choras, Diogo? Ela ria- dos num único e mágico odor. Ela fechou -se...depois fechou as janelas, abriu-as... e as portadas e a cortina; reabriu a janela e tudo voltou a ser como era dantes, na tar- de de calma imperturbável. Estavam agora ras secas, um verdadeiro matagal de silvas diante de outra janela - quando ela a abriu, e de folhas mortas. Depois... estava tudo ele espreitou as vinhas, o rio preguiçoso... igual, na beleza do dia perfumado... mas cheirou o ar quente, ouviu o zumbido dos Diogo tremia. insetos, o grito de um milhafre; depois, quando Sara fechou a janela para voltar a meira vez em muito tempo sentiu-se vivo, abri-la, as vinhas tinham desaparecido, en- golidas pelo caudal de um rio atormentado abrisse, de par em par, todas as janelas... e mau que crescera no seu leito para arra- Queria ver de novo e muitas vezes, as sea- sar tudo quanto a vista conseguia alcançar. ras, as vinhas, o rio, o roseiral e o rosto cla- Ele viu carcaças de animais mortos, rodo- ro dela - da mulher que lhe devolveu, de piando na corrente e, olhando para baixo, forma tão estranha, a vontade de viver. percebeu que até a própria casa começava a tremer nos alicerces. - É por isto que choras, Diogo? Sara correu as cortinas, mas voltou a melha – a mais linda do jardim. abri-las para lhe mostrar o quadro inocen- te da mesma paisagem de vinhedos no ar parecia não ter fim até aos longínquos ho- luminoso. Diogo quis voltar para a cama, mas as silêncio, em volta, era tão profundo, tão re- mãos de Sara cravaram-se-lhe no ombro ligiosa e extática a paz dos campos que os como duas garras e ele foi empurrado para olhos de Diogo se ergueram da terra numa diante da última janela, a que dava para o última acção de graças. jardim das rosas, o local preferido dela. No meio do jardim havia um lago e, a toda a volta, rosas, centenas de roseiras espalha- negras, com os perfumes todos mistura- obrigou-o a olhar para um jardim de rosei- Estou a sonhar, pensava ele, e pela pri- tinha vontade de chorar. Pediu que ela E, devagar, fitando o lindo rosto da mu- lher onde o sorriso se acentuava luminoso e enternecido, ofereceu-lhe uma rosa ver- A terra, onde os olhos se lhe perdiam, rizontes onde se confundia com o céu… e o Zélia Coutinho

34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Descerramento da placa Assinatura do contrato CULTURA N o passado dia 17 de abril fo- ram inaugu- radas pelo Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. Isaltino de Morais, as novas instalações da U.S.O. - Universidade Sénior de Oeiras, na Alameda Conde de Oeiras. Por volta das 11h30m, foi descerrada a pla- ca comemorativa da inauguração, seguiram os discursos da Presi- dente da União de Freguesias de Oei- ras e S. Julião da Barra, Paço de Arcos Edilidade. e Caxias, Madalena de Castro, da Pre- sidente da Assembleia Municipal da edifício anteriormente ocupado pelo Câmara Municipal de Oeiras, Elisabete Centro de Juventude de Oeiras, foram Oliveira. Seguiu-se umas breves pala- vras da Presidente da U.S.O., Manuela cando assim em óptimas condições Penteado, que deu as boas vindas e o para receber a população sénior do agradecimento a todos os presentes. Por último, discursou o Presidente da As novas instalações, localizadas no renovadas interior e exteriormente fi- Concelho que as frequenta. Os trabalhos incluíram a re- qualificação de todas as salas, a criação de uma copa, de uma nova zona de receção e a be- neficiação do espaço exterior. A USO - Universidade Sé- nior de Oeiras é uma asso- ciação cultural sem fins lu- crativos, fundada em 1989. À semelhança das restantes universidades seniores exis- tentes no Concelho, tem como propósito a promoção do en- velhecimento ativo e bem-su- Inauguração das Novas Instalações da Univ. Sénior de Oeiras

35 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Atuação do Grupo Grisalhos – alunos da USO Momento do discurso do presidente Isaltino cedido, quer no reforço das perspecti- vas de inserção e participação social, quer cultura geral e da perceção da melhoria na melhoria das condições e qualidade de contínua das capacidades de aprendiza- vida das pessoas que as frequentam. Tendo em conta o número de alunos da de vida saudáveis. USO, cerca de 600 alunos, verificaram-se algumas al- terações, por razões da pan- démicas, tendo no momento um total ativo de 300 alunos. Do seu corpo docente fazem parte 111 professores que le- cionam 160 disciplinas. A frequência destas estru- turas, Universidades Senio- res, tem grande impacto na alteração dos modos de vida, proporcionando benefícios a vários níveis: aumento dos conhecimentos adquiridos, nomeadamente através do aumento da gem, assim como da promoção de estilos A inauguração decorreu em ambien- te de festa, animado musicalmente por dois grupos da Universidade, Cantar Alentejano e o Grupo Musical os “Gri- salhos”, que proporcionaram um mo- mento lúdico muito interessante. A sessão terminou com um Carcave- los de Honra. (Fotos gentilmente cedidas por Mafalda Domingos da CMO) Luís Álvares

36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 POESIA POESIA Enfrentar parede branca ( com tintas de CÔR ) e transmutá-la em OBRA-PRIMA ( cheia de VIDA ! ) -é Façanha do ( apenas a UM GÉNIO Permitida !... Santos Zoio Paço de Arcos—22-03-2021 22 de MARÇO – Dia da ÁGUA OBRIGADO Querida Mãe - - pela Nossa IRMÃ ÁGUA ( tão Casta e Pura !) e que ( mesmo em mágoa ) - Abençoa Cada Tua CRIATURA ! Santos Zoio Paço de Arcos—22-03-2021 2021

37 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Para o Mário Viegas Era o dia das mentiras … e foi tudo verdade. Para nos dizeres que estavas farto de nós não era preciso esse exagero. Eu sei que, por vezes, eras um pouco exagerado; mas nem todos nós podíamos ter a tua estatura e entender a tua Verdade sem que precisasses de nos gritar. E foi esse outro grito que nos escorreu por dentro, silencioso, e nos sufocou a alma, que tu calaste para poderes descansar. Disseste as palavras dos outros como quem escolhe as munições de um guerrilheiro oral. E afinal, apenas nos querias ensinar a pensar. Só não sei se foi premonição fazeres O Suicidário ou apenas um grande amor por nós disparado ao contrário. Ou talvez Deus precisasse de um novo encenador para a Comédia dos Homens. Sei que o vais surpreender. Até logo, Mário … A gente depois vê-se. Fernando Tavares Marques Nessa manhã cinzenta mas radiosa é Abril que está a chegar meu filho por nascer é Abril que te vou dar para que possas flo- rescer rubro cravo a dar cor à madrugada transformada em rumo e estrada a percor- rer sacudido o manto frio do inverno no inferno de uma guerra sem saída é o tempo de dar tempo à nossa vida e colher todo o ardor da primavera mas não é tempo algum de estar à espera de ilusões de quimeras sonhos vãos é Abril e como vês somos irmãos e marchamos lado a lado neste chão ao encontro do futuro mão na mão e o futuro é o Abril que nós fizermos se quisermos ir além da servidão é Abril meu filho assim quisemos mas é este o Abril que ainda queremos e este Abril é a nossa redenção. - Jorge Castro Abril de 2021

38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 POESIA À flor do teu corpo À flor do teu corpo há um incêndio de seda Um aveludado crepúsculo de desejos Um espelho de amor onde me encontro Refletindo a luz de um mar antigo Nos teus olhos desejei renascer Dar-te o impossível sob uma lua eterna Até que uma brisa do passado Devolvesse-nos tudo o que perdemos Até que os nossos corpos diluídos num só Fizessem parte do vento João Pedro Pinto Voltarei voltarei a pisar caminhos velhos com o olhar mudado de quem não é esmagado pelas coisas que faz e os caminhos velhos serão caminhos novos e a força libertada será PAZ Maria Maya Páscoa Era sexta-feira. Mataram o Homem porque os incomodava. Nessa sexta-feira mataram a Vida que não conseguiam entender. Um gesto gerador de tanta “mea culpa” que foi capaz de corroer a História até hoje. E quantos “matamos” nós simplesmente porque não os entendemos ? A quantos “julgamentos” somos chamados a presidir, apenas vestidos da nossa precária condição de seres humanos ? Saibamos assumir a justiça da vida plena do outro, antes que a solidão nos mate, por falta de eco no coração de alguém a quem possamos dizer : Aleluia ! Fernando Tavares Marques Percurso sei dos caminhos trilhados por mim nos passos que dei não sei quem por lá passou sei de mim – de mais ninguém dou conta de mil passadas umas largas estouvadas outras breves cautelosas sinto corridas nervosas sinto até o que nem sei e assim faço o meu caminho devagar devagarinho outras vezes voarei apressado ou perturbado ansioso ou ansiado correndo e até parado mas chegando ao que cheguei. - Jorge Castro 14 de Março de 2021

39 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Plano 80 Cheguei hoje aqui cheio de esperança Fazendo um balanço da caminhada Revendo esta idade que se alcança De uma forma por certo apaixonada. Cheguei ao remoinho, ao plano inclinado Sugado pelos anos, pelas vicissitudes Memórias recônditas, elos do passado Histórico de amor, luta em tempos rudes. Franqueza do olhar, do gesto, da teimosia Na passagem dos anos, dia após dia Até estas suadas oitenta primaveras. Incógnitas de futuro, exaltando a beleza Exposto desde a nascença à mãe-natureza Em tantas realidades, sonhos e quimeras. 12 de Março de 2021 Mário Matta e Silva Os Mares Que eu prossiga pelos trilhos do mar e do sol. Aprendi a andar, nas areias finas, bordadas d’espuma. Meus olhitos nadavam por cima das ondas, até ao arrebol. Minhas praias debruadas a algas, de iodo perfu- madas. Mares de pesca, um vaivém de gaivotas na busca de alimento. Mares de lazer , de reservas minerais, medica- mentos. Plataformas de petróleo que na economia têm influência. Mares de lutas, quando foram palco de pirataria e mais tarde os combates das grandes potências. Mares que cobrem setenta por cento do planeta Terra e nesse encontro formam Oceanos profundos. A Lua influencia as marés. Ah mar por onde seguiram caravelas, dando início aos descobrimentos. Em pequenas casquinhas de nozes, levaram a Cruz de Cristo e dos portugueses, as almas, as vozes. Enfrentando vagalhões....... contornaram o Cabo da Boa Esperança. Pequenos no ser, mas gigantes no querer, lutavam por um ideal, guardado em seus cora- ções! Orgulho-me de Vasco da Gama e do Infante D. Henrique. A escola de Sagres tinha fama. O Poeta Luís Vaz de Camões contou em verso, os feitos dos portugueses! Os mares deram origem aos Oceanos e sem o saberem os Descobrimentos deram início à Globalização! Oeiras , 2021-04-18 VIRGÍNIA BRANCO

40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Estáticas ou fugidias Breves – sós de formas tão distintas diversas – dispersas tonalidades infindas… Apenas fiapos riscam o firmamento Alvura quase irreal Enorme icebergue – qual montanha Arrastada pelo vento, Se possível… Mais veloz que o pensamento! Ante o olhar incrédulo, Imiscível, surgem Seres fantasmagóricos! Num passo de mágica Descortino nitidamente Cabeça branca, altiva Com fisionomia de poeta! Pra outro – semelha-se, talvez a… Uma rocha ou bicho! Não sonha! Pobre pateta! e… repentinamente como mero capricho! Tornam-se plúmbias e tristes Apelando à meditação … e Num ápice – do chumbo Aos negros profundos… Remembranças d’entes defuntos… No horizonte longínquo e… Absorto nestas memórias, já Róseas agora, Desenham-se corpos de mulher Percorridos por mãos de amantes Desesperadas! Elas, já rubras, ensanguentadas E … desordenadas Lembram caravelas desgarradas. MARIA AGUIAR (poema inédito) (Escrito em 28 de Novembro de 2005 Nuvens POESIA

41 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Mudar ou não mudar, eis a questão. T emos, regra geral, medo de ar- riscar, medo do desconhecido. Por isso, ficamos muitas vezes infância agarrados a situações, coisas, pessoas e empregos que já não nos preenchem, quiteta. Profissão não nos fazem felizes. Não é fácil lar- gar uma situação familiar e partir para pois, apesar de a outra sem saber qual será o resultado, ter adorado por principalmente quando se trata de uma muitos anos, sen- profissão. No presente sabemos com o que contamos, com o que se espera de nós e qual a recompensa no final do mês. Em alguns casos, esses trabalhos têm anos de investimento da nossa par- te - cursos, estudos, estágios, teses, tra- balhos, aperfeiçoamento e tempo gasto. São como uma segunda casa. Por vezes, até uma primeira. Mas e quando começamos a ficar can- sados do mesmo de sempre? O que fazer quando começa a ser um suplício ter de sair da cama e ir trabalhar? Quando es- tamos lá grande parte do dia, mas a ca- beça está noutro lugar… Quando já não tiu a dada altura que já não a preenchia. nos satisfaz nem nos faz felizes? Quan- do percebemos que existem outras coi- sas que preferíamos estar a fazer em vez pois de uma gravidez maravilhosa, mui- daquilo. Muitos arriscam e “dão o salto”. Ava- liam e preparam o terreno primeiro, razão clínica que o justificasse. A conse- claro. Mas, depois atiram-se de cabeça. quência foi um trabalho de parto muito Percebem que a sua sanidade mental é intervencionado que culminou numa mais importante do que qualquer em- prego e até do que o dinheiro. Obvia- mente, todos precisamos deste. Vou resumir-vos a história de duas o porquê desta indução “protocolar” e pessoas fantásticas que decidiram arris- começou a investigar sobre o que lhes car e mudaram de vida. No final, con- havia acontecido. tarei também a minha própria história. Começo pela minha amiga de Marta Alves, 47 anos, ar- que já não exerce, Tudo começou com a chegada da sua primeira filha, há onze anos atrás. De- to ativa e saudável, acabou por ser leva- da a fazer uma indução, sem qualquer cesariana de emergência. Sentiu que nem ela, nem a bebé estavam prepara- das para o momento, quis compreender A primeira formação – Yoga para be- OPINIÃO

42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 OPINIÃO bés, foi feita primariamente a pensar à vida e decidiu “dar o salto de fé”. A na filha. A necessidade de querer saber família ficou preocupada com esta tran- mais, para saber fazer melhor, encami- nharam-na para uma série de outras são os pais que não ficam orgulhosos formações, sempre dentro da área da quando os filhos tomam decisões rumo perinatalidade. Mais tarde, percebeu a uma vida mais feliz e realizada? que para conseguir apoiar melhor os bebés, teria de ir à sua origem – a gravi- dez das suas mães e a forma como eles mães e casais numa das fases mais im- chegavam ao mundo. Aí, surgiu o forte portantes da sua vida – gerar e cuidar apelo para fazer formações na área da de uma nova vida. Os seus verdadeiros gravidez e parto respeitado, começando luxos são tempo e espaço e, o mais im- pelo Yoga pré-natal, que fez grávida de portante, a educação dos filhos; junta- trinta e nove semanas do seu segundo mente com formações que continua a filho, nascido num parto hospitalar, to- talmente normal e totalmente diferente do primeiro, pois a mãe estava muito trário. É uma mulher realizada com mais informada e empoderada. Acredi- aquilo que faz e isso fá-la estar mais ta que o nascimento respeitado, suave e presente e disponível como mãe, como amoroso, onde mães e bebés são prota- mulher. Acredita, como eu, que estamos gonistas, é possível e muito necessário, cá para ser felizes. em vez de serem sujeitos a um rol de intervenções usadas por rotina. Afinal, sende - natural de Lisboa, 43 anos, es- há milhares de anos que o corpo da mu- lher e os bebés fazem aquilo que estão em Portugal e Gestão na Finlândia. A fisiologicamente preparados para fazer sua primeira formação académica foi – parir e nascer! Seguiram-se novas for- como cadete na Escola Naval da Ma- mações: Active Birth – Parto Activo e de rinha, onde frequentou o ensino su- Doula, que sentiu fecharem o ciclo. A mudança foi feita de forma muito disso, foi estudar para o Instituto Poli- gradual. Já estava a dar aulas de Yoga técnico de Setúbal, onde frequentou o para bebés e crianças e ainda continua- va a trabalhar no atelier. Começou a e esteve também como dirigente asso- sentir que aquilo que fazia como ativi- dade “à parte” era, de facto, a que mais a decidiu ir para a Finlândia terminar os nutria e fazia sentir-se realizada. Após um processo de mudança, desa- pego e profunda análise para perceber vido também na Letónia e Bulgária. Ia o que era verdadeiramente importante trabalhando e aplicando o que ganhava em termos de bens materiais, percebeu em investigação sobre parques naturais, que vivia bem com menos. Fez contas plantas medicinais, terapias ligadas à sição do certo para o incerto, mas quem Atualmente, trabalha como Doula e Educadora Perinatal, acompanhando tirar na mesma área. Não se arrepende de nada, pelo con- Outro amigo - Salomão Gabriel Re- tudou Gestão de Recursos Humanos perior, não tendo terminado. Depois curso de Gestão de Recursos Humanos ciativo. Entretanto, desinteressou-se e estudos. Acabou por ficar lá a trabalhar, cerca de quatro anos, tendo depois vi-

43 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 natureza e eco sustentabilidade. Fazia e ainda ajuda quem quiser melhorar a regularmente retiros sabáticos para sua saúde física, mental e emocional estudar, alternando entre Portugal e o através de uma série de terapias holís- estrangeiro. Viveu sempre na cidade, ticas. Está, também, prestes a inaugurar mas assim que podia retirava-se para o um negócio de ecoturismo, em parce- campo, praticando desportos ao ar li- vre. Começou a perceber que era lá que de emoções boas. Não se arrepende de queria estar a tempo inteiro e não ape- nas aos fins de semana. Foi aprendendo os níveis. a gerir os confrontos entre a sua parte emocional e racional. Aprendeu a lidar quatorze anos na banca. Entretanto, com o medo da mudança e o primeiro sempre fiz desporto. Iniciei o meu per- passo foi comprar uma caravana. Foi curso no ballet com seis anos de ida- procurando o que queria e quando o de, depois fiz dança contemporânea, momento certo chegou, teve a certeza natação e aeróbica, já na adolescência. que era para ali que se queria mudar. Gostei tanto que, aos vinte e dois anos, Apaixonou-se pelo Vale do Guadiana, decidi tirar um curso de Instrutora de mais propriamente Mértola, onde vive Fitness, em horário pós-laboral, e ini- atualmente. Não foi um processo fácil. ciei essa nova profissão ao final do dia No início, não existiam as comodidades dando aulas num ginásio. Com a minha a que estamos habituados, nem tam- pouco o básico como água, luz ou inter- net. Teve outros percalços - levou tempo corria risco de vida. Continuei apenas a a negociar o terreno e a casa, revezes e trabalhar na Unicre. Entretanto, ao fim doenças familiares fizeram adiar o pro- jeto e depois veio a covid, que também para a SIBS, onde também fiquei outros não ajudou. Precisou de muita resiliên- cia, muita humildade para mudar, mui- ta força e muita capacidade de adapta- ção. No entanto, o seu intuito foi sempre queria que fosse a tempo inteiro. Esta- a busca espiritual, emocional e ajudar o va cansada de trabalhar atrás de uma próximo com recursos naturais e sus- tentáveis, por isso tem vindo a prospe- rar. Neste momento, tem mais procura quela altura, a aeróbica já tinha saído do que oferta. É um empreendedor com muito para pré-coreografados estavam no seu auge. se entreter na destilaria, onde a sua pai- xão por plantas, faz dele um mágico que da a fazer as minhas próprias coreogra- as transforma em óleos essenciais; ocu- fias), decidi ver o que estava a faltar no pa-se no ensino e prática do Yoga, bem mercado e eis que o método de Joseph como de outros desportos na natureza, Pilates estava a emergir. ria com outra empresa. É um fazedor nada, sente-se feliz e realizado a todos Eu, Sara Carvalho, 47 anos, trabalhei primeira gravidez fui obrigada a parar pois a placenta descolou-se e a bebé de sete anos, despedi-me e fui trabalhar sete anos. O gosto pela dança não desapareceu e decidi voltar a dar aulas, mas, desta vez, secretária com um computador, oito horas por dia, a olhar para mim. Na- de moda e outros programas de treino Como não achei piada (estava habitua-

44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Fui experimentar, pesquisei e apaixo- de aprender, de querer saber mais, de nei-me pela técnica. Tirei uma série de aprofundar conhecimentos sobre aqui- cursos e formações complementares, lo que se gosta. E a persistência. Não de- ao longo dos anos. Fui respondendo sistir de ir atrás do que nos apaixona, do a entrevistas de trabalho e assim que que mexe connosco, dos nossos sonhos, consegui um horário a tempo inteiro do que nos faz sentir vivos, realizados e decidi despedir-me. Chamaram-me felizes. Leve o tempo que levar. «O ca- louca. Trocar um emprego estável, em minho faz-se caminhando». que ganhava bastante bem, estava efe- tiva, tinha regalias no crédito à habita- ção, saúde e seguros, por um trabalho dos, mas isso daria um jornal inteiro só em que recebia à hora e passava recibos para vos contar. Deixo-vos com as mais verdes. Para além do fator idade – trinta marcantes no intuito de quem quer que e três anos - e sozinha com uma filha pe- seja que tenha essa vontade possa, qui- quena. Na altura, tudo isto fez sentido e çá, inspirar-se e dar também “o salto”. não me arrependo de nada. Faria tudo outra vez. Sabem porquê? Porque era um sacrifício estar ali fechada todos os dias a cumprir com o mesmo trabalho monótono. Sempre fui criativa e ima- ginação nunca me faltou. Precisava era de usá-la e no emprego que tinha isso não acontecia. Saí de tal forma a bem que até uma indemnização, como se ti- vesse sido despedida, recebi e foi uma boa ajuda. Sempre fui grata e sempre me empenhei naquilo em que me meto. Primo em fazer o meu melhor. Quan- do começo a perceber que isso se torna um fardo, prefiro retirar-me de cena e procurar outra coisa que me complete e preencha, em vez de ficar e fazer um mau trabalho porque estou insatisfeita. Desde junho de 2020 que já não exer- ço a instrução de Pilates e encontro-me num outro projeto de vida, um novo ci- clo. Existem algumas similaridades nas três histórias. Uma delas é que ninguém se atira de cabeça sem antes preparar o terreno e as condições. Outra, é o desejo Muitas outras mudanças ocorreram na minha vida e na dos meus entrevista- Sara Carvalho OPINIÃO Tenho dentro de mim Mil vidas vividas E tantas outras por gozar Curiosidade infantil Imaginação de criança Mantendo-as vivas Porque é na essência do parto Que me quero manter Para todas as aventuras Poder realmente ser Não uma, mas várias Todas as que me apetecer Não deixarei o sonho morrer Porque podemos ter Tantas ou mais vidas como os gatos Basta não deixar desaparecer O que de mais belo temos Que é saber viver Sara B. Carvalho

45 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 25 DE ARIL SEMPRE A pesar de haver muitas rosas com Abril de 1974, que me trouxeram a liber- seus espinhos, ainda consegui- dade de expressão. mos sentir o cheiro dos cravos, Neste contexto, recordo com emoção, o nos Homens que mantiveram a sua in- modo como o povo da Nação, aderiu à tegridade. Solta-se-me o pensamento e regresso ao de 48 anos, imposta por um retrógrado. passado, a uma Primavera tão cheia de Agradeço ao MFA que, no presente, me cor e esperança. Na minha vida, presenciei três ou qua- tro factos, cuja vivência não trocava por aos meus sentimentos. nada deste mundo. E deles, talvez o pri- meiro, na ordem da afectividade, terá os que fizeram este dia de libertação: sido o gesto abnegado dos capitães de queda da maldita e decrépita ditadura possibilita, escrever estas linhas sem quaisquer constrangimentos contrários Assim, dedico o seguinte poema a todos São cravos meu senhor, são cravos! ERA ABRIL E O SOL BRILHAVA E tu criança ergueste o braço para pousar a flor na espingarda. O teu cabelo despontava em louro como o trigo. E com cara de anjo sorriste em amor. Nem a multidão, nem os gritos te assustaram. Adivinhavas um futuro melhorado dum outro Abril vindouro te falaram. O ar cheirava a Liberdade, as flores mostravam-se majestosas, os namorados davam as mãos e beijos, era o sonho que chegara. Capitães, soldados, povo unido disseram adeus a um regime caído! Não mais queremos ditadura! Chega de cinzentismo e vida dura! Quantos Abris já passaram… Quantas vozes por Liberdade gritaram… Muito mais que mil vezes mil… E nesse dia mesmo que chovesse, o Sol brilhava e foi Abril. José Aguiar Lança-Coelho 25 de Abril de 2021

46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 Emergência Climatérica N ão há planeta B, mas agimos Procuro fazer como se houvesse. … certo de a minha parte, que o génio humano meteu o mas vejo com planeta vermelho à nossa porta, não tristeza, aqui demora que lá estejam a viver os intré- pidos aventureiros. Em Marte a lógi- se nosso val- ca da depredação terrena perpetrada ley, o desca- desde que o ser humano pôs-se ereto, so. Falta uma inverter-se-á obrigando os pioneiros campanha à construção das condições para a permanen - colonização do planeta. A continuar te de educação que abarque todas as o ritmo da exaustão de recursos que faixas etárias, sim! Porque a ideia de praticamos nessa nossa frágil casa, é que educando as crianças automatica- provável que nesse futuro, não tão dis- tante quanto parece, os nossos herdei- educados não é de todo verdade. ros estarão a viver a realidade do Mad Max digladiando por uma gota de passe o estrangeirismo, que façam água, por uma sombra, já que a luz in- pandam ao valley, “out of the box”; fal- clemente do sol calhará a todos, mas, ta igualmente planeamento em coisas como de costume, a sombra será privi- absolutamente simples como a subs- légio dos apaniguados dos monarcas tituição de contentores inutilizados de reinos decadentes. Infelizmente a urgência climática das suas localizações já para não falar não é uma quimera, a despeito do her- da frequência e cobertura da recolha. cúleo trabalho dos abnegados ambien- Falta consciência ou bom senso quan- talistas, minoria no enfrentamento da do um pacote de máscara em papel marcha insana do consumo desen- freado, que põe por terra a ilusão de formações poderiam estar impressas que ela não existe. Sou pelo ambiente. no próprio envelope, porém, esse caso mesmo nes- mente os adultos serão, por osmose, Faltam criatividade e iniciativas, pelo vandalismo bem como, o estudo traz dentro de si um folheto cujas in- QUALIDADE DE VIDA

47 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 ainda piora quando o tal envelope é dos maços de tabaco, pôr imagens dos substituído por um em plástico. Falta danos causados pela poluição. visão quando um conceito importa- do, o tal valley, não contempla no seu muito a fazer. Há muitos mais exem- pretendido ecossistema a rubrica am- biental diluída na qualidade de vida. No entanto, justiça seja feita, há que pertem as consciências. Não há mais reconhecer as importantes iniciativas tempo a perder e os pequenos gestos, que o concelho desenvolve na questão quando praticados extensivamente, ambiental, porém, como referi, pensar podem formar uma onda que produ- fora da caixa pode descortinar áreas zir resultados significativos. Espero simples, baratas e de fácil implemen- eu. tação que ajudam a passar a palavra sobre a nossa responsabilidade com o planeta que vamos legar às gerações futuras. Querem exemplos? Substituir as belas imagens do mar impressas em alguns contentores e à semelhança No que respeita o ambiente há ainda plos do que pode ser feito, coisas sim- ples e que envolvam as pessoas e des- Renato Batisteli Pinto Luso Brasileiro, Paulistano de nasci- mento Caxiense de coração Humanista, amante das artes e empreendedor digital Quinta Real de Caxias

48 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 CULTURA N a sequência da reflexão «Acor- do/desacordo ortográfico?», de atual que nem no Brasil deverá estar M. Barão da Cunha, colabora- dor de A Voz de Paço de Arcos, publi- cada em 2020.12, no n.º 32, pp. 38/39. O artigo terminava com esta mensa- escrever Português, como o saudoso gem: continuo a não compreender por- que se escreve o som «z» com «x», por 1.º ao 7.º ano, 1948/55, de Português, e, vezes, como em «exato»; ou com «s», também, dois anos de Latim, no Colé- como em «Portugueses» ou em «defe- sa», palavras que até já foram escritas de memória: «Literatura portuguesa é o com «z». Penso que as nossas crianças conjunto de documentos, escritos ori- agradeceriam que o som «z» fosse es- ginariamente em Português, em prosa crito com a letra «z» … Agora, em 2021.04.19, partilho a refle- xão de que também julgo que alguns excelência da ideia, quer pela beleza portugueses gostariam que se tentasse dos elementos formais». Esta definição evitar o emprego demasiado generali- zado de vocábulos estrangeiros, como: prémio literários e, até, de artes plás- email, que talvez pudesse ser substituí- ticas. do por «correio eletrónico»; jeans, por «ganga»; on line, por «em rede»; sho- tras da Universidade Clássica de Lis- pping, por «centro comercial»; stress, boa, em 1971/73, David Mourão Ferrei- por «cansaço nervoso»; take away, por ra, Lúcia Lepeki e Lindley Cintra foram «comida para fora»; t-shirt, por camiso- bons mestres. la; face book ? whatsapp ? Para além destas expressões oriundas sa, em 1976/77, quando era responsável do Inglês, também me sinto desconfor- por uma emissão semanal do programa tável ao ouvir demasiado a brasileira Contraponto, de José Manuel Nunes «Tudo bem», especialmente na época «tudo bem» … Recordo algumas personalidades que me ajudaram a gostar de tentar falar e professor Jaime Pinto da Silva Mota, do gio Militar. Segundo nos ensinou, cito ou em verso, capazes de produzirem no leitor uma emoção estética, quer pela ajudou-me quando fiz parte de júris de Em Românicas, na Faculdade de Le- Também, na Rádio Difusão Portugue- Falar Português

49 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 (que tinha trabalhado na Alemanha), Verde, também me ajudou, nomeada- a escritora Sofia de Mello Breyner An- dresen (1919, Porto) partilhou algo que para além das gerais, incidindo sobre não esqueci: «se puder escrever uma acentuação, pontuação e, até, sobre os frase com três palavras, não a escreva «que». Na altura do 25 de Abril disse com quatro» e «tão importante como algo que me fez pensar: mais impor- saber escrever é saber cortar ou podar tante do que o Império era a Língua… um texto» (cito de memória). É referida no livro Parque dos Poetas, poesia, es- cultura e paisagem, Câmara Municipal tura do capítulo «Literatura: sonho e de Oeiras, 2007, onde colaborei, em pp. pesadelo?», do meu 10.º e último livro, 109/115. Tive, ainda, a sorte de ter privado Municipal de Oeiras, 2020.12.28. com outros vultos da nossa Literatura conhecidos na época, como os escrito- res Fernando Namora e Manuel Ferrei- ra. O dr. Fernando Namora foi, talvez, o meu principal «guru» na época; aju- dou-me muito na escrita e revisão de livros. Aconselhava a escrever sem medo, burilando depois, numa época ainda sem computador. Infelizmente, passados anos, ao reler a sua obra já não me causa a mesma «emoção esté- tica» … O tempo raramente perdoa… No caso dele, o principal contra, que deteto agora, é parecer-me demasia- do pessimista, principalmente para os tempos atuais … O capitão e dr. Manuel Ferreira, mu- nícipe de Oeiras, autor ligado a Cabo mente, por sugerir revisões parciais, Para mais pormenores, sugiro lei- O Homem Sonha?, edição da Câmara M. Barão da Cunha

50 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 34 Abril 2021 HISTÓRIA N o próximo dia 27 de Maio de 2021, faz cento e cinquenta anos, que Antero de Quental proferiu no Casino Lisbonense uma conferência intitulada Causas da De- cadência dos Povos Peninsulares dos Últimos Três Séculos, no âmbito das Conferências do Casino, ciclo da res- ponsabilidade do Grupo do Cenáculo (que incluía Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Batalha Reis, entre outros). Nesta conferência, Antero fez uma análise crítica e histórica sobre o atra- so de Portugal face às nações moder- nas daquele tempo, nomeadamente a Inglaterra. E esta oração correspon- deu aos desejos de transformação do país por parte da chamada Geração de 70 do século XIX. O discurso pronunciado foi edita- do em opúsculo, nesse mesmo ano. Recentemente, o jornal Público, fa- cultou uma versão fac-similada des- sa edição, onde Antero justificava as causas do atraso, baseando-se na falta de liberdade política, e nos atávicos preconceitos religiosos que impedia a liberdade religiosa a diversas crenças, e levou à perseguição de judeus e de cristãos-novos durante séculos, e en- travava (ainda) o desenvolvimento do progresso. Curiosamente, em 1901, o economista e sociólogo alemão Max Weber, na sua obra A Ética Protestan- te e o Espírito Capitalista, atribuiu ao calvinismo parte do sucesso no de- senvolvimento dos países do norte da Europa. Tese que se aproxima da ideia do insigne poeta, e , indirectamente, lhe deu razão. Antero, era um homem do seu tempo, e viveu intensamente as causas sociais Antero de Quental


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