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Published by santoszoio2007, 2021-01-16 15:31:25

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A Voz de Tia Céu A “Mãe” dos pobres JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 32, Dezembro de 2020 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA

ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA 1 – A VPA é um jornal bimestral de Propriedade: Associação Cultural informação geral na área da cultura e “A Voz de Paço de Arcos” da língua portuguesa, em particular na Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B defesa dos interesses dos habitantes da 2770-167 Paço de Arcos vila de Paço de Arcos e das localidades Direção: Presidente - José M. R. Marreiro; circundantes. Tesoureiro - António Alberto Lopes; Secretário - Francisco Rita Santos 2 – A VPA pretende valorizar todas Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B as formas de criação e os próprios 2770-167 Paço de Arcos criadores, divulgando as suas obras. E-mail: [email protected] N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 3 – A VPA defende todas as liberdades, Depósito Legal: 61244/92 em particular as de informação, Diretor: José M. R. Marreiro expressão e criação. Ao mesmo tempo, Diretor-Adjunto: José Maria Santos Zoio afirma-se independente de quaisquer Subdiretora: Maria Inês Bastos forças económicas e políticas, grupos, Editor: José Aguiar Lança-Coelho lóbis, orientações, e pretende contribuir email: [email protected] para uma visão humanista do mundo, Impressão: www.artipol.net para a capacidade de diálogo e o espírito Sede do impressor: Rua da Barrosinha, crítico dos seus leitores. n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal 4 – A VPA recusa quaisquer formas de elitismo e visa compatibilizar a Colaboradores: André Vidal; Antonieta qualidade com a divulgação, para levar a Barata; Carlos Aguiar; Eduardo Barata; informação e a cultura ao maior número Isavel Mourão; José Aguiar Lança-Coelho; possível de pessoas. José Alfaia; José Azevedo; José Marreiro; Luis Álvares; M. Barão da Cunha; Maria Rosado; Mafalda Ascenção; Maria Inês Bastos; Mário Matta e Silva; Neza; Olivia Matos; Santos Zoio; Sara Carvalho; Sofia Nunes e Paulo Mascarenhas Fotografia: Paulo Mascarenhas (Capa), Santos Zoio e Amaral Figueiredo Capa: “Tia Céu” (Maria do Céu Cunha) Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Facebook: www.facebook.com/avozdepa- codearcos Publicidade: [email protected] Tel.: 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Subdiretora Honorária: Maria Aguiar 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

EDITORIAL Infelizmente, con- a imortal revolução de 25 de Abril de 1974, tinuamos a viver a quando os capitães do MFA, nos restituí- pandemia da Covid ram a tão ambicionada liberdade, tinha 19, que já vai na terceira como único objectivo, ser uma página des- vaga, quando surgem tinada aos mais novos, que no país cinzen- novas variantes do vírus, tão da ditadura, pouco tinham destinado ainda mais contagiosas, ao seu escalão etário. Entretanto, com o de acordo com a opi- desenvolvimento dos tempos, o jornal ad- nião dos especialistas quiriu um carácter mais lato, abrangendo em saúde, pelo que aconselhamos todos todos os tipos de problemas que respeita- os nossos leitores a usarem a máscara e a vam a vila. manter as distâncias. Para além desta desgraça universal que O testemunho de Joaquim Coutinho foi nos afecta a todos, queremos recordar o pri- perdurando e, após uma pequena pausa, meiro director de «A Voz de Paço de Arcos». motivada pelas habituais dificuldades Estávamos em 1979, quando Joaquim económicas, estigma deste país, «A Voz de Coutinho, juntamente com Armando Paço de Arcos» regressou com uma abran- Garcia e Vítor Faria, iniciou esta aventura, gência maior, tocando as terras do conce- de que ele foi o principal dinamizador, es- lho de Oeiras, característica que encerra crevendo, mandando imprimir, e percor- actualmente. rendo as ruas da vila, com uma saca de jor- naleiro às costas, onde deixava em todas as A todos os nossos leitores e anunciantes caixas do correio, divulgando o jornal que desejamos muita saúde nesta hora de pan- era a menina dos seus olhos. demia. A publicação iniciada cinco anos após José Aguiar Lança-Coelho - Licenciado e Mestre em Filosofia pela FLUCL (Escreve de acordo com a antiga ortografia) Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 3

ARTIGO DE CAPA À Conversa com Maria do Céu No dia 06 de janeiro, por volta Fui funcionária das 16h30, tivemos o prazer de da Câmara Muni- conversar com a Maria do Céu cipal de Oeiras du- Antónia da Cunha mais conhecida por rante muitos anos, “Tia Céu”, Presidente da Direção da trabalho que me Solfraterno – Associação de Solidarie- possibilitou con- dade Social de Oeiras, constituída no tatar diretamente ano de 2012. com os munícipes. Esse contacto permi- A supramencionada Associação apoia tiu-me ver em primeira mão as carên- crianças, jovens e famílias com vista à cias económicas e sociais que afligiam integração social, assim como cidadãos a camada mais vulnerável da população na velhice e invalidez que viram os seus do nosso concelho. meios de subsistência ou de capacida- de para o trabalho diminuídos. Tudo começou através do estabele- Esta agradável conversa, realizou-se cimento de um contacto direto com a via telefone, tendo em conta a situação Junta de Freguesia de Oeiras para que pandémica atual. esta disponibilizasse um espaço que me permitisse facultar à população mais A Voz de Paço de Arcos:- Por forma a carenciada o acesso a bens materiais a enquadrarmos a nossa conversa, peço preços simbólicos. à Maria do Céu que se apresente aos nossos leitores. O primeiro espaço disponibilizado pela Junta de Freguesia de Oeiras foi o Estádio da Associação Desportiva de Oeiras (ADO); nesse local tive a sorte e o privilégio de contatar com um grupo de pessoas, que estava disponível para alocar algum do seu tempo à mais nobre das ocupações, “ajudar o próximo”. Tia Céu:- -O meu nome é Maria do Voz de Paço de Arcos:- Como nasceu Céu Antónia da Cunha, mas toda a gente a “Associação Solfraterno” e a quem se me trata por “Tia Céu”. Sou natural de destina? Angola e tenho como missão de vida utilizar a energia que não me deixa ficar Tia Céu:- A “Associação Solfraterno” parada para ajudar os mais carenciados. surge em 2012, da vontade de um conjun- to de pessoas que estavam disponíveis para ajudar todos aqueles que apresen- tavam dificuldades socioeconómicas no concelho de Oeiras. Inicialmente sediada no Estádio da Associação Desportiva de Oeiras (ADO), 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

atualmente no Alto dos Barronhos em Carnaxide, espaço com maior dimen- são, cedido pela Câmara Municipal de Oeiras, para fazer face às dificuldade inerentes e fazer chegar o apoio a cerca de 100 famílias, o que representa mais de 300 pessoas. Voz de Paço de Arcos:- Qual é o prin- Infelizmente, temos vindo a registar um cipal objetivo da “Associação Solfrater- enorme aumento da procura de auxílio no”? por parte das famílias da área geográfi- ca abrangida pelo serviço prestado pela Tia Céu:- O nosso objetivo é, angariar Solfraterno. e distribuir bens alimentares e outros. Para além desta atividade, a Associação Apesar da atividade da Associação desenvolve ainda ações no âmbito do concentrar a maior parte dos seus recur- apoio ao domicílio, atividades de tempos sos na angariação e distribuição de bens livres entre outros. alimentares àqueles que beneficiam do serviço prestado, esforçamo-nos por res- Temos a felicidade de poder contar ponder a outras necessidades, nomea- com uma equipa de voluntários, damente, roupas, calçado, brinquedos, homens e mulheres excecionais, que mobiliário, eletrodomésticos e livros aos realizam diariamente atividades re- carenciados, prestando direta ou indire- tamente assistência aos casos identifica- lacionadas com a reco- dos pelos assistentes sociais lha e entrega alimentar. da Junta de freguesia de Temos ainda o privilégio Oeiras, Paço de Arcos bem de poder contar com o como outras freguesias do apoio de algumas empre- concelho. sas, que disponibilizam uma parte substancial dos Voz de Paço de Arcos:- seus recursos para apoiar Quais as atividades desen- a população mais caren- volvidas pela “Associação ciada da comunidade Solfraterno”? onde operam. Deixo um agradecimento muito es- Tia Céu:- A principal ati- pecial a todas as empresas vidade desenvolvida pela que apoiam a Associação “Associação Solfraterno” é a na prestação de serviço angariação, recolha e distri- de ajudar o próximo, no- buição de produtos alimen- meadamente hotéis, su- tares em resposta às solici- permercados, pastelarias, tações e pedidos de ajuda que chegam à Associação. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 5

ARTIGO DE CAPA hipermercados Continente e Auchan. muito escassos para fazer face às inú- A eficácia dos nossos voluntários e a meras solicitações que nos chegam. Ainda assim, para além da inevitável generosidade dos nossos parceiros per- escassez de recursos financeiros, iden- mite-nos apoiar também outras Insti- tificamos a falta de recursos humanos tuições de Solidariedade Social e enti- como principal dificuldade a vencer. dades nomeadamente: “Ajuda de Mãe”, “A Casa da Fonte”, “A Casa da Encosta”, Em matéria de recursos, não posso “Hospital São Francisco Xavier”, “Hospi- deixar de referir a imensa ajuda que tal Egas Moniz” entre outros. constituiu a doação de uma carrinha de transporte por parte da Câmara Munici- De entre os nossos voluntários desta- pal de Oeiras, colocada ao dispor da As- cam-se duas enfermeiras, seis psicólogos sociação. e uma dentista que dispõem dos seus serviços às nossas famílias e voluntários. Voz de Paço de Arcos:- Quais os planos para o futuro? Por força da sua mais-valia técnica, o trabalho desenvolvido por estes voluntá- Tia Céu:- A “Associação Solfraterno” rios, reveste-se de uma importância que ambiciona criar um espaço físico, onde importa assinalar. Espero que com este num futuro próximo, diferentes gera- reconhecimento possa também incen- ções de voluntários, utentes, associados tivar outros profissionais qualificados a e amigos da Associação possam conviver reforçar a nossa equipa. e interagir em benefício de todos. Voz de Paço de Arcos:- Em nome do Jornal “ A voz de Paço de Arcos”, agra- deço a disponibilidade da Tia Céu para conversar connosco, deixando os nossos mais sinceros votos de felicidades e su- cesso para a “Associação Solfraterno” pelo excelente trabalho que desenvolve. Voz de Paço de Arcos:- Como é efetua- Texto elaborado por: Mafalda Ascensão da a adesão à “Associação Solfraterno”? Psicóloga Tia Céu:- A adesão pode ser efetuada no sítio da Internet, através da página oficial da “Associação Solfraterno”, face- book ou pessoalmente nas nossas insta- lações em Carnaxide. Voz de Paço de Arcos:- Quais as prin- cipais dificuldades que apresentam? Tia Céu:- Numa Associação como a Solfraterno, os recursos são sempre 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

Mensagem de ANO NOVO da União das Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias Vivemos um tempo diferente, em que os valores e as prioridades são marcantes, na ajuda a quem precisa, que exigem atenção e partilha fraterna. O executivo e os colaboradores desta União de Freguesias continuarão a desenvolver a sua missão, com dedicação e trabalho, empenhados na construção de uma sociedade mais e justa e mais solidária. Se caminharmos unidos, ouvindo e trabalhando para as pessoas ultrapassaremos dificuldades. Desejamos a todas e a todos um ótimo Ano Novo 2021. Madalena Castro Presidente Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 7

CAMINHOS Percurso entre vendedores de castanhas assadas Desta vez os Caminhos aparecem tão típicas que com um perfil diferente. Vamos nos atraem desde seguir os percursos entre os três a nossa meninice vendedores de Castanhas assadas mais an- (serve para qual- tigos entre Algés e Oeiras. quer idade). Para isso começamos em Algés, na Praça Junto a esta D. Manuel I, em frente à estação de cami- banca, temos nho de ferro e ao terminal de autocarros. É outra de produ- aqui que a nossa amiga de há muitos anos, to igualmente D. Maria Manuela Modesto tem o seu prin- muito apreciado, cipal posto de venda. Começou, há déca- mas este todo o das, a apregoar “Castanhas Assadas, Quen- ano, que é: As fa- tes e Boas”. Primeiro com carros por si en- mosas Farturas, aqui representadas pelos comendados, até que a CMO, há alguns sócios Sr. António Pereira e D. Noémia anos decidiu criar um modelo uniforme Gonçalves. para este tipo de atividade tão querida dos apreciadores desta iguaria que nos aquece Seguimos o nosso percurso pela Rua todos os Outonos e Invernos. Desde aí, é Major Afonso Pala, conhecida, pela Rua em carros iguais, a imitar uma locomotiva, das Estátuas, por nela sermos surpreen- que encontramos as vendas ambulantes didos por estátuas humanas, de tamanho natural, de autoria do escultor Rogério Ti- móteo. Escultor com vasta, e meritória, obra no Conce- lho. Ao nosso lado direito temos o prédio construído, há algumas décadas aquan- do da reformulação da refe- rida praça, junto do qual foi erguida uma coluna com um relógio. Este prédio está a ser recuperado, telhado e fachadas, no R/C está ins- talado um supermercado, o Minipreço. A seguir, um restaurante, já nos prédios de r/c, muito mais anti- gos, de seu nome “ Petit d’ 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

Algés”, que mantém o nome, e a qualida- Em frente ao Jardim está, em fase de con- de de serviço de um outro, muito maior, já clusão, uma nova rotunda de distribuição desaparecido, que existia no outro lado da do trânsito que vem da Junça, do Dafundo, rua, onde agora está uma loja de grande di- e do centro de Algés Obra há muito neces- mensão, de produtos congelados. sária, que finalmente foi executada, e que muito vem facilitar o trânsito naquelas mo- Seguem-se outros restaurantes, pada- vimentadas artérias. ria, churrascaria. A origem destes negó- cios remonta aos tempos da existência de Partimos em direção a Oeiras, deixando Alfândega nas portas de Algés, onde para para outra oportunidade, o tanto que há entrar em Lisboa, as produções de Oeiras de interesse para referir, no Dafundo, Cruz tinham de pagar imposto. Por isso, aqui Quebrada, Caxias, e Paço de Arcos, mas é antes das portas os produtos, sobretudo o só em Oeiras que vamos encontrar quem vinho, eram mais baratos pelo que muitos procuramos para hoje falar, vendedores lisboetas aqui vinham, principalmente aos de castanhas assadas, ainda se lembram domingos, de carro, mas a maioria de elé- disso? trico fazer os seus convívios e beber os seus “copos de três”, ou se calhar, “penal- Em Oeiras vamos ao encontro dos dois tis. vendedores no ativo. Comecemos pelo Sr. Manuel Ramos, que há 40 anos montou o No fim temos a antiga “Marisquei- seu negócio à porta do Centro Comercial ra de Algés” que há muitas décadas Palmeiras, o primeiro de grandes dimen- atrai clientes de Algés, e de todo o sões a surgir no z lado, pela fama do seu serviço de qualidade. referido centro comercial, mas também vimos chegar clientes vindos de carro, e a Vamos avançar para o jardim mu- pé, de propósito para comprar as “Quen- nicipal, ao lado direito o Palácio dos tes e Boas” para levar para casa, onde toda Anjos, com uma excelente exposi- a família, incluindo “os putos”, se delicia ção de pintura dos artistas Renoir com esta iguaria que transmite alimento ao e Amadeu de Sousa Cardoso, que aconselhamos os nossos leitores a visitar. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 9

CAMINHOS corpo e à alma. O seu calor e sabor são con- produtor, em frente à estação de dimentos para a harmonia, a paz e o amor. caminho de ferro de Oeiras. É o E é aqui que entra a água pé, subproduto mais antigo dos três, está aqui do fabrico do vinho, que aparece como o com o seu negócio há 41 anos, acompanhante preferencial, para muitos, acompanhou muitas gerações outros preferem o vinho ou a jeropiga, da de alunos da Escola Secundá- nossa massa natural, que outrora foi base ria Sebastião e Silva (Antigo de alimento para muitas populações, antes Liceu Nacional de Oeiras), de dos cereais, pão, da batata ou do arroz. trabalhadores da Fundição de Oeiras, dos frequentadores da Para além de assadas, as castanhas praia, e conhece Oeiras, e as podem ser apreciadas, cozidas, assadas no suas gentes, como poucos. forno, piladas, ou em delicados pratos da nossa gastronomia, sobretudo Feliz e realizado com a sua na serrana, e também na nova vida, fala-nos com orgulho de cozinha de Chef, em pratos clas- ser bem tratado e reconhecido sificados como Gourmet. por todos. Mantêm boas relações com os comerciantes vizinhos, especialmente com Vamos então, de seguida, a proprietária do Quiosque, a Dra. Mariana ao encontro do nosso terceiro Costa, advogada, que por morte de seu pai, “herói”, de hoje. O Sr. António ocorrida há dois anos, assumiu a gerência Miguel, que acompanhado pela do negócio como garante da sua continua- sua companheira de vida e de ção, tendo sua mãe como sócia. trabalho, instalou a sua banca, E é assim, que aqui prestamos homena- “de assar e vender”, segundo gem a estas três importantes figuras, cuja diz, as melhores castanhas do presença nos traz sentimentos de afeto país, indo ele próprio buscá-las pelos outros e que tao bem está expressa à Beira Alta, diretamente ao no fado, que CARLOS DO CARMO, com 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

a sua genialidade de intérprete nos deixou A mágoa que transporta a miséria ambu- para a eternidade, sim a OBRA não morre lante, fica connosco para sempre. passeia na cidade o dia inteiro. É como se empurrasse o Outono diante, Prestando a nossa singela homenagem é como se empurrasse o nevoeiro. a Carlos do Carmo, grande intérprete, Quem sabe a desventura do seu fado? grande homem e grande português, que Quem olha para o homem das castanhas? recentemente nos deixou, terminamos Nunca ninguém pensou ali ao lado estes “Caminhos” com o fado de autoria de ardem no fogareiro dores tamanhas. José Carlos Ary dos Santos (Letra) e Paulo Quem quer quentes e boas, quentinhas? de Carvalho (Música), atualmente nosso vi- A estalarem cinzentas na brasa. zinho de Paço de Arcos, em que são home- Quem quer quentes e boas, quentinhas? nageadas as “Castanhas Assadas, quentes e Quem compra leva mais amor pra casa. boas, quentinhas”. O Homem das Castanhas Musica de Paulo de Carvalho Na praça da Figueira e letra de José Carlos Ary dos Santos ou no Jardim da Estrela, num fogareiro aceso é que ele arde. Texto: José Marreiro Ao canto do Outono, à esquina do Inver- Fotos: Santos Zoio no, o homem das castanhas é eterno. Não tem eira nem beira, nem guarida, e apregoa como um desafio. É um cartuxo pardo a sua vida, e, se não mata a fome, mata o frio. Um carro que se empurra, um chapéu esburacado, no peito uma castanha que não arde. Tem a chuva nos olhos e tem ar cansado, o homem que apregoa ao fim da tarde. Ao pé dum candeeiro acaba o dia, voz rouca com o travo da pobreza. Apregoa pedaços de alegria. e à noite vai dormir com a tristeza. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Carlos do Carmo - A nossa homenagem A estalarem cinzentas, na brasa. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Quem compra leva mais calor para casa. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 11

ALIMENTAÇÃO - A CASTANHA Sabe tudo sobre castanhas? sal e pimen- ta. Acrescente ACastanha, além de ser um alimento cerca de 300 muito saboroso, e de Outono, é da ml de água. família dos frutos gordos e amilá- Deixe cozi- ceos. É menos calórico do que os restantes nhar em lume médio 15 minutos; 4) Acrescente alimentos da mesma família (noz, avelã, mais água se for necessário até os cogumelos amêndoa, amendoim) uma vez que apre- estarem macios e as castanhas a desfazer-se; 5) senta uma quantidade de gordura signifi- Com a ajuda da varinha mágica triture tudo cativamente mais baixa. A castanha é rica e acrescente mais água para ficar com a con- em hidratos de carbono complexos, dobro sistência de creme, como preferir. Rectifique os da percentagem de amido das batatas, rica temperos; 6) Entretanto numa frigideira antia- em vitaminas C e B6 e boa fonte de potássio. derente, leve ao lume um fio de azeite com os 5 É uma excelente fonte de energia. É um ali- cogumelos reservados. Tempere com sal e deixe mento versátil, podendo ser utilizado, cru cozer 5 a 6 minutos. Polvilhe com algumas fo- ou como acompanhamento (assada, frita, lhas de tomilho fresco e retire do lume; 7) Quan- cozida ou em puré), em base de sopas, com do o creme estiver pronto, sirva acompanhado carne, na confecção de molhos e até mesmo com alguns cogumelos salteados. em sobremesas e confeitaria nacional e in- Creme de Castanhas e funcho Selvagem ternacional (marrons glacés). Ingredientes: (4 pessoas) - Em Portugal, existem quatro denomina- 200g castanhas descascadas, ções de origem protegida para a castanha: 100g de manteiga com sal, Castanha da Terra Fria, Castanha dos Sou- 200ml de natas, 500ml de lei- tos da Lapa, Castanha da Padrela e Casta- te gordo, 100g de funcho sel- nha de Marvão. vagem, 20 castanhas corta- Receitas: das em cubos de 5 mm, 100g manteiga, pimenta Creme de Castanhas e Cogumelos e sal (q.b.) Ingredientes: 500g de castanhas, 350gr,Cogu- Preparação: (Tempo 1h 15m) - Fritar as casta- melos castanhos, ½ cebola,1 alho francês, 2 den- nhas inteiras em manteiga, até que estejam bem tes de alho, sal, pimenta q.b., azeite q.b. tomilho torradas. Juntar o funcho laminado. Adicionar fresco a nata e o leite, e cozer. Triturar tudo até obter Preparação:1) Limpe os cogumelos com um pin- um creme. Levar novamente ao lume e cozinhar cel corte 5 cogumelos em fatias finas e guarde. metade das castanhas (10) picadas. Aquecer a Corte os restantes em pedaços pequenos e colo- manteiga num tacho pequeno e verter a outra que noutro recipiente; 2) Leve ao lume cebola metade das castanhas cortadas, fritando até fi- picada, os dentes de alho, o alho francês corta- carem bem crocantes. Servir o creme com as cas- do em juliana fina e azeite. Deixe refogar um tanhas crocantes por cima e as folhas de funcho. Opcionalmente, pode juntar trufa laminada por pouco. Acrescente as cima, na hora de servir. castanhas e tape o tacho. Deixe cozer 3minutos José Marreiro em lume médio; 3) De seguida acrescente os co- gumelos e tempere com 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

HOMENAGEM José de Castro No passado dia 28 de Novembro de tural José de Castro. 2020, realizou-se a habitual roma- Seguidamente, a gem ao monumento dedicado ao actor José de Castro, e ao teatro, em condi- Dra. Madalena Cas- ções excepcionais, devido à pandemia, as- tro, agradeceu a ini- sim, prevista para as 16h, foi a mesma ante- ciativa, frisou a sua cipada para as 11h. importância para a vila, e para não deixar Com a presença de alguns amigos, e fami- esquecer o nome do liares, foram colocadas as coroas de flores grande ator José de Castro, e mostrou-se da C.M.O e da União de Freguesias de Oei- otimista quanto à concretização, em breve, ras, Paço de Arcos e Caxias. da promessa mais antiga por cumprir e que é uma lacuna que urge suprimir. A CMO esteve representada pela Dra. Irina Dias Lopes em representação da Pre- A parte de espetáculo prevista não se rea- sidência, e a UFOPAC, pela sua Presidente, lizou, por imperativo das regras de controle Dra. Madalena Castro. da pandemia. A Voz de Paço de Arcos, representada Em 2020 foi assim, o que foi possível fazer. pelo presidente, José Marreiro, agradeceu Em 2021 como será? Esperemos que a situa- a presença de todos, e manifestou o desejo ção permita voltar ao programa completo. de que no próximo ano já esteja em cons- Que assim seja. trução o, há muito aguardado, Centro Cul- José Marreiro Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 13

CULTURA Sobre a magia da diferença, sobre a discriminação “Todos diferentes, todos iguais”, eis evito dizer uma expressão que me acompa- quando era nha desde a minha tenra infância. pequena, Há campanhas que fazem todo o sen- pois na ver- tido e que, infelizmente, volvidos mais dade não de trinta anos permanecem atuais. Na me recordo altura, a marca em questão procurava de alguma apenas uma forma de vender as suas vez o ter si- coloridas roupas, cuja paleta represen- do. Dizem- tava bem as sete cores do arco-íris e -me que, todas as frequências intermédias que, quando nas- por vezes, nos escapam. Somos todos ci, já tinha diferentes e ainda bem! É fundamental uma altura acima da média, atributo que existam e que subsistam as dife- que se manteve ao longo do tempo e renças, pois é delas que advém o ritmo que ainda hoje serve de elemento di- desta dança que se estabelece entre ca- ferenciador aquando da minha des- da um de nós. Contudo, é importante crição física. Foi um encontro mode- que não existam diferenças no trata- rado. Estava alegremente a baloiçar mento, nos direitos, nos deveres, nos no parque infantil do jardim de Paço acessos, nas facilidades, nas dificulda- de Arcos, quando o meu movimento des e em tantas outras coisas que vão oscilatório foi interrompido pelo vo- surgindo no dia a dia. ciferar de um indivíduo, já com idade para ter juízo, de onde se destacavam Falo-vos de discriminação, não ape- as seguintes palavras “Não podes estar nas da racial, que tem sido a mais bada- aí, esses baloiços são para miúdos até lada nos últimos tempos, mas também aos 12 anos!”. Na minha inocência, res- da associada às questões de género, da pondi-lhe, “Mas eu só tenho cinco…” sexualidade, da religião, do estatuto ao que o cavalheiro retorquiu “Menti- social, da genética, da idade, da hierar- rosa!”. Nunca ninguém me tinha apeli- quia e de todas aquelas que permitem dado de mentirosa. Lembro-me de ter a alguém sentir-se no direito de coar- saído a correr, com algumas lágrimas tar ou invadir a liberdade de outrem. a escorrerem-me pelo rosto. Ao longe, ainda ecoava um “Mostra-me o teu bi- É com consciência do meu privilégio lhete de identidade!”. De acordo com a que narro o meu primeiro encontro Direcção-Geral da Saúde a minha al- com esta forma de diferenciar seres tura devia rondar um metro, mas eu já por uma determinada característica. Aconteceu quando ainda era criança, 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

contava com pelo menos mais 30 cen- genético são feitos o tronco e as raízes tímetros. Na escola, tinha várias alcu- que estão na génese desta característi- nhas que estavam longe de derivar de ca aparentemente peculiar. Talvez um Sofia. Dessas destaco “girafa”, da qual dia ceda uma gota de saliva à ciência brotou a doce Gijas e o meu fascínio para mergulhar nos meus antepassa- pelo animal, e “Torre Eiffel”, ex-libris dos. Independentemente disso, o mais de uma cidade que tive a honra de cha- interessante é perceber que aquilo que mar casa. faz de nós, tão nós, às vezes é o que faz confusão aos outros. Será que se eu Hoje, esta e outras histórias escorre- fosse rapaz, com a mesma altura, seria gam com um sorriso e nem todas foram este Wally constantemente destaca- espinhos. Escolhi abordar, em primei- do da multidão? E daqui salto para o ra instância, a discriminação negativa, facto de, natural e infelizmente, com mas existe também o seu oposto, a po- o passar do tempo, ter juntado ao le- sitiva. A discriminação através da qual que de experiências algumas histórias, acedemos a um tratamento preferen- cuja narrativa advém do facto de ser cial, especial, único, diferenciado por mulher, de ser portuguesa, de ter um possuirmos uma qualquer qualidade. certo tipo de formação, de ter pouca ou Graças a esses meus centímetros extra demasiada idade, aos olhos de quem e à falta de capacidade de observação julga, claro. Mas essas ficam para ou- dos demais, anos mais tarde, entrei tro dia, o relevante é perceber de onde num bar em Santos, passando por uma vem a discriminação. O que é que le- adolescente com pelo menos mais 6 va um determinado individuo a adotar anos. Ninguém me pediu o bilhete de uma determinada atitude, negativa ou identidade, nem aí, nem nos anos que positiva, quando confrontado com a se seguiram. A altura era uma espécie diferença. de passaporte para o universo das ra- parigas mais velhas, como se ambas De acordo com as teorias do compor- as coisas andassem necessariamente a tamento, sabemos que se teme o que se par, é uma tendência, mas … desconhece. É um mecanismo de defe- sa poderoso nascido no mesmo dia em Hoje em dia, eu e o meu metro e oi- que nasceu a humanidade. Para o ul- tenta e dois desfilamos pela capital do trapassar, basta usar a ferramenta mais reino e somos confundidos com gentes preciosa que habita na nossa criança de outras paragens. O português dei- interior: a curiosidade! Aquela que al- xou de ser uma opção, quando alguém meja saber mais sobre, ir além de, falar me dirige a palavra, e tenho sempre com, numa tentativa de desmistificar direito a um “A sério que é portugue- eventuais ideias preconcebidas e pre- sa? Mas então os seus pais são estran- conceitos existentes. Aquela que tem geiros?”. Não são. Nem eles, nem os um espírito aberto, grande capacidade meus avós, nem os meus bisavós. De- de encaixe, que se deixa encantar pela pois disso, desconheço de que material Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 15

CULTURA diversidade e pelo porquê das coisas. lher as nossas verdades. Raciocínio vá- Discriminar diz mais sobre nós do lido em qualquer idade. Existe um sem fim de informação disponível e aces- que sobre aqueles que discriminamos. sível sobre todos os temas possíveis e Somos todos feitos da mesma matéria. imaginários para suportar as nossas António Gedeão ilustrou-o bem ao es- crenças ou destruí-las. Deixou de fazer crever o poema “Lágrima de preta”, on- sentido seguir uma determinada ideo- de ao analisá-la concluiu que era igual logia, só porque sim. às nossas, caucasianas, “Água (quase tudo) e cloreto de sódio”. Acredito que Da minha parte agradeço todas as podemos extrapolar este resultado às experiências pelas quais passei e agra- lágrimas de todos, independentemen- deço, antecipadamente, aquelas pelas te da sua etnia, da sua orientação se- quais ainda irei passar. Tenho cons- xual, das suas convicções, de ser xy ou ciência de que as minhas aventuras, xx. ou desventuras, representam um grão de areia num vasto areal de histórias Cheguei à conclusão de que cada um sem nome. Porém, estas adicionaram de nós necessita de fazer um exercício umas quantas dioptrias ao meu siste- de reflexão. Certamente que nalgum ma visual, permitindo-me desenvolver momento da vida todos foram discri- o músculo empático e a certeza de que minados, e se tiveram a sorte de não o ninguém merece sentir-se menos ou ser, certamente conhecem alguém que mais porque motivo seja. Tornaram o foi ou assistiram a algum episódio des- meu olhar mais humano. Calço todos sa natureza. Que emoções foram espo- os dias vários sapatos diferentes e dis- letadas? Desejam-se a alguém? É duro penso o microscópio para ver a essên- o exercício de calçar os sapatos dos ou- cia do que me rodeia. E o leitor? tros. Sofia Nunes @cameraindiscrete Tenho plena consciência de quão complexo é desvincularmo-nos, de um dia para o outro, do nosso contexto, aquele que nos deu a identidade. Toda- via, à medida que o calendário avança, passamos a ter a capacidade de esco- 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

REFLEXÃO Saudade e dor bem como a maturidade de sabermos dar valor a tudo de bom que temos na D espedimo-nos de 2020 com vida, sejamos como as crianças e não uma angústia generalizada, percamos a esperança e o sorriso. foi um ano penoso para to- dos, atrevo-me a dizer para todos por- Feliz 2021 -- que de uma forma transversal, toda a Maria Inês Bastos gente sofreu de alguma forma com a realidade instalada no mundo. Foram famílias enlutadas pela dor da partida de algum ente querido, foram pessoas que ficaram sem emprego e não pu- deram cumprir com os seus compro- missos, pior do que isso, muita gente a passar fome sem ter meios para se alimentar, tiveram de pôr a vergonha de lado e recorrer a instituições, per- doem-me a expressão “comer o pão que o diabo amassou”; a carência dos afectos, a falta dos beijos e abraços que alimentam a alma, a distância que muitos não puderam percorrer para estar com a família, as crianças que mesmo nas creches e escolas ti- veram de manter o afastamento (nem à apanhada puderam brincar), feliz- mente não perderam o sorriso nem a esperança. Dor, saudade e desânimo, foi o que marcou o ano transacto; que o ano 2021, nos traga a cura do maldito vírus, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 17

MEMÓRIAS COVID-19. - os sinais dos tempos e o retorno temporário às origens ACovid-19 e o receio de contágio le- escolar do meu vou muitas pessoas a refugiarem- antigo 5º ano do -se no interior do país, fugindo aos liceu, aqui fica /”formigueiros humanos”/ das grandes ci- um pequenino dades. /”cheirinho”/ das vivências da mi- Esta espécie de eremitismo forçado pela nha difícil por um actual conjuntura será, para muitos jovens lado mas muito feliz infância no meio rural, que raramente ultrapassaram os horizontes que recordo com imensurável saudade e geográficos dos grandes centros urbanos, o em que os nomes das personagens foram desvendar de outras realidades sociais bem meus reais vizinhos com rosto. diversas. O Anoitecer No Campo O país rural do interior é hoje muito dife- rente daquele onde eu cresci e vivi a minha O sol já brincava ás escondidas na linha do infância nos idos anos quarenta e cinquen- horizonte e os seus últimos raios, de um ta, -(Cova da Beira -Quinta da Várzea - Co- vermelho rubro, fitavam ainda a planície e vilhã). realçavam os contrastes dos campos de la- voura, qual manta de retalhos composta de Naquela época, o amanho das terras ocu- uma miríade de tons esverdeados, amarelos pava a maior fatia da população portuguesa e ocres. e as inerentes tarefas eram, em grande par- te, asseguradas por rude trabalho braçal. Deixara de se ouvir todo o bulício de um Actualmente, por todo o interior, os ron- dia de trabalho no campo, o bater dos sa- ceiros carros de lavoura de outrora, puxa- chos na terra ressequida e eram já silentes dos por juntas de bois, foram substituídos também, as cantigas dos ranchos de mon- por tractores agrícolas com atrelados e os dadeiras assistidas pelo aguadeiro e que, cânticos dos ranchos de mondadeiras que durante todo o dia e em serpenteantes e ex- expurgavam as ervas daninhas das searas, tensas filas, se tinham debruçado sobre as foram substituídos pelo ruído metálico das searas arrancando ervas daninhas. Os pás- máquinas motorizadas que aplicam po- saros, num estridente chinfrim e lutando à tentes, selectivos e poluidores herbicidas. bicada e ao /”chega para lá”/, disputavam os No entanto, esta debandada para o interior melhores poisos nas árvores que lhes iriam será talvez para muitos dos nossos jovens, servir de abrigo durante a noite. ERA O a primeira oportunidade para transitarem ANOITECER NO CAMPO. do imaginário para a realidade de um ou- tro país desconhecido para muitos deles e Ti João Barata dirigiu-se para o local onde onde se respira uma qualidade de vida que, a junta de bois, - /(o borisco e o amarelo)/ - em amplos aspectos, é muito superior à que o aguardavam com olhar pachorrento para nos é oferecida nas grandes urbes. regressar a casa. Recuperando uma velhinha redacção De semblante carregado parou por mo- 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

mentos e, apoiado ao cabo da sua enxada, - Demoraste tanto tempo homem! balbu- observou o céu na esperança de divisar ciou a mulher de ti João Barata, quando este quaisquer indícios de chuvada próxima. chegou a casa. - Há mais de uma hora que De seguida, dirigiu mais uma vez o olhar a ceia está pronta e tu sem chegares! - Os para a sua seara que, amarelecida pela seca, garotos já dormiam à lareira e tive que lhes lhe provocou um esgar de descrença e um /”dar de cear” /para se irem deitar e eu ain- baixar de braços em gesto de desalento. - da só há pouco tive tempo de /”acomodar o Curvou-se e apanhou um torrão ressequido vivo”!/ que facilmente se esboroou ao ser compri- mido pelos seus dedos rudes e calejados de - Não me consegui libertar do trabalho uma vida de duros trabalhos. mais cedo e fica sabendo que hoje eu nem sequer tive tempo de merendar! -retorquiu. Acenou a cabeça desanimado. Há muitos - Venha de lá então essa ceia que já tarda! dias que não chovia e tal facto preocupava-o bastante, pois sem a chuva para regar e fazer Instantes volvidos já o caldo fumegava na medrar as suas searas não poderia ter boa malga, quente e apetitoso. Adicionou-lhe colheita. um fio de azeite crú da sua lavra, migou-lhe para dentro um pequeno naco de pão cen- -Ehhh, ti Zé Filhonas! - gritou para um seu teio e saboreou-a com sôfrego apetite. - De vizinho que passava numa vereda próxima seguida vieram as batatas cozidas e uma com uma gadanha ao ombro, logo seguido fritura de toucinho da salgadeira e da sua da sua cabra que trazia presa a uma corda. última /”matança do porco”/, tudo regado “Dê-me aqui uma mão para meter os bois com a sua /”boa pinga”/ de que tanto se or- ao carro, se faz favor”! gulhava no /”dia da abertura do pipo”/ e que partilhava com os seus vizinhos. - Ora essa! É para já ti João! - gritou o outro. Momentos depois estavam a caminho de Após a ceia, seguiu-se um pequeno diá- casa. Era quase noite cerrada e, para além logo entre os dois em que, mais uma vez, da /”sinfonia”/ desordenada dos ralos a can- sobressaía a preocupação e a incerteza de ti tar, apenas sobressaía o ranger das rodas do João Barata no futuro das suas searas. carro trilhando o caminho pedregoso e o tilintar dos chocalhos dos bois. - Deixa lá homem! Deus vai ouvir-nos e Ti João Barata, puxando à soga dos bois, ia tenho fé que ainda nos mandará chuva su- dizendo para o seu companheiro: ficiente para salvar o nosso trigo e o nosso - Pois isto está mau ti Zé Filhonas! Há centeio! muito tempo que não chove e custa-me ver a seara com a cor da palha e a curvar-se, - Assim seja mulher, assim seja! - retor- derreada ao calor do sol e sem lhe poder va- quiu ti João Barata. ler! - Por este andar, a colheita não vai dar sequer para pagar as jornas ao pessoal! Rezaram o terço e foram-se deitar con- - Lá isso é verdade ti João, mas que have- fiantes, pois a esperança é algo que mora mos de fazer? Deus é quem manda e temos em geminação com o coração simples e ge- que nos resignar à vontade d’ Ele! neroso do lavrador. Chegados ao destino, despediram-se e ca- da qual seguiu para sua casa. /Nota; “Acomodar o vivo” Expressão usa- da pelo camponês da Beira Baixa e que sig- nifica dar comida às galinhas, coelhos, por- cos e outros animais domésticos./ /José Joaquim Silva Azevedo - (1973)/ Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 19

HOMENAGEM Homenagem a Artur do Cruzeiro Seixas, pela “ Poesia com Chá Luchapa” No passado dia 5 de dezembro de 2020, Homenagem a “Poesia com Chá”, uma das valências da Luchapa a da Luchapa, associação de âmbito cul- Cruzeiro Seixas tural e artístico, sem fins lucrativos, com sede – texto biográfico sobre o Mestre de autoria de em Oeiras, no Chá da Barra Villa, Palácio do Lourdes Rosado, seguido de dois poemas de Egipto, organizou uma homenagem ao Mestre Lourdes Rosado e de Artur Santos. Cruzeiro Seixas apoiada pelas seguintes enti- dades: Câmara Municipal de Oeiras que dis- Cruzeiro Seixas, Representante Maior do ponibilizou o espaço da Galeria Verney, bem Surrealismo Português – Texto do Professor como os meios técnicos para a realização em Perfecto Cuadrado dito pelo escritor e inves- directo do evento através do facebook das Bi- tigador literário Ricardo Belo de Morais, se- bliotecas Municipais de Oeiras; Centro Portu- guido da leitura de poemas seleccionados do guês de Serigrafia que enviou várias imagens Mestre Cruzeiro Seixas. do Mestre e da sua obra; Fundação Cuperti- no de Miranda (Vila Nova de Famalicão) que Para finalizar o evento, José Mendonça, da alberga o Centro Português do Surrealismo, “Poesia com Chá Luchapa”, agradeceu à Câ- com vasto acervo de Cruzeiro Seixas e que dis- mara Municipal de Oeiras, nas pessoas do ponibilizou imagens da obra do Mestre. Diretor das Bibliotecas Municipais de Oeiras, Dr. Gaspar Matos e da Dr.ª Maria José Rijo, A Homenagem fez-se de acordo com o se- Técnica Superior da Livraria-Galeria Verney, e guinte Programa: a todos os que se associaram à iniciativa. A Obra poética de Cruzeiro Seixas - Texto Por sua vez, o Dr. Gaspar Matos agradeceu do Professor António Cândido Franco da Uni- à “Poesia com Chá Luchapa” a realização da versidade de Évora, lido por Manuela Caeiro Homenagem mantendo assim a dinâmica da “ Poesia com Chá Luchapa”; Visualização cultural da Galeria apesar dos condicionalis- de um vídeo sobre Cruzeiro Seixas enviado mos exigidos pela situação pandémica, con- por António Prates fundador do Centro Portu- siderando ser um privilégio, nos 25 anos da guês de Serigrafia, na impossibilidade de estar Verney, poder dar continuidade a uma parce- presente; Poemas de Cruzeiro Seixas ditos ria que espelha a ligação com a comunidade, por Manuela Caeiro da “Poesia com Chá Lu- ligação essa que sempre norteou o rumo da chapa”; Cruzeiro Seixas O Amigo – de Maria Livraria-Galeria Verney. João Vasconcelos sua amiga de infância; Ho- menagem a Cruzeiro Seixas – de Carlos Ca- Salientou que a Homenagem a Cruzeiro bral Nunes, Director Artístico da Galeria Per- Seixas é uma feliz coincidência, visto que o ve em Lisboa e da Casa da Liberdade Mário Mestre tinha não só uma forte ligação a Áfri- Cesariny; Cruzeiro Seixas o Amigo – de João ca e que esta faz parte do ADN da Verney que Prates, Director do Centro Português de Se- alberga a obra de Neves e Sousa, outro aman- rigrafia. Os três depoimentos foram lidos por te de África, como também a afinidade entre Alice Duarte da “Poesia com Chá Luchapa” na as Artes Plásticas e a Literatura que Cruzeiro ausência anunciada dos autores. Seixas tão bem trabalhou e que a Galeria re- presenta, visto ter sido criada sob os auspícios, Poemas de Cruzeiro Seixas – ditos por o olhar, de David Mourão Ferreira. Francisca Patrício e por Nicolau Santos; Maria de Lourdes Rosado, da “Poesia com Chá Luchapa” 20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

CONTO Coisas muito, muito, muito, muito pequenas e coisas muito, muito, muito, muito grandes. Isto poderia ter sido dito como coisas dedo, que indiquei, infinitamente pequenas e coisas infi- são muito feias e, repi- nitamente grandes, pois poderia! Mas, to, não se devem fazer! como é para ser entendido (espero eu!) Depois, vem o dedo por crianças pequenas, quem lhes for ler, mais comprido de todos e, coitadinho, não vai ter uma trabalheira enorme. Mas é por tem um nome especial, vamos chamar- uma boa causa. -lhe o grandalhão. Ao lado deste, está o dos anéis. É aquele onde a vossa mãe e o Meus pequenos amigos: Para terem uma vosso pai usam o que chamamos a aliança. ideia do que são coisas muito pequeninas, Costuma por isso chamar-se-lhe o anelar. muito pequeninas, muito pequeninas, di- Finalmente vem então o mais pequenino rei que são coisas tão pequeninas, tão pe- dos grandes, chama-se, não sei porquê, o queninas, tão pequeninas, que são milhões mindinho, É com a pontinha desse dedi- de vezes, biliões de vezes, triliões de vezes, nho pequenino que eu vou comparar as quatriliões de vezes mais pequeninas, que coisas que vos vou tentar explicar. Coisas a ponta do dedo mindinho da vossa mão que também poderão interessar às pessoas pequenina. Milhões, biliões, triliões são grandes, especialmente ás que nunca tive- muitas, mas mesmo muitaaaaas vezes. A ram o privilégio e o enorme prazer de es- propósito, já sabem como se chamam os preitar, através de um aparelho chamado dedos da vossa mãozinha? microscópio, uma gotinha de água prove- niente de um tanque, de um poço ou de um Comecemos pela mão esquerda, virada lago de jardim, e ver a enorme quantidade com a palma para cima. Ao dedo grosso e variedade de seres vivos, muito vivos, que e curtinho, que está do lado de fora, que nela se movimentam. Nessa gota de água, serve (ou serviu) para chucharem antes de por conter em infusão matérias animais adormecerem, as pessoas chamam-lhe o e/ou vegetais, nela se desenvolvem os tais polegar. E sabem porquê? Porque, nas pes- seres pequeninos, os chamados infusórios. soas já grandes, cada metade desse dedo, Na água límpida não se encontram estes tem mais ou menos o comprimento de 2,54 seres. Ainda bem! cm, uma medida ainda usada nalguns paí- ses, onde lhe chamam uma polegada. Mas, A primeira pessoa que usou um apare- para vocês, o dedo serve mesmo é para lho destes, por si aperfeiçoado, e há quem chuchar, e pronto! O dedo seguinte, cha- diga que inventado, foi um holandês cha- ma-se o indicador ou furabolos e é aquele mado Anton van Leeuwenhoek. O tal mi- que alguns dos meninos usam, mas não se croscópio era muito simples, apenas uma deviam usar, para tirar as carrapetas do na- tabuinha com uma lente num furinho (ve- riz, nem para furar, ás escondidas, as com- jam a gravura) que permitia que se vissem potas e doces ou bolos que a mãe fez, ser- os tais seres vivos, muito, muito, muito pe- ve, isso sim, para apontar para uma coisa queninos. qualquer. As duas primeiras funções deste Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 21

CONTO Aquele senhor ficou tão admirado com seres pequeníssimos. os tais seres pequeninos que nunca nin- Mas, ver a gravura com os bichinhos pa- guém tinha visto antes, que passou a pro- curar em tudo onde eles se pudessem rados e espreitar por um microscópio são encontrar. E viu, desenhou, e descreveu coisas completamente diferentes. Muitos muitos, muitos, muitos. pais no Natal oferecem muitos presentes. Lembrem-se de oferecer um Microscópio. Há cerca de 350 anos, escreveu ele numa E vejam, e mostrem aos meninos, as coisas carta que enviou à Royal Society de Lon- maravilhosas que se movimentam na goti- dres: nha de água. Mesmo com esse microscó- pio de brinquedo já é muito giro observar “No lago Berkelse Mere, próximo da mi- muitos e diferentes seres vivos, muito, mui- nha cidade, Delft na Holanda, onde em to, muito pequeninos. E até se podem ver a pleno verão, a água se torna menos clara comer, pequenas partículas e outros seres em relação ao inverno, além de esbranqui- mais pequeninos de que se alimentam. Se çada, estava repleta de uma espécie de nu- eles já são tão pequeninos, tão pequeninos, vens verdes flutuantes. Colhi uma peque- tão pequeninos, milhões de vezes, biliões na porção dessa água num frasco de vidro de vezes mais pequeninos, que a pontinha e examinando-a no dia seguinte, encontrei do dedo mindinho da vossa mãozinha pe- flutuando nela diversas partículas terro- quenina, imaginem como será o tamanho sas, e [...] havia muitos pequenos glóbulos das comidinhas deles! Por falar em peque- verdes também. Entre eles tinham, além nices, já devem ter visto as pessoas anda- disso, muitos pequenos animálculos, dos rem com máscaras e já devem ter ouvido quais alguns eram arredondados, enquan- falar de pandemia e da Covid19. Saibam to outros, um pouco maiores, tinham uma que a doença com este nome é provocada forma oval. Nessas ovais vi duas pequenas por uma coisinha muito redondinha, mui- pernas perto da cabeça, e duas nadadeiras to pequenininha, com muitos piquinhos á pequenas na parte mais atrás da extremi- volta e, embora não sendo um ser vivo, tem dade do corpo. Outros um pouco mais uma parte importante de material genéti- longos que os de forma oval, moviam-se co (coisa muito difícil de ser explicada e eu muito lentamente e eram poucos. Esses demoraria muito tempo e espaço a tentar animálculos tinham várias cores, alguns explicar). Essa coisa, o material genético, eram esbranquiçados e transparentes; contém instruções para esse ser se manter outros tinham pequenas escamas verdes na natureza. Para isso ele precisa de entrar e muito brilhantes; outros ainda, eram nas nossas células, em especial nas dos verdes no meio, e brancos à frente e atrás nossos pulmõezinhos e faz-nos ficar doen- e havia muitos outros acinzentados. E o tes e até nos pode matar. movimento da maior parte deles na água era tão rápido, variando, para cima, para Pois bem, agora com microscópios muito baixo, e rodando, maravilhando-me; e jul- evoluídos, milhões de vezes mais potentes go que algumas destas pequenas criaturas que aquele do senhor Anton van Leeuwe- eram mais de mil vezes menores que os nhoek, conseguem-se até obter fotografias menores que eu já tenha visto.”, desse malandro. Malandro, malandro ele não é! Limita-se a fazer o mesmo que nós; Na gravura que aqui se inclui podem quer encontrar um lugar para viver; quer ver-se algumas das muitas formas desses 22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

reproduzir-se, quer perpetuar-se. Só é quenina, para não haver confusões pois pena ser à nossa custa! sabem, tão bem como eu, que existem, nos contos para crianças, além de anões, como Falei-vos de pequenezas, já tão pequeni- os da Branca de Neve, muitos gigantes, nas, tão pequeninas, tão pequeninas, mas mas que de gigantes só têm o nome. Pois ainda existem coisas mais pequeninas que apesar de haver gigantes desses, todos eles infelizmente, mesmo com microscópios são muito pequeninos, muito pequeninos, muito potentes, ainda não se conseguiram quando comparados com o dedo mindi- ver. Essas coisas mais pequeninas são os nho, não o da vossa mãozinha pequenina, chamados átomos, que unindo-se com ou- mas com o da enorme mãozorra do Uni- tros formam moléculas. Estas, unindo-se verso, que é o espaço que vemos quando a outras, em certas circunstâncias muito olhamos á noite para o céu sem nuvens, apropriadas, puderam originar células onde existem coisas tão grandes, tão gran- que são a base da formação de seres vivos. des, tão grandes, milhões, biliões, triliões Curiosamente, muitos dos bichinhos pe- de vezes maiores do que o dedo mindinho queninos que se podem ver numa gotinha da vossa mãozinha pequenina. Mas estes de água são formados por uma única cé- gigantes, mesmo gigantes, parecem-nos lula. tão pequeninos como os animálculos da gota de água, porque estão muito, muto, Essas condições que favoreceram o apa- mas mesmo muito, distantes. recimento de vida na Terra, e os processos que podem ter estado na sua origem fo- Mas usando uma nova ferramenta, o te- ram, até agora, as que dois cientistas, um lescópio, inventado por um sábio italiano inglês chamado Haldane e um outro russo chamado Galileu, e muito, mas mesmo chamado Oparin, melhor os explicam. muito aperfeiçoado depois, permite ac- tualmente, aproximar tanto esses corpos E, se pensam que a pequenez ficava por celestes do céu profundo, que podemos aqui, desiludam-se! Ainda há mais coisas ver até algumas das suas particularidades. pequeninas que os átomos, coisas muito Esses corpos celestes, são as galáxias, as es- pequeninas, muito pequeninas, em que os trelas, os planetas, etc., átomos se subdividem, os protões, os elec- trões, os neutrões. E estes ainda se subdivi- Mas esta galáxia, a da gravura abaixo, po- dem noutras partículas muito mais peque- dem-na ver à noite num local pouco ilumi- ninas, com muitos nomes esquisitos como nado, mesmo sem telescópio. Chama-se a quarks, e outros acabados em ões, como os Via Láctea e é onde que fica a nossa casa, a bosões, os muões, os gluões... Terra e o Sol que nos alumia, nos dá calor, para irmos para a praia, mas que, quando Mas, é mesmo assim, com estas peque- está mais longe, no Inverno, nos aquece nas partículas que são formadas as pes- tão pouco, que temos que vestir muita rou- soas, os animais, as plantas, as estrelas, os pa quentinha. planetas, enfim, tudo o que existe. Como viram, já sabemos muitas coisas! Vamos agora falar de coisas muito gran- Só que ainda nos falta saber quem as fez! des, muito grandes, muito grandes, mi- lhões de vezes, biliões de vezes, triliões Carlos Augusto Santos de Aguiar de vezes maiores que a pontinha do dedo mindinho da vossa mãozinha pequenina. Eu falo sempre na vossa mãozinha pe- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 23

SAÚDE Vamos falar de vacinas… As vacinas, são consideradas co- que recorrendo mo o melhor sistema biológi- a atuações físicas co de proteção preventiva em como a tempera- relação às infeções provocadas por tura, manipula- organismos vivos que possam invadir ções químicas e e contaminar o nosso organismo. Foi mesmo biológi- com Edward Jenner e Louis Pasteur, cas, acompanha- os percursores, que começaram a sur- das com passa- gir as primeiras armas preventivas de gens sucessivas proteção contra esse tipo de invasores, em meios de cultura adequados, per- neste caso foram, os vírus da varíola e mite degenerar o agente infecioso de da raiva. Os métodos de trabalho fo- forma ser injetado num individuo sem ram diferentes, mas a raiz do processo lhe provocar a doença, mas permitir seria a mesma: conseguir pôr previa- assim, um prévio contato, que facilita mente em contacto o invasor com o a criação de defesas. organismo humano, de forma a criar as defesas necessárias para impedir Esse processo pode demorar vários essa invasão virulenta. Tentativas pros- anos até chegar à obtenção do inóculo seguidas neste processo, levaram ao a ser administrado com segurança. Es- desenvolvimento progressivo das va- sa prática foi um grande passo na defe- cinas, levando a que algumas doenças sa e prevenção da saúde sendo adotada fossem mesmo erradicadas do planeta. em todo o mundo (vacina da varíola, do tétano, da raiva, varicela, poliomie- O processo tradicional da obtenção lite, etc.). da vacina, consiste simplesmente em reduzir as características perigosas do Como nas mais variadas situações, agente infecioso, até este poder ser ad- existem sempre problemas de ordem ministrado a uma pessoa sã e dar pos- particular que se prendem tanto com sibilidade ao organismo criar as suas o elemento infecioso como com o in- defesas. divíduo recetor desse tratamento imu- nológico. Trata-se de um processo demorado Com a introdução desta palavra imu- 24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

nológico, damos ingresso a todo um seria obtida num tempo mais longo. mundo de situações e formas de reagir, Temos de brindar aos cientistas da bio- ligadas ao nosso sistema de defesa, o logia e das áreas adstritas a capacidade chamado sistema imunitário. Este ba- de coligir conhecimentos que nos per- seia-se no final, em criar anticorpos e mitiram penetrar no mais íntimo se- defesas imunogénicas que lutam natu- gredo da vida, (código genético, ADN, ralmente, contra o ataque dos agentes RNA, etc.,), e é, dentro deste contexto infeciosos. Como exemplo, podemos que presentemente sabemos como é criar a imagem do desenvolvimen- constituído o próprio vírus (coronaví- to de um exército constituído com os rus sars-cov-2), e quais as formas como nossos próprios meios de defesa, que aborda as células para quebrar a suas se vai opor a um exército inimigo que defesas e infetá-las vem do exterior. Com a administração da vacina, são preparadas as condições A parte vital do coronavírus, é uma para que esse exército defensivo esteja molécula de ARN, que está envolvida previamente disponível. por uma coroa espinhosa. O contac- to de um espinho dessa coroa, com a No decorrer dos duzentos anos en- membrana da célula, permite romper tre o aparecimento da primeira vacina a sua defesa levando à posterior inva- e a descodificação do gene humano, são do vírus para o interior da célula a ciência avançou de uma forma sem que se torna no vetor de proliferação paralelo, de tal forma que estando em do vírus, e se multiplicando, vai desen- presença de uma pandemia foram de- cadear a invasão generalizada do orga- senvolvidas num tempo record, vaci- nismo. nas tecnologicamente mais avançadas. Foram estudos realizados em vários O que pretende esta nova tecnologia centros de investigação genética que é substituir o sistema tradicional do permitiram chegaram à conclusão de agente infecioso atenuado e conseguir, que, se esse espinho ou parte dele fosse recorrendo a uma pequeníssima parte levado a contactar com uma célula, es- do agente infecioso (neste caso da co- ta iria reagir a esse elemento estranho, rona vírus), posta em contato com o denominado antigénio, dando origem organismo, possa promover toda uma à formação de anticorpos. Os anticor- estrutura de defesa que normalmente pos são os elementos fundamentais no Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 25

SAÚDE contra-ataque a esses mesmos agentes obter a vacina por estar conectado com infeciosos. Retomando a figura ante- a parte genética do vírus (ARN mensa- rior dos exércitos: os antigénios (solda- geiro). Na verdade, podem ser levan- dos atacantes) serão destruídos pelos tadas suspeitas, e existem pressupos- anticorpos (soldados da nossa força de tos de que podem colidir com o nosso defesa) evitando a contaminação gene- próprio sistema genético. Segundo ralizada. estudos efetuados nesse sentido, esse problema desparece dada a velocidade De uma forma simplificada pode- de degradação do próprio ARN mensa- mos dizer que com a tecnologia atual, geiro. em vez de se injetar o vírus atenuado, injeta-se um pequeno elemento deste No entanto, a velocidade com que se (uma porção ultramicroscópica envol- desenvolveu todo este sistema de ob- vida num invólucro de lípidos) que tenção da vacina, levanta dúvidas de permite obter o mesmo efeito preten- vária natureza relativas, à sua real efi- dido com a vacina convencional, ou se- cácia, efetividade e segurança a curto, ja, a elaboração de anticorpos, mas de médio e longo prazo. uma forma muito mais rápida e fácil de obter. Dito isto, vem o veredito: vamo-nos sujeitar à vacinação ou não? A atuação destas novas vacinas, co- mo sejam a da Pfizer- BioNtech e da A forma racional será a da adesão, Moderna são baseadas no princípio da dado que, com tanto empenho cientí- utilização do ARN mensageiro como fico, se chegou a este resultado dentro indutor da defesa imunológica. de padrões de segurança admitidos pe- los reguladores sanitários oficiais. As demais vacinas que estão a cami- nho de serem utilizadas, embora com No entanto também será legitimo esquemas parecidos têm processos apresentar algumas cautelas, pois os mais morosos, mas caminham no mes- processos biológicos podem ser indivi- mo sentido e também com graus eleva- dualizados, e podem surgir situações, dos de efetividade. que estão para além da vontade polí- tica da contenção da pandemia a todo A grande questão que levanta agora custo. é que certas pessoas apresentam sus- peitas em relação a esta nova forma de Eduardo Barata Professor universitário aposentado 961 251 090 Pequenos Almoços Refeições Rápidas Pastelaria Omeletes Saladas Tostas Sumos e muito mais! Rua Alfredo Lopes Vilaverde, Nº 15, Paço de Arcos - 2770-009 (No Prédio Das Finanças) 26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

CONTO Diálogo entre a noviça Joana e o frade Matias Sabes por acaso ao que vens? Os as cozinhas, teus pais disseram-te alguma enfim tudo coisa? num estado - Sim senhor Frade Matias. É por lastimoso. causa de um rapaz de quem eu gosto muito! Há dois anos que nos vemos - Mas Frade às escondidas, mas no outro dia Matias, o que apanharam-nos. Já pensei em matar- posso eu fazer? me! Meteram-me aqui num convento só para não poder estar com ele! - Nada, quer dizer, poder - E ele é pobre? Os teus pais não até podes. gostam dele, porquê? Sabes que nós de 15 em 15 dias damos umas festas chamadas Outeiros. Há - Por acaso até é muito rico, mas é bolinhos feitos pelas nossas freiras casado. e muitas guloseimas. Há versos à desgarrada, recitados pelos nossos - Ó Diabo! Ó Diabo! Já estou a convidados. As raparigas dizem as pecar, não devia ter chamado o glosas e eles os versos. Diabo, mas olha, aconteceu! E ele tem propriedades? Quintas, Casas? - Frade Matias, que bom, gosto tanto Herdades? de bolinhos e de versos. Mas! - Sim, senhor Frade Matias. Tem isso - Mas, tu podes convidar o teu amado tudo, mas é casado. e nós tratamos do resto. - Deixa lá isso! Casado ou solteiro, - Qual resto? tanto faz! É preciso é que tenha algum - Não disseste que ele era rico? Pois de seu. se ele nos ajudar a restaurar a igreja, nós, enfim, fechamos os olhos a certas, - Mas ele agora vive separado da como dizer, a certas liberdades. mulher, a condessa de Abrantes, pelo - Ai senhor Frade Matias, que já me menos é o que ele diz. está a deixar nervosa, com essa coisa das liberdades. Se os meus pais sabem - Já ouvi falar dela. E o teu amado disso, ainda me mandam outra vez como se chama? para casa. - Mas, não era isso que querias? Estar - Tenho vergonha de dizer. Mas lá vai: na tua casa? Chegaste aqui contrariada, é o filho do Conde de Castelo Melhor. já não te lembras? Tem 27 anos e eu tenho 18. - Senhor Frade Matias, agora já não. Prefiro ficar aqui. É mais acolhedor. - Unh! Já o tenho visto por aqui pelo convento a rondar! Quer dizer, já o Antonieta Barata tenho visto … por aí, na rua. Precisamos que apareça cá gente com dinheiro. Temos o campanário num estado miserável, as paredes a ruírem, o mofo devido às humidades, os quartos, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 27

ASSOCIATIVÍSMO Numa assembleia em plena pandemia foi aprovado um plano que rejeita o chamado “novo normal” Cumprindo um Procedimento Ex- Actividades a realizar em 2021 traordinário (com recurso às tecno- logias, do simples sms à videocon- I. Projecto “Litera- ferência) para regular o ato de discussão, apresentação e votação das Propostas de cia Democrática” Plano de Atividades e orçamento para 2021, foram, no passado dia 12 de dezembro, em parceria com o aqueles documentos aprovados por cerca de 48% dos Associados. A rejeição que a Centro Qualifica e anormalidade se instale não impediu os Órgão Sociais da “Desenhando Sonhos” de envolvendo Escolas cumprir um dever estatutário. A participação decorreu evitando-se o nor- Secundárias – tem mal recurso ao formato presencial, pelo uso das tecnologias da informação, respeitan- uma elevada proba- do-se desse modo, todas as regras impostas pelo atual contexto de pandemia. bilidade de poder vir Do Plano de Atividades, salienta-se que as atividades planeadas, figuram sem a força a realizar-se tendo em imperativa de um plano a partir do qual se exigiria à Direção que programe e execute conta que envolve e se Projecto Literacia cumprindo com as decisões da Assembleia destina aos jovens do Geral. Assim será executado só o que for Democrática possível, dentro das limitações e cumprindo 12º e aos professores das as regras sanitárias que estiverem em vigor. escolas com as quais temos vindo a desen- volver atividades; II. Projecto “Venham Mais Cinco” – Visitas a exposições e locais de inte- resse cultural e/ou turístico, nos Municí- pios limítro- fes, com deslo- cação limitada Projecto Venham Mais Cinco 28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

à lotação de um (ou mais) automóvel ligei- sário. A “De- ro de passageiros. Tem uma elevada pro- babilidade dado que é uma iniciativa de senhando organização muito flexível e que tem que ser ajustada às condicionantes decorren- Sonhos” foi tes das medidas praticadas pela entidade a quem pertence a iniciativa/evento; convidada III. Projecto “Di- para coorde- reitos dos Idosos e prática da cidada- nar esta co- nia” em parceria missão, que Assinalar 50º Aniversário do com a FARPIL/ Bairro MURPI – Depen- em princípio de, em primeira análise, das condi- integrará dirigentes das seguintes orga- ções de uso das fer- “Direitos dos Idosos e ramentas de suporte prática da cidadania” nizações: EMACO; Clube Futsal de Oei- (videoconferência) que suportarão a iniciativa; ras; Clube de Voleibol de Oeiras e Escu- IV. Projecto na área da saúde, em parceria teiros de São Julião da Barra, cuja sede com a ARIA - Associação de Reabilitação Ajuda e outros, relacionados com os ris- foi recentemente inaugurada e que se cos/efeitos da propagação do Covid-19 – encontra-se em processo de conceção. situa naquele bairro. VI. Excursão à Lourinhã – Dino Parque e Paimogo (visita à homenagem de Vhils a José Saramago, naquela praia) – Tem a sua realização condicionada às medidas que vigorarem à data, pelo que se prevê realizar no mês de setembro. Excursão à Lourinhã – Ver a obra de Vhils Parceria com a AREA – Projecto na Área da Saúde VII. Iniciativas coincidentes com datas relevantes (a programar pela Direção): 21 V. Bairros com História – Celebração do de Março – Dia Internacional da Poesia; 50º aniversário do Bairro da Medrosa, 25 de Abril – Tema relacionado com o em Maio, como resposta a solicitação dos Projecto Literacia Democrática; 5 de Ju- moradores do bairro. Está em vias de ser nho – Dia Mundial do Ambiente; 14 de formalizada a constituição da Comissão Setembro – Aniversário da “Desenhan- Organizadora da celebração do Aniver- do Sonhos” Olívia Matos (Presidente da Desenhando Sonhos) Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 29

EVENTOS Helicayenne - by paulmask.com Finalizamos o calendário Helicayen- que se passa- ne 2021 com o propósito “Cancro da ram na sua vi- Mama” com o intuito de sensibilizar da e que hoje as pessoas para esta problemática. estão de pé e continuam a Ainda existe um medo desnecessário vida normal- para com quem tem essa doença, como se mente. Conse- fosse uma doença contagiosa. Tentamos guimos também ter cronistas e escritoras assim transmitir, que esta é uma doença de forma a “lançar” de 3 em 3 meses, a re- normal e não contagiosa e que pode ser vista. superada, com tratamentos e cuidados es- pecíficos. Numa segunda fase iremos avançar a re- vista em língua espanhola e francesa, com Criamos um grupo no facebook deno- as nossas partners de Espanha e França. minado “Comunidade Cancro da Mama”, para podermos contribuir em algo para A revista foi um sucesso graças ao apoio ajudar pessoas nesta situação, quer em ter- da Voz de Paço de Arcos e a todos os parti- mos de informação como noutros termos. cipantes. Foi também iniciado o projecto “Helica- yenne Magazine”, e lançamos o número 1 - Jan2021 da revista com a temática Cancro da mama. Várias pessoas relataram casos Num outro capítulo, estamos numa fase embrionária do projecto “Helicayenne TV online”, um canal de TV via youtube com diversos temas. Temos pessoas motivadas e prontas para iniciar e brilhar. Como temos dito e feito, esta equipa é composta por pessoas simples e agradá- veis, que gostam de ter alguma actividade e se possível ajudar e motivar o próximo. Se alguém quiser participar, apoiar ou fa- zer parte, entre em contacto connosco. Facebook: Helicayenne Instagram: @helicayenne Site: paulmask.com Email: [email protected] Paulo Mascarenhas 30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

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PATRIMÓNIO Finalmente, até que enfim! Está prevista para este ano a demolição Como as necessidades eram muitas, o pro- da casa abandonada, e em ruína, prietário construiu, ilegalmente, andares localizada na Estrada da Gibalta, no com quartos para receber mais pessoas que Lagoal, junto à Ribeira de Barcarena. lhe eram encaminhadas, e foi assim que um bonito edifício foi transformado num verda- Esta antiga moradia de bela traça, foi resi- deiro pardieiro. dência da família de Luís da Fonseca, era a Vivenda Maria Luisa, nome de sua mulher. Passado este período e com a morte do Posteriormente foi residência da família de proprietário o edifício ficou inativo,atraindo Vitor Ferreira ( o Vitor cabeleireiro, para os as habituais atividades marginais que con- amigos). tribuíram para o seu estado de degradação em que se encontra. Perante a falta de res- Nos anos sessenta, do século passado, tor- posta dos atuais proprietários, a CMO deci- nou-se a sede do Clube Recreativo de Caxias, diu proceder à sua demolição. Decisão que que reuniu muitas famílias caxienses. Fica- saudamos pois a presença deste monstro ram na memória de quem o frequentava os está a prejudicar a paisagem e é um antro de seus animados bailes, as sessões de jogo de problemas de saúde pública. cartas, xadrez, bilhar, ténis de mesa, e outros jogos de salão então em voga. Aguardamos agora a informação do que ali vai surgir. Cremos ser a oportunidade de Tinha um cinema ao ar livre, a esplanada melhorar o acesso às oficinas de automóveis onde, no verão, eram exibidos filmes de lon- existentes nas traseiras e ao parque de esta- ga metragem. Nas noites mais frias viam-se cionamento que serve as praias do Lagoal os mais friorentos equipados com mantas e de Caxias, e a possibilidade de criar mais e camisolas quentes. Haviam atividades lugares de de estacionamento, dada a sua para jovens, e menos jovens, o que permitia proximidade com a estação de caminho de convívios em família, nomeadamente a ver ferro e futuro Hotel Turim. televisão, enquanto não tinham esse revo- lucionário aparelho em casa. Foram mui- Texto: José Marreiro tos espetáculos musicais, e peças de teatro Fotos: Santos Zoio encenadas pelo Diretor Armando Reis. O Presidente era o Sr Mesquita, tendo como outros diretores, os Srs. Paulo Agostinho, França, Elmano, Dias, Dr.Bénard Guedes, Faria, Carvalho Ribeiro, e muitos outros que a minha memória, de momento, não traz ao de cima. Uma vez extinto este saudoso clube, que viu nascer, e desenvolver muitos projetos de vida, foi o edifício vendido e adaptado a casa de repouso de idosos, depois em clínica. Em 1974/5 com a vinda de milhares de compatriotas das ex-colónias, o então criado IARN, para os apoiar, aqui instalou alguns. 32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

Centro Histórico de Paço de Arcos OCentro histórico da vila de Paço a avançar, esperemos que agora possa che- de Arcos continua a sofrer obras gar ao fim sem mais percalços e venha val- de renovação quer de iniciativa orizar ainda mais este verdadeiro centro camarária, quer de investidores privados. comercial a céu aberto. Assim, tem início marcado para Janei- Em frente voltou o Restaurante Bom ro/21, as obras de conversão da Praceta dia, que saudamos e desejamos o maior Dionísio Matias, que muito alterarão as sucesso. A família proprietária é muito an- condições de circulação e estacionamento, tiga na atividade e muito conceituada pelos seguindo a lógica de \"primeiro as pessoas serviços prestados à restauração da vila, ao depois os automóveis\". longo de décadas. Quem tem sempre muitas dúvidas sobre A loja da antiga pastelaria Porto Salvo, e este tipo de intervenção são, naturalmente, até há alguns meses, restaurante de comida os comerciantes, quer os do mercado mu- goesa, está devoluta, para arrendar, aguar- nicipal, quer os das lojas do espaço que o da investidor para um novo projeto. O que circunda, e que são muitas. nos guarda o futuro? Uma loja que preen- cha um vazio e valorize o conjunto, são os As habituais dificuldades de estaciona- nossos votos. mento, mesmo pago, que poderão agra- var-se com o novo projeto, são uma preocu- Mais algumas lojas serão abertas este pação constante face à concorrência das ano, nomeadamente as dos prédios ca- grandes superfícies com os seus enormes marários que estão em preparação ou a parques gratuitos. aguardar projeto. O futuro está garantido assim a situação sanitária, afetada por esta Esta circunstância leva a que sejam espe- pandemia, que continua a não dar tréguas radas, com ansiedade, novas soluções que a quem a denodadamente combate, permi- aumentem o número de lugares de estacio- ta uma recuperação da economia do país. namento. Texto: José Marreiro A pergunta, \"Porque não fazer um parque Fotos: Amaral Figueiredo subterrâneo?” É ouvida com frequência. Não foi equacionada essa possibilidade essa hipótese? Estarão previstas outras al- ternativas para a solução deste assunto, que para muitos é um problema? Aguardemos por novos projetos, com novas soluções. Na Rua Costa Pinto, o coração da Vila, continua a obra do edifício da antiga Casa dos Cassetes, que está a entrar na fase de acabamentos, já se pode aquilatar da quali- dade da intervenção, e que a nós nos parece boa, pela saudamos os seus promotores. O Edifício da Casa Dany, depois de ter sofrido uma paragem, voltou à obra, e está Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 33

NOVOS PROJETOS Sabores do Bairro Osnack bar localizado na esquina com alterações na fachada de cor e toldos da Rua Luciano Cordeiro, com a que lhe dão um aspeto mais agradável. A Rua 1º. de Maio, em Paço de Arcos, Voz de Paço de Arcos deseja que apesar mudou, recentemente, de gerência, e de das dificuldades continue a ser um local nome. Antes era o “ A Esquina”, e agora é preferido por muitos clientes. o SABORES DO BAIRRO”. A mudança de nome foi acompanhada José Marreiro 34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

A VELHICE E A SUA DIGNIDADE O novo normal: mudança ou conformismo Nos últimos tempos, muito A resposta é que esse novo normal, à por culpa da pandemia primeira vista é tão vago quanto con- da Covid-19, duas pala- traditório. Da forma como dia a dia, vras têm sido frequentemente minuto a minuto, segundo a segundo, badaladas aos nossos ouvidos somos movidos à mudança compor- e as mesmas, alojam nos neu- tamental, poderemos voltar ao estado rónios do nosso já massacrado anterior, logo que a pandemia atenue cérebro, que são: o NOVO NOR- ou seja erradicada? MAL. O conceito de o novo nor- mal, diga-se em abono da verda- Penso que a realidade é mais comple- de, não é inédito nem surgiu com xa. Além disso, precisamos analisar as maior impacto por causa da Covid-19. A diferentes etapas do novo normal em re- expressão começou a ser utilizada, com lação à pandemia da Covid-19. maior frequência, após os ataques ou atentados terroristas de 11 de setembro Iniciaram-se de maneira tímida, en- de 2001, das Torres Gémeas, nos Esta- trando nas nossas vidas lentamente dos Unidos, e com maior impacto, pelo e depois expandindo rapidamente. mercado económico em 2009, após a Smartphones, internet, acesso à infor- crise imobiliária do subprime nos Esta- mação e, inclusive, transformações que dos Unidos, que teve reflexos em todo o não devemos ser resistentes, e enfren- mundo. tar de mente aberta. A definição de o novo normal está, sem Dito isto, o novo normal pode ser en- dúvida, associada a uma mudança drás- tendido como uma nova forma de vi- tica da sociedade. Nas duas situações que ver, que irá garantir a segurança e a so- atrás referi, embora tivessem reflexos di- brevivência da população. A expressão retos ou indiretos, sobre as sociedades, novo normal refere-se principalmente influenciou e transformou substancial- às ações quotidianas e à nova maneira mente o nosso comportamento, embora sempre com esperança de a curto ou mé- dio prazo retomarmos, o status anterior. Sucede porém, que, com o apareci- mento do novo corona vírus, o nosso estilo de vida mudou, de tal modo que é perfeitamente humano e compreensível que questionemos: como viveremos da- qui para a frente? Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 35

A VELHICE E A SUA DIGNIDADE de se relacionar, considerando as mu- •Valorização do espaço casa danças enfrentadas, durante a pande- mia. •A cozinha passou a ser um importante compartimento da casa, onde temos de- O novo corona vírus tem um alto senvolvido os nossos dotes e criatividade nível de transmissibilidade. Assim, o culinárias. uso de máscaras de proteção foi suge- rido como forma de diminuir a circu- •Dedicação um pouco mais de tempo à lação do vírus, complementado com leitura e ver filmes que estavam em “fila álcool em gel, lavagem frequente das de espera”. mãos, eventualmente umas luvas ci- rúrgicas, além do distanciamento so- •Exercício físico, não só ao nível da gi- cial, e a etiqueta respiratória, já se tor- nástica, como do caminhar. naram essencial para as pessoas que precisam sair de casa. Afinal, esta é a •Mais cuidado com a higiene, isto é a melhor maneira de se proteger nessas lavagem constante das mãos, a etiqueta situações. respiratória e a máscara. O ritmo de mudança no local de •Conviver melhor com as novas tecno- trabalho é incessante. Quase todas as logias. semanas aparecem inovações digitais e novas abordagens tecnológicas que •Maior envolvimento musical, não só influenciam o nosso “ modus operan- ao nível instrumental, como da composi- dis” do nosso local de trabalho. ção e criação, partilhando o seu resultado final, no whatsapp; facebook, e youtube. Se me permitem antes de terminar, porque pretendo com as minhas cró- •Ser mais solidário, e ajudar os mais ca- nicas, salientar os pontos positivos em rentes. detrimento dos negativos, gostaria de transmitir uma pequena lista e de for- Apesar de sabermos que nada vai ser ma sucinta, o que o novo normal me igual como antes, teremos que apelar “obrigou” saudavelmente a fazer, pen- à nossa inteligência, faculdade que nos so também a muito dos leitores, o que, diferencia dos outros animais, para de outra forma, provavelmente não fa- não sermos vencidos por essa pande- ríamos, a saber: mia. Embora com um grandíssimo es- forço, estou disponível, e o amigo lei- tor, também está pronto para mais este desafio? *Luís Álvares 36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

PSICOLOGIA As consequências sociais e económicas na pandemia Oimpacto da pandemia tem vindo a Encontre revelar-se devastador na popula- meios viáveis ção de uma forma geral e, no sis- para apreciar a tema económico mundial. vida. Não dei- xa que a triste- Estamos a viver um momento especial e za tome conta dramático, que pode ter repercussões na de si. saúde física e mental das pessoas. O conheci- De facto a Covid-19 está a provocar uma mento sobre si próprio pode ser um ele- crise económica catastrófica e originar um mento de transformação pessoal e social. impacto social expressivo. O isolamento social está a reduzir significativamente o Valorize o que é importante, promova a desenvolvimento da produção, consumo, confiança, entrega e aceitação. originar situações de incerteza e insegu- rança. Responsável pela precarização dos Idealize um projeto para o futuro. Elabo- vínculos afetivos devido ao distanciamen- re uma alternativa para sair da crise e pro- to físico, bem como o surgimento de de- cure um caminho que lhe possa dar uma sentendimentos e conflitos em contexto variedade de alternativas sustentáveis. familiar. Estamos a vivenciar uma expe- riência única e impactante que nos obriga O meu livro: “À PROCURA DO CAMI- a uma adaptação díspar e urgente. NHO CERTO”, é um livro que pode aju- dá-lo a tomar uma conduta de vida, que A oscilação emocional a que estamos vá ao encontro do desejável e necessário. sujeitos pode efetivamente ter um impac- to na eficácia do sistema imunitário, pelo A clareza e adaptação dos conteúdos po- aumento da ansiedade generalizada e dos dem contribuir para uma melhor escolha estados depressivos. no rumo a seguir. Neste contexto, crive e analise o fluxo de Contém perguntas e respostas concre- informações a que está a ser submetido. tas, claras, que podem levar a uma melhor compreensão sobre si, o mundo que o ro- Faça uma gestão da quantidade e qua- deia, por forma a promover um estado de lidade de informações que recebe dia- saúde generalizada, por meio de relacio- riamente, com responsabilidade e mo- namentos familiares, sociais e profissio- deração, por forma a manter a sua saúde nais mais harmoniosos e felizes. emocional intacta. Para mais informações poderá contactar- -nos através do Facebook de Mafalda As- Sem dúvida que a insatisfação existe, censão ou do e-mail abaixo indicado. mas é possível aceder a um estado de tran- E-mail:[email protected] quilidade independentemente da situa- ção em que se encontra. Texto elaborado por: Mafalda Ascensão Mesmo na insegurança, pode fazer esco- lhas adequadas e respeitar a vida nas suas Psicóloga de Formação mudanças. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 37

CULTURA Acordo/desacordo ortográfico? Reflexão de M. Barão da Cunha, colaborador de A Voz de Paço de Arcos, 2020.11.25: Já fui confrontado com outros acordos (ou ortográficos, mas penso que o mais re- seja, parece ter- cente parece ser menos pacífico, um -se voltado a uma assunto recorrente, polémico, por vezes, forma antiga), «fô- talvez, demasiado... lhas», «idea», «mitològicamente» (recordo esse acordo, pelo qual estas palavras deri- Li recentemente alguns livros que talvez vadas deixaram de ser acentuadas grafica- apontem para a constante evolução da es- mente, com acento grave), «quási» (comecei crita e que me levou a, mais uma vez, cons- a escrever assim), «tennis» (uma das muitas tatar que muita coisa muda, nem sempre consoantes mudas que deixou de se usar para melhor e/ou nem sempre para pior, antes do último acordo) … dependendo, obviamente, do critério de cada um. A força publica na Revolução (réplica ao ex-coronel Albuquerque), de Teixeira de Pessoalmente, o que mais me espanta foi Sousa, Coimbra, Moura Marques, 1913, ver, o facto do som «z» ter deixado de ser escri- por exemplo, capa e pp 5 a 9: to pela letra «z» em certas palavras, como «Portuguezes» ou «defeza», pois, parece-me Diferenças na acentuação: «á», «aposto- prioritário e sensato que escrita se aproxi- los», «commercio», «credito democratico», me da oralidade, para facilitar a aprendiza- «situação de evidencia», «exercito», «exito», gem … «dias de gloria», «historica», «infatigavel», «nucleo», «Patria», «politica», «proximo», Hoje, 45 anos após uma data histórica em «força publica», «Republica», «resistencia», Portugal, refiro alguns exemplos das se- «actividade revolucionaria», «Seculo», «se- guintes quatro obras: rio movimento», «tragedia», «imposições tributarias», «utilitaria»; Contos, de Júlio Dantas, onde aparecem palavras redigidas assim: no uso de consoantes mudas e duplas: «adherir», «annos», «aquelles», «augmen- «Academia das Sciências» (forma re- tar», «commercio», «commungaram», dundante?), «almôço», «bôca», «desprêso», «emfim», «esculptural», «êsse», «fevereiro» 38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

«dictadura», «districto», «effeito», «effi- Debaixo do Cedro, de Ramada Curto, Lis- casmente», «efficaz», «ella», «illustrando», boa, 1931: «indifferença», «occasião», «opposta», «psy- chologia», «scientes» (mais exemplos de Diferenças na acentuação: «abundancia», consoantes mudas que deixaram de se usar «acacias», «Alcantara», «Angelica», «anony- antes do último acordo, parecendo não ser ma», «automovel», «ceu», «chapeu», «ao necessárias); contrario», «diario», «fabricas d’Alcantara», «ha», «ingenua», «intimos», «matematica», no uso de: s, ç e z: «cançado», «despezas» «miudo», «ninguem», «palido», palpebras, e «portugueza» (mais dois exemplos de um perola, petroleo, predio, proximo, rapido, aparente recuo, pois parece mais fácil as romantica, sciencias, sentado à secretaria, crianças aprenderem, escrevendo sempre silencio, solitaria, tendencia, ultima, unica, o som «z» com letra «z»), «paiz»; «zimborio»; de e/i: «capitaes pedidos»; no uso de consoantes mudas e duplas: de ph/f: «triumphassem»; «acquisição», annos, differentes, elle, hom- de m/n: «emfim» (como no livro referido bro, incomprehendidos, janellas, lecciona- anteriormente); va, licções, programmas, «surprehendido»; de ch/q: «monarchico»; de y: «systema», «psychologia»… de e/i: beiraes, creada, quasi, receioso de sc: «sciencias» (também referido nos A Planicie Heroica, de Manuel Ribeiro, livros anteriores), descance; 1927: de s e z: «detraz», rez do chão, trez, vizi- nhança; Diferenças na acentuação: «êle», «heroi- de y: «anonyma» … ca», «planicie»; Interessante? Mas continuo a não com- preender porque se escreve o som «z» com No emprego de consoantes: g/j: «forgica- «x», por vezes, como em «exato»; ou com ra»; «s», como em «Portugueses» ou em «defe- sa», palavras que até já foram escritas com Palavras que já não se usam: «teslina», «z». «teslinices»; Penso que as nossas crianças agradece- riam… Palavras que deixaram de se usar, embora constem no dicionário: «alcaiota», «compa- Oeiras, 2020.11.23/25, MBC. nha», «embrechados», «milhadura»; «mofi- na»… Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 39

CURIOSIDADES HISTÓRICAS As dúvidas da história - Batalha de Ourique Não se sabe onde se disputou a Ba- acabando por vencer a peleja, levando-o a talha de Ourique, onde o nosso converter-se ao cristianismo, que adoptou primeiro rei desbaratou um exér- como religião oficial do Império romano. cito mouro chefiado por cinco reis, que Porém, no século XIX, o historiador Ale- terá ocorrido a 25 de Julho de 1139, data xandre Herculano mostrou a falsidade da também improvável, pois trata-se do Dia lenda do «milagre de Ourique», baseado de Santiago, um Santo conhecido como em factos científicos, o que lhe valeu pro- «Matamouros». blemas com a Igreja católica, materializa- As hipóteses de onde possa ter ocorrido dos em inúmeras discussões e polémicas. são: ******************* O QUE SE LIA Ourique, Alentejo, embora seja impro- NO FIM DA MONARQUIA vável que por esta altura Afonso I, sediado em Coimbra e combatendo junto do Tejo, Por volta de 1908 surgem em Portugal co- se afastasse para tão longe; lecções de fascículos de aventuras de diver- sos personagens, entre os quais se celebri- Vila Chã de Ourique, Cartaxo, Ribatejo, zaram Texas Jack – o herói das pradarias onde não é provável que aí se deslocassem dos EUA numa época em que era normal 5 reis mouros; matar «peles-vermelhas» - , Capitão Mor- gan – o terror dos 7 mares de piratas das Campo de Ourique, Leiria, tem o mesmo Caraíbas, e Sherlock Holmes – o mais céle- argumento que o anterior; e bre detective policial que não contava ain- da com a colaboração do Dr. Watson, mas Campo de Ourique, Lisboa, é impossível por outro ajudante, de nome Harry Taxon. ser nesse local. Eram, de início, oriundos da Alemanha, A fonte mais antiga acerca da batalha não excediam as 32 páginas, feitos de papel de Ourique é uma crónica que remonta de jornal mas com capas atraentes. Foram ao início do século XV, pois por essa altu- inspirados nos «pulps» (o nome vem do ra, o nosso país acabara de afirmar a in- papel ordinário da impressão) america- dependência, face ao reino de Castela, na nos, como os heróis Nick Carter e Bufalo batalha de Aljubarrota, e, de um ponto Bill, a que se atribuíam também o nome de de vista ideológico, convinha inculcar nas «dime novels» (novelas de 10 cêntimos de mentalidades que, a vitória portuguesa ad- preço de capa). quiria um estatuto divino. Deste modo, os monges de Santa Cruz de Coimbra tra- Havia ainda os folhetins vulgarmente taram de mitificar o «milagre» de Ourique, chamados «de faca e alguidar», que conta- decalcando-o da batalha de Ponte Mílvio, vam grandes tragédias, e que eram distri- ocorrida em 312, que opôs os imperadores buídos ao domicílio. romanos Maxêncio e Constantino. Este terá tido uma visão com a frase latina «In José Aguiar Lança-Coelho hoc signo vinces», que em português signi- fica «Com este signo vencerás», que man- dou gravar nos escudos dos seus soldados, 40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

PINTURA Isabel Mourão (Porto), artista plástica Viveu parte da sua juventude em Vila conceptual, com V​ i Real de Trás -os-Montes. Tem estúdio na Alameda Alto da forte pendor onírico Tem Barra em Oeiras, em Oeiras. Nele, e ante- e simbólico, ora in- riormente também na Fábrica da Pólvo- trospectiva ora por Ne ra-Edifício 27, além da sua atividade , tem vezes satírica em 27, organizado diversas exposições colectivas exp de pintura e fotografia, além de workshops de Desenho e Pintura para crianças , jovens relação aos compor- wo e adultos. tamentos e relações adu FORMAÇÃO: humanas, utilizando como meios, o dese- 1980 - Frequência do Curso de Introdu- nho e a pintura, maFsOtaRmMAbÇémÃO, :ainda que ção ao Desenho e Pintura (IADE),sob a di- de forma mais descontinua1d98a0, -aFgrreqauvêunrcaia, dao Curso reção do mestre Lima de Freitas fotografia e a escrita. e pintor Martim Lapa mestre Lima de Freitas e pintor 1990 a 2004 - passagem pelos Na sua obra a modelaçã1o9d90aaco20r0j4o-gpaasusmagem pelos ateliers do aguarelista Michael papel fundamental, para (aPalélámcio ddoas Cuotriuliczhaé-us, Lisbo Wieben e Manuela Pinheiro ção expression2i0s0t5a-Cdoemotréectrnatiicstaase sob a o (Palácio dos Coruchéus, Lis- mistas, em suproertrtaetos adóivleeor.sos. boa). A sua verten20t0e6 h- uCmursaonPísrtáitcicao de Des é traduzida noPsatsríecuiasTtarvaerbaa, 1lhanoos. 2005-Como retratista e sob a expostos, com200u8m- aFretqeumenátatiocaCurso de orientação do mestre Luís Gui- que revela a cognrusptoadneteartpisrtaoscruesridaentes marães, desenvolve as técnicas de questões re2l0a1c2io- nFraedquaesntacoomCurso de de retrato a óleo. a interioridadeJ,omãoaCsocthaomfelb. ém a observação e leitura dos com- 2006 - Curso Prático de Dese- poArtasmuaenPotEobRsrCasUoRcciSoaOmisA. RaTÍSpTiInCtOura nho e Pintura,-técnicas mistas- com a pin- Centro Por“tTughueêRs odsee”coSo,fimcfeoiraaIiii​nsgapirpcpuaireaelfblsaimealnFiectnua(atn2çeddã0aoca1ço5dãmpo)e oetMnelmroaienatersarvtliiasv,traea,s tora colombiana Patrícia Tavera, 1 ano. Revista comemorativoanír“icCoPeSs-i3m0bólAicoN, oOraSi”n.trospecti Também foi f“eiTtaheumtrearfeoelre”amdç, õacieçmosãmahoiusmdl1ie2amsncraoiestn,aptuidrntoiualaidzddauano,-daogcraovmuor 2008 - Frequenta o Curso de Ilustração da seu trabalho Oficina do Desenho, em Cascais, integran- ções digitais, com seloeCxpNPraeSs.ssiuoanisotbardaeatécmnoicdaeslamçãisotasd,aemc do o grupo de artistas residentes. Ao longo dos anos o seu trabalho vem suscitando um acompanhamento atento e 2012 - Frequenta o Curso de Gravura na comentários por parte de curadores e “Galeria Diferença” em Lisboa sob orienta- personalidades ligadas ao mundo da Arte, ção de João Cochofel. entre os quais Professor Paulo de Morais- -Alexandre , Cecília Mello e Castro, Rui PERCURSO ARTÍSTICO Aço, Jorge Pereira de Almeida e o curador Inicialmente como retratista, num estilo do museu do Louvre Georges Cáceres. realista,com diversas encomendas de re- Suas obras fazem parte do acervo da Fun- tratos oficiais pela Fundação Minerva, a dação Minerva, Fundação D.Luís , Bibliote- sua carreira artística, a partir de 2005 pas- sa a evidenciar-se com a apresentação de temas livres. A sua arte é essencialmente Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 41

PINTURA ca Operária Oeirensas, Galeria Verney, e de leria- Lisboa, Fundação Palácio de Mateus- coleções particulares em Portugal, Bélgica, -Vila Real, Galeria -Centro Regional da Or- Reino Unido e Estados Unidos da Améri- dem dos Médicos-Vila Real, Museu Caves ca, para além de serem incluídas em catá- de Santa Marta, Casa da Cultura-Mestre logos, como o da Bienal Internacional de José Rodrigues - Alfândega da Fé, Palácio Gaia 2019. Ribamar, Galeria IGAS-Lisboa, Internatio- nal Scope Art-Miami-EUA, Bienal Interna- RETRATOS cional de Gaia 2019. Como retratista , tem executado diversas obras para particulares e instituições , entre Em 2018 e 2019 a artista foi selecionada os quais sete retratos oficiais, em óleo sobre para o “Lisbon Open Studios “ organizado tela, para a Fundação Minerva, Universida- pela Castelo D´ IF -publicações entre ou- de Lusíada de Lisboa. ( professores douto- tros na Time Out. res Martins da Cruz, Galvão Telles, Franco Nogueira, Martins da Veiga, Diamantino Artista convidada também para o Salão Durão, entre outros). Primavera - Galeria 27- Edifício 27-Associa- EXPOSIÇÕES ção A Reserva na Fábrica da Pólvora-2019 Isabel Mourão participa de forma cons- tante em diversas exposições individuais e ** Artista convidada e incluída no catálo- colectivas , assim como em ateliers abertos go de artistas pelo curador António Fran- , e em iniciativas de Pintura e fotografia em chini -Bienal Internacional de Gaia 2019- Portugal e no estrangeiro, entre outras e pólo Alfândega da Fé. recentemente em Abril e Maio de 2020 na Quarentena do Desenho-Cascais Oficina OUTRAS ACTIVIDADES ARTÍSTICAS do Desenho, e na iniciativa artística soli- Isabel Mourão criou, de forma regular, dária “Leilão on line-Fundo Covid UP” , a workshops de introdução ao desenho e decorrer de Maio até Julho , com a presen- pintura para crianças e adultos, quer em ça de vários artistas entre os quais António instituições de ensino, (ATLs na escola da Franchini,Rui Aço, Monica de Morais, Gi- Medrosa, Oeiras), quer nos seus ateliers. zela N, Filipe Assunção, Nuno Quaresma, Fez a curadoria da exposição “9 jovens, 9 Pedro César Telles, Eduardo Barata, entre artes “- com alunos de Isabel Mourão, na outros. Biblioteca Operária Oeirense. Em 2019-foi artista convidada na Bienal Responsável pela iniciativa e organização Internacional de Gaia- pelo comissário An- das exposições solidárias nomeadamente : tónio Franchini. -Leilão de arte solidária-Arte Solidária No seu currículo incluem-se exposições -Fundo Covid UP- Maio a Julho 2020- com em: Palácio da Juventude-AMI-Porto, Gale- o apoio do curador António Franchini e ria Verney, Fundação Marquês de Pombal, Oficina do Desenho. Palácio do Egipto-Luchapa, EM OEIRAS, - Centro Comunitário Senhora da Bar- Palácio da Independência -Lisboa, Centro ra, exposição colectiva comemorativa -“S. Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I, Julião da Barra, 20 anos, 20 artistas”com a Universidade Católica de Lisboa, Bibliote- colaboração do júri constituído pelo mes- ca Operária Oeirense, Academia de Artes tre Dário Vidal e pintores Rui Aço e Luís e Museu da Cidade-Lisboa, A Pequena Ga- Guimarães e apoio da Câmara Municipal de Oeiras. - Clube das Gaivotas, Bairro do Rosário, Cascais – workshops para crianças e expo- 42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

sição colectiva de pintura e escultura com Colaborou como ilustradora no livro” Ju Novais e Maria José Brito-no Centro Cul- Voando sobre as asas de um pombo verde”, tural de Cascais. de Helena Osório. -2016 - curadoria e montagem da Exposi- 2015-A sua pintura “The Rose”, foi publi- ção Colectiva de Pintura “My Way”, com a cada pelo Centro Português de Serigrafia participação de 4 artistas plásticos, e o 2016- 3º lugar no Concurso “Vinho com evento Open Studio expo , ambos no Ate- Arte-Descobrimentos “ do Congresso Eu- lier 27, na Reserva da Fábrica da Pólvora, ropeu de Confrarias Enogastronómicas, para apoio da Associação A Solidariedade promovido pela Câmara Municipal de Não Tem Fronteiras- ASNCF- Apoio aos Oeiras-Pelouro da Cultura. Refugiados da Síria e ao Centro Social de 3ª Idade - Nossa Senhora da Barra-Oeiras. Ilustrou o libreto e cartazes do musical “O Astrónomo” de Tiago Sepúlveda, inspi- 2017-Exposição solidária -“Encontros e rado numa obra de Nuno Tovar de Lemos. Travessias”- 7 artistas plásticos -Atelier 27 (2016) OUTRAS INFORMAÇÕES E DESTA- Links:http://cargocollective.com/isabel QUES mourao/About-Isabel-Blue-Mourao Nos anos 80-artista selecionada para ex- www.facebook.com/isabel.mourao posição colectiva na Sociedade Nacional www.linkedin.com/in/isabel-mourão- de Belas Artes-Concurso de Pintura para -17b37111 Pintores Amadores, promovido pelo Diá- www.instagram.com/mourao_i/ rio de Notícias-Lisboa 2014 -SCOPE Inter- Contactos:tlm 00351 933 536 305 national Expo , artista finalista seleciona- [email protected] da- Miami, EUA. COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA DE ISABEL MOURÃO “... Através das experiências plásticas ousadas e es- ras que se penetran y se completan o se destruyen es pontâneas, de desenhos rápidos e expressionistas ou el núcleo essencial del encuentro “Meetings” tema de pinturas mais lentas e elaboradas, as suas obras de tu exposicion” reflectem sempre a procura de si própria e de enten- Expo “Meetings”-2014-CMO-BOO-Oeiras_Lisbon der o olhar dos outros.” Georges Gomez Y Caceres , (Curador do museu do Luís Guimarães, (pintor) Louvre) “...Vi la Procissão de Sto Isidro que me gusto mucho, “... A pintura de Isabel Mourão obriga-nos a obser- sigo pensando que tu pintura es excelente y que var o “eu” no que o “outro” sempre significa para nós. seguiras sorprendiendonos positivamente com tu Isso é encontro. É luta. E coragem. Arte…!”.. Trabalhar a tela e a cor até ao ponto em que nos des- - Expo Procissão-Marques de Pombal Foundation fazemos de parte do que somos para nos ultrapas- Georges Gomez Y Caceres , (Curador do museu do sarmos pelos encontros, em descansos e cansaços, Louvre) pelas alegrias e desvirtudes com que nos encontra- mos nos outros – eis o que a Isabel Mourão tão bri- “Me parece muy interessante, el mundo imaginario lhantemente nos propõe nesta sua Exposição.figura- que creaste apesar de tener sus raices muy arraiga- ção onírica não-surrealista…” das en la realidade, permite que el espectador de tu Expo Meetings-CMO obra, tenga la libertad de crear su próprio mundo. .. Manuel Carmo La pintura …. me parece interessante, pues las figu- Presidente da Manuel Carmo Foundation-New York Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 43

PPOOEESSIIAA Biografia Santos Zoio já disponível na Internet QUEM? “José Maria Montei- Quem faz ro dos Santos Zoio, natural da Cidade do POETA Porto, freguesia de Ser Cedofeita, nascido a 01Junho de 1939 – usa POETA ? o pseudónimo «SANTOS ZOIO» Aos 6 anos, começa a desenhar, Quem faz espontaneamente Aos 11 anos, escreve o primeiro poema, uma redacção sobre FLOR a descoberta do Caminho Marítimo Ser para a Índia, por Vasco da Gama, isto, FLOR ? numa aula de Português do Ciclo Pre- paratório...” Quem faz O Nosso Diretor adjunto, Grande Poe- ta, tem disponível no site confrades da ESCULTOR poesia através do endereço confrades- Ser dapoesia.pt/Biografia/SantosZoio. ESTETA ? htm, toda a sua produção poética. Quem faz OS CONFRADES DA POESIA SÁBIO Ser -é o Meu Grupo ! -é o Grupo dos Meus Irmãos ! �AMOR ? -é a sigla que Associa Santos Zoio-2020-11-28- Paço de Arcos (nossos Esforços SÃOS ! ) Os CONFRADES DA POESIA -Vão à conquista do Mundo ! -Vão até ao fim do Universo ! (-são os Operários de Fundo ! -são os Trabalhadores do VERSO ! ) Santos Zoio 44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

Natal Abatidos em combate Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. São números, números apenas Era gente a correr pela música acima. São notícias que correm diariamente Uma onda uma festa. Palavras a saltar. São malabarismos e esquemas Opiniões, sugestões, orações tementes. Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima. Guitarras guitarras. Ou talvez mar. São aos milhões em todo o Mundo E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. São da pandemia sérias perversões São estatísticas de um mal imundo Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acon- E a subirem de tom as contradições. tecia. No teu ritmo nos teus ritos. São a busca do domínio da própria ciên- No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia). cia Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos. São a investigação no seu bem maior E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu São os gritos perversos da sobrevivência dia. Todos os dias e semanas sem nada me- No teu sol acontecia. lhor. Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia São os humanos que lutam pela vacina nostalgia). São as informações descontroladas Todo o tempo num só tempo: andamento São como guerreiros numa chacina de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E Em batalhas ferozes, desorientadas. acontecia. Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva São números diários dos que são vencidos acontecia. E em cada acaso. Como um pouco São mortos sem rosto e gente sem nome de água turva São médicos bramando não convencidos na cidade agitada pelo vento. Dos males de um Mundo que os consome. Natal Natal (diziam). E acontecia. São vírus à solta que abatem inocentes Como se fosse na palavra a rosa brava São combates ao segundo sem obediência acontecia. E era Dezembro que floria. São hospitais em ruptura, políticos incoe- Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava. rentes E era na lava a rosa e a palavra. Tempos confinados, não socializada Todo o tempo num só tempo: nascimento de convivência. poesia. Manuel Alegre, in ‘Antologia Poética’ 26 de Setembro de 2020 Maria Inês Bastos Mário Matta e Silva Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 45

POESIA Ser crente Tocar o horizonte Ó não te preocupes eu sou crente E creio no que tu não acreditas Derramo em frenesim meus pensamen- Na vida há sinas más outras benditas tos São os signos comuns a tanta gente Pela vasta planície de papoilas coberta E o horizonte lá tão longe me desperta Eu sei que o meu caminho é diferente A vontade de o tocar em meus con- Dos caminhos sem porto onde melitas strangimentos. E que no teu real tu ressuscitas Miríades de uma estrela refulgente Atiro versos no alto da serra, na sua serenidade Somos velhos amigos bem diferentes Desvendando nela momentos risonhos Nas crenças nos talentos no saber Ondulo até ao horizonte nesses meus E nada vai poder-nos subverter sonhos Onde tantas vezes revejo a mocidade. Eu nunca o tentarei tu não o tentes Eu sou de Deus tu és do teu querer E o mar! Na sua ondulante agitação Amigo eis a razão de em paz viver Que chega ao horizonte vibrando uma canção José Alfaia Trazida pela espuma que corre sob a ponte Vem desbravar o peito na sua maresia No seu cantar suave e doce, à luz do dia Deixando-me viver e amar, olhando no azul, o horizonte. 30 de Agosto de 2020 Mário Matta e Silva 46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

EDUCAÇÃO Nada nem ninguém é igual... Comparamo-nos desde pequenos. Quem tem o melhor carrinho ou a boneca mais linda; os ténis da moda; o penteado mais cool; o telemóvel mais caro; a melhor bicicleta; a namorada mais gira; a melhor faculdade; o melhor curso; o carro mais desportivo; o melhor emprego e por aí adiante. Desde a simples comparação com os sapatos da colega de trabalho ao ordenado e à aparência… vive- mos nisto! E porquê? Para quê? Para nada, porque nada nem ninguém é igual. Todos somos diferentes. Cada um tem a sua personalidade única, o seu jeito, o seu estilo, os seus gostos, os seus dons. Queremos ser iguais ao ator tal, à cantora y, ao youtuber x, à blogger z… Nem os pais, que até têm noção disso, conseguem, a tempo inteiro, deixar de comparar os filhos entre si ou a si mesmos quando tinham a mesma idade. No entan- to, nem os gémeos verdadeiros são iguais. E, mesmo que as semelhanças físicas sejam demasiadas, a personalidade nunca é. Podem ter vinte filhos, que Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 47

EDUCAÇÃO Acreditar nunca nenhum será igual ao outro. Não tenho medo de viver Assim como na natureza. Há padrões Não tenho medo de morrer Tenho medo de ficar estagnada no meu idênticos, mas nunca iguais. Não há uma ser flor exatamente igual à outra, uma bor- Não poder aprender boleta cópia de outra e nem sequer uma Não conseguir crescer zebra com as riscas todas no mesmo sítio. Não poder sair e evoluir Parecem iguais, mas não são! Despertar e sorrir em cada amanhecer Preciso continuar a acreditar Esta variedade e singularidade do uni- A lutar sem parar verso é que o torna tão belo, único, espe- Pela vida, liberdade e bem estar cial. Assim como cada um de nós! Por isso, Pelo amor sem dor vamos tentar deixar de nos comparar. Pela amizade sem cobrar Deixar de comparar o que não tem com- Por aquilo que há de melhor paração. Não há ninguém como nós e isso No ser humano que é torna-nos incomparáveis. Ao tentarmos poder amar alcançar um ser que não é natural, acaba- mos vítimas de um ideal que não existe. Tentamos alcançar o vento. E muitos ficam frustrados, tristes, infelizes, deprimidos. Ao invés de nos concentrarmos nos de- feitos, vamos antes reconhecer e abraçar as qualidades especiais que cada um de nós possui e que fazem de cada ser a pessoa única que é. Vamos celebrar e brindar ao fato de sermos únicos, especiais. E cele- brar esse fato é aceitar isso mesmo. Aceitar as nossas diferenças e as dos outros. Acei- tar que não temos de ser iguais a ninguém para sermos bons e gostarem de nós. Acei- tar que sermos apenas o que somos é sufi- ciente. É ímpar! E essa é a grande beleza! Brindemos a nós e à vida! Sara Carvalho 48 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020

RECORDANDO Não desistas IASFA, apresentação de um livro com a participação do Prof. Adriano Moreira Foi umas iniciativa da Associação Coração Amarelo de grande êxito, que tinha como objetivo incitar os menos novos, a manter atividade física e intelectual para contrariar o sedentarismo. Para isso, eram organizados eventos com convidados com vidas exemplares a esse nível. Uma das memoráveis sessões, talvez a maior, teve como convidado o ilustre Pro- fº. Adriano Moreira, que encheu por com- pleto, o Auditório do IASFA, em Oeiras. Apesar da sua idade avançada, mais de 90 anos, manteve-se de pé, cerca de duas ho- ras, num entusiasmado, e entusiasmante, discurso à volta da sua grande e multiface- tada vida. Foi uma palestra memorável que muito enriqueceu a assistência. Para a Associação Coração Amarela foi uma das suas iniciativas de maior sucesso e que não esquecerá a quem teve o privi- légio de assistir. José Marreiro Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020 49

LANÇAMENTOS O Homen sonha? Lançamento do livro de Manuel Barão da Cunha Nesta fotografia feita por Car- de Oeiras, Liga dos Combatentes e Co- mo Montanha, da CMO, em missão Portuguesa de História Militar, e 2020.12.28, na Livraria Municipal que visa contribuir para um melhor co- Verney: editor Daniel Gouveia, presiden- nhecimento da História de Portugal, no te Isaltino Morais, vice-presidente Fran- respeitante ao final de um dos principais cisco Rocha Gonçalves, coronel Marcos impérios mundiais: o império português Andrade e autor. em África. (…)». O posfácio da obra coube ao coronel O Homem Sonha? é o título do livro de Marcos Andrade (diretor do Jornal do Manuel Barão da Cunha lançado no Exército). passado dia 28 de dezembro na Galeria- Manuel Barão da Cunha nasceu em Lis- -Livraria Municipal Verney. A cerimónia boa, em 1938. Licenciou-se em Ciências contou com a participação do Presiden- Militares e em Ciências Sociais e Políti- te da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. cas, tirou o curso geral do Estado-Maior Isaltino Morais, e do Vice-Presidente, dr. do Exército; e comandou um pelotão de Francisco Rocha Gonçalves. reconhecimento do Grupo de Dragões O prefácio da publicação coube ao Pre- de Angola e uma companhia de Cava- sidente, que sublinhou o papel prepon- laria na Guiné, tendo sido condecorado derante de Manuel Barão da Cunha, com a medalha Cruz de Guerra. enquanto colaborador do município de Foi colaborador na Câmara Municipal Oeiras, «no sucesso de inúmeras rea- de Oeiras, tendo recebido duas meda- lizações culturais da Galeria-Livraria lhas de ouro de mérito; participou em Municipal Verney», tendo organizado vários livros publicados sobre História «a Colecção Fim do Império, uma ini- Militar, como autor e organizador; e foi ciativa apoiada pela Câmara Municipal condecorado, em 2017.11.11, pelo Presi- dente da República, com a medalha de Defesa Nacional de 1.ª classe. Adaptado do texto do município de Oeiras, publicado no FACEBOOK, em 2021.01.09: 50 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 32 Dezembro 2020


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