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Revista Pentagrama 2010-5

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:19:01

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pentagrama Lectorium RosicrucianumA realidade da libertaçãoOs harmônicos superiores do “Pai-Nosso”A criação é duplaO Minotauro, a alma e o euDo saber à sabedoriaA Edda: A palavra sagrada original2010 5set/outnúmero

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaLinha editorialP. Huis Lectorium RosicrucianumRedatores A revista Pentagrama dirige a atenção de seus leito-C. Bode, A. Gerrits, H.P. Knevel, G.P. Olsthoorn, res para o desenvolvimento da humanidade nesta novaA. Stokman-Griever, G. Uljée, I.W. van den Brul era que se inicia. O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloImagens do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémI.W. van den Brul, G. P. Olsthoorn o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Redação to, um símbolo somente tem valor quando se tornaPentagram realidade.O homem que realiza o pentagrama em seuMaartensdijkseweg 1 microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está noNL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos caminho da transfiguração.e-mail: [email protected] A revista Pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seu próprio interior.Edição brasileiraPentagrama Publicaçõeswww.pentagrama.org.brAdministração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Responsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM.V. Mesquita de SousaCoordenação, tradução e revisãoM.J.Versiani, M.M. Rocha Leite, L.M.Tuacek,M.B. Paula Timóteo, A.C. Gonçalez Jr.,D.B. dos Santos, J. Jesus, A.R.R.Gomes,N.M.M. de Soliz, M.S. Sader, R.D. Luz, F. LuzDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesTerceira capaH. RogelLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a ano 32 número 5 2010 O que obstaculiza a percepção sumário do verdadeiro mundo é a lenti- dão do coração humano. a realidade da libertação 3 O homem tornou-se “pesado” j. van rijckenborgh com todas as pressões e a criação é dupla 8 impressões provenientes da artista mago ou verdadeiro iogue 13 matéria, que lhe sobrecarregam do saber à sabedoria 18 o coração, e este, a muito custo, a palavra sagrada original 22 reage apenas às coisas da vida e a edda às necessidades de seus seme- os harmônicos superiores do “pai- lhantes, de modo que os impul- nosso” 26 sos internos da alma dificilmente o minotauro, a alma e o “eu” 30 chegam até a consciência. ir além da terra 36No presente número a revista Pentagrama tem o livro de mirdad 38como objetivo, mediante alguns artigos provocantes, resenha de livrodespertar o coração espiritual. De fato, graças a umaconsciência atuante é possível abalar sua lentidão, seu Capa: Desenho celta numa estela antigapeso, e distinguir com o olhar interior o perfil de uma a realidade da libertação 1 1nova era e de um novo mundo. É desse modo que opoeta romântico alemão, Friedrich Hölderlin, o percebeem um poema escrito em 1796:“Somos como um fogo que dormitaNa madeira seca ou no cascalho;Lutando e buscando a cada momentoPôr fim à estreita prisão.Enfim, após ousar uma luta de séculos,Chegam os momentos da libertação,Quando o divino demole a prisão,A chama liberta-se da madeiraE, vitoriosa, eleva-se em ondassobre as cinzas, ah!Quando, como espírito libertoQue triunfante voltou aos átrios solares,Esquecemos os sofrimentos, a forma de servo.”

a realidade da libertaçãoA vida busca elevar-se, ascender, mudar de plano vibratório,adentrar um novo campo. Um ser humano tocado por umavibração mais elevada pode ingressar no campo que se encontraacima da dialética normal. Então, seu ser se modifica.J. van RijckenborghOcampo astral do corpo-vivo da jovem Gnosis caracteriza- -se, considerado exteriormente, por meio de cor e vibra- ção. Pode-se designar melhor a cor desse campo astral comouma mescla de ouro e violeta, não o violeta avermelhado ou azulado,mas uma cor absolutamente uniforme, muito específica, uma cor queemite um resplendor violeta dourado. Sabemos que o ouro é a cor doestado da alma renascida, de seu resplendor. É por isso que tambémfalamos de Rosacruz Áurea e cantamos a maravilhosa flor áurea. Hámuitíssimo tempo é sabido que o ouro, quanto ao seu brilho, natu-reza e vibração, é comparado ao estado de renascido. Basta pensarmosna antiga pintura primitiva. Por isso, também o Templo de Renovaestá consagrado a essas duas cores, violeta e ouro. A cor violeta extre-mamente pura é a cor fundamental do novo espectro, o da humani-dade-alma, no qual a alma renascida, a flor áurea maravilhosa, podeser admitida num novo curso de vida. Em artigos precedentes, fala-mos de um campo astral da natureza da morte e de um campo astraldo corpo-vivo da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, recentementeconstruído. É possível que tenha parecido demasiado terreno consi-derá-los existindo um ao lado do outro e, no entanto, apartados entresi e protegidos de vários modos. Contudo, no tocante a isso, semdúvida, pensaremos de modo bem diferente ao considerar que se trataaqui de uma questão de vibração. A substância sideral ou astral possuiuma escala vibratória que, na sétima região cósmica, vai de aproxima-damente 450 trilhões a 700 trilhões de hertz (vibrações por segundo).Essas são algumas cifras da Doutrina Universal. Dentro dessa escalavibratória se manifestam os vários fenômenos astrais, formas e ativida-des ligados à sétima região cósmica. Em cores, eles se expressam desdeo vermelho intenso, que é a vibração mais baixa, até o violeta azu-lado, que é a mais elevada vibração no campo de vida dialético. Asradiações ligadas a tudo isso possuem, segundo a Doutrina Universal,comprimentos de onda de aproximadamente 650 nanômetros (verme-lho) até 450 nanômetros (violeta), sendo que um nanômetro é a bilio-nésima parte de um metro. As vibrações mais rápidas possuem menorcomprimento de onda. Assim que esses limites de vibração e esses 2 pentagrama 5/2010

J. van Rijckenborgh é o fundador daEscola Espiritual da Rosacruz Áurea.Nessa Escola ele explica e comenta o caminhode libertação da alma de todas as maneiras,frequentemente com o auxílio de textos herméticos talcomo o Corpus HermeticumPintura mural de Madikeri, Índia a realidade da libertação 3

comprimentos de onda são ultrapassados em sen- tido negativo, isto é, quando ocorre um retardo ou enfraquecimento que se estende abaixo dos limites da sétima região cósmica, sempre resulta dissolução, desagregação, pulverização, explo- são e morte, a morte por desintegração. E assim que um ser humano ultrapassa esses limites em sentido positivo, portanto para cima, em direção à sexta região cósmica, ele entrará nessa região, resultando daí outra forma de manifestação, que indicamos por homem-alma. A passagem de um campo para outro, da sétima para a sexta região cósmica, acarreta infalivelmente uma transfigu- ração; isso é um imperativo científico. Se uma personalidade, um microcosmo, é sus- tentada por uma vibração constante, o que faz os veículos da personalidade permanecerem concêntricos, em conformidade com esse fato, determinada vitalidade é fornecida mediante as faculdades disponíveis da personalidade, e, assim, a vida é mantida por essa vitalidade. Quando a personalidade se debilita, então, como disse- mos, isso está ligado a uma diminuição na vibra- ção vital. Em certo momento a vibração fica tão enfraquecida e tão lenta que a personalidade já não pode conservar-se no corpo e morre. Essa, em síntese, é a causa da nossa morte corpórea. A outra possibilidade é a de sermos tocados por um campo cuja vibração é mais elevada do que a que estamos acostumados. Trata-se então de saber se somos capazes de responder a esse toque. Se nos abrirmos a esse campo, se reagirmos posi- tivamente, ele, de tempos em tempos, crescerá processualmente em vibração. Em consequência desse crescimento da velocidade vibratória que ultrapassa a vibração normal da dialética, deve resultar uma transformação de nossa entidade, do microcosmo, do ser aural e, portanto, também da personalidade. Isso é a transfiguração. Ela é, em certo momento, uma inevitabilidade científica para um ser humano. No primeiro caso, a consequência é a morte por supressão; no segundo caso é a morte por renascimento. Dois modos de morrer na esfera de vida dialética. Mas, como é grande essa diferença! Uma das mortes significa as tan- tas e tantas repetições do girar da roda do nasci- mento e da morte. A outra morte sofre-se apenas4 pentagrama 5/2010

Em certo momento, o fator tempo cessa também deexistir nessas regiões, e se desenvolve um novo estado:a eternidadeuma vez. Passando por essa morte, ressuscita- são atravessadas e as radiações da Gnosis – isto é,-se na vida eterna. Desse modo também deve do novo campo astral – penetram no campo deficar claro o que indicamos como o novo campo vida dialético, que é o campo do espaço-tempo.astral da Escola Espiritual moderna. É um campo Em consequência disso, muitos que vivem nosem que há concentração de substância astral no limites vibratórios da sétima região cósmicaqual atuam as vibrações cujo limite inferior está podem aproveitar com grande ânimo o afasta-acima dos 800 trilhões de hertz, enquanto o mento dessa barreira e penetrar na sexta regiãomenor comprimento de onda aproxima-se dos cósmica. Com isso surge uma situação tal como400 nanômetros. Se imaginarmos uma redu- a que nos é descrita, por exemplo, em As núp-ção no comprimento de onda e uma elevação do cias alquímicas de Christian Rosenkreuz. Se tivésse-número de vibrações, podemos formar uma ideia mos de comparar o novo campo vibratório comdas regiões cósmicas que estão acima da sexta. um templo iniciático, o que na verdade ele é, emEm certo momento, o fator tempo cessa tam- dado momento também entram no santuário,bém de existir nessas regiões, e se desenvolve um em razão da diminuição vibratória intencionada,novo estado: a eternidade. A partir do que foi certo número de inaptos. Esses inaptos estãodito anteriormente, também compreenderemos, muito inclinados a forçar um caminho para asque um campo sideral que ultrapassa a sétima primeiras posições, e C.R.C., a princípio, sente-região cósmica em vibração e comprimento de se decepcionado com o espetáculo.onda é completamente inacessível para uma enti- Mas em seguida vem a “pesagem” dos candida-dade da sétima região cósmica. O novo campo tos, a prova; em outras palavras, as vibrações doastral da Escola Espiritual protege a si mesmo, campo templário voltam ao seu grau de intensi-ele é inviolável em seu ser mais profundo. No dade anterior. A intensidade da vibração volta aentanto – e podemos rejubilar-nos com isso – elevar-se e acusa quem não se sintoniza com essaesse campo astral do corpo-vivo apresenta efeitos elevação. Os que não podem suportar essa força-por meio dos quais aparentemente ele, de tempos -luz, em razão de seu estado de ser, e que, porem tempos, se expõe a perigos. Podemos com- isso, são achados leves demais, devem abando-preender isso melhor se imaginarmos uma flama nar o santuário. Todas essas flutuações vibratóriasque, de vez em quando, por uma razão qualquer, do novo campo astral têm por finalidade auxi-se enfraquece e apresenta períodos de dimi- liar os que estão aptos para esse campo, são dig-nuição da vibração luminosa. De fato, segundo nos disso e necessitam dessa diminuição para quedeterminadas leis de periodicidade, um campo tenham a oportunidade de ingressar nos santosastral gnóstico atrai temporariamente em suas átrios da renovação. Por isso, em muitos lugaresvibrações alguns enfraquecimentos intencionais da Bíblia está escrito que o Senhor da Vida vaino comprimento de onda de suas radiações. É ao encontro do peregrino. Não devemos pensarassim que as fronteiras da sétima região cósmica aqui numa figura venerável indo ao encontro de a realidade da libertação 5

Todos os irmãos e irmãs da corrente gnóstica que nosprecederam estão sempre conosco e ao nosso redor enos enviam sua luzum pobre e cansado peregrino, mas, sim, numa fraternidade anterior que assumiu a tarefa dediminuição da vibração luminosa que envolve esperar por todos nós.o candidato e o eleva ao novo campo de vida. Como foi mencionado, sempre existe uma fra-Enfatizamos isso porque no mundo existe muita ternidade gnóstica da ordem temporal que, commagia dialética que imita, por exemplo, com o o sacrifício de amor, prepara um lugar para todosauxílio da música, esse trabalho de salvação da os que querem e podem vir. E esses guardiãescorrente gnóstica universal. Em vários templos não seguem avante com o grupo ao qual per-mágico-dialéticos é produzido um som, som tencem, mas ficam para trás por amor dos queque aumenta gradativamente em vibração para, vêm mais tarde. E assim também compreendere-em seguida, decair, com a intenção de aprisionar mos as seguintes palavras de Jesus, o Senhor, nocertos grupos que estão no templo, acolhê-los Evangelho de João: ”Vou preparar-vos lugar…num campo vibratório e conduzi-los a determi- vos convém que eu vá; porque se eu não for,nados objetivos em regiões mais sutis da esfera o Consolador não virá para vós; mas se eu for,refletora. vo-lo enviarei. Mas, quando vier o Consolador,Provavelmente agora compreendamos algo do que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquelegrande sacrifício que a Gnosis e seus servos Espírito da verdade, que procede do Pai, testifi-realizam no mundo. Quando um ser humano cará de mim”.ultrapassou a fronteira do sétimo campo vibra- Do campo sideral dos guardiães das fronteirastório, já não é possível falar-se em estagna- parte uma vibração, uma radiação sintonizadação, pois ele prossegue cada vez mais alto no com todos os candidatos, com todos os que ver-campo de luz e de vibração universal. Então dadeiramente se esforçam a fim de que, nova-resulta uma vibração cada vez mais luminosa mente tocados pela radiação, apanhem a corda dae potente, com resultados que apenas podem ligação para elevar-se do abismo da dialética. Porser avaliados aproximadamente em sentido isso, também lemos no Evangelho de João: ”Ematemático. Isso significaria que todos os que quando eu for, e vos preparar lugar, virei outraviessem a seguir mais tarde não conseguiriam vez, e vos levarei para mim mesmo, para querestabelecer a ligação com ele em consequên- onde eu estiver estejais vós também”.cia do imensurável abismo que os separaria, Esperamos que o leitor compreenda esses ensi-abismo em vibração e comprimento de onda. namentos da ciência gnóstica da salvação ePor isso, sempre existe uma fraternidade gnós- reconheça que essa ciência sagrada foi e é apli-tica ou um grupo dentro dela que se encar- cada em todas as eras. Quando aqui se fala dorega de resguardar a ligação; seus membros são campo astral do corpo-vivo da jovem Gnosis,designados como “os guardiães das fronteiras”. isso significa que, para todos os que sincera-Nosso irmão e amigo senhor Antonin Gadal mente buscam a libertação, é novamente prepa-foi um desses guardiães. Ele foi o patriarca da rado um lugar, um lugar inteiramente adaptado6 pentagrama 5/2010

a nós e à nossa época. Também significa que de tristeza, por causa da morte, é desproposi-desse templo iniciático imaterial do irmão tada, se nosso discipulado estiver sendo reali-Cristiano Rosa-Cruz parte, de novo, uma zado com toda a sinceridade e se assim o tiveremradiação consoladora e auxiliadora que tudo feito nossos parentes e amigos que já partiram.preenche. Se possuirmos a nova alma, seremos Conhecemos irmãos e irmãs da Escola Espiritualhabilitados, já agora, para uma existência em que estão no campo astral da jovem Gnosis e ládois mundos, isto é, na sétima região cósmica, vivem numa maravilhosa juventude, ao passoem razão do estado de nascidos nesta natu- que seus parentes, que aqui ficaram, caminhamreza, e, pelo menos durante a terça parte das 24 curvados sob grande tristeza, visto que aindahoras do dia, no templo iniciático de C.R.C., não compreenderam a maravilhosa e libertadoraem razão do estado de nascidos no campo astral possibilidade e porque eles mesmos ainda nãodo corpo-vivo da jovem Gnosis. Tudo isso pode irromperam nessa resplandecente realidade.ser comparado a uma exalação e a uma inala- A tristeza é completamente desnecessáriação. Do novo templo iniciático gnóstico parte em nosso meio. Entre essas duas espécies dediariamente uma radiação astral, um impulso homem-alma, a com veículo dialético e a semsantificador, doador de força. Quem reage posi- ele, é possível uma comunhão absolutamentetivamente a esse impulso, quem com ele coo- viva. Mas, para prevenir qualquer influência dapera em dedicação diária e fiel, logo que chega esfera refletora, é necessário que os homens-o sono do corpo é levado pela corrente inalante -almas que vivem na terra se elevem à luci-ao templo astral gnóstico e experimenta com dez da alma, ao perfeito estar desperto, pois osisso, ao despertar na manhã seguinte, a bên- que estão sem o veículo material já não podemção de encontrar-se carregado de forças puras dar-se a conhecer, segundo a carne, nas esfe-para poder seguir avante na senda. A ligação ras materiais, devido à já mencionada diferençada alma com o campo astral gnóstico torna- de vibração e de comprimento de onda. Eles-se, assim, cada vez mais íntima, cada vez mais dão-se a conhecer apenas por radiação. Quandoforte, até que se torne quase que indissolúvel, nos reunimos com disposição para servir, todose isso também durante a vida diária do candi- os irmãos e irmãs da corrente gnóstica que nosdato. Permanecendo na sétima região cósmica, precederam estão sempre conosco e ao nossoele habita, ao mesmo tempo, a sexta região cós- redor e nos enviam sua luz µmica, ele ultrapassou as fronteiras da morte.Quem, mediante um discipulado verdadeiro esincero, obteve uma nova alma passou as fron-teiras da morte! E assim, o que mais lhe podeacontecer? Então, a morte do veículo mate-rial já não é o esvaziamento do microcosmo,mas sim a libertação do que é material, ao passoque o essencial permanece na imperecibilidade.Por isso, nessas circunstâncias, a morte naturalnão traz separação. E desaparece toda a tristezaque sempre acompanha a morte dialética, bemcomo a sensação de grande vazio, que muitasvezes é bastante forte.Assim, logo distinguiremos no corpo-vivo dajovem Gnosis somente homens-almas: uns semveículo dialético e outros que ainda o pos-suem. Mas, entre essas duas espécies é possí-vel uma perfeita convivência. Dizemos isso paraque o leitor fique persuadido de que toda forma a realidade da libertação 7

a criação é duplaO mundo em que vivemos não é uma criação do Espírito original, porémé possível haver uma recriação mediante força e luz – e isso será feito pormeio do homem! Para tanto, faz-se necessário o autoconhecimento, umacompreensão total sob a forma de um reconhecimento, de um reencontro.A autorrendição vem como consequência disso. Seguir o caminho não étão difícil nem complicado, porém trata-se, na verdade, de encontrá-lo.Acriação é um processo duplo. Em uma daquilo que uma roda é: força, velocidade, criação verdadeiramente divina, trata- movimento. As características não seriam as se primeiro, do Verbo do princípio – habituais como as das formas externas, ajusta-do arquétipo, e do sempre e indizível eterno, das umas às outras. Não, cada átomo da rodao pai-mãe, a oniabrangente ideia – que per- seria (interiormente) uma roda!manece Ele-em-si-mesmo, fora da criação: Se acolhermos essa ideia e voltarmos nossao eterno não-ser. Em segundo lugar, há força, a atenção a este mundo, concluiremos, imedia-força que está em harmonia com o arquétipo tamente, que ele não é, ou ainda não é, umae mediante a qual o arquétipo pode manifes- verdadeira criação no sentido de uma criaçãotar-se. O Espírito criador extrai essa força do do Espírito e da matéria. Em nosso campo decaos, do oceano infinito da matéria original: vida, os átomos não são postos em movimento,o ser eterno. Então é assim que acontece: surge com base no interior, pelo Espírito criador.um arquétipo, uma ideia e um campo de vida, Bem, até certo ponto, pois do contrário nãoque é uma possibilidade de manifestação dessa poderíamos falar de manifestação univer-ideia. sal. Mas não é dessa forma que se origina um “corpo-vivo desde o interior”, um corpo espi-Há determinada desintegração, uma fissão de ritual. Um campo de vida é chamado à exis-átomos da matéria original em correspondên- tência mediante uma preparação e uma fissãocia com a ideia do Espírito. Dessa maneira, são da substância original. Podemos dizer que emliberados elementos, todo tipo de átomos, de nosso campo de vida essa fissão, essa desin-forças e possibilidades. Assim, podemos imagi- tegração de forças da matéria original, não énar que, nessa criação divina, de certo modo, perfeita, ou pelo menos ainda não o é.reinam perfeito acordo e harmonia entre Em certo sentido, os corpos dos vegetais, dosmatéria e Espírito. O Espírito, a ideia cria- animais e dos seres humanos estão carrega-dora, anima cada átomo a partir do interior e dos com determinada força e, portanto, vivem,é uno com ele. No seu livro Filosofia elementar porém não são espirituais, isto é, não vivemda Rosacruz Moderna, J. van Rijckenborgh ilus- com base no interior. A Doutrina Universaltra isso com a seguinte imagem: pensemos por fala dos “espíritos luciferianos”, que, em con-exemplo, na criação de uma “roda” verdadeira, junto com a humanidade em evolução, trou-ou seja: a matéria primordial é assim real- xeram este campo de vida à existência. Talvezmente desintegrada para que surja uma “roda”, nos seja possível imaginar como as imperfei-sem que se trate de cubo, aro, raios etc. Não, ções desta criação impõem grande limitação,todos os átomos que fazem que essa roda tanto para a humanidade como para os espí-exista seriam então animados desde o interior ritos luciferianos, pois um espírito permanece8 pentagrama 5/2010

indefinidamente ligado à sua criação. Para nós, seres humanos,isso acarreta consequências de longo alcance. Primeiro: não nosé possível possuir, interiormente, uma consciência real. A cons-ciência somente se revela quando há colaboração entre matéria eEspírito. Portanto, o que chamamos de consciência não é, em ver-dade, consciência. Segundo: não temos nenhum domínio sobrenosso próprio corpo, pois ele não vive pelo Espírito, do interiorde cada átomo, mas por meio de forças que vêm do exterior,sobre as quais temos pouquíssima influência. Terceiro: vivemossob a ordem do bem e do mal. Grandes forças são desencade-adas neste campo de vida, mas elas não atuam em cooperaçãoharmoniosa. Por isso existem as nuvens de bondade e de mal-dade, formações gigantescas que se propagam, coletivamente,no cosmo e no macrocosmo. O que quer que façamos, estamossempre atraindo um dos dois campos.Aprofundemo-nos um pouco mais neste assunto. Comecemospelo que chamamos de nossa consciência. A Doutrina Universaldiz: onde matéria e Espírito se encontram aparece um foco deencontro. Damos a esse foco o nome de alma, ou então de cons-ciência. Em um ser verdadeiramente vivo nasce, portanto, umaalma verdadeiramente viva, e desta, uma consciência verdadei-ramente viva. Do ser e do não-ser nasce o ser-consciência. Ao exa-minarmos mais profundamente esse “eu” que prezamos comonossa maior posse, pelo qual vivemos e morremos, observa-mos que, de fato, ele não passa de um fenômeno natural. Ele é,essencialmente, uma propriedade da matéria – uma propriedadeígnea – dos átomos de nosso campo de vida, no qual e pelo qualvivemos. Se misturarmos hidrogênio e oxigênio e empregar-mos o calor necessário, nascerá daí um fogo, e desse fogo, umaluz. Se, em seguida, segundo determinada fórmula e de modopreciso, pudermos acrescentar a esse processo os aspectos etéri-cos e astrais, então surgirá um fogo muito peculiar – o fogo daconsciência. E desse fogo da consciência irradiará então a luz da a realidade da libertação 9

cons- dimentociência. perfeito, umNossa cons- reconhecimento,ciência atual não um encontro, assimé o fogo do Espírito, como João que avistou Jesus vindonem uma consciência verdadeira, “da outra margem do Jordão”. O caminhoporém um fenômeno natural, o resultado não é difícil nem complicado, mas é difícilengenhoso de um processo ígneo natural. Não encontrá-lo. Pode exigir várias vidas huma-é nada mais nada menos que uma propriedade nas. Mas, por que isso acontece? Porque nosdos átomos da matéria deste mundo. deparamos com o que podemos chamar de os“Quem não nascer da água e do Espírito não pode três principais obstáculos inerentes à nossa vidaentrar no reino de Deus.” ( João 3:5) atual:Em outras palavras, pode acontecer uma trans- 1. ausência de verdadeira consciência;formação no ser humano, uma criação total- 2. impotência sobre o próprio corpo;mente nova, pela qual é construído um novo 3. a vida sob a ordem do bem e do mal.homem com luz e força. Mas, uma questão Em outra palavras, quem quer encontrarse impõe: Como isso pode acontecer? Neste o caminho encontrará uma tríplice forçaartigo falamos sobre uma ideia profunda adversa: em sentido microcósmico, no seuem relação a Espírito e matéria, a consciên- próprio pequeno mundo; cósmico, no mundocia do homem, sua vida, seu mundo. E volta- que o cerca; e macrocósmico, no universo domos sempre à mesma conclusão: é preciso que qual faz parte.aconteça em nós uma mudança fundamental. O caminho inicia com o milagre, com a sub-A questão é: por onde começar? missão ao toque da Luz: o milagre do evan-Pois bem, para tanto é necessário autoconhe- gelho. Ele começa com João, o homem quecimento. Trata-se unicamente de um conhe- busca e aspira. Ao mesmo tempo, nasce Jesus,cimento objetivo a respeito de nós mesmos. o espírito de Luz em nós. Então, João “encon-Não se trata, portanto, de um conhecimento tra Jesus às margens do Jordão”: a Luz começaformado por milhares de pedacinhos de um a agir em nós. Depois, as núpcias: a água équebra-cabeça, de milhares de pensamentos transformada em vinho. Forças renovadorase emoções que sempre, e com muita dificul- são liberadas.dade, tentamos encaixar em um tipo de com- A seguir, acontece a entrada em Jerusalém,preensão que percebe que verdadeiramente a subida ao Gólgota, a crucificação, a“tudo é uma só coisa”. Trata-se de um enten-10 pentagrama 5/2010

A criação do homem porPrometeu, que o dotou comos atributos do archotede fogo. Jean-SimonBerthélemy, e Jean-BaptisteMauzaisse, 1826ressurreição na manhã de Páscoa e a ascen- não seja empregada para esse único objetivo,são ao céu. Mistério indizível e capaz de des- ela se conserva e não diminui. “Essa forçadobrar-se em nós. Então soam as palavras: permanece intacta”.“Convém-vos que eu vá” ( João 16:7). E as escrituras sagradas dizem que “nesseO caminho da Escola Espiritual tem uma caso, essa força é utilizada sobre a terra, nadimensão cósmica, sim, uma dimensão terra ou debaixo da terra”. O que acontece,macrocósmica. Por quê? Por causa da cria- então? Os seres humanos invocam a força-ção, essa criação na qual vivemos, que é um -luz, porém não a utilizam para o objetivotodo. Tudo está interligado. De nós, mortais, almejado. Portanto, ela é invocada, porématé as mais elevadas esferas do universo, tudo não é utilizada. Desse modo, surge na atmos-é um. Não é somente o primeiro obstáculo, fera algo como nuvens, formações que exis-a falta de consciência verdadeira, que se opõe tem com base tanto em uma mistura de bema nós. A cada segundo somos também atra- e mal, como de força-luz. Essas nuvens, essasídos pelo cosmo e o macrocosmo. Isso se dá formações gigantescas, que concentram cadada seguinte maneira: o ser humano é duplo. vez mais força, eram chamadas de “éons” naEle está ativamente carregado de forças natu- antiguidade.rais dialéticas, porém também possui um Ora, esses “éons” extraem a força-luz danúcleo espiritual original. Isso significa que atmosfera e a absorve. Quando um buscador,ele pode irradiar seu extravio como um cha- com verdadeiro anseio por força-luz renova-mado magnético. E, do campo da verdadeira dora da vida, a invoca e atrai, ela começa avida que tudo envolve, sustenta e penetra circular em seu ser. Contudo, como se fossevem uma resposta. Continuamente, a cada por um forte ímã, surge uma reação imediatasegundo. Portanto, seu chamado é ouvido e dos éons, que se esforçam por extrair dele aatendido. força-luz. Portanto, os éons “roubam” a força-Esta é a razão pela qual, de segundo em -luz de cada ser humano, mediante a atra-segundo, uma irradiação de força-luz sempre ção magnética que emana deles. Podemos lerchega em nosso campo de vida apartado do extensamente sobre isto na obra de Valentino,mundo original: ela é atraída e invocada pelo O Livro do Salvador. O Evangelho da Pistisnúcleo espiritual em nós! Sophia.Essa força-luz é força de vida, o material de Dessa forma vimos, rapidamente, o trípliceconstrução do novo campo de vida. Ela só obstáculo diante de nós. Ficou claro que nossapode ser utilizada para a formação do ser consciência não é a verdadeira consciência;humano divino original. No entanto, caso nosso corpo, que parece ter vida, não tem a criação é dupla 11

Há um imenso processo de purificação e de recriação aténos recantos mais distantes do cosmo infinitovida desde o interior; a atmosfera não mostra Da mesma forma, aparecerá um dia diante deser a atmosfera da vida verdadeira, e sim um nós a essência mesma desta Escola, sua obra deturbilhão de forças que sempre arrebata nossa salvação do mundo e da humanidade, comoforça-luz. É por isso que o processo de ressur- uma luz irradiando uma potente força lumi-reição evangélico precisa tornar-se cósmico, nosa, da qual não podemos fazer a mínimapois não é apenas o homem que deve ser ven- ideia, pois seu brilho ofusca nossos olhos.cido, mas também o cosmo. Eis porque Jesus “Eles viam apenas uma luz que emitia mui-diz: “É de vosso interesse que eu parta. Vou tos raios. […] num grande e imensurável ful-preparar-vos um lugar”. Em seus comentários gor que se estendia da terra até o céu.” Esta éno livro Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia, J. a luz do Décimo Terceiro Éon, o mistério davan Rijckenborgh escreve sobre esse processo. Fraternidade universal. Nesta Escola não seNo evangelho Pistis Sophia a Luz nos fala trata senão de uma única coisa: a força de luzdiretamente. No primeiro capítulo, Jesus, a que juntos podemos liberar. Trata-se da luzLuz, diz as seguintes palavras “Por isso os dis- que é enviada do campo de luz do Décimocípulos pensavam que dentro desse mistério Terceiro Éon a todos nós como grupo de(o mistério da cruz) nada mais existia.” Isso alunos. Há, pois, um imenso processo designifica que os discípulos – isto é, o homem, purificação e de recriação até nos recantoscom todos os seus talentos e poder cognitivo mais distantes do cosmo infinito. A Escola– não conseguem, de início, ver nem enten- Espiritual da Rosacruz Áurea tem aí sua raiz eder que o processo que neles teve início acar- nela se eleva.retará consequências inconcebíveis. Porém, Tudo, absolutamente tudo, começa no pró-eles são envolvidos por uma luz de brilho prio homem. Tudo começa com o autoco-extraordinário que lhes revela que ao mis- nhecimento, o conhecimento de que tudotério da cruz se seguiria o que denomina- é uma só coisa. Desse conhecimento, nascevam plenitude e total perfeição. “No décimo a autorrendição. A autorrendição é um pro-quinto dia da lua no mês de Tybi, no dia da cesso que envolve aspectos humanos, cósmicoslua cheia, quando o sol seguia sua trajetória, e macrocósmicos. Não se trata de uma lutasurgiu por trás dele uma potente força lumi- contra si mesmo, uma luta difícil e perdida jánosa que brilhava de maneira tão extraordi- de antemão, mas de uma reversão inteligentenária que era ilimitada a luz que estava ligada do homem, segundo o espírito, a alma e oa essa força. Porque ela provinha da Luz das corpo, voltada para o princípio espiritual ori-Luzes e do último mistério […] E essa força ginal divino. Trata-se da aniquilação da cria-luminosa desceu sobre Jesus, envolvendo-o ção luciferiana, tendo em vista sua elevação epor completo […]” sublimação na Luz única que tudo abarca µ12 pentagrama 5/2010

artista magoou verdadeiro ioguePara o homem ocidental estressado, a ioga é um método popular para descontração erelaxamento. Mediante movimentos e exercícios respiratórios, ele tenta controlar o estressee chegar a um equilíbrio interior. Ele age como o mago artístico, que controla o sofrimentona natureza com a natureza, reconciliando-se, assim, de modo mágico com a vida na naturezaterrena. O iogue verdadeiro eleva-se acima do sofrimento existente na natureza mediante umaligação com o campo de vibração divino. Ele se reconcilia de modo mágico com a vida divinaoriginal e, por isso mesmo, se torna uma bênção para as outras pessoas.J. van Rijckenborgh hipnóticas. Todos esses exercícios põem as glân- dulas endócrinas numa condição tal que, emMuitos visitaram o Oriente para assis- seguida, a vontade bem exercida do artista con- tir às práticas miraculosas e mágicas trola esses órgãos, o que lhe dá domínio com- dos faquires. Foi assim que os faquires pleto de todo o corpo, das faculdades mentaisse tornaram motivo de todo tipo de especula- até o corpo físico.ção e de narrativas, ao passo que, no Ocidente, Podemos ter grande admiração pelo esforço,numerosos movimentos ocultistas tentam pelo controle e pelas privações que esses homensimitá-los. impõem a si mesmos, sobretudo pelas provas queO título “faquir indiano” não deve ser tomado dão de sua arte, mas nossa admiração não ultra-literalmente. Esses “artistas magos” podem ser passa a que temos pelos artistas que, em cena,encontrados em quase todos os países orientais, andam em suas bicicletas de cabeça para baixo.sendo a Índia o seu berço. Dali, eles se espalha- Ninguém pensaria associar a prática dessesram, sobretudo nos países árabes, onde foram ginastas com uma missão divina. Também nãobem sucedidos em suas demonstrações. podemos fazer dele um ginasta mago.No entanto, do nosso ponto de vista, não O erro cometido por muita gente é compreensí-damos crédito a esses homens, pois eles nada vel, pois o artista mago está, devido a sua profis-têm em comum com o verdadeiro iogue ori- são, tão à vontade na esfera refletora quanto naginal, porém nós os qualificamos simplesmente esfera material terrena. O desenvolvimento dede “artistas magos”. No fundo, eles em nada sua secreção interna ampliou-lhe a consciência,diferem dos artistas da telepatia e do hipno- e, graças a isso, ele se exibe com sucesso comotismo, que se apresentam nos teatros, nem tam- mago, intérprete de sonhos, vidente.pouco dos que se apropriam do nome de Jesus O preço dessa exibição é que esses artistas magosCristo a fim de camuflar suas práticas. têm, acima de tudo, de se forçar e torturar, con-É fato que, para obter-se e manter-se certo tinuamente, para adquirir e manter a compe-domínio artístico, é necessário muito treino e tência artística. Eles esfaqueiam-se, caminhamanos de esforços diários. Os artistas da magia ou deitam sobre camas cheias de pregos ounão são exceção. Para atingir seu objetivo, eles de outros objetos perfurantes e menos suaves.se entregam, diariamente, a todo tipo de exer- Eles fazem para si um travesseiro de alfinetes ecícios respiratórios, durante os quais assumem enfiam espinhos ou tachas no corpo, enquantoposturas especiais e submetem o corpo a mani- que, com o auxílio de pequenas fogueiras,pulações particularmente dolorosas, enquantoabandonam-se a diversas e rigorosas atividades artista mago ou verdadeiro iogue 13

A ioga original é o sistema universal da transfiguração.É o processo de libertação da humanidade que, nas escriturassagradas do cristianismo, é indicado como “renascimento”tornam-se insensíveis ao fogo. Sem dúvida, O artista mago é o homem que se reconci-percebereis qual é o objetivo desses tormentos: lia de modo mágico com a vida terrestre, ealcançar o domínio sobre a matéria. seu exemplo representa terrível perigo para osÉ possível que percebais certa relação remota outros. O iogue verdadeiro é o homem que secom um de nossos rituais templários que diz: reconcilia de modo mágico com a vida divina“Antes que os olhos possam ver, devem ser original e assim, por sua atividade, se tornaincapazes de chorar; antes que os ouvidos pos- uma bênção para outros.sam ouvir, deve ter-se tornado insensível às Assim, descobrimos que, para alcançarmos aimpressões da vida inferior; antes que a voz verdadeira essência da ioga, devemos liber-possa falar em presença da Luz, deve ter per- tar-nos totalmente da condição de artistasdido a possibilidade de ferir; antes que o dis- magos. Esta última é uma degenerescênciacípulo possa erguer-se em presença da Luz, da primeira. No caminho para a Luz, é pre-seus pés devem ter sido lavados no sangue do ciso vencer outros sofrimentos que não oscoração”. do corpo. Aqui se trata da dor da alma, cau-Com efeito, há certa relação entre o homem sada por um mundo perdido e diabólico e daque se eleva acima do sofrimento deste miséria da humanidade desencaminhada emundo mediante a transfiguração e o faquir obscurecida. O berço da ioga não se encontraem seu sofá. Existe um parentesco entre o na Índia. A ioga original é o sistema universalhomem que derrama o sangue do coração da transfiguração, é o processo de libertaçãopelo mundo e a humanidade e o mago que da humanidade. Esse sistema foi designado namete a faca de açougueiro entre as costelas terminologia sagrada oriental como “ioga” epara dar demonstração de seu adiantamento. na linguagem sagrada do cristianismo comoHá certa relação... mas, entre ambos, existe “renascimento”. E o homem que era bem-um abismo profundo. -sucedido na prática desse conhecimento daO mago artístico domina o sofrimento da transfiguração era chamado de “iogue” nanatureza com a ajuda da natureza. Por isso antiga Índia, quando o bramanismo ainda nãoele se torna, mais do que nunca, uno com a se havia tornado um culto dogmático.natureza. Todavia, o iogue verdadeiro eleva- O aluno-iogue é um aluno da nova escolase acima de todo o sofrimento da natureza de consciência ocidental que segue o mesmomediante uma ligação com o campo de vibra- processo de desenvolvimento, isto é, umação divino, deixando, em seguida, sua natureza nova união com a vida divina original.divina ser aprisionada pela natureza terrestre, a Enquanto o aluno da escola oriental dará afim de mostrar às almas humanas extraviadas o isso o nome de “nova união com Brahma”,caminho para a Luz. o aluno da escola ocidental falará de um14 pentagrama 5/2010

encontro com o Cristo “nas nuvens do céu”, quanto à mentalidade, à natureza de desejos,no novo campo de vida. à consciência sanguínea e a todo o comporta-Então, a ioga verdadeira não tem nada a ver mento corpóreo. Essa atitude de vida constituicom uma postura especial do corpo, com exer- o fundamento da vida verdadeira. Não se tratacícios respiratórios e com a secreção interna? de um comportamento antissocial, mas de umCertamente que sim, e isto não é, de modo comportamento que toca profundamente cadaalgum, um segredo que precise ser desvendado. fibra do corpo humano quádruplo.O aluno iogue escolhe uma atitude de vida de Quando o aluno-iogue chega a essa atitudemodo consciente e responsável. Um compor- de vida, ele começa a respirar de maneira cor-tamento que manifestamente se distancia da reta. Por seu comportamento, cujo protótipovida comum e que pode ser considerado estra- encontra-se descrito no Sermão da Montanha,nho. Essa atitude de vida estabelece exigências o aluno liga-se a uma nova atmosfera, uma artista mago ou verdadeiro iogue 15

nova atmosfera espi- relativa à antiga vidaritual que se expressa aparente. O artistanuma totalmente mago segue umdiferente substância caminho de sofri-etérica. Tão logo essa mento na antiga vida,ligação seja realizada, o antigo templo é reno-o aluno começa a respi- vado e oferece mais sere-rar nesse novo campo de nidade. O iogue, porém,vida. Essa respiração, esse orienta-se para a cons-alento, essas “línguas de fogo”, trução do templo de Deus,como diz a Escritura Sagrada, que é “para os homens” e “dospenetram os sete campos de vida, des- homens”, como é dito no livro dopertam e coordenam tudo o que ali se encon- Apocalipse.tra. A antiga sabedoria denomina essa vida na Podeis ler no livro As núpcias alquímicas decomunidade de “participar do alento do Um, Christian Rosenkreuz o que sucede aos artistas.do Único.” A Escritura Sagrada fala, muito claramente,Uma vez que passe a respirar nessa atmosfera, sobre o que acontece ao iogue verdadeiro. Éo aluno compreende e vivencia o que significa importante averiguarmos, no mais profundotransfiguração. Tudo o que é profano e ímpio de nosso ser, quanto possuímos de artista ouem todo o sistema microcósmico sétuplo é de iogue, e até que ponto estamos prepara-dissolvido, e um novo templo é edificado. dos para a construção do verdadeiro templo eEsse novo templo se eleva, ao mesmo tempo para a demolição do antigo. A secreção internaem que o antigo é demolido. O antigo templo tem certo papel a desempenhar nessa demo-pode ser demolido e o novo deve ser erguido lição e renovação. Os órgãos endócrinos sãoem “três dias”, em três períodos, conforme é representantes materiais de centros de for-dito pelo Senhor de Toda a Vida. ças. Esses órgãos têm uma função fisiológica eTrata-se de uma atividade maravilhosa e, ao também podem ser úteis quando alguém quermesmo tempo, de uma via-crúcis. É viver ter certa consciência da esfera refletora. Mase morrer ao mesmo tempo. Trata-se de um eles têm, igualmente, importante papel nasofrimento que não é causado por tachas. É transfiguração.uma alegria durável que se eleva bem acima Os centros de força da natureza são, então,de uma experiência artístico-mágica bem- desintegrados para que o processo, segundo osucedida. É uma ressurreição da vida verda- qual “o Outro deve crescer, e eu, diminuir”,deira na verdadeira vida, e a morte é apenas não seja estorvado.16 pentagrama 5/2010

A esfera aural irradia o prana de cor áurea,e uma chama violeta arde sobre o santuárioA magia da natureza humana conhece tão um cordão com pequenas e diferentes pedrassomente duas atividades endócrinas: a ativi- para determinar o número de preces. O desli-dade física e a atividade física superior. Existe, zar contínuo das contas ou pedras desse rosáriocontudo, uma terceira atividade que se desen- por entre os dedos era um meio de manter-volve no próprio alento do Um e com a qual o -se em ininterrupta concentração nas orações.aluno-iogue trabalha. Um iogue clássico disse Contudo, esse colar de pedras ou pérolas nãocerta vez: “No alento do Um o aluno eleva-se passa de uma banalização: é apenas o aspectoà magia divina, e a magia divina faz do homem exterior de uma verdade original. Nunca seuma divindade, um filho do Pai. Qualquer encontrará um rosário nem outro tipo demagia humana, pelo contrário, sempre cria um adorno simbólico entre as posses de um ioguenovo demônio”. verdadeiro. Não obstante, ele possui um rosá-Com base nisso, compreendemos, também, a rio com pedras preciosas resplandecentes,qualidade do verdadeiro iogue que é acolhido uma grinalda de rosas que olhos comuns nãopelos filhos da ioga, após terem percorrido o podem ver: são os centros de força do novocaminho. Todos os princípios do corpo quá- ser, do corpo celeste que teve sua gênese emdruplo terrestre inferior desapareceram. Sua Deus e nele está protegido. Os centros de forçaesfera aural irradia o prana áureo, e uma chama irradiam como uma coroa de louros na esferavioleta arde sobre o santuário. Isto é uma ima- aural do peregrino que percorreu a senda dagem da Fraternidade da Vida com Cristo. transfiguração até o fim.Então, há uma consciência capaz de vivenciar Os livros sagrados falam, de forma velada, dea bem-aventurança dessa Fraternidade da Vida um rosário de 108 ou de 1008 contas. Qualem toda a sua dimensão. é a razão desses números? Para compreendê-Esse processo é simbolizado pelo rosário dos la, é preciso conhecer um pouco do segredoiogues, que é composto de 103 ou 108 con- dos números. O número 108 é o símbolo dotas. Muitos devem conhecê-lo, sem dúvida. mago divino que, com o auxílio do Senhor, emNa Igreja Católica Romana, ele serve como obediência deliberada, avançou até o trono damétodo organizado de preces. Copiando o graça e realizou sua origem divina em forma,exemplo do Oriente, ele teria sido introdu- ação e verdade.zido no Ocidente por São Domingos, em Quando, tendo esta imagem diante dos olhos,1221. Entre os católicos há um rosário com o verdadeiro rosário dos iogues tornar-se uma150 contas e um menor de 50 contas. A ambos posse pessoal nossa, ele será de grande ajudafoi atribuído certo valor simbólico, servindo diária. Conquistaremos a coroa da magiade base para meditação. O rosário dos antigos divina. Teremos então vencido a naturezaermitões e místicos orientais compunha-se de terrestre µ artista mago ou verdadeiro iogue 17

do saberà sabedoriaUm dos grandes problemas do buscador é que ele compreendebem a mensagem libertadora que lhe é dirigida, mas nada faz comela.A lentidão da consciência-eu é um obstáculo. Somente a açãotransforma o saber em sabedoria.Afé, tal como é entendida pela Escola força incrível. A ideia ilusória e trágica é que Espiritual, é uma força visionária gostamos mais de nossa personalidade-eu restauradora. Quem experimenta perecível do que de nosso ser verdadeiro,uma viva ligação entre uma consciência justamente o que prende o ser humano a estepurificada e a radiação de Cristo em seu mundo relativo. Desse modo nos impedimoscoração também experimenta ao mesmo de encontrar nosso ser verdadeiro e perma-tempo uma crescente e firme convicção, necemos longe de nossa autorrealização. Masno sentido de um conhecimento que é será que existe realmente uma maneira detotalmente próprio do ser humano: um transferir a direção de nossa vida para umconhecimento que traz consigo novas e ser interior eterno, pertencente a um mundoimprevistas possibilidades de criação. Por absoluto?meio da física quântica, hoje sabemos queuma fé inequívoca pode influenciar até Um dos grandes problemas do buscadormesmo as combinações moleculares. Paulo é que ele compreende bem a mensagemrealmente não estava exagerando quando libertadora que lhe é dirigida, mas nadaafirmou que “a fé pode remover monta- faz com ela. A lentidão da consciência-eu énhas”. Em sua biografia, o cineasta, diretor um obstáculo; ela o leva a fazer de si “ume roteirista alemão Clemens Kuby também ouvinte, mas de modo algum um prati-confirma isto: “Tudo é possível – até mesmo cante da Palavra”, como o expressa Paulo.a cura total que se baseia em nada mais do Somente a ação transforma o saber emque a fé na cura”. A todos os milagres de sabedoria. Prolongadas conexões neuronaiscura relatados no Novo Testamento aplicam- mantêm o homem-eu numa corrente do-se as palavras-chave: “Tua fé te salvou”. A pensamento negativo, e o sofrimento seguefé, na qualidade de relação íntima com o cada pensamento negativo – assim comocampo espiritual de Cristo ou “matriz do uma carroça segue os bois que a puxam.mundo absoluto” em nós e à nossa volta, é Ignorância, apego e recusa são os três obs-efetivamente uma força visionária. Sua ação táculos que comprovadamente obumbram acriadora nos impulsiona à transformação e lucidez da mente e são conhecidos de todasnos leva a abandonar o mundo onde tudo é as religiões que transmitem a sabedoria.relativo. De forma semelhante, nossas cren- Já no Antigo Testamento o profeta Oséiasças atuais bastante arraigadas – crenças que lamenta: “Meu povo é destruído por faltaajudam nossa personalidade-eu a alimentar de conhecimento”. Hermes também jásua concepção de mundo e o que é evidente verificava: “O único pecado do homem ée inquestionável para ele – possuem uma que ele não conhece a Deus”.18 pentagrama 5/2010

Nesta pintura de Rafael, sábios discutem sobre ciência e conhecimento… do saber à sabedoria 19

… enquanto que o conhecimen- to verdadeiro é revelado a uma alma pura (a criança)Pesquisas isso, osrecentes grandessobre o emcérebro espíritodemonstra- sempre seram que o ativeram aapego constitui essas palavras:grande obstáculo “Tornai-vospara o crescimento silenciosos,espiritual. O condi- interiormentecionamento e a auto- silenciosos, abri-vos, eafirmação, pela incessante o Outro fará seu trabalhomatraca da roda de orações de em vós”.nosso eu que, sempre e de novo, refletea tagarelice neuronal de nossa mentalidade, No processo de “tornar-se silencioso”, asão certamente os maiores obstáculos a serem “verdadeira resignação” como a chama Jacobremovidos. Nosso eu é realmente o único e Boehme, na calma interior e na aceitação,grande fardo do qual temos de livrar-nos. vemos com acuidade cada vez que nosso “eu”A esse respeito, a autora budista Ayya Khema quer manter-se ou persistir.fala sobre esse assunto com leveza e experiên- Quando nossa mente alcança a quietude ecia própria: “Sem o eu a vida é muito sim- o silêncio, então a ignorância, o apego e aples”. E podemos libertar-nos desse grande recusa, assim como todos os outros obstá-fardo por meio de discernimento e quietude, culos espirituais, se desintegrarão gradualgraças à grande ajuda que nos é oferecida pelo e seguramente, e a compaixão, a lucidez ecampo mediador de Cristo – essa matriz com o espaço ilimitado da verdadeira naturezauma vibração sempre crescente. do espírito se revelarão. Nesse momento, as forças curativas do amor podem fluir, poisA FORÇA CURATIVA DO SILÊNCIO INTERIOR da fonte criadora de nossa alma emana, de modo espontâneo, uma compaixão ilimitadaA negação e a recusa de um desenvolvimento por todas as criaturas que sofrem na prisãonecessário, ou ainda a hostilidade contra de suas ilusões. A verdadeira alma nãooutrem, reforçam os padrões neuronais conhece a separação. O ser humano – peloe levam a um endurecimento de nossas menos o buscador que está ganhando forçaconstruções mentais. Uma forte obstinação de alma – começa a aplicar a regra áurea dobloqueia nosso crescimento espiritual. Por20 pentagrama 5/2010

evangelho: “Amarás o teu próximo como hierarquicamente – ou seja, o Verbo, a Vidaa ti mesmo. Tudo aquilo que quereis que e a Luz – referem-se à consciência despertaos homens vos façam, fazei-o vós a eles”. E do homem alma-espírito. Esse ser humanopara a pergunta hesitante “Quando, onde?”, vive e respira nas vibrações de luz do mundohá apenas uma resposta: “Sempre e em absoluto – já que nada mais pode alimentá-qualquer lugar”. lo. Os outros quatro aspectos relacionam-seO amor é o único bem que aumenta quando com os poderes da alma e das faculdadesé espalhado e distribuído. Em seguida, ouvi- corporais da nova personalidade espiritualmos as palavras do Sermão da Montanha: em desenvolvimento.“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas A construção de um novo homem espiritualpalavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao implica evidentemente na demolição dahomem prudente, […] E aquele que ouve antiga personalidade terrestre. Esse processoestas minhas palavras e as não cumpre, de autorrealização desenvolve-se sob acompará-lo-ei ao homem insensato, que direção da alma espiritual despertada emedificou a sua casa sobre a areia.” total conexão com as leis divinas da criação.Além disso, no processo de se tornar Surgem então novas dimensões espirituaissilencioso descrito por Goethe como um como “o novo pensar”, que substitui ovoluntário “morrer e ser”, podemos sentir mental condicionado do ego, removendo,a grande promessa contida nas palavras de assim, a barreira da ignorância. A novaCristo: “Quem perder a sua vida (na rea- sensibilidade espiritual substituirá também alidade relativa) por amor a mim, achá-la-á antiga sensibilidade, desaparecendo, assim,(na realidade absoluta).” Encontramos uma a sede de viver, a busca pela satisfação dospromessa semelhante no Corpus Hermeticum: desejos e os apegos.“Quem vence a si mesmo vence o micro- Equilíbrio, harmonia e equanimidade pre-cosmo e o macrocosmo, e transcende todos enchem então a alma. Uma nova força vitalos limites”. E Buda expressa a mesma coisa: etérico-material vai aos poucos substituindo“Quem vence mil exércitos não é nada a antiga força, que antes era desperdiçada nocomparado a quem vence a si mesmo”. mundo da relatividade criado pelos sentidos. Do mesmo modo, vai surgindo uma novaCRISTO E A NOVA FORÇA NA ATMOSFERA percepção interior e uma nova faculdade imaginativa. Maravilhosas consequênciasA Doutrina Universal sempre enfatiza que não se fazem esperar: surge uma novaCristo, o protótipo do homem espiritual atitude de vida, que vem naturalmente comperfeito, removeu a separação entre os dois as novas faculdades, e também desaparecemundos, conciliando-os. Cristo fez surgir tudo o que possa impedir o desenvolvimentoum estrato atmosférico, um campo de novas subsequente do processo. A força de amor deforças vitais puras e espirituais, uma “matriz Cristo é a mediadora que torna possível essainformativa”, que, como luz, como potencial nova criação.inesgotável, não somente preenche o mundo Precisamos tomar consciência de como nossaabsoluto, mas também penetra o mundo época é plena de graças! De um lado, vemosrelativo. as situações apocalípticas planetárias; deSeu espírito universal não está somente outro, estamos no limiar de um salto quân-presente nas dimensões divinas do Verbo, tico para uma consciência espiritual. Esteda Vida e da Luz; além disso, ele construiu mundo da relatividade serve-nos de ponte“uma ponte de libertação” capaz de inspirar que devemos atravessar. Ele capacita-nos adiretamente os pensamentos, os sentimentos, alcançar a consciência e a nobreza de nossoas experiências e as ações dos seres huma- verdadeiro ser. Mas não é sobre essa pontenos de modo espiritual. Os três aspectos que devemos construir nossa morada! µsuperiores da matriz sétupla construída do saber à sabedoria 21

Inúmeros mitos, das mais diversas civilizações,chegaram até nós. Eles oferecem antigasrepresentações sobre o surgimento do mundo,sobre a atividade das forças da natureza, dos deuses,e do destino após a morte. Assim, a Edda, comsuas imagens poderosas, era o meio de expressãoapropriado para o “vidente” contemplativoque estava ligado a Deus transmitir vivências econhecimentos interiores aos buscadores daquelaépoca que para isso estavam abertos.a palavrasagrada originalOs mitos reunidos na Edda (coleção poéticaantiga em norueguês) falam sobre osmistérios do desenvolvimento do mundo.A Edda transmite a verdade universal emdiversas imagens que correspondem aopoder de imaginação de quem a lê. Umaparte dos textos que constam na Eddafaz com que a força evocadora de suasrepresentações míticas se torne acessível aopoder de compreensão atual.Quando estudamos o desenvolvimento espiritual da Europa, verificamos que seu ponto de partida pode serfixado em 2500 a.C. A partir dessa época até1000 a.C., os árias, arianos ou indo-europeusestabeleceram-se na Ásia Menor, Pérsia eÍndia. Um simples correr de olhos no mapanos mostra a amplitude dessa extensão geo-gráfica. Apesar de terem culturas e línguasdiferentes, havia – e ainda há – certa unidadeque podemos observar ainda hoje. Ao lado dosmitos e deuses tradicionais, podemos deter-minar correspondências incríveis no cadinho22 pentagrama 5/2010

região célticalínguas indo-europeias línguas indo-europeias línguas indo-europeias países bálticos línguas eslavasformador de inúmeros povos. O deus supremo línguas indo-iranianasera Diaus, Deivos. Dessa raiz indo-européiaprovém o “Deus” latino, o “Zeus” grego, o línguas romanas Armênia Tocariano“Div” persa e os “Tiuz”, “Tyr”, “Tir”, “Ziu”, Anatólia“Tiv” e “Tiwaz” germânicos. Há outros para-lelos evidentes entre as mitologias germânica e línguas romanasindiana. Os deuses originais chamavam-se, emgermânico, “wanen” e, em indiano, “veda”. GréciaEram deuses naturais e fecundos que logo Albâniadesapareceram, substituídos por uma nova línguas eslavastrindade divina: os “Æsires” Odin, Vili e Ve,ou os indianos Brahma, Shiva e Vishnu. A Somente a partir de 1000 d.C., até 1100 d.C.ascensão de Odin – que originalmente era o os homens livres adotaram o cristianismodeus da tempestade – até tornar-se o soberano com certa reserva, por ser vantajoso parados deuses corresponde à ascensão de Indra eles do ponto de vista material. Do pontoe de Varuna, que apresentam muitas seme- de vista político, um povo comerciante sabelhanças com Odin. Sua respiração, seu alento, que é mais vantajoso ser considerado amigo eé o vento. Ele é o “inventor” das palavras e cristão. Também vale mais ter uma só crençada linguagem. Também é ele quem faz com que o unifique, a fim de preservar a sociedadeque o sol se levante, assim como a lua e as da luta pelo poder e das divisões que delaestrelas, que produzem luz obedecendo a sua decorrem. Como viquingues, esse povolei. É nessa época que se começa a dar uma deixava-se batizar, ao mesmo tempo em queexpressão oral ao mundo dos deuses nórdicos conservava suas convicções antigas, endos-germânicos; quando, nas festas e reuniões sando oficialmente a roupagem de cristãos.da população, as pessoas começam a recitar Em muitos conglomerados comerciais essaspoemas e entoar canções em sua honra. duas religiões existiam de maneira pragmá-As tradições passaram para a forma escrita tica lado a lado. Na Suécia, foi encontradosomente após a cristianização, realizada por o molde de um colar de ouro com motivosmissionários, e da introdução da escrita por justapostos da cruz cristã e do martelo doeles. De fato, a escrita foi introduzida depois deus Thor germânico.da expansão do direito romano. Os hinos e ospoemas da Edda da Islândia são considerados A Edda, UMA COLETÂNEA DE MITOScomo os menos falsificados, uma vez que essepaís ficava muito distante e era autônomo. NÓRDICOS GERMÂNICOS Até hoje as crenças dos povos nórdicos germânicos nos a palavra sagrada original 23

chegam com esse nome. O termo “edda” mais tarde, o islandês Snorri Sturluson, quetem parentesco, no indo-europeu, com os também era bispo e homem de Estado, reuniutermos “veda”, “avesta” e significa “a palavra uma segunda coletânea, redigida em prosa:sagrada original”. Esse termo também pode a Edda mais nova – ensinamentos míticos quesignificar “a mãe original”, “a mãe ancestral”, descrevem as atividades dos deuses. Trata-seporque geralmente eram as mulheres mais de um manual destinado aos jovens poetas evelhas, plenas de sabedoria, que transmitiam cantores, para servir de base para seus poemasa mensagem sagrada e antiga por meio do e canções. Com isso, os poemas pagãos dos“hino da mãe original”. Essa mensagem é um antigos germânicos ficaram carregados detestemunho do início da criação, da evolução ideias cristãs.dos deuses e dos homens, de seu declínio e de A Edda, com suas imagens fantásticas, for-sua renovação. Esses mitos remontam a um necia ao buscador, ao vidente que estava emperíodo que se situa entre 2500 e 1000 a.C., ligação com Deus, o meio de transmitir aquando, em sua imaginação, os homens ainda seus contemporâneos as ideias e experiênciasnão dintinguiam o mundo em um mundo interiores. Desse modo, sempre estariamterrestre e um mundo divino. despertos em sua alma a lembrança do mundoQuando, no século IX, Carlos Magno impôs dos deuses originais, o modo como o cosmoaos germanos que adotassem a fé cristã, mui- terrestre surgiu e o destino dos deuses e dostos noruegueses emigraram para a Islândia. homens. Trata-se sempre de uma verdadeEles levaram consigo seu tesouro: sua fé, universal, única, que oferece vários tipos deprofundamente enraizada em seus deuses. As imagens que correspondem ao entendimentoimagens míticas transmitiam o quanto eles se dos ouvintes.mantiveram sensíveis a seus deuses e o quantoeles participavam plenamente das atividades O QUE RESTOU DOS MITOS Voltemos, aindae manifestações deles. A Edda, em parte que superficialmente, aos mistérios antigos.verso e em parte prosa, é uma das fontes mais Na Suécia, ainda há o costume de se plantardiversificadas que comprova os mitos e heróis uma velha árvore protetora (“vardträd”)nórdicos germânicos. O bispo Sämundar, próxima às fazendas. Muitas dessas árvoresque trabalhou na Islândia por volta de 1100 ainda são tidas como monumentos da natu-d.C., foi o primeiro a reconhecer o tesouro reza. Hoje, as pessoas já se esqueceram do queque representavam esses hinos, em versos, essas árvores representavam antigamente: elasdedicados aos deuses e heróis. Ele reuniu-os simbolizavam a árvore original, Ygdrasil, asob o título de Edda antiga. Quase um século árvore protetora, divina. O mesmo acontece24 pentagrama 5/2010

Os deuses que naufragaram em nós aguardamque nos elevemos ao conhecimentocom a festa de Santa Lúcia, no solstício de antigos mistérios. Seu tesouro está oculto nasinverno. As jovens vestiam-se de branco e profundas camadas de nossa herança micro-traziam na cabeça candeias iluminadas – cósmica. A estrutura do nosso corpo e o cres-expressão de seu anseio pela verdadeira Luz e cimento de nossa consciência são o resultadodo fogo da consciência. Os testemunhos em dos impulsos espirituais e divinos que provêmpedra como as tumbas, os dólmens e menires do longínquo passado. Eles continuam a atuarmegalíticos do Norte, assim como as pedras em nós, mesmo quando não os reconhecemos.rúnicas dos períodos mais tardios – ainda são Cada um de nós se tornou um “eu”. Outrora,numerosos em toda a Europa. Das estruturas éramos o palco das forças espirituais; agoraque restaram, as mais célebres são as de nos tornamos individualidades. Ao olharStonehenge, na Inglaterra, e Externstein, no orgulhosamente para nosso “eu”, tornamo-noroeste da Alemanha, assim como muitas -nos cegos. Renegando as forças espirituaispedras em forma de navio, espécies de originais, nosso Pai e Mãe, renegamos em nósobservatórios astronômicos e locais onde a a divindade, renegamos a presença de Deuspopulação se reunia. Nas runas da pedra de em nós. Assim, o relacionamento entre DeusLund, vê-se Odin na goela do lobo Fenris: e o homem foi perturbado. Assumir a respon-seria uma representação do final do mundo. sabilidade de nossa terra significa, portanto,Alguns nomes da semana fazem referência reconhecer o humano e o divino e sua mútuaaos antigos deuses. Encontramos o deus Thor relação. No momento em que restabelecer-em “Donnerstag” (Donar/Thor) em alemão, mos essa relação de modo correto, o estado“Torsdag” em norueguês e “Thursday” em de nossa terra se renovará também. Nossoinglês. Odin/Wotan se encontra no inglês despertar como individualidades fará com que“Wednesday”, no sueco “Wodansdag” e no nos tornemos responsáveis. Nossa colaboraçãonorueguês “Onsdag”. é exigida para levar à perfeição o divino e o humano e também, por fim, a natureza ligadaA EDDA, UM LIVRO PROFÉTICO? Nossos ances- aos dois. Os deuses que naufragaram dentrotrais também tinham consciência de que, na de nós esperam que nos elevemos ao conhe-batalha final – no “Ragnaroque” –, Vidar cimento. Eles querem oferecer-nos a intuiçãoconquistaria o lobo Fenris, as influências ativas e querem que, juntos, nos elevemos ao reinodas antigas forças. do Espírito, depois de termos mergulhado tãoToda a Europa e o mundo inteiro entraram profundamente na matéria. Os mitos reunidosem uma fase de revolução cósmica a partir na Edda falam dos mistérios do desenvolvi-da Era de Aquário. Já não há como voltar aos mento do mundo µ a palavra sagrada original 25

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Evocação.Vista no alvorecer da Criação © Leigh McCloskey. os harmônicos superiores do “Pai-Nosso” O Pai-Nosso em aramaico Abwun d’bwachmaia Netkadech chemakh Teitei malkutakh Neghwei tzevianakh aikanna d’bwachmaia af b’arah Havlan lakhma d’sunkanan iaoumana Wachbuklan khaobwein (wakhtaghain) Aikanna daf khnan chwokhan l’khaiabein Wela taghlan l’nechiuna, Ila patzan min bicha Metul dilakhie malkutha wahaila watechbukhta, l’aghlam almein, Amein Mattheus 6:9-13 (Bíblia Sagrada) Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém os harmônicos superiores do “pai nosso” 27

Abwoen d’ bwasjmaja. Tradução com uma inspiraçãocompletamente diferente de Neil-Douglas Klotz, deacordo com o estudo do texto em sírio-aramaico.NOSSO NASCIMENTO NA UNIDADEÓ causa de todo nascimento, Radiante, tu brilhas em nós e fora de nós.Pai-Mãe do cosmo, Brilhas mesmo nas trevasCrias o movimento universal. quando nos recordamos de ti.Ó tu, que insuflas vida em tudo,Criador da suave vibração que nos toca. Nome dos nomes!Ó tu, alento de todos os mundos, Nossa ínfima identidade esclarece-se em ti.ouvimos-te inspirar e expirar E tu no-la dás de volta, como uma missão.no silêncio. Ação sem palavra, poder silencioso!Origem do universo; Quando olhos e ouvidos despertam,No ruído e no estrondo, o céu aproxima-se.nas brisas ou nas violentas tormentas, Ó tu, causa de todo nascimento,ouvimos o teu nome. Pai-Mãe do cosmo!EXPLICAÇÕES Sem dúvida alguma, a origem desses dois significados indica a riqueza do aramaico, queA oração começa pela expressão da criação permite sublimes jogos de palavras. Por contadivina e a bênção que inspira toda família. do misticismo, da sonoridade e das letras,No antigo Oriente Médio, o radical “ab” próprias do aramaico e do hebreu, a palavrarefere-se à frutificação, a tudo o que a fonte “abwun” remete, para além das nossas diversasda unidade faz germinar. Esse radical foi interpretações de masculino e feminino, aempregado na palavra aramaica “abba” – um processo de nascimento cósmico. Nessepai – mas seu sentido original, não ligado à contexto, podemos distinguir quatro fonemasgeração, ainda está presente na sonoridade na palavra “abwun”:dessa palavra. E como “Abwun” – pai bioló-gico – deriva da raiz “ab”, é, pela sua origem, “A” é o absoluto, o ser único, a unidade e amenos ligada à geração direta, de modo que união puras, fonte de toda força e estabilidadese pode traduzi-lo por “antepassado divino”. (que ressoa na antiga e santa sonoridade“Abwoen” tem, por conseguinte muitos do “Al” e da palavra aramaica para Deus:significados possíveis. “Bwn” refere-se ao “Alhaha”, literalmente a Unidade).processo da paternidade ou maternidade,a potencial presença, aqui e agora. Em “bw”: invenção, criação, afluxo de bênçãosaramaico a letra “b” pode também ser provindas dessa unidade.pronunciada “w”, pode representar o som“b” ou “w”. Um especialista em aramaico, o “u” é o sopro do Espírito que traz esse fluxo,reverendo Mar Aprem (1981) observa que o o som da respiração que contém todas asmesmo radical “ab” aparece para pai bioló- forças que hoje chamamos de ar, magnetismo,gico ou pai espiritual, dependendo da tônica eletricidade. Esse som está relacionado emcolocada sobre o “w” (biológico) ou sobre“b” (espiritual).28 pentagrama 5/2010

A vibração e a palavra que conhecemos comounidade – o nome de Deus – não é nada menosque o universo ou cosmoaramaico com “ru-a-ca quo-desh” que foi e recebidos com grande cuidado. O sinal outraduzido como “Espírito Santo”. o nome de “abwun” engloba todo o universo. O fim da palavra, “aia”, significa que essa“n” é a vibração dessa força criadora, do sopro radiação engloba cada atividade, cada lugarda unidade, quando toca e penetra comple- que vemos, tudo o que é possível. “Chemaia”tamente uma forma material, uma substância exprime literalmente que a vibração e acapaz de ser tocada, posta em movimento palavra que reconhecemos como unidade – oe transformada por ela. Essa sonoridade nome de Deus – não é nada menos que otransmite um eco da terra, e o corpo vibra ao universo ou cosmo. Essa era a interpretaçãomesmo tempo quando pronunciamos a palavra “do céu” aramaico. Essa palavra é encontradapor completo: em muitas falas de Jesus, mas geralmente é mal compreendida. Em grego e nas línguas“A-bw-u-n” modernas a palavra “céu” é um conceito metafísico fora do processo de criação. É fácilA seqüência exprime o movimento de compreender para o espírito ocidental comotoda criação divina. Em “d’bwachmaia” uma única palavra pode aparentemente terencontramos a raiz principal no meio: tantos significados diferentes. É assim que o“chm”. Dela provém a palavra “chem” que místico do Oriente Médio via o mundo µpode significar luz, som, vibração, nome oupalavra. A raiz “chm” remete “à tudo o que Fontes:se cria e brilha no espaço”, a esfera total deum ser. Nesse sentido, vosso nome é vossa Douglas-Klotz, N. Gebeden van de kosmos: Meditaties over het Onzeposse, vossa sonoridade, vossa vibração ouesfera. Anteriormente, os nomes eram dados Vader in het Aramees (Orações do cosmo: Meditações sobre o “Pai-Nosso” em aramaico), Haia-Londres: Sufi Publications, 2005. os harmônicos superiores do “pai nosso” 29

o minotauro,a alma e o euOs seres humanos estão sempre em busca da sabedoria e da verdade. A verdade nunca seocultou dos homens: são os homens que se escondem dela. Então, eles deixam-se conduzir peloMinotauro, o touro, o instinto de autoconservação. Quem percorre o labirinto para confrontar-se com seu próprio Minotauro deve manter-se no triângulo do conhecimento, do amor e daação. Em razão disso, ele compreende o mundo e verifica a unidade original de tudo e de todos.Alocução feita no Templo principal de HaarlemNós falamos da sabedoria aos que estão de Deus, predeterminada por toda a eterni- amadurecidos para ela. Não se trata dade para a nossa glorificação. Encontramos da sabedoria deste século, nem da dos essas palavras na Primeira Epístola de Paulograndes deste mundo, pois estas são transitó- aos Coríntios. Todos nós estamos em busca darias e perecíveis. A sabedoria sobre a qual fala- sabedoria e da verdade. Mas nenhuma sabe-mos é como um segredo: é a sabedoria oculta doria é o resultado de determinadas ideias e30 pentagrama 5/2010

A VERDADE E A VIDAconceitos. Basear a verdade sobre tais ideias O caminho, a verdade e a vida são apenas umae conceitos é completamente inútil, porque, única e mesma coisa, são três palavras represen-quando estes desaparecem, a verdade desapa- tando uma única realidade. A sabedoria desterece com eles! século e desta terra, como diz Paulo, não é aJesus, o ser que despertou em Deus, disse: verdadeira. A sabedoria verdadeira e divina é,“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. ao mesmo tempo, a verdade e a vida em uma o minotauro, a alma e o eu 31

A verdade nunca pode ser um conhecimento mental abstrato, porém vida, em última instância, também nossa vida e nosso serúnica realidade. A sabedoria verdadeira não é, a ideia de que nós, como egos, seríamos indiví-pois, um saber abstrato ou mental, nem infor- duos independentes e autônomos é um grandemações reunidas e depositadas no banco de erro. Ele abandonou essa ideia para sempre. Essedados de nosso cérebro. A inteligência é uma processo é chamado “endura” em nossa Escolaferramenta necessária. A sabedoria é um pre- Espiritual: a diminuição progressiva da existên-sente de Deus para nós e ilumina nosso ser com cia egocêntrica. A essência da sabedoria residesuas inspirações acalentadoras, que vêm das pro- na Gnosis, na Luz espiritual onipresente. Sim,fundezas de nosso coração e culminam em luz e a verdadeira sabedoria é total tolice aos olhos evida. A sabedoria gnóstica é loucura aos ouvi- aos ouvidos deste mundo. Ela não é a sabedo-dos e aos olhos deste mundo. ria deste século, nem a sabedoria temporal; nemNa antiguidade, os grandes sábios eram cha- a sabedoria dos assim chamados grandes destemados profetas e videntes, muitas vezes des- mundo. Os grandes e os séculos passam, e, comcritos ou representados com uma venda sobre eles, sua sabedoria.os olhos. Um vidente com uma venda sobre A venda sobre os olhos do vidente tem, por-os olhos, eis aí um paradoxo curioso. Isso não tanto, profundo significado. Sem essa venda,quer dizer que o sábio ou o vidente não vejam nós nos perdemos no labirinto autocriadoeste mundo: ele o percebe e penetra melhor deste mundo. Essa venda é um atributo e umque qualquer um de nós. Pode-se dizer que ele símbolo da “endura”. A verdadeira visão, ajá não é tocado pelas coisas deste mundo e, de visão espiritual, é impossível sem essa venda.certa forma, está cego para elas, porque as con- Se o aluno quiser despertar um dia para a ver-templa a partir de um plano superior. Seus sen- dadeira sabedoria, ele deverá, primeiro, tertidos terrestres estão quietos, como que cegos, os olhos vendados, e em seguida fazer calarenquanto seus sentidos espirituais estão bem todos os seus pensamentos, desejos e ambi-despertos. O sábio já não está embaraçado nas ções orientados para a matéria e para seu ego.redes da existência material. Ele faz na terra o Exteriormente, ele desempenha as funçõesque deve ser feito. Em seu coração, ele segue as mais necessárias da existência terrena da per-sugestões recebidas da Luz e permanece cego sonalidade, mas, no que concerne ao resto, eleou mudo, com a venda sobre os olhos e os aquieta-se e permanece silencioso – a voz daouvidos fechados no que concerne às sugestões sabedoria somente é percebida no silêncio. Ode seu “ego”, se ele ainda recebê-las. Ele con- “eu” diminui, e ele, o Outro em “mim”, o sertempla a unidade original de tudo e de todos original verdadeiro, esse “eu” na condição deem Deus. Ele acabou com a ilusão da existência verdadeiro filho de Deus, sai do segredo, des-separada como ego, ou melhor dizendo: é o ser perta para sua verdadeira existência, ergue-se,original nele que a eliminou. E reconheceu que finalmente, do túmulo.32 pentagrama 5/2010

Agora, surge a pergunta: o que está em primeiro Havia algo como um chamado, uma nostal-lugar em nossa vida? Não é uma pergunta super- gia, momentos de anseio inexplicável, às vezesficial, porém, uma questão vital. Ela é determi- de conhecimento, mas não podíamos comuni-nante, assim como a fórmula de Shakespeare: car isso a ninguém, ficávamos calados e íamos“ser ou não ser”. Ao acordar, no início de um ficando mais velhos. Crescendo, restava anovo dia, o que surge primeiro em nossa cons- chance de que o anseio inexplicável não per-ciência? Boas surpresas ou desapontamentos manecesse para sempre oculto nos escaninhosque o novo dia nos trará ou que o dia ante- da existência.rior nos trouxe? Os problemas existentes ou os Mas essa joia oculta no coração não se deixaque ainda estão por vir? As coisas que rejeita- silenciar à medida que o tempo passa. Eis pormos, as quais não queremos, ou as que gostarí- que há tantos acontecimentos em uma vidaamos: situações desagradáveis, agradáveis, nossa humana. E, finalmente, nós nos encontra-saúde, nossa segurança ou insegurança material? mos aqui, juntos, no templo da Rosacruz, noO que está em primeiro lugar em nossa vida? templo da sabedoria, da verdade e da vida; noTalvez o desejo insaciável por verdade, pela vida templo em que recebemos a força para seguirverdadeira, nosso anseio profundo por verdade e o caminho. “Eu sou o caminho, a verdade e aliberdade? Não como fuga espiritual, mas por- vida”, essas palavras de Jesus ressoam em nossoque não se pode fazer de outro modo. Claro que coração. Nós não deixamos a joia ser enter-podemos pensar em todo tipo de métodos para rada sob as camadas geológicas desta terra; nósexercer determinado pensamento e fazê-lo pre- reagimos ao chamado, nós não abandonamosvalecer. Mas, o caminho para a sabedoria liber- o anseio maravilhoso e o vago saber de nossatadora, para a verdade divina, não é nenhum infância.método, nenhum exercício, nenhuma técnica – E agora indagamos: O que ocupa verdadeira-associada à falsa sabedoria deste mundo. Nosso mente o primeiro lugar em nossa vida? Umaego possui um inteiro sortimento de ciladas. reflexão silenciosa possivelmente fará surgir aJ. van Rijckenborgh diz: o ser humano nasce resposta, fará com que ela se liberte da névoacom o anseio pela verdade. Essa é a joia que da vida quotidiana e nos colocará, possivel-desde seu nascimento já brilhava em seu coração. mente, pela enésima vez, diante do único obje-Naturalmente há nisso muito do que o prece- tivo de nossa presença neste planeta. Trata-sedeu em encarnações anteriores. Não se “faz” um da descoberta da verdade relativa à existênciarosa-cruz, não existe um método para “fabricar- universal, à nossa própria existência, e realizar-se” um deles. Ele nasce na condição de buscador essa verdade em nossa própria vida, medianteda realidade. Essa busca é uma saudade indefiní- nossa própria vida. Nós sabemos que a ver-vel que irradia do coração como uma vaga lem- dade jamais é um saber mental, abstrato; a ver-brança já presente na infância. Muitas crianças dade encontra-se na vida e, finalmente, emsentem e vivenciam isso, mas não sabem o que nossa vida e nosso ser. A verdade nunca estevefazer com essa sensação, com esse sentimento oculta para os seres humanos, são eles que seprofundo. Isso nos recorda algo? Momentos escondem dela – como o declara uma antigamaravilhosos da infância, momentos em que máxima: “existem milhares de véus entre osentíamos que havia algo mais na vida, algo a homem e Deus, mas nenhum véu entre Deusmais do que se via, ouvia, e estava simbolizado e o homem”. O homem volta as costas para aem todos os cantos. verdade. A Escola Espiritual quer ajudá-lo, e o minotauro, a alma e o eu 33

quer ajudar o buscador, estimulá-lo, incitá-lo a de ação para converter em atos concretos ovoltar, com cabeça e coração, para a Luz. amor e o conhecimento. Lembremos do triân-Todos nós somos buscadores da verdade, e gulo que é formado por amor, conhecimento eexiste em nós uma sede inextinguível de sabe- ação. Essas três palavras que estão gravadas nadoria libertadora. Sabemos, no mais profundo pedra comemorativa de nosso grão-mestre node nós mesmos, que “o caminho, a verdade e a jardim das rosas de Noverosa. Em seu própriovida” são uma única e mesma coisa. Buscamos labirinto, Teseu triunfa sobre o touro, a forçaa verdadeira realização da vida e aspiramos, impulsionadora do instinto de conservação, docomo diz Paulo, “à sabedoria de Deus, des- egocentrismo. Ele soube manejar a espada quetinada em toda eternidade para nossa glória”. lhe foi dada pelo amor. O fio da inteligência,Ninguém, dentre nós, pode dizer que ele, ou do conhecimento e da percepção clara foi-lheela, tenha chegado a essa glorificação. A pala- confiado à entrada do labirinto, e indica-lhevra “chegar” ou “ter conseguido”, aliás, não agora o caminho de retorno para a liberta-nos coloca no bom caminho. ção. Eis uma indicação muito profunda: antesE para nós soa o chamado: “Não vires as cos- de entrarmos no labirinto para a confrontaçãotas à Luz!” No entanto, por que isso nos acon- com nosso Minotauro pessoal, devemos encon-tece tão frequentemente? Uma única palavra, trar-nos no triângulo. O amor verdadeiro, ouma única observação, uma situação, e oscila- amor impessoal está na base do triângulo. É omos no turbilhão de nosso “ego”, o qual gira amor divino que brilha desde o imo de nossomitas vezes à toda velocidade. Mas, não vire- coração e é, ao mesmo tempo, a base e o prin-mos as costas à Luz, não retornemos aos nos- cípio ativo do campo de força vivente e oni-sos velhos caminhos. Ousemos colocar a venda presente da Escola Espiritual. Os dois outrossobre os olhos e abrir para a Luz os órgãos de lados do triângulo, que se elevam a partir dopercepção interior. Desde criança, o fio de amor, são a compreensão clara, ou conheci-Ariadne já nos foi estendido, não o larguemos mento, e a força de ação. Esses três dons divi-jamais. Conhecemos a lenda clássica do fio de nos estão à nossa disposição imediata, aqui eAriadne. Não falaremos sobre ela, mas esclare- agora, isso é algo incontestável. Temos unica-ceremos alguns elementos. Há, pois, um labi- mente de ousar manter-nos, realmente, nesserinto: o caos e a confusão de nossas percepções triângulo. Goethe diz de maneira marcantee reações sensoriais, o dédalo de nossas cobiças em seu Fausto: “O que herdastes de vossose ambições e, acima de tudo, o emaranhado pais herdastes para possuí-lo”. Podemos tra-de nossas ideias e impulsos. Além disso, eis zer conosco a herança divina de nosso Pai, elaTeseu, o homem chamado pela Luz, terrivel- está à nossa disposição, mas isso ainda não quermente ameaçado pela força terrestre localizada dizer que a possuamos verdadeira e conscien-no centro do labirinto, o fogo fundamen- temente. Ainda devemos torná-la totalmentetal do ego: o touro, o Minotauro, o poderoso nossa e testemunhar, por nosso comporta-instinto de autoconservação. Há, também, mento, de que ela se tornou realmente nossaAriadne, o amor que é estendido ao busca- posse íntima. Nós a possuímos quando nosdor da libertação, Teseu, o filho da inteligên- confiamos totalmente a ela. Temos de aban-cia e do conhecimento interior. E ela, Ariadne, donar completamente a força de gravidade dedá-lhe a espada com a qual ele poderá matar nossa antiga vida pelo que há de mais profundoo Minotauro, a espada que representa a força em nosso coração. Nessas profundezas divinas,34 pentagrama 5/2010

O olho é o símboloda consciência, mas aconsciência microcósmicanão é o fim da viagemencontra-se a resposta à questão: o que ocupa alguém fora de nós mesmos, é a espada queo primeiro lugar em nossa vida? Se quisermos golpeia o antigo ser em nós; não é o “eu” queabandonar a antiga vida em proveito da vida na abate o “eu” – como se o “eu” pudesse fazê-verdade, na liberdade e na luz, a resposta é evi- lo – mas a espada pode obter a vitória sobredente. Na antiga vida, trata-se de nosso “eu”. ele no labirinto do ego. Nossa resposta nãoPodemos centrar-nos nela e utilizá-la como pode ser outra senão a rendição total e cons-bem o quisermos. Nela o ego é o eixo ao ciente de nós mesmos ao triângulo luminosoredor do qual tudo gira, ele relaciona tudo a si do amor, da compreensão e da força; ou domesmo, pois, em suma, essa é sua razão de ser. amor, do conhecimento e da ação. A fonteCom os olhos fixados no Minotauro, pensa- desse triângulo está situada no mais profundomos em outra passagem onde se fala de uma de nosso coração, lá onde se encontra a novaespada: no terceiro capítulo do Evangelho de força de gravidade de nossa vida. Seu antigoMateus, lemos: “Não cuideis que vim trazer ser é substituído, uma consciência totalmentea paz […], mas a espada”. A falsa interpreta- outra ressuscita, não tendo absolutamenteção dessas palavras é fantástica! Incompreensão nada em comum com a antiga consciênciapor ignorância, mas também voluntária, de egocêntrica. A nova consciência é cósmicamaneira não ortodoxa, para justificar a violên- e não comporta um “eu” em seu centro, elacia – da violência mental até a violência física possui um único foco central – o microcosmo– para forçar o desaparecimento dos preten- renascido – uma consciência única e univer-sos erros e, se isso falhar, utilizar a espada para sal. Nós conhecemos bem antigas ilustraçõesvarrer o “erro” da superfície da terra. Servir-se mostrando seres alados totalmente cobertosda palavra “espada”, sobretudo no sentido lite- de olhos por dentro e por fora. As asas são aral, sempre esteve muito presente na história e imagem do fogo das linhas de força lumino-até os dias de hoje. “Eu não vim trazer a paz, sas do microcosmo; e os olhos, o símbolo damas a espada”. No caminho da libertação, não consciência, sobretudo o olho no interior dohá doçura nem paz para o ego; não há lugar triângulo. Mas a consciência microcósmicaonde o “eu” possa, enfim, repousar, expondo- não é o fim da viagem. O desenvolvimento-se ao sol da “luz gnóstica”. Não existe “liber- divino tem um fim? A consciência microcós-tação para o eu”, mas libertação do “eu”. mica imerge na consciência cósmica divina, eÉ para isso que Jesus nos estende a espada esta imerge na consciência macrocósmica, na– ele mesmo é a espada, a força do homem consciência universal µdivino ressuscitado que venceu o touro nocentro do labirinto. Essa espada nunca é diri- Nossos agradecimentos a Hans Pollack (Áustria) pelas ilustraçõesgida contra outrem, contra alguma coisa ou do “Minotauro” e da “Visão”. o minotauro, a alma e o eu 35

“A humanidade tem de elevar-se da terra,alto na atmosfera, e mais além.Somente então compreenderemoscompletamente o mundo em que vivemos.Sócrates, filósofo grego, século 5 a.C.



resenha de livro: o livro de Mirdadmikhaïl naimy,repleto de amorA cultura refinou a natureza humana. O que lhe falta, porém, é umcrescimento espiritual voltado para o objetivo último da existênciado homem. Sem esse objetivo fundamental, o ser humano estácondenado à autodestruição. Essa convicção ressoa em toda a obrade Mikhail Naimy e, como não poderia deixar de ser, também emO livro de Mirdad. Esse livro é um testemunho do profundo desejo desuperação, de um anseio repleto de amor.Mikhail Naimy nasceu no Líbano em 1889. Encontramos essa mensagem espiritual em Aprendeu russo em Nazaré. A partir de todas as suas obras, mas especialmente em O 1906, estudou literatura na Ucrânia e, livro de Mirdad, publicado em Beirute em 1948posteriormente, de 1911 a 1916, em Washington. e, em 1954, em Mumbai (quando ainda se cha-Foi nessa cidade que fundou a Pen Society, uma mava Bombaim), na Índia, e posteriormenteassociação de escritores árabes na América do em vários países.Norte, juntamente com seu amigo Khalil Gibran, A essência de seu pensamento é que o cosmoo autor de O Profeta, entre outros livros. Com inteiro, assim como a própria vida, é uno euma obra consagrada, Naimy ainda hoje é uma indivisível. O todo é sempre maior do que areferência como autor de muitos livros e ensaios soma de suas partes. Por isso, a análise empre-sobre literatura árabe. Em 1931, quando seu gada pela ciência jamais pode penetrar a ver-amigo Gibran faleceu, retornou ao Líbano. dade plena, porque ela reduz, ao invés de levarMikhail Naimy estava convencido de que a cul- a uma síntese.tura refinou a natureza humana. O que falta ao Somente o ser interior do homem pode com-homem, porém, é um crescimento espiritual vol- preender a essência das coisas, dos homens e detado para o objetivo último de sua existência. todo o universo. Trata-se, portanto, de adqui-Sem esse objetivo fundamental, o ser humano está rir uma consciência cósmica, de tornar-se unocondenado à autodestruição. com a vida absoluta.38 pentagrama 5/2010

Entre o homem profano, “que está fora” – antiquíssima. Negando-se a aceitar Mirdad –pois ainda não penetrou na essência – e o ser um estranho que chegara após a morte de umhumano cósmico, interior, situa-se a “Escarpa dos monges – acabou por admiti-lo somenteRochosa”, como diz Naimy em O livro de como servo. Mirdad desempenhou esse papel,Mirdad. A Escarpa Rochosa é a via-crúcis do mantendo-se em silêncio durante sete anos.homem. Trata-se de uma escolha: ou viver Após isso, ele ministrou ensinamentos a seuspara acabar morrendo, ou morrer segundo o companheiros, o que desagradou ao abade.ego para poder viver na realidade da alma. Influenciados por Mirdad, os monges entre- garam todas as suas riquezas e abandonaram oEm todos os seus livros, o autor une a rea- mosteiro. O abade ficou mudo, e permaneceulidade efêmera à mais alta espiritualidade. preso àquele lugar até sua salvação, segundo aMuito se escreveu sobre ele, tanto no mundo profecia.árabe como no Ocidente. Mikhail Naimymorreu em 1988, aos 99 anos. É nesse ponto dos acontecimentos queA história que é contada em O livro de Mirdad Mikhail Naimy começa a contar sua histó-se baseia em uma lenda: depois do Dilúvio, ria. O narrador escala a montanha em queNoé teria vagado pelas alvas montanhas neva- um dia esteve a Arca. Ao dormir numa gruta,das do Líbano, com a preocupação de que os roubam-lhe o pão, as roupas e o cajado, parahomens pudessem esquecer-se do que havia depois enxotá-lo dali. Extenuado, ele chegaacontecido. Por isso, pediu a seu filho Sem por fim ao portal do mosteiro. Prostrado,que construísse um altar e, à sua volta, uma é salvo pelo abade. Graças à chegada dessecasa para nove pessoas. Morando ali, elas estrangeiro, ele pode falar novamente,deveriam orar para que o Altíssimo lhes ser- depois de haver esperado durante 150 anosvisse de guia, bem como a seus semelhantes. por aquele que viria “desnudo, sem cajado nem provisões”. É a este jovem que o abadePor que nove pessoas? Na Arca havia oito: entrega o livro.Noé e sua esposa, seus três filhos com as res-pectivas esposas. Mas também havia uma nona Na página 55 da edição brasileira, é assimpessoa que se escondeu: um passageiro clan- que começa O Livro de Mirdad: “Conformedestino que era o timoneiro. Noé deixou ins- foi registrado por Naronda, o mais jovem e otruções para quando um dos habitantes da menor de seus companheiros: um farol e umArca morresse. Nesse caso, o primeiro visi- refúgio para os que anseiam por vencer. Quetante que ali surgisse deveria ser aceito como todos os outros guardem-se dele!”o nono e novo companheiro. Durante séculoso mosteiro da Arca funcionou dessa maneira. São 37 capítulos em que Naimy descreveComo gozasse de grande prestígio com a os ensinamentos de Mirdad a seus compa-população, recebeu inúmeras dádivas e ficou nheiros e conta como ele reage ao confrontomuito rico. Até o dia em que Shamadam, com Shamadam, que o humilha e denigre.o voluntarioso abade, quebrou a regra Essa narrativa contém pérolas de profunda mikhaïl naimy, repleto de amor 39

A importância de O livro de Mirdad reside no fato que ele mostrao caminho para uma nova visão do serPor que as coisas acontecem como acontecem sabedoria e conhecimento, excelentes modelosNão há esquecimento no Tempo. Não existem acidentes e exemplos únicos de como proceder em cadano Tempo e no Espaço. Todas as coisas são ordenadas pela situação da vida, bem como máximas filosó-Onivontade, que nunca erra em nada nem negligencia algo. ficas. Cada história mostra, de forma exem-Aceitai a Onivontade! A Onivontade devolve a cada homem e plar, o infinito amor impessoal de Mirdada cada coisa que ele ou ela desejaram, nem mais nem menos, – não só por seus companheiros, mas tambémquer o tenham querido conscientemente ou não. Os homens, por Shamadam e por todos os seres humanos,porém, por não o saberem, consternam-se frequentemente pelos animais, pelas plantas e pelo mundo.com o que lhes cabe como quinhão da sacola da Onivontade,que tudo contém; e os homens protestam com tristeza, e Mikhail Naimy escreveu a seu editor: “...Oculpam, desalentados, o Destino caprichoso. Vossa vontade livro de Mirdad afasta-se nitidamente de qual-está escondida até mesmo em cada respiração, em cada pala- quer dogma religioso, filosófico, políticovra, em cada desejo, pensamento e ação. E o que está oculto ou de qualquer outra área. Sua importân-de vós está sempre manifesto à Onivontade... Desejai, sim, o cia está em mostrar caminhos para um novoamor de todos os homens e de todas as coisas; pois somente olhar sobre o ser. Ele pretende arrancar o sercom ele vossos véus serão erguidos, e a Compreensão alvore- humano de sua insensibilidade e de suas inú-cerá em vosso coração, permitindo, assim, a iniciação de vossa meras confusões dogmáticas – tão cheias devontade nos maravilhosos mistérios da Onivontade. ódio, conflitos e caos – para, assim, despertá- -lo.” Com esse livro, Naimy provou que estáO livro de Mirdad, capítulo 21 entre os grandes pensadores espirituais do século XX µ40 pentagrama 5/2010



Na filosofia quântica se fala sobre a realidade relativa e a absoluta. O budismo falaigualmente a respeito dessas duas esferas de vida. No cristianismo original, noEvangelho de João nós lemos: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. … Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. … E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.O Verbo é informação, a vida é energia, e a luz é conhecimento – portanto,consciência. O Espírito divino, o Verbo divino, “pairava sobre as águas”, sobre avida divina, sobre o oceano original de todas as possibilidades.Desse princípio gerador e receptor surge a consciência: como um reflexo da luz.O ser humano leva em seu interior a informação criadora original da luz e da vida.Se esse núcleo espiritual que existe dentro dele for tocado pela luz que brilha nastrevas de sua ignorância, de seus apegos terrestres e de suas recusas, e se ele aceitaressa luz, ele desaparecerá na coesão da filiação divina, realizará em si mesmo aligação entre o inferior e o superior e anulará a separação entre criatura e criador.R$ 16,00


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