A apreensão e a compreensão do território, em que pese toda a sua riqueza e complexidade, sinalizam uma etapa primordial para caracterização descritiva e analítica das populações e seus problemas de saúde. Acrescenta-se a esta caracterização como este território é percebido pela comunidade, principalmente no que se refere aos problemas de saúde e suas determinações (SANTOS; RIGOTTO, 2011). Assim o território deve ser visto como processo dinâmico de relações e expressões do processo saúde-doença, devendo ser superada a lógica de que o processo de territorialização está relacionado ao número de pessoas ou famílias por Agente Comunitário de Saúde (ACS). Neste sentido, para se avançar na apropriação do território a partir de uma análise da situação de saúde da população é necessário fundamentar a assistência à saúde com referenciais que permitam a compreensão da determinação do modelo econômico, social, político e cultural sobre o processo saúde doença da coletividade. Considera-se que as ações de saúde a partir da compreensão de território, conforme referendado anteriormente, não terá solução para todos os males da saúde pública, mas considera-se que o mesmo deve ser utilizado sempre que investigação/ação envolver grupos sociais (FARIA; BORTOLUZZI, 2009; SILVA et al.,2010). Assim, o objetivo deste documento é descrever o território de uma Unidade de Saúde nas dimensões histórica, política, geográfica e administrativamente, como base para intervenção em saúde. 2 Metodologia Este estudo é classificado como qualitativo de caráter exploratório, realizado no primeiro semestre de 2012, em uma Unidade de Saúde do Distrito Sanitário Boa Vista (DSBV), com Estratégia Saúde da Família, no município de Curitiba/PR. O local de estudo vem sendo utilizado como campo de aulas práticas do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná, o que permitiu um aprofundamento sobre o território de prática dos alunos e do professor titular da disciplina. Visando o aprofundamento na exploração do objeto delimitado, a pesquisa foi ancorada na Teoria de Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC) (EGRY, 1996). Esse método está fundamentado no Materialismo Histórico Dialético (MHD) que compreende os fenômenos de saúde como resultado da organização social para a produção/consumo, pois é dela que dependem os seres humanos para suprirem suas necessidades. As transformações no modo de produção e, consequentemente, de reprodução social em uma determinada sociedade em um momento histórico, determinam as transformações na saúde humana (CHAVES; PERNA, 2008). A proposta metodológica da TIPESC é composta de cinco etapas, sendo estas: captação da realidade objetiva, interpretação dos dados coletados sobre a realidade objetiva, construção do projeto de intervenção com vistas a modificar a realidade, intervenção na realidade e reinterpretação da realidade. No presente estudo foram realizadas as duas primeiras etapas- captação da realidade objetiva e interpretação dos dados. Os dados foram coletados por meio de vinte visitas ao território com observação estruturada. O objetivo das observações foi de identificar suas características geográficas, políticas e de ocupação do território. As observações foram realizadas por meio de idas aos espaços públicos, tais como: ruas, praças e terrenos baldios. Nestes momentos os pesquisadores registraram em um mapa do território informações que permitissem posteriores discussões para a caracterização local. Além do uso dos mapas foram utilizados diários de campo pelos dez pesquisadores envolvidos no processo. No período de coleta de dados se identificava a localização dos dados levantados em cada rua, e assim, se redesenhava o território. Esta última fase foi realizada por meio de duas oficinas com a presença de todos os pesquisadores envolvidos. Nestas oficinas se discutiu sobre as informações coletadas, assim como sobre a uniformização dos registros dos dados. De acordo com as normas éticas estabelecidas pela Resolução CNS 196/96 do Ministério da Saúde, a proposta de pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa50 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, sob o número de registro1185.110.11.08, com o título do trabalho “Organização e práticas na Atenção básica à saúde nocontexto da Estratégia de Saúde da Família (SF). Além deste, outros trabalhos foram realizadospelo grupo multiprofissional que compunha o Programa de Educação para o Trabalho (PET-saúde).3 Resultados3.1 Conhecendo o local de estudoO Serviço de Saúde de Curitiba está dividido em nove Distritos Sanitários, estes são responsáveispor dar suporte e assegurar as ações e intervenções relacionadas às Unidades de Saúde,através das coordenações que repassam as atualizações referentes a assistência; vigilânciaepidemiológica e sanitária; e de sistema de informação. Dentre eles está o Distrito Sanitário BoaVista, que conta com 18 unidades de saúde, sendo 3 com Estratégias de Saúde da Família e15 unidades básicas, além de um Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) (CHAVES,2010).A Unidade Municipal de Saúde onde foi realizado o estudo está localizada entre o Rio Atuba,divisa dos municípios de Curitiba e Colombo. A região é também margeada por duas rodovias,as BR 116 e 476, sendo esta última também conhecida como Estrada da Ribeira.Esta US passou a prestar serviço à comunidade após reivindicação na IV Conferência Localde Saúde, em local provisório, com uma área física de 54 m2. Desde o início das atividadesna unidade foi implantado o Programa Saúde da Família e após cinco anos, passou a ter sedeprópria, havendo necessidade de readequação das áreas de atendimento.Atualmente atende a toda a comunidade local, com base nos pressupostos da EstratégiaSaúde da Família, preconizadas pelas diretrizes do Ministério da Saúde (2006). Com atuaçãosob esfera administrativa da gestão municipal, tem prestado serviços de caráter ambulatorialprogramado, além de atendimento de demanda espontânea para os moradores do territórioda área de abrangência da unidade. A população estimada atualmente é de aproximadamente1600 famílias correspondendo a 5900 usuários do serviço local de saúde, segundo dadosobtidos pelo Sistema de Informação da Atenção Básica- (SIAB- 2011). Figura 1: Mapa da área de abrangência da Unidade de Saúde Fonte: IPPUC, 2011A assistência prestada à população adscrita engloba atendimentos da equipe multiprofissionalcomposta por profissionais da enfermagem, medicina e odontologia. Na área da enfermagem osprocedimentos realizados são: visitas domiciliares, curativos, retirada de pontos, administraçãode medicamentos, nebulização, imunização, assistência pré-natal/puerperal, coleta de materialCaminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 51
para exame laboratorial, coleta de material para exame citopatológico, ações de vigilância epidemiológica, encaminhamento para internamento e consultas especializadas, assim como desenvolvimento de grupos de educação em saúde para diversos segmentos populacionais. O atendimento à população ocorre de 07:00 às 17:00 horas, de segunda a sexta-feira. A Unidade de Saúde ainda conta com profissionais de outras categorias, como: psicólogo, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista e farmacêutico, que integram a equipe multidisciplinar do Núcleo de Apoio à Atenção Primária à Saúde - NAAPS. Estes profissionais realizam consultas pré-agendadas pela equipe ESF, conforme os dias em que permanecem na unidade, pois os mesmos profissionais atendem nas 3 Unidades de Saúde ESF do Distrito Sanitário Boa Vista. A equipe de saúde ESF da unidade conta também com o apoio da Fundação de Ação Social - FAS, nas questões relacionadas a famílias que vivem em risco social, casos de desemprego, violência intradomiciliar, não acesso à alimentação, crianças fora da escola e risco habitacional. Cabe destacar que existe atendimento prestado à população alvo por meio de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças junto aos grupos populacionais que se encontram nas creches, escolas e projeto Piá (onde são realizadas atividades de contra turno para crianças matriculadas na escola municipal da região), as quais estão presentes no território. Esta intervenção é de natureza intersetorial e multiprofissional. Quadro 1: Número de QUANTIDADE PROFISSIONAL funcionários por categoria profissional na Unidade de Saúde 01 AUTORIDADE SANITÁRIA LOCAL Engenheiro Luiz Lazof (Vila 03 MÉDICO Esperança), Curitiba-PR, 2012. 03 10 ENFERMEIRA* Fonte: Autores, 2012 04 AUXILIAR DE ENFERMAGEM** 01 Notas: (*) Uma enfermeira estava 05 CIRURGIÃO DENTISTA em processo de aposentadoria; 02 TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL (THD) (**) considerou-se todos como 12 ATENDENTE DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO (ACD) 02 auxiliares de enfermagem porque AUXILIAR ADMINISTRATIVO este é o cargo existente na AGENTE COMUNITARIO DE SAÚDE (ACS) Secretaria Municipal de Saúde de SERVIÇOS GERAIS (terceirizados) Curitiba, assim os profissionais não foram diferenciados na qualificação de técnico ou auxiliar. Os profissionais descritos no Quadro 1 subdividem-se em três subequipes, cada uma destas é responsável por uma área correspondente no território adscrito. A divisão visa promover a organização da assistência à saúde para a população da área de abrangência, bem como tornar os profissionais referência para a população e responsabilizar os profissionais pelos problemas de saúde da população sob seus cuidados. Cada uma dessas áreas ainda é subdividida em quatro micro áreas, o que facilita a localização de micro áreas com situações de risco à saúde e a organização de ações que possam promover mudanças efetivas naquelas realidades. O processo de trabalho na Unidade de Saúde se desenvolve de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde, alicerçada nos pressupostos da Estratégia Saúde da Família, o qual referenda um modelo assistencial fundamentado na promoção de condições adequadas de vida por meio de ações que visam o atendimento das necessidades em saúde do usuário no seu ambiente, ou seja, em sua residência e na comunidade. A organização do trabalho na Unidade ocorre nos limites e possibilidades da realidade do serviço de saúde. Visto que, este modelo busca romper com a organização do serviço centrada na ação do médico e passa a ser planejado por toda a equipe, respeitando uma escala ou agenda dos profissionais. Estas escalas são organizadas de diferentes formas, sendo uma diária para a52 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
divisão entre atividades dos funcionários com cargos semelhantes; semanal para a distribuiçãodos funcionários nos atendimentos aos programas e mensais para a demarcação de reuniõesde equipe.Esta organização sofre a influência da divisão do território e de suas áreas de abrangência, já queesta resulta na formação de subequipes de trabalho. Percebe-se que a dinâmica na organizaçãodo trabalho modifica-se conforme a condução do mesmo e do atendimento às necessidades emsaúde da população, tal mudança tem como parâmetro de avaliação os índices epidemiológicose populacionais.O controle social local é realizado por meio das associações existentes no território. Arepresentação é exercida pelos presidentes de cada associação e a participação em cadaassociação é aberta à comunidade de referência. Nas reuniões realizadas pelas associaçõessão levantados os problemas da população, e posteriormente encaminhados aos vereadores ouprefeitura. Destacam-se três associações de moradores na Vila Esperança, que se caracterizamcomo as mais atuantes no território.A Associação de moradores 1 é composta pela comunidade da área alta deste território, existehá 30 anos com a mesma liderança, que atualmente é a presidente do Conselho Local deSaúde. Esta associação realiza reuniões semanalmente e conforme necessidade na sua própriasede. É a única associação que tem um espaço próprio para promover atividades comunitárias.A Associação de moradores 2 representa os moradores da área localizada no meio do territórioda Vila Esperança. O presidente atual está em seu terceiro mandato e participa como vice-presidente do Conselho Local de Saúde. As reuniões dessa associação são realizadas noespaço da Igreja Católica da comunidade que se localiza na área mais alta do território. O lídercomunitário relatou a dificuldade de realizar reuniões periodicamente com a comunidade. Nestesentido, uma das lutas dessa associação é a reivindicação de um local próprio.A Associação de moradores 3 é composta pelos moradores da área baixa (área de fundo devale). A presidente desta associação está em seu segundo mandato. As reuniões da comunidadesão realizadas na residência da presidente e a periodicidade destes encontros é mensal. Paraestimular maior participação da comunidade a presidente oferece lanche durante as reuniões.3.2 Caracterização do territórioO território da Vila Esperança é dividido em três áreas. Uma delas se localiza em uma região altatopograficamente, formada por um conjunto de residências tipo COHAB que possuem: água,luz, sistema de esgoto, coleta de lixo regular, sistema de iluminação, asfalto e calçamento.A parte média da Vila Esperança é formada por casas construídas posteriormente ao conjuntoresidencial, onde a infraestrutura apresenta algumas deficiências, e por último a parte baixa,localizada na área de fundo de vale, sendo considerada uma área irregular para habitação,segundo a legislação ambiental federal.Esta área conta com uma mínima infraestrutura e apresenta: residências em precárias condiçõespara a moradia; presença de lixo nas ruas, no rio e no terreno das casas; ruas sem asfalto; faltade iluminação pública; rede de esgoto e criadouro de animais de pequeno porte, como porexemplo galinheiros.Ao caminhar pelas ruas notam-se muitos bares, como também pontos de comercialização dedrogas ilícitas, assim como locais para venda informal de produtos alimentícios, sem supervisão/autorização da vigilância sanitária.Há uma grande quantidade de terrenos baldios limpos e sujos que podem trazer comoconsequência problemas de saúde a população. As áreas de lazer encontradas são poucascom relação à área geográfica e não são locais seguros para crianças e adolescentes, pois hápresença de lixo e restos de construção ou sinais de lixo incinerado.Existem algumas microempresas no território, onde observa-se a falta de uso de equipamentosde proteção individual (EPI) pelos funcionários, e ainda, que a atividade ali realizada tambémpode vir a causar problemas ambientais e para a saúde dos indivíduos que moram próximos aoslocais. Já nas grandes empresas presentes no território não se teve acesso para verificação doscuidados de saúde do trabalhador, assim como não se pôde observar se a atividade ali realizadaocasiona problemas para a saúde da população local.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 53
Estabelecimentos comerciais com atividades de estética, salões de beleza e tatuadores, também foram encontradas na área, porém não se percebeu nenhuma ação da vigilância sanitária junto a estes estabelecimentos. Com relação à escola que existe na comunidade, foi identificado que esta atende a população até o ensino fundamental incompleto (da creche à 5ª série), ao ingressar na 6ª série ou no ensino médio os alunos são obrigados a se deslocar para escolas que se encontram fora da comunidade, presentes em bairros próximos ou mesmo no município de Colombo. Na rede de serviços locais, a comunidade conta com a Fundação de Ação Social (FAS) por meio do CRAS, que oferece alguns cursos profissionalizantes, nos quais muitas vezes sobram vagas por não haver demanda. 4 Discussão O local estudado está inserido em um dos Distritos Sanitários do município de Curitiba, concretizando a diretriz de descentralização dos serviços de saúde. Neste sentido, permite o acesso da população às ações de saúde que a Unidade de Saúde promove. Além disso, a unidade faz parte da ESF, a qual permite maior vinculação e direcionamento das intervenções em saúde, conforme necessidade da população adscrita. A construção da nova área física da US permitiu significativa melhora na qualidade do serviço prestado, devido às melhores condições para o trabalho da equipe de saúde, melhor organização das atividades e espaços mais adequados para o atendimento. Com relação à participação popular em saúde foram identificadas as três associações de moradores que tentam ser representativas, mas o relato dos presidentes permitiu perceber que não há uma participação popular efetiva, pois nem sempre conseguem realizar reuniões com seus associados para as devidas consultas. Tal situação em duas delas fica agravada pela não existência de sede própria para as atividades. Quanto às condições de moradias e infraestrutura nas áreas, percebeu-se o início de uma urbanização do local, pois as casas seguiam um padrão e tinham condições sanitárias adequadas, até que parte da região passasse a ter locais de ocupação irregular, em especial na área de beira rio, onde há precárias condições de moradia, falta de pavimentação e esgoto a céu aberto. Atualmente, muitas cidades/bairros são reflexos das formas irregulares de trabalho, causando efeitos mosaicos, onde não há planejamento na elaboração da estrutura para a população local (RIZEK, 2012). Este efeito mosaico pode ainda ser agravado no local pela falta de uma política governamental que leve moradia de baixo custo para aquela comunidade. Outra questão relevante foi a observação de grande quantidade de terrenos baldios, o que facilita o uso do espaço para atividades relacionadas ao uso e comercialização de drogas ilícitas. A existência de um número significativo de postos de venda de bebidas desencadeia outras reflexões, tais como, o alto índice de pessoas com dependência do álcool morando no território e a violência nos locais de venda e muitas vezes nos domicílios. Todas estas questões se relacionam à determinação de fenômenos que necessitam da intervenção dos profissionais de saúde. Com relação aos aparelhos de educação no território se percebeu que há dificuldade para o acesso aos estudos nesta população, pois só existe uma escola que desenvolve as primeiras séries do atual ciclo de ensino, de 1ª à 5ª série. Tal fato leva a população a buscar escolas em territórios vizinhos. Entende-se que a falta de escolaridade potencializa o aparecimento de problemas de saúde, uma vez que a não compreensão sobre as orientações de cuidados e tratamentos remete ao abandono ou uso incorreto de determinadas tecnologias para a saúde (SANTOS; RIGOTTO, 2011). A Constituição de 1988 referenda que para o pleno desenvolvimento da pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, está relacionada ao tempo mínimo de estudo, o qual seria de oito anos. Sendo assim a situação descrita no território estudado não favorece o tempo mínimo estipulado, ocorrendo grande número de evasão escolar e não permite conclusão dos estudos na idade adequada (CASTRO, 2009). Destaca-se que somada54 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
a esta situação há a dificuldade de encontrar trabalho pelo não preparo para o mesmo, o que édeterminante para o não acesso ao trabalho e renda, consequentemente a população é levadaao uso de moradias precárias, não acesso à alimentação, entre outros problemas.No território, está presente o serviço de assistência social, prestado pelo CRAS, um dosserviços ofertados é o programa do menor aprendiz, porém um dos requisitos para o ingressodo adolescente é estar cursando o ensino regular.A atividade de lazer trata-se de toda atividade onde a pessoa de livre vontade pode repousar, sedivertir ou se entreter, após se livrar das obrigações diárias, porém no contexto da globalização,muitos adolescentes estão mais voltados para as redes sociais e televisão, embora hajaadolescentes que participem de atividades junto a seus pares na rua, como por exemplo parajogar bola, porém no território estudado percebemos a presença de poucos locais para estasatividades (PFEIFER; MARTINS; SANTOS, 2010).5 ConclusõesO presente estudo permitiu conhecer como se dá o processo de territorialização e a suaimportância para o planejamento das intervenções junto à população adscrita. Pode-se contudoconfeccionar um mapa inteligente, onde foram apontadas as potencialidades e fragilidades doterritório.Ao se elaborar e refletir sobre ao processo de territorialização em uma área de abrangência deuma Unidade de Saúde pode-se afirmar que há necessidade de se desenvolver uma discussãojunto às equipes de saúde, assim como junto às populações que estão sob a responsabilidadedestes profissionais para que estes sujeitos se apropriem do conhecimento sobre a determinaçãoda realidade de saúde encontrada no território.Ao se discutir tal processo será possível elaborar um projeto de intervenção em saúde paraa transformação da realidade ali encontrada. Para que este projeto seja efetivo há que secompreender a importância de intervir na determinação das situações que se quer modificar.Sobre esta última, no território estudado, destaca-se a necessidade de implantação de serviçosde outros setores, tais como educação, assistência social e segurança, como também aparticipação da população na discussão das condições de vida no território descrito.6 ReferênciasCASTRO JÁ. Evolução e desigualdade na educação brasileira. EducSoc;30(108):673-97, 2009.CHAVES MMN, PERNA PO. O Materialismo Histórico-Dialético e a teoria da Intervenção Práxicada Enfermagem em Saúde Coletiva: A demarcação do ‘coletivo’ para a ação da Enfermagem.Trabalho necessário;6(6):1-28, 2008.CHAVES MMN. Competência avaliativa do enfermeiro para o reconhecimento eenfrentamento das necessidades em saúde das famílias. [tese]. São Paulo: Universidadede São Paulo; 2010.EGRY EY. Saúde coletiva: construindo um novo método em enfermagem. São Paulo: Ícone; 1996.FARIA RM, BORTOLOZZI A. Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para otema da geografia da saúde no Brasil. R RA’EGA;(7):31-41, 2009.MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Atenção básica e a saúde da família [acesso em 08 dez 2011]Disponível: dab.saude.gov.br/atencaobasica. 2011.MONKEN M, BARCELLOS C. Vigilância em saúde e território utilizado: possibilidades teóricas emetodológicas. Caderno de Saúde Pública, 21(3):898-906, 2005.MONKEN, Maurício et al. O território na saúde: construindo referências para análises em saúdee ambiente. In: Miranda AC, Barcellos C, Moreira JC, Monken M, organizadores. Território,Ambiente e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 55
PFEIFER LI, MARTINS YD, SANTOS JLF. A influência socioeconômica e de gênero no lazer de adolescentes. Psicologia: teoria e pesquisa; 26(3):427-32, 2010. RIZEK Cs. Trabalho, moradia e cidade zonas de indiferenciação? Revista Brasileira de Ciências Sociais; 27(78):41-9, 2012. SANTOS AL, RIGOTTO RM. Território e territorialização: incorporando as relações produção, trabalho, ambiente e saúde na atenção básica a saúde. TrabEduc Saúde; 8(3):387-406; 2010/2011. SANTOS, A. Lugar e território. O sistema de saúde brasileiro, a geografia e a promoção da saúde. Rev Geográfica Venezuelana, 50(1):159-72, 2009. SILVA JR ES, MEDINA MG, AQUINO R, FONSECA ACF, VILASBÔAS ALQ. Acessibilidade geográfica à atenção primária à saúde em distrito sanitário do município Salvador, Bahia. RevBras Saúde Mater Infant;10 (supl.1):S49-S60, 2010.56 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Relato de ExperiênciaAprendendo Libras: Umasegunda língua, uma nova culturaMaria Helena Alemany Soares1 - [email protected] Aroldo Pereira2 - [email protected]:O projeto de extensão “Curso de Formação Inicial e Continuada em Língua Brasileira de Sinais– Libras nível Básico” buscou promover a capacitação de servidores públicos (municipais,estaduais e federais) que trabalham em instituições culturais, para que os mesmos possam vira atuar no recebimento do público surdo nesses estabelecimentos. A oferta do curso básico deLibras permitiu a qualificação profissional dos participantes e o fortalecimento da acessibilidadecomunicacional à comunidade surda.PALAVRAS-CHAVE:Surdos. Libras. Inclusão. Capacitação. Espaços Culturais.ABSTRACTThe extension project “Initial Course and Continuing Qualification in Brazilian Sign Language –LIBRAS basic level” sought to promote the training of public officials (municipal, state and federal)working in cultural institutions, so that they can act upon the reception of the deaf audience inthese establishments. The offer of the basic course in LIBRAS, allowed the qualification of theparticipants and the strengthen of communication accessibility to the deaf community.KEYWORDSDeaf. Libras/Brazilian Sign Language. Inclusion. Qualification. Cultural Centers.1 Graduada em Licenciatura - Educação Artística e Formada no Curso Técnico em Guia de Turismo Categoria - Regional SantaCatarina. Docente e Coordenadora do Curso Técnico Guia de Turismo no Câmpus Florianópolis-Continente do IFSC2 Bolsista do Projeto de Extensão – Curso Básico de Libras - Bacharel em Jornalismo e Estudante de Guia de Turismo no CâmpusFlorianópolis-Continente do IFSCCaminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 57
1 Introdução O projeto de extensão “Curso de Formação Inicial e Continuada – Libras Básico”, executado pelos câmpus Palhoça-Bilíngue e Florianópolis-Continente em parceria com a Casa da Memória de Florianópolis, foi realizado no segundo semestre de 2013, tendo como objetivo qualificar e capacitar servidores municipais, estaduais e federais que atuam em instituições culturais na aquisição da Língua Brasileira de Sinais – Libras, assim como, promover a acessibilidade comunicacional do público surdo junto a essas instituições de cultura. O curso surgiu da demanda observada na conclusão do projeto de pesquisa intitulado “A Inclusão do Surdo nos Espaços Culturais Turísticos de Florianópolis”, publicado em 2013, pela editora Arara Azul e produzido entre 2011 e 2012 por docentes e aluno bolsista do IFSC. A pesquisa apontou que o público surdo prefere ter acesso a informação por meio de Libras, seja por servidor fluente na língua de sinais, por intérprete ou vídeos em Libras que repassem as informações do atrativo cultural (Soares et al, 2013). Ademais, foi observado que as instituições culturais não possuem servidores capacitados para suprir a demanda no que tange à acessibilidade comunicacional para o público surdo, apesar da legislação estar adequada a essa parcela da população. O IBGE revelou que o número de surdos no Brasil era de 9,7 milhões de pessoas (IBGE, 2010 e INEP, 2006), sendo que desses, aproximadamente 24.961 vivem na Grande Florianópolis. Deste universo, 97,53% dos surdos estão fora das creches, 86,28% estão fora da educação infantil e ensino fundamental, 96,15% estão fora do ensino médio e 99,06% estão fora do ensino superior, conforme análises e dados apresentados pelas instituições. Esta conclusão acontece pelo impasse comunicacional entre surdos e ouvintes. Dentro deste contexto, além da capacitação profissional proposta, o projeto contribui para o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais, essa que é respaldada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. 2 O projeto e sua execução Com o objetivo de capacitar profissionais que atuam em locais de cultura, no quesito acessibilidade comunicacional, foi elaborado um curso de Libras-Básico, com duração de 80 horas. Foi realizada uma parceria entre os câmpus do IFSC Palhoça-Bilíngue e Florianópolis- Continente com a Casa da Memória de Florianópolis, sendo o IFSC responsável por coordenar a oferta do curso, disponibilizar corpo docente, realizar a seleção e certificação dos alunos. Já a Casa da Memória assumiu o compromisso de ceder o local e equipamentos multimídia para a realização das aulas. Com isso, o IFSC lançou o Edital 16/DEING/2013/2 de Curso de Qualificação – FIC (Formação Inicial e Continuada em Curso Básico em Libras), com 20 vagas, e obteve 38 inscritos. Além dos servidores das instituições culturais, houve uma grande procura por parte da comunidade civil: três guias de turismo, um condutor ambiental, duas estudantes do IFSC, três educadores, dois profissionais liberais. O bolsista e a coordenadora do projeto também participaram da capacitação com o objetivo de acompanhar o andamento do curso e iniciar o aprendizado na área. A execução do projeto ocorreu de agosto a dezembro de 2013 – com atividades todas as segundas-feiras no período vespertino. Com base em registros, passaram pelo projeto 20 alunos e 13 finalizaram o curso. 3 A participação e retorno da comunidade A primeira aula foi uma palestra do professor de Libras e diretor do Campus Palhoça-Bilíngue, com tradução de uma intérprete, representantes da Casa da Memória e a coordenadora do projeto de extensão. Finalizado o curso, a evasão dos alunos foi notada; pois dos 20 alunos participantes, quatro comunicaram formalmente a desistência, uma aluna realizou a matrícula,58 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
mas nunca frequentou as aulas, três obtiveram um número elevado de faltas e os demaisconcluíram o curso com frequência e aproveitamento adequados com a proposta do curso.Além disso, o professor disponibilizou uma cartilha denominada “Aprendendo Libras comoSegunda Língua”, editada pelo IFSC, e fez a indicação de um aplicativo “Dicionário em Libras”para celulares e tabletes que funcionam com sistema operacional android e IOS, tudo para queos alunos pudessem dar continuidade aos estudos fora do ambiente de ensino.Dentre as atividades executadas com os alunos, os professores abordaram, além do ensino deLibras, a vivência e a cultura surda, sendo explanadas curiosidades e informações relevantesao tema. As aulas seguiram com dinâmicas de grupos, apresentação de vídeos com a temáticasurda e interações por meio de diálogos em Libras.Durante o curso, foi realizada visita técnica aos Museus Victor Meirelles e Museu Histórico deSanta Catarina – Palácio Cruz e Sousa, conforme as figuras 1 e 2, com o intuito de observare tirar dúvidas dos servidores em capacitação nos seus respectivos ambientes de atuaçãoprofissional. Figura 1: Visita ao Museu Victor Meirelles Fonte: Arquivo CoordenaçãoFigura 2: Visita ao MuseuCruz e SousaFonte: Arquivo CoordenaçãoDestaque para o Museu Victor Meirelles que, ao pensar no atendimento ao público surdo,submeteu por meio do Edital da Caixa Econômica Federal, o Projeto “Ver e Ouvir VictorMeirelles”, o qual foi contemplado com recursos para a produção e compra de “vídeos guias”,no qual apresenta o museu e as principais obras da instituição em Libras, espanhol, inglêsportuguês e francês. (Figura 3).Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 59
Figura 3: Vídeo Guia em Libras Fonte: Arquivo Coordenação Um questionário semiestruturado foi realizado com os alunos para saber as opiniões desses em relação ao aprendido. Praticamente todos os opinários respondidos consideraram que projetos dessa natureza são relevantes não somente para os funcionários, mas para toda a comunidade, tanto surda, como dos ouvintes, e que tinham um grande interesse em dar continuidade ao curso, sendo a participação do IFSC e a Casa da Memória fundamentais para essa continuidade. Dentre os comentários e observações elencadas pelos participantes, pode-se apontar: Todo novo conhecimento é bem-vindo, e foi muito válido para mim, pois, para a instituição [em que trabalho] é muito importante ter um funcionário que saiba a Língua de Sinais. Quero continuar a aprender mais. O curso foi útil, mas vejo a necessidade de continuidade para que tenhamos segurança em Libras, para consequentemente [ter] desdobramento profissional e pessoal. A divulgação do projeto foi realizada previamente em diversos estabelecimentos culturais e quando lançado o Edital foi realizado contato telefônico e por e-mail com todas as instituições que apresentaram interesse em participar do curso. 4 Considerações Finais Analisando os resultados deste projeto de extensão, verificou-se que as metas e o objetivo geral foram alcançados, entretanto em partes, tendo em vista que o aprendizado de uma nova língua demanda tempo, prática e dedicação, sendo que a continuidade dos estudos é fundamental para a fluência no idioma. Com isso, cientes da demanda pela continuação do curso de Libras, uma solicitação formal de continuidade foi protocolada, aceita pelas instituições e a oferta do novo Curso de Libras Intermediário teve início em março de 2014. Este projeto sinaliza positivamente a capacitação dos servidores de instituições culturais, assim como sociedade civil. Com isso, cumpre–se o previsto na legislação, além de oferecer autonomia ao público surdo de visitar espaços culturais do centro de Florianópolis.60 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
A junção de projetos de pesquisa e extensão é fundamental para a sociedade em geral, pois,além de provar demandas reais e realizar a capacitação analisada é primordial no que tange asinstituições de ensino e cultura.Espera-se que essa capacitação realizada via projeto de extensão possa inspirar os órgãospúblicos em suas diferentes atuações, e assim, possibilitar uma melhor interação entre acomunidade local e públicos especiais.7 Referências bibliográficasALMEIDA, Wolney Gomes. Surdez e Cidadania: Um olhar sobre a inclusão social e as políticaspúblicas no contexto turístico. Dissertação (Mestrado em Cultura e Turismo) – Universidade deSanta Cruz, Ilhéus, 2008.BRASIL, Lei 10.436 de 22 de abril de 2002. Reconhece a Língua Brasileira de Sinais, Libras.BRASIL, Decreto-Lei 5.296 de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048,de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para apromoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,e dá outras providências.BRASIL, Decreto-Lei 5.696 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Leino 10.098, de 19 de dezembro de 2000.GESSER, Audrei. Libras que Língua é essa? – Crenças e Preconceitos em Torno da Línguade Sinais e da Realidade Surda. São Paulo: Parábola, 2009.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010:Resultados preliminares da amostra. 2010. Disponível em: <http://deficientefisico.com/resultados-do-censo-2010-feito-pelo-ibge-sobre-pessoas-com-deficiencia>. Acesso em 22dez. 2013.SOARES, Maria Helena Alemany. et al.: A Inclusão do Surdo nos Espaços CulturaisTurísticos de Florianópolis. Petrópolis: Arara Azul, 2013Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 61
Relato de Experiência Mídia interativa e aprendizagem colaborativa: relatos de uma prática educomunicativa Valdeci Reis1 - [email protected] Ana Paula Kuczmynda da Silveira2 - [email protected] Israel Weingartner3 - [email protected] RESUMO Em função do reconhecimento de estudiosos da área de mídias em educação quanto à importância da inserção de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nos processos educativos, o presente trabalho analisa o processo de implantação da Web Rádio IFSC Câmpus Gaspar, compreendendo-o como um mecanismo que proporcionou o uso das tecnologias da comunicação na educação, a interdisciplinaridade, o aprimoramento da competência linguística oral e escrita, bem como a oportunidade de reflexão por parte daquele que produziu o conteúdo informado, envolvendo ainda o trabalho em equipe. A Web Rádio IFSC permitiu que o câmpus potencializasse sua comunicação com a sociedade gasparense, além de propiciar uma maior integração entre toda a comunidade acadêmica. PALAVRAS-CHAVE Educomunicação. Rádio educativa. Aprendizagem colaborativa. ABSTRACT Due to the recognition of scholars in the field of media education on the importance of integration of Information and Communication Technologies (ICT) in the educational processes, this paper analyzes the implementation of Web Radio IFSC Campus Gaspar, understanding it as a 1 Mestrando em Educação, Técnico em Educação do IFSC Câmpus Gaspar. 2 Doutora em Linguística, Professora do IFSC Câmpus Gaspar. 3 Acadêmico do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio, Bolsista de Extensão no IFSC Câmpus Gaspar.62 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
mechanism provided that the use of communication technologies in education, interdisciplinarity,the improvement of oral and written language skills, as well as the opportunity for reflection onthe part of him who produced the content informed by involving teamwork. The Web Radio IFSCallowed the campus potentiate their communication with gasparense society, and encouragegreater integration of the entire academic community.KEYWORDSCommunication. Educational radio. Collaborative learning.1 IntroduçãoEste trabalho apresenta e discute os resultados do projeto de extensão “Web Rádio IFSC: umaproposta educativa para difundir ciência, tecnologia, inovação e cultura”, desenvolvido de marçoa agosto de 2014 no Câmpus Gaspar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologiade Santa Catarina.O projeto seguiu os pressupostos da educomunicação, área do conhecimento que busca pensar,pesquisar e trabalhar a educação formal, a informal e a não formal a partir de ecossistemaseducativos. Nessa perspectiva, a comunicação deixa de ser vista como um fenômeno tãosomente midiático, de função instrumental, para integrar dinâmicas formativas e planos deaprendizagem. Essa proposta inclui a consciência diante da produção de mensagens pelosveículos de comunicação tradicionais e o posicionamento perante um mundo fortemente editadopelo complexo industrial de produção simbólica. A prática educomunicativa pressupõe umatransformação radical nos processos de aprendizagem, uma renovação dos meios de aquisiçãodo conhecimento e uma nova postura perante a vida pública e a cidadania.O projeto teve como objetivo geral implantar a Web Rádio IFSC Câmpus Gaspar, proporcionandoo protagonismo estudantil e permitindo que os discentes explorassem as habilidades no campoda comunicação social e promovessem informação, entretenimento e interação no espaçoescolar.Os objetivos específicos foram: a) exercitar a comunicação oral, aperfeiçoando a objetividadee a clareza de exposição do pensamento; b) favorecer a convivência e o trabalho em grupo,respeitando as diferenças, os níveis de conhecimento e os ritmos de aprendizagem de cadaintegrante da equipe; c) aperfeiçoar a comunicação nas ações do câmpus; d) proporcionar umcanal de divulgação e de produção cultural para todos os estudantes; e) consolidar o processo deensino-aprendizagem da comunicação sob o ponto de vista linguístico, realizando um trabalhofonético intenso; f) aproximar os discentes dos diferentes meios tecnológicos e audiovisuais; eg) fomentar a educação entre os diversos agentes educativos (alunos, professores, família e acomunidade na qual a instituição está inserida).2 MetodologiaA metodologia desse projeto de extensão teve como fonte de inspiração a etnografia crítica,que, no entendimento de Macedo (2006), é uma ação enraizada, ao mesmo tempo, no sujeitoobservador e no sujeito observado. Dessa forma, são considerados sujeitos ativos tanto ospesquisadores quanto os pesquisados, que interagem no processo de investigação. Para esseautor, uma das fontes de rigor da etnografia é o esforço incessante de analisar a realidade comoela se apresenta, com todas as suas “impurezas”, ao evidenciar as contradições, os paradoxos,as ambivalências e os inacabamentos.Ao utilizar a etnografia crítica, o extensionista deve: manter-se atento aos novos elementos queemergem durante o processo; considerar o contexto em questão; revelar a multiplicidade de dimensõespresentes no objeto pesquisado; diversificar as fontes de informações; possibilitar ao participante aelaboração de “generalizações naturalísticas”; trazer para o estudo os pontos de vista conflitantes edivergentes; e utilizar um estilo mais informal de linguagem (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 18-21).Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 63
Ainda nessa perspectiva, é muito importante o envolvimento do pesquisador e do pesquisado, formando um “corpus” (MACEDO, 2006, p. 97) interessado na busca do conhecimento, que é gerado na prática participativa que a interação possibilita. O processo educativo se dá pela pesquisa-extensão, na medida em que se articulam o saber científico e o senso comum na busca da pertinência científica e da relevância do conhecimento produzido. 3 Resultados Os meios de comunicação, quando utilizados no ambiente escolar, tornam-se maneiras de estimular nos alunos reflexões críticas diante dos discursos das mídias tradicionais (PEREIRA; COUTINHO, 2014). A Web Rádio IFSC surge com essa mesma proposta, uma vez que busca envolver toda a comunidade escolar do Câmpus Gaspar, introduzindo as tecnologias de comunicação nesse ambiente, promovendo, assim, a produção textual e a reflexão crítica dos temas a serem abordados. Nesse sentido, pode-se classificá-la como um projeto que trabalha a educomunicação e que se enquadra na comunicação alternativa. Para Pereira e Coutinho (2014), a educominucação pode ser compreendida como os processos de desvelamento da mídia, voltados à superação do divorciamento entre o ensino e a apropriação de mensagens televisivas. Dessa forma, a educomunicação, quando aplicada no ambiente escolar em projetos como a Web Rádio IFSC, estimula o estudante a participar de novas formas de comunicação, desvencilhando-se da mídia tradicional e criando um pensamento crítico acerca da informação a ser transmitida. Dentro dessa perspectiva de educomunicação, o estudante estará participando de um tipo de comunicação alternativa. A mídia alternativa é aquela que possui um compromisso com a comunicação como um bem comum e direito humano (SIMÕES, 2013; MORAES, 2013). Fernandes (2013) compreende a comunicação alternativa como uma forma de comunicação contra-hegemônica. “De forma simplória, poderíamos definir mídia alternativa como aquela que não é tradicional” (GÓES, 2007 apud COMEDIA, 1984 apud ATTON, 1999). Atualmente, com o crescente acesso da população à Internet, o número de blogs e sites com conteúdo de mídia alternativa vem aumentando, o que contribui para a democratização da informação. A Web Rádio IFSC também se inclui nesse processo, divulgando na Internet todo o conteúdo produzido pelos estudantes. Consequentemente, o projeto dessa rádio não abrange somente a comunidade escolar, mas sim a rede mundial de computadores. Figura 1: Bolsistas e alunos discutindo a elaboração do programa de rádio “Com a Palavra os Estudantes”64 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Na comunidade escolar do Câmpus Gaspar, a Web Rádio IFSC dá visibilidade aos projetosde pesquisa e extensão desenvolvidos pelos estudantes que participam da produção dosprogramas, elaborando a apresentação de seus trabalhos e exercendo a função de locutores.Assim, o projeto colabora para o protagonismo estudantil dentro da proposta de educomunicaçãoe de mídias alternativas, oferecendo aos estudantes a oportunidade de produzir informação apartir do conhecimento obtido em suas pesquisas e não somente de reproduzir informações jáconhecidas. Figura 2: Alunos e jovens da comunidade de Gaspar produzindo um programa de rádio musicalQuando se trabalha com uma rádio escolar, a música está sempre presente, mas, dentro daperspectiva de educomunicação e mídia alternativa, há a necessidade de se reproduzir músicasque, além de entreter os estudantes, propiciem a reflexão acerca da ideologia de cada letra.Logo, ao apresentar programas que problematizam diversos estilos musicais, na maioria dasvezes, sem espaço na mídia tradicional, o projeto da Web Rádio IFSC também participa comomídia alternativa. Além disso, essa rádio escolar traz programas que levantam discussões sobreproblemas sociais emergentes na sociedade atual, cumprindo, assim, seu compromisso detransmitir suas mensagens de maneira crítica e reflexiva, envolvendo toda a comunidade escolardo Câmpus Gaspar nesse processo.A Web Rádio IFSC toca diariamente nos espaços de convivência do Câmpus Gaspar, e todosos programas produzidos ficam disponíveis no blog http://webradioifscgaspar.blogspot.com.br/.Os principais programas são: Rhythms del Mundo, Programas Temáticos, Hashtag IFSC, ToqueAmbiental, Papo Filosófico, Laboratório do Rock, La ventana La Canción, Estúdio Interativo,Music Break, Com a Palavra os Estudantes, Especial MPB, Entrevistas, Sarau, Os Livros do Mês,Café Pop, Papo Reto e Café com a Reitora.A equipe da Web Rádio IFSC também conta com um espaço na rádio comunitária 98,3, Vila NovaFM (Vale do Itajaí). Diariamente, os bolsistas e extensionistas vinculados ao projeto produzem eapresentam o programa de rádio Educação em Debate, que vai ao ar de segunda a sexta-feira,das 11:30 às 12:00. Trata-se da ação de maior impacto junto à sociedade do Vale do Itajaí.Nesse programa, são discutidas as ações de ensino, pesquisa e extensão do Câmpus Gaspar.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 65
4 Referências bibliográficas EVANGELISTA, Ana Paula Souto. Meios de comunicação tradicionais X mídias alternativas, como está a qualidade da informação que chega à população?. Natal: UFRN, 2008. FERNANDES, Vivian de Oliveira Neves. Panorama da mídia alternativa no Brasil e na América Latina. São Paulo: USP, 2013. GÓES, Laércio Torres de. Contra-hegemonia e Internet: Gramsci e a Mídia Alternativa dos Movimentos Sociais na Web. Salvador: UFBA, 2007. HAUSER, Vanessa. GAGLIARDI, André. O espaço da mídia alternativa nas sociedades democráticas contemporâneas e seu papel na formação do pensamento crítico. Ijuí: UNIJU, S/D. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MACEDO, Roberto Sidnei. A etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na educação. Salvador: EDUFBA, 2006. PEREIRA, Caroline Marino; COUTINHO, Iluska. A educomunicação como leitura crítica da mídia: práticas e conceitos nas produções acadêmicas apresentadas nos congressos da Intercom, entre 2011 e 2013. Vila Velha: INTERCOM, 2014.66 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Relato de ExperiênciaO estágio supervisonado emserviço social e o projeto deintervenção “Famílias e suasmúltiplas configurações”Arony Silva Cruz Paiva1 - [email protected] Moreira2 - [email protected] Cima Cardoso3 - [email protected]:O estágio supervisionado é o primeiro contato com o exercício profissional e é fundamental paraa formação dos Assistentes Sociais. Este trabalho apresenta uma vivência no estágio em ServiçoSocial e algumas reflexões sobre esse momento especial da formação, além de demonstrar aarticulação entre teoria e prática. O estágio apresentado foi desenvolvido por uma estudantedo curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e realizado noMinistério Público de Santa Catarina (MPSC), na 21ª Promotoria de Justiça, especificamente, noGrupo de Apoio e Reflexão (GAR) - Equipamento de Extensão utilizado na Vara de Família. Sãoapresentadas reflexões sobre a questão da família e suas múltiplas configurações, mediação eServiço Social e o Estatuto da Criança e do Adolescente.PALAVRAS-CHAVE:Serviço Social. Estágio Supervisionado. Relação Teoria-Prática. Famílias. Estatuto da Criança edo Adolescente.1 Graduanda de Serviço Social na UFSC e Estagiária de Serviço Social no Ministério Público de Santa Catarina.2 Assistente Social e Analista em Serviço Social do Ministério Público de Santa Catarina.3 Mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil (2013). Professora Substituta da UniversidadeFederal de Santa Catarina.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 67
ABSTRACT The supervised training is the first contact with professional practice and is essential for the formation of Social Workers. The presented work constitutes the socialization of an experience in the training field and some thoughts about that special time of formation. Concomitantly the articulation between theory and practice will prove herself. Experiences Internship Required I Course of Social Service, Federal University of Santa Catarina (UFSC), performed in the prosecution of Santa Catarina, in the 21st District Attorney will report up-specifically the Support Group and Reflection (GAR)- Extended equipment used in Family Court. We take as a parameter for the issue of such reflections Family and its Multiple Settings, Mediation and Social Services and the Statute of Children and Adolescents. KEYWORDS Social Service. Supervised Internship. Academic training. Families. Statute of Children and Adolescents. 1 Introdução O presente artigo apresenta reflexões e discussões acerca da prática profissional do Assistente Social4, a partir da experiência de estágio supervisionado, com destaque para a formação do acadêmico de Serviço Socia5l e posterior análise das ações desenvolvidas no Projeto de Intervenção. 2 O estágio supervisionado em serviço social: questões emergentes do campo, instrumentos, técnicas utilizadas e referencial teórico-metodológico A experiência de estágio profissional no Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) foi supervisionada pela Assistente Social Benimari Moreira e pela Professora Daniele Cima Cardoso desde a inserção institucional, a elaboração do Plano de Estágio e o Projeto de Intervenção. Este último constitui-se como tema deste artigo. O Plano de Estágio, elaborado imediatamente após a inserção institucional, norteou as atividades desenvolvidas pela acadêmica, pois continha o detalhamento dos procedimentos, técnicas e períodos previstos para a sua execução. As bases norteadoras da proposta de estágio profissional no MPSC buscaram superar as tradicionais concepções do estágio como um momento para aprender a manejar somente o acervo teórico-operativo de Serviço Social. Constituiu-se no desafio de pensar competências e habilidades profissionais a partir das dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico- operativa. Podemos dizer que a proposta deste trabalho foi potencializar a reflexão crítica da realidade e produzir conhecimento com vistas à disseminação dos resultados obtidos com essa prática. Diversos tipos de entraves colocam-se ao trabalho do Assistente Social, mas, como profissional comprometido com o projeto ético-político, o importante é vislumbrar para cada fator limitante uma possibilidade. Segundo Iamamoto (1997), essas competências são fundamentais e complementares entre si. Competências que se apreendem na faculdade e se completam com a prática, acompanhando o dia a dia do trabalho profissional. É necessário estar atento às questões que emergem no cotidiano profissional, considerando que as demandas individuais normalmente são pouco problematizadas e, portanto, atendidas com certa praticidade, ignorando as peculiaridades e as necessidades inerentes ao sujeito coletivo. 4 Profissional com graduação em Serviço Social e registro no Conselho Regional de Serviço Social onde trabalha. Atua em diferentes campos, como por exemplo: políticas sociais; sociojurídico; entidades públicas, privadas e não governamentais, dentre outros. 5 Profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993.68 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
A dependência química, a infância e a juventude, o idoso, a saúde mental são exemplos nosquais o olhar para o coletivo não se esgota. Em áreas de intervenção onde o Serviço Social atuaprioritariamente no âmago das famílias, como a saúde mental, o desafio do profissional está nacompreensão da subjetividade e da interdisciplinariedade, como ressalta Vasconcelos (2008).Segundo Pereira (2008, p.18), A existência de uma pessoa portadora de transtorno mental grave em uma família tende a levar a mesma ao isolamento. Contudo é a interação das pessoas na sociedade, a criação de laços de amizade, culturais, de comunidade, de trabalho e/ou estudo, de solidariedade etc., que não só constituem importantes bases de apoio ao indivíduo e à família em momentos de crise, como também impedem o adoecimento e em determinados casos, a recaída.A elaboração de grupos de discussão e informação voltados para esse público é uma importantealternativa de atendimento aos usuários, com importância especial aos assistentes sociais emsua intervenção junto à família.Outra questão muito discutida no campo de estágio e que se constituiu no principal objetodessa intervenção foi a reconfiguração familiar, ou seja, a família continua enquanto relação decoparentalidade, um interjogo de papéis que se relacionam com o cuidado global da criança,incluindo valores, ideais, expectativas que são dirigidas a ela, em uma responsabilidade conjuntapelo bem-estar desta (FEINBERG, 2002, VAN EGEREN; HAWKINS, 2004). Entretanto, issonão quer dizer que a coparentalidade exista apenas em situações de divórcio, pois ela estápresente sempre que os pais, mesmo casados, negociam seus papéis, responsabilidades econtribuições para com seus filhos. A diferença é que, quando separados, os pais têm menosmomentos e espaços em comum para efetivarem uma cooperação na educação dos filhos(MARGOLIN; GORDIS; JOHN, 2001). O término da relação de casal e não da parentalidadepossibilitou ao Serviço Social trabalhar com a perspectiva de garantia dos direitos das crianças edos adolescentes à convivência familiar, considerando a manutenção da família a partir do olhardos filhos, independente de sua configuração, inclusive, almejando a permanência do convíviocom a família extensa ou ampliada6 (MOREIRA, 2013).Nessa perspectiva, o Grupo de Apoio e Reflexão (GAR) foi o espaço de intervenção do ServiçoSocial para discussão, reflexão e produção de mudanças a partir da história de cada integrante,identificando as múltiplas oportunidades de ampliar as formas de aplicação das técnicas deoperacionalização das atividades em grupo.Este paradigma norteou inclusive o Projeto de Intervenção do estágio, respeitando o que prevêo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) a respeito do direito da criança e adolescente aoconvívio familiar e comunitário.Enfim, constatou-se que o estágio é um campo privilegiado para a apreensão das diversasdimensões da profissão e, especialmente, para a identificação de suas implicações. Além disso,“o estágio tende a favorecer o aluno quanto à percepção crítica da realidade – suas contradições,limites e potencialidades” (ORTIZ, 2010, p.121) e, como afirma Ortiz (2010), é essencial pensaro estágio curricular obrigatório como parte fundamental da formação profissional e não comouma atividade extracurricular.O referencial teórico-metodológico utilizado pelo Serviço Social dentro da 21ª Promotoria deJustiça foi o materialismo histórico-dialético, considerando as particularidades do contextosócio-jurídico. As referências metodológicas foram os autores que discutem a família e suasmúltiplas configurações, além das problemáticas em torno desse público, buscando-se nãofragmentar a temática de família.Os textos pretendiam embasar as atividades realizadas a partir da totalidade social, compercepção daquilo que fundamenta o modo de produção capitalista, ou seja, a contradição entrecapital e trabalho, a luta de classes, a exploração do trabalhador, a precarização do trabalho, a6 A família extensa ou ampliada é conceituada pelo parágrafo único do Art. 25 do Estatuto da Criança e do Adolescente como“aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais acriança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.”Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 69
sobrecarga das famílias, os limites econômicos, os preceitos morais presentes e como esses elementos configuram a sociabilidade e as inúmeras consequências que isso traz para a vida dos sujeitos. Nesse sentido, o GAR apresenta-se como espaço de mediação para resolução de conflito, no qual todos os seus integrantes, independente da classe social, cor, religião e/ou cultura, têm o direito de participar ativamente. Busca-se nesse espaço possibilitar o acesso à informação, dando vez e voz aos seus participantes de forma indistinta, bem como permitindo aos usuários o questionamento das determinações que lhes trouxeram ali. Possibilita também que os integrantes se vejam como atores de um espetáculo do qual são capazes de escolher seu papel, não sendo ignorados seus determinantes sociais e condições materiais, ou seja, suas particularidades enquanto sujeito. Sabe-se que o Sistema que lhes trouxe ao GAR infelizmente ainda reproduz a ordem societária vigente, que alimenta o autoritarismo. Contudo, cabe ao Promotor de Justiça na Vara de Família garantir o direito da criança e do adolescente, vítimas das disputas presentes no litígio, preconizado pelo ECA, em seu artigo 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. As determinações judiciais são o principal caminho que os leva ao GAR, cabendo portanto a este buscar os instrumentos e técnicas que melhor se relacionam com a temática de família no seu processo de reorganização. De acordo com Santos e Noronha (2010), os instrumentos estão relacionados com as condições objetivas e subjetivas de trabalho, e com as demandas que chegam aos profissionais do Serviço Social. No campo de estágio, além do atendimento direto e seus desdobramentos, existia a ação do GAR como outra demanda. Os principais instrumentos e técnicas utilizadas durante o estágio foram: abordagem e plantão social; trabalho com grupos; entrevista; visita domiciliar; observação; o trato ético dos registros profissionais; reuniões de planejamento e avaliação; pesquisas (exploratória, bibliográfica, documental); registros de atividades e de práticas; leituras bibliográficas e análises de dados apreendidos. De forma peculiar, como uma ação do estágio obrigatório, foram desenvolvidos, para a execução do Projeto de Intervenção, materiais audiovisuais, didáticos, informativos e de divulgação. A partir dos instrumentos utilizados, consideramos que as ações transformaram-se num exercício profissional crítico e competente, a partir do reconhecimento da instrumentalidade como mediação, implicando entender o Serviço Social como totalidade constituída de múltiplas dimensões: técnico-instrumental, teórico-intelectual, ético-política e formativa (GUERRA, 1997). A instrumentalidade torna-se o campo de mediação que comporta a capacidade tanto de articular estas dimensões quanto de ser o fio condutor pelo qual elas traduzem-se em respostas profissionais. 3 Potencializando as vivências do estágio na realidade concreta através do projeto de intervenção: relato de experiência O Projeto de Intervenção consistiu no planejamento, desenvolvimento da metodologia, execução, registro e avaliação da oficina “Famílias e suas Múltiplas Configurações”, na perspectiva de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, considerando a manutenção da família a partir do olhar dos filhos, independente de sua configuração. Entendendo-se o GAR como espaço de intervenção do Serviço Social para discussão, reflexão e produção de mudanças a partir da história de cada integrante, identificou-se as múltiplas oportunidades de ampliar as formas de aplicação das técnicas de operacionalização das atividades do Grupo.70 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Após leituras e exibição de filmes, iniciou-se a construção da oficina “Filhos, Partilhar ouCompartilhar?”. A princípio, pensou-se na oficina a partir do filme “Kramer Vs. Kramer”, porém,no processo de supervisão, partindo da reflexão quanto ao período histórico do filme, quando aguarda dos filhos era majoritariamente materna, concluiu-se que não estaria em conformidadecom o objetivo inicial do Projeto de Intervenção.Dessa maneira, o formato de construção do vídeo foi alterado com o intuito de atender àsexpectativas da oficina sem abandonar o caráter pedagógico, ético e responsável do trabalhodesenvolvido no GAR. As estratégias metodológicas foram pensadas com a intenção depromover a apreensão do conteúdo e a reflexão crítica por parte dos pais separados, integrantesdos grupos, elencando os efeitos e as possíveis violências causadas aos filhos nesse processode separação.O roteiro do vídeo produzido e exibido encontra-se anexo (Apêndice 6.3), além de outrasferramentas metodológicas como: cartazes que retratam o tema (Fig. 1, 2 e 3), programa daoficina (Apêndice 6.1) e formulário de avaliação (Apêndice 6.2).A oficina foi aplicada no GAR em três encontros, realizados nos dias 12, 19 e 28 de novembrode 2013. As etapas de aplicação da oficina foram: dinâmica de integração (conteúdo e forma),exibição do vídeo, debate, mediações e aplicação do formulário de avaliação.A autonomia profissional da Assistente Social, no que se refere à tomada de decisão para aaplicação da oficina nos encontros do GAR, possibilitou a efetivação do Projeto de Intervençãosem impedimentos.Em relação à aplicação da oficina, especificamente, foi possível observar alguns aspectosimportantes a partir da sua execução. Foi perceptível, por exemplo, que os pais não ouviamou não percebiam as necessidades dos filhos em meio ao conflito. Essa era a questão maispresente nos debates, apontada em muitos momentos pelos próprios integrantes do Grupo,como: “eu não sabia que meu filho estava pedindo isso”.A participação ativa da supervisora de campo na oficina propiciou a segurança necessária àação interventiva da estagiária, garantindo a qualidade e o cumprimento de critérios preventivosno que tange à manutenção do respeito aos usuários presentes.Os integrantes do GAR participaram ativamente, demonstrando interesse e responsabilidade nasquestões problematizadas em relação aos seus filhos. Suas falas carregavam, principalmente,dificuldades em compartilhar os filhos. A problematização do tema com os envolvidos (pais,mães, avós, avôs, atuais companheiros ou companheiras), com vistas a possíveis alternativasde minimizar sofrimentos, suscitou uma maior consciência das necessidades e possibilidadesde mudança em suas ações, demonstrados nas falas apresentadas a seguir, coletadas por meiodo formulário de avaliação:- “Tudo de bom, e que deveria ser passada a cada pessoa uma cópia para que a gente jamaisesqueça as regras, pois são muito boas!”- “Ouvir seus filhos de modo que eles sintam que são importantes, independente se estão como pai ou a mãe.”- “Bom porque vários casais passam por isso.”- “Positivo: o tema em questão (relacionamento pais e filhos.) Negativo: ouvimos coisas que nãoqueremos.”- “Positivo: pensar o que fala na frente dos filhos. Negativo: saber compartilhar os filhos com opai, avós, tios e etc.”Considerando que o Grupo é composto de pessoas de diversas classes sociais, médicos,advogados, pedreiros, empregadas domésticas, do lar, professores, etc., foi possível observarque, nas situações de conflitos relacionais, as falas se repetem, contrariando o exposto porMarx (1982): “os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, ospensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numadeterminada sociedade é também o poder espiritual dominante.”Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 71
Foi possível perceber, ainda, que os pensamentos, desejos e interesses manifestados pelos integrantes provêm, em determinado momento, do interesse da classe dominante, propagado em forma de ideologia, que delega ao Juiz, enquanto representante do poder, a solução do conflito vivenciado. O GAR propõe uma reflexão profunda com vistas a uma possível construção coletiva, contribuindo para o fortalecimento dos sujeitos na perspectiva de garantia e/ou ampliação dos direitos previstos no ECA, bem como a emancipação humana, de acordo com o Código de Ética do Assistente Social (Resolução CFESS nº 273/93), à medida que potencializa este sujeito na dinâmica dos processos judiciais. Por fim, um aspecto importante a ser citado é a dimensão educativa do Projeto de Intervenção. Segundo Iamamoto (2009), essa dimensão educativa da prática profissional viabiliza o acesso aos direitos e às formas de exercer tais direitos, possibilitando também que as demandas dos sujeitos sociais ganhem visibilidade e estimulem a organização dos diversos segmentos da classe trabalhadora para que tenham seus direitos reconhecidos. O Projeto de Intervenção “Famílias e suas Múltiplas Configurações”, materializado através da oficina “Filhos, Partilhar ou Compartilhar?” explicitamente possuía essa dimensão, pois possibilitou o conhecimento dos direitos e promoveu o debate acerca da violação destes. 4 Conclusão A experiência de estágio supervisionado em Serviço Social revelou-se importante para o processo de formação e aprimoramento profissional, tanto para a estagiária quanto para as supervisoras. Para a instituição, sua importância está na medida em que promove a interface entre troca de saberes pautada em teoria e realidade acerca dos assuntos abordados. As diversas atividades nas quais a estagiária esteve envolvida propiciaram o desenvolvimento de elementos como a iniciativa, a proposição e a criatividade, tanto para a identificação da demanda, quanto na proposição de atividades. O planejamento do Projeto de Intervenção, sua elaboração, execução e avaliação, foram o caminho para a estagiária materializar seus conhecimentos teóricos. Coordenar reunião, apresentar trabalho e aplicar a oficina não só exigiram, como ampliaram a capacidade de comunicação da acadêmica em suas diferentes formas (comunicação oral, comunicação via internet, comunicação interinstitucional e profissional, etc.), elemento indispensável para a atuação profissional. O estágio transformou-se, ainda, num espaço de aprofundamento da temática da família, da criança e do adolescente. Quanto à supervisão de campo, vivenciar o desenvolvimento “in loco” da proposta e o acompanhamento das discussões no processo avaliativo tornou mais rica a formação profissional. Por tratar-se de um campo de estágio com uma perspectiva diferenciada de atuação profissional no atendimento aos usuários, possibilitou atividades conjuntas entre estagiária e supervisora de campo. Estabeleceu-se uma relação de complementaridade no momento da intervenção, além de criatividade e escuta atenta por parte da estagiária. O compromisso com o projeto ético-político da profissão sempre esteve presente nas intervenções da supervisora de campo. Suas ações foram guiadas explicitamente por uma vasta e rica bagagem teórica e metodológica baseada no método crítico dialético, no qual os sujeitos são vistos como cidadãos de direito. Sua formação e especialização na área de mediação de conflitos ficou evidente no domínio com que ela atuava nos conflitos presentes na dinâmica do GAR. Segundo Ortiz (2010, p.126), à supervisora de campo compete o conhecimento do currículo do curso de Serviço Social da instituição de ensino superior da qual o aluno faz parte, no caso, a UFSC, e os programas das disciplinas, possibilitando a proposição ao estagiário de “atividades que expressem o seu acúmulo de conhecimentos e amadurecimento intelectual, de modo a garantir resultados progressivos concernentes com nível de formação do aluno.” Esta aproximação da supervisora com a universidade fomentou a construção de todo o material produzido no decorrer do estágio, inclusive deste artigo. Em relação à supervisão pedagógica coletiva, esta representou uma atividade importante por permitir a troca entre os diferentes campos de atuação, possibilitando a identificação de pontos72 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
em comum, independente do local de exercício profissional e das especificidades das diferentesáreas. Tornou-se possível o acompanhamento dos desafios e possibilidades colocados nocotidiano profissional em diferentes instituições, e do desenvolvimento das intervenções dosdiferentes colegas e seus resultados. A supervisão pedagógica foi articulada nesse semestrede forma dinâmica e criativa, permitiu o exercício da escuta, troca e completude nas relaçõesentre estudantes e professor. A supervisora trouxe textos e discussões que contribuíram deforma significativa para as ações a serem desenvolvidas nos campos de estágio e tambémna formação profissional. A formação em Serviço Social é generalista e permite atuação emdiversos espaços. Na supervisão pedagógica foi possível perceber os limites inerentes da açãoprofissional do Assistente Social independente das instâncias de atuação, sejam elas pública,privada ou do terceiro setor.Outro fator relevante foi a aproximação das supervisoras de campo e pedagógica, pois,segundo Ribeiro (2010), a falta de articulação entre supervisão pedagógica e supervisão decampo impossibilita a interação fundamental entre a formação profissional e o mercado detrabalho do Assistente Social. Portanto, faz parte da relação entre teoria e prática, também,a relação entre supervisores pedagógicos, supervisores de campo e estudantes estagiários.É uma relação que envolve uma série de elementos cuja síntese expressa as condições reaisem que ela ocorre: clareza política, disponibilidade, interesse e articulação, elementos quesignificam posicionamento ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo, favorecendoa construção da identidade profissional do estagiário.5 ReferênciasFEINBERG, M. E. Coparenting and the transition to parenthood: a framework for prevention.Clinical Child and Family Psychology Review, v. 5, n. 3, 2002.GUERRA, Yolanda. Ontologia do ser social: bases para a formação profissional. Revista ServiçoSocial e Sociedade, n.54. São Paulo: Cortez, 1997.MARGOLIN, G.; GORDIS, E.; JOHN, R. Coparenting: a link between marital conflict and parentingin two-parent families. Journal of Family Psychology, v. 15, n. 1, 2001.MARX, Karl. Para a crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1982.RIBEIRO, Eleusa B. O estágio no processo de formação dos assistentes sociais. In: FORTI,Valeria; GUERRA, Yolanda (Org.). Serviço Social: tema, textos e contextos. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2010.SANTOS, Cláudia Monica dos; NORONHA, Karine. O estado da arte sobre os instrumentos etécnicas na intervenção profissional do assistente social: uma perspectiva crítica. In: FORTI,Valeria; GUERRA, Yolanda (Org.). Serviço Social: tema, textos e contextos. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2010.VAN EGEREN, L. A.; HAWKINS, D. P. Coming to terms with coparenting: implications of definitionand measurement. Journal of Adult Development, v. 11, n. 3, 2004. Disponível em:<http://link.springer.com/article/10.1023%2FB%3AJADE.0000035625.74672.0b#page-1>.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 73
6 Apêndices 6.1 Programa da oficina Título da Oficina: “Filhos, Partilhar ou Compartilhar?” Local: Grupo de Apoio e Reflexão (GAR). Data: terças-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras. Horário: 18h30min ou 14h00min 1 Apresentação (Duração: 5 min) - Apresentação do tema da oficina e título - Apresentação da Equipe e integrantes do GAR 2 Dinâmica de integração (Duração: 10 min) Nome: “É possível partilhar o filho(a)?” Material: massinha de modelar em duas cores, exemplo azul e verde. Dinâmica: os integrantes farão dois bonecos, depois, com partes destes bonecos originais, far- se-á um terceiro boneco das mesmas cores porém mescladas. Conceito: os bonecos iniciais podem se separar, mas, o terceiro boneco mesclado de cores (o filho) é impossível partilhar, por isso, só lhes resta compartilhar. 3 Apresentação e Exibição do Vídeo (Duração: 25 min) - Explicar que foi construído um vídeo para pensarmos sobre este tema. - Pedir pra estarem atentos aos textos entre uma cena e outra, pois são importantes para a compreensão do todo. Os textos têm como objetivo contextualizar as partes que interligam o filme. A edição foi necessária para abreviar o tempo de exibição. - Exibir o vídeo. 4 Debate e mediações (Duração: 40 min) Após a exibição do filme, explicar que teremos um período de 40 minutos para debate, discussão, reflexões dos integrantes do Grupo e, se necessário, para as mediações da estagiária com supervisão da coordenadora do GAR. 5 Avaliação da Oficina (Duração: 10 min) Será entregue o Formulário de Avaliação aos integrantes e dadas às instruções de preenchimento, bem como explicado qual seu objetivo. 6 Fechamento (Duração: 15 min) Encerrar a atividade e conclusão da proposta da oficina.74 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
6.2 Formulário para avaliaçãoData: Esta avaliação objetiva colher informações, opiniões e sugestões dos participantes sobre a forma como o tema “família, separação e filhos” foi abordado e se ele possibilita a reflexão.Para cada item, assinale a Péssimo Médio Bom Excelenteopção que melhor reflete sua opinião.Tema escolhidoForma de abordagemDinâmica apresentadaVídeo apresentadoConhecimento do(s) coordenadores(as)em relação ao(s) tema(s)7. Você indicaria a outras pessoas a participação nesta oficina?Sim ( ) Não ( ) Justifique.8. Comentários opcionais (sugestões, pontos positivos e negativos).9. Que tema(s) sugere, caso realizemos novas oficinas?6.3 Roteiro do vídeo• Apresentação• Família – Conceito (PNAS)• Imagens de família retiradas do Google Imagens• Crise em família com filho(a) – ruptura• Mudanças e reconfiguração• Imagens de famílias com estrutura inicial ruída e novas possibilidades• Família a partir do olhar dos filhos• Duas perspetivas: Partilhar (1) e Compartilhar (2)• Referência no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)• Imagens de filhos com seus direitos desrespeitados (1)• Imagens com seus direitos garantidos (2)• 20 Pedidos de filhos de pais separados• CréditosCaminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 75
Relato de Experiência Gincana estudantil de integração do IFSC Canoinhas Cassiano Vicente de Lima1 - [email protected] Ana Cláudia Burmester2 - [email protected] RESUMO A Gincana Estudantil de Integração do IFSC Canoinhas, aprovada pelo edital APROEX - n° 02/2013 – Apoio a pequenos projetos, é um evento de caráter pedagógico, cultural e desportivo, que busca proporcionar a participação das comunidades acadêmica e externa em atividades que desenvolvem diferentes aspectos da formação humana. As provas da Gincana estimulam aprendizagem, consciência cívica, sentimento de pertencimento ao grupo e diversão. PALAVRAS-CHAVE Atividade recreativa. Motivação. Trabalho em equipe. ABSTRACT The student integration competition of IFSC Canoinhas (APROEX nº 02/2013 – Support to small projects) is a pedagogical, cultural and sporting event that aims to promote the participation of the students, teachers, school workers and the community in different activities of human formation. The activities stimulate learning, civic conscience, sense of belonging and amusement. KEYWORDS Recreational activity. Motivation. Teamwork. 1 Aluno do curso técnico em Informática do IFSC Canoinhas. 2 Licenciada em Letras Português/Inglês, especialista em Metodologia da Ação Docente. Técnica em Assuntos Educacionais atuante no Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFSC Canoinhas.76 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
1 Relato de experiênciaO ingresso de novos alunos no câmpus desencadeou a ideia de uma atividade recreativa para arecepção dos mesmos, assim como a sua integração com a comunidade acadêmica. Pensou-se, pois, em uma atividade diferenciada, motivadora e lúdica para fazer com que os alunosse sintam verdadeiros participantes da vida escolar. A Gincana, organizada com o apoio deservidores docentes e técnico-administrativos, objetivou proporcionar a integração estudantil etambém com a comunidade externa por meio de provas artísticas, culturais, desportivas e deconhecimentos gerais e específicos às áreas de formação técnica do câmpus.Acredita-se que é importante ter a mente aberta e o pensamento complexo, contextualizandodiferentes saberes, e que as pessoas se sintam responsáveis por essa transformação, que é atransformação do mundo (MORIN, 2011). A partir dessa visão, portanto, atividades recreativasnão devem ser compreendidas como contraditórias à formação profissional objetivada nos cursostécnicos, mas uma alternativa metodológica que incentive a formação humana e cidadã doprofissional. A Gincana, enquanto atividade lúdica e de descontração, deve ser vista como partedo processo de constituição do sujeito, por meio das vivências sociais que a ele proporciona(PEDROZA, 2005 apud SCHMITT et al, 2012).É importante destacar também o papel das atividades recreativas enquanto momentos de lazerna escola, a qual pode ser o único espaço disponível para tais atividades dentro de algumascomunidades (PACHECO, [200-]). Logo, a escola precisa mostrar-se para a comunidade comoespaço de possibilidades diversas, a fim de que haja o desenvolvimento da confiança nainstituição e da vontade de fazer parte daquela realidade. Podemos ainda pensar nas atividadeslúdicas como possibilidades de crescimento pessoal para os alunos, uma vez que permitem otrabalho da expressão oral e artística, o desenvolvimento da autoestima e da autoconfiança e,ao mesmo tempo, o espírito de liderança e de responsabilidade com o grupo no qual se estáinserido.A Gincana foi apresentada aos alunos por meio do lançamento de edital, o qual continha asorientações sobre a formação e inscrição de equipes; constituição da comissão organizadorae da equipe de fiscais; cronograma das atividades e as provas que exigiam preparação prévia.A divulgação do evento se deu por meio de cartazes espalhados pelo câmpus e de explicaçõespara grupos de alunos. Também foi criado um perfil na rede social Facebook. Formaram-sequatro equipes, cada uma com um total de quarenta a cinquenta membros. Os integrantes dasequipes eram provenientes de alunos de todos os cursos técnicos e participantes do programaMulheres Mil. Para cada equipe, foram sorteadas duas cores relacionadas aos Objetivos doMilênio, a partir das quais as equipes seriam identificadas (Fig. 1). Figura 1: Uma das equipes participantes, com a sua caracterização.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 77
Na primeira prova, as equipes deveriam convidar pessoas da comunidade para conhecer o câmpus. No dia 29 de agosto (sexta-feira), recebemos a visita de 67 pessoas. Neste mesmo dia, as provas artísticas aconteceram no auditório do câmpus, sendo avaliadas por uma equipe de jurados convidados (Fig. 2). Ocorreu a apresentação das equipes, com nome, bandeira, hino e grito de guerra, todos relacionados aos Objetivos do Milênio; além da apresentação, foi feita exposição de paródia sobre a Semana de Ciência e Tecnologia 2013, stand-up sobre educação, desfile ecológico de roupa confeccionada com materiais recicláveis e a arrecadação de materiais escolares para doação à Casa de Passagem Santa Clara, de Canoinhas/SC. Além dessas provas, previamente anunciadas no edital, as equipes foram surpreendidas no dia do evento com provas solicitando apresentações de danças e desafios musicais. Figura 2: Auditório lotado na noite de sexta-feira, com a mesa de jurados já formada. No sábado, os alunos foram recebidos com um café da manhã e dividiram-se para a realização das provas. Ocorreram provas intercaladas durante toda a manhã, solicitando desde a execução de atividades (exemplo: fazer o maior número de embaixadinhas) até provas de conhecimentos, como o Soletrando. Ao mesmo tempo aconteceu a caça ao tesouro (Fig. 3). As equipes recebiam pistas para localizar dez perguntas espalhadas pelo câmpus, todas relacionadas aos cursos técnicos e também de português e matemática. A próxima pista só era fornecida quando a equipe respondesse à pergunta corretamente. Aconteceu ainda o circuito desportivo, com oito estações de atividades físicas. Além disso, foi feita a contagem de garrafas pet arrecadadas para doação à prefeitura municipal, visando colaborar para a decoração natalina. Figura 3: Uma das equipes participando da Caça ao Tesouro.78 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Algumas provas foram premiadas com medalhas e certificados. Em outros dois momentos,a equipe vencedora recebeu um churrasco e o segundo lugar foi premiado com um dia deguloseimas no câmpus, composto por sorvetes e acompanhamentos.A avaliação do evento ocorreu por meio de questionários contendo perguntas subjetivas eobjetivas, aplicados a todos os alunos do câmpus. Obteve-se o retorno de 268 questionários.Foram avaliados os seguintes tópicos: a participação dos alunos, a integração com acomunidade acadêmica, a relevância e o grau de dificuldade das provas propostas. Para comporo questionário, foram inseridas perguntas com a solicitação de elogios, críticas e sugestões bemcomo um conceito avaliativo para o evento. A partir desse levantamento de dados, foi organizadoum momento de discussão com servidores do câmpus, a fim de propor encaminhamentospara uma próxima gincana, em 2014. Os resultados também foram divulgados no Facebookda Gincana.Essa foi a primeira atividade recreativa do tipo “gincana” realizada no câmpus, e é possívelidentificar diferentes aspectos que podem ser considerados positivos. A escola realmente semovimentou para a realização do evento, inclusive aproximando-se da comunidade externa. Asequipes se mostraram bastante dedicadas a realizar as atividades e, para toda a comunidadeacadêmica, foram promovidos momentos de bastante diversão e descontração.Tanto a partir da observação direta quanto dos dados levantados pelos questionários e dassugestões advindas da reunião avaliativa, podemos destacar alguns itens que merecem serrevistos: a necessidade de se fazer um edital mais claro, a fim de evitarmos dificuldades deinterpretação das orientações; a facilidade de se trabalhar com equipes menores e a possibilidadede outras formas de organização das equipes, sabendo que houve relatos de dificuldades emorganizá-las pois deveriam contar com alunos dos quatro cursos técnicos. Assim, durante aavaliação, foi sugerida a ideia de formar as equipes com os alunos de um mesmo curso.Acreditamos que a atividade atingiu, em partes, os objetivos propostos e tem relevânciasuficiente para se tornar uma atividade permanente no calendário de eventos do câmpus.2 ReferênciasMORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2.ed. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2011.PACHECO, Eliezer. Os Institutos Federais: uma revolução na educação profissional etecnológica. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica,[200-]. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000013531.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2014.SCHMITT, Fernanda Eloisa et al. Gincana recreativa: uma atividade para estimular o conhecimento.Destaques Acadêmicos, Lajeado, RS, v.3, n.4, p.55-61, 2011. Disponível em: <http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/view/251> Acesso em: 04 jun. 2014.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 79
Relato de Experiência Assessoria gerencial para agricultores familiares na região serrana de Santa Catarina Estevan Felipe Pizarro Muñoz1 - [email protected] RESUMO Prestar assessoria gerencial para três famílias de agricultores familiares nos municípios de Painel, Rio Rufino e Urupema, região serrana catarinense, foi o objetivo do trabalho executado de agosto a dezembro de 2012. Por meio de visitas técnicas, orientações e reuniões, utilizou- se um sistema de informações gerenciais gratuito desenvolvido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal tendo em vista a qualificação da gestão da pequena propriedade familiar e a organização das informações para a tomada de decisão fundamentada. PALAVRAS-CHAVE Agricultura Familiar; Planejamento; Gerenciamento Rural. ABSTRACT The goal of this project performed from August to December 2012consisted in providing managerial assistance to three family farmers’ families in the municipalities of Painel, Rio Rufino and Urupema, in Santa Catarina highlands region. A free management information system developed by Enterprise Technical Assistance and Rural Extension of the Federal District was employed as a tool, during technical visits, meetings and guidelines transmission, looking forward to qualify the family small property management and to organize information for well fundamented decision-making. KEYWORDS Family Farming; Planning; Rural Management. 1 Administrador de Empresas, Mestre em Agroecossistemas. Professor da área de Administração Rural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Câmpus Curitibanos.80 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
1 IntroduçãoO Estado de Santa Catarina se caracteriza por uma das distribuições fundiárias menos desiguaisdo território brasileiro, o que faz da agricultura familiar um importante setor econômico estadual.De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina- Epagri (2009), 90% das explorações agrícolas possuem caráter familiar, representando umuniverso de 180 mil famílias, que apesar de ocuparem apenas 41% da área dos estabelecimentosagrícolas, são responsáveis por mais de 70% do valor da produção agrícola e pesqueira doestado, destacando-se na produção de 67% do feijão, 70% do milho, 80% dos suínos e aves,83% do leite e 91% da cebola.No entanto, esse crucial setor econômico e social catarinense vem se dissipando com ainviabilidade econômica que é ser pequeno(a) produtor(a) rural no Brasil, o que está relacionado,principalmente, ao histórico processo de marginalização de políticas governamentais para apequena agricultura. Diante desse quadro, o êxodo rural permanece.Felizmente, a concepção do poder público em relação à agricultura familiar começa a caminharno sentido de superar lacunas. Entretanto, outro fator dificulta o avanço das pequenaspropriedades: a realidade denota ausência de planejamento e controle gerencial. Fatores comodeterminação do custo de produção, formação do preço de venda, planejamento de utilizaçãode recursos, viabilidade econômica e mercadológica das produções, dentre outros fatores, têmsido as principais deficiências gerenciais no processo de gestão das unidades de produçãolevantadas pela literatura (LIMA et. al., 2001; SILVA, 2011 e SANTOS & MARION, 1993) epesquisas in loco do autor.Diante disso, este projeto de extensão teve como objetivo geral contribuir para a utilização deferramentas gerenciais em três propriedades da agricultura familiar dos municípios de Urupema,Rio Rufino e Painel, região serrana de Santa Catarina, no semestre 2012-2.2 MetodologiaForam selecionadas três propriedades para a execução do projeto. A propriedade 1, emUrupema, é voltada para a fruticultura e a criação de gado de corte. A propriedade 2, em Painel,é voltada para a produção orgânica de morango e cebola, bem como o extrativismo de pinhão.A propriedade 3, em Rio Rufino, é voltada para a fruticultura, produção de milho e derivados doleite.As imagens a seguir ilustram as propriedades: Figura 1: Imagens das propriedades familiares estudadas. Fonte: Dados desta pesquisa (2012).Ao todo foram realizadas 12 visitas técnicas onde se verificaram as condições de acesso,moradia, tipos de culturas agropecuárias desenvolvidas, existência de produção parasubsistência, máquinas e equipamentos, animais, contexto histórico e cultural, dentre outrosaspectos que caracterizam as unidades de produção agropecuárias familiares.Para sistematizar essas informações optou-se pela utilização do software Rural Pró – versão2010, desenvolvido e distribuído gratuitamente pela Empresa de Assistência Técnica eExtensão Rural do Distrito Federal, que é um programa que visa auxiliar no gerenciamento eacompanhamento do desempenho econômico das propriedades rurais e das atividades dosagricultores, com uma interface de simples compreensão pelos usuários.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 81
3 Resultados Foram alimentados os seguintes dados no sistema Rural Pró - 2010: cadastro de propriedade; cadastro de explorações da propriedade; terra nua e distribuição de áreas; cadastro de culturas permanentes; construções e benfeitorias; máquinas, equipamentos e veículos; animais; estoque de insumos; estoque de produtos acabados; plano de plantio e colheita; confirmação de plano de plantio e colheita; aplicação de insumos e operações agrícolas; produção e produtividade agrícola; aplicação de insumos pecuários; e produção e produtividade pecuária. A cada visita realizada foram elencadas questões de cunho gerencial que remeteram à reflexão e possibilitaram a geração de ferramentas de controle e acompanhamento das atividades agropecuárias desenvolvidas. Questões sobre o registro de ações desenvolvidas, controle de venda de produtos, serviços prestados, treinamento e motivação dos trabalhadores, organização de documentação, dentre outros aspectos administrativos cotidianos de uma propriedade rural. Com essas visitas, além de aproximar a instituição da realidade dos produtores rurais, foi possível a troca de experiência e uma série de sugestões tendo em vista o aperfeiçoamento das práticas administrativas desenvolvidas nas unidades de produção agropecuárias familiares. Cada estudante desenvolveu um mini estudo de caso em sua propriedade com a seguinte estrutura: 1. Introdução; 2. Desenvolvimento (Dados Gerais do Município; Histórico da Propriedade; Diagnóstico e Prognóstico) e 3. Conclusão. Como forma de divulgar os resultados dos trabalhos desenvolvidos, foram organizadas palestras nos municípios que tiveram as propriedades selecionadas, onde foram contatadas as Secretarias Municipais de Agricultura, os escritórios locais da Epagri e a comunidade local. 4 Considerações finais Caminhar no sentido de melhorar as condições de gerenciamento de pequenas unidades de produção da agricultura familiar é um grande desafio a ser transposto pelos agricultores familiares, tendo vista a heterogeneidade de cada realidade. Realizar ações de extensão que visem o desenvolvimento regional é papel de Instituições Públicas de Ensino. Diante disso, considera-se que os objetivos propostos pelo presente projeto obtiveram êxito, por meio dos seguintes resultados principais: incentivo da participação da juventude em atividades de ensino, pesquisa e extensão e consequente fortalecimento do capital social; contribuição para a integração do Câmpus Urupema na região; e incentivo à prática do empreendedorismo rural e utilização de ferramentas gerenciais. Para uma maior contribuição ao processo de desenvolvimento regional e fortalecimento da agricultura familiar, sugere-se que a presente metodologia seja replicada em outras realidades com a efetiva participação do poder público, sobretudo a local, representada pelos escritórios municipais da Epagri e Secretarias Municipais de Agricultura, o que envolverá uma maior quantidade de agricultores familiares interessados no aperfeiçoamento de suas práticas de gestão. Sabe-se que há ainda um longo caminho a percorrer no sentido de transpor as inúmeras barreiras impostas à agricultura familiar, entretanto, com pequenas ações associados entre os diversos atores sociais que atuam em prol do desenvolvimento regional será possível avançar nesse processo. 5 Referências EPAGRI. Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola. Santa Catarina: características e potenciais. [2009]. Disponível em: <http://cepa.epagri.sc.gov.br:8080/cepa/aspectos/menu_ sc.htm>. Acesso em: 10 mai. 2012. LIMA, A. J. P. de et. al. Administração da unidade de produção familiar: modalidades de trabalho com agricultores. Ijuí: UNIJUÍ, 2001. SANTOS, G. J.; MARION, J. C. Administração de custos na agropecuária. São Paulo: Atlas, 1993. SILVA, R. A. G. da. Administração rural: teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2011.82 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
Relato de ExperiênciaPlanejamento de atividades noLaboratório de Eletrotécnicado IFSC Câmpus Araranguápara Semana Nacional deCiência e Tecnologia 2013Emerson Silveira Serafim1 - emersonserafi[email protected] objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivida no laboratório de eletrotécnica do cursotécnico em Eletromecânica do Câmpus Araranguá, durante a realização da Semana Nacionalde Ciência e Tecnologia de 2013. O laboratório foi preparado para que os visitantes (estudantesdas escolas da região de Araranguá) pudessem ver e interagir com os diferentes experimentospreparados nas bancadas didáticas, desde ligar motores elétricos até observar a geração deenergia elétrica por células fotovoltaicas e eólica.PALAVRAS-CHAVEEletromagnetismo. Máquinas Elétricas. Acionamentos.ABSTRACTThe objective of this study is to report the experience in the electrotechnics lab technician coursein Electromechanical Araranguá on campus, during the National Week of Science and Technology,2013. Laboratory was prepared for visitors (students from area schools Araranguá) could seeand interact with the different stands prepared in didactic experiments, since connecting electricmotors to observe the generation of electricity by photovoltaic cells and wind.PALAVRAS-CHAVEElectromagnetism. Electrical Machines. Drives.1 Graduação, Mestrado e Doutorado em Engenharia Elétrica pela UFSC. Docente da área elétrica do IFSC Câmpus Araranguá desdesetembro de 2008.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 83
Relato de experiência Justificativa Este trabalho foi preparado pelo autor, professor e chefe do Laboratório de Eletrotécnica do curso técnico em Eletromecânica do IFSC Câmpus Araranguá, como uma das diversas atividades programadas para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2013. E tem como objetivo principal registrar as principais potencialidades do laboratório em termos de atividades práticas, permitindo ao público visitante (docentes e discentes das escolas da região de Araranguá) um contato bem próximo do que é desenvolvido ao longo do semestre com nossos discentes do curso técnico integrado e concomitante em Eletromecânica. Todos os experimentos foram desenvolvidos para que os visitantes pudessem interagir, isto é, ligando e desligando os experimentos. A seguir, serão apresentados com mais detalhes os experimentos realizados. Método A cada novo grupo de visitantes foram dadas as boas vindas ao câmpus e perguntado sobre o nome da escola que representavam. Além da apresentação do professor, área do mesmo dentro do curso e apresentação geral do Laboratório de Eletrotécnica. A seguir foi feita uma apresentação das possibilidades do laboratório dentro do curso concomitante e integrado: Medidas elétricas: os discentes aprendem a conhecer e utilizar diferentes instrumentos de medidas elétricas; Máquinas Elétricas I: os discentes aprendem a conhecer os diferentes transformadores elétricos, como se instala e se faz a manutenção; Máquinas Elétricas II e Acionamentos: os discentes aprendem a conhecer os diferentes tipos de motores elétricos e como acioná-los. As figuras abaixo (1 e 2) servem para mostrar alguns dos equipamentos utilizados no laboratório. Figura 1: Transformadores monofásicos e trifásicos sobre a mesa, um TP e um TC no chão. Figura 2: Motor trifásico aberto, estator com e sem bobinas, rotor de gaiola de esquilo, rotor bobinado, rotor com ímãs permanentes e estator do motor síncrono.84 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
A seguir foi feita a demonstração da “indução eletromagnética” utilizando-se a carcaça de ummotor trifásico alimentado pelo variador de tensão trifásico (Figura 3). Regulou-se uma tensãoequivalente a uma corrente máxima de 5 A (pois o motor estava sem ventilação). A demonstraçãoinicial foi com uma bobina de contator com dois leds que acendem dentro do estator e a seguircom uma lata de alumínio com eixo central que gira da mesma forma que o rotor original. Esteúltimo foi realizado pelos visitantes causando surpresa. Figura 3: Demonstração da indução eletromagnética (bobina do contator e lata de alumínio).A seguir fomos para a Bancada 01 que estava preparada para a Partida Direta do motor trifásicocom reversão (Figura 4) utilizando-se uma chave mecânica (foi contextualizada a ideia dereversão com o exemplo do elevador de carros utilizado em oficinas mecânicas ou mesmo como portão eletrônico). Figura 4: Montagem e apresentação da partida direta com chave mecânica trifásica.A apresentação seguinte foi na Bancada 02 que estava preparada para a Partida Direta deum motor trifásico com reversão (Figura 5) utilizando os componentes convencionais utilizadosnos painéis industriais, como fusíveis, contatores, relé de sobrecarga, botoeiras, sinalização esirene. Foi contextualizado que esta montagem fazia o mesmo da bancada 01, porém com maiscondutores e componentes. Dois motores foram acionados simultaneamente. Aqui visitantesforam convidados para ligar e desligar os motores nas duas direções (horário e anti-horário) etambém simular uma falha através do relé de sobrecarga.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 85
Figura 5: Montagem e apresentação da partida direta com componentes. A apresentação seguinte foi na Bancada 04 que estava preparada para a partida do motor trifásico com a chave eletrônica conhecida como soft-starter (Figura 6). A primeira informação/ comparação dizia respeito à diminuição dos condutores em relação aos dois acionamentos anteriores e a segunda que este é o equipamento eletrônico mais simples para acionamento de motores trifásicos. Foi explicado que o objetivo, diferente dos dois anteriores, era ligar um motor de forma suave, ou seja, ao se observar o voltímetro pode-se perceber que a tensão aplicada no motor aumenta gradativamente de forma controlada. Novamente foi pedido a um ou dois visitantes para ligar e desligar o motor. Figura 6: Montagem e apresentação da partida com soft-starter.86 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
A apresentação seguinte foi na Bancada de Ensaio de Motores com a demonstração do inversorde frequência controlando a velocidade do motor trifásico WEG através de um potenciômetro(Figura 7). O motor foi ligado em triângulo, pois a entrada do inversor é 220 V monofásica esaída 220 V trifásica. Também foi demonstrado o freio de Foucalt. Figura 7: Montagem e apresentação da partida com inversor de frequência.A próxima apresentação foi na Bancada 06 com a demonstração do Servoacionamento (servo-motor e servo-controlador) no modo posicionamento (Figura 8). Foi colado no disco frontal doservo-motor uma escala circular em graus. A ideia aqui foi tirar o eixo da posição zero grausacionar a chave HABILITA e utilizar a chave ZERO para trazer novamente para a posição zero domotor. A demonstração seguinte foi através da terceira chave, cuja programação foi feita peloservidor Elder Pescador. E consiste em trazer para o zero novamente, executar dez (10) voltas nosentido horário, parar, executar cinco (05) voltas no sentido anti-horário, parar, e executar maisnove (05) voltas e parar na posição zero.Figura 8: Montagem eapresentação da partida comservo-acionamento no modoposicionamento.Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015 87
E por fim, foi apresentada a Bancada de Geração de Energia Elétrica (Figura 9). Uma demostração das células fotovoltaicas gerando 17 Vcc apenas com a iluminação da sala, chegando a 40 Vcc com as duas lâmpadas incandecentes de 200 W acopladas à estrutura da placa. A seguir foi feita a demonstração do gerador eólico acoplado a um motor trifásico acionado pelo inversor de frequência da bancada. Na frequência inicial (6 Hz), a velocidade do motor era de aproximadamente 118 rpm e tensão gerada de 4,52 Vcc, ao se acelerar na frequência máxima (37,8 Hz) ajustada no inversor, chegou-se a 753 rpm e 34,38 Vcc. Ambas as demonstrações foram feitas sem carga acopladas às saídas. Figura 9: Montagem e apresentação da bancada de geração de energia (foto- voltáica e aero-gerador). Considerações finais Ao término das demonstrações, os visitantes foram novamente informados que, de forma rápida, foram apresentadas algumas das diversas atividades práticas que nossos discentes aprendem ao longo do curso de eletromecânica no laboratório de eletrotécnica. Figura 10: Apresentação para os visitantes. Fonte: Mirtes Lia.88 Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | v.1 | ano 2 | nº 2 | maio 2015
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