Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore Capítulo XXV - Mitos e Criação

Capítulo XXV - Mitos e Criação

Published by Especulatorio, 2019-09-09 11:37:08

Description: Apenas como detalhe ou como parte integrante da história, os mitos de criação são um aspecto a que já estamos habituados quando entramos num mundo especulativo.

Por isso mesmo, este capítulo quisemos investigar este tema um pouco mais, trazendo review de livros, análise de jogos
ou reflexões bem interessantes aliadas a mitologias ou RPGs.

Afinal de contas, os nossos mitos são um reflexo de onde vimos e podem influenciar para onde vamos.
Atrevem-se a olhar com novos olhos para o Mundo?

Keywords: Mitos de criação,RPGs,Boardgames,Livros,Ler,Escrita,Eventos,Jogos

Search

Read the Text Version

Janeiro 2019 2 ÍNDICE LENDÁRIA LIGA LITERÁRIA 12 MITOPOESE 18 Páginas que ESTANTE ESPECULATIVA 23 dão Asas PAWN OF PROPHECY: MUNDICRIAÇÃO CLÁSSICA 50 Lancem Iniciativas MITOS DA CRIAÇÃO 16 26 LUDODRAMA: MITOS DA CRIAÇÃO NOS JOGOS NARRATIVOS Folhas e IDEIAS PARA ESCREVEREM 8 Rabiscos CONSELHOS DE AUTOR: ESCRITOR - SER OU NÃO SER? 10 CONTOS DO ESPECULATÓRIO 24 Especulando MÁTSUNGR: A ÚLTIMA QUEIMADA 34 a Realidade 17 Uma Caixa NOVOS LANÇAMENTOS 44 47 Cheia de ENTREVISTA A: BESTIÁRIO TRADICIONAL PORTUGUÊS Peças 9 CALENDÁRIO DE EVENTOS 20 KICKSTARTER DO MÊS: WINDWARD CRIANDO DEUSES GEEKS E CIÊNCIA: MUNDOS 4 39 MAMMA MIA!CRONOS ATE THE BABY AGAIN 48 53 Outras WEBCOMIC: Á ORDEM DO ESPECULATÓRIO Especulações RECEITA: ISICIA OMENTATA - O PRIMEIRO HAMBÚRGUER

EQUIPA DO ESPECULATÓRIO 3 Especulatório MARIA INÊS SANTOS EDITORIAL Educação para a Cidadania Global ocupa-me 35 horas semanais, ser geek “When we lose our myths we lose our ocupa-me a vida toda. Viciada em place in the universe.” ler sempre, boardgamer ocasional e jogadora de D&D novata [Madeleine L’Engle] CARLOS ALMEIDA Apenas como detalhe ou como parte Programador durante o dia, geek integrante da história, os mitos de inveterado durante... bem, sempre! criação são um aspecto a que já estamos Seja com boardgames, RPGs, livros, habituados quando entramos num mundo filmes, series, jogos de computador e especulativo. consola, vão sempre encontrar-me a fazer qualquer coisa geek! Por isso mesmo, este capítulo quisemos INÊS FRAGATA investigar este tema um pouco mais, Sou uma Bióloga Evolutiva que tem trazendo review de livros, análise de jogos uma paixão por jogos, livros e RPGs. ou reflexões bem interessantes aliadas a Um dos meus projectos é tentar criar mitologias ou RPGs. um jogo que permita juntar os meus hobbies e a biologia! Afinal de contas,os nossos mitos são um CATARINA SANTOS reflexo de onde vimos e podem influenciar Estudei Biologia da Conservação para onde vamos.Atrevem-se a olhar com por gosto, trabalho à secretária por novos olhos para o Mundo? necessidade, mas as minhas paixões incluem a escrita, os livros e todo o tipo de jogos! Viciada em podcasts, webseries e clubes literários. DIOGO FIGUEIREDO Biologia, cozinha, eletricidade, vários oficíos, mestre de nenhum. Gigantesco nerd por comida, cerveja, RPGs, videojogos, boardgames, cinema e continuamente em busca de mais. ANA FRAGATA Escolhi arquitectura como profissão, sou uma ‘wannabe’ ilustradora como hobbie e uma geek a tempo inteiro. Sempre pronta para a jogatina ou um bom livro. E sempre disposta a partilhar um pouco da minha loucura. DANIEL ALVES Biólogo para satisfazer a minha eterna curiosidade, geek antes de conhecer a palavra. Contador de histórias procurando novas formas de o fazer, falta tempo para consumir toda a cultura que queria.

Janeiro 2019 4 OP áu gt ri na as sEqs up e cduãloa çaõseass GEEKS E CIÊN Vemos que no nosso mundo todas as Esta rúbrica procura juntar ciência e mundos e por detrás de uma máquina impossível até est culturas têm os seus mitos de criação, uma de mundos fantásticos. O objectivo é mostrar c vez que as nossas origens são claramente um dos grandes mistérios do nossa civilização. pensam sobre a criação da realidade que conhecem. Neste artigo mostramo-vos como é que os mitos da criação são também vistos na ficção No fundo, será que somos também obras especulativa, onde a criação é efectivamente da imaginação de uma entidade escritora? feita por uma entidade conhecida, o escritor. THE LORD OF THE RINGS Vamos ver como é que esse escritor magina o que as suas personagens no seu mundo Tipo de mundo: Terra Média.Originalmente plana mas, após o afundamento de Númenor, tornou-se num planeta. Entidade criadora: Eru Ilúvatar, acompanhado pelos restantes Ainur. Quando: Não existem datas exactas mas várias centenas de milhares de anos (possivelmente milhões) antes dos eventos dos livros Como: Eru Ilúvatar,a suprema e primordial divindade, existia no meio do vazio. Ilúvatar cria os Ainur a partir de conceitos e manifestando-os corporeamente.

POáugti nr aass Eqsupeedc ãuol aAç õs ea s 5 Especulatório NCIA: MUNDOS especulativos: seja através da possível ciência BIG BANG tatísticas de jogos, passando por ecossistemas como até na especulação pode haver ciência. Tipo de mundo: O nosso A estes seres é ensinada a arte da Música Processo criador: Leis da Física por Ilúvatar. Ilúvatar começa então a criar a primeiro melodia. Quando: Aproximadamente 13800 milhões de anos Os Ainur juntam-se eventualmente à música, contribuindo cada um para a música Como: No princípio existia um ponto com com o conceito que lhe corresponde, levando densidade e temperatura infinitas. à criação do mundo. Mas o primeiro dos Ainur a ser criado, Melkur, por conhecer mais dos pensamentos de Ilúvatar,decide impôr as suas ideias no meio do coro. A dissonância assim criada será a origem do mal no mundo. Após a criação do mundo os Ainur vão ocupar o mundo, criando posteriormente as raças livres (Humanos, Anões e Elfos). Estado actual: Após os livros da trilogia original,o mal foi aparentemente removido do mundo, pelo que o estado parece bastante bom. Curiosidades: J.R.R.Tolkien era amigo de C.S.Lewis, o criador de As Crónicas de Narnia.

Janeiro 2019 6 PO áu gt ri na as sEqs up e cduãloa çaõseass guarda-fatos,quadros e ao ser chamados pelo som de uma trompa. Há aproximadamente 13800 milhões de anos, o espaço começou a expandir e a matéria Entidade criadora: Aslan, o leão dourado começou a interagir entre si, originando partículas sub-atómicas, depois átomos e Quando: Não se sabe bem, se bem que eventualmente o universo tal como o Digory e Polly, juntamente com mais umas conhecemos. personagens, assistiram à criação de Narnia, portanto algures durante o século passado. Estado actual: No nosso planeta,complicado. No universo conhecido, calmo. Como: No princípio havia apenas escuridão, No universo desconhecido, surpresa, não depois uma voz começou a cantar, e da sua sabemos canção nasceram as estrelas que cantaram também por sua vez. NARNIA Tipo de mundo: Um mundo paralelo ao Depois veio o sol, e, eventualmente, a terra nosso, podemos aceder-lhe através de onde plantas e animais começaram a aparecer. A certos animais, Aslan deu o dom da fala para poderem governar Narnia e a protegerem. Estado actual: Foi destruída no último livro (alerta spoilers!) portanto nada de muito bom para podermos tentar ir visitar Curiosidades: C.S.Lewis e JRR Tolkien eram amigos.Para além disso esta obra é considerada uma obra muito ligada à teologia, devido à maneira com que Aslan é descrito,mas também o tipo de interacções que existem ao longo dos livros

POáugti nr aass Eqsupeedc ãuol aAç õs ea s 7 Especulatório MISTBORN ficaram presas numa batalha eterna, até que a Preservação ofereceu à Ruína um pacto. Tipo de mundo: Um mundo que está coberto de cinza e com nevoeiro que aparece Juntas criariam um mundo e eventualmente durante a noite a Ruína poderia destruí-lo. Entidade criadora: Os pedaços de poder da Juntamente com o mundo e plantas e preservação e da ruína e mais tarde Rashek animais,a Preservação quis criar os Humanos. Quando: Há alguns milénios Estado actual: Actualmente voltou grande parte ao que era antes de Rashek ter Como: Os pedaços de poder chegaram à transformado o planeta. zona conhecida como Scadrial, mas sendo os dois representantes de intenções diferentes Curiosidades: Mistborn tem um dos sistemas de magia mais estranhos da fantasia. Em Mistborn, os magos usam a magia dos metais, com cada metal tendo um efeito diferente. Por exemplo, o latão tem o poder de melhorar os sentidos, enquanto o estanho melhora as capacidades físicas do seu utilizador. Mais interessante é que os utilizadores têm de consumir (ou seja) comer os metais para poderem usar os seus poderes. Daniel e Inês

Janeiro 2019 8 Páginas que dão asas Folhas e Rabiscos IDEIAS PARA ESCREVEREM Todos os capítulos da revista incluem um conjunto de ideias relativas ao tema da próxima revista, para vos motivar a escrever mais. Se quiserem partilhar connosco os vossos contos, enviem-nos um e-mail até 25 de Novembro. Ao submeterem os vossos contos estão a permitir que estes sejam divulgados na nossa página, revista e Facebook, assim como em qualquer outra rede social ou actividade, que não sejam sujeitas nenhum tipo de remuneração.Continuam a deter todos os direitos sobre os textos submetidos! Fiquem então com algumas ideias para escrever. Desafiamo-vos! • O teu protagonista acabou de cair num mundo fantástico. Descreve uma visita a um mercado cheio de produtos nunca antes vistos. • Durante um passeio por uma floresta aparentemente normal uma das tuas personagens encontra uma estranha fruta que parece chamar por ela. Usa os cinco sentidos para escrever sobre esta experiência extraordinária. • Num mundo onde a agricultura desapareceu, devido às alterações climáticas, por exemplo,toda a comida é produzida artificialmente.Numa viagem a um local remoto do mundo, a tua protagonista encontra pela primeira vez plantas reais, cobertas de pequenas bagas.

Uma Caixa Cheia de Peças KICKSTARTER DO MÊS: WINDWARD 9 Especulatório Este mês venho falar-vos do Windward, também pode surgir se houver pessoas que queiram roubar a carga a outros. Por fim o um jogo sobre capitães do céu e batalhas pagamento é entregue quando chegam à entre as nuvens. cidade flutuante. O que inicialmente me chamou a atenção A parte mais aliciante para mim é que as para este jogo foi o “flavour”, os jogadores mecânicas do jogo e o tema parecem estar são capitães de navios no céu, cujo o mesmo ligadas, fazendo com que o jogo se objectivo é lutar contra leviatãs dos céus eleve acima de um jogo normal. Para além para colectar gás para a cidade flutuante. disso parece misturar mecânicas como o Para isso tem de se maximizar a direcção “pick up and delivery”, combate, gestão de dos ventos e gerir bem o trabalho da recursos e minis espectaculares. tripulação. Em geral parece um jogo que pode ter Em linhas muito gerais, o objectivo do bastante “replayability” e que derá origem a jogo é colectar o gás que a cidade mãe muitas discussões de onde o vento sopra! :p precisa para se manter a flutuar nos céus do planeta. Para tal os jogadores dispõe de um Boas jogatanas, navio, que pode ser melhorado, lugares para Inês tripulantes (que têm de ser contratados) e 4 movimentos. No entanto, movimentos na direcção do vento são de borla, o que quer dizer que quanto mais se andar na direcção do vento menos movimentos se têm de gastar. A fonte de gás no planeta são leviatãs, que têm de ser derrotados em combate através de cartas da mão e o sistema de combate do navio. Combate entre jogadores

Folhas e Rabiscos J a n e i r o 2 0 1 9 10 CONSELHOS DE AUT ESCRITOR - SER OU N É curioso quando penso nisso, mas diria (ou quase todos os dias). Stephen King escreve 2000 palavras todos que Inspiração para Escrever e Motivação para Escrever são ideias quase opostas. os dias, Iain Banks consegue 3000. Todos os dias. É a diferença entre pegar numa maçã da fruteira da sala e ir comê-la calmamente para Claro que há outros mais comedidos, a varanda a ver o mar e… semear a macieira, Hemingway escrevia 500 palavras por dia e regá-la, protegê-la das pragas e dos insectos, Graham Greene , 600. vê-la crescer até dar maçãs, colher as maçãs, colocá-las na fruteira em casa e depois, ao Não é preciso mais do que isto.Mas é preciso domingo, pegar numa maçã da fruteira e ir este esforço, esta disciplina. Eu faço o esforço comê-la calmamente para a varanda a ver o para escrever 500 palavras por dia,embora haja mar. fases em que não consigo nem chegar perto e outras em que até escrevo mais. Nunca tive propriamente problemas com a Inspiração–claro que por vezes (muitas vezes) E há momentos, inevitáveis e complicados, é preciso trabalhar nas ideias, limpá-las, em que não escrevo nada, mas são momentos desenvolvê-las,mas o verdadeiro trabalho está tormentosos. em colocar-me à frente do computador e verdadeiramente escrever. Anne Rice,por exemplo,é capaz de escrever 3000 palavras por dia depois de passar algum Parece óbvio mas não é: há muita gente por tempo a desenvolver a estrutura e o enredo. aí que sonha em ser Escritor mas evita a toda a força o trabalho de… escrever. E depois há que polir, editar, revisar, reescrever, etc. Os escritores profissionais,as nossas lendas, são os que conseguem escrever todos os dias É para tudo isto que é preciso Motivação. E quanto a isso não há grandes atalhos. Um Escritor tem de ser capaz de escrever,

TOR: Folhas e Rabiscos 11 E s p e c u l a t ó r i o NÃO SER? Uma rubrica que vos traz variados conselhos ponto. Tem de ser capaz de fazer o trabalho. de autores. Este mês temos o prazer de ter A base da Motivação para Escrever vem do as dicas de Bruno Martins Soares, escritor, argumentista, dramaturgo, jornalista e que eu chamo Aceitar o Caminho. publicitário. Ser-se escritor é como ser-se um Cavaleiro Ganhou o Prémio Nacional de Jovens Criadores na vertente de Literatura, já escreveu Templário determinado a chegar a Jerusalém. e publicou vários livros, filmes, peças e É um caminho de perigos e esforços, mas um contos, tanto em Português como em Inglês, Cavaleiro tem de aceitar que essa é a sua vida incluindo a trilogia de FC/Fantasia “A Saga de –caso contrário nunca chegará ao seu destino. Alex 9”, e os romances “The Dark Sea War Chronicles”(publicado em Portugal como E o primeiro momento deste caminho para “A Batalha da Escuridão”) e “Laura and the Jerusalém é apenas um: decidir ir.Dar o primeiro Shadow King”. passo, e depois o segundo, e depois o terceiro e por aí fora. construção das personagens, reescrever partes que gostamos menos, etc. Vão haver momentos de bloqueio? Vão. Fico surpreendido quando vejo algumas Mais uma vez, aceitar o trabalho, aceitar o pessoas a duvidarem sequer que os Bloqueios esforço. Pé ante pé. de Escritor sejam um fenómeno verdadeiro. Mas são. E vale a pena? Há momentos, muitas vezes desesperantes, Para um Escritor vale. em que não se consegue escrever uma linha Está no cerne do seu ser. É tão importante que seja. como respirar.Para um Escritor,sonhar é pouco. Mas esse é um obstáculo como outro É preciso viver. qualquer.Para o ultrapassar é preciso trabalhá-lo. Não é preciso ser-se um Escritor para Rever a estrutura, rever o enredo, rever a escrever algo de monta,para escrever algo que valha a pena. Mas para se ser um Escritor é isso mesmo que temos de fazer. Bruno Martins Soares

P á g i n a s q u e d ã o Aa ssaass J a n e i r o 2 0 1 9 12 LENDÁRIA LIG QUAL O LIVRO QUE MAI E é chegado o momento para Este aviso é senso comum em qualquer Liga mas nesta ganha um mais uma Lendária Liga Literária!!! destaque maior: SPOILER ALERT! Como sempre, antes de divulgarmos os E porque é uma edição especial, poderão concorrentes da nova Liga,deveríamos anunciar votar no vosso favorito dos 4 imediatamente. o grande vencedor da edição passada…. Como sempre, podem encontrar Pois, mas desta vez deixamo-vos a votação no nosso Facebook. em suspense mais um bocadinho, até descobrirem afinal de contas qual o livro Contamos convosco! que tem a personagem secundária que melhor consegue roubar as atenções. Maria Inês e Ana Nesta edição da LLL a missão será um pouco diferente do normal. Queremos homenagear os 4 anos do projeto Especulatório online, que se iniciaram com o início do nosso blogue e que depois foi transformado nesta revista. Por isso, decidimos escolher 4 livros que nos marcaram nos últimos 4 anos e que trazem grandes surpresas. Tudo para descobrir o livro que mais nos consegue surpreender com o seu final (e não só!).

Páginas que dão Asas 13 E s p e c u l a t ó r i o GA LITERÁRIA IS NOS SURPREENDEU?

J a n e i r o 2 0 1 9 14 P á g i n a s q u e d ã o Aa ssaass CONCORRENTES 1 E 2 DRAGONSBANE THE CRYSTAL SHARD ONDE ONDE Winterlands Glade O QUÊ O QUÊ O Deep of Ylferdun, é tomado por Morkeleb, Há um labirinto fora das paredes na Glade, lá um dragão. O rei envia o príncipe Gareth existem os grievers, ninguém tem memórias parte pelas Winterlands, para encontrar John e não há raparigas ali. Um dia depois de Aversin, o único homem a ter morto um Thomas chega Theresa, que faz despoletar uma cadeia de acontecimentos. As portas do dragão. Aversin e Jenny a sua mulher, aceitam labirinto ficam abertas durante a noite e há tentar novamente o impossível. Agora ataques. Thomas descobre que é necessário terem as memórias de volta para poderem aquilo que torna este livro uma reviravolta: sair da Glade. Num momento final acabam descobres que o rei está enfeitiçado por todos por entrar dentro do labirinto com o Zyernne e que afinal o dragão não é uma fim de saírem daquele local, alguns ficam besta sem consciência, não é mau e, o pelo caminho, mas no fim do labirinto não há uma saída. Há um laboratório e pessoas que melhor de tudo, veio do espaço (!!!). PORQUÊ dizem estar ali para os ajudar. Porque mais metade do livro estás sempre PORQUÊ á espera que seja uma batalha entre um homem ou um grupo de pessoas e um Passei metade do tempo a pensar que eles dragão, para no final ser o dragão a dar cabo alucinaram tudo ou que estavam numa da feiticeira e fazer uma proposta irrecusável a Jenny. Esqueci-me de dizer que este é nave espacial. Afinal saem de dentro de um laboratório... apenas o primeiro livro?? ACOMPANHA COM ACOMPANHA COM Um café cheio e um shortcake super nice Um balde de pipocas doces e salgadas

Páginas que dão Asas 15 E s p e c u l a t ó r i o CONCORRENTES 3 E 4 THE FINAL EMPIRE CROWN OF MIDNIGHT ONDE ONDE Mundo de Scadrial, na cidade de Luthadel Erileia, reino de Adarlan, O QUÊ O QUÊ? Seguimos Vin, Kelsier e o grupo a tentar Celaena Sardothien, uma assassina derrotar o tirânico Lord Ruler. Infiltram a profissional e agora ao serviço do rei, tem de nobreza, treinam com os metais e dão os encontrar o equilíbrio entre as ordens que primeiros passos para uma revolução. recebe e o seu sentido de justiça. Tudo muda É com a inesperada morte de Kelsier que com a morte de alguém muito próximo. Na a revolução passa de plano a tangivel, procura de justiça e vingança, acaba por mas é com a sua imortalidade que essa mostrar os seus segredos. Não só Celaena é possibilidade se transforma em realidade. Fae, como nos deixa um “bomba” nas mãos Vin defronta o Lord Ruler e descobre que antes de fugir do reino - é a princesa perdida tudo o que pensávamos saber não é verdade. que poderá ser a resposta para restaurar a PORQUÊ paz no reino. Há o inesperado - a morte de uma das PORQUÊ personagens consegue dar início a todo um outro período da história! E o que é Há momentos surpreendentes durante o surpreendente é como todo o plano está livro mas é o final que nos troca as voltas, escondido até virarmos a página. Faz-nos não com um mas com dois plot twists. Um querer começar de novo e tentar perceber se mistério antigo a que não damos muita Kelsier nos deu alguma dica do seu plano. atenção torna-se o foco da história. Quem ACOMPANHA COM estava à espera disto? Eu não, de todo! Algo reconfortante, o livro já nos dá as voltas ACOMPANHA COM suficientes Uma bebida energética, não podemos parar de ler agora! Icons de livros da autoria de Abdo (Noun Project)

LP aá ng ci neams Iqnui cei adtãiov aass a s MITOS DA CRIAÇÃO J a n e i r o 2 0 1 9 16 O processo de criação é algo que Este artigo é da autoria do nosso convidado,Daniel Carvalho, membro do canal Rola Iniciativa. facilmente pode ser descrito como mágico. O simples facto de conjurarmos algo a Uma resolução diplomática em que as partes envolvidas chegam a um consenso partir do éter, é mais que suficiente para os mutuamente favorecedor? As suas convicções alquimistas de outrora se revoltarem nas suas o dirão. campas de cobre. Mas é de História que falamos. Daquilo Num instante, podemos ter um mundo, que fica quando a nossa hora chega e o devidamente povoado e categorizado. Caso nosso legado assume o nosso lugar. Quantos sejamos mais ambiciosos, podemos então aventureiros, quantas figuras importantes já criar um universo em constante expansão e passaram pelo mundo? Qual foi o seu impacto à espera de ser descoberto. Podemos ainda ir nele? O quão sentida é a sua recordação, ou mais além e criar vários planos e/ou universos quanta repulsa a mesma causa? paralelos onde tanto há mudanças subtis como discrepâncias absurdas. Basta crermos e a A História tende a ser ditada por aqueles criação irá moldar-se à nossa vontade. que emergem triunfantes, e estes, não são propriamente modestos no relato dos seus Mas não basta criar. Não basta deixar feitos. Alguns factos são exagerados, para no papel aquilo que queremos que passe a muito mais tarde ficar a dúvida (mais ou menos existir.Temos que lhe dar vida e um propósito. credível) sobre se tal foi verdade,ou se assume Podemos, evidentemente, criar personagens os contornos que uma lenda tomaria. ricas,com várias camadas e gradientes morais na escala do cinzento. Podemos inseri-las Ainda assim, são estes feitos, são estas em comunidades e sociedades igualmente histórias e estes mitos que inspiram as cinzentas, ou mudar o espectro e preparar o gerações futuras, a fazer o mesmo e muito terreno para futuros conflitos. Estrondosos mais, em ambos os lados do espectro. No fim, conflitos bélicos que ficarão para a história? fica um tomo com a compilação de tudo o que Tácticas de espionagem e de infiltração, a criação providenciou: a sua realidade, a sua resultando numa eliminação na calada da especulação, a sua fantasia e o seu mito. noite e no cancelamento de um massacre? Daniel Carvalho

E s pPeácguilnaansd oq uae Rdeãaol i Ad as da es 17 E s p e c u l a t ó r i o “The Bone Ships” “Brightfall” R.J.Barker Jaime Lee Moyer (Setembro) (Setembro) “Stormrise” “The Wicked Tree”” Jillian Boehme Kristin Thorsness (Setembro) (Outubro) “Beyond the Black Door” “Fireborne” A.M. Strickland e AdriAnne Strickland Rosaria Munda (Outubro) (Outubro) “The Fate of the Fallen” “Coral” “Robot Army” Kel Kade Sara Ella Simon Curtis (Novembro) (Novembro) (Novembro) “CLANK! Legacy” “Chai” “Cities: Skylines” Dire Wolf Digital, Steeped Games KOSMOS (Outubro) (Setembro) (Setembro) “Mezo” “Tidal Blades: Heroes of the Reef” Colossal Games Druid City Games (Outubro) (Setembro) “War of Three Kingdoms” “Wayfinders” S7 Games Pandasaurus Games (Outubro) (Outubro) “Paris: New Eden” “CLANK! IN! SPACE!: Cyber Station 11” Matagot Dire Wolf Digital e Renegade Game Studio (Outubro) (Novembro)

J a n e i r o 2 0 1 9 18 Páginas que dão Asas MITOPOESE No Início era o Verbo. A Palavra falada, Este artigo é da autoria do nosso convidado Rogério Ribeiro, cientista, organizador de eventos e promotor do género não a palavra escrita. O sopro que dá origem fantástico à Vida,o primordial mito da Criação.Terão sido estas primeiras histórias,fiadas e entretecidas das questões, fossem físicas ou sociais, a na oralidade, a reconhecer a necessidade de imaginação era uma solução válida de recurso. explicações transcendentais.Daí à existência de Desta forma, Johannes Kepler foi não só um sistemas de crença e às subsequentes religiões dos primeiros a tentar harmonizar os factos terá sido um passo, ao ritmo da confrontação concretos da ciência com a visão de um plano com o desconhecido e do crescimento da divino inteligente que tudo criou e tudo capacidade craniana dos nossos antepassados. determina, como foi o primeiro a “ver” a Terra a partir da Lua, no romance Somnium (1634). Por dar constantemente novos mundos ao Mundo não é de admirar que a literatura Algum tempo depois, a Ciência apossou-se especulativa seja uma cornucópia de mitos da inteiramente da realidade, declarando a Criação, da fantasia à ficção científica. imaginação um anátema indesejado, uma contaminação. Mas os criadores de mitos estavam longe de serem extintos… Afinal, não considerando os arremedos Last and First Men (1930), do britânico pontuais na Antiguidade, a literatura Olaf Stapledon, foi provavelmente o primeiro especulativa nasceu gémea siamesa da grande mito de criação a influenciar a moderna mudança de paradoxo introduzida pela fase ficção científica. Agora não da nossa criação, do Renascimento ao Iluminismo. Nesses três mas da Criação do Futuro. Aqui, numa viagem séculos,tudo foi colocado em causa,enquanto de dois biliões de anos, é traçada a história o Homem reequacionava o mundo e o seu e destino final da 18ª espécie de humanos, papel nele.E quando as ferramentas científicas perfeitos e iluminados.Como sua origem,surge não eram suficientes para a grandiosidade a tragédia de uma 1ª espécie de humanos,

Páginas que dão Asas onde facilmente nos reconhecemos. afrofuturismo será um dos mais estimulantes, 19 E s p e c u l a t ó r i o ao propiciar em muitas obras o reavivar Pouco depois,em 1931,JRR Tolkien escrevia o poema de antigos mitos, como forma de “resposta Mythopoea, onde defende ferozmente a capacidade endógena” para confrontar os desafios que iluminadora da criação de mitos, perante a mente dos o Futuro coloca ao continente africano. Esse defensores de um progresso meramente realista. Nem confronto é patente principalmente ao nível de propósito,é Tolkien que constrói porventura o mundo dos contos,em antologias como AfroSF (2012). mais significativo da fantasia, cujos mitos de Criação codifica, nomeadamente no Silmarillion (1977), assim A finalizar, lembrando que a formação e como é o mesmo autor que (re)sublinha a importância propagação dos mitos é alimentada pelas da Palavra, como instrumento gerador da Criação. visões sociais dominantes a cada altura, há que reconhecer o valor das apropriações Mas a Criação,acto inerentemente puro,rapidamente modernas de antigos mitos,uma reimaginação traz consigo o cinismo. Obras como O Senhor da Luz destinada a quebrar esse condicionalismo, (1967),do norte-americano Roger Zelazny,mostram como e em si encerrando a própria missão da os mitos da Criação podem ser usados como fachada para imaginação. Como exemplo, fica uma lista a exploração das massas. E, por vezes, nem os próprios de mitos da Antiguidade reimaginados por Deuses escapam à necessidade de mitos criadores. Em várias escritoras: The Penelopiad, de Margaret American Gods (2002), de Neil Gaiman, novos e velhos Atwood; Antigone’s Claim, de Judith Butler; panteões lutam pela relevância, e pela sobrevivência, Autobiography of Red, de Anne Carson; The através do ânimo conferido pelos crentes. Laugh of the Medusa, de Helene Cixous; Song of Achilles, de Madeline Miller; Hadestown, de No panorama actual da literatura fantástica,ressurgem Anais Mitchell; Girl Meets Boy, de Ali Smith; de novo antigos mitos criadores,principalmente à medida Weight, de Jeanette Winterson; e Cassandra: A que a tradição da literatura especulativa das últimas Novel and Four Essays,de Christa Wolf.Porque décadas,predominantemente anglo-saxónica,assimila o a Criação pode mesmo ter-se passado assim… surgimento de outras perspectivas culturais, através do que é hoje conhecido como o movimento da literatura Rogério Ribeiro especulativa mundial. Desses vários afloramentos, o

J a n e i r o 2 0 1 9 20 Uma Caixa Cheia de Peças CRIANDO O poder de deuses. Criar um novo mundo. Coisa de pouca responsabilidade. Querem experimentar? Boardgames primeiro. Encontrei exactamente 3 jogos em que os jogadores assumem o papel de deuses e (criam ou recriam) mundos. Em Gheos os jogadores assumem o papel de deuses que constroem o mundo e ganham pontos influenciando civilizações por forma a ganhar seguidores nessas civilizações. Um jogo com semelhanças ao clássico Carcassonne mas com mais interacção entre jogadores. Em Orbis os jogadores assumem o papel de deuses que constroem o mundo e ganham pontos influenciando civilizações por forma a ganhar seguidores nessas civilizações. Sim, eu sei, exactamente igual ao anterior. A principal diferença é que o jogo anterior põe mais ênfase na criação de recursos das civilizações ao passo que este olha mais para os números da população e é menos interactivo que o Gheos. Kreus é diferente dos anteriores em vários

O DEUSES Uma Caixa Cheia de Peças 21 E s p e c u l a t ó r i o parâmetros. Este é um jogo cooperativo em que os jogadores têm de criar um planeta habitável. É um jogo em que os jogadores têm a comunicação entre eles limitada e têm de tentar jogar cartas na ordem certa. Embora não tenha encontrado mais jogos que vos ponham no lugar de deuses mas há muitos jogos com temas ou inspirações mitológicas, de várias mitologias, entre as quais: maia (Tzolk’in: The Mayan Calendar), japonesa (Rising Sun), nórdica (Blood Rage), egípcia (Kemet), céltica (Inis), grega (Cyclades) chinesa (Ghost Stories), indonésia (Spirits of the Rice Paddy) ou taitiana (Tahiti). Do lado dos RPGs não consegui encontrar nenhum que colocasse os jogadores no lugar de divindades ou criadores de mundos (embora isso não me surpreenda pois não haverá muita progressão para essas personagens). Há, no entanto, alguns em que os jogadores têm influência divina. Em Scion os jogadores jogam descendentes de deuses que se vão juntar aos deuses na luta contra os Titãs

Uma Caixa Cheia de Peças J a n e i r o 2 0 1 9 22 (encarnações de forças primordiais). Este jogo usa uma adaptação do sistema Storyteller usado pela White Wolf (que também publicou este jogo) na linha de jogos World of Darkness. Para um jogo com influências cristãs, poderão jogar In Nomine . Neste jogo os jogadores encarnam um anjo ou um demónio, ao serviço de arcanjos ou príncipes de demónios e que podem ou não estar a tentar influenciá-los para fazer aquilo que esperariam dos seus superiores. Neste jogo os jogadores lançam 3d6, dois deles são somados para determinar se há ou não sucesso e o terceiro determina o grau de sucesso. Outros RPGs nesta temática incluem Part- Time God , Mythender e Armaggedon: The End Times. Espero que encontrem aqui o vosso próximo jogo Daniel

Páginas que dão Asas 23 E s p e c u l a t ó r i o ESTANTE ESPECULATIVA Aqui estão as nossas propostas de livros e contos A LER, bem como as nossas opiniões sobre contos já LIDOS. Vão resistir a acrescentar estes livros às vossas listas? A LER “Space Opera” de Catherynne M. Valente Após uma guerra que quase destruiu a galáxia, começou nova tradição. Agora, um grupo de artistas da Terra tem o nosso futuro nas mãos. Só têm de conseguir dar um bom espectáculo! “Trail of Lightning” de Rebecca Roanhorse Seguimos uma caçadora de monstros num Mundo pós apocalíptico, onde os deuses dos Navajo são realidade. Será que conseguirá enfrentar o seu passado e sobreviver? “Mythos: The Greek Myths Retold” de Stephen Fry A mitologia grega sempre nos trouxe das melhores histórias de todos os tempos. Aqui olhamos para estas lendas com novos olhos, em todas as suas facetas, bem ao estilo de Stephen Fry. LIDOS “The Umbrella Academy, Vol.1:The Apocalypse Suite”, de Gerard Way, Gabriel Bá e Dave Stewart Prós: premissa fantástica: qual o custo de uma vida de super herói? Arte maravilhosa, personagens bem fora do comum e uma família disfuncional Contra: Se são fãs da adaptação para tv, deixamos apenas o aviso de que existem algumas diferenças. Deixamo-vos decidir se isso é bom ou mau. The Library at Mount Char”, de Scott Hawkins Prós: A estranheza e a forma como o autor dispõe a trama deixa-nos inquietos até à última página. A história varia num espectro de bizarro e original, seguindo 12 crianças raptadas e as suas desventuras. Contra: não é um livro onde encontramos empatia com as personagens, é negro e às vezes chega a ser incomodativo. “Of Blood and Bone”, de Nora Roberts Prós: Uma boa continuação da saga, dando-nos a oportunidade de revisitar as personagens anteriores mas conseguindo avançar a história. Muita acção e momentos surpreendentes. Contra: parece que a autora quis ter o melhor dos 2 mundos: uma “Escolhida” em aprendizagem mas já uma líder. Fez-me questionar algumas cenas.

PF oá lghi na as se qRuaeb di sãcoo sa s a s J a n e i r o 2 0 1 9 24 CONTOS DO E S P E C U L AT Ó R I O Ele olhou para a multidão com os olhos Este novo projecto do Especulatório, escrito a várias mãos, vem trazer-vos um novo conto em pesados das noites sem dormir.Aquelas figuras cada revista. traziam-lhe algo à memória, mas o cérebro estava demasiado cansado para conseguir das suas armadilhas tinha sido activada.O que aceder à informação. Desistiu e continuou a queria dizer que alguém estava no seu quarto. andar. No meio da multidão estava protegido, Mas ele estava farto de fugir, por isso subiu as normalmente o que quer que fosse que o escadas devagar, cobrindo cuidadosamente as perseguia tinha ordens muito claras, não suas facas de saliva.Se alguém queria chateá-lo chamar a atenção, não fazer ondas. tinham escolhido um mau dia.Quando chegou ao seu patamar viu a luz das suas janelas a Os braços e pernas não estavam a responder brilhar. tão bem como ele queria,dando-lhe um andar estranho, mas ele não queria saber, estava Que rudes, nem sequer se escondem como demasiado cansado. Demasiados dias, deve ser, pensou. Com as facas em riste, abriu demasiadas semanas a fugir de algo que não a porta e parou. sabia o quê.A primeira fuga tinha sido mesmo à conta e desde então tinha tentado prever e Isto era mais do que o cansaço, as suas prevenir,mas é um pouco díficil quando não se pernas não se mexiam, ele nem sequer sabe o que se passa. conseguia pestanejar como deve ser. Chegou à porta do motel onde estava - Não se preocupe Sr. Leonardo. Não estou alojado já ao cair da noite. Encostou-se à aqui para lhe fazer mal. Permita-me que retire ombreira da porta e ouviu. O ligeiro tilintar de as suas facas da mão, têm uma reputação um sino era o alarme que estava à procura,uma bastante conceituada como mortais e preferia testar se realmente o são. As facas foram-lhe retiradas da mão pela

mulher vestida com um fato negro, que as P á g iFnoalsh aqsu ee dRãaob iAs cs oa s 25 E s p e c u l a t ó r i o levou com ela para a cadeira onde estava sentada. e produzo mais rápido envelheço.Quanto mais luto mais fraco fica o corpo. -Agora recomendo-lhe que entre no quarto e feche a porta, não queremos chamar a - Faz sentido. E são todos assim? atenção das pessoas erradas. -Não, somos todos diferentes. Que informação é que me quer dar? E a proposta? Ele experimentou mover o braço e conseguiu. -Ainformação é sobre os seus perseguidores. Deliberou fugir pela porta e saltar as escadas Eles querem-no vivo,de preferência,e já sabem ou lutar contra a mulher estranha, para tentar que está no hotel. A proposta é que estamos recuperar as suas facas. dispostos a ajudá-lo, se nos ajudar a nós. Outras das suas armadilhas tocou. Estava - Sr. Leonardo por favor não me faça alguém a tentar subir a janela. prendê-lo outra vez. Como lhe disse, não lhe - Como vê, eles estão aqui.A minha oferta é quero fazer mal, estou aqui para lhe oferecer eu safo-o daqui e escondo-o num sítio seguro informação e fazer uma proposta. e em troca você ajuda-me a perceber como é que eu posso entrar no bairro e libertar as Uma proposta soa interessante, pensou, o minhas irmãs e quem sabe dar cabo daqueles nevoeiro do cansaço estava a começar a sacanas. aparecer outra vez. Isso nunca era bom sinal. O terceiro sino soou. Alguém estava a subir Ele perguntou-lhe: pelo lado esquerdo.O tempo estava a escassear. - Quem é, e porque é que me quer oferecer Ele subiu as escadas devagar, conseguia informação. sentir o seu irmão do outro lado do edíficio e via a sua irmã à frente. Era desta que aquele - O Sr. é um homem raro, ou melhor, devo insecto escorregadio era apanhado e quem dizer um jovem. Nós sabemos que a sua idade sabe esmagado,pela quantidade de irmãos que real é 13 anos Sr.Leonardo,e também sabemos já lhe tinha custado.Ela preparou as suas garras que fugiu do bairro aos 10 fazendo-se passar e ele abriu a porta. À frente deles estava o seu por um empregado. Não sabemos no entanto irmão, parado a olhar para um papel. Dizia “So porque é que tem a aparência de ter 40 anos long and thanks for all the fish!”. na tenra idade de 13. -É uma das consequências,quanto mais uso

Lancem Iniciativas J a n e i r o 2 0 1 9 26 LUDODRAMA: MITO JOGOS NA Ah, mitos da criação. Nos jogos narrativos, que os entes mundanos. Se não houver este contraste entre tempo claro, pois esse é o foco desta coluna ludodramática. Logo, mitos da criação no mítico e tempo histórico,não há mito da criação. contexto do universo ficcional (mesmo que Alto. E se não há mito da criação, o que há? baseado no mundo real) em que decorre o jogo. Aqui abrem-se duas possibilidades. Por um lado, a narrativa (ou o jogo) Convém, por isso, começar por tentar entender como se enquadra um mito da criação centram-se no mundo e no tempo dos imortais nesse contexto do universo ficcional. e, neste caso, o que temos é a história dos deuses e outros entes superlativos (forças Quando falamos de mitos da criação estamos telúricas, heróis, etc.), não o mito dos deuses. a estabelecer uma diferenciação no universo ficcional entre duas eras completamente Alternativamente, a narrativa (ou o jogo) distintas,a era mítica e a era histórica,se assim centram-se no mundo e no tempo dos mortais, me posso exprimir. e neste caso o que temos é a sua história onde as entidades míticas são apenas expressões Os mitos da criação são mitos da criação mais ou menos coloridas de forças e entidades do ponto de vista do universo mundano: o mundanas – o mito reduz-se a lenda. universo habitado pelos humanos ou similares, gente comum,mortais,com um exercício muito Enfim, os mitos da criação só se tornam limitado do arbítrio. verdadeiramente interessantes quando associam o jogo contrastante e as interações O que foi criado foi precisamente este entre idade mítica e idade mundana, entre mundo histórico, limitado no tempo e no entidade míticas e entidades mundanas,entre espaço. A sua criação remete para um outro espaço mítico e espaço mundano. tempo e um outro espaço, o tempo e o espaço dos imortais, vastamente mais poderosos do

Lancem Iniciativas OS DA CRIAÇÃO NOS 27 E s p e c u l a t ó r i o A R R AT I V O S IMPLEMENTAR MITOS DA CRIAÇÃO EM Esta rúbrica é da autoria de Sérgio Mascarenhas que JOGOS NARRATIVOS 1: UM OSSO DURO DE escreve sobre muitas coisas, entre as quais jogos ROER narrativos. Esta coluna dedica-se a explorações sobre drama e narratividade nos jogos narrativos A questão de fundo está, como sempre, em saber como transformar o mito em algo que como peões nos seus jogos. contribua efetivamente para um jogo narrativo, Do ponto de vista de um jogo narrativo isto quer dizer, que tenha relevância no tempo histórico do universo de jogo, em particular quer dizer que, das duas, uma. no aqui e agora em que vivem os protagonistas Ou se jogam imortais, deuses ou heróis, e (personagens dos jogadores). Levantam-se aqui três questões. então o que se joga é a história dos deuses e, como referido antes, esta não surge no jogo Primeira questão, como evitar que os mitos como mito da criação. dominem o universo de jogo e que as entidades míticas remetam os protagonistas para o pano Ou, segunda hipótese, joga-se a história de fundo, meros joguetes nas suas mãos. mundana, jogam-se os mortais, mas então estes são remetidos para um plano secundário Considera, por exemplo, os mitos gregos e perante a presença no seu meio dos imortais. a interação entre as entidades míticas e os mortais. Os imortais não estão encerrados no As personagens dos jogadores dificilmente Olimpo, não deixam os mortais entregues a si conseguem, neste caso, ser protagonistas, são próprios,antes intervêm livremente no mundo quase por definição personagens secundárias, destes, mera extensão do seu próprio mundo se não mesmo meros figurantes. Em qualquer divino. dos casos, o mito esmaga a história. Ora, na sua intervenção usamos mortais Segunda questão, oposta à primeira, como evitar que os mitos da criação ficam lá atrás, fora de cena, mera informação sem impacto na atividade lúdica.

J a n e i r o 2 0 1 9 28 Lancem Iniciativas solução satisfatória para a interação entre mito e história surge a terceira questão, Suponhamos que os mitos explicam a como operacionalizar tudo isto em termos de origem do mundo dos mortais mas há uma sistemas e mecânicas de jogo. separação total entre mundo dos imortais e mundo dos mortais, de tal forma que não há Como articular níveis de poder tão interação entre ambos. vastamente diferentes como os de um imortal que consegue moldar a realidade à sua maneira Num projeto que tenho na gaveta peguei e o de um mero mortal, sujeito a leis que nem nos mitos gregos mas com uma entorse: a ele próprio conhece ou compreende. Teomaquia deu lugar à Titanomaquia, quer dizer, a guerra entre titãs e deuses olímpicos IMPLEMENTAR MITOS DA CRIAÇÃO EM acabou com a vitória dos titãs e a derrota dos JOGOS NARRATIVOS 2: O EXEMPLO DE deuses. GLORANTHA O mito grego da fundação está lá, mas Glorantha procura dar resposta a todas estas invertido,em tais termos que o aqui e agora dos questões, vejamos como. protagonistas tem à mesma um referencial lá atrás num passado mítico,mas essa referência Se queres mesmo ter na base do teu jogo resume-se num parágrafo: Os deuses e os narrativo um mito da criação redondo, denso, titãs andaram à porrada, os titãs ganharam, substancial, não tens nada a perder em ir ver os deuses foram expulsos; os titãs estão-se quem se debateu com a questão a fundo. nas tintas para os mortais e deixaram-nos entregues à sua sorte num mundo devastado; Não, não estou a pensar num Tolkien, numa tu és um dos mortais, será que te vais safar? LeGuin, num Moorcock, autores de fantasia literária que não se debateram com a nossa Numa situação como esta o mito sobrevive questão,como incorporar mitos da criação num apenas como lenda, uma narração que até jogo narrativo. pode ser interessante, mas não tem impacto direto na ação dos protagonistas,quanto muito Estou, isso sim, a pensar em Greg Stafford explica as caraterísticas do universo de jogo que começou nos anos 60 a construir um e dá-lhe alguma cor. O mito desaparece da mundo de fantasia, Glorantha, com a intenção história. de o viver por dentro através do jogo.Inspirado nos mitos do mundo antigo, transformou a Finalmente, quando se encontra uma

sua exploração de Glorantha em toda uma Lancem Iniciativas 29 E s p e c u l a t ó r i o narrativa da respetiva origem e sucessivas eras resultante das interações e conflitos entre mundo entregue aos mortais, livres de agir de deuses e outras entidades sobrenaturais que acordo com o seu arbítrio. foram dando origem a uma vasta rede de panteões,culturas e espécies com caraterísticas Como é evidente, se as coisas ficassem por muito diferentes. aqui e os imortais deixassem de ter agência no mundo a partir daí entregue aos mortais, Para além da vastidão e complexidade do os mitos da criação de Glorantha seriam mera projeto, bem como do rigor quase etnológico cor sem impacto na ação dos protagonistas, e antropológico que tem por detrás, o que lendas mortas.O génio de Greg Stafford esteve interessa destacar é o facto de nele se distinguir em contornar este problema por duas vias uma idade mítica de uma idade histórica. diferentes mas complementares. A idade mítica é a idade dos mitos da criação, Em primeiro lugar, os mortais que habitam, a idade onde os deuses e outros imortais vivem e se digladiam no tempo histórico, habitavam Glorantha como o seu mundo. humanos, uz (“trolhos”), adryami (“elfos”), mostali (“anões”) etc., são os descendentes É uma idade de lutas e transformações dos imortais que os moldaram à sua imagem. constantes, conflitos que atingem um paroxismo tal que os imortais se confrontam Todos ou quase todos os mortais fundam a com a possibilidade de ocorrer a própria sua origem (a origem da sua espécie ou cultura) destruição total e definitiva do seu mundo. nos tempos míticos por referência a deuses (organizados em panteões) ou outras entidades Em resposta decidem fazer um pacto onde, sobre humanas. Por isso mesmo, a cultura, por um lado, cristalizam ou congelam a idade as caraterísticas e os poderes das diferentes mítica numa atemporalidade sem mudança etnias (chamemos-lhes assim) explicam-se e nem agência em Glorantha; e, por outro lado, moldam-se nas caraterísticas e poderes dos submetem o universo a uma nova força, o imortais que as originaram. tempo, que dá coesão às ruínas que ficaram das guerras míticas. Ou seja, para se compreender um dado grupo social em Glorantha é preciso conhecer A partir daí os imortais deixam de poder os seus mitos da criação pois estes mitos é que atuar diretamente em Glorantha, ficando o explicam as caraterísticas biológicas,culturais e ‘tecnológicas’ desse grupo social. De certa

J a n e i r o 2 0 1 9 30 Lancem Iniciativas comunicação entre mito e história que não ocorre já ao nível macro mas ao nível micro, maneira o grupo social reproduz e prolonga no quer dizer,dos indivíduos.Estes podem procurar tempo o mito pré histórico que lhe deu forma. ascender ao estatuto de herói. Mais que isso, os imortais deixaram de Um herói é um mortal comum que vive poder intervir em Glorantha… diretamente. para emular um dado deus ou entidade mítica, Como disse acima, eles não morreram nem personificando a atualização no hoje e aqui de desapareceu a sua idade mítica, não são Glorantha desse deus ou entidade.Ao faze-lo,o meros relatos arquivados nas crónicas dos mortal manifesta poderes sobre humanos que mortais. Subsistem numa intemporalidade reproduzem os do deus e que lhe permitem onde tudo o que ocorreu antes da criação do conduzir a sua comunidade num percurso que tempo permanece para toda a eternidade mas reproduz o dos seus mitos fundadores. sem poder ter novos desenvolvimentos pois a capacidade de mudança persiste apenas no Como se pode ver, esta correspondência mundo dos mortais e obedece à orientação entre história dos mortais e mitos dos imortais linear do tempo histórico. e a forma como estes influenciam aquela dá resposta às duas primeiras questões Porém, se os conflitos e a histórica (mítica) apresentadas acima. Porque os imortais não dos imortais não têm desenvolvimento por intervêm diretamente no mundo dos mortais, si mesmos, podem no entanto ser reativados estes não se tornam meros peões nos jogos indiretamente pelos mortais pois as lutas e dos primeiros; porque as lutas e conflitos conflitos entre si prolongam e atualizam as históricos prolongam e se modelam nas lutas lutas e conflitos entre os imortais que lhes e conflitos míticos, há o presente dos mortais deram origem: na Glorantha histórica os desenvolve-se em profunda correspondência equilíbrios de poder miticamente congelados com o passado mítico. podem ser atualizados e modificados em função da ação dos seguidores dos diversos Sobra a terceira questão sobre como panteões e entidades míticas. concretizar estas ideias num jogo narrativo, quer dizer, como exprimir no sistema de jogo Esta ligação entre mundo mítico e mundo e respetivas mecânicas a interligação entre mundano opera ao nível macro dos grupos presente histórico,mundano,e passado mítico, sociais. No entanto, há uma outra forma de

sobre-humano e sobrenatural. Lancem Iniciativas 31 E s p e c u l a t ó r i o Não há resposta única para esta questão, com o deus, mito que descreve os seus feitos tudo depende do sistema de jogo em concreto. e percurso na idade mítica. Os seguidores do Neste momento há três implementações de deus procuram emular os relatos míticos e, Glorantha em três sistemas de jogo: HeroQuest, por essa via, fazer assemelhar o mundo que RuneQuest e 13th Age. Não cabendo no os rodeia do mundo do seu deus. Se o fizerem âmbito desta coluna uma análise detalhada com sucesso, realizam feitos de inspiração de cada uma destas implementações, há divida impossíveis de realizar por um simples alguns princípios comuns a elas todas que mortal.Como é evidente,nem toda a gente que dão uma ideia da abordagem especificamente presta culto a um deus tem a mesma posição gloranthiana da ligação entre mito fundador e na estrutura do culto ou consegue realizar os mundo jogado. feitos sobrenaturais associados ao culto. RUNAS:Além dos deuses e outras entidades A participação no culto constitui assim um míticas,Glorantha é ainda definida pelas runas, caminho pessoal a fazer, caminho que, como constituintes não personalizados da teia mítica dito acima, pode levar ao estatuto de herói. e mundana. HEROQUESTS: A máxima expressão da Os próprios deuses têm ligações específicas interligação entre mundo mundano e mundo com certas runas, ligações que se prolongam mítico ocorre quando da realização de uma nos respetivos cultos, mas cada ente singular ‘demanda heroica’, um ritual onde o herói tem as suas runas pessoais. O domínio pela procura atualizar um mito do seu deus no aqui personagem das runas permite superar as e agora de Glorantha. limitações da vida mundana, nomeadamente ao permitir-lhe interagir com o mundo mítico. Suponhamos, por exemplo, que o deus do herói (e da sua comunidade) venceu um dado CULTOS: Os deuses e entidades míticas inimigo mítico. Acontece que no presente exprimem-se no mundo dos mortais por via gloranthiano há uma comunidade inimiga a indireta, nomeadamente pela via dos cultos. atacar a comunidade do herói, comunidade que presta culto ao inimigo mítico do deus. Os mortais prestam culto aos deuses, um A realização da heroquest permite reproduzir culto que assenta nos mitos relacionados hoje o mito, logo, permite ao herói e à sua

J a n e i r o 2 0 1 9 32 Lancem Iniciativas no clichê e ainda é mais difícil integrar esse mito no tempo histórico do universo de jogo. comunidade reproduzir a vitória mítica sobre o seu adversário mundano. Averdade é que ao longo das últimas quatro décadas foram publicados milhares de jogos Cada um dos jogos gloranthianos antes narrativos com universos de jogo (originais referidos procura traduzir nos termos do ou adaptados) que incluem longas secções respetivo sistema este conjunto de temáticas a explicar as respetivas origens míticas mas do universo de ficção–runas,cultos,heroquests. raros são aqueles em que todo esse esforço de criação ficcional contribui efetivamente para o Por exemplo,no HeroQuest e no RuneQuest jogo jogado. isso traduz-se em sistemas de criação de personagem assentes em processos de Pelo contrário,frequentemente manifestam ‘percurso de vida’(lifepath) onde os descritores uma ou mais de uma série de debilidades que das personagens refletem as ligações míticas, retiram interesse à ficção mitológica. nomeadamente em termos de runas e das ligações míticas da comunidade a que Primeiro,são repetitivos.Averdade é simples, pertencem, a progressão das personagens a humanidade anda a inventar mitos da criação insere-se em estruturas sociais modeladas há milhares de anos,logo estes mitos são mato, nas sociedades míticas que estão na raiz da há de todo o tipo e para todos os gostos. respetiva fundação (progressão na estrutura de um culto,por exemplo) e os poderes,mundanos O que é ótimo. E o que cria um problema, ou mágicos, são modelados nos mitos. é tramado criar um novo mito que consiga ter um mínimo de originalidade.Quase tudo o que TER OU NÃO TER MITOS DA CRIAÇÃO NUM se faz por aí é repetir fórmulas gastas e que JOGO NARRATIVO vão quase todas beber às mesmas duas ou três fontes: os mitos greco-romanos, os mitos Glorantha é um exemplo particularmente judaico-cristãos, os mitos nórdicos. interessante e em muitos aspetos extremo de como procurar integrar mitos da criação num Quanto muito,ainda há quem dê uma olhada jogo narrativo. nos mitos do Médio Oriente, da Índia ou do Extremo Oriente.Um pouco mais de sentido do O problema é que é difícil fazer bem essa risco (e de esforço e suor,é verdade) permitiria ligação, desde logo porque é difícil criar um mito da criação interessante e que não caia

E s p e c uLlaanncdeoma I nRiecai al itdi av da es tirar partido de tanta coisa que apanha pó em bem pelo contrário. 33 E s p e c u l a t ó r i o bibliotecas e arquivos (os mitos africanos, Aliás, está aí para exemplo o meu ameríndios e por aí fora), logo, fazer diferente com um custo mínimo… engavetado Mardijdam que deliberadamente não tem qualquer mito de criação (vejam as Segundo, são inúteis. É isso, inúteis. Para Revistas Especulatório XIII a XIX). Quando jogar no Universo de Fantasia Baunilha #1.372 muito,uma curta lenda,como no tal rascunho não preciso de saber o que aconteceu três eras que aqui tenho nas minhas gavetas digitais. atrás com uns cromos que já por cá não andam e que, em rigor, não têm qualquer impacto nas Quanto a vocês, apenas sugiro que entre ações dos protagonistas, seja porque o mito não ter mitos da criação e a sofisticação é passado enterrado e morto, seja porque o de Glorantha há todo um espectro de que ainda por aí anda do mito é tão acima dos alternativas que podem ser exploradas no protagonistas que a estes só resta ver passar vosso jogo narrativo, mas… Insisto, evitem tais navios! Insisto, não é fácil pôr um jogo a o clichê. andar com base num mito da criação. Três idades... Deuses... Dragões... Super Terceiro,são limitadores.Os mitos da criação heróis… Mitos bíblicos requentados… andam quase sempre à volta de deuses ou (super) heróis, personagens superlativas. Se querem criar um mito da criação,deitem Quer dizer, tendem a enviesar o jogo para o tudo isso fora e façam algo de diferente. épico, para o sobre humano. O que deixa de fora imensas possibilidades, um sem fim de Se não sabem como o fazer, roubem, mas caminhos a explorar num jogo narrativo. (Em roubem noutros baralhos.Mas,acima de tudo, rigor, o mesmo se pode dizer de muita ficção perguntem a vocês mesmos: como é que eu linear, não é Ursula Le Guin quem quer.) vou incorporar estas trezentas páginas de mitos com o jogo jogado sem transformar Pessoalmente, não me vejo a perder tempo os protagonistas em super homens ou a criar mitos da criação para os meus jogos, figurantes. Porque é este o verdadeiro desafio de incluir um mito da criação num jogo narrativo. Sérgio Mascarenhas

PF oá lghi na as se qRuaeb di sãcoo sa s a s J a n e i r o 2 0 1 9 34 MÁTSUNGR: A ÚL “Que o Emadeirado te abençoe, meu da vida do Emadeirado, que tantos e tão benévolos milagres praticara.Não duvidávamos filho.”Foram as primeiras palavras que ouvi na de que os infiéis tivessem deturpado toda a vida, decerto. Sua Santa Obra, relegando-o para o papel secundário de um emissário de Corus, um dos Eu e todos os que tiveram o duvidoso seus falsos e enganadores deuses, frutos privilégio de nascer em Alin-sug-Bilór nestes aberrantes de uma suposta criação espontânea confusos tempos do Renascimento da Madeira. cuja origem não se atreviam a explorar mais detalhadamente. Quiseram chamar-me Ilórnus,segundo vim a saber mais tarde, em honra do há já muito E jamais esqueceríamos que os sacerdotes esquecido fundador da minha linhagem, mas desse mesmo Corus haviam provocado a o xilo-sacerdote nem hesitou: se o Emadeirado Primeira Piro-santificação,a imolação do Santo não lhe mentia – e, segundo nos era dito, o Corpo do Emadeirado, de modo a impedir que Emadeirado nunca mentia – eu deveria ser as suas divinas capacidades perturbassem a Gébéris, e Gébéris fiquei. ordem estabelecida, que lhes era demasiado confortável para a perderem.Como para muitos Mas foi pelo epíteto que as gentes do Rorn outros, o nosso único alívio perante essa me atribuíram, o de Mátsungr, o Destemido, injustiça irrecuperável residia no facto de as que viria a ser conhecido por uma grande parte Santas Madeiras terem feito perdurar a Sagrada daqueles com quem lidei, por uma grande Essência do Emadeirado através das eras, até parte daqueles que se digladiavam por essa nós, que agora a víamos e recebíamos tão volátil razão da fé, um pouco por todo o diariamente através das aparas de árvore-pão Leste habitado. que tomávamos em jejum todos os dias,desde o momento em que as primeiras palavras Crescêramos todos, filhos de camponeses, perceptíveis saíram das nossas bocas. de artesãos, de mercadores e de soldados, a ouvir as prelecções do xilo-sacerdote, que nos impressionavam tanto pela sua extensão como pelo seu fervor.Sabíamos de cor toda a história

P á g iFnoalsh aqsu ee dRãaob iAs sc ao s LTIMA QUEIMADA 35 E s p e c u l a t ó r i o Íamos ingerindo o ódio juntamente com o Este conto é da autoria de Nuno Fernandes, jovem leite das nossas mães, refinávamo-lo com as aspirante a escritor, poeta nas horas vagas, estu- histórias dos anciãos, com as notícias de que dante de Física quando tem de ser, que não teve uma aldeia nas margens do Báráug fora outra alternativa senão passar para o papel os queimada por uma multidão de infiéis furiosos, mundos que dentro dele fervilham desde sempre ultrajados pela piro-santificação do Sacerdote Coral e da Sacerdotisa Laminúrica da região, discurso de Eórólun,o Rei-Carpinteiro,antes de ou de que toda a guarnição de uma praça-forte ele ser mortalmente atingido pelas bestas nas terras altas de Tárut fora passada à espada mecânicas da milícia do Duque de Sáli,fui dos por se ter recusado a prestar culto aos falsos primeiros a escalar as altas muralhas do reduto deuses,ou com a chegada de um familiar ferido de Lévérlis e um dos últimos a abandoná-las, nas guerras, com tal gravidade que nem os combati e comandei centos de homens, emplastros dos herbanários, nem as preces e ganhando o meu epíteto de Mátsungr após ter os fumos dos xilo-sacerdotes os podiam salvar. encabeçado uma carga contra as tropas do rei Róráthur,abalando a tal ponto a confiança dos Tudo isto cozinhava dentro de nós como um homens do Rorn na sua ferocidade em batalha caldo de violência, e, quando os fogos da que decidiram nunca mais intervir na guerra, juventude o faziam levantar fervura, muitos contentando-se em defender as fronteiras da eram os que se voluntariavam para espalhar sua União Zulthírica contra as pontuais as palavras,as achas e as cinzas do Emadeirado incursões dos bárbaros Veifahanos. e proteger o povo fiel do assédio dos que – assim o julgávamos–o haviam jurado destruir. Recebi mais bênçãos de xilo-sacerdotes do que as que posso contar,e até o Xilo-sacerdote Eu fui um deles. Estive presente nas Supremo em pessoa me dirigiu uma missiva, escaramuças nos campos em redor de Óláiror, em honra dos serviços prestados ao Emadeirado. onde derramei sangue alheio e próprio em batalha pela primeira vez, ouvi o último Fora o melhor soldado da Sua Santa Causa, até à fatídica unidade ¹ em que,farto da guerra e do sangue,decidi abandonar tudo e regressar

J a n e i r o 2 0 1 9 36 FPoá lghi an sa se qRuaeb idsãcoo sa s a s momento, e interroguei-o acerca da razão daquele acto, com recurso aos mais variados a Alin, para aí terminar os meus dias em paz. métodos de persuasão que os anos de guerra Estava no meu direito,fizera mais do que o que me tinham permitido conhecer. poderiam esperar de mim em prol da Causa, e então não me negaram esse pedido. Após referir abundantes vezes que agira sempre em nome e em prol do Emadeirado, e À medida que os caminhos se me iam que estava no seu direito fazer o que fez,acabou tornando familiares, cada vez mais se ia por admitir que lhe fora revelado em sonhos entranhando em mim uma sensação aziaga,de que, a despeito da sua vontade, a minha irmã – que o sangue e a guerra me iam perseguir, por conhecida em toda a Alin pela sua beleza e mais intensamente que tentasse fugir deles.As virtude – deveria casar com o sobrinho do xilo- pessoas, muitas das quais pouco tinham sacerdote – que eu sabia ser desde novo uma mudado, outras que estavam completamente das mais cruéis e mesquinhas criaturas que diferentes, olhavam-me estranhamente, com alguma vez haviam pisado as pedras ancestrais um misto de remorsos e algo mais, a que hoje das nossas ruas –, sob pena de toda a Causa não posso chamar senão compaixão. Quando falhar e todo o mundo ser consumido pelas cheguei à praça central da cidade, avistei-os. chamas dos infiéis. Entendi, então, o que ali se passava, o que sempre ali se passara, e, mais, o Mal passavam de um monte de cinza e que se passaria em muitos outros lados, de ossos calcinados,mas eram eles,sabia no meu muitas outras formas: que os emissários do íntimo que eram eles.O meu pai,a minha mãe, Emadeirado pouco mais pretendiam do que dar os meus dois irmãos, a minha irmã e o rapaz seguimento às suas ambições e aos seus planos, que viria a ser seu esposo, o meu tio, os três ou aos das suas linhagens,tal como o fariam os primos que me restavam, gente honesta e sacerdotes de Corus, Laminum, Zulthir, Fenfria, trabalhadora, fiéis e devotos do Emadeirado, Ylissan e todos os outros. queimados em praça pública como traidores da sua fé e do seu povo. Sim, haveria gente boa a quem as circunstâncias haviam forçado a fazer coisas Não podia ser. Eu sabia que não podia ser. más, haveria gente boa que mantinha a fé Dirigi-me de imediato a casa do xilo-sacerdote, apesar de tudo, e essa gente boa não poderia o mesmo que me abençoara à nascença, mesmo que envelhecido pelos mais de vinte ciclos ² que haviam passado desde esse

deixar de ser protegida.Mas,quanto aos outros, P á g iFnoalsh aqsu ee dRãaob iAs cs oa s 37 E s p e c u l a t ó r i o aos que usavam e abusavam da sua posição e do seu poder… o mesmo destino não lhes antes contra aqueles que não conhecia poderia estar reservado. senão como infiéis, lutava agora contra todos os que monopolizavam a fé. À medida que observava as chamas a consumir o corpo do homem que condenara à À medida que os ciclos iam passando, morte e à humilhação públicas toda a minha multiplicaram-se os inimigos e os aliados família, por ter recusado uma há já muito de ambos os lados do conflito que persistia, procurada união entre a sua linhagem e a mais numerosas ainda se tornaram as minha, mais a mais uma feita contra os batalhas e as escaramuças,até que,quando auspícios do amor – que, segundo o próprio os intos descobriram nos seus arquivos as xilo-sacerdote repetia constantemente, era a provas de que o Emadeirado existira e fora derradeira dádiva do Emadeirado aos humanos responsável pelo aperfeiçoamento do –, não senti raiva, não senti ira, não senti ódio. moinho de vento,mas que nenhum registo havia dos feitos que os xilo-sacerdotes lhe Senti apenas uma imensa e inabalável atribuíam, como a transformação de uma vontade de acabar com toda aquela injustiça, saca de farinha em cinquenta ou o na esperança de que isso pudesse compensar crescimento dos frutos da noite para o dia, o facto de não ter estado lá para proteger já ambos os lados me haviam aplaudido, aqueles que mais necessitavam de mim, apupado, perseguido e auxiliado até à aqueles a quem mais devia, aqueles que exaustão. desapontei irremediavelmente. Mesmo que tivesse, em seguida, procurado o sobrinho do Mas nenhum deles ignorava, e eu xilo-sacerdote e lhe tivesse proporcionado um também nada fazia para o esconder,que eu fim muito semelhante ao do seu tio, não evitava o mais possível magoar o povo e os ignorava quem eram os meus verdadeiros combatentes, e apenas perseguia com inimigos. encarniçamento aqueles que punham as suas próprias palavras na boca dos deuses Havia declarado a minha guerra pessoal. por quem diziam falar. Com o mesmo método,com a mesma coragem, com a mesma intensidade com que lutara Eventualmente,após mais de cem ciclos de existência e resistência, as forças dos fiéis do Emadeirado diminuíam a olhos

J a n e i r o 2 0 1 9 38 PF áo gl hi na as seqRuaebdi sãcoo as s a s motivações, confiei todos estes relatos, todos estes segredos, a este pergaminho, escondido vistos, não tanto por minha culpa, mas sob a pedra onde o haveis encontrado, sobretudo pela persistência dos fiéis dos outros suficientemente perto da fortaleza para ser deuses, cujos territórios e exércitos sempre achado, mas suficientemente longe – assim o haviam sido mais vastos. Quando os xilo- espero – para que quaisquer chamas que se sacerdotes se encontraram praticamente possam escapar desta Derradeira Piro- encurralados na fortaleza de Iérinór, o mais santificação, desta Última Queimada, o não antigo dos seus pontos de apoio, soube que consumam. era tempo de agir, posto que repetir o triunfo dos homens do Rorn no Cerco da Cidadela Que o fogo me purifique a mim de todos os Coral não estava ao meu alcance, sendo males que infligi indevidamente àqueles que Mátsungr ou não, o que me impedia de levar o não mereciam, e que leve com ele todos os plenamente a cabo as minhas intenções no resquícios da falsidade da crença, permitindo tocante aos líderes espirituais da Corântria. a todo o Leste renascer, acreditando verdadeiramente nos deuses – sejam eles Por isso, sacrifiquei tudo o que me restava quais forem – e não nos homens! para capturar Iérinór,e rapidamente fiz constar que apenas entregaria os incentivadores da Gébéris Mátsungr Ilórnis, heresia do Emadeirado ao Sumo-Sacerdote Iérinór, 16 de Plantação de 4697 Coral e à Suma-Sacerdotisa Laminúrica. Rapidamente acederam ao meu pedido, como Notas de autor: sabia que fariam–até porque,se bem conheço 1 .base das medidas de tempo utilizadas por todos os o seu modo de pensar, terão por ideia povos de Unali,a unidade corresponde,grosso modo, conquistar-me para o seu lado com presentes ao que na Terra é um dia, ainda que a sua duração e honrarias.E foi por isso que mandei preparar difira significativamente, razão por que se utilizou o a surpresa que,se tudo correr como o planeado, primeiro termo em vez do segundo. todo o Leste, senão todo o Unali, conhecerá 2. da mesma forma como antes se utilizou o termo amanhã. “unidade” em substituição de “dia”, o termo “ciclo” refere-se ao análogo do ano em Unali. Como nunca poderia deixar de temer que as eras vindouras desconhecessem ou deturpassem as minhas atitudes, intenções e

POáugti nr aass Eqsupeedc ãuol aAç õs ea s MAMMA MIA! CRONOS ATE 39 E s p e c u l a t ó r i o THE BABY AGAIN! A mitologia grega, e por consequência a Teresa Carvalho é a autora destes trabalhos. Ilustradora que adora ler, explorar e desenhar romana, é provavelmente a mais reconhecida fantasias e mundos imaginários e a que tem mais influência nos tempos de hoje. Podemos reconhecer temas, nomes, e “O Início” de Teresa Carvalho iconografia destes mitos desde os media que consumimos, até à publicidade e marcas que DIVINDADES PRIMORDIAIS vemos todos os dias. Até chega ao espaço! Segundo o mito grego de criação descrito Basta abrir um livro de astronomia, e pelo poeta Hesíodo na sua “Teogonia”, tudo encontramos constelações cujos nomes têm começa com o Caos. A matéria prima do origem em mitos gregos,os planetas e objectos universo já existia mas ainda ninguém tinha espaciais do nosso sistema solar têm (quase) conseguido ler as instruções do IKEA para todos nomes de Deuses romanos. montá-lo. O projecto de ilustração aqui apresentado, começou a partir da ideia de combinar esses objectos celestiais com os seus homónimos mitológicos. Mas como qualquer projecto feito por gosto que não tem data de entrega a coisa começou a crescer...para os lados. Mas a minha distração é a nossa sorte, porque sendo o tema do mês Mitos de Criação, posso apresentar agora esse mesmo mito grego! (Bem… um deles)

J a n e i r o 2 0 1 9 40 Outras Especulações filhos de Cronos lhe vão roubar o poder tal como ele fez.Cronos faz da sua irmã Reia a sua Num momento de divina organização, do rainha, e quando eles têm a sua primeira Caos formou-se Gaia, a Mãe Terra, por baixo de criança, Hestia, Cronos engole a menina para Gaia formou-se Tartaro, o submundo, e acima evitar a profecia.Juntos Reia e Cronos têm mais Nix e Érebo, a noite e a escuridão. quatro Olimpianos mas o Deus do Tempo continua a engolir os seus filhos. A Nix e o Érebo juntam-se e têm dois filhos: Hemera e Éter, dia e luz, criando assim o ciclo O resto dos titãs procria sem tendenciais de dia e noite. Gaia sozinha gera Ponto, o canibalistas. Alguns dos Titãs filhos dos primeiro oceano, e Úrano, o Céu. primeiros doze são bastante reconhecíveis como o Atlas que segura os céus e o Prometeu Úrano torna-se o marido de Gaia, e assim o que cria os humanos, e os três irmãos: Hélio, Pai Céu. Juntos eles criam os doze Titãs, os três Selene e Éos – o Sol, a Lua e a Aurora - Ciclopes,e os três Hecatonquiros-gigantes com completaram o ciclo diário. 100 braços e 50 cabeças. Reia dá à luz o seu sexto filho,a que chama Úrano decide que os seus filhos mais novos Zeus, e decide esconder o menino. Ela dá ao são demasiado monstruosos e manda-os de marido um rocha embrulhada em panos que volta para debaixo da Terra até ao fundo de ele come sem olhar.Zeus cresce escondido do Tártaro. Gaia enfurecida cria a foice e tenta convencer os Titãs a irem contra o pai. “Cronos e Reia” de Teresa Carvalho Os miúdos, traumatizados com a mãe estar prestes a inventar o divórcio, dizem todos que não excepto o mais novo, o Cronos, que estava a passar a sua fase emo, e detestava o pai. OS TITÃS Com a ajuda da mãe Cronos castra o pai, e torna-se o novo patriarca e rei dos céus: o Pai Tempo. As partes castradas de Úrano, caem no mar e da “espuma” nasce Afrodite, a primeira Olimpiana. Por vingança Úrano profetiza que um dia os

pai e com a ajuda da mãe e da prima Titã Métis POáugti nr aass Eqsupeedc ãuol aAç õs ea s 41 E s p e c u l a t ó r i o envenena Cronos para ele cuspir de volta os seus irmãos e irmãs. Zeus e os seus irmãos “Helios Selene e Eos” e “Poseidon“ de Teresa Carvalho libertam os Ciclopes - que fabricam os relâmpagos de Zeus - e os hecatonquiros, e recrutam até alguns Titãs para fazer guerra contra o exército de Titãs do Cronos e destrona-lo. Os Olimpianos OS OLIMPIANOS Depois da vitória, os três irmãos, Zeus, Poseidon, e Hades, dividem respectivamente os céus, os oceanos e o submundo entre si. ATerra era considerada território neutro,até porque era também a avó deles e ninguém gosta de dar ordens à avó. Hestia torna-se a deusa do lar, Demeter a deusa das colheitas. Zeus, o novo patriarca, leva o seu título de Pai dos Deuses à letra para grande desespero da sua irmã e mulher Hera que não suporta as infidelidades. Completa assim o Panteão Olímpico tendo Atena com Métis, Hefesto e Ares com Hera, Apolo e Artemisa com a titã Leto e Dionísio com a humana Semele. Foi também pai de muitos deuses menores e inúmeros de semi-deuses e heróis cujas histórias ainda hoje nos fascinam. Teresa Carvalho

J a n e i r o 2 0 1 9 42 POáugt ri naassEqsupee cduãloa çaõseass “Demeter” de Teresa Carvalho “Zeus” e “Hades” de Teresa Carvalho

POáugti nr aass Eqsupeedc ãuol aAç õs ea s 43 E s p e c u l a t ó r i o “Hera” e “Hestia” de Teresa Carvalho

Especulando a Realidade J a n e i r o 2 0 1 9 44 ENTREV BESTIÁRIO TRADICI Nesta edição da nossa revista no interior do país, o livro recupera registos centenários deixados por etnógrafos entrevistámos Nuno Valente, autor do livro portugueses, sendo José Leite de Vasconcellos “Bestiário Tradicional Português”. o principal. O QUE É EXACTAMENTE O “BESTIÁRIO Apesar de o livro está orientado para o TRADICIONAL PORTUGUÊS”? público mais novo, são os pais quem primeiro se deixa fascinar pela informação contida no O Bestiário Tradicional Português é um livro, uma espécie de radiação de fundo da livro ilustrado que reúne as principais criaturas cultura fantástica portuguesa que emerge,pela tradicionais portuguesas, as que se contam primeira vez em décadas, à superfície. nas lendas de gigantes e diminutos, as que povoam temores ancestrais trazidos pelo vento COMO SURGIU ESTA IDEIA DO dos borborinhos e pelo nevoeiro dos Tatros “BESTIÁRIO TRADICIONAL PORTUGUÊS” Azeiteiros, escondidas na dobra das vielas e ORIGINALMENTE? no fundo de poços perigosos, minas e outros cantos escuros. A ideia para este livro surgiu quando dei conta de que Portugal é um caso raro de falta Foi o primeiro livro que compilou e ilustrou de memória: todos os países possuem um esta informação e é o resultado de uma imaginário sobrenatural ancestral que cultivam extensa pesquisa bibliográfica e registos orais e preservam, apenas por cá ninguém sabia originais e, até ao momento, continua a ser a enumerar duas ou três criaturas lendárias para única obra sobre este assunto.Já foi,no entanto, além do Lobisomem e da Bruxa…não é apenas adaptado para teatro e está neste momento a por falta de memória ou desinteresse: para além ser adaptado para o jogo Dungeons & Dragons. de haver muito pouca criação cultural original Além das entrevistas feitas principalmente

Especulando a Realidade VISTA A: 45 E s p e c u l a t ó r i o IONAL PORTUGUÊS de base tradicional que ajude a preservar e a em Portugal, como existiam abundantemente, propagar este imaginário, somos um povo de vivos no imaginário coletivo de povoações ou desenraizados que abandonou as aldeias sem regiões. olhar para trás, trocando-as pelas cidades, e por lá deixou as suas referências culturais reais, Curiosamente,estas crenças estavam muitas soterradas sob ruínas de xisto e granito e por vezes isoladas e circunscritas a pequenos uma fina camada de vergonha das origens. grupos, talvez porque estes medos habitam lugares profundos e inconfessáveis. A este rasgar da memória juntou-se um fascínio por tudo o que vem de fora, um PORQUÊ UM LIVRO TÃO ESPECULATIVO, xenofilia excessiva que levou a que em menos FOCADO UNICAMENTE NAS CRIATURAS de 20 anos os magustos da transgressão e das FANTÁSTICAS DO IMAGINÁRIO faces “mascarradas”, tenham sido substituídos NACIONAL? pelo Halloween em quase todo o lado (com a excepção de algumas manifestações isoladas). Percebi que para poder transmitir e popularizar as nossas criaturas tradicionais, Foi a percepção deste fenómenos que me teria de utilizar as mesmas ferramentas que impeliu ao registo e compilação das criaturas popularizaram os duendes,os vampiros e tantas tradicionais portuguesas: para ajudar a que outras criaturas noutros países: a imagem. não se perdessem e para que os mais novos tivessem uma alternativa aos Halloweens - A partir do momento em que existe uma brincar aos monstros é saudável, mas por que representação gráfica de um olharapo ou de não fazê-lo com os monstros dos nossos avós? uma moira encantada,esta criatura ganha“vida” no imaginário da criança (ou do adulto que, Com o aprofundar das pesquisas tornou-se como uma criança, se predispõe a acreditar). mais claro que estes monstros não só existiam Esse foi o grande esforço.Com muita dedicação

J a n e i r o 2 0 1 9 46 Especulando a Realidade provavelmente ainda este ano, e que se vai chamar Tradicionário Bestial Português. A seu por parte da Natacha Costa Pereira,foi possível tempo darei mais detalhes sobre este livro! transformar estes mitos perdidos no pó dos livros em criaturas que chegam tão longe como SE PUDESSES CONHECER UMA carnavais, peças de teatro, etc. PERSONAGEM DE QUALQUER LIVRO DE FICÇÃO ESPECULATIVA, QUEM SERIA? QUAL A PROCURA REGISTADA DO PORQUÊ? “BESTIÁRIO TRADICIONAL PORTUGUÊS”? O QUE FAZ COM QUE ESTE GÉNERO DE Ficção Especulativa abrange tantos géneros LIVRO TENHA ESTA ADESÃO? que fico com bastante dificuldade para decidir, mas o Tyrion (Guerra dos Tronos) era capaz de Havia, efectivamente, um vazio. Até me ser um bom companheiro de conversa. espanta como um livro assim não havia ainda sido feito. SE VIVESSES NO MUNDO DO ÚLTIMO LIVRO DE FICÇÃO ESPECULATIVA Talvez a maior parte das pessoas nunca QUE LESTE, ONDE ESTARIAS NESTE tivesse pensado no assunto e,as que pensaram, MOMENTO? talvez não soubessem que existiam tantas criaturas tradicionais portuguesas, suficientes Estaria sob o efeito do meu Órgão de Estado para encher mais do que um livro. A procura é de Espírito Penfield ou a juntar dinheiro para grande e já vamos na segunda edição. comprar um animal verdadeiro que substituísse o meu carneiro eléctrico. Falo do “Será que os O QUE VÊS NO FUTURO DESTE TIPO Androides Sonham com Ovelhas Elétricas”, de DE INICIATIVAS? EXISTEM PLANOS PARA Philip K. Dick, que foi adaptado (livremente) UM SEGUNDO VOLUME DO “BESTIÁRIO para cinema e originou o clássico Blade Runner. TRADICIONAL PORTUGUÊS” OU OUTRAS OBRAS SEMELHANTES? Existem planos para uma reedição alargada, uma vezque após a publicação do livro surgiram mais criaturas, através de relatos espontâneos e pesquisa adicional. Está para breve um livro irmão deste,

Especulando a Realidade 47 E s p e c u l a t ó r i o CALENDÁRIO DE EVENTOS 29 de Setembro ~ Encontro Mensal de Jogos de Tabuleiro Clube HiperActivo, Malveira 14 de Setembro ~ Aventura D&D Mindsculpt, Torres Vedras das 15h ás 20h 27 a 29MdueseSuetNemacbiorona~lFFeesrtriovvailáVriaop, oErn:tSrotecaammpeunntok Circus 2 1P2asas1ei5odMeaSreittiemmobdroe A~lCgoéms, iOcCeiornas Bibl1io1teac1a3OdrelaOnduotuRbirboe~irFoo, TruemlheFiaranst,áLsitsibcooa Biblio2t8ecea2d9edMeaSrveitleam, Lbisrboo~aRdoalsis1b0oha ás 20h

J a n e i r o 2 0 1 9 48 Outras Especulações Webcomic da autoria de Teresa ler, explorar e desenhar fantasia

Outras Especulações 49 E s p e c u l a t ó r i o Carvalho. Ilustradora que adora as e mundos imaginários

Páginas que dão asas J a n e i r o 2 0 1 9 50 PAWN OF PROPHECY MUNDICRIAÇÃO CLÁSSICA Todos os capítulos da Revista Especulatório terão um espaço como este, dedicado a apreciações e críticas de livros de todos os géneros e subgéneros de ficção especulativa. T ÍTULO: “Pawn of Prophecy” amigos. Um guerreiro, um ladrão, um fer- reiro com bom senso. Algo cliché. AUTOR: David Eddings DATA DE PUBLICAÇÃO: 12 Março 1982 MUNDO: Os reinos do Oeste são os bons (1ª Edição) da fita. Sendaria é o reino rural das pessoas EDITORA: Del Rey Books pragmáticas e cheias de bom senso. Cherek GÉNERO: Fantasia Épica é o reino dos guerreiros nórdicos, Drasnia é PRÉMIOS E NOMEAÇÕES: Finalista o reino dos mercadores e espiões, e por aí na votação para o prémio Locus for Best adiante. Os reinos do Leste são os vilões. Uns Fantasy Novel são mercadores. Outros são estúpidos mas fortes. Outra vez os clichés. PERSONAGENS: Garion, um órfão, é criado pela sua Tia Pol, a cozinheira de uma ENREDO: O livro começa com um capí- quinta abastada no centro rural do reino de tulo a descrever um mito de criação (a razão Sendaria. A sua vida vai ser mudada quando pela qual este livro foi seleccionado para um contador de histórias sem nome aparece esta revista). Nele é descrito como Torak na quinta para trazer a tia Pol na demanda roubou a Orbe de Aldur (seu irmão) por por um objecto que foi roubado. inveja e como, ao tentar usar o que roubara, No caminho vai fazer um conjunto de


Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook