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Revista Pentagrama 2009-3

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:22:42

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pentagrama Lectorium RosicrucianumHermes e PimandroPlatão: o mito de Er sobre a vida após a mortePó de estrelasO que é fazer o bem?Aquário, um “melhor eu” e os planetas dos mistérios 2009 3junho NÚMERO

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaRedação finalP. Huis Lectorium RosicrucianumImagens A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção deI. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoom seus leitores para a nova era que já se iniciou para o desenvolvimento da humanidade.Design O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloCapa: Dick Letema do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémInterior: Ivar Hamelink o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Redação to, um símbolo somente tem valor quando se tornaC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthom, realidade.O homem que realiza o pentagrama em seuA. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. Brul microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está no caminho da transfiguração.Secretaria A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaC. Bode, G. Uljée revolução espiritual em seu próprio interior.Endereço da RedaçãoPentagramMaartensdijkseweg I,NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraEditora Lectorium RosicrucianumAdministração, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) 4016-5638www.editoralrc.com.brResponsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM. R. de Matos MoraesTradutores e revisoresA. S. Abdalla, S. P. Cachemaille,M. H. Figueiredo, J. Jesus, R. Dias de Luz,F. M. da Silva Luz, M. Pedroza, M. Sader,U. B. Schmit, M.V. Mesquita de Sousa,C.H.Vasconcelos.Diagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a Ano 31 número 3 2009Os escritos herméticos conhecidos datam geralmente sumáriodos primeiros dois séculos de nossa era. Hoje, porém,acredita-se que o Corpus Hermeticum de “Thot, o três o caduceu nos templosvezes grande” ou Hermes, baseia-se em conhecimentos da Rosacruz Áurea 2de milhares de anos. Cada vez mais, para surpresa dos o Corpus Hermeticum:cientistas, o antigo Egito revela ter tido um grande siste- Pimandro e Hermes 4ma de iniciação, mediante o qual milhares e milhares de pó de estrelas 14pessoas ligaram-se à verdadeira vida! Aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 18No decorrer dos séculos o sistema religioso egípcio despertar da consciência ou:tornou-se exterior e perdeu sua conexão interior. o que é o bem? 28Mas alguns círculos e grupos herméticos permane- Platão – o mito de Er – sobreceram ligados com a pura tradição, que foi trans- a vida após a morte 32mitida e encontrou finalmente sua manifestação noCorpus Hermeticum, um texto iniciático incomparável. Capa: Mesmo sem os olhos de cristal de rocha queO significado profundo da Gnose egípcia é explicado possuía, essa cabeça feminina de obsidianapor Jan van Rijckenborgh. Ele desvela seus textos e os de cerca de 4.000 anos irradia tranqüilidade,coloca na vida do século vinte e um. Em muitas confe- amor e profundo conhecimento.rências, ele explicou a seus alunos esse conhecimentooriginal que consegue dar à vida humana uma novadireção. Nesta edição, iniciamos um estudo baseadoem seus comentários contidos nos quatro tomos daobra A Gnosis original egípcia e seu chamado no eternopresente. As ilustrações que acompanham esse artigoprovêm do museu arqueológico do Cairo. Para os quepodem ver, elas exprimem a ligação com o divino queirradia neste mundo quando o ser humano permite quea verdadeira alma-espírito desperte.

o caduceu nos templos darosacruz áureaSegundo a mitologia, Hermes, ou Mercúrio, é o mensageiro dos deuses, seusímbolo, o caduceu, é uma alegoria hermética profunda que, entre outras,ilustra a ligação consciente com a natureza superior.Orápido desenvolvimento do campo de tra- sagrados dos Centros de Conferências da Rosacruz balho de Benin, na África, e o aniversário Áurea têm um significado muito profundo.Ao lado de 10 anos de seu Centro de Conferências da rosa sobre a cruz há o caduceu, simbolizando“Novo Sol” possibilitaram acrescentar no templo, que quando a rosa é colocada sobre a cruz e a rosa-como segundo símbolo, o bastão de Mercúrio. do-coração abre-se à luz da Gnose ocorre o nasci-Nos templos, o caduceu simboliza a Gnose her- mento do novo homem, o homem celeste que, nasmética, a fonte universal à qual está ligado o puro asas do Espírito, aceita o caminho da alma-espírito.ensinamento original da Rosacruz. Isso é confirma- Unidos, esses dois símbolos são a imagem do mara-do em As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz: vilhoso processo que ocorre no aluno. Quando as“Hermes é a fonte primordial. Quem o puder beba possibilidades da nova consciência nascem efetiva-de mim. mente nele, nasce também a verdadeira sabedoriaQuem o quiser purifique-se em mim. Quem o e a compreensão comum se retira para segundoousar mergulhe em minhas profundezas. Bebei, plano.Irmãos, e vivei!¹” J. van Rijckenborgh declara sobre isso:“A sabedoriaComentários detalhados sobre o Corpus Hermeti- precisa primeiro nascer do coração, da rosa-do-cum podem ser encontrados nos quatro tomos da coração, de Belém.obra A Gnosis original egípcia e seu chamado no eterno Ela atinge seu pleno desenvolvimento no santuáriopresente,² que reúnem várias alocuções proferidas da cabeça e, como acontece com o amor, é irradia-por J. van Rijckenborgh em conferências. Para da junto com todo o ser”.ele, Hermes representa a sabedoria primordial da Durante o caminhar da Escola Espiritual e do gru-Gnose, é o símbolo do homem celeste verdadeiro. É po de alunos, em certo momento, foram colocadostambém considerado o mensageiro dos deuses que nos templos de renovação o bastão de Mercúrio aotransmite aos homens a sabedoria universal. lado da rosa sobre a cruz em sinal de que, imerso naO caduceu é a imagem do novo homem em quem sabedoria primordial e no conhecimento imemo-se inflamou o fogo da nova consciência do homem rial, os microcosmos dos alunos estarão sempre noceleste. Ele representa o novo fogo serpentino, a caminho da transfiguração que leva ao homem ver-coluna da consciência do homem-alma renascido, dadeiro, ao homem divino. Graças à nova atitude deno alto da qual se encontram as duas asas: a da nova vida, o aluno segue o caminho da Rosacruz desdeconsciência da alma vivente e a do pensamento a manhã da ressurreição do homem-alma vivente,renovado conseqüente. que vê despontar a aurora do sol do Espírito.A religião de Hermes também é chamada religião A Escola Espiritual da Rosacruz Áurea não cessa dedo pensamento: a religião do pensamento herméti- pedir a homens e mulheres que se tornem cons-co que resulta da união da nova alma e do Espírito. cientes dessa renovação interior de seu ser, que levaOs símbolos dos templos situados nos lugares con- à consciência superior, a uma compreensão sempre2 pentagrama 3/2009

Planta e fotosdo Centro deConferências“Novo Sol” emPorto Novo, Beninmaior da Gnose, da sabedoria eda luz radiante.“Dirige agora o teu coração paraa luz e conhece-a”,diz Hermes µ1 Rijckenborgh, J. v., As núpcias alquímicasde Christian Rosenkreuz, tomo 2. São Paulo:Lectorium Rosicrucianum, 19962 Rijckenborgh, J. v., A Gnosis originalegípcia. 2 ed. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 3

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o corpus hermeticumNa série de artigos seguintes queremos fazer a comparação entre J. van Rijckenborgho Corpus Hermeticum, essa chave dos Antigos, e o ensinamento daJovem Fraternidade Gnóstica, o Lectorium Rosicrucianum. Se adoutrina, a vida e as diretrizes dos Antigos concordam com ele,saberemos se a Jovem Gnose, tomando a iniciativa e dando a direçãodo grande trabalho mundial, baseia suas diretrizes em valores reaisou em ilusões.OCorpus Hermeticum compõe-se de dezoito A sabedoria onipresente é, como sabemos, uma livros. O primeiro é intitulado Pimandro. radiação, uma vibração, uma força-luz universal, Trata-se do diálogo entre Hermes e um uma grande força eletromagnética particular. É aser misterioso chamado Pimandro. Hermes é aqui radiação mais elevada da manifestação universal,o homem nascido da natureza que empreendeu o a radiação do Espírito. Quando um ser humanocaminho da libertação passou pela gruta do nas- alcança a consciência hermética, essa radiação docimento, Belém, e então obteve a nova alma. Ele Espírito, no mesmo instante, é reconhecida, sen-está ocupado em tecer “a veste áurea nupcial” com tida, experimentada por essa consciência. Então,base nesse estado de alma, enquanto o novo estado entre esse campo universal do Espírito e o discí-da consciência mercuriana ou hermética come- pulo de Hermes, cria-se um foco, um ponto deça a manifestar-se. Ora, logo que essa consciência encontro intenso, fortemente luminoso, o ponto,se manifesta, Pimandro aparece; e o discípulo de o foco onde o Espírito e a consciência se vêemHermes entra em ligação com ele em virtude da olho no olho. O Espírito é Pimandro, Hermes é anova manifestação do seu ser. Pimandro é a sabe- consciência.doria divina onipresente. Sim, Pimandro é Deus. É Assim estabelece-se, graças à atividade desse focoa Palavra do início. Mas não é a palavra no seu sen- do Espírito, o “caminhar na companhia de Deus”:tido universal como, por exemplo, no prólogo do um diálogo, uma troca viva com Deus. Portanto,Evangelho de João:“No princípio era o Verbo”, ou logo que desenvolvemos e provamos no caminhocomo em outros lugares na Bíblia, onde o nome algo do novo estado de consciência, entramos aode Deus freqüentemente é citado no seu sentido mesmo tempo em relação pessoal com o Divino, euniversal. Não, Pimandro é a sabedoria, a Palavra ocorre uma troca, um caminhar diário com Deus.de Deus que se dirige a Hermes de maneira muito Isso não tem absolutamente nada em comum comparticular. Quando, na Bíblia, lemos que Deus fala, as práticas espíritas de entidades desencarnadas daque Deus dirige-se a um hierofante ou a algum esfera refletora, que se esforçam por falsificar deoutro obreiro, em muitos casos não se trata do forma vulgar o contato entre Deus e o homem.Verbo divino no sentido universal, mas do fato de Vejamos claramente que todos que se dirigem àque o Logos, Pimandro, volta-se para esse obreiro, consciência natural, à consciência “eu”, são semesse servidor, esse discípulo de Hermes. exceção: imitação, ilusão, engano. Quando a consciência hermética dirige-se aoCompletamente envolvido pelo Espírito e quando o fogo do Espírito assim é acesodivino,“à sombra das asas do divi- no foco do encontro, então forma-se uma linhano”, emanam do faraó, encarnação de força de estrutura luminosa, uma força, umaterrestre de Hórus, segurança, força vibração salta no discípulo. Essa vibração tem ume conhecimento. Imagem do faraó som, uma cor que se atribui ao motivo pelo qual oQuéfren, de cerca de 4.600 anos o corpus hermeticum 5

A consciência mercuriana, a tríplice faculdadenova de pensar, querer e agir, só pode nascer deum coração renovadodiscípulo de Hermes se eleva no campo espiritual. pode, por meio de uma meditação consciente, as-Assim, essa manifestação, esse encontro, adquire cender ao campo espiritual. Quem dispõe da novaum caráter específico. É unicamente dessa maneira consciência pode elevar-se em suas asas até encon-que Deus “fala-nos”. Isso é encontrar e entender trar a chama do Espírito. Mas logo que, meditando,“o nome inexprimível”. Sem dúvida lemos muitas o falso discípulo, por qualquer razão que seja ecoisas a esse respeito ou já ouvimos falar sobre isso, apesar da excelente intenção que o anima, procurae aprendemos quão numerosos são os que, através Deus para unir-se a ele, gera sempre atividades edos séculos, procuraram pelo “nome inexprimível”. conseqüências negativas que provocam, na maioriaA sabedoria dos tempos nos relata que ouvir o dos casos, ligações com as forças dialéticas, com anome inexprimível é o apogeu de um desenvol- esfera refletora infernal. Provocar essas ligações é ovimento gnóstico mágico.Assim como dissemos, objetivo dos que nos convidam e nos incentivammuito se procurou e se procura, sempre de maneira sem cessar a participar de meditações mediantenegativa, com base no “eu”, alcançar esse Horebe, invocações de todos os tipos. Se quisermos preser-essa montanha da realização. Mas é evidente que es- var-nos procuremos Deus não pela meditação, masses esforços são condenados ao fracasso, e continua- pela nossa maneira de viver. Não pronunciemosrão a ser enquanto a base dos esforços for o “eu”. palavras eloqüentes, mas ajamos. Que o novo com-Entretanto, a chave desse apogeu mágico reside no portamento irradie através de nós pelos nossos atos,coração de cada um. Quando se abre o coração por uma realidade de vida convincente. Portanto,à Gnose, começa-se a percorrer o caminho que sigamos o caminho.conduz ao encontro com Deus, que leva a um Quando estamos juntos em nossos templos, nossasencontro diário com ele. Quão pobre e privado da invocações, rituais e orações não são meios queverdadeira compreensão revela-se o teólogo que evocam uma esfera meditativa mística, mas umapensa que o Verbo divino é um livro que ele, com sintonia com a chave vibratória acessível e admis-aplicação e anseio perscruta a fim de encontrar esse sível do corpo-vivo da Jovem Gnose que está noVerbo de Deus, e crê que será suficiente ler esse caminho. Queremos dizer com isso que cada in-livro, um pequeno capítulo por dia, e dele falar vocação deve corresponder ao nosso estado de ser,para ouvir a voz de Deus. No entanto, nenhum à qualidade do nosso chamado no caminho, ao es-homem sacerdotal, nenhum expediente de natu- tado atual e vivido da nossa presença no caminho.reza sacerdotal pode fazer-nos “andar com Deus”. E se não pudermos determinar por nós mesmoPara celebrar o encontro com Deus, é necessário a atual qualidade da nossa presença no caminho,seguir por si mesmo o caminho que leva ao pró- encontraremos sempre uma base segura no “Pai-prio Pimandro. nosso”. Dizemos, com efeito:“O nosso pão deTalvez, nessa luz, nos demos conta do perigo da cada dia dá-nos hoje.” Qualquer aluno encontra aí,meditação mal orientada. O discípulo de Hermes a qualquer momento, a segurança. O pão espiritual6 pentagrama 3/2009

Base de uma coluna ornamentada com o dão-lhe essa possibilidade. No ponto central dessacaduceu, em Éfeso, Oriente Médio ligação nasce uma estrutura de linhas de força: Pimandro manifesta-se. Procedente do Espírito,que lhe cabe ele o receberá, certamente, se a ora- Pimandro aparece.ção partir de uma alma cheia de aspiração. Mas, atenção! Pimandro não é um ser distintoO encontro pessoal do discípulo de Hermes com vivente no campo do Espírito; é uma chama queo campo do Espírito é freqüentemente evocado na salta do campo do Espírito, uma realidade viva queBíblia. Esse encontro se traduz na expressão “ouvir pertence, na sua íntegra, ao campo do Espírito. Essea voz, a voz suave”.Assim é dito de Elias que ele fogo que resplandece é efetivamente o Pimandrose encontrava numa caverna no monte Horebe: de Hermes. Com efeito, essa manifestação refere-seE eis que lhe veio a voz”. E quando Apolônio de inteiramente ao estado de ser e à força qualitativaTiana desejava ouvir a suave voz, ele se enrolava, de Hermes.como Elias “no seu manto”, expressão que significa Portanto, quando Hermes refletiu sobre as coisasascender para Deus, nos valores adquiridos da veste essenciais e seu coração se elevou, Pimandro, aqueleáurea nupcial. que é e, no entanto não é, apareceu. Mas quando oO discípulo de Hermes entra em ligação com o discípulo de Hermes não se concentra no campo docampo universal do Espírito, porque seu estado in- Espírito durante algum tempo, Pimandro desaparece,terior e a mudança de sua vida pela transfiguração dissolve-se na luz onipresente. O fogo, as chamas ardentes dissipam-se.Assim, Pimandro é, e também não é, porque é absolutamente uno com a luz. O que nos surpreende no início do texto, é que Hermes reflete sobre as coisas essenciais e seu coração se eleva. Prestemos bastante atenção a isso porque, para o discípulo de Hermes, esse processo é determinante: ele prova a colaboração ideal e indispensável da cabeça e do coração. É a cola- boração da cabeça e do coração que determina a vida. Pode-se exprimir isso pelo seguinte axioma: “Cabeça e coração não são separáveis”.Tais são as palavras de Pimandro. Essa é a razão pela qual é necessário aprender a conhecer o mistério do coração. Sabemos que o homem é composto de qua- tro veículos: o corpo material, o corpo etérico, o corpus hermeticum 7

o corpo de cabeça são escra-desejos (ou vos do desejo.corpo astral) Todas as fun-e o corpo de ções do coraçãopensamento (ou e as do mentalcorpo men- são dirigidastal). O corpo inteiramenteetérico constrói pelos nossose mantém o desejos. Porquecorpo físico, o como homemcorpo de dese- desta natureza,jos determina o sentir, o cora-as tendências, o ção e o pensartipo, o cará- são governadoster, as aptidões, pelo santuário daresumidamente a bacia. No planonatureza humana de nosso ser na-inteira. tural, integralmenteVoltemos nossa ligado à matéria eatenção sobretudo para centrado nela, vivemoso corpo de desejos, que pela bacia e pelo sistemaParacelso chama de forma fígado-baço, desejando esideral. Ela nos cerca e nos pe- pensando tudo o que compete ànetra de todos os lados, e os líquidos natureza comum.Todas as radiaçõessiderais fluem no nosso sistema material através siderais entram no fígado em concordância com ado fígado. Essas forças circulam continuamente, atividade do nosso corpo de desejos.entrando e saindo do fígado. Se um homem, após ter vagueado sem fim noO corpo de desejos tem, portanto o fígado como penoso caminho das experiências, chega ao pon-foco principal.A qualidade e a natureza das ativida- to morto no plano da vida natural, é possível quedes do coração e o santuário da cabeça condizem deseje uma renovação, que aspire a uma saídacom o estado e a natureza do corpo de desejos tal libertadora e que nele se desenvolva o desejo decomo o recebemos ao nascer e como foi se for- salvação. Pode ocorrer também que um impulso omando depois desse momento. leve a apreender e realizar nele mesmo algum meioNo homem nascido da natureza, o coração e a de salvação a fim de elevar-se para fora do poço da8 pentagrama 3/2009

O vaso Heb-Sed, de alabastro, tem4.850 anos.A figura ajoelhada commãos elevadas ao céu, símbolo daeternidade, religa o faraó com asalegrias eternas do campo de vidadivinodeterioração. Esse anseio por uma renovação, essa uma força vital, plena de vida, uma possibilidade deaspiração por salvação, apoiado em uma consci- vida que pode levar a justo título o nome de amor.ência crescente, é a forma de desejo mais elevada Tudo que está abaixo dessa norma superior deque o homem nascido da natureza é capaz. Ele amor é um estado de desejo pessoal, de egocentris-não pode ir mais além. O que se agita e borbulha mo. No início, o desejo de salvação é, também, umem seu coração, como ser natural, é unicamente pedido do eu:“Estou em apuros e procuro uma so-o desejo. E o desejo mais elevado, qualitativamen- lução. Procuro ‘minha’ salvação”. É porque somoste, é o desejo de salvação: o limite das radiações tão miseráveis numa tal situação que a Gnose toca-astrais dialéticas. Ora, é quando se chegou a esse nos para tentar ajudar-nos com seu eterno amor.limite que a Gnose nos toca, não no fígado, mas o O amor como é encarado aqui, o amor digno des-coração. se nome, não é da mesma essência que a naturezaO primeiro contato, o contato fundamental com a dialética onde, repetimos, todo amor é um estadoGnose, tem sempre lugar no santuário do coração, insignificante do desejo. O verdadeiro amor é demas unicamente em resposta ao desejo de salvação. ordem superior; compete à verdadeira vida, à novaSe alguém se aproxima dos templos de uma escola vida; é Espírito, é Deus. É por isso que Pimandroespiritual gnóstica, por simples curiosidade ou de diz, no 17º versículo:“O Noûs é Deus o Pai.” Emaneira meramente experimental, não tirará dela no versículo 19:“Eleva o teu coração para a luz, enenhum benefício. Não é possível permanecer conhece-a”. E “a essas palavras,” continua Hermes,com sucesso num foco gnóstico se o coração abre- “olhou-me fixamente no rosto por algum tempo,se apenas um pouco à Gnose, abertura que é então de modo tão penetrante, que tremi sob seu olhar”.a conseqüência do estado mais elevado do desejo, o É esta a prova de verdade: o que haverá doravantedesejo de salvação. no santuário do vosso coração, desejo ou amor?Na Gnose, o coração é chamado de santuário Quando a luz fizer morada no santuário do cora-do amor. Mas devido a todo tipo de influências ção, sua natureza cheia de desejo desaparecerá. Oshereditárias e cármicas que agem no homem desejos do eu e o instinto egocêntrico apagar-se-desde o momento do seu nascimento e determi- ão completamente. É, portanto, incontestável quenam inevitavelmente sua vida durante os anos, seu o santuário do coração deve constituir a grandecoração de homem nascido da natureza já não é, base para o Espírito; que é no santuário do coraçãode há muito, um santuário do amor. Nele já não que o Espírito deve residir; e que deve, portanto,se encontra nenhum vestígio do amor verdadeiro. preparar-se, em todos os aspectos, para esse estadoO coração do homem não é senão um antro de superior. Lá onde está o coração”, diz Pimandro,perversidade. “está a vida”.Se outrora o coração foi qualificado de “santuá- Quando essa preparação do coração terminar, vere-rio do amor”, é que estava pronto para manifestar mos no Noûs, no coração, a bela forma do homem o corpus hermeticum 9

O rei, filho de Hórus, aquele que “conhece omundo divino”. O látego e o cetro são símbolosde força e poderoriginal, o tipo do ser humano original, o princí- O desenvolvimento hermético e a vida herméticapio primordial antes “do início sem fim”. são fundamentados na união e na colaboração doMas está claro, é evidente que o homem fez de seu coração e da cabeça, não do eu e da cabeça, mas docoração um antro de cobiças! O fogo do instinto coração purificado e da cabeça.egocêntrico ruge nele, enquanto o coração é cha- O mundo fracassa nessa necessidade. Vemos bemmado a oferecer-se como lar do Espírito, o Deus o caos e a corrupção ao redor dele; vemos bem oem nós, potencialmente presente no átomo origi- mundo naufragar. O eu pergunta: “Que fazer?”nal. Percebemos até que ponto estamos doentes? Então, tenta-se toda espécie de experiências queAté onde naufragamos de modo que o santuário põem em uso uma energia e um dinamismodo coração, o templo do Deus em nós, tornou-se extraordinários, mas isso sem sucesso! Por quê?tal lugar de abominação? Porque o homem esquece-se de purificar o san-Quem sabe dedicar outra vez seu coração ao servi- tuário do coração e consagrá-lo à sua tarefa. Emço de Deus abre, a seguir, o santuário da cabeça, a verdade, somente quando o santuário do coraçãofim de cumprir sua missão sacerdotal, em verdadei- é purificado e consagrado ele se abre à luz e umaro serviço à humanidade. Então, também refletire- mentalidade totalmente diferente aparece. Só as-mos sobre as coisas essenciais, porque do coração sim põe-se o dedo nas feridas deste mundo, destarenovado nasce a consciência mercuriana. humanidade.A Gnose considera-nos pacientes, doentes, devido Portanto, se fomos chamados pela Gnose, conheça-à condição psíquica do santuário do coração. É mos e realizemos a tarefa: purifiquemos o coração.por isso que ela nos suporta. É por isso que é tão Para abrir-nos ao grande amor, nosso coração devetolerante conosco. O triplo novo poder de pen- ser esvaziado das paixões dos desejos e de qualquersar, querer, agir, ou seja, a consciência mercuriana, instinto egocêntrico. Para isso, devemos impelirnasce apenas num coração renovado. Quando, com nosso coração, nossa emotividade, à verdadeiraesse coração purificado e nele, refletimos sobre as preparação, porque tudo deve começar por aí. Emcoisas essenciais, podemos ser elevados aos campos seguida, a cabeça seguirá, sim, ela deverá seguir.onipresentes do Espírito. Então encontraremos Pimandro.10 pentagrama 3/2009

Pimandro nasce do amor divino, nãoda vontade instintiva ou dos impulsosdo homem que chegou ao ponto mor-to. O que Hermes quer dizer, sobre-tudo, é que a chave da Gnose, a vidaverdadeira, reside na purificação docoração e em sua total consagração.Se seguirmos esse caminho e realizar-mos esse trabalho, a suave voz ressoarátambém em nós e dirá: “Que queresver e entender? O que desejas apren-der e conhecer em teu coração?”Que queremos aprender, saber econhecer além das coisas essenciais?Em primeiro lugar, o que há de maisessencial a conhecer se não a verda-de, a realidade que diz respeito a nósmesmo? Porque se não conhecemos anós mesmos, como nos será possívelsondar o Outro?A partir desse primeiro golpe de son-dagem, o discípulo de Hermes vê umaluz potente e serena, que traz grandealegria ao coração. Mas imediatamen-te depois, numa parte dessa luz, elevê descer e rodopiar, como em umabismo, névoas espantosas, sinistras elúgubres, incessantemente em movi-mento, numa confusão indescritível.Chamas de um vermelho sombriofundem-se em todas as partes.Placa de mármore,cerca de 3.150 antes de Cristo xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 11

Ora, desse mesmo res-abismo de ponde: “Essaconfusão, luz, sou eu”,dessas trevas e reside agorasombrias, sai no coraçãouma voz, um do verdadeirogrito inarti- candidato. Éculado, que Deus ma-se sintoniza nifestado nacom toda a carne, Osírisluz resplan- que retorna,decente ao Cristo queredor. Dessa retorna.luz emana uma O campo de luzPalavra santa. do Espírito é, emO que resta de primeiro lugar,verdade e de puro Pimandro, a estru-nessas trevas ascende tura de linhas de forçadessa natureza escura, da manifestação univer-dessa sombria caverna, e sal. Mas, ó maravilhosocomeça a formar uma atmos- milagre, essa luz, essa luzfera. Assim, da natureza deterio- poderosa, essa chama divina, fazrada, vemos, de início ascender a luz, sua morada no coração. É assim queem seguida a atmosfera sintoniza-se com a luz a Divindade torna-se um Filho. Porque o queoriginal. Embaixo, as trevas úmidas, formadas de dormiu no coração durante éons é despertado: oterra e água, representam o estado de ser dialético Filho da Divindade manifesta-se em nós.do candidato, mas um candidato que purificou o O Filho da Divindade possui grande poder.santuário do coração, ou pelo menos começou a Pimandro chama-o a Palavra ou a Voz. É por issofazê-lo. Essas trevas úmidas de terra e água foram que, quando Pimandro fala ao candidato, é no co-postas em movimento pelo som da Palavra que ração que ele se faz ouvir e testemunha; porque oemana da luz e que existe por ela, pela Palavra coração é a morada divina em que, chegado o mo-voltada para a luz. mento, fala o Filho da Divindade. Deus e o Filho,“Compreendeste essa Palavra?” pergunta o o campo de luz e a luz que desce, não são distintosPimandro do corpo-vivo da Gnose atual. E ele um do outro. Da união do dois nasce a nova vida.12 pentagrama 3/2009

Paleta com a representação da forçadivina Hathor, que simbolizava océu há 5.700. Entre os seus chifres,ela carrega Rá, o sol, a consciênciadivina. Hathor é um aspecto de Ísisformado de uma vaca, pois delaemana a criação; ela dá fertilidade enutrição, e protege a criança e a almaPortanto quando, após termos esvaziado nosso eu,nos tornamos dignos, “voltamos nosso coraçãopara a luz e a conhecemos.” Quando a reconhe-cemos, sentimos os grandiosos e maravilhosospoderes da Palavra viva em vós. Vemos e experi-mentamos no coração uma luz com poder incal-culável, um mundo realmente infinito: a CabeçaÁurea. Vemos o fogo da ordem inferior que urraser acometido e subjugado com força, levadoao equilíbrio sob a condução direta da Luz e daPalavra que a Luz faz ouvir em nós.Vemos e sentimos pela força luminosa da Gnosenascida em nós, a natureza inferior absorvi-da pelo que chamamos de renascimento, outransfiguração.Isso é a Gnose original, a Gnose hermética, a ver-dade anunciada à humanidade desde o início. Issoé a Palavra de Pimandro.Verificamos se essa Palavra é conforme à que aGnose atual dirige-nos há anos, o testemunho re-lativo ao homem original, a forma do homem ori-ginal, do homem que existia “antes do início semfim”, do homem “que era, e que é até agora” µRijckenborgh, J. v., A Gnosis original egípcia. 2 ed. Jarinu: Editora Rosacruz,2006, cap. 3 e 5 o corpus hermeticum 13

pó de estrelasTemos a aparência de seres humanos, entretanto nada fazemos de sábio.A civilização ocidental, se assim podemos dizer, permanece na linha horizontal.Alturas sublimes e radiantes não dominam a sociedade, que também não temnenhuma vida interior profunda.Passamos a existência seguindo o curso ines- É certo que a terra, nossos ancestrais, nossas predis- gotável das necessidades existenciais e de posições, as características adquiridas, determinam nossos desejos; há pouco espaço para o um quem somos e o que fazemos.Todas essas atribui-aprofundamento do pensar, para os que buscam ções circulam em nós diariamente e nós as transmi-com a alma e o coração, para os que querem tudo timos de geração a geração.abandonar, para uma vida verdadeiramente bri- Nosso corpo decodifica o DNA e opera a seulhante, para uma centelha de inspiração, para uma modo desde que existimos, pois o terrestre retornacentelha do que é divino. ao terrestre.A própria busca espiritual deriva do curso dos de- Mas possuímos outra matriz. Na profundeza desejos que determinam nossa curta vida. O que ela nosso ser, o indizível começa por depositar seusignifica diante dos imensos períodos estelares de próprio código, o código universal constituídomilhares de anos dos quais trata outro artigo desta de quatro caracteres mágicos do nome inefável, oPentagrama? tetragrama divino, algo que os sábios sempre soube-É-nos dito que “Tu és da raça dos deuses”. Eis ram. Enquanto a terra e os seres humanos existi-o que professa abertamente a Rosacruz. Ela não rem, cada um, um dia, poderá ler esse código e terinventou isso; os mais antigos escritos atestam: “E a revelação de que as quatro letras santas do nomedisse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, divino representam a possibilidade e o direito deconforme a nossa semelhança”. renascer, fora desta terra, fora deste cosmo, no mun-Por que não conseguimos discernir, compreen- do divino.der a idéia do divino? O que nos impede? Isso É por isso que a idéia “pó de estrelas” inspira o ver-nos parece pouco interessante? Mas não pode ser dadeiro buscador, essa matéria primordial que não étambém que não ousemos nos render à interessan- o pó terrestre, que é Consciência, Espírito, não ma-te alegação que afirma “somos pó e ao pó voltare- téria barrenta, pesada, limitada.“Somos da raça dosmos”? deuses”; o rosacruz agarra-se a essa verdade, eleva-seDe fato, um filósofo francês explica que só pôde e encontra o caminho para sair do pântano estag-aceitar essa frase do Gênesis (3:19) no dia que com- nante deste mundo. Ele se aferra à busca, à com-preendeu seu sentido. “É verdade” diz ele, “que preensão, conforme exprime J. van Rijckenborghnão está especificado que esse pó é o pó de estrelas em seus comentários da Confessio da Fraternidade daque provêm da substância primordial, e que nosso Rosacruz (Confessio Fraternitatis 1614):destino é retornar a essa matéria estelar”. “Nós, que procuramos os sinais dos segredosPodemos dizer que nosso DNA provém da subs- ocultos, sabemos que em todo o universo reinamtância primordial e que portanto nossos genes não sistema e ordem, que o Todo se realiza de eternida-são apenas portadores das características terrestres de em eternidade, segundo leis imperecíveis.herdadas de nossos antepassados. Nós, que rasgamos pouco a pouco os véus que nos14 pentagrama 3/2009

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separam do inexprimível, descobrimos o plano em sua realização. Nós, que examinamos as relações entre macrocosmo e microcosmo, vemos o gran- dioso equilíbrio universal. Nós, que escalamos os degraus estreitos da escada de Mercúrio, para elevar-nos, conscientemente, aos mundos invisíveis, vemos as correntes de vida dos reinos da natureza ondular no éter. Nós, que nos aproximamos do grande silêncio, ouvimos a voz do silêncio. Nós, alunos da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, que entramos no templo do Espírito, concebemos a glória do pensa- mento abstrato. Nós, servidores do fogo, escutamos, profunda- mente, as fontes do poder humano. Sabemos para que o homem é chamado, por todo o sempre. Nós, colhedores de rosas no jardim de Fohat, vemos, como em uma distorção dos sentidos, precipitar-se a evolução, de horizonte a horizonte, como um relâmpago. Nós, que aumentamos assim nossa ciência, am- pliamos nosso horizonte, fazemos crescer nossa consciência, carregamos nossas forças com energia dinâmica, vamos do assombro à admiração e pas- samos da profunda surpresa à adoração balbucian- te; chegamos à humildade e à religião”. O período que ora se inicia oferece à humanidade a oportunidade de dar um grande salto adiante para compreender a missão da era precedente, a de Peixes: consentir finalmente na doação total de si Estela com as leis de Hamurabi, Babilônia, cerca de 1.800 anos antes de Cristo. Seu nome significa “curador paterno”16 pentagrama 3/2009

O ser humano fará, um dia, dos dois códigos,uma gloriosa síntese, e reencontrará interiormenteo homem de luzmesmo. Isso não é difícil, basta apenas uma coisa: preciso poder quebrar a casca do ovo no momen-ajudar os homens em seu sofrimento e perplexi- to pretendido: o pequeno homem deve preparardade a renunciar a tudo que é pesado, limitado, o caminho do grande homem que, ao sair de seumaterial, bem como a seus pequenos “eus”. Dessa aprisionamento na terra, se encontrará unido aoforma abrimos uma janela nas profundezas da mundo divino do qual estava separado.consciência, o que permite encontrar o verdadeiro O Aguadeiro, o portador de água que verte a águafundamento da Criação. viva em nosso sistema vital, representa a energiaEis o que não se deve jamais esquecer: o chamado elétrica que quebra a casca e religa a humanidadepara compreender de que matéria somos formados: a um plano de vida totalmente novo, o do nasci-“Somos da raça dos deuses”. Isso é um mistério. mento e da evolução do homem de Aquário.Mas esse mistério não espera ser elucidado no A esse propósito, citamos novamente J. van Rijcken-amanhã, pois a era de Aquário já está em curso; é borgh:“Nós [...] vamos do assombro à admiraçãoum mistério do qual podemos nos aproximar aqui e passamos da profunda surpresa à adoração balbu-e agora. Quem desempenha essa tarefa, inician- ciante; chegamos à humildade e à religião. Nós, dedo-a imediatamente, descobre que dispõe de novas quem disseram que dirigiríamos a fria inteligênciaqualidades: propriedades que não são outras senão para a coisa suprema, sentimos como nosso saberas da luz, incrivelmente vastas, enquanto diante culmina em sua convicção profundamente religiosa.dele se estende o caminho original. Essas novas Curvamos os joelhos diante da majestade de Deus,qualidades são uma benção para os corações sensí- porque, após profunda sondagem, a intervençãoveis: elas fazem desaparecer a frieza da razão sim- divina se comprova em todos os reinos; porqueples e nos impede de, em nossa cegueira, danificar experimentamos a força que impulsiona todas ase aniquilar tudo a nosso redor. coisas, a energia sublime que sustenta nosso planetaOs rosacruzes não vêem o mundo como as pesso- através do espaço, a Luz do Mundo: Cristo”.as comuns. Longe de se apegar a seu fardo, a suas Essa é a religião de que falam os rosacruzes: a pos-limitações, a suas tristes realidades, eles o vêem sibilidade de viver numa época totalmente nova,sob o aspecto de uma grande oportunidade: este a religião do pensamento inspirado por Manas,domínio é de fato a matriz do homem universal! que permite decifrar o primeiríssimo código. OAs estrelas, os astros, o universo luminoso onde ele homem sacode então a terra de seus calçados; eleestá, constituem a terra nutriz do grande homem faz a gloriosa síntese dos dois códigos e, envolvi-de luz que devemos nos tornar. Consideramos do pelo manto violeta-ouro do cintilante pó dea distância, o espaço e os aspectos contrários da estrelas, ele reencontra em seu próprio interior orealidade terrestre como pedras para afiar nossa homem de luz µconsciência, nosso entendimento, nosso saber enossa concepção da coesão de todas as coisas. É Rijckenborgh, J. v., Confessio da Fraternidade da Rosacruz. São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1987, cap. 6 pó de estrelas 17

aquário, um “eu” melhor18 pentagrama 3/2009

e os planetas dos mistériosEm 2008, nos Países Baixos, novembro foi o mês dedicado à espiritua-lidade. O tema era:“Há um ‘eu’ melhor?” Questão fascinante! Para ela,em geral, se espera uma resposta afirmativa.M as quanto mais refletimos e procuramos poderíamos dizer, ao meio social onde nascera, e alcançar uma compreensão mais aprofun- era dependente da própria estrutura de necessida- dada da questão, mais descobrimos que des sempre crescente. Mas, em dado momento, porela apresenta múltiplos aspectos: sociais, pessoais, volta do início do século 19, de repente ganhamosbiológicos, religiosos. um eu. Sabemos disso por Arthur Schopenhauer,No decorrer de uma única vida humana, corre- cuja mãe morou debaixo do mesmo teto quemos o sério risco de não poder dar uma resposta Goethe. Para ele, nossa tarefa consistia em perdersatisfatória. Em certos momentos, chegamos ainda esse eu no grande oceano da vida, em deixá-loa questionar:“Um eu melhor? Como assim? Será dissolver-se nele.que meu eu comum já não é bom o suficiente”? Com sua paixão filosófica, Schopenhauer pes-Aprofundemo-nos na questão que está em estreita quisou como e em que medida o homem estáconexão com o tema desse mês da espiritualidade, dividido interiormente entre dois mundos. Daí a“Tentar viver bem”. Poderíamos mencionar uma conhecida expressão:“Duas almas moram em meuvida louvável, aproveitável e desejável no plano peito”. De um lado existe a consciência empírica,social. a consciência experimental baseada nas percepçõesÀ questão “Você tem medo de morrer?”, a cele- sensoriais; de outro, está a consciência ainda vaga,bridade holandesa Annie M.G. Schmidt respondeu: passageira, para a qual Schopenhauer a princípio“Medo de morrer? De maneira alguma. Final- não tinha um nome, mas que, por fim, denominoumente ficarei livre desse eu ciumento, sentimental, de “consciência melhor”. Schopenhauer, no come-invejoso e mesquinho, que sempre se opôs a mim”. ço de 1813, no seu jornal filosófico, afirmou:“Nes-Essa é uma boa observação, pois a forte personali- te mundo temporal, sensorial e intelectual, existemdade que somos, ou seja, nosso ser aural, é formada a personalidade e o princípio da causalidade; sim,por um grande número de “eus”! Há um eu hu- e isso é até necessário. Mas a consciência melhor,manitário, um eu social, um eu violento, benfeitor, em mim, me conduz para um mundo onde nãoobcecado por si mesmo, um eu sexual ou um eu existe nem personalidade nem causalidade, nemfaminto, um eu bom e um eu mau. sujeito nem objeto”.Trata-se de um mundo que,Cada um deles precisa sempre de nossa atenção, re- como dimensão superior, tem o valor de realidadeclama sempre a primazia, e quando os alimentamos suprema, conforme, por exemplo, mencionado nos(atenção é alimento), eles nos deixam em paz por escritos de Hermes Trismegisto.algum tempo.A personalidade humana é o con- Personalidade e causalidade são conceitos que sejunto desses “eus”. Não há apenas um eu, conforme aproximam dos conhecimentos do estoicismo, umadescobriram nossos filósofos. visão de mundo do século 3 a.C., no tempo doDe acordo com eles, o ser humano, no começo, filósofo grego Zenon de Citium (333–262 a.C.).não possuía um eu. Ele estava ligado, integrado, Eles também perguntavam a si mesmos: Existe aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 19

uma personalidade boa? O que é o bem? Existe Mercúrio simboliza ouma coisa pela qual valha a pena viver? Do pon- espírito humano; oto de vista prático, é uma pergunta fácil, não é Mercúrio renovado doamesmo? Podemos ser um bom sapateiro, um bom a compreensão universalpromotor, um bom pai, ou... um bom fabricante direta. A sabedoria divinade armas. Mas quão bom é o homem, então? Nos atua sem intermediárioexemplos dados, ser bom significa desempenhar no homem que foge dobem uma função. pensamento centralizadoOs gregos falavam de “phusis”, que significa no mundo da dualidade.constituição natural, natureza. Essa palavra tam- Na iniciação mercuriana,bém significa desempenhar uma função. Para eles o homem é participante eo bem era desempenhar sua função própria, viver colaborador consciente noou agir de acordo com a “phusis”, cooperar com o plano de Deus“necessário” na natureza, a qual se empenha pelaperfeição.Mas, então, como devemos viver? Os estóicostinham suas idéias a esse respeito:“Ajudando o serhumano nas suas necessidades e nos seus ques-tionamentos,” eles diziam. É algo que podemosfazer, e ao mesmo tempo é o meio de estimular ocrescimento de nossa alma.Aí está uma concepçãotípica vinda do estoicismo.“Deus está onde umser humano ajuda os outros, tal é a voz da glóriaeterna.”Graças a Plínio, o Velho (23-79 d.C.), essa citaçãode Zenon de Citium foi conservada. Na Escola daRosacruz moderna é dito:“Servir o próximo emauto-esquecimento é o caminho para Deus maiscurto, seguro e alegre”.Mas, por fim, principia o declínio. Envelhecemos,morremos. Isso corresponde mesmo ao bem? Paraos estóicos, isso era difícil dizer. Mas é uma lei, ea ela eles se sujeitavam. Os rosacruzes, da mesmaforma, aceitam a morte e não se revoltam contra20 pentagrama 3/2009

ela. De fato, o rosacruz não busca a natureza, mas anos procuramos conhecer a composição do Sol”sim a força ativa que nela opera, essa força que o diz Burnett, um dos cientistas do projeto.“Que-colocou um dia no caminho da vida, que também remos analisar individualmente cada átomo queserá finalizado por ela.Viver nessa força significa conseguirmos salvar.” O programa previsto deveestar seguro. Essa força é Espírito, pura, serena, que durar ainda cinco anos.se revela no ser humano como alma, como alma- Esse fascínio pelo sistema solar é notável! Por queespírito. devemos conhecer a composição do Sol, como diz Burnett? É certo que existe o interesse cien-A TRANSFIGURAÇÃO:A CAMINHO DE UMA VIDA tífico, mas não haveria ainda um fator psicológico por trás disso? Os adversários das viagens espaciaisDE PUREZA E LIBERDADE Atualmente, os homens sempre alegam que os homens têm bastante o quebuscam a pureza e a autenticidade de outra forma. fazer na Terra e deveriam, por isso, procurar resol-De muitas formas, poderíamos dizer. O que pensar, ver primeiro os problemas daqui.por exemplo, do projeto Genesis Timeline? Trata-se Você já foi tocado por um campo cheio de sere-de recolher, com o auxílio de uma tecnologia alta- nidade? Já sentiu a energia benfazeja que dele ema-mente sofisticada, amostras de partículas de matéria na? Conhece o respeito que esse campo inspira naprovenientes do Sol. Na fronteira mais externa do pessoa que entra em contato com ele? O mesmocampo magnético terrestre, uma cápsula Gemini respeito que se apodera de uma criancinha quando,aproximou-se o máximo possível do Sol a fim de pela primeira vez, ingressa num espaço inebriantecapturar partículas do vento solar com bolachas de grandeza, de elevação e de silêncio? Imagine aextremamente sensíveis e ultrapuras de ouro, safira, atividade purificadora que ele exerce e a imensida-silício e diamante. de da sua força sanadora. E isso apenas porque tudoA essa proximidade do Sol, já não se sente a vi- o que é pequeno se evanesce de nosso ser parabração terrestre, e reina um campo perfeitamente sempre após essa impressão grandiosa.sereno. No limite desses dois campos, os cientistas O homem não tem necessidade alguma de ir aoda NASA, em cooperação com o Instituto de Tec- espaço para receber em si mesmo o “vento solar”.nologia da Califórnia, esperavam recolher matéria A Terra é inundada por torrentes de energia cós-solar, a fim de obter uma compreensão melhor mica sem as quais, em alguns segundos, toda a vidasobre a origem e a evolução do nosso sistema solar. na Terra terminaria. Há quatrocentos anos, váriosEm sua trajetória, a Gemini orbitou em torno do homens e mulheres faziam experiências parecidas.Sol durante três anos e, por fim, espatifou-se há Eles experimentavam um toque do macrocosmoalgum tempo no deserto de Utah.Apesar da queda solar e sentiam o mesmo arrepio de felicidade eda Gemini, os astrônomos acreditam que ainda po- respeito. Eles recebiam, por assim dizer, o mesmodem recuperar cinco bolachas e estudar os milhões vento solar, aqui, na Terra.de partículas do vento solar que elas contêm.“Há aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 21

Em 1604, sabia-se que havia sete planetas em As três influências denosso sistema solar: Mercúrio,Vênus, Marte, Júpi- Urano, Netuno e Plutãoter, Saturno, o Sol e a Lua, que transmitiam para a nos preparam paraTerra as sete forças cósmicas do universo.A Terra receber a novaera considerada o centro, mas também o ponto consciência. Esses planetasmais baixo e, assim como nós, estava muito distante nada têm a formar nodo centro celeste onde se encontrava na origem. O homem, isso não éser humano também está completamente separado necessário: eles apenasdo esplendor celeste em que vivia no princípio. exercem sua influência,Naquela época, ganhou peso a idéia de que na impulsionando-o norealidade o Sol seria o centro do universo, e não a grande conflito da vida,Terra. um conflito que ele jamais viu, e conduzindo-o àGRANDES DESCOBERTAS Em 10 de outubro de realização definitiva de si1604 foi descoberta uma supernova na constelação mesmodo Serpentário, do mesmo modo que, algum tem-po antes, aparecera uma supernova na constelação cruzes, e muitos com eles, constitui um pequenodo Cisne. Uma nova estrela! Isso causou grande mundo em que os sete planetas estão representados.comoção.“Em que tempos vivemos!”, assim se O Sol não é o coração desse mundo? A Terra nãopensava. Isso não acontecia desde a descoberta da é a cabeça? A respeito disso, J. van Rijckenborghestrela que acompanhou o nascimento do Messias. afirma:“os rosacruzes investigam a coesão entreFoi como se houvéssemos sentido o vento solar na microcosmo e macrocosmo, o grandioso equilíbrioTerra, sentíamo-nos como que religados à vida da que reina entre todas as coisas”.esfera solar. Esse acontecimento marcou o apare- Para os rosacruzes do século 17, todas as coisascimento da Fraternidade da Rosacruz do século tinham uma correspondência entre si, todas esta-17, com a qual, nós, rosacruzes do Lectorium vam interrelacionadas, e as placas de ouro que osRosicrucianum, nos sentimos ligados. cientistas lançaram no espaço seriam desnecessárias.As pessoas que estudavam o céu no século dezes- Eles encontraram-se no vento solar que, naquelesete não eram tão individualizadas e apartadas do momento, atravessava o universo, e captaram asmundo celeste como somos hoje. Elas não lança- sugestões sobre a origem do universo que assimvam material altamente sofisticado no espaço para chegavam até eles de uma forma bem diferente. Seaprender como tudo começou, porque se sentiam observarmos suas idéias, uma imensa perspectiva seligadas a essa origem do universo e a reconheciam oferece, porque, desde então, outros planetas foramem si mesmas. O ser humano, diziam esses rosa- descobertos: primeiro Urano, em 1781, depois22 pentagrama 3/2009

Netuno, em 1846, a seguir Plutão, em 1930, e,em 2002 e 2003, para além de Plutão, ainda doispossíveis planetas: Quaoar e Sedna.A naturezaprecisa desses astros ainda não foi estudada. Outrosplanetas foram também observados pela primeiravez em outros sistemas solares.Até o presente, dizo dr. Bruce Macintosh, do Laboratório NacionalLawrence Livermore da Califórnia, apenas po-díamos deduzir indiretamente a presença de aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 23

Os rosacruzes estudam a relação entre microcosmoe macrocosmo, o equilíbrio grandioso que reinaentre todas as coisasplanetas em outros sistemas estelares, como, por rios porque sua influência afeta novas possibilida-exemplo, pelos movimentos irregulares de certas des ainda desconhecidas da maioria da humanidadeestrelas. Mas agora avistamos, orbitando a estre- atual. Na visão dos rosacruzes, o sistema solar não éla Fomalhaut, localizada na constelação de Peixe um espaço vazio onde alguns planetas giram. ElesAustral (Piscis Austrinus), um planeta (Fomalhaut consideram o macrocosmo solar como um todob). Um pesquisador expressou assim sua alegria vivo, como um grande corpo em evolução cons-com essa descoberta: É uma grandiosa e cativante tante. Nesse imenso relógio que o cosmo repre-experiência a de ficar cara a cara com um planeta senta, os tempos mudam, e nós, os pequenos seresnunca antes visto. humanos do humilde planeta Terra, também muda-Em nosso sistema solar, Netuno é, oficialmente, o mos. No espaço que separa os planetas, o ventoprimeiro novo planeta descoberto, pois, em 1613, solar provindo do coração desse sistema forneceno primeiro telescópio que construiu, Galileu sem parar a esse cosmo o “prana”: um potencialpôde observar Netuno então muito próximo de vital energético infinitamente diversificado.Júpiter. Ele pensou que se tratasse de uma estrela Sob esse ponto de vista, os homens não são célulascomum; nas duas noites seguintes, ele registrou a independentes e auto-suficientes, mas fazem partetrajetória dessa “estrela” em relação a outra bem desse sistema vivo e constituem uma humanidade,próxima. Se ele tivesse podido observar a trajetória um todo, um potente órgão passível de recebernas noites seguintes, teria concluído que se tratava interiormente a força solar e irradiá-la para a saúdede um novo planeta; mas as observações seguintes do planeta inteiro.Talvez isso ainda perdure, dadaforam impedidas por um céu nublado. a situação deste planeta, mas Aquário, o signo doUrano, o primeiro planeta reconhecido, foi desco- zodíaco que o Sol atualmente atravessa, mexe comberto em 1781. Ele leva 84 anos para fazer a volta todas as relações existentes na Terra. Já existemem torno do Sol. Netuno foi descoberto oficial- grupos que irradiam essa nova energia.mente em 1846, após determinados cálculos, e Encontramo-nos no meio de um período em quepercebido ao mesmo tempo por dois astrônomos, o desenvolvimento individual interior, antigamenteum inglês e um francês. Fazendo a volta em torno denominado iniciação, é muito possível, e onde édo Sol em 165 anos, em 2011 ele terá terminado fortemente estimulada a unidade de grupo numade dar uma volta completa em relação ao momen- espiral superior. Esse é um dos efeitos das vibraçõesto de sua descoberta. de Aquário, uma energia de freqüência vibratóriaPlutão faz a volta em torno do Sol em 248 anos; elevada.descoberto em 1930, será, portanto, em 2178 que Do Sol vêm muitas atividades e radiações neces-ele terá completado uma órbita e voltará ao ponto sárias à vida dos diversos planetas. Radiações queem que estava quando foi descoberto. Esses três podem ser prejudiciais à vida existente em diferen-planetas foram qualificados de planetas dos misté- tes corpos planetários são filtradas e barradas por24 pentagrama 3/2009

uma zona de irradiações complexas. É dessa forma mação radical da consciência, afirmada desde oque o Cinturão de Van Allen, uma teia muito so- século precedente. Para muitos, é evidente que afisticada envolvendo a Terra, filtra ou deixa passar cultura intelectual moderna produziu uma socie-os raios provindos do exterior. Desse ponto de dade onde a violência, o medo, a brutalidade, ovista, o homem que conhecíamos até aqui e como perigo, o nivelamento, o isolamento, não paramo conhecia o século 17 já não existe. Seu desen- de crescer. A pura intelectualidade atingiu seusvolvimento já não está dirigido pelas sete forças limites no que poderia conquistar, e já não oferececósmicas provindas dos sete planetas conhecidos. O nenhuma perspectiva verdadeira.ensinamento universal afirma que, sendo o homem Se o ser humano o deseja conscientemente, Uranoduodécuplo, o sistema solar deve comportar doze apresenta uma possibilidade e uma base positivaplanetas, ou centros de forças, e que cada um deve ao influenciar o coração e o cérebro, a fim de per-exercer certa atividade em relação a seu próprio mitir transpor os limites do intelecto puramentedesenvolvimento. analítico e calculista, ao sugerir uma colaboraçãoJ. van Rijckenborgh descreve particularmente os entre eles. Urano torna a vida dos sentimentosmovimentos do céu e de suas influências e conse- mais sensível às necessidades do próximo e à pre-qüências no que concerne à humanidade. Ele nos sença em nós do “Outro”.ensina que “Urano trabalha diretamente no cora- O egocentrismo fundamental, característica do ho-ção e na vida de sentimentos e estimula os dois. mem atual, deve ser rejeitado, do contrário a açãoUrano está, portanto, ligado ao amor ao próximo. de Urano será negativa. É o reverso da medalha:Mas essa característica só aparece quando a coloca- nesse caso, os impulsos visando à liberdade condu-mos em prática”.Aqui não se trata, ele sugere, do zem a imoralidade, ilegalidade, libertinagem, nega-amor altruísta comum. O homem voa, o homem ção das relações que regulam a vida. As disposiçõessonha. É precisa fazer crescer conscientemente o fraternais para as quais nos leva Urano tornam-sebem-querer em todos, a solidariedade. E o come- então: marasmo e paixão obsessiva coletivas, banali-ço é uma chama, uma centelha do fogo cósmico, zação de todas as expressões da vida e igualitarismode Deus, que brilha no coração humano, e cresce sem alma.quando compreendemos que “Deus está onde o Em compensação, uma reação positiva torna-ser humano ajuda seu próximo”. nos receptivos. A atenção e o desejo viram-se espontaneamente para as coisas das quais fa-AS NOVAS INFLUÊNCIAS Urano trabalha no co- lamos, pois o desejo de ajuda mútua e a com-ração e, ao mesmo tempo, na hipófise, os centros preensão tornam o homem receptivo à luz queanimadores e direcionadores. Ele penetra esses engloba todo o universo.centros com força, e sua influência permite reagir A influência do planeta dos mistérios Netunopositivamente. Acontece então uma transfor- segue Urano de maneira lógica. O ser huma- aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 25

POLARIZAÇÃO DOS METAIS a evolução da humanidade. Mas causa). As pessoas não receptivas como certas radiações provindas da a essas radiações são, no entanto,Se consideramos a Terra como um Terra atuam em nosso desenvolvi- influenciadas por elas – por exem-sistema magnético, então trata-se mento nos dias atuais? plo, pela alimentação, pela água ede um sistema que possui uma fun- As camadas terrestres superiores pelo ar. Muitos minerais e metaisção que reflete situações que não apresentam grandes diferenças de são dessa forma absorvidos e agemcorrespondem exatamente ao orga- matéria, de elementos, de metais. em nós.nismo terrestre nem aos diferentes Dentro da matéria terrestre encon- Novas radiações cósmicas ativasestratos terrestres. Nas camadas tramos todas as matérias estelares provocam novas transformações.superiores de nossa atmosfera, provindas do universo. As camadas Dessa forma, Urano é ativo no urâ-acontecem muitas tempestades terrestres estão incessantemente nio, que se transforma em rádio emagnéticas, perturbações provoca- em movimento – ainda que muito em outras matérias radioativas. Osdas pela penetração de irradiações lentamente. Em certos momentos, alimentos, a atmosfera, e, portanto,indesejáveis. Inversamente, a vida matérias são polarizadas e agem os homens, tornam-se cada vez mais– e a vida humana – desenvolve-se graças às radiações que penetram radioativos. A cultura puramentecom base nas radiações presentes pelo Cinturão de Van Allen (algu- ecológica ou biodinâmica nada podeque a penetram. Além das radiações mas poucas ajudadas pelos buracos fazer a esse respeito. No entanto,da própria Terra, muitas radiações na camada de ozônio que sempre esse é um dos processos que con-externas são necessárias para man- aparecem em lugares diferentes, duzem a importantes modificaçõester a vida na Terra assim como para mas dos quais somos em parte a da vida humana.no é elevado acima da personalidade terrestre provindas de Netuno faz penetrar a sabedoriaquando possui a sabedoria ao lado do amor ao no mundo terrestre, sabedoria muito necessária.próximo. Quando essa sabedoria se mostra e se Inútil dizer que quem se libertou dessa formamanifesta ao lado do amor ao próximo, muitos dos entraves terrestres mantém seu corpo astralobstáculos desaparecem da frente do homem em grande pureza. Ao longo de sua progressão,alma em evolução. Urano aplaina o caminho a humanidade atravessa muitos momentos nosporque esse princípio maravilhoso se manifesta quais deve aprender a reagir aos impulsos de re-fazendo nascer uma consciência vivificadora. novação. Esse processo não termina nunca. EmNetuno quebra a dura estrutura mental e leva o nossa época, a humanidade necessita das novascandidato cheio de aspiração a um mundo per- influências, de reagir a elas positivamente e defeitamente puro. Netuno nos religa aos éteres pôr concretamente em ação as novas possibili-transparentes do novo estado de vida e nos faz dades. A sabedoria é necessária para dar, de cadaentrar no campo sereno da esfera solar – com a vez, novos passos justos, sem egoísmo e para ocondição de satisfazermos às suas exigências em bem de todos.nossa própria vida. Netuno nos toca na cabeça A influência do terceiro planeta dos mistérios,e influencia especialmente a epífise, ou glândula Plutão, se faz no plano concreto das realizações.pineal. Segundo os rosacruzes, sua influência se Plutão leva-nos a concretizar, efetuar, realizar. Emfaz sentir fortemente também no sistema ner- nossa esfera, Plutão apenas se faz sentir aos homensvoso, tornando esse sutil tecido apto a perceber que abraçam e compreendem a idéia da transfigu-essas energias comparáveis à eletricidade. Quem ração: a reestruturação fundamental é então autên-pode assimilar de forma pura as inspirações tica. Quem experimenta conscientemente a força26 pentagrama 3/2009

desse terceiro planeta torna-se em princípio um As ilustrações dos planetas“homem-alma-espírito”. Seu amor, sua sabedoria e para este artigo foramsua atividade são livres. Netuno nos inspira e indica oferecidas pela senhoraa direção de nossa vida espiritual, e Plutão a com- Madeleine Decker, Suíça,prova. Plutão reina onde não podemos manifestar- www.madartdesign.comnos como personalidade. Não é em vão que ele éo deus do invisível! Ele nos dá a oportunidade de aquário, um “eu” melhor e os planetas dos mistérios 27realizar o inacreditável: de sair das limitações e doaprisionamento da matéria, de ressuscitar e tornar-nos verdadeiros habitantes do sistema solar. Os seteantigos planetas tornaram possível para nós a vidanesta Terra, e o fazem ainda. O último desses pla-netas, Saturno, no limiar, guarda a porta, a frontei-ra que deve ser atravessada para a aquisição de novasqualidades interiores. Para que isso ocorra é precisoum coração renovado cheio de vida da alma, umaconsciência inteiramente fundamentada na vida doespírito e uma forma de agir que dela testemunhepoderosamente. Já atravessamos essa fronteira naordem cósmica: no que diz respeito à Terra, trêsnovos planetas agem plenamente, e verificamoso resultado nas rupturas e mudanças que vemos ànossa volta. Grandes oportunidades aparecem, etodos têm a chance de encontrá-las, de tomar ascoisas nas próprias mãos e orientar seu destino paraum novo curso. É a isso que nos convidam os trêsplanetas dos mistérios de forma acolhedora, mastambém muito urgente µ

despertar da consciênciaConheci-o num trem. Nome, Daan. Sobrenome,Visser (que, em holandês, significapescador). Ele ainda é estudante universitário. Falamos sobre o consumo de drogaspelos jovens, tema de um artigo do jornal gratuito distribuído aos passageiros.P ara Daan o assunto não é nenhuma novidade: possuem o mesmo valor perante os olhos de todos. ele já havia fumado para conhecer os efeitos Cada imagem se inicia como um pensamento, ou e estar certo de poder parar. Tendo concluído seja, uma idéia, uma concepção mental. Com basesua experiência, ele freqüentemente escreve arti- nessa idéia aparece o desejo de conferir-lhe forma.gos sobre o assunto no jornal da universidade e em Depois, é preciso que exista uma vontade de reali-seu próprio site na internet. Para Daan o assunto é zação para que, enfim, a idéia tome forma, contan-sério, pois ele já viu muitos de seus amigos caírem to que isso seja possível. Quando imaginamos, porna armadilha das drogas. E à sua maneira ele tenta exemplo, o “bem” e o “mal”, o processo se desen-intervir. Daan mostrou-se lacônico quando indaga- rola segundo a descrição que acabamos de expor.do sobre o valor de seu auxílio. Seja como for, sua De acordo com a sabedoria universal, o ser humanovontade é continuar. não é constituído apenas de um corpo físico. EsseNum café, encontrei Remco. Um jovem que já corpo é cercado e perpassado pelo corpo etéricoviajou bastante e fez muitas coisas. Terminou a (ou corpo vital), em torno do qual se estende ofaculdade há pouco tempo e indigna-se contra os corpo astral (ou corpo de desejos). Observemos quemales infligidos aos animais: seres vivos desta terra, em torno da cabeça encontra-se o corpo mental,sem voz, vulneráveis. De onde provém tal indig- que está ainda no início de seu desenvolvimento.nação? Resposta difícil. Ocasionalmente Remco Esses corpos (ou veículos) que pertencem à perso-se encontrou em posição de poder fazer algo de nalidade são totalmente inconscientes do microcos-concreto por um animal aflito (libertar um pás- mo onde se encontram: somente quando a cente-saro preso num visgo, por exemplo). Todavia, de lha-do-espírito em nós se anima é que pressentimosum modo geral ele se sente impotente face a tanto nossa condição. Em princípio, o campo de atuaçãosofrimento, sem que isso diminua o desejo ardente da personalidade no interior do microcosmo é umde ajudar esses animais. campo à parte chamado campo de respiração.Assim como Daan e Remco, muitos de nós, jovens Se, graças ao nosso poder mental, pensamos emou adultos, gostaríamos de poder ajudar; todavia já algo, em nosso campo de respiração aparece umavivenciamos as contradições da dualidade, e como rede de pensamentos bastante vagos, confusos. Se,às vezes fazer o bem pode gerar o mal. O que sig- ainda que por um curto momento, prestarmosnifica “agir corretamente”? Salvar um animal aflito atenção a uma idéia em particular, essa nuvem seou um amigo deprimido? Não é tão simples assim, dissipará depressa. Mas se nos fixarmos mais lon-pois aquilo que é bom para uns pode ser ruim gamente em uma idéia, e se a considerarmos sobpara outros, ou pode ser um bem menor. Tecemos todos os seus aspectos, e isso durante alguns anos,nossas considerações sobre o “bem” e o “mal” então ela formará dentro de nosso campo de res-segundo os antecedentes de nossa personalidade. piração uma projeção capaz de conservar-se por siTais considerações, tomadas de maneira literal, não mesma; ela solicitará incessantemente nossa atenção28 pentagrama 3/2009

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O auto-sacrifício não é algo difícil; trata-se apenasde “ajudar nossos irmãos em caso de necessidade equando eles interrogam sobre o sentido da vida”para poder se manter, pois essa imagem exige que tenazes imagens que ocupam nossa consciência.nós a alimentemos. Seja como for, essas projeções No entanto, não é possível agir pessoalmente pararoubam nossa energia de modo ininterrupto, e nos que tudo desapareça: em nosso campo de respira-manipulam segundo a natureza de nossa personali- ção sempre permanecem coisas do passado, do qualdade. não somos ou ainda não somos conscientes. PodemEssas imagens e idéias que povoam nosso campo de ser necessárias diversas vidas para superar tudo issorespiração determinam nossas imagens de “bem” e conseguir perceber novas imagens e novas co-e “mal”. Assim, nossa personalidade tinge todas as nexões. Na Escola Espiritual da Rosacruz Áureanossas percepções. Ninguém possui percepções re- esforçamo-nos para nos tornar conscientes do “Ou-almente objetivas. Neste mundo, “fazer bem” não é tro” em nós, que emana interiormente da centelha-algo de absoluto. do-espírito. A centelha-do-espírito é o que perma-A Terra também possui seu campo de respiração: nece do mundo divino em cada ser humano.uma esfera onde, desde tempos imemoriais, todasas idéias, todas as criações mentais da humanidade Esse é o primeiro passo no caminho rumo à totalinteira tomaram forma. Essa evidentemente tam- receptividade ao novo impulso que anima nossobém é a esfera do passado. Ela é sempre um reflexo campo de respiração. Porque, a partir do instan-de tudo que a humanidade pensou, sentiu, desejou te em que o aspecto espiritual desperta em nossoe fez. coração e que este inicia sua tarefa, a energia queEm contrapartida, um dos aspectos particulares é circula pelo sangue põe-se a influenciar o santuárioque novas radiações tocam a humanidade – que da cabeça. Essa força possui uma vibração absolu-mais do que nunca deve ser capaz de contrapor-se tamente diferente e muito superior a tudo a queàs influências opressoras do passado – e ativam a normalmente estamos habituados. Essa elevada vi-centelha-do-espírito permitindo que novas e puras bração provoca em nós uma grande agitação e pou-imagens penetrem a personalidade humana, a fim co a pouco nos faz passar da confusão a um clarode torná-la apta a tornar-se consciente da possibili- autoconhecimento e, por fim, a um poder mentaldade de uma vida nova. cada vez mais claro. Nessa clareza, acabamos porConseqüentemente, devemos reconhecer que compreender nossas ligações, nossas criações pes-recebemos projeções do passado, que vivemos e soais determinadas pelo passado e nas quais nos en-nos comportamos de acordo com elas e, portanto, contramos presos. Assim, a luz da nova consciênciavemos o mundo segundo o que já aconteceu. Mas apaga progressivamente todas as imagens, criações ecomo escapar a essas influências opressoras? formas provenientes da personalidade, cuja influ-Isso é possível graças à palavra mágica que ressoa ência opressora desaparece na luz e na radiação doem nossa época. Devemos “deixar o barco correr”. novo sol interior, e conservamos a lembrança dessaRenunciar. Esforçar-nos para atenuar, apagar as experiência bem no centro do microcosmo. Então,30 pentagrama 3/2009

o campo de respiração torna-se calmo novamente,como a superfície tranqüila de um lago onde pene-tram os raios do sol divino.Essa purificação pessoal age diretamente no inteirocampo mundial, como uma estrela distante aparececomo um ponto luminoso na noite escura. Unindonossos esforços aos dos que buscam pela luz e pelanova vida, nós, em quem a centelha-do-espírito foidespertada, participamos da purificação da inteiraesfera terrestre de vida, e, na medida do possível,neutralizamos as turbulências que ocorrem em nos-so ambiente. Esse é o melhor e maior auxílio quepodemos oferecer.Quando em nós reina certa serenidade, temos aoportunidade de escolher a direção a tomar e apossibilidade de nos libertar. “Aquele que vence a sipróprio é mais forte que aquele que conquista umacidade”. Ou: “Quem purifica seu próprio campo derespiração à luz do Outro, contribui com o resta-belecimento do mundo!” Trata-se de uma grandetarefa que exige coragem e retidão. Mas cada serhumano traz em si tal possibilidade. E o que podeainda ser feito de bom no plano social? A respos-ta é muito simples: agir conforme a situação, sematribuir-lhe importância extraordinária. Dito deoutro modo, deve-se agir sem dizer-se a si próprio:“Vou colocar um pouco de ordem nesta história!”como Daan, como Remco, como a maioria daspessoas. É preciso agir de modo natural, sem julga-mento. Sem apoiar-se muito no prato da balança dopretenso bem, pois automaticamente o outro prato,o do mal, se eleva. E, sobretudo, que nada obstruao caminho do livre desenvolvimento do “Outro”em nós µ despertar da consciência 31

platão – o mito de er - sobreAs núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz traz inúmeros elementos narrativos uni-versais. Pensemos na corda (de luz) baixada no poço, na escolha do caminho de vida, no“gole de esquecimento” e no poder de agir da justa forma em todas as circunstâncias.São comparações e metáforas tão antigas quanto a humanidade, destinadas a nos escla-recer sobre nossa relação com o mundo verdadeiro. O leitor encontrará certo númerodesses elementos na história, contada há milhares de anos, e que Platão, aproximada-mente quatrocentos anos antes de nossa era, relata no último capítulo de A República.Sócrates fala, Glauco escuta e responde: levando também atrás a nota de tudo quanto “Serão assim os prêmios, recompensas e dádi- haviam feito. Quando se aproximou, disseram-lhe vas que o justo recebe, em vida, dos deuses que ele devia ser o mensageiro, junto dos homens,e dos homens, além daqueles bens que a própria das coisas do Além, e ordenaram-lhe que ouvissejustiça lhe proporciona”, diz Sócrates. e observasse tudo o que havia naquele lugar. Ora“E são bem formosos e sólidos”, responde Glauco. ele viu que ali, por cada uma de suas aberturas do“Ora, esses nada são, em número nem em gran- céu e da terra, saíam as almas, depois de teremdeza, em comparação com os que aguardam cada sido submetidas ao julgamento, ao passo que pelasum deles depois da morte. É isso que é preciso restantes, por uma subiam as almas que vinhamescutar, para que cada um receba exatamente da terra, cheias de lixo e pó, e por outra desciamaquilo que, por força da argumentação, lhe é as almas do céu, em estado de pureza. E as almas,devido” diz Sócrates. à medida que chegavam, pareciam vir de uma“Diga, porque não há coisa que mais me agrade”, longa travessia e regozijavam-se por irem para oresponde Glauco. prado acampar, como se fosse uma panegíria;¹ as“A verdade é que o que te vou narrar não é um que se conheciam, cumprimentavam-se mutua-conto de Alcínoo, mas de um homem valente, mente, e as que vinham da terra faziam perguntasEr, o Armênio, Panfílio de nascimento. Tendo às outras sobre o que se passava no Além, e as queele morrido em combate, andavam a recolher, ao vinham do céu, sobre o que sucedia na terra.fim de dez dias, os mortos já putrefatos, quando o Umas, a gemer e a chorar, recordavam quantos eretiraram em bom estado de saúde. Levaram-no quais sofrimentos haviam suportado e visto na suapara casa para lhe dar sepultura, e, quando, ao viagem por baixo da terra, viagem essa que dura-décimo segundo dia, jazia sobre a pira, tornou va mil anos, ao passo que outras, as que vinhamà vida e narrou o que vira no Além. Contava do céu, contavam as suas deliciosas experiências eele que depois que saíra do corpo, a sua alma visões de uma beleza indescritível. Referir todosfizera caminho, com muitas, e haviam chegado os pormenores seria, amigo Glauco, tarefa paraa um lugar divino, no qual havia, na terra, duas muito tempo. Mas o essencial dizia ele que eraaberturas contíguas uma à outra, e no céu, lá o que segue. Fossem quais fossem as injustiçasem cima, outras em frente a estas. No espaço cometidas e as pessoas prejudicadas, pagava, aentre elas, estavam sentados juízes que, depois de pena de tudo isso sucessivamente, dez vezes porpronunciarem a sua sentença, mandavam os justos cada uma, quer dizer, uma vez em cada cem anos,avançar para o caminho à direita, que subia para océu, depois de lhes terem atado à frente a nota de Cabeça de Nefertiti,seu julgamento; ao passo que, aos injustos, pres- Tell el-Amarna, cercacreviam que tomassem à esquerda, e para baixo, de 1.340 antes de Cristo32 pentagrama 3/2009

a vida depois da morte xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 33

“O bem não oprime, e cada um participa dele namedida em que venera o bem”sendo esta a duração da vida humana – a fim de que ainda não tinham expiado suficientemente apagarem, decuplicando-a, a pena do crime; por sua pena, tentava a ascensão. Estavam lá homensexemplo, quem fosse culpado da morte de muita selvagens, que pareciam de fogo, e que, ao ou-gente, por ter traído Estados ou exércitos e os ter virem o estrondo, agarravam alguns pelo meio elançado na escravatura, ou por ser responsável levavam-nos, mas a Ardieu e outros algemaram-por qualquer outro malefício, por cada um desses lhes as mãos, pés e cabeça, derrubaram-nos ecrimes suportava padecimentos a decuplicar; e, esfolaram-nos, arrastaram-nos pelo caminhoinversamente, se tivesse praticado boas ações, e afora, cardando-os com espinhos, e declaravam ativesse sido justo e piedoso, recebia recompensa na todos, à medida que vinham, por que os tratavamesma proporção. Sobre os que morreram logo assim, e que os levavam para os precipitar noa seguir ao nascimento e os que viveram pouco Tártaro’. Então tinham tido terrores múltiplos etempo, dava outras informações que não vale a variados, mas o maior de todos era o de cada umpena lembrar. Em relação à impiedade ou piedade deles ouvir o mugido, quando ia subir, e foi compara com os deuses e para com os pais, e crimes o maior gosto que cada um fez a ascensão antede homicídio, dizia que as penas ou as recompen- o silêncio daquele. Eram mais ou menos estas assas eram ainda maiores. penas e castigos, e bem assim as vantagens queContava ele, com efeito, que estivera junto de lhes correspondiam. Depois de cada um deles teralguém a quem perguntaram onde estava Ardieu, passado sete dias no prado, tinham de se erguero Grande. Este Ardieu tinha sido tirano numa dali, e partir ao oitavo dia, para chegar, ao fim decidade da Panfília, havia já então mil anos; tinha mais quatro dias, a um lugar de onde se avistava,assassinado o pai idoso e o irmão mais velho e estendendo-se desde o alto através de todo o céuperpetrado muitas outras impiedades, segundo se e terra, uma luz, reta como uma coluna, muitodizia. E o interpelado respondera: ‘Não vem, nem semelhante ao arco-íris, mas mais brilhante epoderá vir para aqui. Na verdade, um dos espe- mais pura. Chegaram lá, depois de terem feito umtáculos terríveis que vimos foi o seguinte: Depois dia de caminho, e aí mesmo, viram, no meio dade nos termos aproximado da abertura, prepa- luz, pendentes do céu, as extremidades das suasrados para subir, e quando já tínhamos expiado cadeias […] dessas extremidades pendia o fuso daos sofrimentos, avistamos de repente Ardieu e Necessidade, por cuja ação giravam as esferas. […]outros, que eram tiranos, na sua quase totalidade; Mais três mulheres estavam sentadas em círculo,mas também havia alguns que eram particulares a distâncias iguais, cada uma em seu trono, queque tinham cometido grandes crimes – que, eram as filhas da Necessidade, as Parcas, vestidasquando julgavam que já iam subir, a abertura não de branco, com grinaldas na cabeça – Láquesis,os admitia, mas soltava um mugido cada vez que Cloto e Átropos – as quais cantavam ao som daalgum desses, assim incuráveis na sua maldade ou melodia das sereias; Láquesis, o passado, Cloto, o34 pentagrama 3/2009

presente, e Átropos, o futuro. Cloto, tocando com pela forma, beleza, vigor, outras pela raça ea mão direita no fuso, ajudava a fazer girar o cír- virtude dos antepassados; depois havia também asculo exterior, de tempos a tempos; Átropos, com vidas obscuras, e do mesmo modo sucedia com asa mão esquerda, procedia do mesmo modo com mulheres. Mas não continham as disposições doos círculos interiores; e Láquesis tocava sucessi- caráter, por ser forçoso que este mude, conforme avamente nuns e noutros com cada uma das mãos. vida que escolhem. Tudo o mais estava misturadoOra eles, assim que chegaram, tiveram logo de ir entre si, e com a riqueza e a indigência, a doençajunto de Láquesis. Primeiro, um profeta dispô-los e a saúde, e bem assim o meio-termo entre estespor ordem. Seguidamente, pegou em lotes e mo- predicados. É aí que está, segundo parece, meudelos de vidas que estavam no colo de Láquesis, caro Glauco, o grande perigo para o homem, esubiu a um estrado elevado e disse: ‘Declaração por esse motivo se deve ter o máximo cuidadoda virgem Láquesis, filha da Necessidade. Almas em que cada um de nós ponha de parte os outrosefêmeras, vai começar outro período portador da estudos para investigar e se aplicar a este, para vermorte para a raça humana. Não é um gênio que se é capaz de saber e descobrir quem lhe dará avos escolherá, mas vós que escolhereis o gênio. O possibilidade e a ciência de distinguir uma vidaprimeiro a quem a sorte couber, seja o primeiro a honesta da que é má e de escolher sempre, emescolher uma vida a que ficará ligado pela neces- toda parte, tanto quanto possível, a melhor. Tendosidade. A virtude não tem senhor; cada um terá em conta tudo quanto há pouco dissemos, e oem maior ou menor grau, conforme a honrar ou a efeito que tem, relativamente à virtude na vida,desonrar. A responsabilidade é de quem escolher. o fato de juntar ou separar as qualidades, saberá oDeus é isento de culpa’. mal ou o bem que produzirá a beleza misturadaDitas estas palavras, atirou com os lotes para com a pobreza ou a riqueza, e com que disposiçãotodos, e cada um apanhou o que caiu perto de da alma, e o resultado da mistura, entre si, dosi, exceto Er, a quem isso não foi permitido. Ao nascimento elevado ou modesto, da vida particu-apanhá-lo, tornara-se evidente para cada um a lar e das magistraturas, da força e da fraqueza, daordem que lhe cabia para escolher. Seguidamente, facilidade e da dificuldade em aprender, e todasdispôs no solo, diante deles, os modelos de vidas, as qualidades naturalmente existentes na alma, ouem número muito mais elevado do que o dos adquiridas. De modo que, em conclusão de tudopresentes. Havia-os de todas as espécies: vidas isto, será capaz de refletir em todos estes aspectosde todos os animais, e bem assim de todos os e distinguir, tendo em conta a natureza da alma, aseres humanos. Entre elas, havia tiranias, umas vida pior e a melhor, chamando pior à que levariaduradouras, outras derrubadas a meio, e que a alma a tornar-se mais injusta, e melhor à que aacabavam na pobreza, na fuga, na mendicidade. leva a ser mais justa. A tudo o mais ela não aten-Havia também vidas de homens ilustres, umas derá. Vimos efetivamente, que quer em vida, quer platão - o mito de er - sobre a vida depois da morte 35

É dito que A República é a obra mais importante de Platão. Ela trata da sociedadeideal; em verdade, trata-se do desenvolvimento do homem ideal, que traz em seucoração “a cidade do céu” como uma regra interior permanente sempre igual a simesma. Quem pode observá-la ouve as tonalidades superiores desse livro que trazmuitas referências aos mistérios e aos ensinamentos interiores, que são os própriosfundamentos da Academia de Platão. No final do livro IX (591e - 592b) Platão fazSócrates dizer:“Porém, volvendo seu olhar para o seu governo interior, e precavendo-se contraqualquer alteração em si, devida ao excesso de fortuna ou à escassez da mesma,seguindo essa orientação, [o sábio] aumentará e gastará os seus bens, de acordo comsua capacidade.”“Perfeitamente”, responde Glauco.“Agora, quanto às honrarias, tendo em vista os mesmos princípios, receberá esaboreará de bom grado umas, aquelas que entender que o tornam melhor; masdas que tiverem um efeito dissolvente sobre o estado da sua alma, fugirá delas emparticular e em público.”para depois da morte, é essa a melhor das escolhas. que o destino que lá estava fixado comportava osDeve, pois, manter-se essa opinião adamantina até próprios filhos de outras desgraças. Mas, depoisir para o Hades, a fim de, lá também, se permane- que a observou com vagar, batia no peito ecer inabalável à riqueza e a outros males da mesma lamentava a sua escolha, sem se ater às prescriçõesespécie, e não cair na tirania e outras atividades do profeta. Efetivamente, não era a si mesmo quesemelhantes, originando males copiosos e sem se acusava da desgraça, mas à sorte e às divin-remédio, dos quais os maiores seria o próprio que dades, e a tudo, mais do que a si mesmo. Ora,os sofreria; mas deve-se saber sempre escolher o esse era um dos que vinham do céu, e viera, namodelo intermédio dessas tais vidas, evitando o encarnação anterior, num Estado bem governado;excesso de ambos os lados, quer nesta vida, até a sua participação na virtude devia-se ao hábito,onde for possível, quer em todas as que vierem não à filosofia. Pode-se dizer que não eram menosdepois. É assim que o homem alcança a maior numerosos os que, vindos do céu, se deixavamfelicidade. apanhar em tais situações, devido à sua falta deOra, então, anunciou o mensageiro do Além, o treino nos sofrimentos. Ao passo que os queprofeta falou deste modo: ‘Mesmo para quem vier vinham da terra, na sua maioria, como tinhamem último lugar, se escolher com inteligência e sofrido pessoalmente e visto os outros sofrer, nãoviver honestamente, espera-o uma vida agradável, faziam a sua escolha à pressa. Por tal motivo, ee não uma desgraçada. Nem o primeiro deixe também devido à sorte da escolha, o que maisde escolher com prudência, nem o último com acontecia às almas era fazerem a permuta entrecoragem’. males e bens. É que, se cada vez que uma pessoaDitas estas palavras, contava Er, aquele a quem chega a esta vida, filosofasse sadiamente, e não lhecoubera a primeira sorte logo se precipitou para coubesse em sorte escolher entre os últimos, teriaescolher a tirania maior, e, por insensatez e cobi- probabilidades, segundo o que se conta das coisasça, arrebatou-a sem ter examinado com cuidado do Além, não só de ser feliz aqui, mas tambémtodas as conseqüências, antes passou despercebido de fazer um percurso daqui para lá, e novamente36 pentagrama 3/2009

“Por conseguinte, não estará disposto a ter atuação política, natureza de uma mulher perita em trabalhos de artesanato. E à distância, entre as últimas, avistouse realmente se preocupa com tais questões.” a alma do bufão Tersites a enfiar-se na forma de um macaco. Depois, a alma de Ulisses, a quem a“Precisamente, responde Sócrates. Estará, e muito, na sua sorte reservara ser a última de todas, avançou para escolher, mas, lembrada dos anteriores trabalhos,própria cidade, mas talvez não na sua pátria, a menos que quis descansar da ambição, e andou em volta a procurar, durante muito tempo, a vida de umconcorra um acaso divino.” particular tranqüilo; descobriu-a a custo, jazente em qualquer canto, e desprezada pelos outros; ao“Compreendo. Referes-te à cidade que edificamos há pouco vê-la, declarou que faria o mesmo se lhe tivesse cabido o primeiro lugar, e pegou-lhe alegremente.na nossa exposição, àquela que está fundada só em palavras, Os restantes animais procediam do mesmo modo, passando para seres humanos ou uns para outros;pois creio bem que não se encontra em parte alguma da mudavam, os que injustos, para animais selvagens, os justos para domésticos, e faziam toda espécie deterra.” mistura. Assim que todas as almas escolheram as suas vidas,“Mas talvez haja um modelo no céu, para quem quiser avançaram, pela ordem da sorte que lhes coubera, para junto de Láquesis. Esta mandava a cada umacontemplá-la e, contemplando-a, fundar uma para si mesmo. o gênio que preferira para guardar a sua vida e fa- zer cumprir o que escolhera. O gênio conduzia-aDe resto, nada importa que a cidade exista em qualquer primeiro a Cloto, punha-a por baixo da mão dela e do turbilhão do fuso a girar, para ratificar olugar, ou venha a existir, porquanto é pelas suas normas, destino que, depois da tiragem à sorte, escolhera. Depois de tocar no fuso, conduzia-a novamentee pelas de mais nenhuma outra, que ele pautará o seu à trama de Átropos, que tornava irreversível o que fora fiado. Desse lugar, sem se poder voltarcompor tamento.” para trás, dirigia-se para o trono da Necessidade, passando para o outro lado. Quando as restantes“É natural.” passaram, todas se encaminharam para a planura do Letes, através de um calor e uma sufocaçãopara aqui, não pela aspereza da terra, mas pela terríveis. De fato, ela era despida de árvores e delisura do céu. plantas.Era digno de se ver este espetáculo, contava ele,como cada uma das almas escolhia sua vida. Era,realmente, merecedor de piedade, mas tambémridículo e surpreendente. Com efeito, a maiorparte fazia a sua opção de acordo com os hábitosda vida anterior. Dizia ele que vira a alma queoutrora pertencera a Orfeu escolher uma vidade cisne, por ódio à raça das mulheres, porque,devido a ter sofrido a morte às mãos delas, nãoqueria nascer de uma mulher; vira a de Tamirasescolher uma vida de rouxinol; vira também umcisne preferir uma vida humana, e outros animaismúsicos procederem do mesmo modo. A alma aquem coubera a vigésima vez escolheu a vida deum leão: era a de Ajax Telamônio, que fugia deser homem, lembrada do julgamento das armas.A seguir a esta, era a de Agamênon. Também ela,por ódio à raça humana, devido ao que padecera,quis mudar para uma vida de águia. A alma deAtalanta, a quem a sorte colocara no meio, aover as grandes honrarias de um atleta, não pôdepassá-las à frente, e tomou-as para si. Depois dela,viu a alma de Epeio, filho de Panopeu, entrar na platão - o mito de er - sobre a vida depois da morte 37

Quando já entardecia, acamparam junto do rio deitar e deu a meia-noite, houve um trovão e umAmeles, cuja água nenhum vaso pode conservar. tremor de terra. De repente, as almas partiramTodas são forçadas a beber uma certa quantidade dali, cada uma para seu lado, para o alto, a fim dedessa água, mas aquelas a quem a reflexão não sal- nascerem cintilando como estrelas. Er, porém, foivaguarda bebem mais do que a medida. Enquanto impedido de beber. Não sabia, contudo, por quese bebe, esquece-se tudo. Depois que se foram caminho nem de que maneira alcançara o corpo,38 pentagrama 3/2009

Por toda parte os seres humanos buscam seu caminho. Platão pergunta: “Mas como pode o homem reconhecer e descobrir quem pode fazê-lo capaz e versado para distinguir entre um modo de vida bom ou ruim e fazer sem- pre e por toda parte a escolha correta entre as inúmeras possibilidades que são ofereci- das?” É então que uma escola espiritual pode ser de grande ajuda crendo que a alma é imortal, e capaz de supor- tar todos os males e todos os bens, seguiremos sempre o caminho para o alto, e praticaremos por todas as formas a justiça com sabedoria, a fim de sermos caros a nós mesmos e aos deuses, enquanto permanecermos aqui; e, depois de termos ganho os prêmios da justiça, como os vencedores dos jogos que andam em volta de recolher os prêmios da multidão, tanto aqui como na viagem de mil anos que descrevemos, seremos então felizes” µ 1 Festa pública ou assembléia geral entre os gregos antigos Paquistão: monumento em Islamabad, visto à noitemas, erguendo os olhos de súbito, viu, de manhãcedo, que jazia na pira.Foi assim, Glauco, que a história se salvou enão pereceu. E poderá salvar-nos, se lhe dermoscrédito, e fazer-nos passar a salvo o rio do Letese não poluir a alma. Se acreditarem em mim, platão - o mito de er - sobre a vida depois da morte 39

Uma síntese da filosofia de Platão: os arquétipos do mundo original são perfeitos. Nele o amor não é egocêntrico;esse mundo é amor. Nele, a beleza é sempre e em todo lugar instantaneamente visível e perfeita; os pensamentosda alma e do espírito experimentam essa beleza original pois fazem parte dela. Inversamente, nosso mundo, devidoà própria essência de sua natureza, é imperfeito. Aqui, a beleza original é misturada com sombras, e o amor étomado de egoísmo40 pentagrama 3/2009

o selo da renovação a veste-de-luz do novo homem Série Apocalipse vol. 1 A veste-de-luz do novo homem J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri Neste primeiro volume da obra O apocalipse da no a era, com o conteúdo integral da primeira Conferência de Renovação de Aquarius, realizada em 1963 em Bilthoven, Holanda, os autores expressam com ênfase e extrema clareza a necessidade da puri - cação da veste-de-luz do ser humano como condição prévia para ele poder trilhar a senda trans gurística do retorno ao mundo divino. 1ª edição abril 2009 96 páginas R$ 24,00 ISBN: 978-85-88950-48-1 O selo da renovação Catharose de Petri Com base em trechos do Evangelho de João, Catharose de Petri explica os diversos aspectos da estrutura de uma escola espiritual gnóstica a serviço da Fraternidade da Luz, a Frater- nidade de Cristo. Editora Lectorium Rosicrucianum 2ª edição - novembro 2008 Caixa Postal 39 – 13.240-000 – Jarinu – SP – Brasil Tel. (11) 3061.0904 – (11) 4016.1817 – fax (11) 4016.5638 104 páginas R$ 24,00 www.editoralrc.com.br – [email protected] ISBN: 978-85-88950-50-4

A CIDADE DO CÉU“Sócrates: Agora, quanto às honrarias, tendo em vista os mesmosprincípios, receberá e saboreará de bom grado umas, aquelas que entenderque o tornam melhor; mas das que tiverem um efeito dissolvente sobre oestado da sua alma, fugirá delas em particular e em público.Glauco: Por conseguinte, não estará disposto a ter atuação política, serealmente se preocupa com tais questões.Sócrates: [...] Estará, e muito, na sua própria cidade, mas talvez não na suapátria, a menos que concorra um acaso divino.Glauco: Compreendo. Referes-te à cidade que edificamos há pouco nanossa exposição, àquela que está fundada só em palavras, pois creio bemque não se encontra em parte alguma da terra.Sócrates: Mas talvez haja um modelo no céu, para quem quisercontemplá-la e, contemplando-a, fundar uma para si mesmo. De resto,nada importa que a cidade exista em qualquer lugar, ou venha a existir,porquanto é pelas suas normas, e pelas de mais nenhuma outra, que elepautará o seu comportamento.Glauco: É natural.” Platão. A República, livro IX. São Paulo, Martin Claret, 2001R$ 12,00


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