pentagrama Lectorium Rosicrucianum Ervin László A transformação do mundo + entrevista O mistério do amor • unidade e dualidade • uma dança criadora • o significado do amor • explica-me, amor!2008 5set/outNÚMERO
pentagramaEditor responsávelA. H. v. d. BrulRedação finalP. HuisImagensI. W. v. d. Brul, G. P. OlsthoomDesignCapa: Dick LetemaInterior: Ivar HamelinkRedaçãoC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthom,A. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. BrulSecretariaC. Bode, G. UljéeEndereço da RedaçãoPentagramMaartensdijkseweg I,NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraEditora Lectorium RosicrucianumAdministração, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) 4016-5638www.editoralrc.com.brResponsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de Oliveira,Revisão finalM. R. de Matos MoraesTradutores e revisoresS. Cachemaille, M. C. Zanon Costa, I. Duriaux,J. Jesus, M. Pedroza, S. A. Pereira, A. Sader, M. S. Sader,Y. Sanderse, U. Shmit, M.V. Mesquita de SousaDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
O princípio divinoTudo começa com o dar. Por isso ele consome: comida, plantas, animais. OsSe Deus, que é a profundeza do não-ser, não tivesse grandes mares, que refletem o céu, secam por suadoado o ser, o primeiro princípio, não haveria causa. Ele utiliza as matérias-primas e sobrecarregacriação. No universo, nada é guardado para si os rios. Ele rouba a juventude das crianças, a vidamesmo; tudo é recebido, e tudo é transformado. dos adolescentes e a alegria de viver dos adultos.O sol guarda seu calor para si mesmo? Como um E o que ele devolve? Poluição, valores degradados,transformador superpotente, ele doa calor, poder desnaturação.de crescimento, vibrações baixas e altas, tudo o que Em qualquer lugar reinam esses dois mundos, queé necessário para assegurar e preservar a vida do começam em nós mesmos. A necessária grandesistema planetário. transformação da consciência consiste em aprenderA terra guarda para si o ar onde vibra o éter vital, a a doar e acrescentar algo em benefício do próximo.água que desce das montanhas e irriga as planícies? Muitos homens pensam que tomar é mais fácil, poisNão abriga ela em suas profundezas as forças da não têm consciência da coesão da vida. Mas tomargerminação, os sais minerais, para que a cada ano, a é emprestar do amanhã. Quem retém provoca dí-vida literalmente possa irromper? E, por sua vez, a vidas na balança da vida. E os juros são altos. Quemterra recebe a beleza de um ornamento matrimo- toma deve devolver – tudo ou mais. Para reequili-nial, o murmurar do riacho, os cantos de alegria do brar a situação é preciso que muitos compreendammelro e do rouxinol… essa idéia profundamente. A existência pede que oDa cooperação da terra e da água, do ar e do homem dê o que ele tem de mais elevado: a luz, ocalor, surge a vida, a consciência, a beleza. Até a lua, amor, a sustentação a todos os desenvolvimentosque dá ritmo e crescimento à existência terres- justos. Devolver às crianças a juventude, aos adoles-tre, reflete, na profunda noite, a luz do sol e não a centes a vida, aprender a servir, sobretudo medianteguarda para si mesma, doando-a à terra, desde que exemplo pessoal. Transformar matérias-primasesta não se interponha entre ela e o sol. Nada no da vida em algo superior, como o faz o universouniverso guarda algo para si, exceto o homem, em inteiro.quem o princípio divino parece que não atua. Ele “Dai, e dar-se-vos-á.” Esse é o início do reino divinopensa que tudo lhe pertence. em nós, essa é a atividade do princípio divino. o princípio divino 1
ano 30 número 5 2008sumário Revista Bimestral da Escolao princípio divino 1 Internacional da Rosacruz Áureaa humanidade em direção de uma etapacomparável a um salto quântico Lectorium RosicrucianumErvin Lásló 3+ entrevista com Ervin Lásló 10 A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção deunidade e dualidade 16 seus leitores para a nova era que já se iniciou para ouma dança criadora 22 desenvolvimento da humanidade.o amor que salva O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo Sören Kierkegaard 27 do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémo significado do amor 28 o símbolo do Universo e de seu eterno devir, poro ritmo da manifestação universal meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan- J. van Rijckenborgh 32 to, um símbolo somente tem valor quando se tornachamado ao verdadeiro amor 35 realidade.O homem que realiza o pentagrama em seuexplica-me, amor! microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está no Ingeborg Bachmann 38 caminho da transfiguração. A revista Pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seu próprio interior.Capa:Desde tempos imemoriais a pomba é o sím-bolo do Espírito e da paz das almas viventes,como por exemplo, na “Igreja do amor” daFraternidade dos cátaros.Na Bíblia, o espírito religa-se a Jesus sob aforma de uma pomba.Imagem pintada em seda em Owlpen Manor,Gloucestershire, Inglaterra2 pentagrama 5/2008
a humanidade rumo a uma etapacomparável a um salto quânticoA transformaçãodo mundoErvin László, o fundador do Clube de Budapeste está à frente da Globalshift University (a Uni-versidade da Transformação Global) (www.globalshiftu.org). Ele é o autor de mais de quatro-centos artigos e de oitenta livros, dos quais os mais recentes são Science and the Akashic Field:AnIntegral Theory of Everything (Ciência e o campo do Akasha: Uma teoria integral de tudo) (2004) eQuantum shift in the Global Brain (Transformação quântica no cérebro global) (2008). Em sua con-tribuição à revista Pentagrama, ele trata de quatro questões fundamentais no que diz respeito àsfuturas modificações da consciência: Quais? Por quê? Como? Quando?Qual é a pergunta? Se Hamlet vivesse águas desaparecem gradualmente, e os recifes de em nossa época, ele não gritaria com coral estão danificados seriamente. O solo esgota- mais convicção que nunca:“Ser ou não se devido à grande quantidade de culturas e aoser, eis a questão”? Mas não seria contemplando emprego de produtos químicos.As manipulaçõesum crânio humano, mas sim a terra viva. Podemos genéticas diminuem a biodiversidade.As reservascontinuar a existir sobre este planeta, ou estamos de água potável diminuem; mais da metade daameaçados de extinção como os dinossauros? população mundial enfrenta escassez de água. E aAproximamo-nos de um importante momento mudança climática ameaça tornar grande parte dodecisivo, um ponto onde o mundo deve mudar: a planeta imprópria para produzir alimento e servirnossa sobrevivência está em perigo. de habitat.Estamos destruindo o planeta A produção Estamos destruindo as estruturas sociaisdos recursos físicos e biológicos essenciais atinge oseu máximo.As espécies animais das florestas e das Tanto nos países pobres como nos países ricos rei- na uma insegurança crescente, que faz a tendência a transformação do mundo 3
ao terrorismo e à guerra aumentar. O fundamen- Por que devemos mudar? Para mudar a tempo,talismo muçulmano estende-se em todo o Oriente devemos conhecer a natureza da atual conjuntura,Médio; na América cresce o fanatismo religioso, e e a razão de ela ser insustentável. Essa noção apa-na Europa atuam o neonazismo e outros grupos receu apenas há uns quinze anos, embora não sejaextremistas.A distância aumenta entre os ricos e os nova. No fim do século dezoito,Thomas Malthuspoderosos de um lado, e os marginais e os pobres publica o seu famoso tratado sobre a relação entredo outro. Um bilhão de seres humanos aproveita população e alimento. Primeiro, estabelece queoitenta por cento da produção mundial da terra, o alimento é necessário para a sobrevivência dosenquanto cinco bilhões e meio compartilham os homens, e, segundo, que estes devem continuar avinte por cento restantes. Um em cada três cida- produzir como sempre o fizeram. No entanto, virádãos vive em bairros pobres e guetos urbanos, cerca inevitavelmente um tempo onde o aumento dade novecentos milhões vivem em favelas. população será tão elevado que excederá a capaci- dade de produção de alimentos pela terra.Se tudo continuar desse modo, a mudança do A “catástrofe malthusiana” é uma versão simplifica-clima provocará secas, furacões, más colheitas, da do ponto onde vamos chegar.Além disso, a per-elevações do nível dos oceanos. A fome e as frus- gunta já não é apenas a da produção de alimento,trações aumentarão o terrorismo e as guerras. O mas a de todas as bases da vida sobre o planeta. Oequilíbrio delicado da nossa dependência mútua problema não é somente o do aumento da popu-neste mundo ficará seriamente perturbado. No lação, mas, sobretudo, o da quantidade de matériadesmoronamento mundial que sobrevirá nenhum consumida por cada pessoa e da proporção em quepaís e nenhuma população serão poupados. “Ser ela polui o ambiente. Em sessenta anos, desde a Se-ou não ser, eis a questão.” Se queremos “ser” e gunda Guerra Mundial, consumimos mais matériasresidir neste planeta, devemos mudar. Mas muda- primas e produtos biológicos do que em todo oremos a tempo? período anterior da nossa história. E produzimos4 pentagrama 5/2008
mais resíduos do que a natureza pode regenerar. maneira, de encontrar novos valores e estabelecerAí está a situação insustentável. Conhecemos, por novas prioridades. Ela tem a capacidade de desco-exemplo, a quantidade de alimento necessário por brir o meio para sobreviver.pessoa: corresponde ao rendimento de um terrenode 1,7 ha. Mas a média ecológica é hoje de 2,8 ha. Mas como podemos mudar? Gandhi afirmava:(e seria ainda muito mais elevada se considerásse- “É necessário que você mesmo seja a mudança quemos os países mais pobres, que têm médias bem quer ver neste mundo”. Hoje isso significa alterarmais baixas. Em Bangladesh, por exemplo, é de 0,5 a própria consciência para que a consciência dosha. por pessoa). Evidentemente, o alimento repre- outros também se altere. Como fazê-lo? Para co-senta apenas uma das necessidades fundamentais meçar, renunciando à nossa antiga consciência e àsnecessárias para viver e desenvolver-se; mas consu- convicções que a fundamentam. Faça-se as seguin-mimos infinitamente em demasia e assim esgota- tes perguntas.Você acredita:mos as nossas reservas.Que acontecerá quando atingirmos os limites • que cada um é único e que é justo que cada umdos recursos disponíveis? No laboratório, quando se ocupe de seus interesses pessoais?as bactérias terminam de esgotar as substânciasdas quais se alimentam, morrem; quando os ratos • que é necessário lutar para viver, por conseguintechegam ao fim da sua provisão, ficam estéreis; e que só os mais fortes sobreviverão (e os mais fortesos lemingues, neste caso, cometem suicídio cole- são os mais ricos ou os mais poderosos?)tivo. No entanto, quando uma espécie no nível deconsciência elevada como o homem aproxima-se • que na luta que representa a concorrência, o ob-do limite dos seus recursos, ela não morre, não fica jetivo justifica os meios?estéril nem se suicida, mas pode transformar a suaconsciência a fim de considerar o mundo de outra • que quanto mais dinheiro se tenha, mais impor- tijd voor leven 5
Uma nova Fraternidade mundialHá séculos é sabido que o ferro, tal não acontece. A degradação forçada sérios, cada qual a seu modo. Devemoscomo encontrado em nosso planeta, desses três elementos despojou nosso apenas concluir que a humanidadeé polarizado pelas radiações de Marte, planeta de grandes e maravilhosas inteira está doente e é vitimada pela ig-ou seja: ele é ativado, tornado vivente forças divinas. norância fundamental. E o maior pecadoe radiante por essas radiações. Pela E, assim, o espírito planetário está for- que a aflige é a ignorância devido a cres-atividade do ferro a vida na natureza foi temente entravado em suas atividades. cente degenerescência e cristalização.e é mantida, e o alimento foi e é suprido E, ao mesmo tempo, a harmonia entre Agora precisamos observar tudo isso,com seus valores nutrientes. Sabeis que nossa terra e outras forças do corpo não para nos deter nos fenômenos,muitos alimentos que absorvemos con- solar é totalmente perturbada. Dessa nem para discutir uns com os outros atêm ferro? Talvez agora compreendais forma, surge uma contranatureza – de respeito do grau de gravidade desse ouo que significa polarizar o ferro: significa fato, chega a ser ridículo! – que torna o daquele aspecto. O que ganharíamostornar esse elemento ativo, radiante. método biodinâmico simplesmente um discutindo e empilhando crítica sobreO urânio também é polarizado e ativa- absurdo e a fitoterapia mais negativa crítica? Com efeito, há milhares de moti-do em nosso reino natural pelo planeta que segura. vos para se criticar.Urano. O netúnio foi polarizado por Assim, devemos concluir – e Devemos, então, criar outra organiza-Netuno, e o plutônio, por Plutão. Por- nosso intuito é tornar bem clara esta ção? Devemos tentar instituir uma novatanto, isso quer dizer que as radiações conclusão – que toda a atividade da vida fraternidade mundial no plano horizon-que emanam desses três planetas dos humana está completamente bloqueada tal, para combater tudo isso, e percorrermistérios tornaram esses metais ativos [...] Pensemos simplesmente no aumento o mundo com a palavra escrita e faladaem nossa vida, segundo determinada lei absurdo do tráfego. [...] a fim de advertir a humanidade? Ah,universal, a fim de que, em dado mo- Ao examinardes tudo o que acabamos amigos, por mais sincera e pura que sejamento, o santuário da cabeça pudesse de abordar, podemos apontar um só a intenção, não haveria nenhum sucesso,abrir-se de modo normal para a grande verdadeiro culpado em tudo isso? Não, já não seria possível haver sucesso. Orealidade da vida solar e planetária. não podemos! Pois, todos estão fazendo que precisamos é do surgimento deTodavia, já faz muito tempo que isso o melhor que podem, e todos são uma nova fraternidade mundial, em sen-tante se é, e provavelmente mais feliz? um supermercado, uma auto-estrada ou uma al- deia, para satisfazer as nossas exigências e responder• que é necessário ser honesto unicamente com às nossas necessidades?o seu país ou com a empresa onde trabalha, por-que “os outros” são apenas estados estrangeiros ou Se tiver essas convicções, você faz parte do proble-organizações concorrentes? ma. Então como você irá participar da sua solução? Agora é necessário dar o passo seguinte: pensar de• que, se queremos a paz, é necessário preparar a maneira nova.guerra? O novo pensar não é nem utópico nem sem precedentes. Do lado social e criativo, fenômenos• que a tecnologia e a eficácia constituem a única emergem: milhões de pessoas estão alterando a suaresposta, qualquer que seja a pergunta? maneira de pensar e agir como parte de “cultu- ras alternativas”. Compartilhamos de duas noções• que sob todos os pontos de vista, os recursos da muito importantes: a primeira é que a velha frase:terra são inesgotáveis e que a terra é também um “Somos um”, é um pensamento que, distante deesgoto onde podemos lançar sem limite os nossos ser fantasista, está enraizado na realidade.Williamsresíduos? James tinha razão quando dizia que éramos como ilhas num oceano, separados na superfície, mas li-• que é possível organizar a nossa sociedade como gados uns aos outros nas profundidades.A segunda6 pentagrama 5/2008
tido totalmente diferente. Em que momento mudar? Quando dizemos Essa Fraternidade mundial que é uma gota que faz o vaso transbordar, estamos deve reconduzir a huma- exprimindo um princípio fundamental geralmen- nidade inteira ao caminho te ignorado. É o princípio da “não-linearidade”. correto. Essa Fraternidade Podemos fazer escorrer água num recipiente até terá de provir de uma que a última gota o faça transbordar. Isso acontece ordem mundial totalmente muito de repente. Esse processo é contínuo, semdiferente da nossa, de um campo de vida completamente interrupção,“linear”, mas abruptamente torna-sediferente do nosso. Ela deve trabalhar com forças totalmente “não-linear”.diferentes de quaisquer possibilidades dialéticas humanas, pois Aí está o que se passa na natureza. Pode ocorrer detodo nosso campo de vida está envenenado, desnaturado [...] repente uma mudança no ambiente que afeta osEssa nova Fraternidade mundial deve certamente provir de seres vivos de certa espécie. Se as mudanças acumu-nossa humanidade, a fim de manter uma ligação conosco com lam-se, a tensão atinge um ponto crítico, e a espéciebase no campo de vida libertador e para poder entrar em morre, a menos que haja mutação. Nos sistemascontato com os que estão praticamente perdidos e devem relativamente simples, pontos críticos sucessivosser reencontrados. levam ao desmoronamento ou à desintegração. NosOra, essa Fraternidade da Rosacruz vivente existe! Ela man- sistemas complexos, esses pontos críticos são por ve-tém, neste exato momento e há muitos anos, um contato zes bruscos momentos decisivos: então, ou o sistemaintenso com o espírito planetário, com as forças provenientes sucumbe, ou resiste e supera as dificuldades.do centro de nossa terra, a fim de fazê-las ressoar no coro Em 1989, um grupo de refugiados da Alemanhado corpo solar. Caso contrário, nossa terra e todos os seus Oriental obteve a permissão de atravessar a Cortinahabitantes já teriam, há muito, desaparecido. Foi dessa forma de Ferro para ir à Áustria. Isso suscitou um pequenoque o equilíbrio indispensável foi mantido, mas em verdade, choque, mas tão crítico que abalou o sistema. Foi ade modo completamente anormal. gota que fez o vaso transbordar. Em algumas sema- nas, os países comunistas da Europa do Leste sepa- Texto de J. van Rijckenborgh da Conferência de Aquarius de 1964. raram-se da União Soviética, que, em menos de um ano, deixou de existir. O partido soviético, na épocanoção refere-se à nossa responsabilidade. Estamos o mais forte partido do mundo, perdeu não somentetodos unidos uns com os outros e com a natureza, a sua potência, mas também a existência; e os estadosnão somos unicamente responsáveis por nós mes- que constituíam a União Soviética, após um períodomos, nossa família, nosso país ou nosso trabalho. caótico em que pareciam desmoronar, ficaram emAs nossas responsabilidades estendem-se à inteira condição de transformar-se em sociedades ligeira-sociedade humana e à biosfera.A vida não é uma mente mais abertas.instituição beneficente. Se somos parte da huma- Nos últimos dez mil anos, houve momentos críti-nidade e a humanidade faz parte da vida sobre o cos em que muitas sociedades e civilizações inteirasplaneta, então o que fazemos a outrem e à natureza que haviam atingido seu apogeu desapareceram. Eisfazemos também a nós mesmos. alguns exemplos: Babilônia, Suméria, Ilha de Páscoa e a civilização dos maias. Mas outros souberam ven-Se somos capazes de renunciar às nossas convicções cer o desafio, transformaram-se e sobreviveram. Deobsoletas, baseando-nos em um novo pensar, nossa acordo com a história, parece que essas metamorfo-consciência muda, ao mesmo tempo em que nós ses foram freqüentemente radicais.mesmos também mudamos. Essa metamorfose, nes- As populações da Idade da Pedra viviam numta época crítica e instável, pode ser comparada com mundo mítico; comunicavam-se com as árvores,a pequena borboleta que faz nascer uma tempesta- os animais e os espíritos dos antepassados. Os seresde, a qual, enquanto se propaga, muda o mundo. a transformação do mundo 7
A borboleta de LorenzNo fim dos anos 60, o meteorologista Edward Lorentz fezexperiências com base em modelos informáticos para aprevisão do tempo. Foram coletados dados da atmosferacomo a pressão, a temperatura, a orientação do vento.Ele preparava-se para conhecer os resultados do progra-ma quando percebeu que, após ter arredondado algunsnúmeros, uma minúscula diferença nos valores que haviaacrescentado tinha conseqüências enormes no resultadofinal. Essa dependência muito sensível das condições iniciaisé conhecida sob o nome de “efeito borboleta”: se umaborboleta na costa da Europa agitasse apenas uma vez assuas pequenas asas, essa mínima turbulência da atmosfe-ra poderia provocar, alguns dias mais tarde, um enormefuracão nos mares do Caribe. Essa é a razão pela qual étão difícil prever o tempo com quatro ou cinco dias deantecedência. E, se ocorre um furacão em algum lugar, éimpossível descobrir, retrospectivamente, qual minúsculaborboleta, do outro lado do oceano, é a responsável.Fonte : www.bijlmakers.comconsideravam-se como que parte misteriosa de um se principalmente sobre a fé dos gregos na força dacosmo vivo e cheio de significados. Nessa época, o razão.Apoiada pelas observações e teorias de Galileu,mundo transformou-se, e surgiram culturas teocrá- de Newton e de Copérnico, desenvolveu-se umaticas: no Egito, na Babilônia, na China e na Índia. concepção materialista e mecanicista do mundo.AAs leis imutáveis dos deuses celestes governavam a física clássica de Newton uniu-se às práticas arte-existência humana. Hermes Trismegisto para isso sanais tradicionais, dando nascimento a uma longaafirmou:“Assim como é em cima, assim é embai- série de técnicas revolucionárias.xo”. Então, há dois mil e quinhentos anos, apareceu, Hoje, no entanto, no século das informações, dasna orla norte do Mar Mediterrâneo, toda uma nova comunicações, da dependência mútua e da de-civilização, onde a razão tomou o lugar das cren- terioração mundial do ambiente, essa concepçãoças que havia herdado: foi a civilização da Grécia mecanicista e materialista está ultrapassada e atua declássica. maneira muito negativa.A Ciência já abandonouA civilização ocidental gerou, na aurora dos tempos essa concepção, não obstante as tecnologias que delamodernos, uma nova mutação cultural. Essa nova resultaram e as atitudes que ditaram continuam pre-cultura retomou elementos anteriores, mas edificou- judicando o ambiente o os seres humanos. Muitas8 pentagrama 5/2008
Uma transformação do mundoe de seus habitantes é possível!tecnologias produzem mais calor que luz e geram logia, os recursos humanos e financeiros necessários.mais prejuízos do que vantagens. O que nos falta é a vontade e a compreensão. Preci-A cultura que predomina no mundo de hoje não samos mudar nossa consciência mediante uma novapode durar mais tempo. Se não quiser perecer, ela orientação de nossa vontade e de nossa comprensão.tem de transformar-se.A busca do “salto quântico” Com uma consciência clara e aberta podemos mu-nas relações humanas corresponde à busca de uma dar nossos valores e prioridades atuais, nós mesmoscultura que tenha a capacidade de fazer viver digna- e, por fim, o mundo.mente seis bilhões e meio de pessoas, em harmonia A transformação do mundo é absolutamente obri-mútua e com a natureza. Essa transformação do gatória, e resta pouco tempo para fazê-la. Os proces-mundo é possível! Possuímos a inteligência, a tecno- sos e tendências que nos arrastam a um momento a transformação do mundo 9
crítico aceleram-se. As previsões têm várias vezesantecipado a data desse momento decisivo, fazen-do-a passar do fim para o meio deste século e, agora,para os próximos dez anos.É assim que o ponto crítico mundial, diz-se, devechegar no final de 2012. Essa é a data em que estáprevisto o momento decisivo que a humanidadedeve considerar para sobreviver neste planeta. Écerto que isso irá acontecer enquanto muitos de nósainda estiverem vivos. Seja lá como for, devemos agiragora para assegurar-nos que ele não seja o prelúdiode uma destruição e sim o início de um mundopacífico e duradouro µ entrevista com Em uma entrevista, Erwin Lásló falou da Rosacruz Áurea como de uma das mais importantes or- ganizações espirituais desta época, devido a seu incessante ardor por afirmar que a humanidade se encontra diante de uma mudança de cons- ciência decisiva:“Outro ponto importante é a redescoberta de antigas concepções espirituais, fundamentadas no Espírito, seja qual for o pano de fundo. E o ponto de partida fundamental de todos esses conceitos espirituais de milhões de anos é: fazemos parte de uma unidade global, de uma única e grandiosa comunidade. É indiferen- te se lhe damos o nome de Gaia ou Mãe-Terra, pois trata-se sempre de uma unidade cósmica. E a descoberta importante é que essa unidade cósmica é apenas uma imagem: no nível quântico, portanto num plano muito sutil, estamos ligados uns com os outros, temos grande influência uns sobre os outros”.10 pentagrama 5/2008
Ervin LászlóOsenhor assinala, em vários trechos da humana atual vai provocar o fim deste mundo. Ela sua obra, a profusão cada vez maior de criou uma situação mundial catastrófica. É uma informações e as ligações que diferen- consciência fragmentária, egocêntrica, nacionalista,tes disciplinas têm entre si, o que faz que uma orientada para o Ocidente e para a Europa em par-transformação da consciência seja necessária ticular e que nada tem de planetária. Ela não possuie decisiva para a orientação da humanidade ética e é incapaz de assegurar a vida de seis bilhõescomo um todo. De acordo com certos pontos e meio de seres humanos.de vista, não é apenas nossa mãe Gaia, a terra, Portanto, sua evolução e sua mudança são obri-a causa da nossa situação, mas também as estre- gatórias.Acredito ver uma aceleração produzir-selas e o cosmos. Muitos sábios e mestres anti- nessa área, pois cada vez mais novos valores cultu-gos, assim como os rosacruzes do século XVII, rais emergem. Cada vez mais pessoas se dão contadisseram que as radiações cósmicas aumenta- de sua responsabilidade, da idéia de preservar oriam de intensidade, o que obrigaria a huma- mundo e a humanidade, e do fato de que todos osnidade a reagir, causando grandes mudanças e seres humanos estão interligados.modficando a consciência humana totalmente. Há quem diga que essa aceleração é provocadaO senhor concorda com esse ponto de vista? pelas energias de alta freqüência que agem na terraO senhor acredita que estamos evoluindo para sob a forma de influências extraterrestres. Pensonos tornarmos seres cósmicos conscientes de que isso seja possível, mas não temos provas cien-muito mais coisas do que a lei da sobrevivência tíficas a respeito. O que se pode afirmar é quedo mais forte? aparecem cada vez mais novas formas de sociedade,Acredito que essa modificação é necessária. A evo- o que é bom para o futuro, pois sem nova consci-lução da consciência não é somente uma possibi- ência não pode haver nova sociedade, e sem umalidade ou uma opção, ela tornou-se obrigatória a nova forma de sociedade não poderemos sobrevi-fim de assegurar nossa sobrevivência.A consciência ver nesta terra. entrevista com Ervin Lásló 11
Podemos medir essas radiações de forma cientí- ameaça cada vez maior, e essa ameaça pesa muitofica? Podemos medir essas influências exercidas na nossa consciência. Se tudo estivesse bem emsobre o planeta? De várias fontes ouvimos dizer nosso mundo, não haveria necessidade de mudança.que a freqüência vibratória da radiação funda- O ser humano abre-se nesse momento cada vezmental do planeta aumentou devido às radiações mais às possibilidades alternativas.cósmicas primordiais, ou ao aumento das radia-ções do sol. O senhor foi um bom pianista e ainda é. SeO que podemos medir em nível material diz respei- considerarmos a quantidade impressionanteto basicamente às flutuações dos campos eletromag- de suas publicações, somos forçados a concluirnéticos, e estes dependem da atividade do sistema que o senhor se dedicou intelectualmente desolar, particularmente do sol. Podemos medir isso, forma intensa sobre as condições da existênciae fica claro que no final de 2012 essa atividade humana. Se estudarmos os escritos e legadosatingirá um ápice e provocará um deslocamento da do ensinamento universal de toda a humanida-polarização magnética da terra. Sabemos disso. Isso de, vemos, muitas vezes, que eles falam de umaé importante, porém mais importante ainda são as nova ligação, de uma unidade harmoniosa entreinformações que o cérebro pode apreender. Nossos a cabeça e o coração. O coração é sem dúvidainstrumentos não são tão sensíveis quanto nosso o órgão mais sensível às novas vibrações cósmi-cérebro e nosso sistema nervoso, e há muitas percep- cas superiores. Sua abordagem não exclui dessações que o nosso cérebro registra que nossos instru- mudança o homem que não tem inclinaçãomentos mais sensíveis não são capazes de captar. científica? O senhor considera, nesse contexto,Primeiro esses instrumentos deveriam poder re- a tarefa das atividades internas do coração?gistrar informações de forma interativa. Quando Devo ser fiel à natureza da nossa sociedade e àmedimos a propriedade de um objeto, interagimos maneira como percebemos a informação. Pensocom a energia desse objeto. Porém, as energias que uma grande parcela de informações não chegademasiado sutis não transmitem informação sufi- até nós simplesmente porque passa pelo filtro deciente no plano material. O que o cérebro é capaz uma mentalidade ocidental e materialista condi-de perceber em alguma parte da nossa consciência cionada pela pesquisa experimental. Não se devenão é uma informação energética passiva, tal como ter um espírito tão científico. Pensar de uma formaa percepção de algo físico e concreto. Qualificamos científica estreita, racionalista, é mais grave do queo que ele percebe de informação ativa. Foi David se possa imaginar, pois já não temos a capacidadeBohm (1917-1992) quem fez essa descoberta. O “eu de ser receptivos às informações provenientes dequero” representa uma energia sutil, mas não é algo outras origens. Se você diz que o que elas relatamque podemos medir fisicamente de maneira nor- não pode existir, você bloqueia essas informações emal. No entanto, continua sendo uma realidade, que já não pode percebê-las. Em termos gerais pode-aparece em nível quântico, não-local. Ela é interativa mos dizer que acreditamos no que percebemos.e comunicativa no nível da consciência humana. No fundo o que é preciso não é considerar as coisas de forma científica, mas ser sensível às nossasEssa informação seria o mais importante fator intuições, à coesão subjacente das coisas e à ligaçãona questão da mudança de consciência? natural entre todos nós, assim como à biosfera e aoEla dá à consciência a possibilidade de mudar. É cosmo. É por isso que eu penso que a racionalida-bom nos perguntarmos se a consciência pode evo- de mal aplicada é mais perigosa do que tudo!luir baseada em si mesma. Com certeza ela evoluiquando recebe um estímulo. Sob esse ponto de O senhor abordou um assunto interessante, avista, esse estímulo aparece hoje na forma de uma ligação natural entre todos, a solidariedade. O12 pentagrama 5/2008
S. P. Semenovitch, Pière sur un champ (La moisson de l’été, 1950-60).senhor fala sobre isso no seu livro Ciência e o sempre parte de uma sociedade, seja ela qual for.campo do Akasha: Uma teoria integral de tudo, e Ao longo da nossa história ocidental o sentimentoem outro sobre os sistemas termodinâmicos de comunidade foi sempre mais forte do que nosabertos que evoluem. O senhor diz também últimos duzentos anos.Aliás, um “eu” se desenvol-que as opiniões dos homens são combinações veu, uma personalidade, cada vez mais individualis-extremamente desenvolvidas de sistemas. Nosso ta.A personalidade, a individualidade do ocidental,fundador, Jan van Rijckenborgh, insiste sempre aumentou muito na sociedade. Porém, tanto indi-na unidade de grupo e na necessidade de de- víduos como grupos que reconhecem e assumemsenvolver um sistema muito diferente que não suas responsabilidades são necessários. Um célebreconsidera a consciência individual com todas as escritor disse:“O homem, como todas as coisas,suas limitações. Ele afirma que a etapa do pró- forma um todo enquanto sistema organizado, masximo período é aquela em que o homem deve é ao mesmo tempo parte de um todo maior”. Notrabalhar e viver em unidade de grupo. O se- momento presente devemos integrar-nos numanhor já refletiu alguma vez sobre esse aspecto? comunidade, pois nossa comunidade muda. NãoOs seres humanos estão sempre pressionados a somos somente uma família, uma tribo, uma cidadeatingir objetivos que ultrapassam seus modelos ou uma nação; vivemos em contato com cada vezegocêntricos. Nunca fomos indivíduos realmente mais gente, formando uma comunidade global.egocêntricos, a não ser Robinson Crusoé. Fazemos As trocas de informações em nível mundial pelos entrevista com Ervin Lásló 13
meios de comunicação modernos exercem gran- Se conseguirmos sobreviver, sim! Mas não é umade papel nisso tudo. Nossa sociedade tornou-se evolução ou um desenvolvimento automático.pouco a pouco mundial. O problema é que ainda Não, para essa evolução não existe garantia!reagimos com uma consciência tribal, muitas vezesde tendência totalmente chauvinista. Em se tra- Seria uma questão de escolha que temos detando de uma cidade, de uma etnia ou de um país, fazer?baseamo-nos no princípio de que “fazemos par- Na qualidade de homens conscientes temos o po-te” e que são “os outros” que ocupam o resto do der de julgar nossas possibilidades e fazer escolhasmundo.Agora isso já não é possível, porque tudo deliberadas. Portanto, podemos deixar de exercero que fazemos se volta contra nós, o que fazemos uma racionalidade muito estreita fundamentadaaos outros fazemos a nós mesmos. Para que viva- em nosso mental intricado. Devemos adquirir umamos numa comunidade como a sociedade mundial, racionalidade holística pensando na coesão de tudodevemos desenvolver uma espécie de unanimidade. no universo, no sistema vital inteiro onde existi-Essa aldeia global nos diz respeito porque é a co- mos. O universo é uma totalidade viva que evoluimunidade de todos os seres humanos, a comunida- sem cessar. É um todo coerente do qual fazemosde de todos os que vivem nesta terra! E, até certo parte, mas se não o compreendemos, aconteceponto, é uma comunidade que conhecemos muito então uma ruptura entre ele e nós, o que é muitopouco: a unidade de toda a vida no grande uni- perigoso para nós! E para o próprio planeta!verso. Ela existe, mas não possuímos informaçõesdetalhadas a esse respeito. O senhor já estuda esse tema há mais de dez ou vinte anos.Se fizermos a escolha certa, o senhor enxerga a Na verdade já são quarenta e cinco anos. Meu pri-possibilidade de uma evolução levando a consci- meiro livro foi publicado em Haia em 1953.ência individual a uma consciência planetária, etalvez mais longe, a uma consciência cósmica? Após todo esse tempo, considerando-se que estamos nos aproximando rápido de uma situa- Ervin László ensinou Filosofia, Teoria de Sistemas e ção presumidamente caótica, o senhor continua Futurologia em Yale e Princeton. Foi diretor do programa otimista em relação à mudança de consciência? do Instituto de Formação e Pesquisa das Nações Unidas Porque como ela deve acontecer ainda é uma (UNITAR), fundou e preside o Clube de Budapeste, onde questão aberta. artistas, cientistas e pensadores de ponta dedicam-se a Tenho esperança. Não sou nem otimista nem um mundo melhor. Entre os membros do grupo estão o pessimista, tento continuar sendo um ativista. Ou Dalai Lama, Václav Havel, Mikhail Gorbachov e Desmond melhor, procuro ater-me à palavra “possibilidade”. Tutu. O slogan que acompanha as eleições presidenciais nos Estados Unidos resume o meu ponto de vista: David Bohm, 1917-1992, baseava-se no princípio de que “Podemos chegar lá!” a matriz ou o plano universal – seu espírito primordial – estava presente desde que o mundo surgiu. O desdobra- E é por isso que este congresso acontece aqui, mento do universo e toda a evolução que se seguiu repre- hoje. sentam um processo de reações interativas baseado numa Ele está voltado para o individual, o “fator huma- informação ativa. A visão de Bohm se espelha também na no”. O dinheiro e a política são coisas importantes sociedade e na transformação da consciência humana. assim como a tecnologia e o poder, mas os valores individuais são a chave do negócio. Ainda é o que há de mais importante: pois a tecnologia e a políti-14 pentagrama 5/2008
Progressivamente constituímos umasociedade mundial, mas nossas reaçõescontinuam de uma agressividade tribalca seguirão o fator humano sempre, é obrigatório. relação à sua inquietude sobre a questão daEinstein disse um dia:“Não podemos resolver pro-blemas com o mesmo tipo de pensamento que deu terra?origem a eles”. Pode-se aplicar as melhores tecno- Com certeza ele se tornou mais consciente doslogias, no entanto se você permanece preso às sua problemas do planeta. No sentido do primeiroantigas formas de pensar, apenas conserva a antiga impulso, que aconteceu em 1972 com o primeirocultura e o sistema ultrapassado, e não muda nada. relatório do Clube de Roma. Ninguém falou dos problemas planetários, apenas se falou da liberdade,Como o senhor enxerga atualmente o ano de da política, da justiça econômica e outras ques-2008? Estamos caminhando para a massa crítica tões do gênero. Os problemas da humanidade nãoque desencadeará a grande mudança? foram abordados. Eles surgiram nesses dois últimosJá nos encontramos em uma “janela caótica”, uma anos e foram colocados seriamente em evidência.janela, uma abertura no tempo.Acredito conseqüen- Em relação a eles, podemos falar de uma progres-temente que todas as escolhas críticas são possíveis. são exponencial da consciência! µDevemos tornar-nos sobretudo mais conscientesda mudança climática e do aquecimento da terra.É o que está mais visível atualmente. No entanto,falta resolver também os problemas concernentes àsnecessidades de alimentação e água, ao aumento dasdoenças, à superpopulação nas cidades e à pobreza.A mudança climática, pelo menos, já tem atraídoamplamente a atenção da mídia.E o senhor percebe alguma mudança? * O campo A é o campo do Akasha, o campo sutil da “informação noÉ preciso ter consciência de que, do jeito que está,o mundo não pode sobreviver. E é importante nível quântico”, capaz de mudar as consciências. Cf. Ervin Lásló, O campocompreender que o tempo de que dispomos émais curto do que pensamos. É bem capaz que em do Akasha, memória do cosmo e da consciência, Deventer, 2007.dez anos possam acontecer mudanças essenciais; émesmo possível que até o final de 2012 tenhamosmudado em relação ao uso da água, do ar, do soloetc.Ao longo desses quarenta e cinco anos, o se-nhor verificou uma mudança no público em entrevista com Ervin Lásló 15
unidadeOs gnósticos dos primeiros séculos tentaram compreender esse mistério, que é bem mais antigo que a própriahumanidade, na criação, em si mesmos e nasabedoria primordial egípcia. Aliás, a perguntajá encerra em si o fato de que o imperfeitosurgiu do perfeito. Os gnósticos, pensadoressutis, bem sabiam que ninguém encontra aresposta a essa pergunta com a cabeça e a razão.A razão é bem posterior ao processo de criaçãono pleroma. Trata-se de um ponto que fazapelo a uma sabedoria que transcende em muitoo pensamento dual. A essa imensa sabedoriainterior esses pensadores deram o nome deGnose. Ela desenvolve-se no homem quandoem sua consciência se reflete a profundeza daorigem divina. Quem se voltar para ela receberáuma resposta – primeiro sob a forma de impul-sos indefiníveis, intuições ou visões fugidias queàs vezes chegam com mais clareza. No final dascontas, se nos orientarmos interiormente parao Espírito, se penetrarmos suas profundezasinsondáveis, a Gnose, o “conhecimento do cora-ção”, nos acolherá, nos envolverá e “saberemos”,“conheceremos como somos conhecidos”. E issoé a libertação, o segredo da Gnose. O mundo dopleroma torna-se, então, uma realidade viva; ohomem de luz, o Adão Cadmon, nos admite enós “ressuscitamos nele”. Auguste Rodin. O Segredo. Duas mãos se juntam em total liberda- de e parecem dançar uma para a outra (1907).16 pentagrama 5/2008
e dualidade Como explicar que o perfeito, o pleroma, tenha dado origem ao que é imperfeito? Aí está uma pergunta que é tão velha quanto o mundo. Nos textos de Nag Hammadi, encontramos traços desses impulsos e dessas experiências. Não são exposições doutrinárias: se alguém achasse isso, eles continuariam sendo ininteligíveis. São tentativas de nos dar algumas visões, para trazer-nos esclarecimentos e indicar o caminho a ser percorrido: um caminho realmente impos- sível de ser descrito. Originalmente, essas visões eram transmitidas unicamente por via oral. A imagem interior penetrava a alma dos jovens que eram receptivos a ela por meio de uma relação interna entre mestre e discípulos. Era por transmissão que a visão captava o discípulo, e era assim que as forças construtivas agiam em todo o seu ser. Os grandes mestres gnósticos descreviam a evolução do pleroma, que acontecera há muito tempo, antes das narrativas bíblicas sobre a criação. Trata-se de acontecimentos que se passaram nas esferas divinas espirituais, que transcendem qualquer forma. Graças a uma reflexão profunda acompanhada de intuições, aprofundando-se no assunto com o pensamento criador, ou melhor, deixando novamente que o Espírito criador pensasse em seu interior, eles recebiam a capacidade de extrair os princípios que fundamentaram a criação. Repouso e movimento: os dois princípios primordiais A fonte original, desconhecida, insondável e sem nome contém os dois princípios de tudo o que existe: o repouso e o movimento. Jesus diz a seus discípulos: “Se unidade e dualidade 17
No processo da criação que os coloca face a face, suaunidade imanente os envolve, os apanha…alguém perguntar qual é o sinal de vosso Pai Imediatamente essa luz se manifestou como umque está em vosso imo, dizei que é ao mesmo homem andrógino imortal. Seu nome mascu-tempo repouso e movimento”.1 Essas são as duas lino é ‘Consciência Perfeita Desperta’. E seucolunas sobre as quais repousa a criação. Elas nome feminino, ‘Sophia Geradora Onisciente’”.4são o vazio e a plenitude, o nada e o tudo. É do Essa visão do homem espiritual primordial tam-repouso que procede a mais elevada emanação. bém encontramos na Cabala judia sob o nomeEla se parece com uma expiração, uma força de Adão Cadmon. Trata-se do homem espiritual“vertical” no interior da unidade. Falamos então supremo, o homem de luz único, a contrapartidado caráter masculino da divindade: Deus-Pai. O do ser humano atual. Este último, como sermovimento contém um segundo pólo: humano natural, dividiu-se, fragmentou-seuma força receptiva. O alento que é exalado, infinitamente em uma imensidade de universoso pneuma, é captado por uma força formadora e já não passa de um nada. Como ser espiritual“horizontal” que exprime o aspecto feminino e primordial ele continua na unidade divina eeterno de Deus: Deus-Mãe. Os gnósticos falam contém em si todos os universos, que são comoda Sophia, ou da Barbelo, que é a “força do que seu corpo.Universo que vai se demonstrar”.2 O princípio O homem primordial gerou inúmeros seresespiritual original da matéria, a força da Mãe, divinos, que os gnósticos chamam de “éons”,a atividade espiritual superior, a atividade do ou eternidades. Eles assemelham-se a camposcomeço de tudo, que designa o Pai-Mãe divino: de força luminosos, a esferas ilimitadas. Seuso movimento que existe no interior do repouso, nomes são, por exemplo: verdade, vida eterna,a dualidade que se revela na unidade. sabedoria, providência, vontade, comunidade,“A Barbelo olhou com insistência para o Pai, paz, imutabilidade, inteligência, percepção. Ema Luz pura, voltou-se para ele e concebeu uma nosso mundo essas palavras não passam de con-centelha radiante. Esse recém-nascido, surgido ceitos abstratos, mas no pleroma são entidadesdiante do Pai, era o Unigênito divino, a primei- vivas. Podemos definir assim: sons primordiais,ra centelha do Universo, nascido do Espírito da vibrações, números, raios luminosos, vibraçõesLuz pura.”3 de amor... Em sua totalidade eles constituem aEm um texto de Nag Hammadi, lemos: plenitude do mundo divino.“Antes do universo ilimitado, o primeiro amanifestar-se foi o Pai, que se criou a si mesmo, E o pleroma transbordou O reino da per-constituiu-se a si mesmo, preenchido por feição completou-se quando fez surgir tambémcintilante e indizível luz. No início da luz ele as trevas. O escuro, o distante de Deus, faz partedecidiu assumir uma imagem de grande poder. dos segredos da criação. O tornar-se consciente18 pentagrama 5/2008
intencionado não é possível sem as trevas. A dos que estavam em uníssono com ele.plenitude da luz apenas se revela quando existe Como ela já não pudesse anular seu pensamento,um estado que não lhe corresponde,5 quando sua obra tornou-se evidente: era imperfeita ehá obstáculos a serem vencidos, a fim de que feia, porque ela a criara sem seu companheiro.”6a plenitude seja vivenciada. Assim, o pleroma Foi assim que se fundou nosso mundo imperfei-lança uma sombra e tem um “lado exterior”, to. Da “pequena Sophia” afluiu uma imagem.uma escuridão, que é tão insondável quanto a Poderíamos dizer que a corrente de amor daluz. luz saiu dos limites do pleroma, que o pleromaComo é possível que uma ordem mundial se transbordou, que o aspecto feminino, que é aforme dentro da escuridão? Como o nosso matéria espiritual, jorrou nas trevas de sombrasmundo surgiu? É nossa imperfeição um efeito impenetráveis. Encontramos uma imagemcolateral inevitável do pleroma? Como pôde comparável a essa no Evangelho de Tomé: “Osurgir uma consciência racional que confunde reino do Pai é como uma mulher que trazia umtrevas com luz? A explicação disso está na vaso cheio de farinha. Ela havia percorrido umpressuposição de que no decorrer da criação longo caminho, e o vaso se trincou, e a farinhase produziu uma perturbação: uma ruptura da foi escorrendo atrás dela, e ela nem percebeu…colaboração harmoniosa entre as forças cósmicas Quando chegou à sua casa, colocou o vaso nomasculinas e femininas. Mas qual foi a causa, chão e viu que estava vazio.”7o princípio disso? Na seqüência das criações Essa emanação da “pequena Sophia” aconteceusurgiu um éon cuja consciência não possuía a sem a orientação do aspecto masculino, quepureza original. Os gnósticos chamaram-no de dá a direção, a estrutura e está voltado para a“pequena Sophia” ou Sophia inferior. Ela criou unidade. Esse fato prejudicou o princípio fun-uma forma sem a cooperação de uma corrente damental da produção e da geração do pleroma.cósmica masculina: Produzindo uma imagem que era o reflexo de si“Entretanto, nossa irmã, a Sophia, o décimo mesmo, o aspecto feminino substituiu o aspectosegundo éon, começou a desenvolver um pen- masculino divino. Na Epístola de Pedro asamento por si mesma. Assim como o Espírito Filipe, lemos que é então que surge a arrogânciae o conhecimento primordial, ela quis criar por (Authades). A “pequena Sophia” ainda nãosi sua imagem, embora sem o consentimento possuía o conhecimento perfeito, a Gnose, quedo Espírito, que não concordara com ela. Seu estava guardada para ela na esfera mais elevada.consorte, o Espírito masculino, também não Assim, ela continuou inconscientementeconsentira. Ao proceder assim, não encontrou sua atividade formadora, sem reconhecer aapoio nem complacência da parte do Espírito e separação. Por isso, ela perdeu toda a sua força. unidade e dualidade 19
A flauta mágica de Mozart, representação moderna de Riccardo Muti e Pierre Audi com Anna-Kristiina Kaapola como a Rainha da Noite (Festival de Salzbourg, Hans Jörg Michel).Nisso reside também a origem do egocentrismo, O movimento primordial supremo da divindadeque continua a agir inevitavelmente em nosso contém em si o chamado para subir e voltarmundo. ao Pai. Esse chamado propagou-se até a mais profunda das profundezas tenebrosas. QuandoNascimento do mundo criado pelo Ialdabaoth declarou: “Se há alguém antes de mim, que ele se revele a fim de que possamosdemiurgo Não havia lugar no pleroma para ver sua luz”, nesse momento, o “primeiroa criação imperfeita da “pequena Sophia”. homem”, o filho divino, desceu como um re-Assim, uma poderosa criatura surgiu do mundo lâmpago de luz nas trevas. Sua imagem brilhoudas trevas: Ialdabaoth ( Jeová). Por causa do de repente sobre as ondas do Caos. E é segundotransbordamento da força de luz, ele tornou-se a imagem desse “Adão de luz” que Ialdabaotho deus criador de nosso mundo. Ele criou uma e seus poderes criaram a figura do homemgrande hierarquia de anjos, de poderes e de terrestre. Sua forma e sua alma pertencem aopotestades, nas quais, como nele mesmo, se mundo do demiurgo, mas o que está no maismisturavam luz e trevas. Em certos textos de recôndito de seu ser provém do pleroma: neleNag Hammadi é enfatizado que a vontade da vive um elemento de luz do homem primordial.divindade suprema os englobava a todos, pois A “pequena Sophia”, assim é dito, insuflou naapenas mediante a imperfeição “sua inconcebível forma terrestre o alento espiritual do pleroma.10bondade poderia manifestar-se”.8 “Mas é pela A descida do Logos nas trevas assim comovontade do Pai do Universo que eles vieram a o alento do Espírito transmitido ao homemser assim, à imagem das coisas do alto, a fim de terrestre nos indicam que uma parte da ondaque o caos chegasse à sua totalidade.”920 pentagram 3/2008
Incluído na Unidade divina, o homem de luz éa expressão do universo inteiro.de vida humana original mergulhou nos corpos perdidos no grande universo da matéria, somosterrestres. Em primeiro lugar surgiu o Adão chamados para reconduzir a “pequena Sophia”terrestre naquilo que chamamos de “estado à sua origem, à restauração da unidade entreparadisíaco”: ele era um andrógino. Depois, a ‘Consciência Perfeita Desperta’ e a ‘Sophialogo que a materialização progrediu, houve a Geradora Onisciente’. Podemos permitir que oseparação dos sexos. No plano material, isso foi homem primordial ressuscite em nós. Valentino,a continuação do que havia se passado com a a quem é atribuída a autoria de O evangelho da“pequena Sophia”. verdade, teve a visão de uma criança recém-Assim, a perturbação ocorrida na colaboração nascida. Ele perguntou: “Quem és?”, e a criançadas duas correntes cósmicas masculina e femi- respondeu: “Sou o Logos.”12 µnina está na raiz de nosso mundo. E tambémestá claro que a restauração dessa unidade é asalvação. Está escrito no Evangelho de Tomé:“[…] quando unificardes o macho e a fêmea demodo que o macho já não seja macho, e a fêmeajá não seja fêmea… então entrareis no reino doscéus.”11Da dualidade à unidade Estas palavras Fontesde Novalis, que provêm da sabedoria antiga, 1 Evangelho de Tomé, logion 50.são também formuladas por Mozart na Flauta 2 O livro secreto de João. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006.Mágica: “Homem e mulher, mulher e homem 3 Idem.se elevarão juntos até a divindade”. Qualquer 4 Citação segundo Slavenburg, J., Ein Schlüssel zur Gnosis (Umapessoa que receba da Gnose a possibilidade chave para a Gnose), Birnbach: DRP Rosenkreuz Verlag, 2003.de percorrer o caminho de libertação está 5 Idem.preparada para vencer a “Rainha da Noite”, que 6 O livro secreto de João. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006.é o aspecto feminino decaído: o mundo. Em 7 Evangelho de Tomé, logion 97.nosso interior, do elemento de luz, pode nascer 8 A Sophia de Jesus Cristo.uma alma que unirá, em si, as duas correntes: a 9 A essência dos arcontes.cabeça e o coração, Tamino e Pamina. 10 Da origem do mundo.Essa alma nasceu de outra mãe, que é a mãe 11 Evangelho de Tomé, logion 22.sagrada, Ísis. É ela que celebra na alma as 12 Quispell, G., Valentinus de gnosticus en zijn Evangelie de Waarheidnúpcias místicas, a união de Ísis com seu (Valentino, o gnóstico, e seu Evangelho da Verdade), Amsterdã:parceiro divino, Osíris. Nós, que parecemos Pelikaan, 2003. unidade e dualidade 21
uma dança criadoraO princípio fundamental da criação divina consiste em uma “dança” das correntescósmicas masculinas e femininas, no curso da qual os dois princípios eternos primeirose aproximam um do outro e se atraem mutuamente. Depois, em um movimento plenode amor, dão espaço um ao outro, para, por fim, unirem-se e criar, mediante oferenda eabandono mútuos, algo de novo.Os processos biológicos de criação seguem para deduzir que o movimento mediante o qual também o ritmo dessa dança, embora obe- se realiza o processo de criação biológica se asse- deçam leis da natureza. Em nosso mundo li- melha a uma dança. O óvulo, visível a olho nu, temmitado, o que damos com amor também é limitado, o tamanho aproximado de um grão de areia. Ele ée dar espaço ao outro muitas vezes significa rejeitar o composto de grande quantidade de líquido celular,outro. o citoplasma, e de um largo espaço aberto. Em ge-O processo de desenvolvimento interior da nova ral, um óvulo é liberado a cada ovulação.alma segue também esses ritmos primordiais, em seu Por outro lado, os espermatozóides são produzidospróprio nível vibratório pleno de elevação e alegria. aos milhões ao mesmo tempo, mas na proporção deAqui também observamos diferentes fases criado- sessenta milhões de espermatozóides para um óvu-ras durante as quais, em razão da tensão entre os pólos lo. Eles são quase exclusivamente formados de ummasculino e feminino, o antigo dá lugar ao novo, por- núcleo celular e de uma cauda que permanece emque é pela incessante união purificadora, ou “núpcias movimento constante, enquanto o óvulo é passivo,alquímicas”, dessas duas correntes que algo de novo é ele que é movimentado. O encontro entre o óvu-pode efetivamente manifestar-se: o início de uma vida lo e o espermatozóide acontece na trompa de Fa-inteiramente nova em uma espiral superior. lópio. Os materiais bioquímicos tanto do óvulo quan-A gênese do ser humano Basta observar a forma to da trompa de Falópio conduzem os espermato-como o óvulo e o espermatozóide são constituídos zóides de modo bioquímico-magnético na direção22 pentagrama 5/2008
correta.A atividade do óvulo torna-se visível na co- são, digamos, abandonadas, a fim de formarem, me-rona radiata (coroa radiada) dentro das células nu- diante uma fusão, uma nova unidade. É assim quetritivas que envolvem o óvulo. Os espermatozóides literalmente se inicia a reencarnação: um microcos-que estão em volta do óvulo transformam-se sob a mo faz-se carne outra vez.influência dessas células nutritivas perdendo sua ca-mada exterior. A influência dos hormônios A aparição, porA camada exterior do óvulo também muda bioqui- divisão celular constante, do âmnio, do cordão um-micamente na presença dos espermatozóides que se bilical e da placenta é literalmente miraculosa, as-movimentam formando uma estrela em torno do sim como a aparição do embrião, depois de algunsóvulo. Uma dança de várias horas começa: cerco, dias, para a formação de um cotilédone graças aosrecuo, atração, rejeição... Até o momento da esco- processos de invaginações.lha do espermatozóide que terá acesso ao óvulo. Então, quando o ser humano nasce, sua energiaO espermatozóide e o óvulo abandonam suas ca- anímica volta-se para o exterior: ele “exprime” seuracterísticas próprias e tornam-se uma nova uni- ser.Acontece o inverso com o embrião, que, emdade.A antiga imagem do espermatozóide pene- certo sentido,“imprime” seu ser.Assim cresce atrando o óvulo para realizar a fusão dos núcleos é forma.então, inexata, porque trata-se muito mais de uma É durante a quinta semana aproximadamente quedança que é realizada em conjunto durante a qual começa a formação das glandes genitais, que, noas características celulares feminina ou masculina início, são idênticas. Somente na oitava semana, sob uma dança criadora 23
Matisse. Polinésia, o céu, 1954.a influência do hormônio masculino chamado tes- dades hormonais: os espermatozóides e os óvulostosterona, é que os órgãos genitais se desenvolvem amadurecem, e o ser humano adquire a faculdadeem direção ao exterior, determinando o apareci- de procriar.mento das características masculinas. Se essa influ-ência hormonal não acontece, são os órgãos geni- A periodicidade dos sete anos Durante os setetais internos que se desenvolvem.As características primeiros anos de sua vida, o espírito central da jo-femininas se desenvolvem, então, sem uma influên- vem criança constrói o corpo físico. É nessa fasecia hormonal específica. No início, os órgãos geni- que ouvimos dizer:“Ah, como essa criança cres-tais externos se formam do mesmo modo nos dois ceu!” O desenvolvimento acontece de repente, esexos. Sua diferenciação tem início a partir do se- a cada estado a criança aprende algo de novo. Ogundo mês. corpo vital da criança não pode ainda tomar con-Fato interessante é que os chamados hormônios se- ta de seu corpo físico, razão pela qual ela dependexuais (andrógenos e estrógenos) se encontram tan- do meio cheio de afeição dos pais e dos que cui-to no organismo masculino como no feminino.Até dam dela.a idade de oito ou nove anos, a taxa de andróge- Enquanto seu próprio corpo etérico não está sufi-no e estrógeno fica estável em um nível mais bai- cientemente desenvolvido, a criança vive principal-xo. Depois, a hipófise começa a secretar hormônios mente do campo etérico das pessoas que a cercam.ativando os processos de transformação. Os órgãos Nós sabemos que o corpo etérico masculino é po-genitais externos se formam progressivamente no larizado positivamente, os músculos são mais desen-decurso de muitos anos, sob a influência de ativi- volvidos e capazes de esforços físicos dinâmicos. O24 pentagrama 5/2008
corpo físico feminino é polarizado negativamen- surgimento de uma elevada idéia do amor. Impul-te, isso significa que as forças são concentradas para sionados pela atividade dos hormônios, os dese-poder dar à luz uma nova vida. É durante os três jos sexuais relativos ao outro se revelam, sobretudoprimeiros anos de vida de uma criança que apa- no rapaz, cujo corpo de desejos é polarizado posi-recem as conexões básicas decisivas no cérebro. O tivamente, fortalecendo a vontade de passar a agir.fundamento do futuro poder mental se estabelece. O fundamento dessa vontade é, nele, um elementoO corpo etérico, que dá o calor vital e o poder de que está sob a influência de Marte. O sangue mas-perpetuar a espécie, gera forças vitais em abundân- culino contém mais glóbulos vermelhos, mais fer-cia. Essas, após atravessar o corpo físico, irradiam ro, que o da mulher. Esta por sua vez, tem o corpoem todas as direções como raios que partem do de desejo polarizado negativamente, o que a tornacentro de um círculo em direção à sua circunferên- mais receptiva às influências deVênus, e seu sanguecia. O corpo etérico atinge a maturidade entre o contém mais cobre, metal condutor o que lhe pos-sétimo e o décimo quarto ano aproximadamente. sibilita dispor de maiores qualidades sociais. A fase da formação do corpo de desejos é o mo-Durante esse segundo período de sete anos, as for- mento em que procuramos exprimir-nos volunta-ças vitais já não são absolutamente necessárias para riamente e nos afirmamos em nosso meio. É muitas“coordenar” as funções autônomas do corpo físico. vezes um período de revolta, é também a procuraProgressivamente, a criança desprende-se da prote- de algo que sentimos como uma falha na constru-ção familiar e conquista um meio social mais am- ção de nós mesmos: um parceiro, por exemplo. Éplo. Durante esse período, é o fundamento do futu- ao mesmo tempo a fase da orientação e da forma-ro poder de sentir que se estabelece. O corpo vital ção profissional assim como, dos projetos para o fu-da jovem começa a exprimir seu pólo positivo, di- turo.nâmico, enquanto o corpo vital do jovem será ne- gativo, portanto receptivo. A partir do vigésimo primeiro ano, podemos di- zer que o corpo mental se edifica: nossas idéias so-Os ideais da adolescência A partir do déci- bre o mundo e sobre nós mesmos se estruturammo quarto ano, aproximadamente, se forma o cor- plenamente. Em geral, durante essa fase, constituí-po emocional, ou corpo de desejos. Por influên- mos nossa família, e nossa profissão se desenha cla-cia desse novo corpo os jovens experimentam uma ramente.importante fase de transformações físicas e psí- Depois, no decorrer dos períodos dos sete anos se-quicas conhecida como adolescência.As altera- guintes, continuamos a construir sobre o que foições comportamentais são incalculáveis, mas algu- realizado durante os três primeiros períodos. Nu-mas se manifestam pelos valores fundamentais e merosas crises pessoais interpõem-se, oferecendoindeléveis que representam, como a busca dos ide- inúmeras possibilidades de tomada de consciência eais pelos quais eles podem orientar sua vida e pelo conduzindo a uma profunda reflexão. uma dança criadora 25
No decorrer dessa dança a almapurifica-se pouco a poucomudança interior: fase de reorientação sentimento de inutilidade e tem a impressão de definhar, de se ver desmoronar. Mas, nessa fase, po-Certamente se, durante essa fase, o coração perma- demos também tomar claramente consciência de que não temos de procurar o que nos falta em ou-necer aberto, os impulsos do campo de vida ori- tro alguém, mas sim dentro de nós mesmos.ginal procurarão entrar em ligação ativa com ele. A dança no ritmo da harmonia divina Para cada vida humana, o processo que vem a ser deli-Graças a essa ligação com o campo superior, as neado desenvolve-se no plano horizontal e bioló- gico do corpo. E o fim desse desenvolvimento, sejaforças do Espírito tomam o sistema natural com a como for que ele se desenrole, é sempre a morte. Mas nós podemos ultrapassar esse processo bio-esperança de que, em dado momento, a persona- lógico. Uma nova criação é possível, uma cria- ção que permite desenvolver uma alma inteira-lidade natural se submeta ao campo espiritual. No mente nova! O ponto inicial desse processo ocorre quando um impulso espiritual divino toca a almadecorrer do sétimo período de sete anos, do qua- e a penetra. Então, uma nova alma nasce. Ela vol- ta-se para a natureza superior e começa a pressen-dragésimo segundo ao quadragésimo nono ano, os tir seu destino divino, cheio de bondade, de bele- za, de pura verdade. Quem não gostaria de seguirhormônios mudam. No homem a taxa dos hor- semelhante destino? Como em uma dança, nossa alma segue os impulsos divinos em uma incessan- mônios sexuais declina a te sucessão interior de trocas, reviravoltas e realiza- ções interiores. Assim, de acordo com a melodia deFontes partir dos 35 anos. Esse de- nossa vida individual, é dado espaço à união íntima com o divino. Durante essa dança, a alma purifica-Rijckenborgh, J.v., Filosofia clínio produz-se um pouco se cada vez mais. A melodia da vida inferior ego- cêntrica fica em segundo plano. As ondas ritmadaselementar da Rosacruz mais tarde na mulher. da harmonia divina, às quais a alma se confia e pe- las quais se deixa guiar, levam-na ao dia abençoadomoderna. Jarinu: Editora Essa mudança hormonal da luz, às núpcias alquímicas em que se une com oRosacruz, 2003. acontece mais ou menos rá- Espírito. Dessa união nasce a nova criação, o novoRijckenborgh, J.v., As pida e harmoniosa e afeta homem de luz, com um corpo novo transfigura-núpcias alquímicas de tanto homens, a andropau- do, que se desenvolve em toda sua glória em umaChristian Rosenkreuz, t.2. sa, quanto mulheres, a me- dança eterna µSão Paulo: Lectorium nopausa. Essa fase de mu-Rosicrucianum, 1996. dança caracteriza-se muitasArchiati, P., Kunstwerk vezes por crises violentas eBiographie (Biografia também por uma fase de re-como obra de arte). orientação da vida, de ques-Bad Liebenzell: Archiati tionar: Estamos realmenteVerlag, 2006. satisfeitos com o que rea-Voss, H. e Herrlinger, R., lizamos até aqui? É aindaTaschenbuch der Anatomie, possível dar outro sentido à(Manual de anatomia), nossa vida? Se a pessoa quevol. 4. Munique: Urban & envelhece não pode ou nãoFischer, 1989. quer aceitar que as forças dawww.embryo.nl – Página procriação se retiram, muitasdo embriologista Jaap van vezes ela é invadida por umder Wal.26 pentagrama 5/2008
o amor que salvaC omo falar de amor da As mães de maneira correta se te família indianas esquecemos? tradicionalmenteDeus de amor, de quem emana executam belastodo o amor no céu e na terra, decorações no chãonada reténs e tudo doas com de suas casas comamor. farinha de arroz.Tu, que és amor, de modo que Elas praticam essaum homem amoroso apenas é o arte, chamadaque ele é em ti. “Rangoli”, paraComo falar de amor da maneira celebrar a colheitacorreta se te esquecemos? que, mais uma vez,Deus de amor, mostras clara- assegura a vida.mente o amor, tudo doas pararedimir-nos.Como falar de amor da maneiracorreta se te esquecemos?Espírito de amor, nada tomas dos teus e lembra-nos a única oferenda deum homem crente: amar como é amado e amar o próximo como a simesmo. […]Na vida dos seres humanos há apenas poucos atos que podem serdenominados verdadeiros atos de amor, verdadeiras obras de amor.Porém, na vida original não é adotado nenhum ato que, em verdadeiraautonegação, não seja um ato de amor provindo da necessidade do pró-prio amor e, por isso mesmo, sem exigência alguma de mérito.Segundo Sören Kierkegaard, O que o amor faz. o amor que salva 27
o significado “A verdadeira salvação é per- mitir o renascimento de nossa vida individual no verdadei- ro amor, na imortalidade. O homem enquanto indivíduo apenas pode alcançá-la de ma- neira coletiva, com outros.” [
V ladimir Soloviev (1853-1900) foi um dos nenhuma voz, nenhum ser domina nem suprime maiores pensadores da Rússia e também de os outros, mas simplesmente atinge “no outro” a todo o povo eslavo. Sua obra eclética con- plenitude do ser. tém, ao lado de escritos muito conhecidos como Soloviev distingue, com perspicácia, duas espé- As três entrevistas e Breve conto sobre o Anticristo, cin- cies de unidade completamente opostas, o que faz co ensaios sobre O sentido do amor (1892-1894) bem dele um pioneiro em estabelecer o limite entre o como suas notáveis obras filosóficas. mundo terrestre e o divino. De acordo com ele, na Soloviev preocupava-se em compreender de ma- unidade universal positiva e verdadeira o indiví- neira profunda o amor entre o homem e a mulher duo não existe à custa de todos, mas sim para o e em sondar seu sentido filosófico. benefício de todos. Em contrapartida, a unidade Por um lado, amar e ser amado é o que desejamos universal negativa e errônea oprime e absorve os o mais profundamente possível; mas ao mesmo elementos que nela ingressam e permanece, por- tanto, essencialmente “vazia”. A unidade positiva tempo é o que há e verdadeira mantém, alimenta e fortifica seus ele- mentos individuais, manifestando-se neles comodo amor de mais inexpli- “plenitude do ser”. cável e misterio- Soloviev é realista o bastante para ver o estado de so. Examinando “queda” da humanidade de hoje, que ele atribui o fenômeno do à unidade negativa, na qual estão contidas muitas amor, o pensador idéias fragmentárias que perderam a ligação com defronta-se com os limites da sua compreensão e a totalidade e, sobretudo, que, por sua pretensão da sua impotência em explicá-lo. É justamente esse à exclusividade, corrompem seu valor verdadeiro. paradoxo que estimula seu interesse e suas interro- Esses fragmentos de idéias entram continuamente gações. em conflito uns com os outros e mantêm a hu- manidade num estado de desarmonia espiritual. O amor e a livre unidade universal O ho- Para Soloviev, a missão do homem é dar interior- mem é uma entidade que possui interiormente uma idéia mente lugar à idéia “de livre unidade universal”. divina, a unidade universal, ou seja, a absoluta plenitude Cada ser humano deve ser considerado essencial e do ser. A reflexão de Soloviev sobre o sentido do insubstituível para a realização eterna da unidade amor pode compreender-se apenas no contexto universal. Sua individualidade, seu verdadeiro ser, filosófico da liberdade da “unidade universal”. Ele consiste em reconhecer sua tarefa: servir a unidade pensa que a alma humana é penetrada por uma universal, ser um órgão vital dessa unidade. Con- idéia divina que define como o conceito de unida- tudo, essa realização não pode ser alcançada pelas de universal. Ele compara a complexidade da vida próprias forças. Uma relação íntima com o Deus humana com um espesso tecido feito de camadas original e imutável é necessária aos homens para o sucessivas, costuradas com um fio divino sutil, o desenvolvimento de uma consciência livre, graças qual é visível em alguns momentos e em outros à qual eles serão capazes de se aceitar mutuamente, não. A tarefa consiste em localizá-lo e liberá-lo. com solidariedade e amor incondicionais. Mas é necessário fazer uma escolha, porque é apenas a quem deseja perceber o “fio divino” que Apego e consentimento Quem ama se sente se revela a missão divina na realidade diária. O ho- atraído de maneira inexplicável pelo outro ser, mem deve interceptar, entre mil vozes divergentes, atração que pega o amante de surpresa e suscita a singular e única voz divina. E, gradualmente, nele uma aceitação à qual dedica todas as fibras do ela instaura uma ordem entre todas as vozes e seu ser: “O amor torna-se um valor original quan- cuida para que elas se reconheçam e se respeitem. Uma interação estabelece-se, um diálogo onde o significado do amor 29
Abraxas, a força quádrupla do amorMuitos seres humanos são bastan- diferenciações, se não abranger a tudo ete sábios. Outros possuem vontade a todos, então tudo escapará de vossasinquebrantável, forte como um furacão. mãos, e não sereis bem sucedidos emOutros ainda trazem a assinatura de um nada ou tudo será retirado novamentelabor extraordinário e estão sempre de vós [...] Ninguém é bom; todos seocupados. No entanto em tudo o que desencaminharam, desde o início. Por isso,considerais em vossa sabedoria, em deveis regressar ao início, ao início do es-tudo o que quereis com vossa vontade tado de alma-vivente. Quando esse iníciodinâmica e irredutível, em tudo o que for atingido, sereis capazes de trazer ofazeis em vossa operosidade, encontra-se equilíbrio a Abraxas e seus quatro cavaloscomo base o amor? Se, na qualidade de solares em vós mesmo e fazer dimanar e atividade, o trabalho libertador único e verdadeiro no Jardim dos Deuses.mais elevado e mais poderoso, o amor desse equilíbrio o verdadeiro movimento. Rijckenborgh, J.v. O Nuctemeron de Apolônio de Tiana. Jarinu: Editoranão estiver presente ou apenas estiver Então podereis realizar, com a força quá- Rosacruz, 2003.presente parcialmente, ou ainda fizer drupla plena de amor, sabedoria, vontadedo é um ato livre, englobando e comprometendo O amor vence o egoísmo O mal do egoísmotodas as energias, pelo qual os homens se unem e existe, diz Soloviev, não porque “o homem temse abrem uns aos outros”. A noção de abertura, de tendência a superestimar-se e a conceder-se umaceitação, de “dizer sim”, tem, em Soloviev, um significado e um valor soberano, em virtude desentido decisivo. O sim à pessoa de quem se gosta seu poder de conceber a verdade absoluta”. Comdirige-se primeiro à pessoa, a aparência física. Mas essa faculdade, ele efetivamente possui um sentidoesse plano sensorial deve ser acompanhado por um absoluto, que, como indivíduo, o torna único ereconhecimento no plano moral. O fato de sentir- insubstituível. A dificuldade aparece quando elese atraído por alguém no plano físico e instintivo se considera “o centro do mundo” e recusa ao seunão constitui ainda uma aceitação. “O sim” verda- semelhante o valor capital que atribui a si mes-deiro se diz somente em total liberdade e quando mo. O mérito exclusivo do qual ele se apropriao ser amado é receptivo. No amor, quem ama re- é, contudo, apenas uma potencialidade prestes avela todo o seu ser. “Se gosto no outro somente de ser realizada: “Deus é tudo, contém a completasuas qualidades, realmente não estou unido a ele, plenitude do ser. O homem é apenas ele mesmo,porque gostar do que é bom para mim é essencial- não outro, mas pode tornar-se tudo se derrubar osmente gostar apenas de mim mesmo.” Só a relação muros que o separam dos outros. Ele pode tudo,com a pessoa amada permite conhecer o eu, o mas apenas com os outros. É apenas com os ou-eu do outro considerado o único objeto de nosso tros que pode realizar seu valor absoluto, tornar-apego, de nossa aceitação, de nosso respeito em sua se uma parte livre e insubstituível, um órgão vivo,insubstituível singularidade. Ao mesmo tempo que independente e essencial da vida absoluta”.o plano físico e moral, Soloviev vê uma dimensão Há apenas uma força, segundo Soloviev, que podeespiritual do amor entre o homem e a mulher. O extirpar o egoísmo e desenraizá-lo: é o amorfato de que os seres humanos possam unir-se pelo entre um homem e uma mulher. Quem ama éamor está fundamentado na existência de um po- arrancado de si mesmo; ele já não está centra-der absoluto e secreto. Poder dizer o “sim incondi- do em si mesmo, mas descobre o centro de suacional” é reflexo do amor divino que nos convida: existência no outro. Encontramos essa força de“Acredita sem temor no “sim incondicional” e transformação por toda parte onde o amor real-diz este sim a quem amas”. Os três níveis do sim mente existe: o amor dos pais, o amor dos amigos,– sensorial, moral e espiritual – devem cooperar; o amor místico. Porém, é o amor verdadeiro entreé sua própria predestinação. Cada um depende do um homem e uma mulher o mais potente, porqueoutro para poder revelar-se. nele se combina um máximo de concordâncias30 pentagrama 5/2008
com um máximo de diferenças. Cada pessoa que um dos deveres de ajuda e de apoio mútuos nasamamos representa e permanece um encontro diversas situações encontradas. O potencial dacom um “sujeito” intrínseco. Cada pessoa é por- imagem ideal pode, então, ter a oportunidade detadora, como nós, de um núcleo essencial que, no desenvolver-se.entanto, ela percebe diferentemente, à sua manei- Soloviev propõe a idéia de que apenas a forçara, de modo que cada expressão de nosso ser deve divina nos confere o poder do amor incondicio-encontrar nela uma expressão correspondente, nal. Quem pode ver alguém sob uma luz idealmas não idêntica. Como é possível integrar-se à e o ama apesar do que há de imperfeito e instá-existência de outros seres sem, assim, extingui-los vel, gosta daquilo que Deus sempre gostou nessaou extinguir a si mesmo? pessoa. Assim, nele age e vive o amor de Deus. É por isso que, no amor entre um homem e umaA descoberta da imagem de Deus Sabemos mulher, acontece algo que excede de longe o po-todos como são efêmeros os sentimentos do amor der humano: a força do amor divino provoca umapassional. A fase inicial de estar apaixonado é logo metamorfose essencial do ser humano µseguida de desilusão. Soloviev opõe-se, no en-tanto, ao amor passional em seus ensaios, qualifi- Fontescando-o de ilusão, de erro. De acordo com ele, apessoa que ama tem certeza direta, logo no início Soloviev,V., O significado do amorda atração magnética, de ver realmente no outrouma coisa que alguém que não ama não pode Casper, B., Liebe, Munique, 1973, p. 856ver. Ela vê na pessoa amada “uma imagem deDeus”. Vê no outro o potencial secreto de poder Wenzler, L., Leidenschaff die Glaube wird, ensaio XIX, Hamburgo, 1985corresponder a Deus! E nessa premonição, nessavisão intuitiva do outro sob uma forma realmentedivina, quem ama recebe a idéia de uma promessae de uma missão. Começará por experimentarisso, primeiro, como uma experiência passiva; emseguida, deixará tomar forma, em si mesmo e nooutro, essa imagem remota de Deus “de maneiraativa”.Nisso ele pode incorrer em dois graves erros. Sequem ama aplica sobre o outro uma imagem ideale não vê as suas qualidades e possibilidades indivi-duais, então se segue uma interpretação egocên-trica da relação amorosa. Então, a pessoa apaixo-nada faz do outro a sua própria criação, projetasobre o outro uma imagem ideal da sua própriaconcepção. Para Soloviev trata-se então, apenas da“manifestação agressiva de um amor egocêntrico”.Se, desde o começo, alguém nega essa imagemideal percebida pelo outro, ou mesmo a tornaridícula (o amor é cego!), esse avanço em to-tal confiança pode ser de grande auxílio. É este o significado do amor 31
o ritmo damanifestação universalO amor é um fogo, uma força do coração. Mas o ódio também é uma força ígnea que causa danose destrói. O coração humano mantém-se entre essas duas correntes por um longo tempo, atéperceber a essência tanto de uma quanto de outra. E, assim, inspirado por um tipo de benevolên-cia neutra, ele sai, um dia, à procura da luz. No terceiro caminho, já desde o início, ele encontra oamor em sua pura essência: o ritmo da manifestação universal.texto de J. van Rijckenborgh32 pentagrama 5/2008
A ssim como o verdadeiro bem se encontra O DESapego Mas então, o que fazer? Bem, se já apenas em Deus, também o amor está não amamos nem a bondade, nem a beleza e o apenas em Deus e nenhum dos dois se ódio humanos e muito menos tentamos fugir deles,encontra no homem nascido da natureza. Eis por permanecemos em desapego na natureza dialética.que os buscadores da verdade serão bastante sábios Já não existe nada que nos ligue a ela. Cumprimospara não tentar encontrá-los onde eles não exis- nossos deveres diários sem protestos, suspiros outem e muito menos ainda reprovarão a bondade e espírito de vingança e sem resistência.Atravessamosa beleza humanas, pois o ódio queima e aniquila. a vida sombria desta natureza de acordo com oO amor também é um fogo, um fogo astral que curso de suas leis. Como não podemos negar nossose relaciona com o coração. Todo aquele que nascimento na natureza, nela cumprimos nossosbuscou o amor acaba perdendo suas ilusões e se deveres pelo fato de sermos obrigados a isso e o fa-corrige, ao passo que sua fome do único neces- zemos de cabeça erguida, sem ódio, sem fuga, semsário se purifica e se torna imperiosa. Porém, o amor. E se nos caminhos da vida encontramos umfogo do ódio, embora também seja uma radiação buscador da verdade, assim como nós, lançamos-lheastral do santuário do coração, danifica e destrói um olhar de cumplicidade.o coração. Quanto aos que estão cheios de ódio, Para onde se dirige o buscador da verdade? Elenada lhes resta. volta-se para a essência das coisas, para os fun-Há ainda uma terceira atitude que consiste em já damentos de tudo que se manifesta. Ele volta-senão esperar nem buscar o impossível, adotando- para o Bem único, que se encontra somente emse, portanto, um ponto de vista puramente obje- Deus. Então, de um só golpe, quem encontra Deustivo, praticando um tipo de benevolência neutra, e participa do Bem único já não é deste mundo!simplesmente aceitando as coisas como elas são. Quando encontramos Deus, vivemos então com todos os outros, irmãos e irmãs, no novo campo dePor isso Hermes declara: “Assim, Asclépio, isso vida, no mundo das almas.está estabelecido no tocante à bondade e à beleza huma-nas, e não podemos delas fugir nem odiá-las, porque o Um estado de ser sem sombra Na manifestaçãomais penoso de tudo é que precisamos delas, e sem elas divina impera somente o ritmo universal; ritmonão podemos viver”. que anima o mais ínfimo átomo. Esse estado deEnquanto vivemos como seres nascidos da natu- ser desconhece qualquer contraparte, não produzreza, precisamos desta vida e do que lhe é espe- sombra e reproduz a si mesmo imutavelmente.Aí,cífico. Precisamos entender o seguinte conselho: não existe bem que se opõe ao mal, beleza que senão devemos alimentar nenhum ódio ou desejo opõe à feiúra, amor que se opõe ao ódio, ilusãode vingança no que concerne ao curso da vida na que se opõe à verdade.A Gnose não possui algonatureza e muito menos devemos tentar evitá-lo. como amor, o amor não provém dela: ela é amor! o ritmo da manifestação universal 33
Em outras palavras, o amor divino não conheceorientação particular, nem luta, nem atividade. Eleexiste em si mesmo, é uma ordem mundial; ele éo mundo mesmo.À semelhança de um fole quese contrai ritmicamente, ele produz uma grandeforça.Assim o ritmo universal da manifestação gerauma grande força, e nada pode opor-se a ela. Secompreendermos isso claramente, reconheceremoscomo nossa natureza é desesperançada e sem saída.Então nos decidiremos a gastar, em relação a ela, omínimo possível de palavras. Não faremos nenhumtipo de demonstração aos que não podem com-preender. Deixaremos o mundo ser o que ele é epermaneceremos em total domínio de nós mes-mos. Engajados no verdadeiro serviço divino nosorientaremos unicamente para aquele que podereceber o ritmo universal e lhe é similar: o átomomaravilhoso, a rosa do coração, o reino que não édeste mundo µBibliografia:Rijckenborgh, J. v. A arquignosis egípcia, vol. III.São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1989,cap. 2Rijckenborgh, J. v. A Gnosis chinesa, Jarinu:Editora Rosacruz, 2003, cap. 5.34 pentagrama 5/2008
chamado ao verdadeiro amor Ser chamado a realizar o verdadeiro amor: que pen- samento reconfortante, que sentimento de esperança, que idéia maravilhosa! Todavia, so- mos capazes de nos entregar, sem reflexão, dúvida ou medo, a esse poderoso chamado, a esse processo universal? Somos capazes disso? somos dignos dele? Fazemos o que é esperado de nós?Camille Claudel, A Valsa, 1905 chamado ao vertdijdadveoiroor alemveonr 35
O homem transformado já não é levado poridéias ou ambições baseadas em seu próprio serOque tenho diante de mim é real ou ilu- No entanto, após certo tempo, esse estado mara- sório? E se eu estiver enganado? O que vilhoso e divino desaparece, e nosso mundinho dizem os outros? Será verdade? Posso amar cansativo se impõe novamente, com todas as suassem restrição e sem a aprovação dos que aparente- reflexões e preocupações habituais. Isso não émente sabem melhor do que eu como se deve amar trágico? Não é muito dramático? Será que isso éverdadeiramente? natural e justificado? Teria sido o teste demasia-Entretanto, é mais fácil colocar de lado essas dúvidas do pesado, mal compreendido ou mal executado?e imagens quando, de repente, experimentamos esta Sem forças, desesperados e desapontados, mas, aosensação tão doce e animadora. mesmo tempo, tendo nos tornado mais compre-O que ocorre? O que faz que meu eu cesse de in- ensivos após tantas experiências parecidas, perce-terferir, que os tormentos e os conflitos desapareçam, bemos como a natureza comum consegue de novoque minha própria pessoa cesse de andar em círculos, infiltrar-se em nós, pois nesse momento retornamessa pessoa que “é pó e ao pó retornará”, e sejam a nós as imagens convencionais comuns e os prin-substituídos por algo intangível, algo que se revela cípios estabelecidos que haviam tomado o lugarradiante de beleza e de realidade? de Vênus, a brilhante estrela da manhã que nos inspirou e mostrou sem palavras o caminho queSomente com amor Como nos contos, os que nos liberta da natureza egocêntrica e dominadora.amam se metamorfoseiam. Sapos, lagartas e seres Se compreendemos a exigência do amor – tudomalvados transformam-se em cisnes, príncipes, prin- ou nada – de acordo com a realidade cotidiana, ocesas e nobres senhores. Em pessoas que se transfor- fracasso será inevitável. Não existe possibilidade demam de maneira tão fundamental não há espaço para cumprir conscientemente essa sublime tarefa. Umaidéias e esforços voltados para seu eu. Então sentimos lembrança muito especial permanece, mas faltaessa força vivente que nos penetra e nos salva, que se a verdadeira força capaz de tudo transformar. Oopõe ao nosso egoísmo com suas raízes no âmago amor esvanece-se em uma vivência que nos toca,do nosso ser. Essa força nos dá a possibilidade de mas não nos satisfaz em nosso íntimo. Não é de seobservar as pessoas que amamos, e nós mesmos, sem admirar que esse amor esteja fadado a desaparecer,levar em conta as fraquezas e as imperfeições; ela nos ou a já não agir: não somos capazes de responder-proporciona desprendimento, aceitação e perdão. lhe e chegamos mesmo a confundi-lo com todoNosso destino é o mundo superior, onde, felizmente tipo de objetivos burgueses.não seremos julgados, não seremos medidos. Deus éamor, e quem encontra em si esse amor já não deseja A realização do verdadeiro amor De queretroceder, já não suporta viver sem esse amor e aspi- maneira podemos referir-nos a ela? Por ondera somente a poder colocar-se a serviço desse amor e iniciar essa realização à qual aspiramos tão intensa-a serviço de outrem durante o resto da sua vida. mente e que não nos oferece descanso? Para nosso36 pentagrama 5/2008
Xiao Ling, A eternidade do amor (sem data).consolo, trazemos em nós, além da nossa natureza mulher, mas deve ser a unidade superior dos dois.animal e da moral social, um princípio superior. Realizar essa nova e livre unidade pela criação doTrata-se de um princípio espiritual, religioso ou verdadeiro homem é a mais suprema vocação dodivino, ao qual poderíamos referir-nos como a lei amor. Incontáveis obstáculos, descuidos e errosdo amor. aparecem no caminho do buscador, mas nada pode detê-lo se a incitação reconfortante do amor forta-Vladimir Soloviev não atribui grande valor ao lece seu desejo de seguir o chamado! µgênero humano comparado com o homem ver-dadeiro. Na realidade empírica o homem como Fontetal não existe de modo nenhum – ele só existe V. Soloviev, O significado do amor,em certa parcialidade e limitação, como indivi- Damon Uitgeverij, 1985.dualidade masculina ou feminina (e nessa base serevelam, pois, todas as diferenças restantes). Mas éevidente que o verdadeiro homem na plenitude desua personalidade ideal não pode ser só homem ou chamado ao verdadeiro amor 37
Teu chapéu eleva-se de mansinho explica-me,e faz uma saudação, flutuando ao vento,a cabeça descoberta atrai nuvens, Ingeborg Bachmanno coração tem o que fazer em outro lugar,a boca assimila novas línguas.A grama trêmula cresce exuberante no solo,o verão sopra ásteres para o alto e os desfaz.Cego elevas o rostopara os flocos que caem.Ris, e choras, e feneces em ti.O que ainda te acontecerá?Explica-me, amor!O pavão, com assombro solene, abre a cauda,o pombo arrufa o colar de penas,o ar dilata-se, saturado de arrulhos,o pato grita, a terra toda desfruta o mel selvagem,no parque calmo cada canteirose cobre de um pó dourado.O peixe cora, ultrapassa o cardume e atira-seatravés das grutas no leito dos corais.O escorpião dança tímidoa música das areias argênteas.O escaravelho sente de longe o melhor odor;se pelo menos eu tivesse a sensibilidade,perceberia que asas brilham sob sua carapaça,e tomaria o caminhopara o distante bosque de morangos!Explica-me, amor!A água sabe falar,a onda toma a onda pela mão,na vinha a uva entumesce, salta e cai.Sem a menor astúcia o caracol sai da concha!Uma pedra sabe suavizar outra!Explica-me, amor, o que não posso explicar.Deveria ocupar o tempo terrivelmente curtoapenas com pensamentos e entrementesnão conhecer nem fazer nada amável?Tenho de pensar? Não me perderei?Dizes: é outro o espírito que te anima...Não me expliques nada.Vejo a salamandra atravessar as chamas.Dano algum lhe acomete, nem sofre dor alguma.38 pentagrama 5/2008
amor!I ngeborg Bachmann procura aqui penetrar de novas influências mentais. modo pleno o que é o amor. Ela não pede ex- “O coração tem o que fazer em outro lugar”: plicações a alguém, mas se dirige, por a principal tarefa do coração não é aquilo com queassim dizer, ao próprio amor. Um segredo pode nos ocupamos habitualmente no dia-a-dia.ser revelado:“o chapéu, que é levantado à guisa de A boca, que apenas serve para a ingestão de ali-saudação”, permite que novos pensamentos afluam. mento, assimila novas línguas, assimila algo novo,Quando a cabeça está descoberta, estamos abertos a que serve ao entendimento, à compreensão. explica-me, amor! 39
“A grama trêmula cresce exuberante no solo.” Ingeborg BachmannInquietação surge pela influência do novo.“O verão sopra ásteres para o alto e os desfaz.” Ingeborg Bachmann nasceu emNão são extintas em nosso ser astral, repetidas vezes, Klagenfurt, Áustria, em 1926. Emvelhas estrelas, a fim de que novas sejam acesas? 1950, obteve seu doutorado com uma tese sobre Martin Heidegger.“Cego elevas o rosto para os flocos que caem.” Como redatora de uma estação deSão os flocos em flor dos ásteres, rádio, viajou muito e trabalhou emos flocos de neve do exterior, Paris e Londres. Desde 1953, quan-de onde temos de elevar-nos do, num “Dia de portas abertas”a fim de encontrar o interior. do Grupo 47, foi descoberta como poetisa, trabalhou independen- te como escritora.“Ris, e choras, e feneces em ti.” Os temas de seus primeiros anos de autora foram amor, mortePlatão diz: O amor é sempre pobre e de modo e despedida. Eles foram recebidos pelo público e pela crítica denenhum é doce e belo, como se pensa, porém duro, maneira mais inocente do que era pretendido. Ela defendeu-sepobre, veste-se miseravelmente e não tem lar. com vigor contra a classificação de sua obra como “literatura belaEle não encontra nem mesmo uma pedra onde e apolítica”. Já desde seu primeiro volume de poesias, O temporepousar a cabeça.À noite, deita-se no solo sem protelado, ela dedica-se à relação problemática do homem com acoberta, dorme nas soleiras das casas e nas ruas e, natureza. Em 1961, Ingeborg Bachmann publicou a obra autobiográ-como sua mãe, sempre passa necessidade. fica Juventude numa cidade austríaca, na qual expressa a formaçãoPor outro lado, ele está voltado para tudo o que é belo social e política de seus pensamentos. Nos recitais de poesia nae digno. Valente e enérgico como um grande caçador, Universidade de Frankfurt, em 1959 e 1960, assume uma posturaque está voltado continuamente para seu objetivo, crítica contra si mesma e seus sucessos anteriores.e sempre ocupado com planos, ele é alguém que Desde meados da década de sessenta do século 20 morou emdeseja compreender tudo, que medita toda uma Roma. Em 1971, foi publicado seu romance Malina, como parte devida, e, ao mesmo tempo é mortal e imortal. Em um ciclo de romances cujo título é Tipos de morte. Ela não pôdeum instante, quando encontra um coração solícito, concluir esse ciclo, que documenta, da perspectiva feminina, aele realiza-se, floresce e vive como seu pai, a abun- repressão e a exploração da fraqueza social. Ingeborg Bachmanndância. Contudo, ele jamais é imutável neste mun- morreu em 17 de outubro de 1973, em Roma, em conseqüência dedo. O que adquire, quando tem sucesso, desaparece um incêndio.e tem de ser readquirido na pobreza interior. De seu último poema:Ingeborg Bachmann descreve como o amor no Cheguei ao entendimentoreino animal atual como atração amorosa: nos seres pelas palavras que existemdo ar, da água, da terra. (para as classes mais baixas):Ela utiliza a imagem da água: ondas rolam juntas e fome, vergonha, lágrimas e trevas.formam uma unidade. E, vede, frutos surgem e fe-necem. Paulatinamente ousamos sair do invólucro www.ingeborg-bachmann-forum.dematerial, da concha que nós mesmos engendramos.“Uma pedra sabe suavizar outra!” Endurecidos O Espírito divino nos cerca, porém não podemosna matéria, como estamos, podemos, mediante o abrangê-lo.amor, libertar-nos mutuamente da petrificação. Contudo, ele pode preencher-nos perfeitamente.Pensamos, e pensamos, e tentamos compreender o “Não me expliques nada.” Nada há para explicar.amor. No entanto, é muito mais fácil. Seu próprio olho em nós o percebe, percebe a si“Tenho de pensar? Não me perderei?” mesmo.A salamandra atravessa as chamas sem quei-Não busca o amor o que está perdido? mar porque ela é um ser do fogo.Assim é com o“Dizes: é outro o espírito que te anima...” Espírito. O que é do Espírito não conhece medo eSentimos falta do Espírito divino em nós. nunca é capaz de prejudicar a nós, filhos do Espí- rito µ40 pentagrama 5/2008
Isenta de qualquer forma de bondade, a misericórdia é uma forma de magia. É a magiada figura da alma revelando-se em certo estado do santuário do coração. […] A magiada alma é a argamassa com a qual a construção pode ser erigida de maneira sólida, firme,em indestrutível beleza. A essência, a característica perfeita dessa magia da alma, comoargamassa para a construção, deve ser definida como absoluto amor ao próximo, que tudoengloba. Esse amor não envolve meramente uma pessoa ou um grupo de pessoas com asquais se tenha afinidade sangüínea, porém envolve e se dirige a todos indistintamente, poisé impessoal. E esse amor nos faz conhecer a Deus, conhecê-lo e vê-lo em sua plenitude.[…] “Deus é amor”, testemunham os livros sagrados. Deus não possui amor como um deseus atributos, mas Deus é amor! O amor é a própria essência da divindade. […] Apanhadopor essa magia, o homem, então, adquire uma confiança inabalável, uma vibração reforçada,uma iluminação espiritual do sangue, que neutraliza, tanto quanto possível, a pesada heredi-tariedade sangüínea. O interessado é colocado ante a possibilidade de ver seu caminho demodo claro e fazer brotar a força indispensável para percorrê-lo. […] Essa é a energia doamor que, no próximo, é transmutada em vida, e que, como resultado, retorna multiplicadapor mil a quem a emite.Rijckenborgh, J.v. O mistério das bem-aventuranças. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007 , cap. 9.
O amor que salvaDevemos compreender bem agora que não há sentido, e é mesmo muitoerrado, falar sentimentalmente sobre o amor divino e consagrar-lheversos. Quem sobre ele fala, tem de fazê-lo com atos, com os fatos daconstrução concreta. Isso é exigido de nós. O que é denominado amorna Doutrina Universal é a substância primordial da chama divina, daalma do mundo. Quando a luz dessa flama arder na nova circulaçãomagnética, o candidato será capaz de – segundo as palavras de Paulo –“cobrir todas as coisas com esse amor”. […] Esse processo do amor divinoextingue, pois, o carma. Ele cobre o carma, portanto, não apenas emsentido negativo […] porém o substitui completamente. […] O sistemamagnético do ser aural é totalmente afetado por essa flama divina. Essefirmamento dialético é extinto, e um novo firmamento se forma. Sobesse novo céu, uma nova terra microcósmica irá, terá de manifestar-se:o vindouro novo homem. J. van Rijckenborgh em O advento do novo homem.R$ 12,00
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