alquímico, e bem antes que o advento da mais nos aproximamos das ideias que es-Psicologia das Profundezas viesse com- tão carregadas de preconceitos filosóficospensar o caráter exclusivo da fé cristã. religiosos e morais. É por essa razão queAssim, por exemplo, os alquimistas precisamos tratar de certas coisas com otinham símbolos para representar seu máximo de prudência.” Foi assim quepróprio salvador: a pedra filosofal, que Jung se expressou em sua obra Fundamentospoderia transformar chumbo em ouro. da Psicologia Analítica.De acordo com Jung, eles descobriram Durante muito tempo ele argumentounovas maneiras de perpetuar a encarnação que isso dizia respeito apenas a um pro-divina, não apenas em uma única figura cesso puramente psicológico. Apesar dehistórica como o filho perfeito de Deus, saber muito bem que havia implicaçõesmas também na matéria imperfeita, na espirituais ou metafísicas, ele se recusoupsique de cada ser humano; não só em a se pronunciar mais sobre esse assunto.uma fé coletiva, mas também em uma Ele queria continuar a ser considerado oautorrealização atual. empirista que havia sido no início de suaAssim, muito tempo depois dos gnósti- carreira: “Primeiro vêm os fatos; depois,cos, eles abriram caminho para uma nova as teorias”.compreensão das fórmulas dogmáticas, Além disso, temos a convicção de que seuprincipalmente a fórmula da Trindade, agnosticismo não era como o de Darwinda crucificação e da ressurreição, assim ou Freud: parecia mais ser uma ignorân-como práticas rituais como a celebração cia mística que destacava a “nuvem doda missa e o batismo. não-saber” ou o “silêncio inefável” dosAlém de aplicar seus próprios conceitos gnósticos, o Ain Soph dos judeus cabalistas,aos símbolos alquímicos, aconteceu algo ou o Ungrund de Boehme. Durante umamuito estranho. Jung percebeu que eles entrevista na BBC, em 1959, quando Johnnão somente confirmavam sua teoria, mas Freeman lhe perguntou se ele era crente,também se sentia obrigado a modificar o Jung balançou a cabeça e disse: “Eu nãoconteúdo de seus conceitos, aprofundá- creio: eu sei”. No entanto, sua respostalos substituí-los a partir de uma perspec- ainda soava de um jeito muito ambíguo.tiva muito mais ampla. Foi o que aconte- Em seus Pensamentos Tardios ele chega aceu quando ele quis compreender certos escrever: ”Na ausência de fatos empíri-símbolos como o lapis philosophorum, o cos eu não sei nem conheço o tipo decorpus glorificationis ou “corpo de diamante”, forma de ser geralmente designado comoo arqueus de Paracelso, o scintillia, ou “a espiritual. Quanto à ciência, pouco importacentelha de Luz” dos maniqueus, o conso- o que eu acredito a esse respeito. Precisolamentum dos cátaros ou – o que ele defi- me contentar com minha ignorâncianiu melhor em seu Magnum Opus Mysterium (...) Toda compreensão, tudo o que éConjunctionis – o casamento alquímico dos compreendido, é psíquico em si mesmo:Manifestos Rosa-Cruzes. Ele alcançou os somos desesperadamente prisioneiros emlimites da ciência psicológica, como con- um mundo puramente psíquico. No en-firmou em uma das Palestra de Tavistock tanto, temos razões suficientes para suporque realizou em Londres em 1935 no que, por detrás desse véu, existe o objetoInstituto de Psicologia Médica, diante de absoluto incompreendido, que age emum público de médicos e psicoterapeutas. nós e nos influencia, mesmo nesses casos,“Quanto mais nos aprofundamos nos especialmente nos fenômenos psíquicos,problemas fundamentais da psicologia, onde nenhum fato real pode ser estabele- 49
cido.” (Lembranças, Sonhos, Pensamentos). “A Física está tacitamente convencida de O estudiosoNesse momento, trata-se de saber se Jung, que existe um objeto transcendente, não francêsàs portas da terra prometida que desejava físico. No entanto, ela também sabe como Etienneexplorar, não estaria sofrendo de uma é difícil conhecer a verdadeira natureza Perrotespécie de agorafobia, por estar tão assus- desse objeto, principalmente porque nos- chama otado com o vasto espaço vazio do infinito. sos órgãos de percepção são insuficientes caminhoNo entanto, ele bem que tentou redefinir ou até mesmo nos faltam, e porque não junguianoseus conceitos básicos, principalmente existem formas de pensamento apropri- através dodepois de sua crise cardíaca e de sua adas e, portanto, precisam ser criadas.” inconscienteexperiência de quase morte, em 1944. (Memórias, p. 301) de “caminhoAssim, ele indicou muito claramente que Será que neste ponto não poderíamos da água”o que ele chamava de arquétipo era apenas supor que esse órgão de percepção jáo “empréstimo psíquico do arquétipo está em vias de se desenvolver, e que essapropriamente dito”, como dizia Kant. Em forma de pensamento já existe? Talvez jáuma entrevista com Wolfgang Pauli sobre tenha chegado a hora de ligarmos a basea Física Quântica, ele novamente inventou empírica do pensamento junguiano como termo sincronicidade para descrever como as categorias metapsicológicas/metafí-os fenômenos da psique poderiam ser sicas e reais e considerá-las um reflexoacompanhados judiciosamente de eventos empírico de uma realidade meta-empíri-do mundo psíquico, e isso sem nenhum ca, assim como um reflexo da luz sobre aligação de causalidade. Em seguida, ele água. É nessa mesma ordem de ideias quefalou, de repente, de “psicoide”, tentando Étienne Perrot, o célebre estudioso fran-reunir a matéria e o espírito no campo da cês tradutor de Jung, chama o “caminhoalma. junguiano através do inconsciente” deEle especulou sobre o fato de o self pro- “o caminho da água”. Jung nos convidavavelmente não ser somente resultado da a abandonar o apoio de um pensamentoassociação ou da totalidade do consciente muito ligado à terra. Ele nos convida ae do inconsciente, mas afirmou que ele descer e abandonar a influência aprisio-deveria ser visto como uma matriz pré- nadora da consciência-eu. Ele dissolveu asexistente ou como o motor da indivi- opiniões cristalizadas e as tornou flexíveisduação. Mais tarde, em seu livro Resposta e fluidas. Ele nos conduziu rumo a vastosa Jó, ele tentou explicar o fenômeno da oceanos onde podemos navegar, por maisindividuação global da humanidade em que o eu consciente se veja ameaçado portermos de autorrealização do Deus do ele.Antigo Testamento. Consequentemente, é Sem o apoio de uma estrela espiritualnatural que perguntemos se Jung final- fixa, corremos o perigo de nos afogarmente trouxe para a Psicologia conceitos nas profundezas das águas psíquicas. Aque ainda eram metafísicos e teológicos Psicologia Analítica nos leva sempre atéou, ao contrário, simplesmente tentou os limites da psicose, durante um estadoteologizar seu próprio sistema psicoló- de sonho inferior semelhante a um transegico ao misturar todos esses aspectos. hipnótico ou como se estivéssemos sobO fato é que, no final de sua vida, Jung efeito de drogas. Nessa situação, surgemtentou depurar sua visão dos limites de contradições vagas e borradas, que emseu antigo quadro de pensamentos cien- conjunto não são bem definidas. Notíficos, como podemos ver em seu livro final das contas, esse caminho inundadopóstumo Lembranças, Sonhos e Pensamentos. precisa ser abandonado e transcendido 50 O legado de Carl Gustav Jung
por um fogo onipresente e devorador: e relativo. Para não nos perdermos nessa limites que a ciência de seuum fogo que deseja nos conduzir rumo a longa senda do crescimento psicológico, tempo havia estabelecido. Nonovas e vibrantes dimensões de luz. Para não basta aprender a discernir entre o final de sua vida, ele declarouconseguir converter todas essas forças em consciente e o inconsciente. Trata-se aida: “Somente me imaginouma luz supra-luminosa, precisamos ser também de separar a natureza obscura com meus pensamentos sobrealçados por um espírito supraconsciente dialética, totalmente empírica, do mundo o sentido e o mito do sere transpessoal. Na verdade, a consciên- da luz imperecível do absoluto. Esse é o humano. Tudo foi dito a essecia transcendente está dissimulada nas sentido hermético real do solve et coagula respeito, mas acredito que é oprofundezas do inconsciente como uma dos alquimistas e da reunificação dos que pode ser dito – e precisapepita de ouro, ou como a joia de lótus. contrários. Apesar de ter anunciado a che- ser dito – no final desta Era deMas ela provém da natureza superior. gada de uma nova era em seu livro Aion, Peixes, em relação ao próxi-É preciso não somente entregar nosso Jung ainda era um filho de seu tempo, da mo éon que tomará formaego consciente a esse campo de força Era de Peixes. Ele esperava com paciência humana”. (Memórias, p. 291)mais elevado, mas também oferecer a esse o surgimento de novos horizontes, mas E nós, que chegamos aocampo todo o nosso devotamento pessoal não teve a oportunidade de atravessar os período de Aquário, não 51
O self é a conexão vivente com todos os seres vivos e com a Divindadedispomos somente da possibilidade decontinuar o trabalho de Jung e de levá-loa um bom termo: temos o dever sagradode fazer isso! E precisamos fazê-lo nãosomente para nos tornarmos indivíduosintegrados e um plano horizontal natural– o que é evidentemente uma transiçãonecessária – mas também, no sentidomais real do temo, nos transformarmosem homens divinos, pessoas com es-pírito, de modo vertical e supranatural. Épor isso que agora ousamos dizer publi-camente que o self unificado não podelimitar-se à periferia da psique pessoallimitada: Ele precisa ser escrito com letramaiúscula! Ele é a centelha de Luz celesteem nós, que provém de uma realidadeúnica, indivisível. Ele já não pode con-tinuar limitado, confinado a uma reali-dade intrapsíquica fechada, mas precisaser compreendido em seu sentido maisamplo, como uma realidade aberta, soci-al, metafísica, cosmológica e transcenden-tal. Em resumo: um Novo Ser. Ele é nossolaço vivo com a unidade onipresente davida, o que nos liga a todos os seres e nosreúne com a única fonte divina.Com certeza o eu não passa de um desen-volvimento biológico e psicológico. Paraficarmos preparados para alcançar nossospontos mais altos, precisamos nos elevarem um caminho espiral até um planode evolução superior, em um processode regeneração total, passando por uma Annie Parker, Siam Legacy SHE 52 O legado de Carl Gustav Jung
completa transformação ou transfigura- em um espelho (reflexo), mas sim face ação. Assim, nos elevaremos a um nível face”. Como Paulo vislumbrou, é precisomultidimensional, acima do tempo e do vencer definitivamente as forças psíquicasespaço. Isso não acontecerá mediante uma inconscientes e ultrapassá-las todas. Pararegressão biográfica ou histórica, nem alcançar a consciência absoluta do Ser,a partir de um retorno a um distante e a morte do velho homem psíquico e oesquecido passado, com a esperança de nascimento do Novo Homem são umarestaurarmos o que não funcionou direito exigência, como afirmavam os antigosem um processo unilateral ou um pro- gnósticos.cesso específico da sociedade ocidental, É um saber que também está oculto nasmas sim por meio de uma transposição palavras da Primeira Epístola aos Corín-total em um estado de ser completamente tios, de Paulo, e que foi gravada na lápidenovo. Assim deixaremos de ser “nascidos de Jung no cemitério de Küssnacht: Primusda natureza”, como diz o texto hermético homo de terra terrenus, secundus homo de caelofundamental, para nos tornarmos “filhos caelestis (O primeiro o homem é da terra,das estrelas”, cidadãos do infinito e co- terrestre; o segundo é do céu, celeste. (1autores de uma criação universal. A partir Cor 15:47)desse ponto de vista, o processo de in- Portanto existem razões suficientesdividuação mencionado por Jung é uma para chamarmos Jung de “Arauto dainiciativa importante com relação àquilo Nova Era”. Ele exprimiu sua sabedoriaque podemos chamar de salto quântico do amanhã de um modo aceitável pelaa partir da existência empírica rumo ao ciência de seu tempo. Agora cabe a nósSer Absoluto – da natureza inferior rumo darmos mais um passo: um passo queà natureza superior. Esse era o estado de Jung teria dado se vivesse em nossa épo-ser interior do ser humano no início dos ca, transferindo essa “sabedoria eterna”tempos: o estado dos Elohim, os criado- para um novo tempo, um tempo no qualres que conceberam mundos e seres se- está se erigindo uma nova ciência: umagundo sua própria imagem e semelhança, meta-ciência, holística, verdadeiramentea partir de sua energia e em função de espiritual. É o retorno da verdadeiraseu plano de criação. Esse estado poderá Gnosis, uma Gnosis em sua manifesta-ser e será novamente o último estado do ção atual, que tem como único objetivoser humano espiritual, que é chamado libertar o ser humano de todas as suasde Adão Kadmon - o Homem-Cristo. A resistências e divisões do passado, paraimagem desse ser, a Imago Dei ou imagem torná-lo consciente e abrir seu espíritode Deus como a chamava Jung é o que aqui e agora rumo à eternidade a di-ele entendia por arquétipo: a subjetivi- mensão do espírito humano é o infinitodade absoluta, a onisciência eterna. Ela de seu próprio Ser.é justamente o Olho de Deus, atravésdo qual Ele observa o Todo. No entanto,quando visto a partir do indivíduo quesomos, esse Ser não pode ser mais doque uma inconsciência-do-Todo, quejamais será totalmente integrado. É porisso que também é dito: “Aquele que vêDeus morrerá” – para alcançar a cons-ciência do todo “não em parte ou como 53
Um traçoO tão comentado Agora deveria ser definido como um ponto: umambiente estável em que nossos atos e gestos pudessem ser realiza-dos serenamente e sem interferências. Mas os helenistas já sabiam:Panta rhei! – Tudo muda! Na velocidade de um relâmpago ou comoem uma morte lenta, “nesse instante” e “em breve” jorram e saltam nadireção de um tracinho abstrato, onde o amanhã volta a ser passado,ininterruptamente.Assim, de repente, em um pis- acontece uma vez! O que existia antes desse car os olhos, tudo já passou. tracinho vira lembrança. Mas essa situação O que era esperança torna-se também traz uma série de vivências, como lembrança! Aparentemente, um tesouro do qual é possível extrair livre- trata-se de duas partes de mente o que chamamos de “aspecto atual”,nosso modo de pensar. Onde fica então o por assim dizer. A parte ativa – portanto oespaço destinado ao Agora? presente – trabalha na construção do futuro,O Agora não existe! Ele simplesmente não é com base na experiência do passado. Dessareal em nosso mundo: apenas nos contos maneira, o círculo é fechado, limitado porde fadas ou na ficção. Em certo sentido, todos os lados e em lugar nenhum: é umninguém é capaz de saber – e menos ainda Nada sem fim, no qual o Agora e o “agorinhade dizer com precisão – que horas são mesmo” se fundem em uma região ondeexatamente agora. Pensamos que podemos não há espaço disponível para “a expectativa,dominar o tempo, mas ao invés disso, nos o desejo, as lamentações ou o orgulho”.apressamos em correr atrás dele! Con- Viver se torna um dado abstrato, com umasiderando bem, a corrida na direção do dimensão de tirar o fôlego: o Silêncio.“tracinho” (que nem sequer é um traço), O movimento engloba pelo menos um “apoderia ser chamada “atual” – palavra que partir de...” e um “até ...”. O Silêncio (comliteralmente significa “o que está em ação e inicial maiúscula) é mais do que a ausênciapor isso é ativo”, ou “aquilo que está agindo de barulho ou de movimento. É um pontoneste instante”.Trata-se de um oceano de neutro: é a verdadeira aparência das coisas.movimentos, possibilidades, oportunidades, É uma proposta permanente que se ofereceprocessos de desenvolvimento; uma região para podermos trocar a agitação rotineiraflexível, maleável, onde ainda é possível in- por uma posição privilegiada, atrás datervir para corrigir alguma coisa, antes que – segurança desse tracinho: o único lugar delogo depois que o tracinho desaparece – ela onde podemos observar a nós mesmo tran-se coagule até se transformar em um disco quilamente exatamente como somos, semrígido, saturado, no qual nada mais pode sermos importunados pelo conflito entre oser acrescentado.Tudo o que acontece só sim e o não, sem a agitação do vai e vem. 54 IUnmhoturadço
É um momento incrível de liberdade total, quando não pre- cisamos fazer nada nem sermos nada. Curiosamente, damos um nome a essa região interior, em grande parte esquecida: “O Reino Imutável”. Poderíamos ainda chamá-la deVerdade ou de Estabilidade. Ela é estável, sim, mas não cristalizada! Contudo, é evidente que o Imutável deseja nos manter sempre em movimento rumo àquele tracinho atemporal e sem espaço, onde tudo acon- tece a toda velocidade e sem reflexão, enquanto o eu se mantém em repouso – parado mas atento, quase sem nenhu- ma ondulação, na intrincada confusão das impressões que perturba nossa alma. Esse tracinho não é nada mais nada menos que o arauto do espaço da verdadeiraVida, onde todas as atividades podem ser realizadas na força tranquila e espiritual do eterno presente. Verdade e Quietude são presen- tes do Reino no qual podemos adentrar, para levá-las conosco no caminho que devemos seguir: essa é a harmonia do eterno Agora, que só pode ser encontrada em corações huma- nos e irradiada para toda a hu- manidade! É aVoz do Coração, que não conhece o jogo dos opostos e que, por isso, é cha- mada de Bem Único. No surfar das ondas da vida cotidiana quase não a percebemos, mas seu ressoar já deve ter tocado muitas vezes nossos corações.55
56 O círculo duplo
símboloO círculo duploOs antigos celtas possuíam um belíssimo símbolo para representar a inter- dependência da natureza com o mundo espiritual. Dois orbes, nos quais a parte inferior do superior e a parte superior do inferior se sobrepunham de maneira parcial, para formar, nessa intersecção conjunta, um “espaço de silêncio”. Por esse espaço e através dele passa um caminho de baixo paracima, frequentemente simbolizado por uma espada. É o símbolo de chalice well (“a fontedo cálice”) em Glastonbury.Apesar de se tratar de uma figura bidimensional, tentaremos imaginar o símbolo emtrês, ou melhor ainda, em quatro dimensões. As cúpulas sobrepostas representam omundo físico, o mundo espaço-temporal, de um lado, e o mundo espiritual e causal,do outro: Abred, o mundo da necessidade e limitação (no qual existimos) e Gwynfyd, omundo da felicidade, da liberdade e da riqueza (os domínios do homem original). Olugar onde esses mundos se sobrepõem é chamado de Vesica Pisces – “bolha de peixes”,“o veículo que transporta a água da vida”. É o local onde a fonte da vida atravessa amatéria. Na antiguidade, as pessoas associavam esse oval ou mandorla com Vênus, comquem era estabelecida a firme ligação com o mistério do “vir a ser” ou do “doadorda vida”, o demiurgo. Nos tempos cristãos, figuras de Cristo ou de Maria eram repre-sentadas ao lado de mandorlas como matriz, onde o Filho aparece como Luz ou Cria-ção do Altíssimo. No sentido de libertação, podemos interpretar a mandorla como umaponte entre o céu e a terra, um portal ou campo etérico, assim como a Escola Espiritu-al, cheia de frequências vibratórias, som, cor, luz e forças etéricas. Na quarta dimensãodesse símbolo fluem as forças eternais de Ceugant, o mundo original, Absoluto, que estáacima de todas as formas e limitações. Essas frequências vibratórias envolvem todosos seres e fronteiras, na forma de amor, sabedoria e força, fluindo em direção aos doismundos e penetrando-os.Nota:Glastonbury é uma pequena cidade do Condado Somerset, na Inglaterra, situada a 50 km ao sul de Bristol. Elaé particularmente notável pelos mitos e lendas a respeito de José de Arimatéia, do Santo Graal e do rei Artur.(Wikipedia) 57
Primeiros passosna vida superiorQuando compreendemos que o caminho da virtude é o caminho do conhecimento, e que antes de captarmosos princípios universais da base da verdade precisamos nos limitar a adquirir a perfeição nas esferas infe-riores, então surgem as seguintes indagações: Como um discípulo da verdade pode dar os primeiros passosno caminho? Como um homem que aspira à perfeição de seu espírito e à purificação de seu coração (essecoração que é a fonte e o ponto de encontro de todas as fontes vitais) pode aprender as lições da verdade eassim elevar por si mesmo sua alma até o poder do conhecimento? Como ele poderá aniquilar a ignorânciae as fraquezas da vida? Quais são os primeiros passos, as primeiras lições? Como ele deverá aprendê-las?Como elas devem ser aplicadas? Como elas devem ser conquistadas e finalmente compreendidas? 58 Primeiros passos na vida superior
JAMES ALLEN Tenha sempre um sorriso para teu próximo, s primeiras lições peregrino, buscador como você. consistem ao A raiva só faz aumentar o sofrimento; mesmo tempo a bondade é medicina. Não torne a estrada pesada Aem aprender a com a cólera em seu rosto – ultrapassar os es- uma palavra gentil, um sorriso doce tados de espírito errôneos que aliviam muitos fardos. são os mais fáceis de serem erradicados e que constituem E. Wheeler-Cox obstáculos mais comuns ao progresso espiritual, e também em cultivar as primeiras vir- tudes cotidianas e sociais. Para ficar mais fácil, vamos repartir as dez primeiras lições em três categorias. Assim: Os vícios que precisam ser ultrapassados Os vícios do corpo Primeira lição: A disciplina do corpo. Vencer: A indolência (gula); a auto- complacência (os excessos). Os vícios da língua Segunda lição: A disciplina da língua. Vencer: A fofoca, calúnias e conversas superficiais; as acusações e insultos. A linguagem impensada e desrespeitosa. A hipocrisia e a crítica dolo- rosa. Virtudes a serem adquiridas e praticadas A terceira lição: Disciplinar tendências. Saiba como: Exercer suas funções abnega- damente. Possuir a retidão de uma espada. Praticar a dispo- sição ao perdão absoluto. 59
O primeiro passo mais horas de sono e alimento ao corpo do que ele tem necessidade, oupara controlar sempre deixar para depois as coisas que exigem nossa atenção imediata.nosso espírito é Podemos ultrapassar essa preguiça acordando bem cedo, dando ao corpoultrapassar nossa o sono que ele precisa e não mais do que isso, e cumprindo prontamentelentidão todas as tarefas que se apresentem, por mais insignificantes que sejam. De modo algum deveremos levar comidas e bebidas para nossa cama, ou ficarOs dois vícios do corpo e os cinco da deitados depois de acordar, para sonhar de olhos abertos ou simplesmentelíngua são assim chamados porque eles se nos entregarmos à indolência. Esses hábitos são nocivos e impedem quemanifestam através do corpo e da língua estejamos prontos e com o caráter firme e puro. É impossível conseguirmose, ao serem assim classificados, serão mais pensar com firmeza, pureza e verdadeiramente nessas circunstâncias. As pes-facilmente memorizados pelo aluno. soas vão para cama para dormir, não para pensar, assim como se levantamÉ preciso compreender muito bem que para refletir e trabalhar – e não para dormir.esses vícios vêm da mente: são estados O passo seguinte consiste em ultrapassar a auto-complacência ou a gula.equivocados do coração que se manifes- Quem é guloso somente come para satisfazer sua vontade e ingere maistam por meio do corpo e da língua. A do que seu corpo tem necessidade, perdendo de vista a verdadeira finali-existência de estados como esses é uma dade do ato de comer. Somente conseguiremos ultrapassar esses hábitosprova de que a luz ainda não surgiu no quando diminuirmos aos poucos a quantidade de alimento e o número deespírito do homem no verdadeiro signi- refeições diárias mantendo um regime alimentar bem simples. (...) Alémficado da vida. Por isso, tomar as rédeas e disso, precisamos saber que uma transformação do coração é o único neces-acabar com eles é o início de uma existên- sário e que uma mudança de regime alimentar que não busca esse objetivocia virtuosa, inabalável e iluminada. Mas é inútil. Uma pessoa que se alimenta por prazer é gulosa. Mas o coraçãocomo poderemos vencer esses vícios? pode ser purificado da avidez – do desejo sensual ardente, do apetite guloso.Primeiro, impedindo que eles se expres- Quando o corpo está bem controlado e é conduzido com firmeza, quandosem e dominando-os. Ao nos abstermos de realizamos corajosamente o que temos de realizar e não adiamos nenhumacometer um ato equivocado, nossa cons- tarefa, quando nos levantamos cedo e sentimos prazer em fazer isso, quandociência é impulsionada a vigiar e refletir, a sobriedade, a moderação e abstinência estão firmemente confirmadas eaté que, depois de uma prática repetida, se tornaram uma segunda natureza em nós, quando nos contentamos comela consegue perceber e compreender, e a refeição que nos é servida, por mais sóbria e simples que seja, e quandofinalmente esquece totalmente os estados o desejo de consumir pratos gulosos já não se faz sentir impetuosamente,sombrios e equivocados que originaram então já demos o primeiro passo rumo à vida superior. Nesse momento,esses atos. O primeiro passo para dominar realmente aprendemos a primeira lição.o espírito é ultrapassar a indolência física. É assim que colocamos em nosso coração o alicerce para uma vida equili-É também o mais fácil! Não conseguire- brada, controlada e virtuosa.mos dar os passos seguintes antes de ter A lição seguinte é a da utilização de uma linguagem justa que compreendedado firmemente esse primeiro passo. cinco etapas sucessivas. O primeiro passo deve ser superar a maledicência. AAfinal, continuar aprisionado na lentidão calúnia ou difamação consiste em inventar ou contar algo sobre as más açõesé um entrave bastante pesado no caminho das outras pessoas (conhecidos ou amigos ausentes), ou expor e exagerarda verdade. A lentidão consiste em dar os erros que elas cometeram e insinuar coisas indignas a respeito delas. Os elementos de irreflexão, de crueldade, de hipocrisia e mentira estão presen- tes em todo ato de calúnia. Aquele que tem como objetivo levar uma vida virtuosa começará por reprimir as palavras cruéis e caluniosas antes que elas saiam de sua boca, para depois erradicar o pensamento insidioso que as originou. Ficará atento para não colocar ninguém em descrédito, nem dene- grirá ou julgará o amigo de quem acaba de apertar a mão. Não dirá nada do outro – nada que ele não possa ouvir. Quando tiver progredido de tal modo que as personalidades dos outros serão para ele tão sagradas quanto sua re- 60 Primeiros passos na vida superior
putação, então destruirá em seu espírito os alguém. Quando deixamos de respeitar as outras pessoas, de demonstrar-estados equivocados que estão na origem -lhes a devida deferência, estamos abandonando o Bem. Quando deixamosda maledicência. de lado a modéstia, a seriedade e a dignidade de nossas conversas e de nossoO passo seguinte consiste em acabarmos comportamento, a verdade se perde. Sim: até a porta que conduz à verdadecom nossa tendência à tagarelice e conver- se esconde e se fecha para nós. A falta de respeito é indigna entre os jovens,sas inúteis. mas é ainda mais lamentável quando é encorajada por pessoas de cabelosFazer fofoca é falar da vida dos outros, grisalhos! Quando esse mau exemplo é seguido, podemos dizer que se tratafalar para matar o tempo e participar de de um cego conduzindo outros cegos. Assim, tanto os guias como os que osconversas que não têm nenhum objetivo. seguem se desencaminharão.Tudo isso é a manifestação de um espírito Por outro lado, um ser-alma irá falar com seriedade, benevolência e respeito.desordenado. Quem sabe segurar sua Irá abster-se de pensar ou de falar mal e ficará atento para não renunciar àlíngua pode também ordenar seus pensa- sua dignidade em troca de um acesso de frivolidade passageiro. Como irámentos. Sua linguagem será firme e pura se comportar como um ser que conhece a Verdade e a serve, sentirá umae, quando essa pessoa já não tiver nenhu- alegria muito mais pura e mais harmoniosa e sua alma estará mais plena dema razão para falar, ela se calará. Xingar gratidão e de bondade.e dizer palavrões são grosserias que logo O quinto passo da segunda lição é ultrapassarmos a hipocrisia e a crítica emdevem ser ultrapassadas. Quem insulta e relação às outras pessoas.acusa seus semelhantes está muito longe Essas fraquezas consistem em aumentar e censurar tudo o que parece serdo caminho certo. Quando sentimos cres- um defeito ou uma falha, em fazer intrigas ou “cutucar a ferida”, anali-cer dentro de nós o impulso para xingar sando minuciosamente suposições infundadas. Não conseguiremos curare criticar os outros, precisamos segurar nossas falhas, nem a dor, nem o sofrimento questionando arrogantementenossa língua e olhar para dentro de nós ou discutindo com as pessoas. Quem fica sempre correndo atrás do quemesmos. O ser humano de alma plena se os outros falam para poder contradizê-los ainda está precisando procurarabstém de proferir injúrias e evita discus- o sagrado caminho da vida de rendição do eu. Já quem sempre está atentosões. Ele utiliza poucas palavras: só usa para filtrar suas palavras a fim de suavizá-las e purificá-las irá encontrar essepalavras úteis, necessárias, verdadeiras e caminho e a vida. Comportando-se assim, economizará suas forças e conser-puras. vará seu equilíbrio espiritual. Quando conseguirmos dominar nossa língua,O passo seguinte consiste em acabar com quando os impulsos egoístas e os pensamentos indignos já não nos força-nossas atitudes vulgares. rem a expressá-los, quando nossas conversas se tornarem inofensivas, puras,Quando estamos em busca da verdade, benevolentes e cheias de significado, quando todas as nossas palavras foremprecisamos nos abster de tudo isto: pronunciadas com sinceridade e amor ao próximo, então teremos aprendidopalavras irrefletidas e fúteis, repetição a segunda grande lição sobre a Verdade.de brincadeiras grosseiras; o costume de Mas para que serviria todo esse domínio do corpo, essa contenção de tudo ocontar piadas sujas com o objetivo único que diz respeito à língua? Será que a vida superior não poderia ser realizadade provocar risadas vazias; intimidades sem todos esses esforços, sem todo esse sofrimento ininterrupto, sem todaque denotam baixeza; o uso de palavras de essa vigilância?menosprezo quando falamos com outras Não. Isso não é possível. Na vida espiritual, assim como na vida material,pessoas ou quando falamos a respeito nada se realiza sem esforço e o que é superior não pode ser conhecido semdelas (principalmente com pessoas idosas, que antes o inferior seja dominado. Como poderíamos fabricar uma mesaprofessores, cuidadores ou nossos supe- sem antes termos aprendido a utilizar as ferramentas e sem saber pregarriores). Muitas vezes rebaixamos “pelas um prego sequer? Seria possível formamos nosso espírito de acordo com acostas” membros de nossa família, amigos Verdade sem antes termos vencido a escravidão do corpo? Do mesmo modoou conhecidos, somente para provocar como não conseguiríamos aprender as sutilezas de uma língua antes de co-risadas momentâneas. Desse modo, o nhecermos bem o alfabeto e as palavras simples, não poderemos compreen-aspecto sagrado da vida é sacrificado em der e utilizar as riquezas do espírito antes de termos adquirido o be-a-bá doprol de um prazer infame de ridicularizar comportamento correto. Quanto ao esforço, precisamos nos consolar com 61
a ideia de que, se nos esforçamos com o nosso estado interior. Mais ainda: o controle de todas essas coisas é apenasobjetivo de nos tornarmos excelentes mú- uma pequena parte de tudo o que esse processo nos traz de verdade.sicos, pintores, escritores ou em qualquer Quando nos abstemos do Mal, estamos nos preparando para praticar ooutra atividade, também conseguiremos Bem: um exercício está inseparavelmente ligado ao outro. Quando tentamosestar dispostos a consagrar nossas vidas vencer nossa lentidão e auto-piedade, estamos desenvolvendo sobriedade,para esse objetivo! E então: deveríamos ter moderação, pontualidade e abnegação: conquistamos força, energia e a esta-medo de fazer o esforço necessário para bilidade de nossa vontade – pontos que são indispensáveis para quem desejaalcançar a maior perfeição de que o ser cumprir seus deveres superiores com sucesso.humano é capaz? Quem diz: “O caminho Quando alguém consegue superar os vícios de sua língua, faz crescer em sique você está nos mostrando é muito o amor pela Verdade, o devotamento, o respeito, a benevolência e o auto-difícil! Quero alcançar a Verdade sem domínio, além de adquirir essa perseverança espiritual, essa certeza comesforço, quero conseguir a salvação sem relação ao objetivo único. Sem esses pontos, as forças mais sutis da Alma-sofrimento!”, essa pessoa não encontrará -Espírito não podem ser conquistadas – e sem essas forças essa pessoa nãoo caminho de saída da confusão e da mis- poderia alcançar o estado de consciência superior. Quando um ser humanotificação de si mesma! Ela não encontrará aprende a ser realmente bom, seu conhecimento é mais profundo, sua com-aquilo que traria uma existência ordenada, preensão vai crescendo e se ajustando. Assim como o coração da criança seum espírito firme e calmo e uma harmo- alegra quando fez seus deveres escolares com capricho, a pessoa que praticaniosa vida de alma. Para uma pessoa como a virtude sente a cada vitória uma alegria que que jamais será sentida poressa, a busca da Verdade não é essencial: quem busca diversão e uma vida excitante.ela se importa mais com o conforto e o E então chegamos à terceira lição: a prática e a assimilação de três grandesprazer. Quem ama a Verdade do fundo de virtudes fundamentais: 1. O fato de cumprir seus deveres de maneira desin-seu coração e aspira a conhecê-la não pou- teressada; 2. A retidão; 3. O impulso de perdoar incondicionalmente.pará esforços! Pelo contrário: com alegria Quem já superou esses estados mencionados nas duas primeiras lições see perseverança, fará tudo para alcançar o vê diante de uma tarefa ainda maior e mais difícil: aprender a direcionar everdadeiro Conhecimento. purificar os desejos mais profundos de seu coração. Os valores mais eleva-Compreenderemos um pouco mais a dos da alma somente podem ser conhecidos com a observação dos deveres.disciplina do corpo e da língua quando Assim, a Verdade será compreendida! Geralmente consideramos o cumpri-virmos dentro de nós a origem de nossas mento do dever uma tarefa muito aborrecida, um constrangimento contra ofalhas exteriores. Um corpo lento demons- qual precisamos lutar ou que tentamos contornar de um modo ou de outro.tra um espírito lento; uma língua descon- Esse ponto de vista provém de um estado de espírito egoísta e de uma ideiatrolada mostra um espírito não dominado. equivocada sobre a vida. Na verdade, todos os nossos deveres precisam serE, como já vimos, o exercício que cura vistos como algo sagrado, cuja realização fiel e desinteressada constitui umaesses estados que revelamos em nós é, na das principais regras de conduta. Devemos deixar para trás todo e qualquerrealidade, um método para melhorarmos impulso pessoal. Quando conseguirmos fazer isso, o dever se transformará em grande alegria! Ele somente será desagradável para quem aspira ao pra-Quem negligencia zer egoísta ou ao seu proveito pessoal. Se o homem que se irrita com suassuas obrigações tarefas tediosas olhar para dentro de si mesmo, vai observar que seu descon-negligencia a tentamento não vem das tarefas em si, mas sim de seu desejo mesquinho de fugir delas. Quem negligencia seus deveres, sejam eles pequenos ou gran-Virtude des, de natureza geral ou particular, negligencia a Virtude. Quem se revolta, em seu coração, contra seus próprios deveres, revolta-se contra a Virtude. Quando nossas obrigações se tornam um caso de amor e quando todas as tarefas sérias são cumpridas conscienciosa, fiel e desinteressadamente, é sinal de que uma grande parte do egoísmo já foi banida de nosso coração e que já progredimos bastante rumo às alturas da Verdade. O ser humano realmente bom reforça seu espírito até a consumação total e perfeita de suas próprias 62 Primeiros passos na vida superior
obrigações e não se implica com as obri- a vingança são vis, baixos e indignos de um ser humano realmente virtuoso.gações alheias. Quem alimenta esse tipo de pensamento em seu coração não pode de modoO segundo passo de nossa terceira lição é algum se elevar e sair do nível animalesco e sofredor, nem saberá conduzira retidão. A aspiração a essa virtude precisa sua vida adequadamente. Somente quem não é tocado por essas coisas veráser ancorada solidamente no Espírito e diante de si o Caminho da Vida: somente desenvolvendo a clemência e aperpassar por todas as ações da vida do ser compaixão é que ele poderá ter esperanças na Força e na Beleza de uma Vidahumano. Precisamos banir para sempre boa e saudável. No coração de um ser humano forte e virtuoso, não poderátoda e qualquer desonestidade, simula- surgir nenhum sentimento de ofensa pessoal. Afinal, ele deixou para trásção ou engano. Nosso coração precisa ser todos os pensamentos de vingança e não tem inimigos. E mesmo que hajapurificado do mais leve traço de hipocrisia seres humanos que se façam passar por inimigos, ele os trará para dentro dee de embuste. A menor negligência no que seu coração, compreendendo e suportando sua ignorância. Quando atingir-diz respeito à integridade é um desvio do mos esse estado de coração, daremos o terceiro passo de autodisciplina,caminho da Virtude. O descomedimento observando nossas más tendências. Nesse ponto, a terceira lição importantee o exagero são inúteis, mas a simples sobre a Virtude e o Conhecimento já estará aprendida e assimilada.Verdade precisa ser reconhecida. A tenta- Agora que os dez primeiros passos e as três lições sobre o bom comporta-tiva de enganar, por mais insignificante mento e o pensamento correto já foram explicados, deixo aos leitores oque possa parecer, pode se vangloriar de cuidado de colocá-los em prática em suas vidas cotidianas. É claro queconseguir uma pequena vantagem, mas sempre haverá uma disciplina ainda mais perfeita do corpo a ser forjada eé uma forma de autoengano que precisa- um domínio da língua que vá ainda mais longe. Haverá ainda mais virtudesmos tentar evitar. O que se espera de um exaustivas para adquirirmos e compreendermos antes de podermos atingir ohomem virtuoso não é apenas que ele estado de beatitude mais elevado, mas o objetivo não é desenvolvê-las aqui.pratique a mais rigorosa honestidade de Apenas indiquei as primeiras lições mais fáceis. Quando elas forem comple-pensamento, palavra e ações, mas também tamente assimiladas, o leitor estará purificado, fortificado e esclarecido de talque ele seja escrupuloso em suas declara- modo que o Caminho do Conhecimento superior já não será obscuro parações, nunca adicionando nada à Verdade e ele.também nada retirando dela. Aqueles que completaram as três lições irão observar que ainda há muitosAssim, ao formarmos nosso espírito de elevados picos da verdade e mentira em torno de si e que um caminhoacordo com o princípio da retidão, iremos estreito e rígido leva até ele. Eles poderão decidir por si mesmos se desejamaos poucos considerar os homens e as coi- segui-lo. O caminho que mostrei pode ser percorrido por todos, em prol desas de modo justo e objetivo, praticando cada um e do mundo. Quem tentar aperfeiçoar-se desse modo desenvolveráa justiça para todos e nos libertando de sua faculdade de pensamento e obterá uma força de espírito maior: eles irãopreconceitos pessoais. Quando conseguir- adquirir um julgamento mais sutil e uma paz de alma mais profunda. Suamos fazer isso, quando nos imunizarmos prosperidade material também não passará por nenhum prejuízo depoiscontra toda e qualquer tentação de men- que eles se voltarem para seu interior – pelo contrário! Porque, se alguémtira e hipocrisia, então nosso caráter será está pronto para vencer e ter sucesso é exatamente esse ser humano que dizreforçado e o conhecimento se aguçará. A adeus a seus pequenos erros e aos vícios cotidianos de sua espécie. Quem évida terá novo significado e nova força! forte na arte de dominar seu corpo e seu espírito, com perseverança, seguiráO terceiro passo consiste, primeiramente, o caminho da probidade inabalável e da verdadeira Virtude.em nos desfazermos do sentimento dehumilhação e de indignação que nascem Novos deuses, novos princípios,do orgulho e da vaidade, do egoísmo e da e há sempre outro caminho novo;altivez; depois, em segundo lugar, consiste o mundo não precisa maisem praticar a caridade desinteressada (o do que “mais amor”.verdadeiro Amor preconizado pelo cristia-nismo interior) e a tolerância com relação E. Wheeler-Coxa todas as pessoas. O rancor, o desprezo e 63
James AllenJames Allen é um trabalhador a serviço do soas interessadas em sua atividade. Assim e seu coração faz que os ventosEspírito que, em nossos dias, é totalmente como Jacob Boehme, ele causava grande e as tempestades da alma di-desconhecido. Ele viveu entre 1864 e 1912. impressão ao seu redor por sua aparência, minuam e obedeçam à grandeEm 1879, quando ele tinha 15 anos, seu suas conversa suave e seu hábito de entrar Luz interior. Há duas verdadespai, que trabalhava com lã, abriu falência em contato com a natureza ao alvorecer essenciais, diz Allen: você estáe partiu para os Estados Unidos em busca para refletir e contemplar. Assim como hoje onde seus pensamentosde um novo futuro para sua família. No Buda, ele ensinava: “Tudo o que somos é o conduziram, e hoje você éentanto, dois dias depois de sua chegada o resultado de nossos pensamentos.Tudo o arquiteto do seu futuro. Oà América, ele foi assaltado e assassinado. o que um homem pensa em seu coração que James Allen nos ensinaFoi por isso que James, com a idade de 15 é o que ele é”. É por isso que Allen atrai a é extremamente prático. Eleanos, precisou por fim deixar a escola e atenção sobre a força própria do indivíduo nunca enunciou teorias pelotrabalhar para alimentar sua família, como e a capacidade do coração de transformar simples prazer de escrever, massecretário particular. A partir de 1902, ele o caráter – como podemos ver em seu somente quando tinha umadecidiu dedicar todo o seu tempo a escre- artigo que foi impresso para demonstrar mensagem a transmitir. Assimver. Durante os nove anos que lhe restaram, isso. Os pensamentos e o caráter são uma como Gandhi, ele somenteele redigiu dezenove livros. Mudou-se para só coisa, diz ele, e as situações exteriores da comunicava uma informação aIlfracombe, uma pequena cidade balneária, vida refletem frequentemente um estado outra pessoa quando ele mes-no sudoeste da costa inglesa, cheia de ho- interior. Consideradas desse modo, es- mo já a havia colocado à provatéis vitorianos florescentes e colinas suaves, sas circunstâncias são indispensáveis para e reconhecido que era boa.o que lhe proporcionou uma atmosfera os acontecimentos futuros. James Allen O que escreveu ele mesmo játranquila para trabalhar. Seu primeiro afirma que pensar corretamente é o motor havia verificado na prática.livro foi From Powerty to Power (Da pobreza mais dinâmico que leva à rendição do eu.à riqueza ou A realização da felicidade e Porque, o pensamento correto leva à açãoda paz). Quanto a seu segundo livro As a correta. Nós nos tornamos espiritualmenteManThinketh (Como um homem pensa) ele ricos quando empreendemos essa aventuraficou bastante insatisfeito, mas sua esposa interior – a restauração do pensamento –Lily o persuadiu a publicá-lo assim mesmo. quando estamos conscientes da unidade deFoi um grande best-seller! O ideal de vida de todas as vidas, quando aprendemos a escu-James Allen foi o mesmo de Leon Tols- tar a voz do coração com a força da con-toi – um ideal que ele compartilhava com templação, quanto sentimos e vivenciamosmilhares de outros buscadores nos anos nossa relação com a natureza. O pensamen-1900, que aspiravam sinceramente viver to de Allen é uma mensagem de esperançauma vida de pobreza, de trabalho manual e que seguramos com mãos limpas. É certode virtude, realizável por autodisciplina. As- que somos sacudidos para lá e para cá pelasim como Tolstoi, Allen tentava aperfeiçoar violência descontrolada de nossa impulsivi-sua alma. Assim como Tolstoi, ele escrevia dade instintiva. A tristeza humana pode serdurante a manhã, trabalhava no jardim esmagadora e muitas vezes somos soter-durante a tarde e as noites ele reservava rados pelo medo e pela dúvida. Apenas opara entrevistas e conversas com as pes- homem sábio que purifica seu pensamento 64 Primeiros passos na vida superior
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