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Revista Pentagrama 2009-5

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:21:32

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pentagrama Lectorium Rosicrucianum O bom fim Kafka e o caminho para a bem-aventurança A quarta dimensão Da ficção científica à realidadeTema A verdade sobre o eu2009 5OutubroNÚMERO

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaRedação finalP. Huijs Lectorium RosicrucianumImagens A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção deI. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoorn seus leitores para a nova era que já se iniciou para o desenvolvimento da humanidade.Redação O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthoorn, do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémA. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. Brul o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Secretaria to, um símbolo somente tem valor quando se tornaC. Bode, G. Uljée realidade.O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está noEndereço da Redação caminho da transfiguração.Pentagram A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaMaartensdijkseweg I, revolução espiritual em seu próprio interior.NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraLectorium RosicrucianumAdministração, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) 4016-3405www.editoralrc.com.brResponsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM. R. de Matos MoraesTradutores e revisoresA. S. Abdalla, S. P. Cachemaille, I. Duriaux,M. H. Figueiredo, J. Jesus, A. C. da Mata,M. S. Sader, U. B. Schmid, M.V. Mesquitade Sousa, M. B. P.Timóteo, C.H.Vasconcelos.Diagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a ano 31 número 5 2009O estudo do homem sumário“O homem dialético é um ser principesco na oninatureza, o bom fimdotado de imensa força. Todas as possibilidades da natu- j. van rijckenborgh 2reza dialética podem ser liberadas nele e mediante ele. E a possibilidade da bem-aventurança 12essa figura principesca não se deixa destronar facilmente. a quarta dimensão 18Pensa-se também freqüentemente, ou quase sempre, quea forma natural seja o verdadeiro homem.” tema: a verdade sobre o eu o eu: um buraco negro? 22Com essas palavras de Jan van Rijckenborgh começa a o homem não precisa ser seu eu 25presente edição da revista Pentagrama. a coragem de conhecer 28 religião: caminho de consciência 32A Doutrina Universal muitas vezes enfatiza o ensina- tudo que é perecívelmento que não fala a mesma linguagem do intelecto. A é apenas alegoria 35alma aprende em sabedoria; ela aprende em conexão nirvana: suprema vacuidade e fonteativa com as vibrações do corpo-vivo. A personalidade de vida 38mostra como e por que sua natureza inferior, seu focomental e seu eu são, em primeira instância, um obstá- atualidadeculo. Porém, onde a sabedoria cresce, o eu desaparece. da ficção científica à realidade 43E a natureza inferior e o pensamento servem ao gloriosoprocesso de reversão, transmutação e transfiguração.Esse assunto é especialmente enfocado na parte temáticadesta revista Pentagrama: a verdade sobre o eu.Neste número também enfocamos as novas condiçõesatmosféricas, que podem ser de grande ajuda ao homemnesse processo de gênese da consciência. Capa: “O vento sopra onde quer, e ouves sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é renascido do Espírito.” (João 3:8) foto: © Steve Meyer, Spotsylvania,Virgínia, 2009 tijd voor leven 1

o bom fimO homem dialético é um ser principesco na oninatureza, dotado de imensa força. Todas aspossibilidades da natureza dialética podem ser liberadas nele e mediante ele. E essa figuraprincipesca não se deixa destronar facilmente. Pensa-se também freqüentemente, ou quasesempre, que a forma natural seja o verdadeiro homem. E assim, o obreiro hermético encon-tra em muitos a descrença, o escárnio e a oposição. E justamente por isso, e sem o querer, ohomem hermético impele-os, muitas vezes, pelo caminho da morte, pelo infindável caminhodas experiências, o caminho do castigo, diante e por meio de amarguras cada vez mais acerbas.Mas, graças a Deus, existem também os que ouvem e compreendem. Esses constituem, juntos,a colheita. E essa colheita forma um grupo que começa a trilhar a senda de baixo para cima.Esse grupo forma uma fraternidade, uma Gnose e um campo de trabalho.No versículo 60 Pimandro indica as en- poder mais suportar; e o homem, por fim, desse tidades das quais permanece afastado. modo abrandado, amadurece para a grande lição. E esclarece quais as conseqüências que Porquanto, todo esse longo caminho da experiên-resultam quando, num campo de vida como o cia, esse profundo caminhar nas trevas, não temnosso, entidades que se prendem à forma natu- outro objetivo senão o de, por fim, fazer triunfarral, portanto a humanidade dialética comum, e o espírito. Quem compreendeu isso e sabe queas nascidas como almas se encontram no mesmo o nascimento da alma é o primeiro passo para aespaço. salvação pode perguntar-se em que consiste, aO mundo está povoado por milhões de pessoas, seguir, o retorno ao reino da luz do princípio, oe entre elas desenvolve-se um grupo de seres de caminho ascendente para a vida original. Os ver-natureza gnóstica, grupo que se torna cada vez sículos 62 a 65 do livro Pimandro respondem a estamais forte e no qual, em certo momento, a luz da pergunta. (Vide box 1 na página 4)alma manifesta-se claramente. Esse fogo anímico Tendo nascido a alma e se desenvolvido a figurae o fogo terrestre rubro-escuro não se toleram. E anímica, o corpo anímico, a antiga forma naturalquando o fogo anímico não pode ser acrisolador, desaparece. Ela se dissolve, por assim dizer. Mas,não pode agir para a libertação, ele atua, como exatamente como acontece na morte comum dodiz Pimandro, sempre em sentido punitivo. É por corpo material, também nesse processo a formaisso que [ele declara a respeito dos insensatos, dos natural não desaparece de repente. Quando aperversos]: alma nasceu e é tecida a veste áurea nupcial, o an-“Abandono-os ao demônio vingador que trata tais tigo corpo, nascido da natureza da morte, dimi-homens com o flagelo do fogo que atua em seus nui em força e, em certo momento, desaparece dosentidos, incitando-os ainda mais a ações ímpias, campo visual; a esse duplo processo denominamospara que lhes seja imposto castigo ainda maior. A transfiguração. No entanto, repetimos, apesar deconcupiscência desses homens procura constante- a forma natural ter desaparecido, as suas forçasmente por satisfação cada vez maior, deixando-os permanecem por um tempo. E também elas, queenfurecidos nas trevas, sem que fiquem saciados; inicialmente causaram a formação, o nascimento enisso consiste o seu tormento, e assim a paixão a conservação da forma natural, precisam desa-que os queima arde cada vez mais.” parecer, precisam ser neutralizadas, dissolvidas eEsse é o caminho da amarga experiência. E talvez remetidas para sua origem.já o tenhais experimentado na vida: quem ainda Já falamos antes acerca do “anel-não-mais-além”,não consegue aprender da amargura deve passar como o denomina a Doutrina Universal. Essapor amarguras cada vez maiores até... sim, até não circunferência limite refere-se ao microcosmo.2 pentagrama 5/2009

Em uma série de artigos com esse nome, desejamos deixar Hermes falar,assim como J. van Rijckenborgh fez para seus alunos nos comentários sobre oCorpus Hermeticum. Hermes é o homem nascido da natureza que, no caminho de libertação da nova alma, permitiu seu despertar e, continuando a trabalhar, está a caminho de tecer a veste áurea nupcial. Nesse caminho, num momento crucial, revela- se a nova consciência, ou a consciência hermética. Assim que essa nova consciência opera, surge “Pimandro”, a sabedoria onipresente de Deus, “o Verbo do princípio”.J. van Rijckenborgh Toth (Hermes). Século 19. Desenho a lápis. Oskar Parizza o bom fim 3

Pimandro, versículos 62 a 65 No ser aural, que é o sistema magnético do microcosmo, estão presentes sete círculos, seteNo processo de dissolução do corpo esferas magnéticas que estão em correspondênciamaterial, primeiro esse corpo é entregue com os sete domínios intercósmicos. Cada umaà transformação, e a forma que possuíste dessas sete esferas magnéticas subdivide-se, pornão é mais vista. Entregas ao demônio sua vez, em sete aspectos. E assim podemos verifi-o teu eu comum, que daí em diante está car no ser aural quarenta e nove aspectos magné-fora de atividade; os sentidos corporais ticos, quarenta e nove diferenciações magnéticas.retornam à sua origem, da qual voltam a Quando, pois, o homem-alma nasce e cresce efazer parte, identificando-se novamente os estados magnéticos do sexto domínio cósmicocom a atividade dessa origem, enquanto as são vivificados e, por conseguinte, o respectivoforças dos instintos e desejos regressam à firmamento magnético começa a resplandecer,natureza irracional. a sétima esfera magnética é neutralizada; ela, noE o homem prossegue ascendendo por exato sentido da palavra, é extinta, é posta fora demeio da força que interliga as esferas; ao uso. Isso não é descrito unicamente no Pimandro,primeiro círculo cede a força para crescer de Hermes, mas também no evangelho Pistise diminuir; ao segundo círculo entrega a Sophia, onde é descrita a viagem do homem-almatendência para a malícia e a astúcia, que através dos sete aspectos da sétima região cósmica,se tornou impotente; ao terceiro círculo a sétima esfera magnética. Nessa sétima esfera eleabandona a ilusão dos desejos doravante abandona todas as forças do antigo estado de vida,impotentes; ao quarto círculo abandona estado esse dissolvido e tornado invisível.a prepotência da obsessão pelo poder, E assim, finalmente, livre do passado, ele atingeque já não pode ser satisfeita; ao quinto a chamada oitava esfera, isto é, a primeira esferacírculo, a audácia ímpia e a temeridade da sexta região cósmica, esfera freqüentementebrutal; ao sexto círculo abandona o apego denominada pelos antigos como a oitava e, naà riqueza, doravante sem efeito; e ao terminologia da jovem Gnose, “Cabeça Áurea”.sétimo círculo abandona a mentira sempre Nesse domínio da vida liberta ele ascende perfei-ardilosa. tamente em sua nova força própria. Por isso diz oE quando se livrou de tudo o que proveio versículo 65:da força que interliga as esferas, ingressa “E, tornando-se semelhante a eles, ouve tambémna oitava natureza de posse apenas de hinos de louvor a Deus cantados por certas forçassua própria força e canta, com todos que que se encontram acima da oitava natureza.”lá estão, hinos de louvor ao Pai; e todos Essa percepção, esse novo ouvir, nada tem a verse regozijam com ele pela sua presença. com clariaudiência. É o ouvir ao qual tambémQuando se tornou semelhante a eles, a antiga filosofia chinesa faz menção. Quandoouve hinos de louvor a Deus, cantados a luz da Gnose toca um homem, penetra-o epor certas forças que se encontram acimada oitava natureza. Depois eles sobempara o Pai em ordem correta, rendem-seàs forças e, por seu turno, convertidosem forças, entram em Deus. Eis aqui obom fim para os que possuem a Gnose:tornam-se Deus.4 pentagram 3/2009

começa a circular nele, ela não influencia apenas ao bom fim!” E quando num ritual gnóstico sea visão, mas também a audição; é o ver e o ouvir diz “esperamos e oramos que tudo possamos levardo recém-nascido homem-alma. E assim como a um bom fim”, podemos, doravante, compreen-esse homem em certo momento vê Pimandro, dê-lo perfeitamente. O bom fim no novo estadotambém em certo momento começa a ouvi-lo. de vida é, ao mesmo tempo, um novo e glorio-É evidente que o irmão ou a irmã que alcança so começo. Desse modo, o homem hermético éa Cabeça Áurea está equipado, segundo a alma, instruído no grande processo de retorno, do qualcom novos sentidos. Por conseguinte, o homem- ele mesmo participa, no qual ele diligencia, passoalma ouve também as forças que estão acima da a passo, para tudo conduzir a um bom fim.oitava natureza cantar hinos de louvor a Deus. Suponhamos, uma vez mais, caro leitor, que tenhaisAssim, ele prossegue, elevando-se em direção a ingressado nesse processo; que destes o primeirotodas as forças do novo estado de vida. E final- passo para a realização do renascimento da alma.mente ele entra em Deus. Então, a palavra de Pimandro se dirige também aEste é o bom fim para os que possuem a Gnose, o vós, assim como a Hermes, no versículo 66:verdadeiro conhecimento de Deus: eles se tornam “Mas... por que hesitas, então? Tu, que tudo rece-deuses. Esse ponto da realização é sempre indicado beste de mim, não vais aos que são dignos disso,na Gnose como “o bom fim”. Quando os antigos para servir-lhes de guia, a fim de que, graças à tuacátaros se congregavam em seus serviços, então intervenção, o gênero humano possa ser salvo porum desejava ao outro: “Queira Deus te conduzir Deus?”esta é a característica a que se perimente a presença desse reino, mas ele mais favoráveis, consta de um trabalhodeve prestar atenção: quem se tornou um ficou no imobilismo.Tal homem chegou a mais ou menos expressivo, com uma cen-homem nascido como alma, um homem um beco sem saída no engodo ocultista ou telhazinha da Gnose primordial brilhandohermético, já não pode estar inativo na místico e deleita-se na própria ilusão. Ele é aqui ou ali. E afora isso, o resto é puramen-universalidade dos fatos. É totalmente fervoroso em manter presa pelo eu a sua te contemplativo, invencionice egocêntrica,impossível que semelhante homem possa descoberta interior. Na literatura mundial muitas vezes combinada muito inteligen-assistir, passivamente. durante anos, como encontramos a descrição de uma série temente e imaginada de modo muito sutil.os outros são ativos. Quando alguém, de de homens semelhantes; homens que, no Mas que utilidade tem isso do ponto demãos ociosas e apenas com olhares de verdadeiro sentido da palavra, podem ser vista da libertação da humanidade? E écrítica, assiste como outros realizam o considerados “jovens ricos”. Eles estão car- justamente disto que se trata: para po-trabalho a serviço da Gnose, pode-se estar regados de tesouros, mas nada mais fazem dermos salvar almas humanas, precisamosabsolutamente certo de que esse alguém do que se deleitarem nesses tesouros com pôr mãos à obra e de mangas arregaçadasnão é um homem nascido como alma. Isso o seu pensamento egocêntrico. caminhar para a ação e, se necessário for,é impossível. Ele pode, talvez, possuir uma Às vezes escrevem grossos livros acerca estar preparados para caminhar atravésidéia do reino interior; é possível que ex- desses tesouros. O conteúdo, nos casos da lama. o bom fim 5

E mais adiante no versículo 67: fica impassível, contemplando como as coisas se“E eu, agora revestido de força e instruído quan- desenvolvem e como outro, talvez, tire as casta-to à natureza do Universo e da sublime visão, nhas do fogo, porém ele se dirige decididamenteagradeci e enalteci o Pai de todas as coisas. Então para o trabalho e participa da santa obra. Por issocomecei a pregar aos homens a beleza da vida a característica de um homem nascido como almadirigida a Deus e à Gnose.” [...] é sempre e inexoravelmente uma vida ativa a ser-O homem-alma, o homem que é guiado por viço da Gnose, seja de que maneira for, sem pausaPimandro, sabe que a quantidade de ceifeiros é e com todas as forças.muito pequena e que neste campo sempre há falta Eis por que também no fim do primeiro livro dode mão-de-obra. Ele também sabe dos grandes Corpus Hermeticum essa conseqüência, que valeperigos que ameaçam a humanidade, os perigos da para todas as entidades anímicas, é esclarecidadesmaterialização negativa, os perigos do declínio, com pormenores nos versículos 68 a 71. Nelesdo caminho das profundas experiências dolorosas descobrimos os conhecidos aspectos no trabalhoque conduzem a amarguras ainda maiores. da vinha. Por isso Hermes precisa falar aos povosA Gnose trabalha sempre para a salvação da hu- (versículo 69):manidade, seja para uma ressurreição, isto é, para “Libertai-vos da luz tenebrosa e tornai-vos par-uma salvação imediata, seja para uma queda, isto tícipes da imortalidade, afastando-vos definitiva-é, uma salvação num futuro distante. Contudo, mente da corrupção.”por isso mesmo nenhum irmão ou irmã gnós- Isso, porém, os homens não desejam nem tam-tico desejará para alguém essa queda, dizendo: pouco compreendem, porque pensam que a luz“Declina sossegadamente, então, e aprende por tenebrosa seja a verdadeira luz. Quando alguémmeio de amargas experiências!” No entanto, o co- chega a descobrir que é possuidor de um reino in-ração amoroso não pode desistir de esperar, desde terior e possui uma vida fortemente egocêntrica,o imo de seu ser, que possa ser de outro modo! como há pouco descrevemos, e como um “jo-Por isso, um homem nascido como alma não vem rico” cultiva os seus tesouros negativamente,6 pentagrama 5/2009

Libertai-vos da luz tenebrosa e tornai-vospartícipes da imortalidade, afastando-vosdefinitivamente da corrupçãotorna-se muito zangado quando vamos a ele e lhe plenitude divina. E mediante todo esse trabalhodizemos: “Vossa atitude de vida é inútil, estais de muitos, por muitos e para muitos, cada obrei-entregues a uma ilusão”. Aludimos a isso, como já ro-alma aprende todas as vias, todos os recursosfizemos muitas vezes, porque isso vos força a um que podem conduzir à vitória. Finalmente, todosauto-exame e porque desejamos conduzir-vos a são mergulhados no elixir da sabedoria, na águauma vida de autodescoberta. da verdadeira vida.“Libertai-vos da luz tenebrosa e tornai-vos par- Assim se patenteia que tudo isso é perfeitamentetícipes da imortalidade, afastando-vos definitiva- conhecido para os participantes da jovem Gnose.mente da corrupção.” Todos vós fostes acolhidos num grupo e for-Essas palavras do amor libertador, palavras da mais, em conjunto, uma fraternidade hermética.sempre dinâmica Gnose, não são aceitas e talvez E a Gnose original, testemunhando há milharesnem sequer compreendidas, porque se pensa que a de anos no Pimandro, de Hermes, revela-se nosluz tenebrosa seja a verdadeira luz. dias atuais em seus mínimos detalhes, na jovemO homem dialético é um ser principesco na Gnose. E também avançamos, de força em força,oninatureza, dotado de imensa força. Todas as até o triunfo certo, na pressuposição de que opossibilidades da natureza dialética podem ser aluno segue conosco e assume as conseqüências;liberadas nele e mediante ele. E essa figura prin- porque apenas assim o discipulado de uma escolacipesca não se deixa destronar facilmente. Pensa- gnóstica tem sentido. O discipulado com a nega-se também freqüentemente, ou quase sempre, ção das conseqüências somente gera perigos, por-que a forma natural seja o verdadeiro homem. E que o aluno, por efeito da autoconfissão negativa,assim, o obreiro hermético encontra em muitos seguirá, inevitavelmente, o caminho da amarguraa descrença, o escárnio e a oposição. E justamen- sempre crescente: o caminho da morte, como ote por isso e sem o querer, o homem hermético denomina Pimandro.impele-os, muitas vezes, pelo caminho da mor- Vejamos, por fim, o versículo 71:te, pelo infindável caminho das experiências, “Vindo o anoitecer, e tendo quase desaparecidoo caminho do castigo, diante de e por meio de a luz do sol, exortei-os a render graças a Deus.amarguras cada vez mais acerbas. Mas, graças a Tendo-o feito, todos retomaram aos seus lares.”Deus, existem também os que ouvem e compre- O grupo voltado para a Gnose deve formar umendem. Esses constituem, juntos, a colheita. E essa todo coerente no tocante à alma, um todo quecolheita forma um grupo que começa a trilhar a permanece intacto, onde quer que seus com-senda de baixo para cima. Esse grupo forma uma ponentes possam encontrar-se. Um grupo defraternidade, uma Gnose e um campo de traba- homens nascidos como alma, ainda que esparsoslho. E desse modo cresce um campo de irradia- pelo mundo, forma uma comunidade vivente, porção magnético gnóstico, um corpo-vivo, que se efeito do milagre da força da alma. [...] É justa-torna sétuplo e irrompe em direção ao espaço da mente isso que se torna o aspecto libertador µ o bom fim 7

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O ser-alma humano possui três princípios fundamentais:consciência, fluido nervoso e sangue. A hierarquia deCristo busca influenciar o ser anímico no sentido da li-bertação, mediante seu misterioso impulso atmosférico. J. v. Rijckenborgh, C. de Petri, O novo sinal, capítulo XII

µ O planalto de Gizé: mistério do universo sobre a terraµ Os egípcios davam às pirâmides o nome de “A Luz”µ Seus construtores, sacerdotes e magos, tinham um único objetivo:“tornar-se seres de grandes asas”



a possibilidade dabem-aventurançaO escritor Franz Kafka (Praga, 1883 - Viena, 1924) fala das coisas habituaisde maneira não-habitual. Seus contos são perturbadores, pois mostram oque é limitado e vulgar no ser humano. Mas esse autor, que morreu jovem,também tem outro lado notável, geralmente desconhecido, para qualquerpessoa que se considera buscadora da verdade.Ajulgar por seu diário e suas cartas, parece clara. Neles, ele fala sempre do que é infalível no que a maldade, a estupidez e a insensatez homem. É claro que ele mesmo viveu essa ver- do mundo faziam-no sofrer até o ódio dade. O aforismo 17, por exemplo, afirma: “Ée a aniquilação. Franz Kaf ka aspirava infatiga- um lugar em que nunca tinha estado, com umavelmente por reconhecimento e por amor sem respiração diferente, onde irradia uma estrelaencontrá-los, e em relação às forças invisíveis mais deslumbrante que o sol”.seu sentimento de culpa era quase um delírio Kaf ka havia alcançado uma estrela, uma luz dede perseguição. Sentia também que a realidade uma dimensão totalmente diferente, que irra-era fundamentalmente incerta, sem garantias, diava mais clara que as mais poderosas luzes dopodendo até mesmo desmoronar. Embora per- mundo das aparências – as quais sempre se ani-manecesse em sua profissão e entre seus amigos, quilam. O que não pode desaparecer é ina-ele morreu jovem de tuberculose, o que talvez tacável, tudo o que aparece nas mais secretasfosse um símbolo, pois, naquela época, essa profundezas do ser humano, o que constitui odoença era chamada consumpção. fundamento da sua vida, tudo isso pode perma-Em seus romances e contos, ele exprime o que necer desconhecido para ele. Também o afo-sente: o mundo é incerto, insondável e hostil rismo 50 declara: “O homem não pode viverpara o indivíduo, cheio de organizações podero- sem uma confiança constante em algo que seriasas com seus funcionários, que vivem evidente- imperecível em si, porque dessa forma tanto omente para seus empregadores. Se, como autor, imperecível como a confiança lhe permanece-Kaf ka é tão apreciado, isso se deve ao fato de riam ocultos”.ele, assim como um sismógrafo, registrar sempre Por que isso permanece sempre escondido?o estado de espírito e o estilo de vida de muitas Porque é necessário que se encontrem “os meiospessoas modernas. de expressão”, enquanto nos prendemos às coisasMas existe outro Kaf ka além dessa sombria que não tem coerência de forma alguma. Daífigura. Nos cento e dez aforismos Considerações o aforismo: “Um dos meios de expressão dessesobre o pecado, o sofrimento, a esperança e o verda- aspecto escondido é a fé num deus pessoal”. Odeiro caminho, encontramos um Kaf ka positivo, ser humano projeta para fora de si o que tem deem geral completamente desconhecido. É evi- mais interior, e cria circunstâncias externas dasdente que ele viveu experiências familiares a quais espera salvação. Para experimentar a almatodos os buscadores. Ele escreve que esses afo- imortal nele, seria melhor que afastasse suas pro-rismos resultam de uma visão particularmente jeções e finalmente as dissolvesse.12 pentagrama 5/2009

zephania@martlawrence, 2008Ele deveria parar de se prender a representações interiormente, o incorruptível, que nos liber-exteriores. Então o interior, o intocável, poderia tamos. E uma vez mais: “O homem não podese manifestar e poderia ser observado. Nietzsche viver sem uma confiança constante em algoafirma: “Deus está morto”. Sim, pois o homem que seria imperecível em si, porque dessa formaestá em condição de aniquilar todas as represen- tanto o imperecível como a confiança lhe per-tações de um deus exterior ao qual se agarra. maneceriam ocultos”. A condição essencial paraÉ apenas quando encontramos Deus que o exterior possa juntar-se ao interior é o a possibilidade da bem-aventurança 13

Praga.A casa de Kafkadesejo de experimentar o interior. que há de positivo, e isso nos é possível porque,Aforismo 16: “Uma gaiola ia à procura de seu em contrapartida, o positivo nos é ofertado. Opássaro”. Não podemos fugir dessa lingua- incorruptível torna-se, então, consciente e ativogem figurada: enquanto ego, somos a gaiola do em nós se nos desembaraçamos de tudo o que olivre e imperecível pássaro que reside em nós. obstrui.Mas, esse pássaro, não o vemos ainda. Ele per- A fórmula que conduz à realização é então atence a uma dimensão diferente do mundo da seguinte: “mesmo que sejamos obrigados a agirgaiola. Para quem deseja ver esse pássaro, há sempre de maneira negativa, é-nos, contudo,um único meio, que é encontrar-se suficien- possibilitado agir positivamente”. Desembaraçar-temente forte para ir à procura do único obje- nos de todo o negativo e de todos os obstácu-tivo: tornar-se esse pássaro. Aspiramos ao que é los que são nossas esperanças e medos ilusóriosimortal em nós: a essência mesma de nossa iden- é algo como o trabalho de Sísifo, obrigado atidade, esse pássaro livre que impedimos de se empurrar até o topo da montanha uma pedraexpandir – esse pássaro do qual não somos nem enorme, que sempre rola para baixo novamente.mesmo conscientes. E, contudo, sem o desejo da Cremos ter nos desembaraçado da ilusão e dagaiola por seu pássaro, jamais poderíamos encon- angústia, e eis que elas reaparecem de repente,trar o incorruptível. No entanto, graças ao nosso aparentemente tão fortes quanto antes. Parecemdesejo, podemos aproximar-nos dele gradual- dissipadas, no entanto apresentam-se de outramente. Como? O aforismo 27 nos revela numa forma e exigem toda a nossa atenção!bela fórmula: “Se somos obrigados a agir sempre Aforismo 15: “É como uma rua no outono: malde maneira negativa, é-nos possibilitado agir é limpa e outra vez está recoberta de folhas”. Épositivamente”. verdade, mas esse exemplo não é completamenteO que é positivo, incorruptível, existe em nós convincente. Porque, embora certos lugaresinteriormente. Em geral não o percebemos. Por sejam varridos e novos obstáculos emerjam,quê? As preocupações diárias às quais consagra- trata-se, no entanto, de folhas mortas priva-mos toda a nossa energia nos cegam; ou mesmo das de força vital e de direito à existência. E,nossa crença num deus pessoal ou geralmente sobretudo, chega o momento em que a árvoreem agentes ou salvadores externos. Esperamos, perdeu todas as folhas, e já não há necessidade deveneramos e mantemos o socorro vivo com varrer. E, então, o certo e o intangível, o purotoda a energia da nossa alma. Cabe-nos então e o sublime passam a agir na alma de maneirareconhecer e afastar de nosso caminho todas consciente. Outro aspecto dessa limpeza acon-as ilusões, com as esperanças e angústias resul- tece na vida diária, nas situações mais inespe-tantes. Agir negativamente está na nossa natu- radas. As ilusões e as angústias podem emergirreza; renunciar a essa atitude libera em nós o a qualquer momento. Nem sempre se trata de14 pentagrama 5/2009

O escritor Franz Kafka fala das coisas habituais de maneira de suas incertezas. Seus contos são mais opressivos quenão-habitual. Com seus contos disruptivos, ele tenta mostrar dinâmicos e não apresentam nem saídas nem soluções. Maso limitado ponto em que o homem se encontra, e que se incitam-nos a refletir sobre a mediocridade na qual encerra-origina de seu medo do desconhecido. Em seu conto mais mos nossas vidas, alimentando o tipo de ambição comparti-famoso, A metamorfose, ele mostra o caixeiro-viajante Gregor lhado por todos, conduzindo-nos de maneira supostamenteSamsa transformado num monstruoso inseto do tamanho conveniente. Mas o desejo de liberdade, o desejo de umade um homem. Todos repelem imediatamente o infeliz. Esse vida mais grandiosa permanece sempre. Se dermos atençãosimples conto intriga. Quem é culpado? Como reagiremos a esses estímulos e escolhermos aderir a eles, os escritos denesse caso à vida cotidiana? Kafka podem realmente indicar-nos a boa direção.Em Kafka, os principais personagens procuram oportuni- Consideramos Kafka como o escritor de língua alemã maisdades que lhes escapam devido a seus próprios limites, en- importante do século 20. Suas obras mais conhecidas são:quanto são moídos pela burocracia e esmagados sob o peso O processo, O castelo, A metamorfose.terríveis tensões que pedem esforços heróicos, estremecimentos e palpitações do coração”.ou de coragem para enfrentar grandes golpes do Todos os progressos bem como os resultados dadestino. A companhia diária de certas pessoas, as introspecção formam um belo patrimônio deatitudes para com as coisas e situações represen- que se pode orgulhar. Mas qual é a utilidade, detam todas as lições que necessitamos aprender. que ajuda são os conhecimentos e os progres-Aforismo 1: “O verdadeiro caminho segue uma sos externos se não modificarmos nada dentro delinha que não ascende às alturas, mas permanece nós mesmos? Se não se concretiza o “ser autên-no rés-do-chão. Parece destinado mais a nos tico”, o incorruptível? Felizmente, a inquietudefazer tropeçar que avançar”. A vida é essa linha corrige o orgulho do que foi adquirido: apesarque segue o verdadeiro caminho. O buscador dos esforços, não há mudança nas profundezas easpirante a uma vida grandiosa tropeça a cada apenas houve acúmulo de conhecimento. O quepasso e cai, fraco, no solo. Mas é assim que reco- é decisivo é o “verdadeiro ser”, e não a aquisiçãonhece suas ilusões e as suas angústias. Durante de conhecimentos.essa limpeza, oscila entre remorso e amor-pró- Todo esse trabalho foi feito para nada? Essa per-prio; ora, esses dois sentimentos obstaculizam-no gunta causa estremecimentos e faz palpitar oigualmente. Com freqüência ele tem a impres- coração. Ora, é bom que esse questionamentosão de não progredir e de não ter atingido nada. corretor acompanhe-nos ao longo de todo oEle recorre à crítica e considera que fracassa de caminho. Terei eu verdadeiramente mudado? Omodo lastimável. incorruptível opera reconhecidamente em meuAforismo 42: “Baixa tua cabeça cheia de aversão interior? Não serão “estremecimentos e palpi-e ódio”. O pesquisador penetrado de aversão e tações do coração”? Mas qualquer ação do bus-ódio de si mesmo pode também cair no orgulho cador faz nascer outra vez conceitos sobre elee na arbitrariedade de sua vontade pessoal. No mesmo e sobre a vida. Ele observa, por exemplo,entanto, alguns resultados são possíveis: peque- que sua existência, seus pensamentos, sentimen-nas ou grandes percepções de seu próprio estado tos, vontades, atos e gestos não correspondem aode espírito dão-lhe a impressão de progredir um incorruptível, ao imortal nele, esse lugar ondepouco no caminho. O perfil do pássaro em sua irradia uma estrela mais brilhante que o sol.gaiola começa a esboçar-se, bem como a cons- Comparada com essa luz, sua vida diária comumciência de certa proximidade do incorruptível é apenas trevas, trevas insuportáveis e tão som-nele. O pesquisador orgulha-se de seu trabalho e brias que dão vontade de morrer. A antiga vidado que alcançou. A dúvida, no entanto, a dúvida já não é suportável, e o outro não está a seucorretora, aparece. alcance. Ele despreza-se por não querer morrerAforismo 37: “A pretensão de possuir talvez interiormente; questiona se a velha prisão queum patrimônio está errada, não é senão detesta não se transformará numa nova prisão da a possibilidade da bem-aventurança 15

O incorruptível é um; está em cada indivíduo e emtodos porque é a relação indestrutível entre todosqual terá também ódio. Um pequeno resquício trabalhar e elaborar interiormente o que é novo.de fé trabalha, no entanto, e no decorrer do per- É melhor tudo abandonar para que o Espíritocurso, chega o mestre no caminho, que olha os nos penetre e nos modifique. Deixemos oprisioneiros passar e diz: “Este aqui, não o colo- Espírito livre para agir e trabalhar, pois apenasquem na cela, ele vem comigo” (Aforismo 13). assim o incorruptível pode agir. Se tivermosDe acordo com os budistas isso significaria êxito em renunciar a tudo, observaremos que oa entrada no intangível, no nirvana, a eleva- Espírito, o incorruptível, nos leva. Sempre pre-ção acima da roda do nascimento e da morte, a domina em nós o medo de desaparecer no nadalibertação da lei da reencarnação. Quem com- se abandonarmos nossos dogmas e crenças, medopreende que tudo nesta terra é efêmero despede- comparável ao do homem que não sabe nadar ese desta vida, morre para seu orgulho e para entra na água. Se tivermos confiança em que atudo que esperava do seu ser natural. Então, ele água tem a capacidade de nos levar e que sabe-entra no reino imutável. Ele já não se envergo- remos reagir da maneira certa, de repente nosnha de não ter querido morrer dessa morte inte- poremos a nadar e sentiremos que a água nosrior voluntária, como Kaf ka a descreve, e de leva: sensação maravilhosa.ter suplicado para chegar a condições diferen- O aforismo 76 afirma: “Sinto que não voutes de vida. No lugar das trevas, a luz aparece lançar a âncora aqui, e imediatamente sinto-meprogressivamente. cercado por ondas agitadas que me levam!” LogoO mestre examina os prisioneiros: um deles que tivermos êxito em não querer agarrar-nossente-se chamado e vê a possibilidade de já não ao incorruptível, nem lançar a âncora, nem pro-estar preso num corpo e de deixar de ser prisio- curar qualquer apoio, mas deixar o Espírito agirneiro do mundo mortal. livremente, experimentaremos que ele nos leva,Tais considerações vêm ao espírito do busca- que nos cerca como uma onda em que nadamos.dor como tantas outras experiências interiores O maior obstáculo nesse caminho é querer apos-quando ele aprende a seguir o fio do verdadeiro sar-se do incorruptível por medo de desaparecercaminho. Ele não tem conhecimentos a adqui- no vazio.rir, nem grandes esforços de meditação a fazer, Aforismo 2: “Todos os erros humanos provêmnenhuma doutrina e nenhum dogma aos quais se da impaciência, de sempre se interromper prema-prender. turamente o que é fundamental, de querer reterNo aforismo 78 lemos: “Dificilmente o espírito a aparência do que é aparente”. A impaciência édo buscador é livre para deixar de ser o seu pró- a tendência de procurar uma certeza naquilo queprio ponto de apoio”. Se sua consciência se agar- é apenas temporário, de esperar ser liberto porrar às suas antigas experiências e teorias para algo aparente: um dogma, uma ilusão, a fé, umestar bem na vida, ele se vê impedido assim de homem-deus, a ciência, uma ideologia, a força,16 pentagrama 5/2009

Nota manuscrita de Kafka a seu editor, as certezas da fé e as mentiras da vida que ele19 de novembro de 1918 desmascara. Está claro que ele não quis apenas traduzir aa tentativa de querer reter todas essas coisas apa- ausência de perspectiva que nossa existência ofe-rentes. Nunca temos realmente a paciência de rece, nosso sentimento de culpa bem como adeixar o incorruptível elaborar e realizar seu insignificância deste mundo. Ao invés disso,plano. Em nossa impaciência, apressamo-nos, incita-nos a descobrir e analisar o surgimento deperturbando, assim, o desenvolvimento previsto tudo aqui em baixo. Kaf ka o faz porque encon-e fazendo desaparecer “o incorruptível”. trou o ponto onde Arquimedes colocava sua ala-Contra esse erro eleva-se o Aforismo 69: vanca fora do transitório para levantar o mundo:“Teoricamente, existe a total possibilidade de “no incorruptível e inviolável”. Desse ponto debem-aventurança: crer interiormente no incor- vista, a obra de Kaf ka liberta-nos da ilusão deruptível, e isso sem esforço”. Uma possibilidade que este mundo transitório está repleto de sen-total de bem-aventurança, sem querer, impa- tido e merece nossa confiança. Seus escritos sãocientemente, apreender o inapreensível, mani- antídotos às tendências eufóricas da nossa época,pulá-lo por certas técnicas, forçar o Espírito que declaram que os homens mortais seriam– como se fosse possível – a tornar-se seu pró- deuses, salvos, libertos, e que é suficiente entre-prio ponto de apoio. Ao invés disso, permane- gar-se à ação do divino. Nada é menos verda-cer completamente aberto “ao incorruptível” e deiro! A própria idéia de não sermos imortais, osua ação, sem procurar manobrar, mas sentir-se reconhecimento de nosso estado perfeitamentelevar como por um rio. Esse Aforismo denota a terrestre, embora sejamos dotados de um poderpureza inalterável de Kaf ka sobre o assunto. Ele emocional e intelectual muito elevado, a impres-sabe que a possibilidade de bem-aventurança é são de sermos, em certa medida, “culpados”teórica e prematura. Como, com efeito, arran- porque somos “corruptíveis”, faz refletir! E entãocar-se do solo cinzento e cessar todo medo e uma nova manifestação do “incorruptível”, “doimpaciência? Entretanto, quem percebe essa pos- eterno”, é possível.sível felicidade vai progressivamente criar um Quem pressente em si a presença do “incorrup-espaço livre e renunciar à impaciência. Então a tível”, ou já a reconheceu, perceberá ou reco-felicidade será realmente possível na prática: será nhecerá esse incorruptível em outras pessoas,suficiente “crer interiormente no incorruptível, embora diga com os Aforismos 70 e 71:e isso sem esforço”. “O incorruptível é um; está em cada indivíduoEssas experiências de Kaf ka lançam uma nova e em todos porque é a relação indestrutível entreluz sobre os seus provérbios. É claro que ele não todos”.só queria expressar a falta de perspectivas da Se percebermos as coisas dessa forma, a maneiraexistência, sua insignificância e o sentimento como nos relacionamos conosco mesmo ede culpa. Pelo contrário, Kaf ka liberta-nos também com os outros mudará. Para dar espaçopela análise que faz dessas “coisas aparentes”: em nós ao “incorruptível”, nós nos afastaremos do mundo transitório e compreenderemos que o “Espírito” religa todos os seres humanos entre si. Aforismo 60: “Quem se afasta do mundo ama todos os homens porque se mantém distante do mundo deles. Começa a perceber que a essência mesma do homem não pode ser senão o amor, com a condição que ele seja digno”. A mensagem inigualável é então a já citada: “Teoricamente, existe a total possibilidade de bem-aventurança: crer interiormente no incor- ruptível, e isso sem esforço” µ a possibilidade da bem-aventurança 17

a quarta dimensãoA consciência do espaço tridimensional não nos permiterepresentar a quarta dimensão. Catharose de Petriqualifica-a de “realidade onipresente”. Para ela, a quartadimensão transcende tempo e distância.Sabemos que no mundo existem três dimen- o futuro, o agora e o depois são abolidos por sões: comprimento, largura e altura. Do completo”. mesmo modo, os matemáticos reconhecema reta, a superfície plana e o volume. A reta não A PASSAGEM DE UMA DIMENSÃO A OUTRA Compossui largura, e a superfície não possui altura nossa consciência tridimensional não podemosou espessura. Uma sombra como a nossa, por de modo algum imaginar as coisas que existemexemplo, não tem espessura e é, por conse- na quarta dimensão. Contudo, é possível fazerguinte, bidimensional. Podemos, pois, considerar uma analogia com a passagem da segunda paraessa sombra bidimensional como uma expressão a terceira dimensão, dizer algo da passagem dada forma, que é tridimensional. Em geral se diz terceira para a quarta dimensão e talvez tentarque uma sombra é a projeção de uma dimensão mostrar como a quarta dimensão se expressa nasuperior numa dimensão inferior ou, falando terceira.figuradamente, que uma dimensão superior pode Conhecemos a segunda dimensão como super-se expressar numa dimensão inferior por meio de fície; tomemos em particular o círculo comouma sombra. Podemos, assim, compreender uma forma da superfície. Na terceira dimensão, oantiga sentença: “E Deus projetou sua sombra círculo se projeta como uma esfera. Essa esferasobre a terra”. é composta de um número infinito de círculosHá muitas pessoas que consideram o tempo que possuem o mesmo centro. A passagem dacomo a quarta dimensão, tal como, por segunda para a terceira dimensão se dá, portanto,exemplo, o fez Ouspensky em seu livro ao juntarmos os centros de vários círculos numUm novo modelo do universo, escrito no início do mesmo ponto.século 20. Suas idéias fundamentavam-se em Analogamente podemos dizer que a passagem daconcepções científicas correntes naquela época, terceira para a quarta dimensão se dá ao jun-justamente antes do desenvolvimento da teoria tarmos num ponto os centros de várias esferas.da relatividade de Einstein. É com certa dificul- É com dificuldade que podemos imaginardade que conseguimos imaginar o tempo sob o isso, pois estamos tão aprisionados na realidadeaspecto de uma dimensão superior, o que parece tridimensional que isso nos parece impossívellógico; fazemos uma representação imperfeita, por causa dos limites. Nosso corpo, por exemplo,pois, por definição, é impossível para a consciên- é constituído de células, partículas ou centros decia tridimensional imaginar a quarta dimensão. tensão que são limitados. Entretanto, tudo issoPara Catharose de Petri, como dissemos há é diferente no que concerne aos microcosmos,pouco, trata-se da realidade da onipresença. Ela vai que igualmente são esferas. Podemos facilmenteainda mais longe e diz: “É a dimensão em que compreender que todos os microcosmos, emborao tempo, a distância, o passado, o presente e diferentes, possuem um centro comum, um18 pentagrama 5/2009

A MEDIDA QUE TRANSCENDE O ESPAÇO-TEMPO Shakespeare, Soneto 11 Quanto mais rápido declinares, mais rápido crescerás Em um dos teus, de quem te despedes, E esse sangue novo que juvenil concedes Podes chamar teu quando a juventude transpuseres. Nisso há sabedoria, beleza, e crescimento; Sem isso há apenas loucura, velhice e frio declínio. Se todos assim pensassem, os tempos cessariam, E meros sessenta anos fariam o mundo desaparecer. Que aqueles a quem a Natureza não fez para durar, desagradáveis, desinteressantes, e rudes, estéreis pereçam: Vê que ela mais deu a quem melhor proveu; dádiva liberal que deves cuidar com carinho generoso. Ela te esculpiu para ser seu selo, e sua intenção com isso era que devias imprimir mais e não deixar aquela cópia morrer. a quarta dimensão 19

História de um certo M. M. esvaziara somente um pequeno pedaço da parede, retirando apenas uns poucos livros, tamanho era seu apego às suas preciosi-Foi logo após a guerra que M. se estabeleceu definitivamente dades, que ademais ansiava mostrar à sábia mulher. Em conse-numa pequena ilha na costa da Grécia. Descendente de ricos qüência disso, a maior parte das imagens foi projetada sobre osingleses, ele viajara toda sua vida, atormentado pela pergunta: livros que, por isso, serviram de tela, iniciando-se logo em seguida“O que é que move o homem?” De suas viagens ele havia trazido uma animada conversação sobre vários livros que nos propor-muitos tesouros, que dispôs em sua casa. Orgulhava-se, parti- cionam tantas idéias esclarecedoras. M. sorvia sua bebida emcularmente, de seus livros, obras de antigos sábios, de poetas longos tragos. A profunda decepção da sábia mulher passou-lheinspirados, de filósofos investigadores, e de muitos outros. A fim despercebida ao se despedirem, e ele esquecera completamente ade abrigar sua vasta biblioteca mandou construir um pavimento questão que o atormentava. M. acenou para ela e seus convida-superior e instalar um aparato elétrico especial de modo a poder, dos quando partiram, e em seguida, cheio de animação, voltou atarde da noite, após o sol se pôr, continuar mergulhado em seus sentar-se em meio a seus livros para contemplá-los. Muitos anosvolumosos livros. Era a única pessoa no vilarejo a desfrutar de passarão antes de um novo encontro...energia elétrica. Do outro lado do povoado, onde começavamas colinas, habitava uma velha e sábia mulher que, de tempos emtempos, ele encontrava durante suas caminhadas. Esses encontroseram bastante freqüentes, e nessas ocasiões ele suspeitava queaquela mulher soubesse a resposta à pergunta que ele não ousavafazer. Num dia em que M. desfrutava do pôr-do-sol sentadodiante de sua casa, avistou a mulher vindo em sua direção. Elesse cumprimentaram e começaram a conversar, até que por fimela lhe contou que alguém acabara de visitá-la e lhe deixara umtipo de recordação de uma viagem em forma de diapositivos. Essapessoa citara particularmente o nome de M. para mostrar a ela osdiapositivos, pois afinal ele era o único no vilarejo a se beneficiarda eletricidade. M. sentiu-se alegre em poder fazer um agradoà mulher. O encontro foi marcado para a tarde seguinte, e elepreparou a biblioteca com o fito de impressioná-la. Ela chegoulogo após o pôr-do-sol, acompanhada de dois amigos. Contudo,núcleo-alma coletivo, que se expressa individu- termina falando de um selo, de uma imagem daalmente em cada microcosmo como rosa-do- qual somos portadores, e que é preciso protegê-coração, ou átomo refletor. Emanando desse la para que não morra. Há nisso um duplonúcleo-alma, a luz do Espírito projeta-se no significado. No início desse soneto ele descrevecorpo refletor, o corpo mental do microcosmo. como a consciência isolada deve criar um espaçoInfelizmente, devido a nosso corpo mental estar para que o espírito possa projetar a imagem quecheio de todo tipo de idéias que nos são caras, emana do núcleo-alma, e que devemos projetaridéias a que nos agarramos fortemente, somos essa imagem no mundo como um verdadeiroimpedidos de tomar consciência das projeções ato vivente. Caso não o façamos, se ficamos aque nos são enviadas pelo Espírito. Em outras acariciar nossas próprias imagens sem fazer maispalavras: devemos aprender a conhecer com base nada, então a imagem vivente morre.no coração e não com o pensar da cabeça. A terceira dimensão expressa-se na segundaShakespeare evoca esse assunto em um de seus como uma sombra, dando-nos uma idéia desonetos, talvez o mais belo deles, o número espaço; e a quarta dimensão expressa-se na11. No início desse soneto ele descreve como a terceira como uma força que passa do interiorconsciência isolada deve criar um espaço para a para o exterior num espaço infinito, dando-nosconsciência original mediante uma reversão, e assim uma vaga idéia da onipresença µ20 pentagrama 5/2009

A verdade sobre o euouo retorno fundamentaltransmutaçãotransfiguraçãopentagrama – tema tijd ovoboormlevfiemn 21

o eu humano: um Nas galáxias, um buraco negro é uma região no espaço com um campo gravitacional tão intenso que atrai tudo o que esteja ao seu redor, inclusive a luz (daí o nome “negro”, por absorver toda a luz que incide nele). Qualquer quantidade de matéria que caia na superfície unidirecional do buraco negro já não é capaz de es- capar. Se olharmos para nós mesmos como um pequeno cosmo, descobriremos depressa um buraco negro: nosso eu. Devido a seu enorme poder, tudo o que passa em sua esfera de influência é atraído e convertido em “algo não-luminoso”. O eu torna nos- sa vida pesada, mas podemos torná-la mais leve interiormente.Em nosso universo, todos os fenômenos e daí uma enorme força de atração gravitacional. formas aparentes são regidos por leis, como Todos os objetos que se encontram nas proximi- por exemplo, a lei da atração, que influencia dades são irresistivelmente atraídos em direçãotudo que existe. Somente podemos estudar esses ao centro do buraco negro, que os submete a umfenômenos observando-os e colhendo resultados calor inimaginável antes que eles desapareçam.científicos. É impressionante, por exemplo, como Mesmo a luz é submetida a essa força de atraçãoa influência aumenta à medida que um objeto se gravitacional e, não podendo escapar, é engolidaaproxima do centro da fonte de força. Do mesmo pelo buraco negro. Somente podemos detectarmodo, quando um corpo celeste, visível ou não, os buracos negros pelas irregularidades das traje-se aproxima de uma fonte de força invisível, ele é tórias dos astros que se encontram em suas ime-fortemente influenciado e atraído por ela. diações: eles são desviados de sua rota por essas enormes forças que os atingem. Sempre se discu-UM FENÔMENO ASTROFÍSICO Não surpreende tiu sobre os fenômenos que produzem esses bura-a conclusão de que um “buraco negro” deve ser cos negros e seu enorme potencial energético.dotado de enorme força de atração gravitacio- Alguns cientistas supõem que, durante milharesnal. Em um observatório europeu, os astrofísicos de anos, eles são dissolvidos por processos expli-que estudam os corpos celestes mostram que há cados pela mecânica quântica. Outros afirmamirregularidades nas órbitas dos astros próximos a que cada buraco negro se comporta como se aspi-buracos negros. Um buraco negro encontra-se no rasse matéria para ejetá-la em outro universo,centro de nossa galáxia (Sagitarius A). onde ele aparece como um buraco branco.As teorias sobre os buracos negros tomaramforma no decorrer de dezenas de anos. O BURACO NEGRO EM NÓS Não vemos em nósDescobriu-se que as maiores galáxias possuem e ao nosso redor como que reflexos desses fenô-um super buraco negro em seu centro. É somente menos? Se analisarmos profundamente, verifi-em um ou dois por cento dos sistemas estelares caremos que há um pequeno buraco negro emque o buraco negro consome matéria suficiente nosso próprio pequeno cosmo, que atrai e separa dar um show espetacular. Cygnus A é um apropria de todas as coisas da natureza, assimdesses exemplos. como dos seres humanos, nossos semelhan-Embora os astrofísicos considerem muitas teorias tes, influenciando-os e arrastando-os para o ladocomo relativas, a maior parte dos buracos negros mau. Nas discussões violentas, pode-se muitoreconhecidamente se distingue pela incrível den- bem discernir a grande força egocêntrica que nossidade de sua matéria. Podemos compará-la com anima. Da mesma forma que no cosmo, trata-a compactação de um milhão de sóis, resultando se de uma poderosa energia. Sua imensa força de22 pentagrama 5/2009

temaburaco negro?Impressão artística de um buraco negro, © Orbitingfrog o eu humano: um buraco negro? 23

atração congela e petrifica os que entram em sua voluntariamente impregnar e transformaresfera de ação até torná-los “entidades despro- pelas energias criadoras divinas, pelas ener-vidas de qualquer luz”. É a força que torna tudo gias do núcleo do Espírito, transforma a nós,“pesado”, a força de gravidade do eu. Segundo as seres humanos, em trabalhadores extremamenteleis da natureza, essa força não pode agir de outro ativos, engajados em um grandioso processo.modo a não ser atraindo o que corresponde à sua Aprender que doar também é receber manteránatureza e à sua estrutura; trata-se, portanto, de a todos nós no raio cósmico do amor divino, e,uma força egocêntrica ou centrípeta. ao invés de tudo engolir e de tornar-nos densosPor suas ações, tanto positivas quanto negativas, como um buraco negro, seremos como um soloriginadas pela lembrança ou pela resposta a uma a propagar luz, calor e movimento. Ajudaremossituação atual, o eu atrai todas as coisas ou pes- os homens, somente por nossa presença, a reco-soas que lhe sejam úteis para conservar-se e agir. nhecer o verdadeiro sentido da vida. Tudo o queEssa é uma de suas características essenciais. fizermos será espontâneo, sem nenhuma inter-O eu pode utilizar também as forças do altruísmo venção de nossa parte.e do amor ao próximo em seu benefício, porque E, ao nosso redor, despertarão certamente aele é consciente de que uma vida sem esses dois consciência e a compreensão, pois trata-se deprincípios seria um inferno. Esforçar-se por pra- libertar, no núcleo divino no microcosmo, oticá-los é necessário neste frio mundo, mas isso homem primordial verdadeiro da pesada forçaesconde também a busca secreta pelo próprio do eu. E verificaremos que essa energia não-ter-bem-estar, ou a vontade de moldar o mundo de restre transforma completamente o ser humano,acordo com as próprias concepções ou com a fazendo-o alcançar a transfiguração: um estadoprópria moral, de atrelar numerosas pessoas à sua em que, por sua vez, ele propagará a luz à suaprópria carruagem. O eu tenta fazê-lo mesmo volta.com as forças da luz divina que vem até ele do Isso só é possível porque a verdadeira luz conferemicrocosmo ou do radiante campo de vida de o decisivo dom de uma força de natureza divina:Cristo. No entanto, aquilo que se quer conservar ela transforma o buraco negro a fim de renovardessa maneira leva a um forte endurecimento da completamente o cosmo humano. Então, a luzvida do microcosmo. Porque a vida é transforma- que era prisioneira se liberta e retorna a seu pró-ção de energias, ela recebe e dá continuamente. prio domínio, um campo cósmico de imensa luz.E o eu, que tudo devora, mesmo as forças espiri- E o homem renovado, liberto do egocentrismo,tuais que emanam do coração do microcosmo, é poderá, durante sua transfiguração, transformar-um gigantesco buraco negro, uma massa enorme, se em uma nova fonte de luz que trabalha noconcentrada, congelada, completamente inerte. mundo. Uma graça extraordinária! µA LIBERTAÇÃO VOLUNTÁRIA Deixar-se24 pentagrama 5/2009

temao homem não precisaser seu euNosso eu é inconstante, pouco confiável e fácil de influenciar.Contudo, sempre temos a tendência de estruturar nossa vida segundo suasleis e exigências, até o dia em que despertamos e começamos a compreender.T emos um nome, uma data de nascimento influencia tanto o estado exterior como o inte- e uma ocupação. Isso nos dá uma identi- rior, o principal autor de nossa existência? dade, porém não explica em nada nossa Certamente que não, pois esse eu ou consci-natureza fundamental; são apenas atributos e ência é tão pouco durável ou confiável quantofacetas de nossa personalidade no mundo e na os movimentos de nosso psiquismo. Um medosociedade. O mesmo é válido para nossos traços súbito, por exemplo, pode fazê-lo contrair-físicos particulares, como juventude, beleza, se; ou então ele sente a atmosfera de um grupoforça ou fraqueza, e também para as caracterís- e a ele se adapta facilmente. Mas onde ele seticas ainda mais determinantes que as particu- esconde durante o sono? E após a morte? Dadolaridades físicas, como coragem, receptividade, que ele está indissoluvelmente ligado aos fluidossensibilidade à música, nervosismo ou resig- vitais e ao corpo, ele não conseguiria sobrevivernação. Dependendo da situação, um ou outro por muito tempo após a morte física. E por fimdesses traços se destaca, independente de nossa perguntamos: onde se encontra em nós a basevontade. Freqüentemente os resultados provo- inabalável da existência que, com razão, nos fazcados pelas forças desenfreadas de nossos estados dizer: “Eu sou”?de alma, que atuam contra nossa vontade, nosdeixam perplexos. DÊ-ME UM PONTO DE APOIO O filósofo gregoA todo esse conjunto damos o nome de eu. Arquimedes disse, certa vez: “Dê-me umPodemos contentar-nos com isso? Há muitas ponto de apoio e uma alavanca e eu movereipessoas que o fazem. Nós também podería- o mundo”. Existe semelhante ponto fixo? Nomos contentar-nos com isso por um período Novo Testamento, ele é o Pai. Jesus, o Cristo,de tempo, se não déssemos ouvidos à insatisfa- diz: “O Pai e eu somos um”. Se levarmos a sérioção interior lancinante que não cede, embora essas palavras, nada poderemos fazer senão aspi-no aspecto exterior tudo pareça bem, tanto no rar a compreendê-las, de todo o coração, poisplano financeiro como no aspecto emocional. não sabemos de que eu se trata aqui. Contudo,Os anos passam, e as experiências e seus resulta- em todos os seres humanos encontra-se a basedos sempre nos acompanham. Fracasso, sucesso, da qual é possível se desenvolver um homemcorreria e precipitação, ganho e perda, alegria e superior: o coração. Ninguém explicou issotriunfo se sucedem. Então, um dia surge a ques- de modo tão admirável como J. A. Comeniustão: quem causa ou sofre o turbilhão de acon- (1592-1670), que escreveu: “Não vos sobrecar-tecimentos no curso inelutável do tempo? O eu regueis com coisas desnecessárias; contentai-vosnão nos parece, no decorrer de certo tempo, com o pouco que é útil para vossa comodi-estranhamente perdedor e insatisfeito? Seria esse dade e louvai a Deus. Caso vos falte toda aaspecto de nossa personalidade, que percebe e comodidade, sabei contentar-vos então com o o homem não precisa ser seu eu 25

O labirinto de nossa alma, onde o eu normalmente seperde, surge porque falta à alma um centro estávelestritamente necessário. Se ainda fordes priva- do homem-deus, que respira na eternidade, nados também disto, tratai de manter-vos como perfeição e, conforme a palavra de Jesus, é umsois. Se também não puderdes manter-vos como com o Pai, a origem de tudo o que foi criado.sois, abandonai a vós mesmos, mas cuidai para Quem segue esse caminho naturalmente darámanter-vos em Deus. Aquele que possui Deus menos atenção a seu pequeno eu pessoal e pas-já não deseja nada. Possui o bem supremo e sará a vê-lo como uma gota de água no oceano,a vida eterna com Deus e em Deus, eterna- como uma semente carregada pelo sopro da pri-mente e para sempre. É este o clímax e o fim de mavera, igual aos átomos portadores de imensastudo o que se pode desejar”. Todo ser humano galáxias que turbilhonam através do espaço. Apossui em si algo do divino; em alguns flameja história da humanidade, da terra e do universoo átomo-centelha-do-espírito, o ponto que nos encontra-se na alma humana e nela aguardaliga ao divino. Essa centelha divina nos per- despertar para a vida sob o impulso criador domite realizar nossa aspiração suprema e elevar renascimento do Espírito. O eu é, por conse-assim nossa consciência, nosso ser inteiro, e guinte, um cosmo independente e ao mesmoo mundo conosco. Quando esse fogo começa tempo uma das células viventes das miríades dea flamejar, tem início um caminho de evolu- universos radiantes.ção durante o qual nossa personalidade exte-rior se transforma segundo sua essência, com a O TRIÂNGULO EQUILÁTERO DA ALMA Chegarqual ela acaba por fundir-se inteiramente. Pouco a tal estado de consciência significa um verda-a pouco, o ser terreno se entrega ao totalmente deiro despertar. O mundo interior e o mundooutro em si, ao verdadeiro homem, o protótipo exterior tornam-se pouco a pouco mais claros26 pentagrama 5/2009

e mais compreensíveis. O eu dissolve-se numa uma personalidade cujas aspirações e desejosconsciência diferente, que tudo engloba, e o se dirijam deliberadamente para um alvo inte-buscador passa a considerar seu ego de modo rior elevado. Somente então se poderá começarmais neutro. Ele percebe que, no fundo, seu a confiar em certas percepções, a conhecê-laseu apenas existe naquele breve instante em claramente e a agir sensatamente. A vontadeque ele o vivencia, subitamente manifesto. Ele de agir, a consciência da situação e as compa-não pode responder por seu passado nem por rações feitas pelo poder sensorial atuam entãoseu futuro; estes são apenas uma construção da como um sismógrafo, de modo que as mudan-imaginação, uma parada no curso do tempo. Se ças mais sutis ocorrerão harmoniosamente.tentar examiná-lo mais de perto, ele desaparece Enfim, esse triângulo equilátero representa umano horizonte. Quem sou eu? Do ponto de vista casa estável nesta terra, em que se pode viverexterior, a resposta é fácil. Porém, se nos olha- e trabalhar pelo tempo que for útil e necessá-mos interiormente, surge um labirinto no qual rio. Constrói-se assim, durante a vida, uma casaé preciso penetrar para responder a essa questão. para a eternidade, por onde circulam as novasContudo, cada um de nós dispõe de um guia estruturas da alma, bem como as energias supe-infalível; e se existe um fim para esse caminho riores do universo divino, que operam a transfi-de autoconhecimento, isso o buscador não pode guração. Todas as improvisações desmoronam esaber de antemão, ainda que conheça o início. uma nova manifestação engendra criações impe-O labirinto de nossa alma, onde o eu normal- recíveis. Assim são as forças supranaturais, quemente se perde, surge porque falta à alma um querem atuar no ser humano para mostrar-lhe ocentro estável. Os três centros de força da alma caminho das estrelas µ– vontade, vitalidade e sensação – não tra-balham juntos senão de forma temporária eparcial. Freqüentemente a vontade toma a ini-ciativa; e quando a razão acaba de juntar algunsargumentos válidos para agir, eis que a forçavital já foi dissipada. Novamente será o sen-timento e a razão que se retrairão. O eu nãopode dirigir os três cavalos em determinadadireção senão de maneira excepcional. Tudo oque resulta dessa selvagem confusão interior éapenas instabilidade e improvisação.Uma alma fortemente estruturada necessita de o homem não precisa ser seu eu 27

a coragem de conhecerO pensamento é um instrumento poderoso. Quem realmente refletepode conhecer o mundo, conhecer a si mesmo, assim como pode conhecersua origem divina a fim de alcançar um pensamento libertador.Pensamentos sem limite‚ no. 1, Tom Hackney28 pentagrama 5/2009

temaOpensamento é livre, muitos assim crê- de reconhecer que viemos de um mundo que em ou gostariam de crer. A impor- decaiu e de considerar o homem original como tância do pensamento é inegável, pois um objetivo a alcançar. Quem se sabe portadordesde o Iluminismo os homens, segundo Kant, de aspectos muito superiores deve, então, orien-aprenderam a servir-se de sua inteligência sem tar-se livremente nessa direção.qualquer ajuda. Sapere aude significa: ousar saber– e, por conseguinte, também pensar. E como VESTÍGIOS DO LIVRE PENSAR Vestígios do li-as concepções do saber esotérico concernem a vre pensar aparecem na história da humanidade.todos os planos da vida, procuramos pensar de Todas as fraternidades gnósticas reconhecem amaneira positiva e saudável. Quem reconhece importância de uma realidade superior. Desde oque seu problema é o egoísmo, esforça-se, con- início, o cristianismo deu à humanidade a pos-seqüentemente, para pensar mais nos outros. Isto sibilidade de renovar a alma mediante a liber-significa que nos tornamos progressivamente tação do pensamento. Cristo não pede somenteconscientes do poder do pensamento, entre ou- a fé, mas também o amor. Ele faz o seu melhortros fatores. para que o homem o compreenda e possa segui- lo verdadeiramente. Isso principia pela fé, mas oSIGNIFICADO DO PENSAMENTO Que signifi- cântico de enaltecimento ao amor diz: “Porque,cado tem o pensamento à luz da doutrina uni- agora, vemos como em espelho, obscuramente;versal? O pensamento era o instrumento do então, veremos face a face. Agora conheço emhomem original que lhe permitia abarcar a idéia parte; então, conhecerei como também sou co-divina. O homem, como pensador, deveria ob- nhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a espe-ter pouco a pouco o conhecimento da nature- rança e o amor; porém o maior destes é o amor”za, de si mesmo e de Deus – ele deveria penetrar (I Cor 13:12-14). A fé é o toque do coração. Aessa força primordial ou idéia original, que está esperança é o começo do novo pensamento: ana origem da criação e de sua própria existência; nova consciência que, a caminho, percebe “oe na mesma medida colaborar como criador e bom fim”, a entrega total de si ao Cristo inte-construtor da natureza divina. “Homem, conhe- rior. Enfim, o amor é ser uno com Cristo. Mas,ce-te a ti mesmo” era a recomendação que data na vida, as poderosas diretrizes constantemen-da antiga Grécia e que o visitante via inscrita na te obstaculizam e lutam contra a liberdade deentrada do templo de Apolo, em Delfos, e que pensar. A liberdade de pensar leva-nos à consci-ele se sentia chamado a realizar. Em seguida, ência da eternidade, depois, à libertação de nos-era dito: “e conhecerás o universo e os deuses”. so aprisionamento na matéria. Os cátaros, queNão se trata do conhecimento do mundo mate- viviam na Occitânia, no fim da Idade Média,rial, mas da alma e do Espírito. Temos a tarefa criaram uma atmosfera pura na qual seus alunos a coragem de conhecer 29

A pré-memória leva o buscador ao conhecimento deque o eu não é a verdadeira essência do ser humano.Com essa percepção, a cabeça e o coração se apaziguamtinham o conhecimento do nascimento da nova fundamentalistas das religiões mundiais manti-alma, que podiam vivenciar ao doar-se intei- veram atadas as mentes de incontáveis pessoas.ramente. Aqui, o principal é imergir nas novas Esses sistemas ainda não desapareceram com-forças, incorruptíveis, que fazem nascer outra pletamente da cena mundial, mas suas influ-consciência, uma consciência que dá ao ho- ências parecem diminuir. O fim das ideologiasmem-alma a possibilidade de se expressar. tornará livre o caminho para novas idéias? No Ocidente, o livre pensar aparentemente nadaO PENSAMENTO COLETIVO O pensamento co- acrescentou. Para substituir a coação do pensa-letivo opõe-se fortemente à liberdade do pen- mento imposto pelas autoridades, agora são apli-samento individual. Ele habita todos os seres cados métodos mais sutis. Do mesmo modo quehumanos e vive em suas consciências. Trata-se a antiga propaganda encorajava o pensamen-de um campo de força mundial que, no espa- to negativo. Aliás, a publicidade e seus méto-ço-tempo, não carrega em si mesmo noções de dos aprisionam os homens, seus desejos e suaseternidade. Como a história mostra, uma gran- vontades. São fenômenos normais no mundode oposição se manifesta com o surgimento da dualidade onde amigos e inimigos sempre sede uma nova idéia, mesmo uma idéia terrena. atrairão e se repelirão. Quem quiser acessar umAs novas concepções são combatidas por muito novo pensamento, livre, deve tentar deixar paratempo antes de tornarem-se domínio público. trás essas ligações.Quando o pensamento coletivo as aceita, elas jáforam, evidentemente, concretizadas. No que O PENSAMENTO ESOTÉRICO Não são apenas osconcerne ao conceito de eternidade, apenas uma psicólogos que compreendem que são os pen-pequena parte dessas idéias peculiares se difun- samentos que determinam nossa percepção dodiram, a ponto de tornarem-se muito conheci- mundo e do bem comum. Ao se interessaremdas. O que é aceito, em geral, está sempre ligado pelo esoterismo, as pessoas percebem melhorà realidade do espaço-tempo. As festas cristãs, o significado do pensamento. O pensamen-como o Natal e a Páscoa, por exemplo, têm uma to ilumina o corpo astral e estimula os desejos,origem muito profunda e têm muitos significa- tendo como resultado uma concentração cor-dos que foram esquecidos. Dentro do círculo fa- respondente de forças vitais que impulsionam àmiliar percebe-se, às vezes, a força original, mas ação. Essa compreensão nos faz desejar pensarpoucas pessoas a reconhecem conscientemente. de forma saudável. Tratamos, então, de renun- ciar às velhas idéias bem estabelecidas e de nãoDOGMAS E IDEOLOGIA O século 20 viu flo- negar a esperança, esforçamo-nos por romper orescer muitos dogmas e ideologias. Socialismo, circuito incessante das experiências negativas.comunismo, capitalismo e expressões Mas esquecemos sistematicamente que nossos30 pentagrama 5/2009

Paisagem, 27 de julho de 2008, Jerry Högnäspensamentos conscientes representam apenas a boas experiências a que aspiramos é descobrir-ponta do icebergue, e que é principalmente o mos nossas limitações. Ousar conhecer!inconsciente que nos dirige. O mesmo aconte- A porta para o despertar do homem divinoce com nossos pensamentos positivos: podemos abre-se para quem aceita dia após dia esse saber,decidir refletir sobre algo positivo que vai inspi- esse conhecimento interior.rar nossa vontade. Mas quem conhece as corren- Isso acontece quando a centelha-do-espírito, otes profundas que podem interromper o fluxo verdadeiro ser, está ativa. A pré-memória leva ode pensamentos positivos? E quem sabe se o que buscador ao autoconhecimento, à percepção depara nós é positivo não terá conseqüências ne- que o eu não é a verdadeira essência do ser hu-gativas? Porque nossos pensamentos não movi- mano. Com essa percepção, a cabeça e o coraçãomentam apenas a nós mesmos. Eles atravessam se apaziguam. Eles alcançam um ponto neutro etodo o nosso campo de vida à procura de um experimentam uma reviravolta.eco, de uma resposta. E, inelutavelmente, a res- O homem autocentralizado sente-se desmasca-posta vem de acordo com o verdadeiro estado rado pela pré-memória; ele dá um passo atrásde quem emitiu os pensamentos. Em certas cir- para que o outro se aproxime. O coração nova-cunstâncias, elas simplesmente não correspon- mente se inflama, e a cabeça se ilumina.dem aos desejos e pensamentos conscientes de Então, desperta uma nova alma, e sua veste éseu autor. o novo livre pensar. Esse pensar está voltado para a restauração do microcosmo divino. AoA CORAGEM DE CONHECER Tudo isso nos ensi- mesmo tempo, ele permite que o homem quena que em nós, assim como no mundo, o bem e mantém sua consciência elevada siga caminhoso mal estão ligados de maneira indissociável. No diferentes no mundo. Então, ele pode transmi-entanto, ainda nos é necessário pensar, desejar e tir a flama desse novo pensar aos que se mostramagir. No melhor dos casos, a conseqüência das receptivos µ a coragem de conhecer 31

religião: caminho dediscernimentoO que é a religião? Quando for possível responder a essa questão de maneirainequívoca, todas as religiões serão caminhos que conduzem a Deus. A verdadeirareligião é o caminho do discernimento, da vitória sobre o mundo e da quebra dailusão que é o ego. É um caminho que leva à formação do novo homem. Nessecaminho, o esforço pessoal é indispensável.T odas as religiões conduzem a Deus. Com pa- A RELIGIÃO ESPIRITUAL O que acaba de ser exa- lavras desse tipo, ou parecidas, os homens minado em poucas palavras refere-se a um dos rejeitam as correntes confessionais dogmá- aspectos da religiosidade humana: aquele do qualticas e exprimem sua tolerância pelos diferentes dependem as necessidades humanas.movimentos religiosos. Mas essa afirmação faz O segundo aspecto da religião, um aspecto deci-sentido? Para responder a essa questão, é neces- sivo, situa-se em um nível essencialmente di-sário examinar o que é religião e diferenciar sua ferente do nível da sobrevivência. Trata-se daessência dos mal-entendidos e das interpretações religião espiritual.equivocadas. No mais profundo de nós está escondido o saber de que, como homens, somos seres decaídos, eA RELIGIÃO NATURAL Podemos propor uma di- em nosso estado atual apenas somos caricatu-visão em religiões naturais e religiões espiritu- ras do que um dia fomos, isto é, criaturas divi-ais. A religião natural, em todas as suas formas, nas, criadas à imagem de Deus. Mas, como umrepresenta uma necessidade biológica do homem. raio fulgurante de esperança, brilha em nós oPensemos, por exemplo, no desejo daquele que, pressentimento de que deveria ser possível, emcomo ser mortal, quer alcançar a vida imortal. princípio, reencontrar a perfeição divina perdi-Porém, por ter nascido nesta natureza, ele ex- da. Esse até poderia ser o sentido verdadeiro deperimenta, sem cessar, sua submissão à obscura nossa existência, tal como na metáfora do filhoviolência do destino e à ameaça da natureza, o pródigo que retorna ao lar divino de seu pai; ouque o enche de ansiedade. Em seu desamparo, melhor ainda, o retorno do divino em nós a suaele busca refúgio no que possa dar-lhe proteção pátria divina. Em sua origem, cada religião espi-e segurança e o ajude a lidar melhor com seus ritual ensinava esse caminho de retorno. Mas, aoproblemas. Ele adora deuses e espíritos, faz-lhes longo dos tempos, essas religiões se misturaramoferendas ou tenta influenciá-los mediante ritu- cada vez mais às religiões naturais. Como isso foiais mágicos e, assim, mudar sua sorte. O objetivo possível?não é evitar uma ameaça direta, mas, auxiliadopelos céus, alcançar seus desejos pessoais e suas A FUSÃO ENTRE DOIS TIPOS DE RELIGIÃOmetas, que muitas vezes estão além da morte.“Cada ser humano se projeta no futuro em uma Como seres humanos, portamos em nós doisversão melhorada de si mesmo, com a ajuda de aspectos: por um lado, o princípio da nature-um protótipo, seja ele religioso, ocultista ou hu- za biológica, ligado à matéria e dirigido pelomanista”, afirma J. van Rijckenborgh. Esses três desejo de autoconservação; por outro lado, umprotótipos podem então ser considerados como princípio de eternidade que nos incomoda eformas de religião natural. nos impulsiona a retornar às leis e à ordem di- vinas do reino desconhecido. Mas sempre de32 pentagrama 5/2009

tema“Ó tu, que ofereces o pão da vida e preenches todos os reinos com som, luz evibração, que eu possa experimentar a tua luz no meu mais profundo santuário.”(Tradução literal das primeiras linhas do Pai Nosso em aramaico)novo o impulso por auto-conservação apodera- Deus – religare significa de fato religar – enfra-se das forças da eternidade. O eu quer tornar-se queceu, alterou-se, foi completamente defor-imortal; ele tenta fazê-lo com a ajuda das forças mada e substituída pela ambição de consolidarpoderosas que vêm do Além. Foi assim que as e melhorar a existência com a ajuda da religião.religiões espirituais originais tornaram-se sis- Então, os ensinamentos espirituais cheios de for-temas dogmáticos a serviço do eu. A missão da ça e luz decaíram ao nível das religiões naturais.religião espiritual, que era religar o homem a A religião tornou-se um instrumento nas mãos religião: caminho de discernimento 33

do poder, que joga habilmente com a necessida- é o indispensável esforço pessoal, mesmo que sede de segurança e com o desejo de imortalidade. saiba que os mistérios da alma não são alcança-A escravidão desapareceu, porém os “crentes” dos apenas mediante esforço pessoal, que eles sótornaram-se excelente material para uma nova podem ser encontrados mediante a força liberta-forma de escravidão. dora de Cristo, a energia libertadora que ope- ra nas escolas de mistérios de maneira muitoAS ESCOLAS DE MISTÉRIOS Através de todos os especial, mediante uma consciente e continua-tempos, as escolas de mistérios foram guardiãs mente renovada auto-rendição à fonte única deda pura religião do Espírito. Elas apenas po- vida que está oculta. Uma clara boa vontade édem se manifestar onde os buscadores e as almas necessária para reconhecer no próprio ser algoverdadeiramente devotadas se reúnem com um do homem divino decaído e abandonar o que sedesejo ardente! No silêncio dos lugares santos, revela como um obstáculo no “caminho do re-os ensinamentos interiores mostram aos alunos nascimento da água e do espírito”, assim comoo caminho que conduz “à liberdade dos filhos indica o Evangelho de João.de Deus”. A religião espiritual é o caminho do A verdadeira consciência religiosa é reconheci-discernimento, um caminho de vitória sobre o da pelo fato de estar sempre pronta a renunciarmundo e de quebra da ilusão que é o ego. É um à sua própria natureza, a abandonar seu egocen-caminho que conduz ao devir do novo homem. trismo e a entregar-se sem reservas à “corren-E a principal característica desse desejo ardente te” que quer fazê-la passar do mundo de trevas à luz da eternidade. Todos os outros motivos são, clara ou disfarçadamente, da ordem do interes- se pessoal. Queremos seguir o caminho de uma religião espiritual libertadora? Ou nos apegamos ainda a uma religião natural que utiliza a reli- gião espiritual para seus próprios fins? Podemos avaliar as religiões na proporção em que elas franqueiam ao buscador o caminho para a luz divina, para o totalmente outro, o eterno µ Icebergue e sol da meia-noite no extremo norte (Groenlândia) © Charles Bezzina, Inglaterra34 pentagrama 5/2009

tematudo que é perecível éapenas alegoria 35

Assim como camadas de gelo se transformam em glaciares, assim tambémacontece com as experiências das encarnações precedentes no nossomicrocosmo. Elas são guardadas no sistema humano como neve e gelo, atéque trafeguem como glaciares pelas praias do hoje. Uma criança nasce. Umser humano com a possibilidade de se libertar, pois traz ativo em si o princípioespiritual.Imaginemos que estamos no extremo norte, é separado das experiências de milhares de anos. na Groenlândia. Uma massa de gelo flutuan- Ele perde a lembrança de seu passado. No en- te trafega em direção à costa. O jovem glaciar tanto, essas experiências ainda estão ativas nele.geme e suspira. E então, um gigantesco muro se E o “icebergue” inicia sua viagem pelo mardesprende, guinchando, e como em câmara lenta desta vida, até que, involuntariamente, se dis-o gigante azul afunda no mar cor de chumbo, solve no mar. Como também faz parte da água,emerge de novo, vira-se obstinadamente para ele é atraído pelo sol, e eventualmente voltará atomar parte no desfile das enormes massas de cair como neve e gelo no glaciar original. Comogelo nas praias da Groenlândia. apenas uma parte do icebergue é visível, assimApenas a sétima parte do icebergue fica acima como acontece com o eu, ele é mais ou menosda superfície da água. O restante está debaixo consciente de si mesmo. A parte submersa, en-d’água, é praticamente invisível e possui as mais tretanto, a forma desconhecida, o subconscien-estranhas formas. Por isso os icebergues são es- te, determina a estabilidade do ser humano, seutruturas muito instáveis. O povo do Ártico, os comportamento.inuítes, sabe disso. E os caçadores de focas em O inuíte evita até pronunciar uma palavra naseus caiaques evitam aproximar-se dos gigan- proximidade de um icebergue “porque o gelo setes. Porque o menor movimento na água, como vinga quando seu silêncio é perturbado”.por exemplo o submergir de um remo, pode Todos nós sabemos quanto a menor das pala-fazer esse gigante rebentar ou girar. E quando vras pode abalar nosso silêncio, nossa quietude.gira como um cubo de gelo no copo, ele pro- Nossas certezas, nossos conceitos, são na verdadevoca enormes ondas que podem fazer um barco falsos silêncios.naufragar. Estamos num equilíbrio instável. E quando esseDo mesmo modo que as antigas camadas de equilíbrio é quebrado, causamos a nós mesmosneve e gelo constantemente formam glaciares, e aos outros grandes problemas. Estamos cons-assim também ocorre com os resultados, expe- cientes do que uma palavra errada pode causar?riências, tensões e desejos não saciados de en- Quantas vezes, e não sem consciência, faze-carnações passadas no nosso microcosmo. Como mos um comentário que ofende outras pesso-a neve e o gelo, eles se acumulam no sistema as. E nós mesmos certamente também somoshumano, camada após camada, através dos sé- ofendidos. Talvez então façamos a experiên-culos, e então deslizam como glaciares na praia cia da ruptura e da virada do nosso icebergue.do hoje. E um dia este “glaciar” se desprende. Continuaremos a nos deixar flutuar no marEntão, é criado um novo ser humano que, com da vida, inconscientes e em constante medoum grito, desliga-se da grande corrente cármi- de nosso instável equilíbrio interior e exte-ca. Se um corte decisivo é feito, o recém-nascido rior? Ou tentaremos finalmente “vivenciar36 pentagrama 5/2009

Podemos confiar na elevada energia espiritual desse princípio, numa força que nos envolve completamente, assim como o mar envolve um icebergueMãe e criança inuíte © Maria E. Cipp encarnação e do carma, que conduz cada perso- nalidade terrena com seu eu consciente e incons-conscientemente o que habita no mais profundo ciente através da vida, até que ela seja dissolvidade nosso ser”? na morte. Isso é possível! Conseguimos isso con-Aqui devemos abandonar a alegoria do glaciar e fiando na elevada energia espiritual desse princí-do icebergue, porque no que diz respeito às tare- pio, numa força que nos envolve completamente,fas que podemos realizar como seres conscientes, assim como o mar envolve um icebergue (aí estáessa imagem já não é satisfatória. Ao contrá- ele novamente), exatamente no momento emrio do icebergue, podemos refletir, conhecer- que reconhecemos que as leis naturais não ofe-nos, analisar nosso estado e procurar uma saída. recem saída e que com nossos próprios pensa-Isso porque temos uma dimensão ativa em nós mentos e ações não avançamos. Então uma novaque não provém desta natureza, um princípio fase se inicia em nossa vida: consciente e volun-espiritual! tariamente orientados para a energia do campoEsse princípio possibilita transcender as forças de força de uma escola espiritual, receberemos oque prendem a esta natureza, libertar-se da lei da calor necessário para derreter o icebergue. A frieza e a rigidez do ego e do subconsciente, onde subsistem milhares de anos de experiências, já não desempenharão papel algum nos cálidos raios do amor divino µ tudo que é perecível é apenas alegoria 37

nirvana: supremo vazio ePoucos conceitos são tão mal compreendidos como o do nirvana.Geralmente ele é entendido como a extinção de tudo o que é. Mas éexatamente o oposto: o homem cujo antigo ser mergulha no nirvanaaí encontra a fonte da vida. E a energia original torna-se ativa nele.Numerosos ensinamentos de sabedoria É necessário silêncio e vazio interior para fazem referência à idéia de vazio. O sentir o fundamento, a razão primeira do uni- taoísmo, a sabedoria egípcia, o cristia- verso: o intangível e o sem-forma. Mediantenismo original, falam da aspiração ao vazio no a rosa-do-coração, todo homem está ligadodecurso de um caminho espiritual. O budismo ao campo de vida divino; por meio dela, elefala do nirvana. Literalmente, significa a estabelece a ligação com o campo do ser queextinção da idéia de existência apartada. Em o reconduzirá à origem da Criação. Assimum processo iniciático, o que deve tornar-se que estamos dispostos, aprendemos a nosvazio? confiar ao sem-forma, à “Mãe do cosmo”, o princípio original de tudo o que existe e do“Meu reino não é deste mundo.” Com essas qual a consciência humana não pode perce-palavras, Jesus dá uma chave. O homem está ber o mistério. Para nós, seres humanos dosaturado das coisas deste mundo: sua cons- mundo transitório, entrar no vazio não é algociência, seu pensamento, seus sentimentos, simples.formam um emaranhado inextricável. Suas O candidato que se aproxima do caminho fazpercepções, seus desejos, suas considerações a aliança da inteligência com a entrega parasobre toda sorte de eventualidades e mil coisas absorver-se no nirvana, o reino do imutável.com que ele é inundado diariamente não lhedeixam espaço algum para receber qualquer Inquietação A voz do silêncio começa a seeco do outro reino. Ele está totalmente adap- fazer ouvir não como um som, mas como umtado ao mundo efêmero. Não sendo deste chamado a uma elevação, provocando assombromundo, o outro reino não tem nenhuma e certa perturbação, mas também um sentimentorealidade para ele. Quem não cria um espaço de paz que resiste a toda oposição.interior nem se liberta da ligação às coisas Se ele é honesto consigo mesmo, o aspiranteterrenas não encontrará o reino de Deus. O verifica que não pode responder de modo algumprimeiro passo para libertar-se da natureza a essa comoção nem estabelecê-la em sua vida.transitória é o passo do silêncio. Lemos no De fato, ele não tem nenhum poder sobre ela; oTao Te King: “Antes da existência do céu e da que o leva a se dar conta de que, como homemterra havia um ser vago. Quão quieto e calmo. terrestre, ele não tem dimensão alguma. NoQuão imaterial. Ele se mantém só, em si entanto, ele aprende a abrir-se ao outro que estámesmo, e não se modifica. Ele flui através de nele, obrigado a prestar atenção a todas as forçastudo e, no entanto, não corre perigo. Poder- e idéias que encontra. A busca pelo silêncio inte-se-ia designá-lo a Mãe de tudo o que existe rior é de notável ajuda.debaixo do céu”.* Neste mundo, o vazio parece de pouca38 pentagrama 5/2009

temafonte de vidaRepouso no meiodo movimento...relevância, apenas uma causa de angústia. Mas unicamente devido ao espaço vazio que eles sãoquem tem a coragem de entrar nele, impulsio- úteis”.nado por uma aspiração espiritual, percebe que o O capítulo 11 do Tao Te King explica que évazio é na realidade uma plenitude, um absoluto, o vazio que confere realidade às coisas. Ocom relação ao qual tudo o que é relativo tem cubo em que o eixo gira torna possível oum sentido. Lao Tsé dá esta imagem: “Os trinta movimento.raios de uma roda convergem para o cubo, mas é A Criação inteira é movida graças ao vazio nirvana: supremo vazio e fonte de vida 39

Da escuridão para a luz;a viagem para o Absolutocentral por onde fluem as energias divinas. INCOMPREENSÃO O conceito de nirvana é,A Criação e o homem são realmente viven- portanto, largamente incompreendido. Ele étes unicamente pela consciência de portar, no tido como a extinção de tudo, e acredita-secentro deles mesmos, um espaço vazio. Do que o budismo leve ao nada absoluto. Mas omesmo modo, as portas e janelas de uma casa nirvana não é o vazio que, para consciênciasó tomam todo seu sentido como aberturas à do homem, acorrenta ao mundo da forma.origem sem forma. Forma e sem-forma têm Quem entra no nirvana encontra aí a fonte dajuntos um sentido. No caminho da harmonia, vida. Para ele, as formas são vazios desligadosvivenciamos o significado e a utilidade dos dois.As leis da existência deste mundo tornam-senossas aliadas quando nos abrimos ao sem-forma. A lei do “nascer, crescer, desaparecer”perde sua força predominante. O homem inte-rage com a forma, mas ele se concentra no queé agora vazio para ele, o sem-forma. Ele coloca-se sob outra lei: a lei do reino original. Segundoas palavras de Buda: “O supremo arrebata-mento, amigos, é o nirvana”. Porque o vazioaparente é, na realidade, o lar da paz imutável,do amor e da sabedoria. Do vazio, que é fontede ansiedade para o eu, nasce o vazio perfeito, aplenitude.No caminho que leva ao vazio, ao nirvana,quanto mais se cria espaço para o silêncioofertado à energia primordial, menos as coisasdeste mundo exercem sua influência coerci-tiva. Porque vemos nosso antigo ser suportaressa influência e vemos o jogo das forças danatureza transitória; elas são desmascaradas,vemos a ilusão, enquanto o outro ser divinodesperta em nós e nos faz alcançar o nirvana, aextinção.40 pentagrama 5/2009

© Caneles’ photostream, FlickRdo absoluto, do qual se originam. A ilusão, Esse é o verdadeiro sentido deste capítulo do“maia”, cessa quando o verdadeiro ser desperta Tao Te King:nele e ele alcança o nirvana. Ousamos compa- “Pratico o não-fazer, e os outros serar a idéia de “extinção” da fraternidade cátara transformam.à dos rosacruzes atuais: o ser humano suporta Amo a quietude, e os outros se corrigem por sisua ligação com a forma até que sua alma- mesmos.espírito desperte. Nesse processo, ele aprende Abstenho-me de fazer qualquer coisa, e oscomo as energias do reino agem por meio dele. outros ficam ricos. nirvana: supremo vazio e fonte de vida 41

Sou sem desejos, e os outros reencontram a sim- reencontram a simplicidade original.”plicidade original.” No início, essa idéia de retorno à unidadeAÇÃO Com assombro, o candidato vê que original é incompreensível para o homemse torna silencioso, e comprova a ação das terreno.forças libertadoras em si mesmo. Ele renuncia A seguir, ao buscar o silêncio, ele cria paraa coisas a que seu eu jamais renunciaria. Ao si um espaço interior preenchido pela vozmesmo tempo em que esse abandono acon- do silêncio, a voz da eternidade; ela ressoatece, o amor universal é derramado nele, em seu coração e lhe transmite sua energia.como a energia que tudo sustenta. A fonte Sua consciência abre-se ao ilimitado. Ele sedessa mudança, portanto, permanece invisí- sabe religado à luz e à força da eternidade;vel. Do vazio que sobrevém a seu eu pleno de ele vê cada vez mais distintamente o retornoansiedade, nasce o vazio perfeito, a plenitude. à luz como seu alvo. Ele sente algo do vazioNele o vazio se torna novamente ativo como supremo, a razão primeva da qual emana aprincípio original, e ele já não se volta para luz, a força e o ser. Quem conhece o vaziotudo que o cerca. Ele trabalha, age, mas já supremo ara o campo da matéria para libertarnão como um ser determinado pela forma; ele o espírito.já não se manifesta como um ser nascido danatureza terrestre, ele deixa a energia pri- “O sábio gera as coisas e as alimenta. Ele asmordial agir em si. Portanto, é a mesma força gera sem as possuir. Ele acrescenta e multi-que age em todos os homens por meio de sua plica sem esperar recompensas. Ele reina epersonalidade, mas ela manifesta certa remi- não se considera mestre. A isso se denomina aniscência da origem eterna. virtude misteriosa.”Por isso Lao Tsé escreveu: “Pratico o não-fazer, e os outros se transformam.” É a origem µeterna que age e libera nele a possibilidade damudança. “Amo a quietude, e os outros se * Rijckenborgh, J. v. A Gnosis chinesa.corrigem por si mesmos.” Jarinu: Rosacruz, 2006.O que pode querer quem já tem parte naquietude da ligação com a origem eterna?Devido a sua verdadeira essência, ele está emunidade com todos e estimula em cada umessa consciência. “Sou sem desejos, e os outros42 pentagrama 5/2009

da ficção científica atualidadeà realidade alocução noA volta ao mundo em oitenta dias ou uma viagem da terra à lua já não templo desão aventuras de pura ficção científica. Os progressos técnicos colocam Haarlema humanidade diante da perspectiva de grandes mudanças. As influênciasda era de Aquarius vão se manifestando muito nitidamente, e resta saberse os prognósticos são realmente tão fictícios.A doutrina universal nos revela que desde menos incrível que outrora. O que era im- tempos imemoriais o homem celes- pensável naquele período hoje foi realizado te, andrógino, engendrou sete tipos materialmente. E quem sabe se não é umde seres, sete raças principais. Essas sete raças trampolim para a realização do que hoje aindapovoaram não somente a terra, mas também é inverossímil? Os limites devem sempre sero sistema solar. No decorrer dos processos quebrados e ultrapassados.que seguiram, a humanidade divina se religou Para uma pessoa que não o conhece, J. vanpouco a pouco à sua própria criação e a suas Rijckenborgh também poderia ser conside-criaturas. E por fim surgiu, com a separação rado em certo sentido um autor desse tipo.dos sexos, a situação humana atual. Em seus escritos, com efeito, ele prega umaNo século 19, e sobretudo no começo do evolução humana diferente da comumenteséculo 20, surgiram muitos livros de ficção, a vislumbrada. E isso, em relação a fatos concre-maior parte deles descrevendo aventuras futu- tos, particulares, descritos em toda a sua levezaristas no espaço e explorações impossíveis para e inconcebíveis para o comum dos mortais.aquele momento. Muitos se interessaram por Em sua opinião, em dado momento, a ciênciaessas histórias fantásticas que ao mesmo tempo demonstrará e provará suas afirmações. E é issoevocavam épocas há muito tempo passadas. que acontece agora!Alguns escritores de ficção científica extraíram É claro que tudo depende da consciência desua inspiração de uma mistura entre as esferas cada um e do nível da ciência em que nosetérica e astral. Eles descreveram como au- fundamentamos. Seria esse o ponto de partidamentar e mesmo ultrapassar limites. Às vezes material, de base puramente empírica, que seapontaram um nível mais alto da evolução hu- desenvolverá mais tarde? Não seria perigosomana ou uma senda da evolução. Ligados com estar constantemente atrás de fatos dos quaismúltiplas realidades, eles anunciaram então nosso espírito não participa? Não precisamosos desenvolvimentos vindouros nos domínios de uma ciência não-experimental ou impossí-material e etérico. Muitos desses romances vel de controlar pelo intelecto, mas que pro-provêm do novo mundo, dos Estados Unidos vém de outra fonte?da América. Mas quem não leu, do escritor O fator decisivo é o campo astral de que hau-francês do século 19, Júlio Verne, Da terra à rimos. As variações existentes nele são grandes,lua, Vinte mil léguas submarinas, Viagem ao centro mas apenas enquanto as fontes de que hauri-da terra? mos permanecerem no universo do espaço-IMPROVÁVEL Hoje, muito dessa ficção parece tempo, e disso os resultados darão testemunho. da ficção científica à realidade 43

Uma força renovadora irradia sobre o corposolar e sobre o mundo e a humanidadeEntretanto, algumas pessoas testemunham de espaço-tempo, a era de Pisces deva se perpetuaroutro universo, provavelmente muito mais sutil ainda por duas gerações, sua influência pratica-e elevado. Em nossa escola espiritual falamos mente findou. Pode ser que a humanidade aindade um corpo-vivo, de um campo energético sofra convulsões em alguns campos, mas no-cintilante de inspiração gnóstica e consciência vos valores como unidade, franqueza, verdadediferente, ligado a um campo superior de vida e justiça estão claramente presentes e ganhamda alma. força praticamente a cada dia. E quantas vezes o tempo já não ultrapassou oAquarius Em todas as épocas, a humanidade fim do mundo anunciado por vários grupos?foi inspirada por diversas doutrinas de sabedoria Num futuro próximo, os influxos da era dee em particular por representações dos céus de Aquarius se farão mais intensos e decisivos queonde deve provir a alma. As constelações e suas os da era de Pisces, que estão diminuindo. Esseinfluências têm aí um papel importante. Durante momento acontecerá neste século e terá umaos últimos decênios falamos mais e mais da era importância crucial.de Aquarius e de sua influência: o corpo solar e Visto em termos de espaço-tempo, o período dacom ele o mundo e a humanidade recebem uma transição tem uma duração relativamente curta.força renovadora. Um ano solar dura por volta Algumas culturas anunciaram este período jáde 26.000 anos, divididos em períodos de apro- há milhares de anos e testemunharam disso porximadamente 2.160 anos. Quando se trata da meio de cálculos ou construções magistrais.atividade de certo período estelar, não é o tempo Quem não ouviu falar, por exemplo, na crono-que é determinante, mas a difusão de energia, logia da Grande Pirâmide, ou do atualmenteque tem certa diferença de potencial. tão citado calendário maia?A lei da dialética é nascer, florescer e perecer. A Antes de mais nada, ele parece indicar quediferença de potencial da era de Pisces (Peixes) entre 2001 e 2012 realmente começam adiminuiu nos últimos séculos, no início paulati- se levantar os véus que obscurecem nossonamente e depois numa escala sempre crescente. discernimento.Às vezes depressa, às vezes despercebidamente, às Muitos, dentro ou fora da escola espiritual,vezes de forma intermitente. No início da dimi- supõem ou pensam que J. van Rijckenborgh senuição da força de certo período já se demonstra equivocou ao falar, no meio do século passado,o início do período seguinte. Assim, a diferença sobre 2001 – quando 2012 ainda não estavade potencial da era de Aquarius anunciou sua muito em foco.influência já há séculos. De qualquer forma, isso está fora de ques-Mesmo que, do ponto de vista do tão. Apesar de todas as tolices das publicações44 pentagrama 5/2009

especulativas sobre o assunto, já foi profetizado MAIAS Alguns fatos. Se, hoje, os descendenteshá milhares de anos que em nossa época chegaria mexicanos de Iucatã e da Guatemala são cha-o momento, exatamente no dia 21 de dezembro mados de maias, é simplesmente porque essede 2012, em que nenhum dia seria como antes. nome foi-lhes dado indiscriminadamente pelosTalvez se pense que isso é muito especulativo, espanhóis. Eles não têm relação alguma com oe talvez seja. Talvez se pense que o tempo logo calendário das profecias. Os maias originais, ouo dirá! Além disso, essas mudanças no tempo melhor, maiab, vinham dos topos dos Andes, umadependem de muitos fatores. Mas talvez explica- indicação simbólica mas não menos real de outroções e esclarecimentos já pudessem, mesmo que reino. Essas palavras referem-se a um tempode forma velada, fornecer alguma compreensão a diferente e a uma consciência diferente. O nomeesse respeito. maia ou maiab significa indivíduo ou poucos. da ficção científica à realidade 45

Depois de ter desaparecido, alternadamente, duas vezesno fogo e duas vezes na água, segue-se a quinta transição,desencadeada pelo fogoEra a época em que, como é dito em nossa fi- da humanidade, uma força energética supe-losofia, os deuses trabalhavam para os homens rior, que pertence a outra dimensão, penetrae, mais tarde, com os homens. e influencia a estrutura atômica atual. TalvezNaquela época muito longínqua, a sabedoria seja melhor dizer que essa força “se manifestadesses grandes ensinava que o mundo acabaria do interior” e isso no nível etérico; e que, naaproximadamente em nossos dias, pelo fogo, mesma medida, a quinta propriedade ou fun-ou seja, se consumiria. ção do átomo está outra vez ativa no tempo.O mundo, depois de ter desaparecido, alter- Consideramos que essa quinta energia libera-nadamente, duas vezes no fogo e duas vezes da é uma energia elétrica, é o éter ígneo quena água – o que contam diversas histórias da vem depois dos quatro éteres conhecidos: étergênese da humanidade – entra hoje numa químico, éter vital, éter luminoso e éter men-quinta transição desencadeada pelo fogo, pelo tal. É uma manifestação crescente em nossamenos no início. Essa transição ou elevação época, descrita, por exemplo, na Bíblia comoda humanidade – pelo menos de acordo com “fogo”, e que já discutimos muito em nossosos maias originais – não seria automática, mas círculos, também entendida atualmente comodependeria da consciência dos seres humanos, força.dependeria do poder de sua consciência de Porém essa quinta força atômica já não é ma-expressar uma força espiritual superior. terial. De fato ela matiza e determina a estru-A manifestação inteira remete a uma energia tura material do átomo, que poderia ser seuque opera em graus variados. A esse respeito, portador – se a transmutasse. Mas esse sim-a ciência oficial limita-se ao universo exte- plesmente não é o caso, pois as forças astraisrior, mesmo que aí também pareça ocorrer naturais determinam inclusive o comporta-certa mudança. Os esotéricos fundamentam mento humano. De fato, elas determinamsuas considerações na existência de numerosos toda a nossa vida. E reagimos a isso com umauniversos de onde emanam forças propulsoras escala multicolorida de sentimentos e emo-por detrás das aparências exteriores. ções, pensamentos e ações.O ensinamento da filosofia e da cosmologiados rosacruzes fala de sete universos onde as A força ígnea Nesse labirinto, de repen-forças espirituais manifestam-se de manei- te aparece e se faz ouvir a nova força ígnea,ra centrífuga. O \"interior” exprime-se no também chamada de éter da alma, de porta-“exterior” em diversas fases. Isso quer dizer dor da alma, da nova alma. Mediante proces-que durante a evolução contínua e progressiva sos cósmicos na atmosfera, essa força e outras46 pentagrama 5/2009

reúnem-se e tornam-se ativas. Nesse processo, do átomo. Para nós, isso representa o mate-muitos véus são removidos, e o ser humano é rial de construção da nova alma. O que paraconfrontado com várias mudanças planetárias. muitos talvez ainda pareça ficção científicaElas exigem que respondamos ativa e positi- converte-se em realidade científica.vamente aos novos fatores anímicos. Podemosmergulhar nesses benefícios e, se possível, UMA NOVA DIMENSÃO Numa escola espiritu-elevar a humanidade a um plano superior. al trata-se de nada menos que da realidade doNão é à toa que em nossa época existe novo homem. É necessário então que obte-uma escola espiritual, um instrumento da nhamos uma clara compreensão de uma novaFraternidade, que sempre intervém em mo- dimensão que estimula uma nova vida damentos-chave da história mundial e desempe- alma. Liberdade e igualdade serão necessaria-nha um papel essencial. Seus participantes po- mente as conseqüências lógicas da nova ordemdem agir como colaboradores da Fraternidade mundial. E não poderia ser de outra forma.da Luz. O impacto desses desenvolvimentos no mun-Aquarius tornará tudo possível, como fre- do material também causará muitas mudanças.qüentemente é dito, em especial a unidade, Tomemos o seguinte como exemplo: por ter aa franqueza, a igualdade e a liberdade. Mas orientação do corpo etérico positiva, a mu-isso é verdade? Não seria esta manifestação de lher será encorajada pelas forças atmosféricas aAquarius somente uma sombra por detrás da ocupar postos de liderança.verdadeira força espiritual intercósmica pro- De todos os executivos, inclusive gerentes epulsora do cântaro de água viva? supervisores, 27 por cento são mulheres. ENão é esta energia que eleva a consciência de esse quadro continuará a aumentar.seres humanos capazes e receptivos a um nível Por isso, é essencial que a mulher, que agorasuperior? está com o vento a seu favor, desempenhe suaNos tempos vindouros a tônica já não estará vocação de “Eva”, de “mãe das almas viven-na esfera material, mas sim na esfera etérica. tes”, ou seja, que ela possa ver e realizar aO homem etérico é o homem de amanhã. E manifestação feminina do ser-alma original.nossa consciência deve evoluir progressiva- A sra. Catharose de Petri diz a esse respeito nomente nessa direção. A mudança da consciên- capítulo 46 do livro O Verbo Vivente: “Sem ascia modifica a nova atividade etérica. Quando sacerdotisas no processo de elevação, não háfalamos do éter ígneo devemos compreendê- colheita de almas libertas”. E sobre as comuni-lo como a quinta manifestação não-material dades do passado, diz mais adiante: “É preciso da ficção científica à realidade 47

reconhecer que o grande sucesso dos essênios, Por isso é dito que o mundo perecerá pelodos maniqueus, dos cátaros e dos Siddha de- fogo, o que significa que ele submergirá novia-se aos membros femininos dessas ordens”. éter ígneo. Quem não puder vibrar em harmo-O homem possui, no sentido universal, o nia literalmente sufocará, pois todo o espaçoimpulso da manifestação, mas só pode realizá- vital será preenchido pela atividade dos purosla apoiado pela atividade plena de amor da éteres superiores.mulher. Por isso, dentro da escola espiritual, O quinto éter é o éter da alma, o portadoruma boa cooperação dos dois não é apenas do corpo-alma. O sexto éter permite que onatural, mas essencial. corpo-alma se eleve conscientemente no novoA consciência humana depende dos éteres que campo de vida. O sétimo éter ocupa-se empreenchem as sete cavidades cerebrais. assegurar que o corpo-alma se liberte perfeita-Esses éteres ou são desta natureza ou são éte- mente de todos os laços terrenos.res santificadores, ou seja, ou animam uma Os pesquisadores esotéricos encontraram pre-consciência puramente biológica ou são a visões desse período na pirâmide de Quéops.expressão de uma consciência alma-espírito Esse período é mencionado na Bíblia como onascente. Trata-se, portanto, de como agimos “reino dos mil anos” e refere-se ao períodoe vivemos. Olhe bem ao seu redor, mas sobre- da humanidade em que todos os etericamentetudo para você mesmo. O caminho da alma qualificados deixarão este mundo material eleva à eternidade, o caminho da personalidade serão elevados à aurora da ressurreição, a umao que é finito. A escolha não parece difícil, outro e novo reino.mas como isso funciona na prática? Eles alcançarão uma nova esfera, a próxima esfera da cadeia sétupla terrestre. A ficçãoO ESPAÇO VITAL A atmosfera será cada vez torna-se, então, realidade, e o homen alma-mais determinada pela ação dos éteres, e espírito pode trilhar o caminho de evolução.como resultado o processo de respiração co- Esse é um processo magnético, o resultadomeçará a mudar, tornando-se mais condutor, de um comportamento totalmente diferente,mais magnético. Ao invés de inspirar simples- baseado em valores etéricos purificadores emente ar pelos pulmões, inalaremos cada vez santificadores, um processo para pessoas que,mais éteres puros, dos quais necessitamos para com base em um coração puro e verdadeira-o progresso e a elevação de nossa consciência. mente anelante por luz e vida libertadoras,Portanto, o espaço vital mudará e será mais elevam-se em auto-rendição, em verdadeirapremente. transcendência µ48 pentagrama 5/2009


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