Voronoff brasileiro... A NOITE descobre, no interior da Parahyba, o autor de umprocesso a que se attribuem curas assombrosas Tuberculose, lepra,câncer, diabete e numerosas outras moléstias abrangidas pelasexperiencias de José Fabio Lyra – Uma entrevista de palpite interessecom o modesto pharmaceutico do interior, que é procurado pordoentes da capital, de Natal e do Recife – Possibilidades dorejuvenescimento: velhice mais sadia e mais alegre – Os principiosessenciaes do novo methodo. O que segue é materia que, pelo seu ineditismo e pelo tom demysterio que lhe é proprio, se destina a suseitar toda sorte decontroversias e – por que não? – de esperança. Conhecedora dos estranhos successos relatados, graças a suaextensa rede de informações que abrange todos os rincões do paiz: ANOITE não quis deixar de transmitil-os ao publico, que os julgará. Em Bananeiras cidade da Parahyba do Norte, é que occorreramos factos que se narram. A NOITE fez ir ao local um enviadoespecialmente com a missão de colher sobre o caso dados positivos,dentro de absoluta imparcialidade. José Fabio Lyra, figura central dos acontecimentos, não é, perse-á, um cabotino. Pelo contrario, as suas palavras são repassadasdaquella suavidade e medida inherentes aos homeas de estudo. Nellashaverá, por certo, uma certa dose de amargura quanto a este ouaquelle, a amargura dos que se pensam incomprehendidos. Bem certo, a opinião autorisada não dará maior apreço àsannunciadas vantagens therapeuticas do metodo de José Fabio, queterá encontrado na credulidade facil e de boa parte dapopulação e noimperecível anseio de longevidade,e immortalidade, que é o bem doshomens, o applauso que é o que levou a acreditar-se um iniciador.
Divulgando-lhe a descoberta, A NOITE, é evidente, não lheendossa o mérito, para apresental-a apenas como um assumpto –digamos assim – jornalístico. No que toca ao pharmaceutico do interior parahybano, ficar-lhe-á, talvez, apenas a esperança de ter dado esperança. Desculpemoso travo das suas expressões e ouçamol-o sem esquecer, comtudo, queentre o céo e a terra muita coisa existe que nos escapa à vãphilosophia. Também o immortal Pasteur, ha eincoenta annos...EM BANANEIRAS, NO INTERIOR PARAHYBANO BANANAEIRAS, julho de 1936 (serviço especial d’A NOITE) –Reside nesta cidade o Sr. José Fabio Lyra, ha trinta annos, precisamente,estabelecido com uma farmácia, onde exerce a sua actividade, solicitoe honesto, attendendo quantos lhe reclamum os serviços profissionaes.Já eacanecido pelos annos, gosa, aqui e nas localidades vizinhas, demuita estima e populariade. De habitos recatados e modestos, pobre defortuna, porém communicativo e satisfeito, revela, todavia, um espiritolucido e forte de reservas para as vicissitudes da vida. Dir-se-ia mesmoum homem superior ao meio em que vive.CORRE A FAMA Uma vez por outra vínhamos tendo noticia de curas levadas aeffeito graças ás virtudes therapeuticas de um medicamentedescoberto, depois de incessantes ensaios e pesquisas, pelopharmaceutico José Fabio. Clientes do município de João Pessoa, deNatal e da propria capital de Pernambuco já têm vindo a Bananeirascom o fim exclusivo de submetter-se a tratamentos, e as curas, aqui eali se vêm operando segundo testemunhos fidedignos. Acorrespondencia postal dirigida ao pharmaceutico avulta dia a dia e
quasi toda Ella consiste em consultas de pessoas doentes que desejaminformações e detalhes sobre a applicação do remedio. Informados deque o tratamento dos clientes está sendo ministrado na propriapharmacia do Sr. José Fabio, resolvemos procural-o, afim de colheresclarecimentos para o publico. Exposta a finalidade de nossapresença, quis excusar-se, mas deante de nossa insistencia accedeu,respondendo ás perguntas que formulamos para A NOITE.OUVINDO JOSÉ FABIO LYRA — Póde dizer, para A NOITE, em que baseia o seu novo methodode tratamento, a respeito do qual tanto temos ouvido falar? — Meu methodo – diz elle – é um systema novo de curar asmolestias. Baseia-se na transmutação do principio vital que afflora decertas glandulas de creanças e menores, desde que estejam sãs, parapessoas doentes, isto é, para aquelles, cuja energia organica estejaperturbada, diminuida ou esgotada. Realmente, é, se posso dizer – avoronoftherapia simplificada, como terei de explicar.INICIO, E PRIMEIRO REVÉS No anno de 1913, quando ainda estava em vigor a lei RivadaviaCorrêa, protectora da liberdade profissional, preparei uma these dehabitação sobre o tratamento hydrotherapico da febre typhoide. Nodecurso do estudo, lirei as primeiras conclusões que serviram de base,para a creação do systema ―lymphotherapido‖. Em setembro daquellemesmo anno, fazia eu a primeira observação, que vem figurada ápágina 103 do livro que publiquei em 1924, sob os auspícios do saudosoamigo Dr. Solon de Lucena, então presidente do Estado e grandeanimador de todos os surtos de progresso humanitario. Nessa obra, quetraz o titulo ―Da Lymphotherapia ao Physio-Psehismo‖, fazia variasobservações sobre a genese das molestias do corpo e do espirito. Emprimeira linha, citava a tuberculose. Esses estudos datam de 1916, e
1918. Os doentes com os quaes fiz os primeiros ensaios, naquelle tempo,tiveram alta por se julgarem curados, mas alguns goram em seguidacolhidos pela ―hespanhola‖ e succumbiram, do que dou pormenores naobra citada. Esse primeiro revés, o silencio e o despreso queenvolveram o livro e o autor, a deficiencia de observações, de preparo,de escolha, de dosagem, da applicação da lympha, fizeram-me voltará solidão do gabinete, até quando, já em 1928, me veiu tirar daspesquisas e estudos a enfermidade de um amigo a quem offerecera umdos raros exemplares do meu livro que se salvaram do deseuído deuma pessoa quem confiára a guarda de 900 volumes que foramextraviados. Aquelle e estudos a enfermidade de um amigo voltava dohospital de Natal, onde, dois mezes antes, fôra parar, em consequenciade vomitos de sangue, ou ―hematémese‖, cujas crises repetidas, esignaes concomitantes levaram os medicos a suppol-o canceroso, ou,pelo menos, portador de ulcera gastrica. Melhorando um pouco, aconselharam-no a se transportar para oRio, onde talvez fosse necessario proceder á ablação do orgãoaffectado. Aterrorisado com o diagnostico, aquelle homem que estavacom os dias contados, cachetico, hydropico, febricitante, de cor verde-palha, ademaciado e dolorido, supplicou-me que experimentasse alymphotherapia.TUBERCULOSE E ULCERAS CURADAS! — A esse tempo, um notavel clinico parahybano diagnosticavatuberculose aguda, febril, com lesões num dos pulmões, numa pessoaque me era ligada por laços de família. Era preciso agir e essa pessoafoi submettida ao meu tratamento com um resultado tão accentuado esatisfatorio que mais ainda me animara. Resultado egual obteve, umanno depois, o portador do ―ulcus‖ do estomago, cuja historia ephotografia publiquei em 1930 no folheto ―A Lymphoterapia‖, que,distribuido, não teve melhor sorte que o livro. Não vale a pena enumerar
as molestias curadas pelo systema. É melhor falar das reacções quesobrevém á applicação do remedio, e sómente nas pessoas doentes,pois os sãos nada sentem. Tuberculosos experimentam dores, dias após,nas zonas do pulmão affectado. Certas enfermidades curadas ha 5 ou 6anoos volvem atenuadas, e assim, em cada orgão, em cada viscera,em cada parte do corpo onde houve uma lesão, ou que esteja aformar, ha uma sensação de allivio um principio e fim de cura, que, ouvem acompanhada defebre, ou de dores, ou de prurido com formaçãonova de hematias, ou então por augmento de secreção gandularinterna, de vivacidade, vigor e forças.A CONSPIRAÇÃO DO SILENCIO A ―conspiração do silencio‖ acompanhou-me por parte dagente responsavel, emquanto, de outra parte, os apodos e asinvectivas, espoucavam, sem todavia provocar abalos em meuespírito,pois que, neste pé, eu já antevia o resultado di meu esforço.Com fé no futuro, volvi-me para os estudos da lei que regula o novosystema de curar. Foi nessa quadra, quando o despreso da Sociedadede Medicina da Parahyba se tornou mais forte, que em mim despertounova reserva de animo para ir avante. Estavamos em 1932, quando umdos seus membros me aconselhou a apresentar por seu Intermedio um―memorial‖ áquella sociedade. Rememettera, depois, com os meuslivros republicanos, um relatorio minucioso do que havia feito econtinuava a fazer, e solicitara o auxilio de suas luzes, aquellesesclarecidos mestres do saber. Foi ainda uma tentativa fracassada,porque mezes após, em vez da promissora opportunidade que eualmejava, de ser chamado a defender os meus escriptos, recebia umlaconico cartão, em que me dizia que a sociedade deliberara porunanimidade não tomar conhecimento do ―memorial‖ por não ser deautoria de pessoa diplomada. O gesto da Sociedade não me fezestacionar e pouco depois, numa rapida visita que fiz ao Hospital Pedro
I, na prospera cidade de Campina Grande, tive o ensejo de ler asminhas observações em presença de oito medicos ilustres, sem soffrernenhuma hostilidade da parte dos mesmos. Emquanto isto succedia,avultava por outro lado o numero de observações em favor daLymphotherapia.FÓRA DA LEI, PELO BEM DO PROXIMO — Sei que venho agindo fora de minha profissão, pois não soumedico, mas comprehendo tambem que a sciencia não pode serpatrimônio de uma classe e não seria, portanto, por falta de assistenciaque eu deveria recuar. Minhas experiencias não fazem ―victímas‖, masdizia mesmo em sua defesa, e eu confesso que tenho continuado,comquanto me sinta ainda no abc de uma importante novidadetherapeutica, sem o sacrificio de nenhuma vida. Os poucosconhecimentos de biologia e sciencia de curar, já os esgolei e longeestou de chegar ao fim, só e desajudado. Entretanto, já me compensamas emoções de ler com meu methodo alliviado algumas dóreshumanas.DEZENAS EDEZENAS DE OBSERVAÇÕES — No anno de 1934, registrei 33 casos. Em 1935 o numeroelevou-se a 104 e de janeiro até junho deste anno já realizei 112observações, plenamente sanccionadas pelo applauso das pessoascuradas dentrro deste Estado, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Namaioria tratava-se de tuberculosos, de antigos e novos cardiacos,arteriosclerosos, syphiliticos. Velhos portadores de grande variedade dedoenças que passaram tempo remotos e que voltaram a aparecer demodo attenuado, poucos dias depois de applicada a vaccinaçãolymphotherapica, para, em seguida, desapparecerem completamente,de um modo que os meus clientes chamam de prodigioso.
Certos distúrbios femininos tém sido debellados com uma ouduas applicações. Velhos rejuvenescem para uma velhice sadia e maisalegre.UMA VORONOFTHERAPIA MAIS SIMPLES — Permita-me que eu repita o que dantes faria o ouvinte recuar:meu systema é a voronoftherapia simplificada. Consiste na esterilisaçãoa frio do liquido bucal das pessoas sãs e novas e trasmudado, aindavivo, para os doentes. A grande difficuldade está em classifical-o emtypos, de acordo com as differentes modalidades do plasma receptor.Nisto, é que, em parte, reside o segredo da minha descoberta. Alémdisso, variam muito a dosagem e o espaço de uma a outra injecção.Em regra, basta uma única applicação em molestia recente: o resultadoé benefico em todos. Nenhuma contraindicação, nem mesmo no termodas molestias fataes. É soberano recurso, onde a adrenalina e o oleocomphorado falham.DIABETICOS E LEPROSOS — Presumo, pelas experiencias, ter descoberto o meio de tirarproveito na tuberculose, onde reste ainda uma parte do pulmão eespero fazer retrogradar a lepra ao estado de eczema, como já tenhofeito da tuberculose uma bronchite commum. Conforme observaçõesmais recentes, constantes do ―memorial‖, consegui reduzir o assucar,num diabetico, a mais da metade, levantar-lhe as forças, dissipar-lhe acatarala e abater a febre do enfermo. Se o meu remédio puder attingiros centros nervosos antes na invasão acida do plasma, terei o triumphoque coube ao immortal Pasteus com a applicação da lympha rabica,attenuada, quando era posta em contacto, antes da invasão mórbidado virus das ruas.
VIDA NOVA! — Seria immodestia assegurar que a lymohotherapia seja umsystema completo de curar, máxime quando muitos outros existem.Mas, se altentarmos no poder preventivo e curativo dos humores sãos,na acção destruidora que a lympa transmudada tem com a acidez doplasma, no poder dissolvente que possue contra as caleificações dasartérias, na formação das hemathias e na transformação dos humoresconcluiremos que com a destruição do micróbio ercado numa lymphaacida, ou destonalisada, com a transmissão para o doente de umpouco de seiva da vida e com a possível creação de antígenos eantecorpos defensivos, possa a lympha sanguinea irradiar com avantagem, um pouco de vida nova. E assim poderemos supprir, pormuito tempo, as pernas que se dão no estreito circulo da vida.QUE É PRECISO FAZER Lembrámo-nos, por fim, de indagar se já pensara em obterpermissão da Saude Publica para a officialisação do remedio. — Tenho pensado muito — respondeu. Imaginei que com acreação de institutos locaes, onde o remedio pudesse ser preparadosob as vistas de um director, depois que um medico tivesse controladoo doador da lympha e o doente examinado, tudo fosse resolvido. Comovê, o mero exame da lympha pelos laboratórios officiaes não preenchea formalidade. Quando remetti o ―memorial‖ á Sociedade de Medicinada Parahyba, esperci que Ella mandasse verificar o que eu dizia. Nãotendo acontecido isso, fui lel-o ao Hospital Pedro I, em CampinaGrande. Estou concluindo outras observações e pararei se não puderconseguir a officialisação ou licença para a fundação do primeiroinstituto ou sanatorio de curas, nas bases em que penso realizar.UM DOCUMENTO DO PUNHO DE JOSÉ FÁBIO
As respostas contidas nesta entrevista expressam fielmente meupensamento. Bananaeiras, 15 de julho de 1936 — José Fábio.‖VORONOFF BRASILEIRO. A NOITE, Rio de Janeiro, 11 ago. 1936, nº 8.8819,p. 1 e 9.
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