Revista Pentagrama 2012-5

pentagrama Lectorium RosicrucianumEu sou um herói J.H. MoolenburghO fim é o meu início Tiziano TerzaniNenhuma separação interiorQue música a alma canta?O livro do desassossego Fernando Pessoa 2012 5número

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA.H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaLinha editorialP. Huis Lectorium RosicrucianumRedatores A revista Pentagrama dirige a atenção de seus lei-K. Bode, W. v.d. Brul, A. Gerrits, tores para o desenvolvimento da humanidade nestaH. v. Hooreweeghe, H.P. Knevel, F. nova era que se inicia.Spakman, A. Stokman-Griever, G. Uljée O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo do homem renascido, do novo homem.Redação Ele é também o símbolo do Universo e de seuPentagram eterno devir, por meio do qual o plano de DeusMaartensdijkseweg 1 se manifesta. Entretanto, um símbolo somenteNL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos tem valor quando se torna realidade. O homeme-mail: [email protected] que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está no caminho daEdição brasileira transfiguração.Pentagrama Publicações A revista Pentagrama convida o leitor a operarwww.pentagrama.org.br essa revolução espiritual em seu próprio interior.Administração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Responsável pela Edição BrasileiraM.V. Mesquita de SousaCoordenação, tradução e revisãoJ.C. de Lima, V.L. Kreher, L.M. Tuacek, U.B. Schmid, N. Soliz,J.L.F. Ornelas, L.A. Nepomuceno, M.B.P. Timóteo, M.M.R.Leite, J.A. dos Reis, D. Fonseca, M.D.E. de Oliveira, M.R.M.Moraes, M.L.B. da Mota, R.D. Luz, F. Luz, R.J. AraújoDiagramação, capa e interiorD.B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253 tijd voor leven 2

pentagrama ano 34 2012 número 5O trabalho da Fraternidade da Rosa-Cruz e da Mural em ParisCorrente Universal de Fraternidades, da qual oLectorium Rosicrucianum faz parte, é realizado catharose de petricom a inspiração e as novas energias da luz que, em a estrela da esperança e dasentido libertador, abre passagem no coração e na realização 2cabeça, e também nas ações da parcela da humani­ nenhuma separação interior 6dade que está em busca do verdadeiro bem, do que os quatro elementos: terra 12é realmente eterno e verdadeiramente humano. fragmento de diário,Não é verdade que o ser humano tem, dentro fernando pessoade si, uma força e um poder quase supraterrenos, o livro do desassossego 13com o auxílio dos quais pode elevar a sociedade h.c. moolenburghe o mundo a um nível melhor, a um plano mais eu sou um herói 14elevado? Não será possível que o homem, como música e espiritualidade 26pequeno mundo, como microcosmo, se torne outra os quatro elementos: água 30vez criativo, como criador do único-bem, como ser fragmento de diário,autocriador? dag hammerskjöldAos poucos, a humanidade, e em especial as acontecimentos marcantes 31organizações e instituições que determinam a joão sortudoconvivência social, vê-se diante de perguntas como o milagre do desapego 32essas. Elas são convocadas por todos para sustentar os quatro elementos: ar 37esse desenvolvimento de forma constante com suas afinar-se com a eternidade 38forças econômicas e logísticas. resenha de livro,A humanidade volta seu olhar para as novas energias tiziano terzanide Aquário – ainda que este nome não lhe seja o fim é o meu início 41conhecido. Ela gostaria de dispor das magníficas os quatro elementos: fogo 46forças vitais com que pode servir e divulgar o fragmento de diário de um alunoúnico-bem, ou seja, a luz e a vida que emanam da que música a alma canta? 47Vida Una, do Criador. o quinto elemento: o homem 48Nesta edição, a revista Pentagrama procuramostrar ao leitor que, no homem, todos os 11elementos realmente concorrem para fazer triunfaresse plano mais elevado em seu ambiente e tambémem seu próprio minutus mundi ou pequeno mundo.Esperamos, dessa maneira, dar uma contribuiçãopara esse novo desenvolvimento.

O CAMINHO QUÍNTUPLO DA ESCOLA ESPIRITUALa estrela da esperança eda realizaçãoCatharose de PetriAs oficinas de trabalho e os focos do reino gnóstico necessários para a execução dopoderoso plano que é o fundamento de todas as coisas já funcionam na Europa. A EscolaEspiritual da jovem Gnosis atualmente está em condição de realizar a tarefa que lhe foiconfiada. O que expomos a seguir deve servir para compreender o que tudo isso significae as formidáveis consequências relacionadas.P rimeiro, dizemos que as fraternidades falando em linguagem mística, a fraternida­ que constituem a Corrente Gnóstica de seguinte tem de fazer brilhar a Estrela de Universal são todas dignas desse nome, Belém acima das sombrias regiões da naturezao que quer dizer que elas, em sua época, não da morte.se contentaram apenas em cumprir sua missão Por conseguinte, o que é, na prática, uma fra­evangélica, chamando e precedendo os homens ternidade gnóstica quíntupla?para a vida libertadora, mas foram ao mesmo 1.º Ela deve possuir e poder fazer funcionartempo capazes de levar sua colheita para os uma instituição que possa colocar-se em con­campos da libertação. Portanto, é evidente que tato com o público que busca, por consequên­cada uma dessas fraternidades teve necessidade cia, um organismo que seja capaz de pescar osde um período mais ou menos longo de desen­ homens do mar da vida. Como sabeis, possuí­volvimento a fim de realizar sua incumbência. mos esse organismo: é o Trabalho Público doEnquanto uma fraternidade não atingia essa Lectorium Rosicrucianum.maturidade, ela era auxiliada pela fraternidade 2.º Essa fraternidade deve ter um instrumen­precedente, que dessa forma, evidentemente, to que lhe permita ensinar, metodicamente,tinha seu desenvolvimento retardado. De fato, o conhecimento da salvação e nele introduzircada fraternidade precedente não pode ele­ progressivamente os que o desejem. O ensina­var-se para um novo campo de trabalho senão mento dado deve ser tal que o aluno, mesmoquando a fraternidade seguinte pode, por sua médio, veja que não existe outra saída senãovez, assumir plenamente o trabalho na natureza seguir, em autorrendição, o caminho da liber­da morte. tação. Nós possuímos esse instrumento: é oPortanto, em determinado momento, a última Lectorium Rosicrucianum;das fraternidades deverá tornar-se, em senti- 3.º Ela deve poder dispor de um organismodo perfeito, uma fraternidade quíntupla; ou que possa conduzir, no menor tempo possível,2 pentagrama 5/2012

Catharose de Petri fundou mágica dos templos, nos interior é pura. Quandocom J. van Rijckenborgh o quais atua a energia pura J. van Rijckenborgh faleceu,Lectorium Rosicrucianum. do Espírito. Foi incansável em 1968, Catharose deCom um profundo em expor aos colaboradores Petri, como grã-mestra,sentimento pela “Gnosis a ideia de que um trabalho consolidou a força autônomado cristianismo” e o libertador somente pode da Escola Espiritual, comconhecimento da pura ter êxito quando se pratica o colegiado da Direçãomagia gnóstica, ela cuidou uma atitude de vida mais Espiritual Internacional.da beleza e da orientação elevada e a motivação a estrela da esperança e da realização 3

Desde o momento em que a Escola atingiu a maturidade,a Estrela de Belém passou a brilhar novamenteos que de fato o querem e demonstram, à gnóstica completa; um novo grupo de perfeitosautorrendição, à ausência do eu; o que lhes prepara-se para percorrer as regiões das trevas,permitirá participar verdadeiramente da para aí realizar sua tarefa, tarefa da cabeça, dovida interior, mediante o renascimento da coração e das mãos. Assim, a jovem fraternida­alma. Possuímos esse organismo: é a Escola de de gnóstica tornou-se uma escola de mistérios,Consciência Superior, no qual cada um pode, na correspondendo à sua vocação original, tendoprática, em três anos, festejar essa maravilhosa o mesmo valor de cada uma das fraternidadese magnífica vitória. precedentes da Corrente Universal.4.º Ela deve ter, a seu serviço, um grupo de Em verdade, essa é uma justa razão para ele­servidores e servidoras escolhidos, que possa var jubilosas vozes de graça, adoração e ale­prover os necessários processos de circulação de gria, por termos conduzido a bom termo nossanovos fluidos vitais, de modo gnóstico-mágico, tarefa após longos anos de ansiedade. Porém,dotando assim o corpo-vivo das forças necessá­ há mais ainda! Quando uma fraternidaderias para poder realmente viver. É a falange sa­ gnóstica quíntupla alcançou verdadeiramentecerdotal de nossa Ekklesia, que está diariamente esse ponto de realização de sua missão, elaocupada com esse magnífico trabalho; está capacitada a levar para a pátria todos os5.º Deverá existir um organismo que, entre que vêm a ela. Esse é um dos aspectos do reinooutras coisas, funcione no novo campo as­ dos mil anos (um conceito místico provenien­tral do reino gnóstico, a fim de fazer entrar te do Apocalipse de João), que é um períodoe estabelecer na vida libertadora do novo durante o qual uma fraternidade, protegidareino das almas todos os irmãos e todas as pelos três primeiros raios do Espírito Sétuploirmãs que dela são dignos. Falando de outro para fazer a colheita dos filhos de Deus, nãomodo, na linguagem do evangelho gnósti­ experimentará, no decorrer de sua atividade eco Pistis Sophia: deverá existir um Décimo de seu trabalho, obstáculos de qualquer açãoTerceiro Éon perfeitamente ágil e atuante. A da natureza da morte que tentassem opor-sejovem fraternidade dispõe desse organismo: é a essa colheita ou aniquilá-la. Esperamos quea Comunidade da Cabeça Áurea. possais compreender essas coisas, senti-las umPortanto, fica claro que a jovem Gnosis atual­ pouco e conceber a importância da época emmente atingiu sua maturidade, liberando a que ingressamos. Quando uma fraternidadefraternidade precedente de muitas preocu­ gnóstica consegue erigir sua cidadela em terrapações. Desde essa maturidade, a Estrela de inimiga, é-lhe dado o poder de limitar o raioBelém começou novamente a brilhar. É a de ação da antiga serpente por determinadoestrela da esperança e da realização! Ora, há tempo, a fim de poder realizar sua missão sempouco tempo existe uma nova escola espiritual obstáculos.4 pentagrama 5/2012

Um período desse gênero tem consequências ser levado em consideração, já foram libertadosincalculáveis. Se perceberes bem, podeis ver pela fraternidade precedente e admitidos naque um caminho protegido e seguro foi prepa­ vida libertadora. Entretanto, os outros precisa­rado, que leva de baixo para cima, mas tam­ ram esperar, porque as contingências na esferabém de cima para baixo. Entre outras coisas, dialética não permitiam que esses microcosmosisso quer dizer que inúmeros prisioneiros e reencarnassem, pois seu potencial de força lhesescravos da esfera refletora, e também os que, teria ocasionado outra vez um sofrimento mui­em determinados estados de ser, não puderam to profundo e imerecido. Portanto, essas almascontinuar seu desenvolvimento porque seu tiveram de aguardar até que fossem criadas asmicrocosmo não podia esvaziar-se, receberam a condições propícias que foram realizadas naoportunidade de participar da vida libertadora. jovem fraternidade gnóstica. Agora, elas podemHá, por exemplo, milhares de almas ainda não mergulhar no tempo e ingressar na morada dolibertas que, no transcorrer dos sete últimos sé­ Pai, e seguir o rápido e sublime caminho daculos, após o desaparecimento da fraternidade iniciação gnóstica. É evidente que o grupo queprecedente, foram lançadas à morte por darem integra o corpo-vivo e continuará a integrá-lo,testemunho de Jesus e da palavra de Deus; ho- em um futuro próximo, dará nascimento a no­mens que outrora negaram a besta da dialética vas gerações de qualidade muito especial.e todas as suas representações fantasmagóricas e No grupo da jovem Gnosis, durante os próxi­eônicas e, assim, puros de pecado mortal, pres­ mos dez a vinte anos, nascerão seres humanostaram grande serviço à humanidade. que demonstrarão muito cedo orientação eContudo, esses irmãos valorosos, após sua possibilidades positivas. Esses seres, jovens ain­morte heroica, não puderam ingressar no da, farão muitos anciãos envergonhar-se, masmundo do estado de alma vivente, porque não também os emudecerão de alegria pelo impulsopossuíam o sinal da libertação, a assinatura da e progresso que trarão ao grupo inteiro.nova alma. Seu sacrifício pelo mundo e pela Por isso, já não precisamos de modo algumhumanidade e seu amor indizível a todos os ficar inquietos quanto ao futuro da Escola. Aque eram obrigados a sofrer tão amargamente peregrinação para a nova Jerusalém será em­na natureza da morte também foram tão gran­ preendida e conduzida a bom termo, mediantedes que não puderam, por isso, ser esvaziados um grupo cheio de júbilo, sempre crescente emmicrocosmicamente e seguir o caminho de to- número e em qualidades. Durante muito tempodos os outros mortais. Esses seres estão em uma demonstrar-se-á a bênção da Gnosis µregião que se poderia qualificar de zona limí­trofe entre a sexta e a sétima região cósmicas. Petri, C. de. O selo da renovação. Jarinu: Lectorium Rosicrucianum,Muitos dentre eles, aqueles cujo estado podia 2008. cap. 1. a estrela da esperança e da realização 5

nenhuma separaçãointeriorEm muitos templos da Escola da Rosacruz Áureafoi lido, em março, um texto que jovens alunosdo Lectorium Rosicrucianum escreveram emcooperação internacional.G ostaríamos de convidá-los a empreen­ aparentemente diminuíram, com meios de der conosco uma viagem. Vamos transporte mais rápidos e de fácil acesso. Nossa analisar o presente para melhor co­ vida já não está tão fortemente ligada à matérianectar-nos com as exigências do futuro. A visível: passamos cada vez mais tempo no mun­humanidade chegou a uma nova era, cujas do digital. Podemos chamar a esse processo deconsequências foram previstas há várias décadas “desmaterialização”, um dos fenômenos quepor muitos, inclusive pelos nossos grão-mestres. acompanham a nova era, um dos efeitos do queAgora, essas consequências tornaram-se atuais. chamamos de “radiação de Aquário”.Estamos observando os efeitos de Aquário em Como a humanidade está reagindo a essa radia­todos os setores sociais, no mundo inteiro. ção? O que está acontecendo ao nosso redor?Durante as chamadas Conferências de Aquarius, Como cada um de nós está lidando com isso?J. van Rijckenborgh anunciou que, nesta era, Devemos esclarecer que, para nós, “desmateria­a atmosfera mundial mudaria completamen­ lização” não significa necessariamente liber­te. Essa atmosfera exige que cada ser humano tação desta era ou deste mundo. Diariamenteescolha entre um caminho que conduz a uma surgem oportunidades de encontrar a senda daconsciência mais elevada e à regeneração com­ libertação e, como buscadores, obter informa­pleta da humanidade, ou a um caminho que ções sobre temas interessantes a respeito desseleva à degeneração total no mundo dos opostos assunto, pois todas as informações sobre todoe da matéria. Isso fica patente em nosso coti­ e qualquer tema estão disponíveis. Entretanto,diano pela “aceleração” de nossa vida, que se tudo isso também tem suas desvantagens, poisestá tornando menos previsível e estruturada. hoje, a dispersão é muito grande!Há uma ou duas gerações, era comum o filho Justamente porque encontramos tantas coisas,herdar a profissão ou a empresa do pai e ocupar são inúmeros os temas que nada têm a ver coma mesma posição pela vida inteira. Pesquisas o que estamos buscando. Também é possívelmostram que agora se troca de emprego de 7 que a atual geração de buscadores, que dispõea 10 vezes, em média, durante a vida. É difícil de todas as informações, que consegue tudoas pessoas ligarem-se realmente a algo por um o que deseja, termine por ligar-se mais a estelongo período de tempo e se dedicarem a algo mundo e à vida material. Por isso, devemosintensamente. sempre ponderar o que significa para nós “des­A Internet, com todas as suas possibilidades, materialização segundo a forma”, e “desmate­tornou as distâncias relativas – e, assim, imi­ rialização em sentido libertador”.tou a onipresença. A comunicação tornou-se Como não poderia ser diferente, a humanida­imediata, substituindo, de muitas maneiras, de continua sempre em busca do sentido daos contatos pessoais habituais. As distâncias existência. Durante os três últimos séculos, o6 pentagrama 5/2012

© WESLEy FRyERPalavras-chaves dos alunos “corajosos” do século 21 [Angela Maiers]desenvolvimento de métodos científicos para bém tocam o ser humano espiritualmente. Issofacilitar nossas decisões cotidianas fez que a acontece em novas áreas do saber, tais comoinfluência da religião diminuísse consideravel- mecânica quântica, astrofísica, física de par-mente. Hoje, podemos verificar que a ciência tículas e cosmologia. Essas ideias podem in­moderna está desenvolvendo ideias que tam- centivar-nos a fazer mudanças em nossa vida nenhuma separação interior 7

Uma profunda confiança nos traz à consciênciaque os alunos podem seguir seu caminho de maneirasmuito diferentes, mas igualmente válidase a ampliar nossa consciência. Cada vez mais, despertar da humanidade, mas também para aobservamos que a humanidade está pronta para senda da transfiguração. Em seus comentáriosvivenciar a cooperação ou fusão entre a ciência sobre a Confessio Fraternitatis, ele diz expressa­e um novo tipo de espiritualidade. Notamos mente que o desenvolvimento do discipuladoisso, por exemplo, em algumas tendências da nada mais é do que a aceleração do caminhoteoria quântica, segundo as quais existe uma normal da humanidade: uma senda que, porrealidade fundamental que impele tudo à ativi­ amor, foi aberta para todos os microcosmosdade, com base em regras ainda desconhecidas. saturados pelas experiências. Por isso, de certaÉ essa realidade que muitos chamam de “des­ maneira, os alunos são os pioneiros da novaconhecido”, a força que atua por trás de tudo. humanidade que está surgindo, por desenvolve­Ela nos faz pensar no princípio “Deus”, que rem o novo corpo mental, ligado à nova alma.não consiste em uma inteligência ou em um É isso que pretendemos demonstrar para oplano, como concebido por um ser humano. mundo como verdadeiros exemplos vivos.Trata-se, muito mais, de um princípio fundamen­ Além do processo individual de desenvolvi­tal que cria a realidade na qual vivemos. mento de cada aluno, nós todos, que juntos constituímos o corpo-vivo da Escola Espiri­Assim, observamos que as radiações de Aquário tual, temos uma tarefa a cumprir, uma vez queimpulsionam a humanidade, com força cada Aquário nos oferece novas forças e possibilida­vez maior, a um novo processo de desenvol­ des. A Escola pode trabalhar com essas forçasvimento. Muitos procuram desesperadamente não apenas porque segue as mudanças, masmanter as velhas estruturas. Mas por outro também porque é, ela própria, um instrumentolado, vemos também que muitos outros reagem de mudança.de forma positiva e espontânea à nova era e ànova atmosfera que nos rodeia e interpenetra. Então, como poderemos trabalhar em conjunto,Nos próximos anos, todos teremos de familia­ na Escola, para que tais mudanças se tornemrizar-nos com essa nova atmosfera, de coração visíveis na Escola e em nós mesmos? No mun­aberto e corajosamente: o coração aberto, para do atual, ter abertura, saber dividir, mostrarque jamais nos desviemos de nosso caminho de reciprocidade e interdependência são fatoresvida tão único e especial; e coragem, para que essenciais que favorecem a cooperação. Váriasnos adaptemos às mudanças de modo positivo. empresas de pequeno porte surgem agora fun­Aquário exige isso de nós. damentadas nessa forma aberta de cooperação.Quando J. van Rijckenborgh falava sobre Nesse sentido, também serve de exemplo oas forças de Aquário, mencionava várias ve­ trabalho segundo o princípio open source (códi­zes imensas possibilidades, não apenas para o go aberto): muitas vezes são criados produtos8 pentagrama 5/2012

digitais que qualquer pessoa pode usar e mo­ pela Escola, sabemos que a nossa tarefa maisdificar para atingir um objetivo comum. No elevada consiste na disposição para servir, ementanto, a cooperação somente pode acontecer, autoesquecimento em prol da humanidade, emde fato, quando existe confiança mútua: quan­ verdadeira dedicação e uso de todas as nossasdo o grupo está ligado ao campo de força e capacidades.todos reconhecem a mesma verdade que emana Portanto, estamos a serviço da centelha divinado coração, apesar das diferenças de opinião, em nós e da Fraternidade da Vida, que tornadiscipulado, idade ou de qualquer outro tipo possível o plano divino.que possa haver entre as personalidades. Para seguir a senda, é fundamental que o alu­Uma profunda confiança nos traz à consciência no busque sempre orientar-se pelo princípioque os alunos podem seguir seu caminho de universal, que podemos denominar de silênciomaneiras muito diferentes, mas igualmente vá­ interior, plano divino ou fórmula mundial.lidas, e que não precisam ter medo de perder o A célebre frase de Sócrates também expres­controle, pois todo esforço conjunto leva a um sa esse incessante alinhamento, essa sintoniabom resultado, desde que ansiemos pelo mesmo com o divino: “Tudo o que sei é que nadaobjetivo, cheios de entusiasmo, sem reservas, sei”. Ou então, numa versão moderna: “Voude coração pleno e puro. deixar para trás todo o pseudoconhecimentoNo mundo inteiro as pessoas desejam concreti­ que adquiri e vou seguir agora diretamentezar esse tipo de cooperação e estão a caminho para meu objetivo único, sempre observando edesse objetivo realmente possível mediante um verificando tudo.novo pensamento não egoísta! Esse novo pen­ Não paro nunca de perguntar, nunca me deixosar, que poderíamos chamar de inteligência es­ esmorecer. Permaneço atento e não aceito nadapiritual, é uma profunda intuição com base na como verdade até que ela tenha se tornadosabedoria interior. Quando nos aproximamos a minha verdade interior, por meio de umadessa eternidade interior, a inteligência espiri­ compreensão real e verdadeira. Tudo o mais,tual se fortalece, e as decisões tomadas pelos sejam ideias esotéricas, religiosas ou científicas,colaboradores da Escola tornam-se um reflexo apenas serve para dispersar-me, para distrairdessa nova capacidade. Quanto ao trabalho meu cérebro de seu objetivo real”. nenhuma separação interior 9

Como esse princípio não se realiza de for­ nho. Nesse sentido, a linguagem de sabedoriama automática e exige a constância de um da Escola, fluida e leve, é um instrumento pre­comportamento consciente, ele desperta uma cioso. A linguagem que utilizamos deve refletirnecessidade urgente de cooperação. Com nosso desenvolvimento interior. E com a pala­ela, vêm a disposição para dividir, a abertura vra “linguagem” queremos significar tambéme a reciprocidade, que trazem como conse­ multimídia e métodos modernos para transmitirquência a confiança mútua. Nenhum de nós nossa mensagem. Não há palavra mais fortepode seguir a senda do outro. Temos de ser que um testemunho autêntico. Já não devemoscompletamente autônomos e encontrar nosso falar por parábolas, mas sim de forma tocante,próprio caminho. Mas podemos ajudar-nos a sensível, na linguagem atual.ficar atentos. Podemos utilizar todos estes adjetivos paraA senda da transfiguração é um caminho di­ caracterizar essa nova linguagem: clara, dire­nâmico. Por isso, deve ser trilhado em uni­ ta, exata, essencial, tocante, criativa. Comodade de grupo, ao contrário de um caminho a quantidade de informações cresce cada vezfilosófico ou religioso, para os quais são neces­ mais no mundo, a atenção das pessoas se tornasários apenas estudo e confiança cega. Quanto cada vez mais superficial. Por isso, a Escolamaior for a diversidade dentro de um grupo precisa encontrar novos caminhos para queharmonioso, mais facilmente ele conseguirá sua mensagem toque os buscadores. Quandoenfrentar as diferentes situações que aparecem. utilizamos expressões difíceis ou específicasÉ essa unidade que forma a base do caminho para explicar a senda a alguém que antes nadaespiritual de Aquário. É necessário notar que havia ouvido sobre isso, é provável que nosjá não será possível continuar apoiando-se em entendam mal. Porque essas expressões podemfilosofias que dividem e separam, causando ser relacionadas com outras, de outros gruposintolerância e dogmatismo. espirituais que não compartilham nossos obje­A linguagem da Escola e a maneira pela qual tivos essenciais, ou que não nos compreendemnos exprimimos no mundo deve refletir essa de forma alguma. Jamais podemos esquecer­fluidez, esse dinamismo e essa diversidade na nos de que devemos ir ao encontro do mundounidade que os alunos experimentam no cami­ e da humanidade para dividir com eles nosso10 pentagrama 5/2012

Quanto maior for a diversidade dentro de um grupoharmonioso, mais facilmente ele conseguirá enfrentar asdiferentes situações que aparecemgrande tesouro. Esse tesouro não é uma filoso­ uma atitude de vida libertadora. Essa luz nãofia, é nossa luz interior, nossa compreensão chega até nós por encomenda. Mas podemosinterior. É o fato de sermos chamados de sintonizar-nos com ela, voltar-nos para ela,“pequeno mundo” e estarmos em condição de acolhê-la e deixar que ela seja a diretriz prin­restabelecer a ligação com o mundo divino. cipal de nossa vida. Então, ela nos permitiráPortanto, a linguagem da Escola não tem por verificar, conscientemente, a profunda reali­objetivo falar sobre coisas indeterminadas e dade interior. Assim, veremos que a realidadedistantes, mas sim dar uma perspectiva de um percebida por meio dos órgãos sensoriais nãocaminho vivo; assim, o ouvinte poderá sentir­ passa de uma sombra.se mais próximo dessa perspectiva, porque odivino está dentro dele, mais próximo do que Sobre isso, J. van Rijckenborgh escreveu omãos e pés. A mensagem somente é verdadei­ seguinte:ra quando contém o Espírito de que falamos. “Na Escola, fazemos distinção entre a natu­Assim, poderá evocar em quem a ouve o mes­ reza da morte e natureza da vida. Essa dife­mo Espírito: a ligação com o divino que está renciação é inevitável devido à nossa situaçãodentro dele. atual e precisamos ensinar uns aos outrosPor isso, Aquário conclama-nos a deixar de lado como podemos parar de olhar para o lado dotodo e qualquer conhecimento baseado em con­ fogo e voltar-nos para o lado da luz. Primeiro,ceitos fixos e ficar somente com o que importa: precisamos dirigir-nos para a luz e deixar-nosser autêntico e realmente manifestar o homem dissolver por ela. Depois, com base nessa luz,alma-espírito. Quando soubermos colocar esse transformar o fogo em luz, a serviço do mun­conhecimento verdadeiro sob a luz da “eternida­ do e da humanidade.de-em-nós”, com certeza nos surpreenderemos Em essência, existe apenas uma natureza, umcom a simplicidade dessa verificação. reino, e todos podem verificar isso. Em nossoEssa luz interior tem o poder de estabele­ interior, na qualidade de homem-alma, não écer uma ligação real e ilimitada com o nosso possível fazermos nenhuma separação. Mas, portrabalho em prol do mundo e da humanidade. razões práticas, para discernir nosso caminho,A luz eterna é dinâmica e sempre a mesma, para determinar claramente nosso objetivo,inalterável. Ela tem o poder inerente de criar precisamos distingui-las e dizer: ‘Estamos comuma humanidade totalmente nova. Essa luz os olhos voltados para a luz!’extraordinária modifica nossa realidade a cada Porém, assim que sejamos capazes de elevar­dia: os significados mais elevados e profundos nos até a luz, haverá tão-somente a maravilho­de nossas experiências descortinam-se diante sa missão de servir à humanidade, com todas asde nossa consciência, impulsionando-nos para suas consequências!” µ nenhuma separação interior 11

OS Q U AT R O E L E M E N TO S Terra, Gaia ou Hátor é a deusa-mãe: sempre fértil, produtiva, feminina e mais forte que a força masculina, que nela penetra em busca de pedras preciosas, combustível, óleo – em busca de seu segredo. “Porém, a própria terra se acha pura no céu puro, […] denominado éter por quantos costumam discorrer sobre essas questões, cuja borra, precisamente, é tudo aquilo que não para de depositar-se nas cavidades da terra”, assim diz Platão no Fédon. A terra sustenta a vida, mastambém é o lugar onde o pó volta ao pó. Ela é a mãe primitiva, que transforma a força do sol e aT E R R Adisponibiliza para nós. Ela é onisciente. Aprendamos com ela paciência e estabilidade.

FRAGMENTO DE DIÁRIO o livro do desassossego Olho, como numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com um pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minhas ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógicos, não foram, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento. Nem sequer repre­ sentei. Representaram-me. Fui, não o actor, mas os gestos dele. [...] É tão difícil descrever o que se sente quando se sente que real- mente se existe, e que a alma é uma entidade real, que não sei quais são as palavras humanas com que possa defini-lo. Não sei se estou com febre, como sinto, se deixei de ter a febre de ser dormidor da vida. Sim, repito, sou como um viajante que de repente se encontre numa vila estranha sem saber como ali chegou; e ocorrem-me esses casos dos que perdem a memória, e são outros durante muito tempo. Fui outro durante muito tempo – desde a nascença e a consciência –, e acordo agora no meio da ponte, debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firme­ mente do que fui até aqui. Mas a cidade é-me incógnita, as ruas novas, e o mal sem cura. Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inte­ ligente e natural. Foi um momento, e já passou. Já vejo os móveis que me cercam, os desenhos do papel velho das paredes, o sol pelas vidraças poeirentas. Vi a verdade um momento. Fui um momento, com consciência, o que os grandes homens são com a vida. Recordo­ lhes os actos e as palavras, e não sei se não foram também tenta­ dos vencedoramente pelo Demónio da Realidade. Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada ínti­ ma, da palavra mágica da alma. Mas essa luz súbita cresta tudo, consume tudo. Deixa-nos nus até de nós. [...] Fernando Pessoa, O livro do desassossego, 21 de fevereiro de 1930 o livro do desassossego 13

eu sou um heróiA palestra transcrita abaixo foi proferida duas vezes na Livraria Pentagrama, em Haarlem,Holanda, por H.C. Moolenburgh, médico, e atraiu um interesse impressionante. Nessa pales­tra, o dr. Moolenburgh comenta o seu livro U kunt meer Dan U denkt (Você pode mais do queimagina), que aborda tratamentos complementares para o câncer, aprofundando-se em nu­merosos aspectos que o buscador pode resumir como “aspectos práticos da nova atitude devida”. O dr. Moolenburgh restringe-se fundamentalmente à sua especialidade, que é a Medicina,mas também aponta as consequências do modo de vida do homem atual. É com satisfação quereproduzimos essa palestra na revista Pentagrama.Diante dos relatos contraditórios apresen­ acometido de câncer, dizia-se, em linguagem tados na mídia e em publicações especia­ popular, que se tratava de “um câncer jovem”. lizadas, faz sentido fazermos a seguin­ Nos três meses em que trabalhei como coassis­te indagação: “Podemos dizer que a ocorrência tente no setor de pediatria, vi uma única crian­de câncer aumentou?” Até recentemente as au­ ça com leucemia (era uma criança com síndro­toridades afirmavam que o aumento da incidên­ me de Down). Hoje a situação é completamentecia de câncer era uma consequência da longevi­ diferente. A ocorrência de câncer não só aumen­dade da população. Porém, em agosto de 2011, tou em termos absolutos e tornou-se até a cau­de acordo com dados publicados, de repente fi­ sa n.º 1 de morte em 2008, como também vemcou demonstrado que atualmente está aconte­ atingindo cada vez mais as faixas etárias jovens.cendo uma explosão que, caso se tratasse de Agora, o câncer atinge as pessoas no auge dauma doença infecciosa, seria considerada uma vida. E, no que diz respeito às crianças: meu ter­pandemia. No entanto, continua-se a dar desta­ ceiro filho trabalhou por 30 anos no mesmo se-que ao aumento da expectativa de vida e da ida­ tor de pediatria onde fui coassistente em Leidende da população. e, suspirando, me disse: “Lá só tem leucemia”.Um dos lemas que adotei na vida, e que devo a Na minha juventude, era muito raro ouvirmosuma jornalista inglesa cujo nome desconheço, é falar de alguém com câncer. Hoje, com certe­que “nunca se pode dar crédito a alguma coi­ za, a maioria das pessoas tem um parente ou al­sa até que ela seja negada oficialmente pelas au­ guém próximo que sofre dessa doença.toridades”. Isso se aplica totalmente à afirmaçãode que “o aumento da ocorrência de câncer de­ DEFINIÇÃO Qual a definição de “câncer” deve-se, em sua maior parte, ao envelhecimento acordo com a Medicina oficial? O câncer é ba­da população”. Fazendo uma retrospectiva dos sicamente “uma célula alterada que não para demeus quase 60 anos de prática médica, posso di­ dividir-se”. Também se fala bastante de “predis­zer que essa afirmação não procede. Realmente: posição genética”. Chegou-se ao ponto de indi­em 1950, quando trabalhei como coassistente car a amputação dos dois seios em mulheres jo­(fase prática do estudo de Medicina na Holanda) vens que apresentavam muitos casos de câncerno setor de Medicina Interna do Hospital de mama na família – os médicos acreditavamUniversitário de Leiden, o câncer era uma doen­ ter encontrado “o gene maligno”. Que terapiaça que atingia principalmente as pessoas mais preventiva extremamente radical!velhas. Em outras faixas etárias a ocorrência O tratamento totalmente direcionado às célulasera menor, e o índice de câncer de mama em alteradas e malignas não levou aos resultados es­mulheres (mais velhas) era de 1 em 35, hoje é perados. No fundo, a Medicina oficial não sabede 1 em 8-9. Se um paciente de 40 anos fosse o que é o câncer.14 pentagrama 5/2012

H.C. MoolenburghTodas as fotos deste artigo são registros da horta do Centro de Conferências de Renova. © D. Letema eu sou um herói 15

TERAPIA E RESULTADOS Será que atualmente bons resultados estão principalmente nas opera­muito mais pessoas são salvas, de acordo com o ções eficazes.que sempre se divulga? A terapia do câncer foirealmente aperfeiçoada a esse ponto? Quando fiz TRATAMENTOS COMPLEMENTARES DO CÂNCERresidência no Hospital Universitário de Leiden, Ao lado da Medicina convencional para o câncer,o tratamento consistia em operação e radiotera­ também surgiu a Medicina complementar. Estapia. Contra determinado tipo de câncer – o lin­ não deve ser vista como uma futura substituiçãofoma de Hodgkin ou câncer das glândulas linfá­ dos procedimentos oncológicos, mas sim comoticas – injetava-se nitrogênio nas veias: essa foi a um complemento útil. Sou a favor de um duploprimeira forma de quimioterapia. Esse era o gás procedimento. Existem referências importantes deusado como antigo meio de combate na primei­ que esse método, desde que bem empregado, au-ra guerra mundial! Os tumores diminuíam um menta as chances de cura. Infelizmente, essa te­pouco, porém, depois, as veias pareciam grossos rapia ainda não é reconhecida pela Medicina con­cordões escuros. Ainda hoje, em essência, são vencional, sendo mesmo duramente combatida,estes os três pilares mais significativos da tera­ principalmente por aqueles que se uniram contrapia convencional: bisturi, radiação e drogas ve­ o charlatanismo. Eles afastaram-se de seu objeti­nenosas. Hoje essas terapias estão muito mais re­ vo original e combatem a ferro e fogo os médicosfinadas e é possível controlar um tumor dessa cujos pensamentos sobre a Medicina diferem umforma. Mas será que essas terapias obtêm real- pouco dos seus. Em minha opinião, o tratamentomente o resultado que reivindicam para si? Para complementar também é muito bom para agilizarreconhecer o resultado negativo, basta olhar­ a terapia contra o câncer, que é tão rigidamentemos ao nosso redor. As estatísticas mostram que regulamentada.a quimioterapia, por exemplo (sem considerar­mos algumas poucas exceções como leucemia, UMA LACUNA NO PENSAMENTO Agora voucâncer de testículo, linfomas de Hodgkin e não apontar uma grande falha na ciência médica atual,Hodgkin), não traz nenhum tempo de vida adi­ segundo minha avaliação. Nas culturas anteriorescional nos casos que geralmente constituem cau­ à nossa, os médicos também eram sacerdotes ousa de morte, como câncer de pulmão, de intesti­ filósofos. Para eles, o conhecimento da Medicinano e outros semelhantes. fazia parte de uma visão de mundo abrangente.A radioterapia dá resultados em certos tipos de Assim, para os antigos chineses, os doze meridia­câncer de pele e também pode ser eficiente na nos do corpo, pelos quais fluía a energia vital chi,redução da dor no caso de câncer nos ossos. faziam parte da ordem celeste. Qualquer perturba­Mas, em geral, não se pode falar de uma tera­ ção nessa ordem causaria doenças. Assim, a acu­pia com ação curativa digna de nota. Também puntura trazia equilíbrio e cura durdoura.me pergunto se, com o tempo, uma radiotera­ Os antigos hindus conheciam os sete chacras,pia preventiva de largo espectro aplicada após centros de força invisíveis no corpo, centros deuma cirurgia de mama também não tem con­ prana, a mesma energia vital que concilia espíri­sequências negativas, principalmente porque vi to e corpo.muitos casos de metástase justamente na área Os antigos médicos europeus conheciam ade radiação. Mas, no que diz respeito a opera­ teoria dos quatro humores vitais acrescidos doções, penso que um tumor deve ser removido vis medicatrix naturæ (energia medicinal da na­sempre que possível. Pela minha experiência, os tureza), que também seria essa quinta força16 pentagrama 5/2012

A vida não deriva de um processo químico entre as moléculas:na verdade, ela é um fator absolutamente peculiarmisteriosa portadora de vida. A Medicina oficial causadas pelo caráter das pessoas. De acor­de nossos dias não a conhece. do com Paracelso, o caráter é estruturado emO grande médico do século 16, Paracelso, tam­ conformidade com as linhas dos astros celes­bém chamado pai da Química moderna, dizia tes. Às vezes a nossa Psicologia assemelha­que existem cinco tipos de Medicina: se a essa abordagem. Quanto ao tratamento do câncer, deve-se pensar sobretudo na tera­1. De naturalæ (por meio do corpo). É o enfo­ pia do psicólogo americano Lawrence Leshan, que puramente físico, que geralmente atua de cujo livro O câncer como ponto de mutação já foi modo insuficiente para um restabelecimen­ traduzido para o português. to prolongado. Essa é a nossa Medicina ime­ diatista, que é eficiente em caso de uma fratu­ 5. De dei (por meio de Deus). São doenças que ra de perna, infecção aguda, na Odontologia, Deus consente que cheguem até nós para de­ e assim por diante. Em doenças crônicas, ela las tirarmos alguma lição. Nesses casos, nós, chega a uma minimização do sofrimento, mas médicos, somente podemos ajudar realizando não à verdadeira cura. o acompanhamento dos pacientes com com­ paixão. É, por exemplo, a assistência a crian­2. De veneni (por meio das drogas). É o conhe­ ças deficientes, a idosos em estado de demên­ cimento das drogas, de substâncias tóxicas cia, ou a pessoas com uma doença contra a que nos ameaçam de fora (hoje principalmen­ qual nada podemos fazer. Esse tipo de assis­ te por meio da poluição ambiental). Quando tência é bem organizado na Holanda. essa situação não contraria grandes interesses comerciais, alguém empreende alguma ação Todos já devem ter percebido que falta à nossa contra ela. Na realidade, a Medicina atual Medicina uma visão de conjunto. Na realidade, consiste nos itens 1 e 2. nossa ciência médica, em grande parte, consiste em uma ciência descritiva: resume-se no registro3. De spirituale (por meio do espírito específi­ de nossa percepção sensorial com a ajuda de apa­ co ativo nas plantas). Com essa expressão, relhos. Infelizmente, às vezes, nossos sentidos nos Paracelso designa a força secreta invisível que enganam ou nos bloqueiam justamente quando está oculta nas plantas. Mediante um preparo deveríamos pensar mais a respeito do assunto. correto, o espirito curador da planta pode ser liberado. É o caso da Homeopatia. DESCRIÇÃO DAS TERAPIAS COMPLEMENTARES CONTRA O CÂNCER Esta longa introdução foi4. De astorum (por meio dos astros). Não se tra­ necessária para esclarecer o que inclui exata­ ta de Astrologia. Na verdade, são doenças mente a terapia complementar do câncer. Ela eu sou um herói 17

Uma margarida pode algo que nós homens não podemos:ela consegue transformar calcário no potássio, um rico nutrientetem três pilares: o físico, o psíquico e o espiri­ mais de quinze anos pela corporação médica.tual. Tratarei principalmente do primeiro, sobre Mesmo assim, esse método agora já vence len­o qual falarei com mais profundidade. tamente essa resistência, pois seus resultados são muito notórios. Desse modo, a desintegração se­I A TERAPIA FÍSICA gura de tumores brevemente será possível.Esta também se divide em três áreas: B. A ORIGEM DO TUMOR Embora o câncer não surja do nada, a MedicinaA. A ELIMINAÇÃO DO TUMOR convencional sabe muito pouco a esse respei­Este é propriamente o terreno da Medicina con­ to. Imaginem que vocês possuem um campovencional: bisturi, radiação e drogas (e um pou­ cheio de margaridas. Isso significa que o terrenoco de terapia hormonal). Se, dessa forma, o cân­ é rico em calcário, pois uma margarida pode fa­cer desaparecer, ótimo! Pode-se operar ainda? zer algo que nós homens não podemos: ela con-Sempre! Porém talvez vocês, com seu saudável segue transformar calcário em potássio, um ricosenso comum, já tenham descoberto, melhor do nutriente, como descobriu o professor Kervran.que o especialista consagrado, que quando ten­ Portanto, podemos concluir que o terreno des-tamos eliminar uma doença que vem de dentro se campo é próprio para margaridas. Nosso cor­por meio de operação, radiação ou drogas, esta­ po também tem um “terreno” e, quando ele émos apenas nos enganando a respeito da existên­ bom e saudável, a saúde floresce. Por outro lado,cia de algo que está lá. Por essa razão, o câncer quando está poluído ou lhe faltam nutrientes,tem forte tendência a reaparecer. Também a te­ acontece a doença. Ora, o câncer surge com fa­rapia complementar conhece métodos de trata­ cilidade quando o tecido celular é ácido, quan­mento de tumores. Um deles, e certamente um do o corpo está com muita eletricidade positi­dos mais bem sucedidos, é conhecido há mais va (deficiência de elétrons) e poluído. Portanto,de cem anos: a terapia das enzimas pancreáti­ não acreditem que tudo “tem a ver com os ge­cas do professor Beard, elaborada pelo odontólo­ nes”! Esse tipo de pensamento é fatalista: nossosgo dr. Kelley e aperfeiçoada pelo dr. Gonzales, genes não atuam em um cenário de decadência!médico em Nova York. Essa terapia, que não in­ Na verdade, eles mais se parecem com o tecla­toxica nem mutila, literalmente faz os tumores do de um piano onde podemos tocar nossa pró­se desmancharem, além de, muitas vezes, tam­ pria melodia, e então vocês podem, na maioriabém trazer resultados prolongados. No início das vezes, evitar a melodia do câncer. Não se es­dos anos 1920, o professor Beard foi ridiculari­ queçam de que estão equipados com um sistemazado, e Kelley foi ignorado com um dar de om­ imunológico fantástico que, 24 horas por dia,bros. Gonzales foi perseguido sem piedade por extermina 100.000 células cancerosas, e, assim,18 pentagrama 5/2012

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elas não conseguem crescer. Porém, o modo b. Eles fornecem energia e vitalidade – resumin­como esse sistema imunológico trabalha depen­ do, eles adicionam vida à matéria. A vida nãode do “terreno” do corpo. deriva de um processo químico entre as molé­Agora é importante saber que uma célula cance­ culas: na verdade, ela é um fator absolutamen­rosa é uma célula em asfixia. Como há algo er­ te peculiar.rado, a célula já não recebe oxigênio e começa afermentar. Além disso, ela divide-se rapidamen­ DE ONDE TIRAMOS A VIDA?te, talvez para dar mais chance às suas descen­ Diretamente da luz do dia que incide nos olhosdentes. Mas, quando suas descendentes também (desde que não haja óculos entre eles e a luz).estão doentes e quase se asfixiam, dividem-se Além disso, ela vem das plantas cruas, saudáveisrapidamente do mesmo modo. Assim, é como e frescas!se as células cancerosas corressem da morte em Nas folhas verdes das plantas (bem menos na­pânico, multiplicando-se cada vez mais rápido! quelas que são tratadas com adubos artificiais eEssa situação precisa ser resolvida. Isso somente pesticidas) a luz do sol é capturada por meio daé possível pela insuflação de vida, como afirmou clorofila. É a partir daí, com dióxido de carbo-o velho Moerman, pois, quando a vida retorna, no (CO2) e água, que a planta produz açúcar.a célula pode respirar livremente outra vez, e in­ Depois, com o auxílio de minerais do solo, esseterrompe essa proliferação. Mas de onde pode­ açúcar, esse alimento básico, é transformado emmos obter a vida, esse quinto elemento? carbo-hidratos, gorduras, proteínas, vitaminas etc. Portanto nós, homens (assim como os ani­Uma regra geral é: “Somente a vida pode dar vida”! mais), somos “comedores de luz”!Onde encontrar esse admirável quinto fator, a Quem tomou essa fotossíntese como ponto dequintessência, também chamada de chi, prana, vis partida para suas regras de alimentação foi o fa­medicatrix naturæ e, no século 20, denominada or­ moso médico suíço Bircher Benner, terapeu­gônio por Wilhelm Reich? Ela chega até nós vin­ ta natural. Ainda sem ter conhecimento da exis­da do sol, na forma de pequenos pacotes de luz tência dos fótons, ele afirmou que “o alimentochamados fótons, que são os portadores visíveis que contém o máximo de luz é o mais saudá­da vida invisível. vel”. Ele dividia os alimentos em quatro catego­ rias, em ordem decrescente de energia luminosa:O que fazem os fótons? Vou indicar duas de suas 1. Todas as partes das plantas cruas frescas (na­propriedades:a. Eles fornecem estrutura. Eles fornecem ao cor­ quela época o cultivo artificial ainda era raro) são o alimento básico para o homem, ou seja: po a informação para que as formas estejam em cereais, verduras, raízes, frutas, nozes, azeite concordância com o plano geneticamente es­ de oliva obtido naturalmente etc. tabelecido, com base no ponto de vista fun­ cional e harmônico. Como as células se comu­ 2. a. Partes de plantas cozidas, refogadas ou fri­ nicam entre si diretamente com o auxílio dos tas. Portanto, pão, legumes cozidos e frutas fótons, e estes têm uma velocidade de 300.000 aquecidas. Nesse caso, a energia luminosa já km/s, o corpo é um todo coeso. Cada célula se reduz um pouco. está exatamente no seu lugar. Portanto, os fó­ b. Quando o alimento vegetal é ingerido tons também são portadores de informação. por um animal, o tecido desse animal recai20 pentagrama 5/2012

Quando uma pessoa se alimenta de acordo com essas regrase ainda se movimenta suficientemente ao ar livre, luz, vida eoxigênio fluem para o seu interior. Assim, o resultado é ótimaprevenção contra o câncer na categoria 2. Portanto, leite cru, bife cru, 5. De acordo com Bircher Benner, surgiu mais arenque cru. O leite cru, fresco, ainda con­ uma categoria com o açúcar refinado, o pão tém muita energia luminosa – e isso pode ser branco, gorduras saturadas como margari­ demonstrado por fotos Kirlian. Infelizmente na, leite em pó, corantes e aromatizantes ar­ pasteurizamos todo o leite: assim, ele passa a tificiais. Todos esses são meros aditivos e não pertencer à categoria 3. Mas, se adicionarmos alimentos. São até ladrões de luz e devem ser a ele bactérias vivas, como por exemplo, no evitados! iogurte, podemos trazê-lo de volta à categoria 2. Um ovo cru pertence à categoria 2. Ao lado dos alimentos portadores de luz existem bons complementos com bastante luz, como vi­3. Quando fritamos a carne bovina ou o peixe taminas naturais (é estranho, mas mesmo quando (estou falando da maior parte dos peixes her­ consta “biológico” na embalagem muitas vitami­ bívoros) ou quando cozinhamos um ovo, esses nas são, em sua maior parte, de produção sintéti­ alimentos perdem muita energia luminosa. Os ca, como a vitamina B1, feita de alcatrão de hu­ gêneros alimentícios de categoria 2 são bons; lha), e também o tomilho, poderoso portador de já os da 3 devem ser ingeridos moderadamen­ luz. É por isso que, nos dias mais escuros do in­ te e não todos os dias. verno, o xarope de tomilho auxilia tanto nos ca­ sos de resfriado. Babosa, ginseng e alho também4. O animal herbívoro pode ser devorado por um são grandes portadores de luz. Quando uma pes­ predador. Então, esse predador traz em si teci­ soa se alimenta de acordo com essas regras e ain­ dos da categoria 3. Na natureza, os leões, por da se movimenta suficientemente ao ar livre, luz, exemplo, devoram primeiro os intestinos de vida e oxigênio fluem para o seu interior. Assim, suas presas: é que ali ainda se encontra bastan­ o resultado é ótima prevenção contra o câncer. te energia luminosa das plantas que foram par­ cialmente digeridas. Mas quem come feras car­ C. DEPURAÇÃO nívoras? Por que elas são um grupo isolado? A O terceiro pilar da Medicina complementar maioria do nosso povo é constituída de come­ para o câncer é a depuração ou purificação. A dores de predadores carnívoros: lembrem-se Medicina convencional contra o câncer nada que o porco, que é onívoro e devora de tudo, sabe a respeito disso. Depois de 60 anos de re­ pertence à categoria 3 com relação a seu teci­ flexão sobre esse tema, cheguei, por fim, à con­ do. Mas como sua carne é frita, chega-se, as­ clusão de que o conceito “câncer” pode ser con­ sim, à categoria 4, na qual quase já não existe densado como o estágio terminal de intoxicação energia luminosa. No judaísmo e no islamismo nos três planos da estrutura humana. Eis alguns a carne de porco é proibida. exemplos de intoxicação física: eu sou um herói 21

Com os programas de vacinação em massa trouxemos realmenteo cavalo de Troia para dentro de nossa vida1. Na Holanda, na sexta semana após o nasci­ continua aumentando). Após a segunda vaci­ mento, começamos a ministrar a nossos be­ nação, principalmente, percebemos também bês uma grande quantidade de vacinas. Desde muitas inflamações corporais crônicas, como que, no dia 1° de outubro de 2011, a hepatite moléstias do nariz, da garganta e dos ouvi­ B foi oficialmente incluída no programa de va­ dos, além de muitas doenças alérgicas. A va­ cinação, inocula-se em cada lactente, após seis cina não é a causa direta delas, mas lança a semanas de vida, micróbios “domesticados” base. Com nossos programas de vacinação em de seis doenças diferentes. As ampolas con­ massa trouxemos realmente o cavalo de Troia têm ainda elementos nocivos – realmente mui­ para dentro de nossa vida. to nocivos. Em torno do 15º mês de vida, cada criança já recebeu cerca de 32 porções desses 2. Na agricultura, são empregados pesticidas venenos; e isso acontece quando o cérebro e o massivamente. Um dos exemplos mais re­ sistema imunológico ainda não estão suficien­ centes é o imidacloprid, que está causando da­ temente maduros! O neurocirurgião americano nos ao sistema nervoso central não apenas dr. Russel Blaylock descobriu que nosso siste­ dos seres humanos, mas também no das abe­ ma imunológico não está em condição de li­ lhas, que, por isso, já não conseguem encon­ dar com o coquetel de doenças infecciosas que trar o caminho de volta para suas colmeias. É essas vacinas contêm. Ele reage com a produ­ por isso que populações inteiras de abelhas es­ ção de excitocinas que provocam inflamação tão desaparecendo em grande escala sem dei­ crônica, principalmente no cérebro, e cada co­ xar vestígios. quetel que vier a seguir provocará uma escala­ da desse processo. Desse modo, as vacinas não 3. Na Holanda, o flúor é misturado apenas na treinam, de modo algum, as assim chamadas pasta dental, mas em dosagens fixas. Crianças neuróglias (células do tecido nervoso) do siste­ pequenas engolem 35% dele. De acordo com ma imunológico, mas, na verdade, impõem a Dean Burk e John Yiamouyiannes, nos es­ elas uma brecha permanente! Mais tarde, as in­ tados americanos nos quais a água potável é flamações cerebrais subclínicas (não identifi­ fluoretada, apesar das inúmeras comprovações cadas do exterior) podem exteriorizar-se em de danos à saúde, há um crescimento de 10% uma verdadeira tempestade de perturbações na mortalidade por câncer. comportamentais como as TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) 4. Metais pesados como alumínio, mercúrio, que, desde as vacinações em massa, aumen­ chumbo. Os dois primeiros são adicionados a tou de modo explosivo, e o autismo (que, de algumas vacinas e, mesmo em quantidades bem 1992 a 2008, subiu de 1:100.000 para 1:125 e pequenas por ampola, são muito prejudiciais.22 pentagrama 5/2012

5. Plástico. Ficou comprovado que o plástico não O que estamos desvelando aqui é apenas a pon- é neutro. Ele libera o nonilfenol, que age como ta de um iceberg tóxico. É por essa razão que hormônio feminino. Ele prejudica, entre ou- prescrevemos tratamentos de desintoxicação tras coisas, a capacidade de procriação masculi- de grande amplitude para pacientes com cân- na! A poluição que o plástico provoca em nos- cer. Primeiro, porque todo adulto jovem já sos oceanos é gigantesca. Por meio da cadeia tem 1 kg de matéria tóxica acumulada no cor- alimentar, toda essa poluição chega aos nossos po. Segundo, porque a destruição do tumor li- pratos e, assim, podem provocar tumores rela- bera muita matéria tóxica acumulada nas célu- cionados aos hormônios. las tumorosas, e essa matéria atinge o sangue. A dra. Catherine Kousmine pressupõe até que os6. O enorme aumento da radiação gerada pelas tumores são pequenas fábricas de processamen- torres de GSM, e UMTS. As torres de GSM to de venenos. Quanto mais veneno, mais cân- (Sistema Global para Comunicações Móveis) cer! Portanto, falamos resumidamente sobre a – portanto para celulares – e de UMTS parte física. Mas ela diz respeito apenas ao cor- (Sistema de Telecomunicações Móveis po! O verdadeiro homem, que somos nós mes- Universal) – isto é, para Internet móvel mos, é invisível. Ele consiste em alma e espírito. – são causadoras de câncer, por mais que Não incluí-los na terapia é demonstração de ne- esse fato ainda seja fortemente contestado. gligência. Vamos, então, refletir sobre isso: nos- Também ocorrem muitos gliomas (tumores so corpo visível é a expressão da verdadeira per- benignos no cérebro) em pessoas que tele- sonalidade invisível. Este é um campo imenso! fonam frequentemente com o uso de equi- Vamos apresentar uma síntese. pamentos GSM e DECT (Telecomunicações Sem Fios Digitais Melhoradas) – telefones II TERAPIA DA ALMA sem fio, por exemplo.Mesmo sendo benig- nos, os gliomas são perigosos devido à sua Notamos nossa alma através das emoções e de localização. muitas outras formas. Existem em nós emoções7. O inquietante aumento dos detritos radia- tivos que provocam câncer. O acidente nu- clear no Japão foi 60 vezes mais grave do que o de Chernobyl – e esta catástrofe já havia prejudicado toda a Europa. A radia- ção vinda do Japão ainda não foi medida suficientemente. eu sou um herói 23

construtivas, como amor, amizade, vivacidade, Por isso, reprimem com firmeza as própriasalegria, serenidade. Mas, em relação ao proble­ emoções negativas. Assim, não demonstram oma do câncer, é preciso falar sobre as emoções que lhes acontece no interior. Leshan, o escritornegativas como: ódio, cólera, ciúme, humilha­ que acabei de citar, diz que “elas passam a vidação, ressentimento, e também medo, contrarie­ inteira seguindo a música dos outros e não con­dade prolongada, desesperança e sensação de seguem cantar a própria melodia interior”. Eleinutilidade e improdutividade. Essas emoções conta muitas histórias de pacientes com câncernegativas são saqueadoras de luz da alma. Elas a que, mesmo desenganados, curaram-se quandoobscurecem, e isso tem efeito direto sobre nos- reencontraram a própria melodia e tiveram a co­so sistema imunológico. Assim, elas retardam a ragem de expressá-la de novo. Nessa época queação dos glóbulos brancos do sangue que, des- já não dá à alma seu direito e seu espaço, épocase modo, mal conseguem detectar e combater as que podemos chamar, com razão de “desanima­células cancerosas. Trata-se de emoções negati­ da” ou “sem alma”, é especialmente importantevas longamente cultivadas, tão perigosas quan­ dar ao paciente com câncer a oportunidade deto fumar um pacote de cigarros por dia. É im­ contar a história de sua vida. Essa questão nun­portante detectá-las – e isso não é simples, pois ca é colocada na prática da Oncologia. Por isso,principalmente os pacientes com câncer são é comovente assistir como os pacientes ficam fe­mestres em ocultar dos outros e de si próprios lizes e surpresos quando dedicamos tempo paraas emoções negativas. Em geral, são justamente descobrir quem eles realmente são.pessoas amorosas, que querem contentar a todos. III TERAPIA DO ESPÍRITO O campo espiritual é imenso: é um universo em si mesmo. Mas, uma vez mais, sou obrigado a restringir-me a um pequeno resumo. Assim como as emoções negativas intoxicam a alma, os pensamentos equivocados e as infor­ mações falsas intoxicam o campo do espírito, que é a consciência. A esse respeito mencionarei aqui um bestseller absoluto de 2011 na Europa: o livro Sie sind Ihr Gehirn (Você é seu cérebro). Rapidamente foram vendidos 100.000 exempla­ res e isso de um livro sobre o cérebro! É bem es­ crito, com suspense e pitadas de humor. Porém, qual a mensagem que o autor, Dick Schwab, di­ vulga através de todo o livro? - O espírito é um detrito do cérebro do mesmo modo como a urina é uma secreção dos rins. - O livre-arbítrio não existe: é uma ilusão. - Por esse motivo, a pessoa não é responsável por seus atos. - A vida não tem sentido. O único sentido da24 pentagrama 5/2012

Uma das grandes tarefas à nossa frente é fazer com queo espírito desperte do coma profundo em que entrouvida é fazer que um sêmen consiga chegar até resta apenas o corpo. Então, ele “cai em si” noum óvulo. verdadeiro sentido das palavras, e aí a matériaNa minha opinião, isso é desinformação absolu­ começa a proliferar, do mesmo modo que a na­ta! É a visão de mundo materialista, niilista, que tureza quando, no outono, ela morre e fica cheiamantém presos, como numa camisa-de-força, os de fungos. É preciso fazer algo contra isso, poisnossos detentores do poder e grande parte do a matéria é impetuosa, mas não tem existênciamundo. Hitler e Stálin também tinham essa con­ própria. Ela apenas expõe à luz do dia o grandecepção da vida. Foi essa concepção materialista problema existente por detrás da doença, mos­que levou cerca de 100 milhões de pessoas à mor­ trando nossos erros fundamentais. Em minhate, pois Hitler usou-a como motivo (o direito do opinião, uma das formas de prevenção do câncermais forte) para exterminar os judeus, e Stálin, mais importantes consiste em ensinar aos jovens,para eliminar a pequena-burguesia. Não é minha desde pequenos, que a vida tem sim um sentido,intenção comparar o autor citado há pouco com e que o Criador fez a vida com muito amor eesses assassinos em massa. Pretendo apenas mos­ cuidado. Por essa razão, uma das funções do tra­trar aonde um pensamento desumano pode levar tamento complementar do câncer é buscar commesmo quando os que formularam esse tipo de o paciente o sentido da vida.pensamento nem sequer previam isso. Uma das grandes tarefas à nossa frente é fazerEsse modo de pensar, que é praticamente do­ com que o espírito desperte do coma profundominante, é ensinado a nossos jovens já des- em que entrou. Pais e avós têm a imensa tarefade a escola fundamental. A consequência é uma de atacar o espírito da época e dar novamente aepidemia de sentimentos de desesperança e de­ seus amados filhos e netos pão espiritual ao in­samparo entre os jovens. A depressão, que já se vés de pedras. Para isso, obviamente, cada ummanifesta em crianças bem pequenas, é chama­ deve educar a si mesmo – o que demanda mui­da pelo psicólogo Coleman de “a grande doen­ ta coragem, pois quando nos voltamos contra oça espiritual do século 21”. Segundo Leshan, espírito dominante na época, ele se vinga! Mas“o desamparo e a desesperança são as duas pa­ o bom é que nós mesmos podemos criar cora­lavras-chaves para descrever o estado de espí­ gem. Por essa razão dou a esta palestra, comorito dos pacientes com câncer”. E o cirurgião lema para este conflito espiritual, as palavrasBernie Siegel descobriu algo que já era sabido do Profeta Joel, do Velho Testamento, de 2.700na Antiguidade: esse estado de espírito já exis­ anos atrás, que também foi uma época de gran­te profundamente oculto na pessoa muito tempo de carência espiritual:antes de o câncer irromper. Forjai de vossas relhas espadas, e de vossas poda­Se negarmos obstinadamente a existência do ho­ deiras lanças. Que o fraco diga: “Eu sou um herói!”mem metafísico, aquele que realmente somos, (Joel 4:10) µ eu sou um herói 25

música e espiritualidadeSe extinguisses o som e o sentido, o que ouvirias então? Essa pergunta foi feita por umgrande mestre zen no século 11. Desde então, ela continuou sendo feita durante séculosnos mosteiros zen do Japão. A resposta pode exigir uma vida inteira, ou até mais.O som e o significado da música são o tema deste artigo, dentro do contexto de umpossível caminho de desenvolvimento espiritual.MÚSICA COMO REFLEXO DO o trítono (12:17), que é um intervalo consti­ MACRO E DO MICROCOSMO tuído por três tons completos. Antes de criarmos música com a voz Os intervalos também podem ser expressosou instrumentos, fomos criados pelo som. em números. Eles correspondem às relaçõesÉ pelo som que a imagem do macrocosmo se que encontramos na natureza e no cosmo.reflete no microcosmo. A respeito do macro­ Portanto, as relações acústicas têm um carátercosmo, já no século 17, Kepler percebeu que cósmico. Todos os movimentos do cosmo emi­os planetas não se moviam em órbitas circula­ tem um som, por mais baixo que seja. Essesres, mas em órbitas elípticas. De todas as infi­ princípios de organização aplicam-se tanto aonitas possibilidades, os planetas seguem preci­ macrocosmo e ao microcosmo quanto à mú­samente órbitas elípticas que correspondem à sica. O conhecido princípio da “razão áurea”ordem dos harmônicos superiores na música. (0,618), na natureza e na arquitetura, corres­Elas correspondem, por assim dizer, à mesma ponde, por exemplo, na música, ao intervalosequência de harmônicos superiores. A série de sexta (entre 12:19=0,63 e 12:20=0,60).harmônica1 é a escala mais natural que existe. Todas as formas orgânicas, e também os cris­ tais, são constituídas de tal maneira que suasO timbre de um instrumento é determinado proporções correspondem às relações numéricaspela quantidade maior ou menor de harmôni­ entre os intervalos harmoniosos na música, ascos que soam ao mesmo tempo com um som quais podem ser expressas por números inteirosfundamental. Quando escutamos uma nota naturais, tal como Pitágoras e Platão já haviammusical de um instrumento, ouvimos sempre verificado. Uma pesquisa específica revelou queum som fundamental e uma série específica se podem distinguir mais de mil notas diferen­de harmônicos. À medida que a série harmô­ tes entre o som audível mais grave e o maisnica avança, mais dissonantes os harmônicos agudo. Na música apenas se usa uma peque­se tornam em relação ao som fundamental. na parcela delas. Um piano comum tem, porNo começo da série, encontram-se as rela­ exemplo, apenas oitenta e oito teclas. As notasções mais harmoniosas entre as notas: como usadas estão relacionadas às leis da naturezaa oitava (relação de frequências de 1:2), a e do cosmo anteriormente descritas. Mesmoquinta (2:3) e a quarta (3:4). Mas, no final da quando as notas se desviam levemente dessassérie, notam-se relações sonoras “menos har­ leis, são afinadas (“puras”) e justas.moniosas”: a segunda (7:8), a sétima (12:23) e No piano não é possível produzir notas cor­ respondentes a um quarto de tom, porque não1 Para os leitores leigos em música, aconselhamos uma há teclas para isso. Em instrumentos em quepesquisa na Wikipedia ou outra enciclopédia. podemos produzir frequências livremente,26 pentagrama 5/2012

incluindo aí a voz humana, pode-se em diferentes tipos de tonalidades e, dessa maneira,princípio fazer isso. Também as escalas no criar a música ocidental nos últimos séculos!Oriente, com 22 notas, têm uma estrutura da O que costumamos chamar de “música” équal fazem parte quartos de tom. comparável a um aspecto da harmonia e daAs notas dentro da oitava não são afinadas de energia do universo que está ativo em tudo emaneira “pura”. A tensão das cordas do piano todos – e é a origem da natureza.é ajustada de maneira que as notas possam ser A história da música traduz-se na descobertaouvidas bem afinadas. A relação de frequên­ de novas harmonias. No princípio da músicacias entre cada semitom é a mesma – o que humana, somente se consideravam belas asse desvia da afinação matemática pura, que melodias monofônicas (apenas uma voz).corresponde a números inteiros. Justamente por No período grego, foi descoberta a primeiraadotar-se uma distância igual em frequência oitava. Este foi o primeiro passo na direçãoentre os semitons – o temperamento igual – é de tocar duas notas simultaneamente. Depoisque foi possível “modular” ou alternar entre os se segue a descoberta da quinta (relação de música e espiritualidade 27

A partir de 1300, a terça, o intervalo do diabo,entrou nas composições musicais!frequências 2:3) e a quarta (3:4). Na Idade “No white man can play the blues”, refere-se aosMédia, considerava-se ainda a terça (4:5) escravos no passado, que tinham de trabalharcomo “o intervalo do diabo”, mas, a partir de nas piores condições nos campos de algodão.1300, ela entrou nas composições musicais. Eles exprimiam sua experiência de vida e oAo longo do século 15, a escala maior (cor­ exílio da pátria por meio dessa música. Hojerespondente a dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó) conhecemos músicos que não têm de viverconquistou o seu lugar. Durante os séculos como escravos, tendo até mesmo uma boasubsequentes, vemos um aumento do uso de situação financeira, e que, no entanto, conse­duas ou mais notas que anteriormente eram guem tocar blues de maneira convincente. Aconsideradas dissonantes. No século 19, eram consciência de vida que aqui é exprimida sesomente consideradas como dissonantes a relaciona eventualmente com sofrimento, comsegunda (12:13), a sétima (12:23) e o trítono frustração e um vago desejo que não pode ser(12:17), apesar de Bach e Mozart já os usarem apaziguado pelas atuais condições de vida. Acomo elementos de tensão em passagens para palavra “blues” refere-se a um estado de espí­acordes harmônicos. Atualmente, nossa audi­ rito melancólico. Esse sofrimento pode provirção aceita como independentes essas relações de uma insatisfação com este mundo, mas ade frequências de suspense. As conhecidas melancolia pode também ser um desejo dedoze notas da oitava e seus intervalos foram amor, de ligação com um estado ideal. Tantointegrados gradualmente na música pelo ser no blues como na música pop, trata-se de umhumano, que assim se ligou cada vez com amor não realizado ou inatingível. Em muitosmais intensidade às leis do mundo. Por con­ casos, a música reflete a consciência de vidasequência, ele acrescenta aos intervalos mais de determinado período. Jovens para os quaisharmoniosos intervalos que, a princípio, soam a vida não têm sentido e são obrigados a cres­cada vez mais dissonantes. No século vinte, cer num mundo orientado para o materialismoesse desenvolvimento desaguou na reprodu­ e a intelectualidade criam música que exprimeção de glissandos (passagens contínuas e suaves essa experiência de vida. Nesse contexto, po­de uma nota para outra) e no uso de ruídos demos falar de um estado de consciência quee barulhos nas composições musicais – o que é convertido em ritmo e som.indica a chegada do final de uma fase. O ouvinte acha a música bonita se seu estado de consciência e sua experiência de vida cor­MÚSICA E EMOÇÃO Atualmente, podemos respondem ao do compositor e ao do músi­ouvir e tocar diferentes espécies de músi­ co, tal como uma corda que está afinada emca. Qual é a base de nossa escolha? Qual é determinada nota entra em ressonância quan­a base, por exemplo, dos blues? A expressão do outro instrumento próximo toca a mesma28 pentagrama 5/2012

nota. A música é considerada bela na propor­ poderoso do que qualquer outro, porque ritmoção em que houver ressonância entre compo­ e harmonia chegam aos recônditos da alma,sitores, músicos e ouvintes. Essa ressonância onde se fixam poderosamente”. A tarefa dospode ser no nível deste mundo, mas também compositores e músicos é, em sentido espiri­no nível da alma. A música pode expressar tual, esvaziarem-se a si mesmos para poderemsentimentos como tristeza, alegria, agressão e assimilar as vibrações divinas e possibilitar adesejo, que podem ser refletidos no ouvinte. ressonância destas em seu próprio sistema. PorA forte influência da música reside em seus as­ conseguinte, o ouvinte que pode ressonar con-pectos mais imateriais. E muitos casos não são segue conectar-se com essa energia.as notas em si que determinam o efeito, mas a Se os seres humanos que se encontram na sen­relação entre elas. da, orientados espiritualmente com base numa sintonia interior, cantarem em uníssono, eleO POSSÍVEL SIGNIFICADO DA MÚSICA NA criarão, mediante a música, o som e o signifi­SENDA ESPIRITUAL Em que ponto de nos- cado das palavras, uma vibração que trespassaso desenvolvimento nos encontramos como o campo vibratório da terra. Uma vibraçãocompositor, músico ou ouvinte? análoga já presente no universo irá ressonarUm belo poema de Eichendorff diz-nos o com essa vibração especial. O som que emanaseguinte: do microcosmo fortalece a vibração semelhan­ te no universo presente nos seres humanos e,Dorme uma canção dessa maneira, fortalece a vibração no próprioEm todas as coisas, microcosmo. A música é um fenômeno com­Que sonham e sonham. plexo com muitos aspectos diferentes. ComoE o mundo somente a entoa reflexo das leis cósmicas básicas, ela pode des­Quando encontras a fórmula mágica. pertar e exprimir diferentes emoções em nós. O desejo de reunificação com o campo de vidaNão é possível captar na íntegra a melodia, a divino pode exprimir-se na música, cujo efeitocanção da terra sagrada, sem a fórmula mági­ reflete-se sobretudo no plano da alma, mas, noca, que é o som único. entanto, dependendo do estilo, também outras áreas podem ser influenciadas.Estamos em um ponto onde já não se trata de O nível de consciência e a intenção comreproduzir as leis do universo ou nossos sen­ que ouvimos ou tocamos música têm carátertimentos, mas de ligar-nos a esse som, à força decisivo µoriginal, unificar-nos com ela e deixá-la soarno mundo por nosso intermédio. Se extinguisses Bibliografia:o som e o sentido, o que ouvirias então? Se nossosentido auditivo não estiver ativo nem houver Berendt, J.-E. Nada Brahma: Die Welt ist Klang (Nada Brahma: osom, então o som divino poderá soar em nóse fazer todo o microcosmo vibrar. Ouvimos mundo é som). Frankfurt: Rowohlt, 1983.a Voz do Silêncio e nos transformamos nela.No entanto, Catharose de Petri, em seu livro Berendt, J.-E. Nada Brahma: De wereld is geluid, een speurtochtCartas, capítulo 42, citando Platão, diz: “otreinamento musical é um instrumento mais door muziek, wording en bewustzijn (Nada Brahma: o mundo é som: uma incursão em música, vir-a-ser e consciência), Haia: East West Publications, 1988. música e espiritualidade 29

OS Q U AT R O E L E M E N TO S Durante bilhões de anos, água e terra interagiram até que a vida se tornasse possível. Vidaunicelular, mínima, sem fixar-se em um local preciso, sempre em movimento: começo da existência.Mistério profundo: numa concentração crescente, uma densificação desprovida de consciênciade repente veio a “ser”! Pela atividade do fogo, da chuva e do vento surgiu — ou os elementos á g u aaprenderam — um conceito rudimentar de “ser”…

FRAGMENTO DE DIÁRIO acontecimentos marcantes “Outra história não há senão a da alma, nem outra paz, senão a da alma.” Revestido deste “ego” criado pelo juízo dos indiferentes, por condecorações sem sentido, por “desempenhos” com o protocolo necessário — amarrado na camisa-de-força do cotidiano. Na escarpa do pico ensolarado surgem na luz, com a luz, da luz: o um e a vida no um — aceitos, invencíveis, livres. O caminho fora de mim é obstáculo; e o que leva para dentro de mim, realização. Dag Hammerskjöld, Acontecimentos marcantes, 28 de abril de 1957 Não és nem óleo nem ar, apenas um ponto incandescente, o foco onde a luz pode nascer. Nada mais és que uma lente pela qual passa o feixe de luz. Somente assim consegues absorver, obter e irradiar a luz. Quando buscas a ti mesmo, porque “é teu direito”, impedes o encontro do óleo e do ar na chama e tiras a transparência da lente. Santificação é ser a luz ou estar na luz, é aniquilar-se para que a luz possa nascer, aniquilar-se para poder concentrá-la e irradiá-la. Conhecerás a vida e serás reconhecido pela vida segundo a medida de tua transparência, ou seja, pela capaci­ dade de desaparecer como fim para ser apenas meio. Dag Hammerskjöld, Acontecimentos marcantes, 28 de julho de 1957 acontecimentos marcantes 31

o milagre do desapegoJOÃO SORTUDOOs irmãos Grimm escreveram uma história sobre João Sortudo, que recebeu uma enormepedra de ouro como pagamento pelo período de aprendizado com seu mestre. E assim elevolta para casa com aquela pedra reluzente do tamanho de sua cabeça. No caminho, eletroca a pedra por um cavalo, o cavalo por uma vaca, a vaca por um porco, o porco porum ganso. Por fim, troca o ganso por uma pedra de amolar. Mas logo a pedra cai em umafonte… e ele acaba sentindo a maior felicidade!E sse conto é muito conhecido, mas quem cósmica que sustenta a evolução da huma­ entende a profunda verdade por detrás nidade – uma pedra de ouro do tamanho de dessa história? É a verdade do Tao: a sua cabeça.sabedoria do “milagre do desapego”, expres­ Assim, agora ele possui uma personalidadesa aqui por inúmeras metáforas. que funciona perfeitamente: um ego fortale­João Sortudo – aparentemente um bobo cido, uma ferramenta de trabalho ideal paraou um louco – pode ser visto como um ser o indivíduo.humano que dedicou a vida a uma grande Essa é a recompensa que João recebeu portarefa: a de transformar-se em um novo seu trabalho aqui neste mundo da matéria,homem. O que significa “ser um novo durante inúmeras experiências: uma pedra dehomem”? E como é possível imaginar o ouro do tamanho de sua cabeça.caminho para chegar a esse objetivo? Quem Isso permitirá que João observe o mundorecebe uma pedra de ouro do tamanho de maneira inteligente, para discernir entreda própria cabeça como recompensa pelo o bem e o mal (será que ele conseguirá?),período de aprendizado na escola do mundo ganhando sempre novas experiências ecertamente trabalhou bem. É sinal que uti­ decidindo livremente qual caminho desejalizou bem seus instrumentos: pensar, desejar seguir.e agir. E também usou de inteligência para Agora, após finalmente ter conquistado arealizar a obra do “tornar-se consciente”, e “pedra de ouro”, João quer ir para casa.o fez de forma a satisfazer completamente Ele deseja voltar para a “mãe”, para a fonteseu mestre. Um homem como esse destaca-se primordial de todo o ser, para o Tao, pois oda multidão: ele realmente tem sorte. Ele é retorno à mãe é o caminho que irá levá-lo aum João Sortudo, um feliz servidor de seu completar sua missão de tornar-se um novomestre. É nessa situação que encontramos homem, mediante o acesso ao pensamentoJoão Sortudo com a pedra de ouro, a riqueza autônomo, criador e realizador do plano deadquirida pela experiência, já liberado da Deus.vida e do destino por seu mestre, e pronto João está muito feliz com isso. No caminhopara voltar para casa! Ele está consciente do de volta, ele passa por experiências total-real valor do tesouro de experiências. Por mente imprevistas. Experiências que eleisso, sabe que já pode iniciar seu caminho de nunca teria imaginado para seu caminho.volta. No retorno à “mãe” – ao Tao – inicia-seAté esse momento, seu aprendizado havia algo totalmente novo para os seres humanosconstituído a base necessária para sua missão. que, como João, adquiriram a pedra de ouroEntão ele recebe do mestre – a inteligência mediante uma personalidade amadurecida. É32 pentagrama 5/2012

João Sortudo (Hans im Glück). © Hans Fischer, Zürich 1961 o milagre do desapego 33

como se há muito, muito tempo, ele tivesse para a mãe de toda a vida, a “mater”. Nessedescido uma montanha cósmica rumo ao vale caminho, a pedra de ouro parece tornar-seprofundo da matéria, onde realizou seu apren­ cada vez mais pesada. Todo o peso adquiridodizado por meio de inúmeras experiências. por seu ego, sua complexa personalidade eAgora, ele espera conseguir subir novamente a suas inúmeras experiências, a lentidão de suamontanha cósmica, de volta à origem. razão aprisionada na matéria e voltada paraColocado diante de provas inesperadas, João o eu, tudo isso paralisa-lhe os passos. Apesarprecisa demonstrar o que aprendeu no decor­ de estar sedenta, sua alma não conseguerer de seu aprendizado “no vale da matéria”, seguir em frente.confrontar sua razão, seu modo de pensar e Ela fica cada vez mais bloqueada por ques­seu ego com as experiências da realidade. Essa tões vindas do eu-consciência, encapsuladaconfrontação deverá permitir-lhe adquirir a por dúvidas, atormentada pela culpa.consciência da limitação do mundo material, Então, ele encontra um homem montadode sua decadência inevitável, do fim de todas em um cavalo quase indomável. Que sorte!as coisas, de acordo com as leis da própria Para João, o cavalo simboliza o dinamismo,essência desta natureza. Por que existe deca­ a energia mental, a força de vontade edência? Por que existe morte? Por que existem a idealidade. Um cavalo como esse commedo, sofrimento e essa eterna repetição das certeza haveria de fazer que ele chegasseexperiências da vida? Será que João realmente mais rápido à meta! Um princípio superiortomou consciência de tudo isso? o anima: ele troca com prazer sua pedra deJoão Sortudo recebeu, por seu período de ouro pelo cavalo.aprendizado, uma pedra de ouro do tamanho Assim agindo, ele desapega-se de seu eu ede sua cabeça. Isso significa que seu ego é de sua personalidade complicada e a entregarealmente dotado de uma razão e de uma ao princípio superior do mundo da ideação.consciência, e que agora pode ver o mundo “Dinamismo, força de vontade e inspiraçãocomo ele é: não é ele uma maravilha como haverão de conduzir-me até o bom fim!”,uma escola de sete níveis, onde as pessoas exclama João Sortudo. Eia! Eia! Eia! Assimpodem repetir as lições infinitamente? Uma ele vai tentando ultrapassar o tempo e oescola para “imperfeitos” – um enorme espaço. Mas, vejam! Em sua impaciência, elehospital, uma prisão, um campo de batalha, perde o controle da montaria. Logo depoisum cemitério… Sim: um imenso lugar onde de ter uma ideia repentina, o dinamismopodemos passar por experiências, onde de sua vontade desenfreada derruba Joãoestamos sempre nos enganando, um lugar da sela! Ele cai do cavalo no chão durocheio de catástrofes, mas também de tantas da realidade. João fez a tarefa muito rapi­maravilhas da natureza? Bem, essa é uma damente. “Nunca mais vou montar nessecontradição que não pode ser resolvida. Esse cavalo”, decide, feliz por ter descoberto,é o jogo da constante mudança dos opostos! com essa experiência, um novo aspecto doO que significa isso, no fundo? A verdade autoconhecimento.única, eterna e real, onde todos os opostos É então que aparecem um fazendeiro e suase dissolvem, não está por detrás disso? vaca. “O que falta para mim”, fala consigoJoão Sortudo refletiu sobre tudo isso com mesmo João, perdido em seus pensamentos,seu “eu-consciência” e deseja de coração “é a meditação: um coração suave, o sossego,voltar à sua “mãe”. Por isso ele entra no a paz, a contemplação interior e o silêncio”.caminho de retorno, o caminho da escalada E a vaca simboliza justamente isso! “Além docósmica interior em direção à origem divina, mais, ela me dará leite, que é o sumo sutil34 pentagrama 5/2012

das antigas sabedorias. Bem que vou precisar Tudo corre bem por algum tempo. Mas,disso no caminho de volta para minha mãe. de repente, lá vem um camponês com umFantástico!” E, assim pensando, feliz, João ganso. Ele conta a João que roubaram otroca seu cavalo pela vaca, e a segue, tran­ porco do prefeito do vilarejo vizinho. Equilo, contente consigo mesmo. Ele segue João fica martelando os pensamentos. Nãomeditando sobre a eternidade, pensando na seria isso um sinal de que há algo errado?mãe, no Tao… Sua estratégia de saúde, de acordo com asSim: ele fica contente até com o esterco que, últimas tendências, não estaria em perigo?como sinal de elevada sabedoria, a vaca vai Seu prazer em sentir a harmonia com adeixando para trás. Mas por que será que essa natureza não passaria de uma ilusão? E nãovaca não dá nem uma gota de leite sequer? seria por causa desse mesmo princípio queE por que ela sempre tenta chifrá-lo quando o roubo de um porco de estimação lhe foitenta ordenhá-la? “Ah, essa vaca é muito colocado nas costas? O camponês mostra-lhemagra e velha!”, explica um camponês que seu ganso branco como a neve e propõe-lhevai passando com um porco gordo em um trocá-lo pelo porco, para que ele escape docarrinho de mão. João mal consegue perceber perigo de ser preso por roubo. Convencidoa intenção oculta do camponês. Ele tinha por essa lógica, João aceita fazer o negócioesperado tanto da vaca e do princípio de sua e agradece ao camponês. Sim, ele pressentereflexão mística a respeito do eu! Todas essas melhor o que realmente lhe falta: sua almameditações sobre o nada e a ascese fizeram-no aspira à pureza branca como a neve, à vidaficar magro como um varapau! “Talvez eu desinteressada, às asas espirituais que o leva­tenha pedido muito para mim”, reflete João, riam, cheio de ardor e com toda a calma até“isso não combina com minha verdadeira a casa de sua mãe. Basta olhar para o gansonatureza.” Então, ele pensa que seria melhor para sentir-se estimulado pelo princípio doviver a realidade presente e, apesar da puro Eros, o puro amor desinteressado, peloascensão espiritual da montanha, seria errado desapego da terra e pela intuição superior.deixar de lado o simples bom-senso natural Sem hesitar, ele troca o porco pelo gansoe o bem-estar físico. “Muito bem!”, diz o branco como a neve.camponês com um estalo de língua e oferece­ João Sortudo, o homem que volta para sualhe o porco gordo em troca da vaca. origem, para o Tao, abriu mão de muitas“Eu topo!”, diz João, enquanto pega o porco coisas antigas que possuía: a pedra de ouro,e diz adeus à velha vaca. símbolo do princípio-eu; o cavalo, símbolo“Como é bom viver no presente e sempre do princípio da mentalidade dinâmica, dapoder renunciar ao que é velho!”, pensa idealidade e da força de vontade; a vaca,ele, feliz. E assim segue seu caminho, com símbolo do princípio do mistério da medi­bom-humor, carregando o porco debaixo do tação e do egocentrismo; o porco, símbolobraço. “Não posso perder de vista a saúde do do princípio da estratégia de saúde para umacorpo, a harmonia da alma com a natureza… vida natural e saudável.e o assado de porco! Não quero distanciar­ Cada vez mais, ele pensa alegremente nasme do mundo e ficar inacessível. Vou aderir trocas de velhas ideias por novas expe­ao princípio de uma vida sã e natural: amar riências. Agora, com a maior alegria, eleas coisas simples, gozar das boas coisas da segue carregando o seu ganso: símbolo donatureza, e, claro, sem perder de vista a princípio do Eros puro e da intuição elevada.meta do caminho: voltar para a casa de O desejo melancólico de ir até a fonte puraminha mãe, para minha origem.” primordial de todo o ser efetivamente lhe dá o milagre do desapego 35

asas aos pés. Sua dedicação à meta, ao Tao, Ele sobe e desce montanhas com a pedra deestá quase completa. Mas qual é a finalidade af iar o destino.que ele vem ansiando por tanto tempo? Alguns exercícios de condicionamento lheAinda não foi alcançada? Por que o caminho dão, às vezes, a certeza de chegar à meta.de volta à origem, à mãe, parece ser infinita­ Ao mesmo tempo, vai afiando a si mesmo.mente longo? No entanto, há algo que o atormenta cadaAssim pensando, João encontra um amolador vez mais: é a sede. Ele sente uma enormeque, depois de ter ouvido sua história, lhe necessidade de água fresca, como um bichofala sobre fatalidade, colocando-o em dúvida sedento que suspira ao lado da fonte.quanto à divindade. O amolador diz a João: Exausto, João chega ao campo onde está“A única coisa que lhe falta é a certeza a fonte. Ele coloca a pedra perto da fontede que realmente alcançou seu objetivo. e mata a sede. Que refrescante! Ele bebeQuando temos segurança do que fazemos, da água viva da fonte da verdade eterna.ficamos livres de todas as preocupações e E então, de repente, a pedra cai na fonte,dúvidas. Veja, a certeza está aqui, na minha afundando em sua insondável profundeza.pedra de amolar. Com ela, você pode Que sorte!afiar o que está sem fio e endireitar pregos João Sortudo agradece a Deus porque atédobrados. Com esta pedra você realmente mesmo essa última pedra foi retirada dele.terá nas mãos uma pedra mágica: a pedra da Ele já se libertou das imagens e das ideiassabedoria. Esse é o método absolutamente com as quais queria voltar para a casa decerto para garantir a chegada à meta”. sua mãe. Ele deixou para trás todas as falsasJoão sorri. No fundo, ele sabe que, sem essa esperanças e ilusões, que considerava comoconfiança em Deus, ele não teria conseguido fins em si mesmas. E mesmo que, segundo aempreender o caminho de volta para casa. aparência, essas trocas pareçam ter-lhe sidoMas, tudo bem! Ele já está achando que esse desvantajosas, finalmente ele conquistou ocaminho é muito longo mesmo… Talvez o tesouro dourado da experiência da verdadei­amolador esteja certo a respeito dessa pedra. ra renúncia. Abandonando o velho mundoAlém do mais, que mal poderia haver se imaginário, a pedra de ouro da personalida­ele fizesse a pedra mágica deslizar para sua de-eu precisa fundir-se ao ouro espiritual dosacola? Foi assim que o amolador – o destino profundo conhecimento do ser verdadeiro,– conseguiu convencer João a trocar o ganso depois de desapegar-se do velho mundo.pela pedra mágica. João Sortudo agora apresenta um estadoAnimado, João segue alegremente por de ser que se define pela rendição ao Uno,conta da troca, o princípio da segurança, consentida livremente. Ele sabe que refezda certeza. Ele escuta o canto enganoso do a ligação com a fonte interior, a origem deamolador que, não importa o que aconteça, tudo o que existe.sempre se curva ao destino e, assim como Ele volta-se para o Tao, que é a mãe de todao catavento, gira ao sabor do vento. Além vida. Assim, ele completa o mistério do purodisso, João está convencido de que, graças amor de Deus e de sua criação. A finalidadeà pedra filosofal, conseguirá alcançar seu do verdadeiro vir-a-ser humano é alcançada.objetivo. Com a pedra, ele af ia tudo o João Sortudo, o bem-aventurado, retornou àque está sem f io e desgastado. Ele aprende fonte da vida.algumas técnicas para alcançar um estado E quem observar cuidadosamente o que sede consciência superior. Assim ocupado, não passa, descobrirá que, perto da fonte, há umavê o tempo passar. Vai andando, andando. roseira em flor… µ36 pentagrama 5/2012

OS Q U AT R O E L E M E N TO S “Assim como nossa alma, que consiste em ar, nos mantém coesos, assim também o Grande Alento e o ar abarcam o mundo inteiro”, diziam os antigos filósofos gregos.Os herméticos celebravam o ar como veículo do pneuma, o alento vital do Espírito, tambémchamado de ruach ou Espírito Santo, a inspiração sublime. Como diz João: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. Trata-se da energia espiritual perpétua que o Uno nos a r envia: infinita, única, eternamente livre.

afinar-se comNossa vida caracteriza-se por repeti- lece “automaticamente”. No caso dos balanços, ções praticamente infinitas. No Velho a gravidade pode ser considerada a “força que Testamento, o pregador do Eclesiastes estabelece o equilíbrio”.queixa-se, no capítulo 1, versículo 9: “Nada há Por essa razão, é preciso haver outra força parade novo debaixo do sol. O que foi é o que há colocar os balanços em movimento. No casode ser.” de crianças pequenas, é a mãe que empurra oO movimento cíclico, balanço ou puxa um pouco o assento para trás,A maré alta e a maré baixa, antes de soltá-lo. Em seguida, a gravidade fazo dia e a noite, o balanço oscilar outra vez para baixo. O fatoo planejamento e a divisão do trabalho de ele continuar a movimentar-se deve-se àa rotação da terra, inércia da massa, que nesse caso é constituídaa vibração das cordas de um violão, pela massa da criança e do próprio balanço. ATudo vibra e se repete sem fim. massa em movimento tem a característica natu- ral de continuar a movimentar-se com a mesmaA condição básica para que haja oscilação em velocidade enquanto não houver impedimento.um sistema é que ele retorne por si mesmo A capacidade de manter a velocidade adquiridaao estado de repouso e, ao mesmo tempo, de é designada pelos físicos como inércia. Se nãoequilíbrio. Depois que as crianças saem de um fosse o atrito existente, um objeto colocadoparque infantil, todos os balanços retornam à para oscilar continuaria a movimentar-se inin-posição vertical. Esse equilíbrio não se estabe- terruptamente. Na prática, sempre existe atrito:38 pentagrama35/2/2001122

a eternidade Mediante uma boa orientação, podemos afinar-nos com o Verbo divino e, desse modo, entramos em consonância com o Divino.é por isso que o balanço retornará à posição de O mesmo acontece com dois diapasões com arepouso em determinado momento. O tempo mesma frequência de, por exemplo, 440 Hz.que o balanço precisa para movimentar-se de Um fenômeno bem conhecido é que um delesum lado ao outro é denominado período. Este começará a vibrar se o outro receber um golpese define pela relação entre a força que o faz inicial e não estiver demasiado longe. A vibra-retroceder e a inércia. O período de duração ção do segundo é transmitida ao primeiro poré maior quando o balanço é mais longo e a meio do ar, exatamente como a mãe põe emgravidade menor. movimento o balanço.Depois que a mãe interiorizou o ritmo, ela Somente um pequeno passo separa esses fenô-pode dar o próximo impulso até de olhos fe- menos naturais do ser humano. Pensemos, porchados. Fala-se de “ressonância” quando isso é exemplo, no fato de que a entonação das pala-possível no ritmo natural do balanço. Quando vras é que lhes dá seu significado. Assim comoos dois ritmos estão exatamente sincronizados, um diapasão, todo ser humano tem uma “fre-a força necessária para manter o movimento quência” ou um “comprimento de onda” corres-é mínima. Realmente pode-se falar de uma pondente aos diferentes aspectos de sua persona-“cronometragem” perfeita quando há essa res- lidade-eu. Se encontramos a intensidade corretasonância. No nosso caso, isso acontece devido da frequência, podemos falar de uma comuni-à atenção da mãe. O balanço apenas conhece o cação objetiva – isto é, nós nos “sincronizamos”próprio ritmo e não tem como harmonizar-se uns com os outros. Se não houver essa afinação,com a mãe. então não adianta falar alto nem mesmo gritar. afstemmen op de eeuwigheid 39

Todas as radiações são captadas e assimiladas de formadiferente pelas pessoasAlgo semelhante acontece no caso do balanço: essas considerações possam contribuir parao período de duração mudará quando dermos melhor entendimento da atividade das influên­um impulso mais forte. Um exemplo de harmo­ cias gnósticas. Ao lado dos mais variados tiposnização paciente no longo prazo é “a espera do de sensibilidade às influências provindas destamomento psicológico” ou “a espera da chegada nossa natureza cheia de repetições e do mundoda hora certa”. Assim como a mãe apenas pode que conhecemos, também existem em cada serempurrar o filho no balanço quando ele nova- humano sensibilidade e receptividade às influên­mente aproximar-se dela, também na vida sem­ cias do campo de vida original, onde o desen­pre há situações em que somente se pode influir volvimento é contínuo, porque no ser humanode forma positiva no momento certo. Vários se encontra adormecida uma centelha de luz queinstrumentos de medida utilizados pelo homem pode irradiar a luz divina. Afinar-se com a luzrecorrem ao princípio da ressonância. Em eletro­ é um processo espontâneo para quem vivenciatécnica, por exemplo, um aparelho de rádio – o a profunda experiência de estar sempre ouvindoreceptor – tem de estar em sintonia com a fre­ a mesma ladainha nesta natureza, ou a mesmaquência da emissora para que se possa ouvir bem canção, ou seja, para quem vivencia no próprioum programa. Da mesma forma, o ser humano corpo a afirmação do pregador mencionada noparece ser, em muitos aspectos, um instrumento início. Por isso, ele anseia por algo novo, umavivo em exata sintonia, embora nem as técnicas canção nova que brote da eternidade e — ómais modernas consigam medir-lhe vibração e milagre — seja captada e compreendida por umorientação. No caso contrário, porém, o ser hu­ coração humano aprisionado nesta natureza pormano às vezes pode reagir a sinais de determi­ tanto tempo µnadas tecnologias, como, por exemplo, a radia­ção das torres de antenas de celular. O ritmo deum balanço, a altura de um som ou a cor de umraio de luz podem ser percebidos e reconhecidosconscientemente, mas isso é raro acontecer coma maior parte das radiações eletromagnéticas. Aluz que vemos é, na verdade, apenas uma faixamuito pequena do espectro eletromagnético.Todas as radiações são captadas e assimiladas deforma distinta pelas pessoas, porque cada umatem sua afinação própria, específica. Apesardisso, sempre encontraremos simpatizantes paradeterminadas intenções do nosso eu… Talvez40 pentagrama 5/2012

RESENHA DE LIVROTIzIANO TERzANI CONVERSAS COM MEU FILHO SOBRE A VIDAo fim é o meu inícioE sse é o título significativo do livro em que A narrativa dessa existência vivida intensamente o jornalista italiano Tiziano Terzani (Flo- esboça de maneira exemplar o caminho de expe- rença, 1938 – Orsigna, 2004), já doente e à riência do homem ocidental. Uma vida na qualbeira da morte, relata uma conversa com o filho esse homem, ainda jovem, desde cedo já se livraFolco e lança um olhar retrospectivo sobre sua da camisa-de-força na qual seu ambiente procu-fascinante vida pessoal, que, ao mesmo tempo, ra encerrá-lo e, cheio de entusiasmo e paixão,esteve estreitamente entretecida com as grandes planeja melhorar o mundo. É um idealista por na-revoluções do mundo de sua época. Ele fala de tureza e vive para seu ideal. Cria planos, concre-coragem e amor, de beleza, de transitoriedade, de tiza-os, não se assusta diante dos riscos e tambémcomo aprendeu a deixar tudo para trás, e sobre a paga um preço por isso. Desse modo, sempreverdadeira vida. Enfim, sobre o que foi verdadei- chega a novos conhecimentos – e, por fim, a umramente essencial em sua existência e sobre como conhecimento verdadeiramente libertador…aprendeu aos poucos o que realmente importa navida. Ler esse livro é como ler um testamento, Vindo de uma família pobre e simples, ele rece-no qual o leitor é encorajado a sair dos caminhos be uma bolsa de estudos e se forma em Direitojá batidos e a abrir sua própria senda com au- com o objetivo de “defender os pobres contra ostenticidade e criatividade. Ao mesmo tempo, é ricos, os fracos contra os fortes, de transformaro documento de uma vida extraordinariamente a sociedade doente, falida e injusta”. Acredita,rica em experiências e em conhecimento sempre como muitos outros, que o comunismo pode vircrescente a respeito do significado da existência. a ser a solução. Em sua primeira viagem como jornalista, conhece a África do Sul. Seus arti-Correspondente da revista alemã Der Spiegel, gos sobre o apartheid colheram muitos aplausos.o autor trabalhou por aproximadamente 25 Tendo conseguido uma bolsa de estudos, decideanos como correspondente na Ásia, vivendo no aprender chinês em uma universidade america-Vietnã, no Camboja, na China, no Japão e na na. Ao mesmo tempo, nos EUA, vê-se diante daÍndia. Assim, ele relata, em estilo muito origi- grande desigualdade social. Em virtude de seunal, os grandes incêndios que ali grassaram no grande respeito por pessoas como Che Guevaraúltimo século e como os vivenciou, lançando e Mao Tsé-Tung, decide viajar para a China.sobre eles um olhar retrospectivo, agora com Lá, parecia ter sido posta em prática a socie-uma nova visão. dade sem classes, na qual não se trabalha paraDepois desse período agitado e arriscado, Terza- ganhar dinheiro, mas onde a satisfação moralni recolheu-se por algum tempo no Himalaia e é a verdadeira recompensa. Depois de séculospublicou vários livros, que foram traduzidos em de fome, a necessária subsistência era garantidadiversos idiomas. para cada homem. Tiziano ainda estava entusias- o fim é o meu início 41

mado com a revolução cultural, cujos excessos via fazer? Esconder meus apontamentos e tentarsangrentos ainda não eram conhecidos. Mas, salvar as agonizantes”. Uma a uma, ele as leva aapesar disso, não consegue entrar no país como um posto da Cruz Vermelha e então diz: “Es­jornalista estrangeiro. Então, vai ao Vietnã, ses acontecimentos insignificantes mostram queonde se simpatiza com os vietcongues. Culti­ a vida é cheia de alternativas, de decisões queva uma tendência contra “os invasores que não temos de tomar para, em seguida, estar em pazconheciam nem a história, nem a cultura desse conosco mesmos”.país”. Também acompanha de perto as guerras Sobre as revoluções nas quais se envolveu levadono Camboja e no Laos e tenta entendê-las desde pela profissão, ele é conciso: “Foi um século deo âmago. Usa a roupa do país, fala o idioma terríveis desilusões. É por isso que hoje tambémdo país e fica conhecendo o país por meio das reina absoluta desorientação entre as pessoas. Jápessoas. Mas, ao mesmo tempo, está desiludido não temos nada a que possamos apegar-nos”.diante de tanta violência da guerra: “Ninguémconsegue ser objetivo. Por todo lugar o cenário E então, acamado pela doença, quando os que oé o mesmo: as guerras, a mentira, a morte, a visitam perguntam sobre seu estado, ele res­obstinação absurda. Tudo se repete; daqui a dez ponde: “Bom! Do ponto de vista psíquico euanos vai estourar outra batalha em uma nova me sinto esplêndido. Observando tudo o queTombuctu.” Depois de todas as suas experiên­ se passa à minha volta, agora estou esperando ocias, ele está à beira do cinismo, a ponto de não fim: fecha-se o círculo. Uma vez foi perguntadotomar mais nada a sério. Ele, que sempre esteve a um mestre zen: Qual é o sentido de tudo isso?à procura da verdade por detrás dos fatos, acaba Então ele pegou um pincel chinês, mergulhou-oabandonando esse caminho. “E, desde então, no tinteiro e desenhou um círculo. Este é meuperdi a visão de conjunto.” E conclui: “Eu era sonho. Bonito, não é? Fechar o círculo”.famoso (como correspondente), mas continuava Voltando à história de sua vida: finalmente eleo mesmo que sempre havia sido: um cético que entrou na China, mas, então, há muito temponão se sentia ligado a uma única ideologia ou já se havia apagado seu interesse pela realidadepartido”. política do maoísmo, que ele sabia haver sido um fiasco total como solução para os proble­Vivencia de perto o horror do regime do Khmer mas da humanidade. Terzani indaga-se de queVermelho, mas também a oposição igualmen­ serviram essas revoluções, todas as vítimas, aste sangrenta. Ao ver algumas mulheres como muitas vidas humanas, todo esse sofrimento; en­mortas na estrada, ele verifica: “Elas pareciam tão, reconhece que o resultado final é sempre omortas, mas ainda respiravam. Eram do Khmer mesmo. Quando o filho não concorda com isso,Vermelho, as assassinas de ontem. O que eu de- ele diz: “Minha conclusão é que o que conta42 pentagrama 5/2012

Foi no Japão que minha grande crise começou,pois eu via uma enorme diferença entre o queeu queria ser, o que eu era e o que deveria serúnica e exclusivamente é a revolução dentro de O homem Terzani havia chegado a um pontonós mesmos. Todas as outras revoluções vão re­ morto, a uma crise profunda na qual emergiapetir-se sempre, pois o que está por trás delas é a verdadeira questão sobre a vida. “Até então,a natureza humana. Se o homem não mudar, se eu não havia feito a grande indagação filosóficanão melhorar, se não renegar a violência, tudo sobre quem eu era realmente. É preciso tempose repetirá permanentemente”. E continua: “Aos para entender quem é você – isso não é tão sim­poucos, na China, foi ficando claro para mim ples. Mas essa identidade me pressionava muito.que o antigo homem chinês era fantástico, e que Foi no Japão que minha grande crise começou,sua cultura era impressionante, grandiosa e rica. pois eu via uma enorme diferença entre o queCom isso, em vez de interessar-me pelo chinês eu queria ser, o que eu era e o que deveria ser.”de hoje, saí à procura do antigo, da maravilhosa De lá, ele foi para a Tailândia – não para exercerChina antiga e de tudo o que restou dela”. o jornalismo, mas para recolher-se por algumDepois de muitas viagens ilegais, por não terem tempo em um ashram. Ele próprio ficou muitosido controladas pelo Estado, Terzani foi ex­ surpreso com essa transformação tão radical.pulso. Chegando ao Japão, vê-se jogado de um “Imagine que, durante anos, vivi na Ásia eextremo a outro. Fica muito desiludido também comprei figuras de Buda sem perguntar-me ocom a sociedade ocidentalizada que encontra que elas na verdade faziam com os olhos meiopor lá: “Acredito que tudo, até mesmo minha fechados e as mãos no colo. Nunca me haviadoença, começou no Japão por causa de minha perguntado isso! Somente agora; e decidi tirar aimensa tristeza de ter de viver em uma socie­ prova por mim mesmo…” E ele continua dizen­dade que não é livre. Era profundamente trá­ do: “Somente com a concentração, quando dei­gico contemplar o suicídio de uma civilização xamos todo o resto lá fora – os ruídos, o gorjeiotão especial. Cento e vinte milhões de pessoas de pássaros, sensações e desilusões – é que seesforçando-se até a exaustão para acompanhar o cria o vazio. Quando desejamos isso, esse vazioOcidente do ponto de vista econômico. Eu me é você: aquele você que é parte de um granderelacionava com japoneses desumanizados, com­ todo – não só da humanidade, mas do cosmo! Epletamente humilhados, reduzidos aos papéis quando, aos poucos, vamos observando as coisasque desempenhavam. De todas as sociedades dessa maneira, tudo se transforma”.que eu havia criticado, aquela era a mais dura.Ela obrigava as pessoas a levar uma vida pa­ Em uma viagem exploratória a cavalo peladronizada desde quando acordavam até a noite, distante região de Mustang, também conhecidaquando mergulhavam, exaustas, na cama. Na como Reino de Lo, no interior do Nepal, eleverdade, foi aí que começou a minha depressão. observa que a população vive em paz e comJá não via alternativa…” simplicidade, mas também verifica que parte o fim é o meu início 43

Quando você consegue sentir-se como parte dessa maravilha –não aquele “você” com dois olhos e dois pés, mas o você, o maisrecôndito ser – o que você ainda pode querer? Um carro novo?dela sofre de tracoma, uma inflamação nos olhos últimos dias e diz: “Sabe, Folco, quando daqui deque pode levar à cegueira. A experiência desse nossa campina contemplo esse vale maravilhoso,contraste coloca-o diante de um autêntico dile­ entendo que esta região me ajudou um pouco ama. Ele se dá conta de que, apesar da doença, conseguir o que sempre procurei: alcançar outroque quase não ocorre entre nós, nossa vida no ângulo de visão… O mundo é uma maravilha,Ocidente não é mais feliz do que a do povo Folco, uma maravilha incrível! Quando vocêde Mustang. Como humanitarista e com sua consegue sentir-se parte dessa maravilha – nãotendência espontânea para ajudar, ele já não sabe aquele ‘você’ com dois olhos e dois pés, mas oo que fazer. “Qual é o caminho do meio? Se você, o mais recôndito ser – o que você aindaquisermos fazer alguma coisa contra o tracoma, pode querer? Um carro novo?”será realmente inevitável que um lugar tão bo­nito quanto Mustang fique totalmente transfor­ Em outra ocasião, ele fala sobre sua relação commado – a ponto de as mulheres, que ainda hoje a Índia, sua admiração pelos grandes pensadoresfazem fogo com estrume de vaca, tenham de de lá, como Vivekananda, Ramakrishna, comopassar o dia inteiro atrás de máquinas de costura Gandhi e Ramana Maharishi, mas também comfazendo sapatos esportivos para poder comprar o filósofo teosófico Roerich. Com relação àum aparelho de TV e assistir ao “Big Brother”? liberdade de poder de Gandhi, ele quer tirar doQual é a solução? A beleza do mundo, que está caminho um preconceito. “Os partidários da nãojustamente em sua diversidade, pode ser salva?” violência são vistos como aqueles que se deixamEm uma das conversas com o filho Folco sobre espancar. Na verdade é preciso mais do que issosocialismo, comunismo e capitalismo, ele diz: para ser não violento. Acho que as escolas deviam“Toda ideia que é institucionalizada adoece e começar com aulas sobre o significado da nãomorre. O mesmo se dá com as religiões. Elas violência, e isso implica em muito mais coisas: emcomeçam com uma inspiração especial, com alimentação vegetariana, em respeito pelo mundoum profeta, seus discípulos e um sentimento de e pela consciência, pois penso que a Terra nãoeuforia. Porém, de repente, alguém diz: ‘Quem pertence somente a nós, mas sim a todos. Pensoquiser entrar terá de usar um barrete amarelo!’ que o grande tema do futuro será a oposição àTodo o frescor, toda originalidade se perde então. economia que domina nossa vida, e a luta porO socialismo é um ideal bonito. Ora, no homem uma forma de espiritualidade – que podemosexiste, profundamente, uma necessidade absoluta também chamar de religião – à qual as pessoasde liberdade. E esta conduz ao capitalismo, ao possam recorrer. Ora, esse é um fator constan­acúmulo de dinheiro”. Depois, Terzani fica de te na história da humanidade: o desejo de sabernovo em silêncio, agradecido, diante do magní­ por que, afinal, estamos no mundo… Há muitafico panorama do lugar onde deseja passar seus coisa de que nem precisamos, na realidade, mas o44 pentagrama 5/2012

© ORLATI MASSIMILIANO‘terror do consumo’ nos induz a querê-las mesmo Aí está a questão crucial. Não ouso dizer que éassim. Nossa vida inteira acaba dependendo desse impossível existir salvação. Então, lembro-me domecanismo. Porém, praticamos uma oposição Bhagavad Gita e penso: Faça o que deve ser fei­quando deixamos de participar disso. Quando to. O destino do mundo não está em suas mãos.nos ‘abstemos’, contrapomos a não violência ao A única solução é trabalhar dentro de si mesmo.poder. O que precisamos é de um ato de força es­ Se você se tornar melhor, se tomar consciênciapiritual, de uma revisão de antigos padrões, pre­ da falta de sentido de tudo o mais, então poderácisamos despertar outra vez. E isso tem a ver com lançar, onde for possível, a pedra fundamentala procura da verdade, algo com que atualmente para algo maior, algo que considero essencial: aninguém mais se importa. Também quanto a isso elevação do homem para um estágio espiritualGandhi foi um grande homem. Ele procurava a mais elevado.”verdade, aquilo que está por detrás das coisas”. Assim, no final desse livro comovente de Tizia­Terzani torna-se cada vez mais positivo quanto no Terzani, o leitor parece ter percorrido comao fim: “O macaco desenvolveu-se, vindo a tor­ ele todo o curso de sua vida e ter sido testemu­nar-se um homem. Por que, afinal, o homem não nha de sua transformação – de um revolucioná­continuaria a desenvolver-se, dando mais um pas- rio exterior para um revolucionário interior. Eso não apenas material, mas também espiritual? não é justamente esse o passo que pode mudarOra, a possibilidade para isso lhe é dada! Essa é a humanidade de forma firme e permanente,a esperança do pensador hindu Sri Aurobindo: e, seja qual for o modo que as vidas se apre­a esperança de que alguma coisa leve o homem sentem individualmente, dar a cada vida o seua dar esse passo, finalmente. O próximo passo é valor universal? µpara o alto!”Será que, depois de tudo isso ainda há esperança Terzani, T. La fine è il mio inizio: Un padre racconta al figlio il grandepara a humanidade, ainda há algo a ser salvo?Sua resposta a isso é, mais uma vez, que apenas viaggio della vita (O fim é o meu início: um pai conta ao filho a gran-a revolução dentro do próprio homem pode mu­dar seu destino. “A sociedade merece ser salva? de viagem da vida). Milano: Longanesi, 2006. o fim é o meu início 45

OS Q U AT R O E L E M E N TO S O fogo é “o calor vital, a centelha de vida, a vida universal na natureza inteira. É a unidade de todas as coisas, apenas compreensível no Espírito”. Fogo é o nome simbólico para a vida que anima tudo no caminho que leva à compreensão perfeita da unidade universal, do Criador. Como dizem as antigas doutrinas de sabedoria,tudo o que é material finaliza com o fogo mediante espiritualização. Ninguém pode predizer quando isso acontecerá, mas quando a chuva, o vento ou o fogo consomem o velho paradar espaço para a verdadeira terra-céu, então, como diz Platão: não te agarres ao velho, masf o g o deixa o coração aberto, a fim de consolidar o interior, o reino, Deus no ser humano!

FRAGMENTO DE DIÁRIO que música a alma canta? Tudo o que existe emite uma vibração Quando estou afinado com a nota fundamental de inquie­ tação desta época, com o estímulo exterior para constante mudança, fico em harmonia com os sons baixos e as vibra­ ções distorcidas que vêm do mundo – oscilações que, apesar de ressoarem em meu corpo, não se refletem em minha alma. E, pelo que entendo, apenas na alma pode ressoar e insta­ lar-se o que chamamos de harmonia, unidade pura e amor verdadeiro. São vibrações de tonalidade totalmente diferente, que despertam em mim o anseio da busca de minha própria nota fundamental. Ouço essas vibrações como um chamado praticamente inaudível, não terreno, como a sonoridade de uma melodia pura que ressoa em mim: é como a canção de minha alma. Ao mesmo tempo que é pura alegria, nela ressoa algo como uma saudade de minha origem esquecida e da qual minha alma se separou em outros tempos. “Escuta apenas! Canta tu mesmo essa canção em voz alta e forte!” Capto esses novos sons e os emito novamente. Essa canção que vem do mais profundo anseio evoca sons mais elevados, que, por sua vez, intensificam todos os outros sons. O tumulto barulhento do mundo não consegue encobrir-lhe a melodia! Ao contrário: crio dentro de mim uma ressonância suave, um acorde harmônico vibrante, com o qual minha canção de liber­ dade se sintoniza de tal modo que vibra cada vez mais forte e consegue tocar outros seres humanos que, como eu, conhecem essa nostalgia, essa saudade. Todos a quem essa canção se desti­ na a ouvirão. E cada vez mais forte ressoa essa canção da alma, que nasceu da unidade, da harmonia e do amor, sentimentos que encontrei no caminho de volta para o lar. De um aluno, 2 de maio de 2012 que música a alma canta? 47

O Q U I N T O E L E M E N T OQuatro elementos deram alento ao homem: eles acrescentaram-lhe calor e frio de acordo com suaessência. Calor e frio são vida e morte: assim soou o Verbo, eterno e poderoso. O fogo que sustentatoda vida sempre se extingue na luta com a água. A frágil linha da vida, aquecida pelo fogo que tudogoverna ativamente, é apagada pela água. Surgimos dos elementos: fogo, terra e água fizeram com quedespertássemos. O fogo deve dominar sobre a água, a fim de não retornarmos à condição de barro.Quando isso não acontece, surgem doença e dor. Não te esqueças: durante a vida inteira, a água éda mais alta importância, porque, se o fogo pode movimentar-se e correr livremente, a água precisasempre seguir determinado caminho. Às vezes, quando as águas se avolumam e ameaçam seriamenteo fogo do espírito, calor e frio travam violenta luta numa batalha de vida ou morte. Quando o calorprevalece, vida e saúde se mantêm; mas quando o frio sai vitorioso, morte e silêncio passam a reinar.No dia em que o fogo e o espírito te trouxerem a febre, deixa que esses amigos consumam tudo o queé velho. Se o frio é dissolvido no amor, tua alma e também a natureza são salvas.h o m eCom gratidão ao dr. Samuel Thomson (1810–1860) m