pentagrama Lectorium Rosicrucianum O homem e a mônada Oposição ou ressurreição À prova de choque: roseiral versus Taipei A grande reconciliação A criação do homem no Evangelho de Judas2008 6nov/dezNÚMERO
Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaRedação finalP. Huis Lectorium RosicrucianumImagens A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção deI. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoom seus leitores para a nova era que já se iniciou para o desenvolvimento da humanidade.Design O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloCapa: Dick Letema do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémInterior: Ivar Hamelink o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Redação to, um símbolo somente tem valor quando se tornaC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthom, realidade.O homem que realiza o pentagrama em seuA. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. Brul microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está no caminho da transfiguração.Secretaria A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaC. Bode, G. Uljée revolução espiritual em seu próprio interior.Endereço da RedaçãoPentagramMaartensdijkseweg I,NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraEditora Lectorium RosicrucianumAdministração, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) 4016-5638www.editoralrc.com.brResponsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de Oliveira,Revisão finalM. R. de Matos MoraesTradutores e revisoresS. Cachemaille, M. C. Zanon Costa, I. Duriaux,J. Jesus, M. Pedroza, A. S. Abdalla, M. S. Sader,Y. Sanderse, U. Shmit, M.V. Mesquita de SousaDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
p e n t a g r a m a ano 30 número 6 2008Somente as forças de um domínio superior podem penetrar o sumáriodomínio inferior e realmente vir em nosso auxílio. Se grandesgrupos humanos submetidos à influência de novas forças cósmi- o homem e a mônadacas avançam para o centro da cruz, ser-lhes-á possível ressuscitar J. van Rijckenborgh 2na haste vertical. Eles seguirão e iniciarão uma nova sociedade: a a criação do homem no Evangelho Sancta Democratio, uma unidade saída do reconhecimento mútuo. de Judas 12Apenas em tal iniciativa – uma unidade no plano da alma – des- Lilith, o princípio feminino reprimido 18aparecerão todas as influências de todos os laços da natureza e a à prova de choque:consciência humana alcançará os valores espirituais mais elevados. roseiral versus Taipei reflexão de um leitor da Pentagrama 24 a grande reconciliação 30 Lar Christian Rosenkreuz 1958-2008 34 de eternidade em eternidade: saber-poder-querer-ousar-fazer-silenciar 36 oposição ou ressurreição as reações intercósmicas mudam o homem e os planetas 42 Capa: No silêncio, se todas as nossas interpretações e opiniões são omitidas, uma realidade com- pletamente diferente se torna visível tijd voor leven 1
o homem e a mônadaNa literatura esotérica, a Austrália é considerada o país onde deve ocorrer um grande desper-tar espiritual. Há também evidências de que esse continente fez parte da Lemúria, ou continentedesaparecido de Mu. É a mais antiga pátria-mãe dos elevados seres de luz, os Nagas. Supõe-se queos aborígines australianos sejam os descendentes dos antigos habitantes da Lemúria.A Austráliatransformar-se-á no centro de uma nova revivificação espiritual, uma sociedade baseada nos prin-cípios universais. Desse ponto de vista, J. van Rijckenborgh formulou idéias fascinantes.Até há relativamente pouco tempo, o Atualmente, os trabalhadores e servidores do mapa do quinto e menor continente, reino espiritual imutável estão otimistas, pois a Austrália, ainda apresentava várias trata-se de salvar pessoas de eventos caóticosmanchas brancas. Grande parte desse continente inegáveis; quanto à Austrália, espera-se comera ainda completamente desconhecida, e quase certa impaciência que uma série de descobertasinexplorada. E mesmo agora, apesar de várias seja feita no deserto.expedições atravessarem lugares desconhecidos,as origens dos rios terem sido localizados e o VELHA E DECRÉPITA? Então, que segredosmapeamento aéreo ter feito seu trabalho, não esconde o deserto australiano? São os vestígiosse pode dizer que o continente australiano seja de cidades gigantescas de uma civilização queum território familiar, que todos os recantos existiu há milhões de anos. Para os esotéricos,tenham sido descobertos. a Austrália é um país maravilhoso. É o último resquício, como Madagascar e a Ilha de Páscoa,Especialmente a parte mais inóspita, o grande do gigantesco continente lemuriano quedeserto australiano, é muito mais conhecida naufragou nas profundezas do oceano há cercade forma teórica do que prática. Sabemos que de 850.000 anos. Trata-se de um período daessa região é, como todos os desertos, um lugar humanidade que precedeu a lendária Atlântida.arenoso, quente, seco, lúgubre. Sabemos disso Como a época da Atlântida perdeu-se nas bru-pelos relatos de viajantes solitários, ou pelas mas do passado, é verdadeiramente espetacularvítimas de alguns acidentes durante vôos em encontrar vestígios concretos da civilizaçãobalão. milenar da Lemúria.Exploradores eventualmente faziam parte dessas A Austrália é uma das mais antigas terrasexpedições. Em 1874, em uma tentativa de que não foram inundadas pelo oceano. Defazer o Overland Telegraph Line chegar à costa acordo com a antiga sabedoria, a Austrália éocidental, Ernest Giles deparou-se com o deser- “velha e decrépita – ela sofre a maldição doto australiano, ao qual deu o nome de Alfred atraso”. Sua flora e fauna dão testemunhoGibson, com quem iniciara a expedição, mas disso. A espécie de marsupiais data dos temposque desaparecera no deserto e não retornara. As pré-históricos, quando, ainda bastante nume-causas desses infortúnios continuam obscuras. rosa, multiplicava-se grandemente. PodemosÀs vezes se encontram ruínas, às vezes abso- também compreender “sofrer a maldição dolutamente nada. Enfim, ainda hoje o deserto atraso” interpretando que o desenvolvimentoaustraliano seria, na sua maior parte, como uma normal desses domínios tenha sido interrompi-mancha branca no mapa. do através dos séculos.2 pentagrama 6/2008
J. van Rijckenborgh o homem e a mônada 3
Mapa do continen- te desaparecido de Mu, desenhado por James Churchward, autor de The Children of Mu, 1931; The Lost Continent of Mu, 1933; e The Sacred Symbols of Mu, 1935.Parece, portanto, que um enorme pedaço do império russo e da chegada de uma civilização es-passado foi conservado com determinada intenção, lava. Essas referências falam pouco ou mesmo nadapois, em dado momento, desempenharia um papel da existência de uma nova e grande Austrália. Ora,importante no mundo. a futura civilização australiana, de característicasAssim como os “os sinais na terra do Egito”, a es- únicas, se estenderá amplamente, numa expansãofinge e a grande pirâmide, a admiração provocada que abrangerá todas as regiões que cercam essepelo deserto australiano deveria também agitar os continente.espíritos para despertá-los. A Europa e a América continuam a sofrer as con-Tem-se falado muito da nova civilização da Amé- seqüências da grande rivalidade entre os sistemasrica, do despertar da Ásia, do desenvolvimento de socialista e capitalista, de modo que nossas vidasum grande reino árabe, sobretudo de um futuro estão sempre sob essa influência. A Austrália já ul-4 pentagrama 6/2008
Somente uma nova raça poderáredescobrir o passado congelado da Austráliatrapassou amplamente essa fase. É por isso que esse O último perigo que ameaçava esse desenvol-continente poderá vir a desempenhar um papel de vimento, uma conquista pelo Japão, foi evitada:liderança no futuro graças à sua economia mundial nenhum soldado japonês pôs os pés no solo dauniversal. Os povos australianos e holandeses têm Austrália. Torna-se cada vez mais claro que o mun-muito em comum porque suas linhas cármicas de do inteiro se encontra frente a uma necessidade dedesenvolvimento estão intimamente ligadas. Seus um novo começo. Também a Austrália encontra-interesses similares, ou mesmo os diferentes, suas se diante de uma nova aurora. Hoje, uma jovemtendências e suas relações são igualmente evidentes população se desenvolve numa atmosfera ligada ano âmbito esotérico. um passado de cerca de um milhão de anos. Esse período apresentará certamente características eLEMÚRIA Todos os que apreciam de coração a efeitos interessantes.pedra angular da franco-maçonaria da Rosacruzmoderna tentam compreender o que acontece na O fator de “retardamento”, a força de inércia à qualAustrália em matéria de desenvolvimento espiri- nos referimos anteriormente, será suprimido, e atual. Primeiro, devemos considerar que a Austrália antiga Lemúria revelará alguns dos seus maravilho-é o mais antigo pedaço do globo terrestre, um sos mistérios.vestígio da antiga Lemúria desaparecida. Para obter alguma compreensão sobre esses mis- térios ocultos é importante examinar quem eramAté há aproximadamente 150 anos, esse continen- o lemurianos. É dito, nos relatos esotéricos, quete era praticamente desconhecido, um pedaço da os lemurianos eram de aparência horrível, repug-história preservado. O tempo parara; e nas con- nantes ao olhar. Existiam dois tipos: um baixo,dições e situações de vida rígidas daquela região, tipo anão, e outro de dois metros de altura. Seusera impossível haver uma renovação. Só uma raça corpos assemelhavam-se a animais muito peludos,completamente nova e diferente poderia revelar com cabeças, braços e ossos antropóides. Se acres-esse passado congelado. Essa condição foi preenchi- centarmos a isso o andar titubeante próprio dosda. Os habitantes originais praticamente desapare- antropóides, temos a imagem completa dos lemu-ceram. Os últimos descendentes da antiga Lemúria rianos. Contudo, uma comparação mais acurada dojá não existem, e uma raça branca nova que se lemuriano com um antropóide estaria longe de serdesenvolve energicamente toma posse da Austrália. verdadeira, porque embora este último seja dotado o homem e a mônada 5
Rapa Nui ou Ilha de PáscoaUm lugar misterioso no sul do Oceano Pacífico?A Ilha de Páscoa é a mais solitária do toda a tranqüila área sul do oceano. estatuas de pedra se parecem surpre-globo, sendo que a mais próxima ilha, Hotu Matua, a heroína dos maoris, vinda endentemente com as da Mongólia,inabitada, está a uma distancia de 400 da Polinésia, e Kiwa, o navegador do igualmente solitárias na paisagem. Emkm. A Ilha de Páscoa se encontra 3200 Uru Kehu, vindo da América do Sul, dois O canto de Waitaha existem algumaskm a oeste da América do Sul e a 2560 territórios separados um do outro por vagas indicações de uma origem asiáticakm da ilha habitada mais próxima. A no mínimo 8000km, encontraram-se desses “homens de pedra”. Eles teriamdistância até o maior grupo de ilhas, a nesse lugar, o mais solitário ponto vindo das “altas montanhas do teto doPolinésia, que está entre a Austrália e do mundo! Finalmente, uma terceira mundo”.a América do Sul, é de mais de 4000 população encontrou o caminho para a De acordo com A doutrina secreta dekm, e são 7000 km de mar aberto Ilha de Páscoa: os “homens de pedra”, H.P. Blavatsky, a Ilha de Páscoa faziaaté a Nova Zelândia. A Ilha de Páscoa uma terceira raça independente. Os parte da primeiríssima civilização datem aproximadamente 24 km de relatos encontrados na Ilha de Páscoa terceira raça, às quais pertenciam oscomprimento e 10 km em sua parte mostram que existia não uma cultura lemurianos. Após a submersão domais larga. Podemos falar de um ponto local tribal, mas uma civilização altamen- resto da Lemúria, surgiu de repente umno oceano. Ela foi descoberta em 1722 te desenvolvida. As enormes esculturas vulcão do fundo do oceano, fazendopelo navegador Jacob Roggeveen. em pedra preservadas até os dias de emergir suas estatuas como testemu-Há muito tempo, entretanto, essa ilha hoje não existem em nenhum outro nhas da existência da Lemúria. Algunsfoi o centro de uma grande atividade. lugar do mundo. É difícil compreender australianos seriam os últimos descen-Que um lugar tão isolado, completa- como homens que não dispunham dentes dessa raça. As estátuas da Ilhamente “fora do mundo”, praticamente de ferramentas em ferro tivessem de Páscoa, de acordo com A doutrinadescoberto por acaso, mas que, mesmo podido executar, transportar, erguer secreta, teria sido a obra de homens daassim, tenha recebido um impulso e acomodar tais esculturas de mais de terceira raça, últimos representantes dasuperior é o tema do livro O canto 12m de altura e de aproximadamente antiga Lemúria, homens de um tamanhode Waitaha. Nele foram recolhidas noventa toneladas. fabuloso. Eles eram, na maioria, osas tradições secretas dos primeiros Em uma das fileiras há uma estátua irmãos bons e santos de seus gêmeoshabitantes da Nova Zelândia. De acordo inacabada de 21m de altura. Também foi maus e ímpios: ambos descendentescom essas tradições, diferentes povos encontrado um escrito que faz parte de dos deuses, e como os titãs e suade diversas raças foram guiados para alguns outros, que ninguém ainda pode imensa geração, seriam qualificados deesse lugar por um forte impulso. Ele se decifrar. É impressionante a semelhança “primeiros nascidos do céu”.tornou um centro de iluminação para com os escritos do norte da Índia. As Fonte: Os cânticos de Waitaha, História de uma nação, ensinamentos de Tharaira Te Meihana c.s., B. Brailford ed., Ngatapuwae Trust, Christchurch, Nova Zelândia, 1994.6 pentagrama 6/2008
de uma consciência animal, com um mínimo de na medida em que a matéria o permitisse, as idéiascapacidade intelectual, o lemuriano demonstrava surpreendentes e estranhas de suas próprias môna-grande inteligência, que excedia, em quase todos os das.aspectos, a inteligência média da humanidade atual.Do ponto de vista do raio de ação e das capacida- Eles construíram cidades colossais de formas es-des espirituais, o lemuriano era um ser majestoso pantosas e esculpiam na lava imensas estátuas queno corpo grosseiro de um animal. a causa dessa representavam as mônadas. Em suas construções,relação muito surpreendente e antinatural entre o objetos comuns ou decorações, procuravam repre-seu estado divino e a sua personalidade terrestre sentar e concretizar os pensamentos, valores, forçasé evidente para os que estudaram o ensinamento e capacidades próprias dessas mônadas.universal. Por meio de escavações no deserto australiano eA personalidade animal extremamente primitiva e das descobertas que delas se esperam, uma grandegrosseira dos lemurianos era penetrada pela mô- sabedoria poderia vir à luz do dia e, possivelmente,nada ou ser celeste, que existia ainda noventa por tornar-se ativa outra vez. Isso seria uma contribuiçãocento no campo de vida original. importante para os fundamentos do ensinamento clássico da regeneração do homem e enfatizariaUma parte da humanidade original, naquela época, e confirmaria a existência de uma vida humano-estava ainda em processo de descida ao mundo divina original, tal como a Rosacruz modernaamaterial, a involução. O homem celeste ainda não preconiza.estava adormecido. Prometeu ainda não havia sidocompletamente acorrentado. Entretanto, essa parte DUALIDADE O lemuriano era, portanto, um serda humanidade, que já não estava sob orientação duplo. Como ser natural, era um homem-animaldivina, já criara uma personalidade primitiva, gros- em processo de formação; como entidade original,seira, disforme, desprovida de inteligência. um ser celeste que começava sua descida na matéria.Essa criatura animal era como um golem, um robô, As mônadas que pertenciam a esse grupo acredi-um autômato vivente de carne, ossos e músculos, tavam poder transformar o tipo animal lemurianoque obedecia completamente seus criadores semi- num homem divino magnífico. Então, como cria-divinos. Esse robô era um incansável instrumento doras, elas seriam efetivamente como Deus. Elasde seu criador semidivino – um brinquedo do teriam criado do nada um ser humano com o qualhomem-deus em declínio, uma ferramenta com a poderiam associar-se como mônadas e com o qualajuda da qual ele podia atuar na matéria da dialética poderiam fundir-se. O homem divino, a mônada,grosseira. Assim, esses animais escravos realizavam, poderia viver e ser, assim, na sua própria criação. o homem e a mônada 7
Sobrevôo histórico duzentos milhões de anos os continentes faziam afirma, em Natürliche Schöpfungsgeschichte (A parte de um todo: o super-continente Pangea, a história da criação) (1870), que “no Oceano ÍndicoO naturalista francês Étienne Geoffrey Saint- Antártica, a Austrália e a Índia encontravam-se encontrava-se um continente que se estendia dasHilaire aventou a hipótese, já em 1840, de que adjacentes à África e formavam com a América do Ilhas da Sonda, ao longo do lado sul da Ásia, até aMadagascar fosse uma parte do quarto continente Sul um único continente até o inicio do período costa leste da África. Parece que Sclater deu-lhe(desaparecido) no Oceano Índico: a fauna de Jurássico. Depois, esses continentes afastaram-se o nome de Lemúria devido ao aspecto simiescoMadagascar era muito diferente da fauna da lentamente uns dos outros e tomaram a atual dos animais que ali habitavam. Essa terra, a seuÁfrica, da qual estava próxima, porém similar à da conformação geográfica. A Índia destacou-se da ver, tinha grande importância, porque talvez fossetão distante Índia. Num ensaio similar, em 1864, Austrália e de Madagascar e derivou para a Ásia, o berço da raça humana, que teria surgido doso zoólogo Philip Lutley Sclater (1829-1913) criou o que fez surgir a cadeia montanhosa do Himalaia. macacos antropóides...”o termo Lemúria para nomear esse continente De acordo com o autor, essa foi a chamada Numa obra intitulada Anthropogenie, Haeckeldesaparecido, e desde 1860 especialistas “compressão lemuriana”. escreve: “O homem apareceu provavelmente àchamavam-no também Indo-africano, Indo- O biólogo alemão Ernst Haeckel (1834-1919) época do dilúvio nas zonas relativamente quentesoceânico e também península Indo-madagascar. do mundo antigo, ou no continente africanoDe acordo com Alfred Wegener (1880-1930), há ou asiático, ou num continente mais antigo, a Lemúria, que desapareceu sob as ondas do Oceano Índico”. Ele chama o continente perdido até de “paraíso”. Ele nos leva da mais antiga forma da matéria, monera, passando pelos antepassados animais do homem, através de diferentes estados, até o “estado 20”, o dos macacos antropóides, e finalmente ao último, o “estado 22” do homem atual. Entre 1896 e 1909, na Austrália, a Lemúria era tratada muito seriamente, e sua existência não era posta em dúvida. Num jornal australiano dessa época, Science of Man, Journal of the Royal Anthropological Society of Australasia (Ciência do Homem, Jornal da Real Sociedade Antropológica da Austrália), foi veiculada a idéia de que esse continente desaparecido teria sido o primeiro8 pentagrama 6/2008
habitat do homem. aspecto simiesco e a sua grande estatura de 3 ouH.P. Blavatsky, nas suas obras ocultas, apoiou-se 4m de altura. Esse autor se reporta, como H.P.em todos os trabalhos mencionados acima. Ela Blavatsky, ao Livro de Dzyan.cita também abundantemente o francês Louis Paul Brunton, em The Message from Aranuchala (AJacolliot e é a primeira a fazer a ligação entre mensagem de Aranuchala) (1936), fala também daLemúria e Atlântida. Ela se reporta igualmente ao Lemúria desaparecida.livro de Ignatius Donelly, Atlantis, the Antediluvian Em 2002 surgiu The Problem of Lemuria, TheWorld (Atlântida, o mundo antediluviano), que Sunken Continent of the Pacific (O problema datambém menciona a Lemúria. A Lemúria estaria Lemúria, o continente do Pacífico que afundou),situada no Oceano Índico e seria a sede da de Lewis Spencer, no qual o autor reúne tudo oterceira raça original, ou raça-raiz (uma das sete que foi previamente publicado sobre o assunto.fases da evolução humana) conforme as crônicas Para a maioria dos especialistas, esse continentedo Akasha. De acordo com elas, os lemurianos começou a desagregar-se há 70 milhões degozavam de dons excepcionais espirituais como anos, na Era Terciária, e desapareceu depoiso poder de arrastar ou levantar, apenas mediante de repetidos tremores de terra e erupçõesa vontade, objetos muito pesados. Eles eram vulcânicas. De acordo com os espiritualistasgrandes, de cor escura, e os indígenas da Austrália americano-europeus e o Livro de Dzyan, o Mosaicseriam provavelmente seus descendentes. Tablets (Tábuas mosaicas), de Brunton, inspirouPara os teosofistas, a Lemúria teria sido destruída o Naacal Tablets, de Churchward, ou maisdurante a Era Terciária, após a fundação de colô- recentemente o Lemurian Scrolls (Os pergaminhosnias em ilhas no oceano Pacífico e num território lemurianos) de Subramuniyaswami. Eles ligam aao noroeste da África, que viria a ser a Atlântida. Lemúria submersa de Sclater com as palavras deUma seleção racial teria ocorrido, causa do uma sabedoria perdida…surgimento das raças “vermelhas” e “amarelas”;em seguida, teria surgido um novo tipo humano Fonte:susceptível de emoções e capacidades mentais The Lost Land of Lemuria, em Fabulousmais marcadas. Geographies, Catastrophic Histories, de SumathiEm The Lost Lemuria (A terra perdida da Lemúria), Ramaswamy, professor de Historia, CalifórniaW. Scott-Elliott (1904) descreve de maneira University Press, 2004.detalhada a fauna e a flora da Lemúria, bem comoos lemurianos, que teriam conservado o seu o homem e a mônada 9
Um dia, na Austrália, serão encontradosos restos de um passado imemorialOutra parte da comunidade de homens divinos O segundo, como “os filhos das trevas”.acautelou-se contra esse terrível desenvolvimento. Os robôs, como passaremos a chamar as criaturasAssim, surgiu uma separação em dois grandes gru- animais materiais lemurianas, os robôs dos filhospos. O primeiro grupo percebeu o erro fundamen- da luz e da sabedoria foram incorporados por suastal e começou a libertar-se de sua criação animal, mônadas em um processo de neutralização. Nãoa fim de retornar à casa do Pai. O segundo grupo por meio de morte, mas mediante a dissoluçãoinsistiu em seus esforços de desperdiçar teimosa- gradual de seu arquétipo. Como resultado, a cria-mente as faculdades divinas. O primeiro grupo, ção não-divina desapareceu de forma natural.que voltou imediatamente, é lembrado na memória Mas os robôs dos filhos das trevas tentaram impe-da natureza como “os filhos da luz e da sabedoria”. dir esse processo, causando grande mortandade aos10 pentagrama 6/2008
membros do grupo oposto que, como resultado, na conquista do objetivo das mônadas lemurianas.teve de encarnar novamente, a fim de satisfazer as O homem-robô perfeito ficaria então sem a idéiaintenções de suas mônadas. divina condutora; a mônada teria morrido com- pletamente, e apenas restaria uma criatura inútil deMas um terrível efeito secundário foi que, a longo carne, ossos e músculos. O robô original é agoraprazo, os seres animais, os robôs, adquiriram ins- uma criatura dotada de razão e de um faculdadetintivamente algo da inteligência dos seus líderes moral, que alcançou o ápice de seu desenvolvimen-monádicos. Foi assim que acabaram por já não to.segui-los e passaram a agir a seu modo. De acordocom alguns relatos, cometeram os atos mais horrí- Esse robô, dotado de razão, ainda está em condi-veis, como o de acasalar-se com outras espécies, e a ção de perceber o erro do seu criador e de podercivilização lemuriana perdeu-se na noite. Seria sem iniciar o caminho de retorno. Então ocorre umadúvida interessante nos aprofundar nessa história, situação singular: uma criatura liberta seu criador.mas nossa intenção é refutar a visão moderna. A mônada humana está agora totalmente neutrali- zada, incapaz de qualquer atividade, e encontra-seO IMPACTO NOS TEMPOS MODERNOS na dramática situação de que somente sua criação pode libertá-la mediante auto-sacrifício.Os “filhos das trevas” da Lemúria, no entanto, per-severam em seus esforços até hoje. Durante as eras Dirigimo-nos uns aos outros como seres humanos,atlântida e ariana, eles neutralizaram ou destruí- mas em verdade somos apenas os robôs de umaram completamente as mônadas ou seres celestes glória humana verdadeira do passado. Para libertarque se desviaram. Elas continuam completamente o verdadeiro homem divino, devemos renunciarpresas aos seus robôs lemurianos, os quais, tendo a servir o homem da natureza. Para realizar essesido cultivados durante as eras, tornaram-se os seres trabalho de regeneração, a Hierarquia de Cristo au-humanos atuais. Mas nem todos os seus objetivos xilia a mônada impotente em nós.foram alcançados, como, por exemplo, tornar aspessoas imunes a doenças e garantir-lhes uma vida A sabedoria salvaguardada no deserto australiano,muito mais longa. Muitos cientistas modernos em um momento crítico da história da humanida-ainda buscam de várias maneiras por esse “robô- de, contribuirá de modo importante para mostrarperfeição”. Talvez consigam ir longe nesse sentido, à humanidade a que ela é chamada. É por isso quemas a que preço? a Fraternidade da Rosacruz Áurea faz de tudo para libertar o homem celeste decaído, aprisionado emO preço seria a morte completa da pequena cente- sua criação animal, a fim de impedir que seu sonolha da consciência espiritual original, que, embora seja um sono mortal µmuito fraca, ainda brilha aqui e ali. Isso implicaria o homem e a mônada 11
a criação do homem noevangelho de judasNo ano 180, Irineu, um dos pais da Igreja, estava muito inquieto pelo Evangelho de Judas,conforme informa a revista National Geographic em sua apresentação desse Evangelho dezdias antes da Páscoa, em 6 de Abril de 2006 (do mesmo modo que o Evangelho de Judas iniciaonze dias antes da Páscoa). Os historiadores não lhe deram muita atenção porque nele nãose encontra nenhum novo fato histórico sobre Jesus, exceto por ele estar rindo por quatrovezes.Os gnósticos alegram-se por essa vens. Vens do reino imperecível de Barbelo”. Aí escritura. Eles reconhecem a tradição surge o gnóstico. Judas sabe de onde Jesus vem: trazida pelos escritos de Nag Hammadi. do reino imperecível, da natureza eterna. JesusNão surpreende que na urna que continha o sublinha o fato e diz: “Revelar-te-ei os segredosEvangelho de Judas estivessem dois conhecidos do reino, é-te possível lá chegar”.manuscritos de Nag Hammadi. OS SEGREDOS DO REINO Em seguida JesusO TOM DO EVANGELHO DE JUDAS A primeira instrui Judas: “Eu te ensinarei as coisas ocultasfrase já explica muito: “Palavra secreta da que ninguém jamais viu”. Jesus mostra-lherevelação que Jesus fez num colóquio com Judas claramente que essas coisas ocultas são percebidasIscariotes”. Não é, por conseguinte, uma reve- não pelos olhos comuns, mas pelos sentidos espi-lação para o mundo, mas para uma só pessoa, rituais que devem desenvolver-se no homem. Noou um pequeno grupo de pessoas “preparadas” mito da criação que segue, o Criador é chamadopara isso. Aqui Judas é visto de forma diferente “o Espírito invisível”, que cria pronunciandoque nos quatro evangelhos. Ele é contraposto aos o Verbo (no Gênesis do Antigo Testamento, ooutros discípulos, que não são citados. Três vezes “Deus judaico” cria igualmente pelo Verbo).Jesus fala-lhes e cada vez há confusão e incom-preensão por parte deles. Assim, rezam ao falso O Espírito invisível diz: “Que um anjo apareçaDeus e não compreendem que o nascimento e se mantenha junto de mim”. Um grandedivino deve ter lugar no homem. anjo, “Autogerado”, luminoso e divino, sai da nuvem. E outros quatro anjos aparecem saídosNo terceiro e último colóquio, Jesus, desconten- de outras nuvens e tornam-se os servidores dote com seus discípulos, repreende-os. Chama-os “Autogerado”. Depois o “Autogerado” faz surgirde “servidores do engano” e ordena-lhes que já um primeiro assistente, que cria a primeira luz, enão celebrem seus ritos sacrificiais. E, dirigindo- a seguir um segundo, acompanhado de miríadeslhes as últimas palavras “Cessem de argumentar de anjos. Em seguida é mencionada a criação doscomigo”, termina o colóquio que, por assim demais éons da luz.dizer, não conduziu a nada. Só Judas esteveà altura, e aparece então como o aluno ideal. A traição de Judas. Afresco da série sobreQuanto aos quatro evangelhos canônicos, as a vida de Jesus do pintor italiano renas-coisas são invertidas: os discípulos não compre- centista Giotto di Bondone (1267-1337),endem Jesus e observam ritos sacrificiais, o que é Pádua, cerca de 1305.uma grande vergonha. Judas, porém, reconheceJesus e compreende-o: “Sei quem és e de onde12 pentagrama 6/2008
a criação do homem no evangelho de judas 13
Adamas É necessá- para descer a fim derio observar que não se fazer conhecidoé dito que Adamas, o pelos seres humanosAdão celeste, foi criado. sob o nome de YHVHAdamas encontrava-se na ( Jeová), de modo queprimeira nuvem luminosa… possa ser concebido por meioentre todos os chamados “deu- de seus atributos e reconhecidoses”. Adamas tem, por conseguinte, em cada um particularmente”. Esseso status divino, sem início nem fim, da mesma atributos são as quatro letras do nome sagra-maneira que o “Autogerado” na primeira luz. do YHVH, consideradas como símbolos da forçaDepois, são criados uma segunda luz e os demais criadora de Deus. No Evangelho de Judas, depoiséons da luz. do Autogerado aparecem quatro anjos chamados seus servidores.Esse episódio tem uma semelhança impressio-nante com a cabala judaica que relata como da Após o seu aparecimento fora da nuvem lumi-fonte divina saltam dez luzes que se chamam nosa, Adamas cria a geração imortal de Seth; asSefirote e irradiam e governam o universo. luzes que aparecem em seguida são atribuídas a“O seu aspecto é o de chamas brilhantes como essa geração e, por conseguinte, religam à eterni-relâmpagos; de maneira invisível e atemporal, dade. Seth é denominado o primeiro ser huma-saltam do trono do Senhor, voltam e caem em no dotado de forças imperecíveis. Ele encontra-santa adoração na frente do trono, e o Verbo que se nas nuvens (Gnose) com o anjo El (abreviaturapronunciam é semelhante a um furacão.” do nome judaico Elohim, que significa Deus).Na cabala, há do mesmo modo um homem ce- O CAOS A cada aparecimento de um novo ser,lestial, Adão Cadmon, considerado por mui- uma ordem emana dele, ele é levado a criar umatos cabalistas como o primeiro Deus susceptível ordem. Parece - aqui falta um fragmento - quede ser reconhecido pelos seres humanos, e dele é os Elohim dizem: “Que doze anjos venhamdito: “Mas, logo depois de criar a forma do ho- à existência para prevalecer sobre o Caos e omem celestial, serviu-se como de um veículo mundo inferior”.14 pentagrama 6/2008
“Vem e eu te instruirei nos mistérios queninguém jamais viu”É a primeira vez que o Caos é mencionado, Adamas, Seth, os Elohim (El), doze anjos, Nebroembora não seja dito como ele foi gerado. e Saclas. Adão e Eva não são criados por Deus,Seguem várias expressões que relembram uma mas são o produto de uma entidade tola.criação decaída: surge um anjo manchado desangue chamado Nebro, que significa “apóstata”. A Bíblia menciona uma queda. Adão e EvaDe onde vem esse sangue e como Nebro falhou comem da ‘árvore do bem e do mal’ apesarnão é mencionado. Da mesma nuvem da qual da proibição de Deus. No Evangelho de Judas,Nebro saiu, sai também o anjo Saclas, (que quer a queda é atribuída a Nebro, o apóstata. Paradizer “tolo”). Depois Nebro cria seis anjos, e nós homens isso ajuda reconhecer um pouco asSaclas seis outros como ajudantes. Esses doze profundas causas de nosso comportamento tolo:anjos geram doze outros nos céus a quem é somos o resultado de uma ruptura da unidadeatribuída uma parte do céu. da criação, pela qual não somos pessoalmente responsáveis. No entanto, nossa pré-memória deSurge então uma tensão. O “apóstata” e o anjo um estado sublime, puro, não desligado da vidatolo organizam a vigilância dos céus. E não é só original, nos faz sofrer a dor da separação.um anjo que cria doze outros, mas dois anjos quecriam cada um seis: é o início da dualidade. No Essa idéia é o ponto de partida do ensinamentoprincípio, trata-se de Adamas e do imortal Seth. universal. O que chamamos de carma não seAgora Saclas diz aos seus anjos: “Criemos um ser forma somente na vida presente, mas provémhumano à nossa imagem e semelhança…” Adão sobretudo do passado “microcósmico”. Eme sua esposa Eva são então criados por um tolo. outros termos, o microcosmo não liberto deveA unidade é quebrada; o que é aqui uma surpre- incessantemente religar-se a uma nova perso-sa é que a queda não seja obra do homem mas nalidade da esfera material para chegar à suaque o homem seja vítima do seu criador tolo. libertação, e cada personalidade é confrontada com a herança do passado.ALGUMAS CONCLUSÕES No livro do Gênesisda Bíblia, é Deus que cria Adão e Eva à sua O HOMEM MORTAL Depois que foi criado, Adãoimagem. No Evangelho de Judas o processo é ouviu estas palavras: “Muito tempo viverás como seguinte: o espírito invisível, o Autogerado, tuas crianças”. Judas capta aquilo imediatamente a criação do homem no evangelho de judas 15
O Caos não é caosO Caos pode ser descrito como o Mesmo que os cristais de gelo pareçam e forças, com a ajuda de conceitosefeito de aumentar exponencialmente muito similares, eles não são idênticos, mensuráveis, vacila. A física quânticaa incerteza: cada passo adiante no e é impossível prever precisamente sob termina por minar essa hipótese. Nadatempo proporciona uma incerteza qual forma um cristal de gelo aparece- parece mensurável. No plano atômicocada vez maior no resultado até que rá. A teoria do Caos mostra, portanto, está estabelecido que não podemoso próprio resultado torne-se quase que existe uma ordem oculta entre os medir precisamente a velocidade e atotalmente imprevisível. A teoria do cristais de gelo. posição de um elétron; ou medimosCaos mostra que o princípio da No clima social contestador dos anos sua velocidade e não podemosincerteza também se aplica ao que foi 1960 e do início dos anos 70, a teoria determinar sua posição, ou medimosanteriormente considerado como um do Caos tinha um terreno fértil: ela sua posição e sua velocidade já não éevento previsível, embora de ordem demonstrava cientificamente que mensurável.ainda mais profunda. Como exemplos pequenos acontecimentos poderiam De certo modo, o sucesso da teoria dosimples e muito esclarecedores de ter grandes conseqüências. O ponto Caos é um sinal dos tempos. A teoriaacontecimentos arbitrários caóticos de partida de Newton, o fundador que parece pregar a rebelião contra opodemos considerar as gotas de água da física atual, que permite classificar poder fatal das leis da natureza causouque pingam da torneira ou a cristali- todos os fenômenos físicos, matéria muito barulho nos tumultuados anoszação dos flocos de neve. Quando um 1960-70, no momento da humanidadefilete de água escorre de uma torneira em que as antigas verdades e ordensque está quase para ser fechada, gotas estabelecidas eram queimadas epequenas e grandes caem rapidamente a uniformidade das leis eternas daumas após outras, sem um padrão natureza apresentava pequenas rup-preciso. Quando abrimos um pouco turas. Einstein não podia acreditar; elemais a torneira, o Caos aparece. A mesmo disse: “Deus não joga dados”.causa do Caos é denominada repetição Sob o Caos encontra-se outra ordemde períodos ou bifurcações sucessivas em nível mais profundo, um sistemados estados do sistema. fundamental possível ainda desconheci-Ainda que a queda das gotas de água do, ou, como nos afirma o Evangelho deseja imprevisível, a teoria do Caos fala Judas, cada vez que um novo ser nasce,de uma ordem mais profunda, de um ele origina uma nova ordem, ele criamodelo que pode ser determinado. obrigatoriamente uma ordem.16 pentagrama 6/2008
“Eu sou o caminho para uma santa geração;nenhum homem de origem mortal pode juntar-se a ele”e pergunta a Jesus: “O espírito humano morre?” que esse é o caso de Jesus. Quando os discípulosDa resposta que recebe parece que é necessário perguntam a Jesus aonde ele foi, ele responde:fazer uma distinção sutil entre “espírito de “Fui para a grande e santa geração”. Os discípu-vida” e “alma e espírito” imortais. Jesus diz: “E los estão muito interessados mas devem entenderaconteceu que Deus ordenou a Miguel que dê estas palavras: “Nenhum homem de nascimentoo espírito de vida aos homens de presente de mortal pode a ele juntar-se”. Isso é possívelnúpcias para que possam servir. Mas o grande apenas para o homem em quem teve lugar oEspírito ordenou a Gabriel que desse os espíritos renascimento divino com base na semente daà grande geração de Seth, que não foi dominado, eternidade. Esse caminho é ensinado a Judas, eou seja: a alma e o espírito”. ele pode juntar-se à geração imortal e penetrar na nuvem luminosa onde reside a santa linhagemAdão possui um espírito de vida para servir aos de Seth.seus regentes, enquanto Seth recebeu um espíritoque não é dominado. Existe, não obstante, “Vê, tudo te foi dito. Levanta os olhos e contem-esperança para Adão e os que lhe pertencem de pla a nuvem e a luz dentro dela e as estrelas queescapar ao caos e ao mundo inferior: “Mas Deus a cercam. A estrela que guia é a tua estrela. Edeixou-os dar a Gnose a Adão e aos que lhe Judas levantou os olhos, viu a nuvem luminosa, epertenciam, de modo que os reis do caos e do lá penetrou.” µmundo inferior não possam reinar sobre eles”.A RESSURrEIÇÃO O Evangelho de Judas terminaabruptamente quando Judas entrega Jesus aosumo sacerdote. Sobre a ressurreição nada é dito,pelo menos não como os Evangelhos o fazem.Apesar disso há efetivamente uma ressurreição.Isso significa que o homem imortal ressuscitouno homem mortal. No Evangelho de Judas parece a criação do homem no evangelho de judas 17
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Lilith, o princípio femininoreprimidoQuando Deus criou o primeiro homem uma réplica deformada do Adão de Luz. Nos ele disse: “Não é bom que o homem escritos apócrifos, é dito sobre Ialdabaoth: esteja só”, e criou uma mulher, também “Estes, satisfeitos consigo mesmos, deram a elecriada da terra, a quem chamou Lilith. Lilith, seu poder e tiveram de adorá-lo de modo que ocriada da terra, foi ligada ao ar por meio de asas. louvor dessas potestades encheu-o de presunção.Em pouco tempo ambos se opuseram e ela disse Ele foi tomado pelo ciúme e desejou fazer umaao homem: “Somos semelhantes, fomos os dois imagem para substituir [a imagem], e uma formacriados do pó”. Mas Adão quis impor sua auto- para substituir uma forma. E ele ordenou às po-ridade. Então Lilith elevou-se nos ares e desapa- testades, sob a autoridade delas, que modelassemreceu. corpos mortos”.Eis o que o Talmud babilônico relata. Mas a Portanto, Lilith, a portadora do princípio femi-história prossegue. Deus envia três arcanjos para nino original, não se voltou contra a luz divina,trazer Lilith de volta. Eles a encontram no deser- mas contra as leis de um éon decaído, Autades.to, às margens do Mar Vermelho, mas ela recu- O mito de Lilith mostra como o eu superiorsa-se a retornar. O Deus ao qual aqui se faz refe- coletivo da humanidade se separou e aguarda arência não deve ser considerado como o Espírito reintegração consciente. A projeção imperfeita,único, o campo de luz original que tudo contém a criação substituta de Ialdabaoth, durará apenasem si e de onde tudo provém. Porque, de acor- enquanto os princípios masculino e femininodo com os textos de Nag Hammadi, é evidente estiverem extraviados, perturbados, sem poderque a história da gênese, no Velho Testamento, colaborar em igualdade e unidade absolutas. Norefere-se à criação numa espiral inferior. O prin- plano original da criação, no pleroma, a fusãocípio original da criação do Espírito com base cósmica dessas duas correntes não é uma leino Pai-Mãe divino, em colaboração contínua elementar fundamental? “Por isso uma imagemcom os aspectos cósmicos masculino e feminino, espiritual em que o masculino e o feminino nãofoi aqui perturbado. É desse modo que um deus estão unidos não é de natureza celeste... O únicoinferior, denominado Ialdabaoth ou Jeová, criou Santo não faz sua morada onde o masculino e o feminino não aparecem unidos. A bênção so-Lilith e Samael (Adão) formam uma entidade espiritu- mente se encontra onde homem e mulher estão unidos.” (Zohar)al andrógina. Separada de seu parceiro, Lilith vagueia E é assim que Lilith, vagando no deserto às margens do Mar Vermelho, sofre a maldição dase arrisca-se a esquecer seu desejo de elevação; ela turbulências astrais da criação de Ialdabaoth. Ali, na extrema aridez da vida dialética, ela é amaldi-representa o lado sombrio do arquétipo anima. Na çoada sob forma de um demônio feminino, umaimagem, ela é representada entre dois leões, com asase pés com garras de ave de rapina. Seus atributos são oanel e o bastão. lilith, o princípio feminino reprimido 19
sedutora, devoradora de crianças, e é chamada “a rosos movimentos emocionais que projetammãe dos natimortos”. desejos, sentimentos e prazeres em nossos cora- ções. As forças da dualidade, simbolizadas peloCÉU QUE DÁ A VIDA E TERRA RECEPTORA – deus criador inferior Ialdabaoth, necessitam, para perpetuar-se, que um dos dois princípios origi-IDÉIA E FORMAÇÃO O mito de Lilith pode ser nais seja “maldito”. Esse é o destino encarnadoencontrado em numerosos textos. Lilith aparece por Lilith, e mais tarde, o destino de Eva. Elecomo o arquétipo da mulher selvagem, indomá- se explica pelo fato de que a civilização (muito)vel: e também como a primeira heroína da luta patriarcal dos judeus tinha de se manter face àdos sexos, que não se deixa oprimir e se atém antiga civilização matriarcal do Oriente ondeà igualdade da mulher e do homem. Todos os se adorava a Grande Deusa. As antigas repre-povos, todas as culturas narram a criação com o sentações conhecidas de Lilith, em relevo sobreauxílio de imagens e símbolos que representam cerâmicas sumérias, mostram sempre essa deusaas potentes forças e atividades originais. Podemos portando um anel em suas mãos erguidas. Osassim dar à história de Lilith outro significado: símbolos são os mesmos que os de Ísis no Egitoencontram-se ali dois princípios que são Adão, Antigo. Em cada lado de Lilith se encontra umao céu que dá a vida, e Lilith, a terra receptora. coruja, símbolo da noite e da morte, mas tam-Esses dois princípios são totalmente equivalentes. bém da sabedoria: esse pássaro foi consagrado aUma idéia sem possibilidade de manifestação Atena, na Grécia Antiga.permanece tão impotente quanto o aparecimento Lilith possui asas e tem os pés pousados sobre ode numerosas formas sem a possibilidade subja- dorso de um leão. As asas, bem como os leões,cente de uma estruturação qualquer. A unidade muitas vezes são atributos de deusas importan-rompida dos dois princípios cósmicos masculino tes. A deusa indiana Maya, por exemplo, estáe feminino constitui uma das diversas fases da montada num leão. O rosto de Lilith não possuiqueda da criação na matéria. Assim, os arcanjos nenhum traço de fúria infernal, sua expressão éencontram Lilith nos transbordamentos do Mar amigável e assemelha-se à deusa suméria Innana,Vermelho: o princípio feminino astral perdido como se vê em uma máscara de alabastro desco-é tocado em sua emotividade. Lilith também berta em escavações em Uruk, atual Iraque.significa: a jovem que adquiriu o profundoconhecimento da luz. Aqui aparece seu parentes- O MEDO DAS FORÇAS ACORRENTADORAS DAco com Lúcifer, o arcanjo decaído. E não é poracaso que a lenda narre o casamento de Lilith e ALMA FEMININA Na maldição e na separação dode Lúcifer. É assim que Lilith se torna a mãe dos princípio original feminino encontramos a ex-“natimortos”, que são, por um lado, os homens plicação para a imagem da mulher que se desen-desta natureza, mas, por outro lado, os nume- volveu durante milhares de anos. Essa é a causa20 pentagrama 6/2008
principal do medo do princípio feminino. Outro Lilith muitas vezes é representada como a serpenteaspecto desse medo provém das leis inconscientes que, no paraíso, seduziu o primeiro casalligadas às dimensões e fenômenos extraordiná-rios da esfera astral. Esse medo está presente em der de uma força de atração simultânea, pois, naquase todos os contos relativos a Lilith. Quando verdade, os dois princípios desejam ser libertadosse trata de forças obscuras e perturbadoras dessa e unir-se novamente. A união sexual entre o ho-deusa bem como de sua sexualidade perigosa, mem e a mulher não passa de uma sombra dessatem-se o quadro dos “perigos” irremediáveis es- união tão esperada. Nesse domínio reinam umacondidos nas profundezas do princípio feminino. grande confusão e uma dança infinita dos sexosO “medo da mulher” é, na verdade, um temor e entre atração e repulsão. A mesma dança ocorreuma advertência relativos às atividades mágicas no interior: é a luta entre o coração e a cabeça.e aprisionadoras do temperamento humano, e às Enquanto o mundo nas épocas das civilizaçõesassustadoras conseqüências da força astral – que, matriarcais (lunares) é nutrido e instruído, noaliás, atua tanto sobre os homens quanto sobre âmbito do ânimo, pelas atividades do astral,as mulheres. Essa força é atribuída às mulheres o contrário acontece nas religiões patriarcaisenquanto princípio feminino original, e esse (solares), quando a cabeça, o racional, fica ematributo fez nascer leis relacionadas aos aspectos primeiro plano.negativos desse princípio.Muitos cultos à beleza assim como os ideais dabeleza constantemente renovados têm comofundamento a feminilidade original. Atrás dissoexiste, aparentemente, apenas o desejo de agra-dar. Mas essa necessidade de introspecção de-monstrada pelo princípio feminino tem sua raizno desejo de refletir a imagem do divino, na rea-lidade o desejo de restabelecer o estado original.Na Exegese da alma é dito: “Ela se adornava sem-pre mais para agradá-lo, a fim de que ele per-manecesse com ela... E a alma, tendo se tornadobela, se regozijou de seu amor, e ele também aamou”. Para o homem, muitas vezes as forças as-trais parecem estranhas, desagradáveis. Às vezeso homem projeta o medo dessas forças para o ex-terior, sobre a mulher, e ele é levado a se defen- lilith, o princípio feminino reprimido 21
O nome Lilith significa: a jovem que adquiriu o profundoconhecimento da luzAssim podemos considerar que o recuo do prin- indubitavelmente acontecerá algum dia, por cau-cípio feminino, tal como é descrito no mito de sa das leis da natureza dialética, as leis da inver-Lilith, marca a passagem do matriarcado para o são regular dos pólos contrários. Com a troca dopatriarcado. poder masculino pelo poder feminino ninguém será socorrido, exceto os criadores deste mundo.O apogeu da superioridade patriarcal se manifes-tou no Ocidente na época em que eram quei- OLHAR COMUM SOBRE UM OBJETIVO ÚNICOmadas vivas as mulheres julgadas feiticeiras. Odesejo de manter a qualquer preço a autoridade O cumprimento da grande missão de salvação damasculina foi, e ainda é, a causa da opressão das humanidade só ocorrerá através de uma colabo-mulheres. Elas ainda hoje são privadas de seus ração igual e consciente dos portadores dos doisdireitos, difamadas, rebaixadas e condenadas à princípios originais, missão proposta a todos osmorte. seres humanos. Essa missão pode ser encontradaO ódio por tudo o que é feminino perpetuou- não apenas nos primórdios da civilização cristãse até os dias de hoje. Nós o encontramos sob como também nos mitos de todas as culturas dadiversas formas, como, por exemplo, na violência humanidade ao longo da história. Porque, comoexercida contra as mulheres, ou no fato de que estabelece o grande especialista e pesquisadorelas sejam, em inúmeras camadas sociais, tratadas Friedrich von Schelling, todos os mitos provêmde modo desigual, aparentemente inofensivo. do mais profundo da consciência. E é aí que nos-Mas os prejuízos assim infligidos ao princípio so ser é interiormente posto à prova. Esses mitosfeminino são profundos e dolorosos. podem nos inspirar poemas, e o reconhecimentoComo se chegou a esse ponto? Como Adão do verdadeiro fundamento de nossa existênciase tornou o pretenso dominador do princípio e de nossa missão como seres deste mundo. Porfeminino? Um mundo onde predomina a energia isso os dois princípios, masculino e feminino,racional, dinâmica e agressiva do princípio mas- estão sempre reunidos, mas um sempre repeleculino, que sempre impusiona para frente, é um o outro. O resultado é hesitação, isolamento emundo frio e feroz, constituído de combatentes fúria impotente. Mas a consciência acaba nascen-solitários. É o mundo das armas cada vez mais do dessas crises, e a consciência conduz à acei-destruidoras, das experiências e manipulações tação do outro, bem como ao reconhecimentogenéticas, da exploração crescente do nosso meio do fato de que, no mundo da dualidade, aindaambiente. Em seu medo do princípio feminino, que uma eventual aproximação entre dois pólosAdão se perde no frio labirinto do intelecto. A possa ocorrer, a fusão completa é impossível, esolução não é retroceder a fim de desenvolver experimentamos sempre separação e, portanto,uma nova civilização matriarcal, se bem que isso imperfeição. É apenas com base em uma nova vivificação22 pentagrama 6/2008
que engloba os dois princípios que a integração parte da imagem que ela delineia seja percebida.interior pode ser realizada. Isso é tão verdadeiro A união do coração e da cabeça tem sua con-para o homem quanto para a mulher. Uma pu- trapartida exterior na colaboração dos que estãorificação e reestruturação totais do coração e do nesse processo. Eles estão convencidos de nãocérebro são fundamentais; somente elas permiti- estar errados, e, juntos, voltam seu olhar pararão que as forças renovadoras da natureza supe- uma só direção, um objetivo único: a união derior ajam no ser humano a fim de que as duas todos com o divino µcorrentes cooperem harmoniosamente. Então ocoração, onde reina a efervescência das especula- Quando o homem se torna mulherções pessoais, se acalma, readquire seu equilíbrio e a mulher, homem,e faz silêncio, voltando a ser o claro espelho dos eles encontram em si,impulsos do campo de vida divino, que podem além da dupla imagem míticaagora projetar-se na cabeça. O restabelecimento de sua unidade,da unidade da cabeça e do coração concede à sua verdadeira origem,luz divina a oportunidade de se desenvolver no a única imagem originalhomem. Conseqüentemente aparece pouco a no insondável.pouco, no grosseiro sistema humano, um novo Então, os dois novamente tornam-seser, consciente, pleno de amor e dotado de uma um todo, como o intemporal.alma ligada ao campo da luz eterna. Podemos realmente compreender, como seres Ó tempo, escuta-me,humanos, o milagre suscetível de assim se reali- à mulher concede novamente seu lugar,zar em nós? Compreender qual o significado do sua equivalência,“maravilhoso nascimento”? Compreender o que acima das profundezas.significa o renascimento do homem divino, doser divino em nós? (Evangelho de Tomé, logion 114)Sem dúvida podemos presumi-lo. Nesse caso éde se supor que um grande e santo silêncio tenha Fontes:sido alcançado, um silêncio que nos impulsiona Slavenburg, J. Een sleutel tot Gnosis (Uma chave para a Gnose), Deventer, 1997.interiormente a rejeitar as ruidosas incitações do Zingzem, V. Lilith, Adams erste Frau (Lilith, a primeira esposa de Adão), p.130.mundo enquanto ainda permanecemos nele.Mesmo que seja difícil entender intelectualmen-te esse processo, podemos, entretanto, reconhe-cer os sinais. A mão divina permanece invisível,mas freqüentemente ela consegue fazer que uma lilith, o princípio feminino reprimido 23
Reflexões de um leitor da pentagrama24 pentagrama 6/2008
à prova de choque:roseiral versus TaipeiSegundo o I Ching, o oráculo da China antiga, podemos distinguir três tipos dechoque: o choque do céu, o choque do destino, o choque do coração. “Tsjen”, o Choque Os choques vêm e vão: perigo, Mas não perdemos absolutamente nada, Há somente uma coisa ou outra a fazer. Não se trata aqui de um choque somente, mas de muitos, e nem temos tempo de retomar o fôlego. Portanto, ganhamos ao decidir ficar no centro do movimento a fim de nos preservar da má sorte, que nos faz oscilar o tempo todo da esquerda para a direita. Ao ler isso pensamos que cada um, ao longo da vida, receberá choques de forma e intensidade vari- áveis. Primeiro os abalos do céu, a tempestade, por exemplo, que são choques da natureza. Todos os tipos possíveis de fenômenos da natureza, como as inundações, as avalanches, os tsunamis e vários outros fenômenos “chocantes”, são desse tipo. Segundo, o destino parece ter relação com o que chamamos quase sempre de “azar”, uma terrível falta de sorte. Nossa razão tem dificuldade em associar o azar ao curso lógico das coisas. A idéia de fatalidade nos força à resignação. O azar soa aqui como uma espécie de choque que pede força interior a fim de dominar um perigo eventual... A força não se deixa abalar pelo perigo, ela dá tempo ao tempo, ao passo que diante do perigo a fraqueza se irrita, começa a tremer e perde a paciência. à prova de choque: roseiral versus Taipei 25
Em terceiro lugar estão os choques do coração,o centro em volta do qual tudo gravita. Porquese os dois primeiros choques vêm sobretudodo exterior, os choques do coração nos fazemestremecer no mais profundo de nós mesmos,onde o passado, o presente e o futuro conver-gem. O desenvolvimento espiritual começa nocoração. A alegria e a tristeza são percebidasrespectivamente como plenitude e unidade ouvazio e solidão. Essa alegria traduzida comosentimento de união ou essa tristeza comoexpressão de uma sensação de isolamento podemser choques também. Enfim, para que não passe-mos constantemente da alegria para a tristeza, énecessária uma estabilidade que podemos adqui-rir progressivamente. “O ser humano tenta viverde maneira justa e procura no seu coração senão há algo que se oponha à vontade divina. É,portanto, um temor respeitoso que está na basede uma vida respeitável”, e talvez o verdadeirosentido da expressão “à prova de choque”.Em Taiwan, nos dias de hoje, a construção doTaipei 101 representa um verdadeiro desafioa “à prova de choque”. Em 2004, era o mais26 pentagrama 6/2008
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alto edifício do mundo: a torre tem 508 um aumento dos abalos sísmicos. Uma pesquisametros de altura; desde 21 de julho de 2007, aprofundada revelou a existência de uma linhaela foi ultrapassada pelo Burj Dubai, que tem de cruzamento de placas tectônicas a somente5 metros a mais. No final de 2009, o Freedom 200 metros do canteiro de obras. Em vez deTower, em Nova York, terá 541 metros. Num abandonar o projeto (o que raramente se fazdocumentário, o construtor conta como, durante quando fortunas já foram investidas num projetoa construção, problemas quase insuperáveis considerado, além do mais, como um desafioJá ingressaste na liberdade que procuras, na paisageminteriorse apresentaram. O Taipei se parece com um e um dado de prestígio), procuraram realizar obambu de vidro e de metal; esse projeto moder- que era tido como impossível. O desafio era ono inspira-se conscientemente na tradição de seguinte: a torre devia resistir, de um lado, aosque o bambu é símbolo de crescimento, de força terremotos, e de outro, aos ventos violentos dose de flexibilidade. Mas era necessário também, furacões que atingiriam suas paredes. Os doisprioritariamente, não só inovar mas erigir o casos exigiam um remédio contrário. Os terre-mais alto edifício do mundo. No entanto, o motos demandam que a construção se mantenhameio ambiente de Taipei é considerado instável, flexível (o bambu se curva e não se rompe) e ose existem regularmente terremotos e tufões. A tufões exigem que ela seja inquebrantável. Comocidade se encontra no limite entre duas placas combinar essas duas propriedades? E se alémtectônicas da crosta terrestre, o que explica esses de tudo ainda queremos ganhar um concursomovimentos. As placas tectônicas são camadas de beleza? Para amortecer o impacto do vento,gigantes, rígidas, que flutuam e se deslocam na ranhuras foram colocadas nos ângulos dasastenosfera e fazem surgir, entre outras coisas, paredes para que a corrente de vento se dividaas ilhas e os vulcões. Além do fato de que o por entre as fendas, reduzindo seu impacto.Taipei 101 deva resistir às catástrofes naturais, Suspensa no alto do edifício, uma esfera de açoele mesmo as provoca. A torre pesa 700.000 de várias toneladas pode se deslocar lateralmentetoneladas. Após sua construção, foi verificado a fim de contrabalançar os movimentos da torre.28 pentagrama 6/2008
Tudo feito para resistir aos diferentes choques em qualquer lugar calmo. Lá, entramos no mun-da natureza. Ela deve portanto sobreviver do do nosso próprio labirinto, e seguimos nossascomo previram os arquitetos, particularmente próprias pegadas, no terreno batido onde tantasinspirados pelo projeto. Podemos fazer uma vezes não havíamos achado o que procurávamos,associação com situações que encontramos na e eis que, de repente, achamos a entrada de outrovida enquanto aspiramos cotidianamente por caminho! Tomamos esse caminho então, cheiosnossa renovação. No trabalho podemos ter de de coragem apesar da lembrança dos fracassosenfrentar influências contra as quais nos sentimos anteriores, mudamos de sapatos, as formas e asimpotentes, situações que pediriam flexibilidade, cores do nosso meio ambiente se modificam, aa elasticidade da borracha! Tal atitude no esperança torna a nascer: desta vez o labirintotrabalho pode ser positiva. Situações assim reage ao nosso desejo ardente de renovação.chegam tão de repente quanto uma tempestade Lentamente, a atmosfera muda. Retemos nossaou um furacão, seja no trabalho seja na nossa respiração. No começo tudo é ainda árido, nãovida pessoal, e nos pedem para amarrar tudo e há estritamente nada crescendo, a única coisaficar inabaláveis a fim de não sermos levados pela que percebemos é o vento que faz curvar ascorrenteza. Aqui, não é caso de elasticidade, mas árvores; depois sentimos que nos aproximamossim de colocar nossos amortecedores pessoais de uma pureza, que, se a quisermos de verdade,no lugar a fim de quebrar a força da tempestade. pode mudar tudo. Lentamente a paisagem sePara nos preparar é preciso exercermos, durante colore e percebemos que todas as flores desa-a calmaria, nossas faculdades ou qualidades da brocham. Depois o vento se acalma e podemosalma, ou teremos grandes chances de afundar. respirar livremente outra vez. Sentamo-nosNesta época em que devemos progredir no num banco perto da fonte, e sentimos que jámundo e sobretudo em nossa vida cotidiana não precisamos vagar pelo labirinto à procuracom tudo o que acontece, é interessante sondar da saída; acabamos de achar a liberdade quea fonte de onde tiramos nossa inspiração. A procurávamos, e isso na nossa própria paisagemhonestidade conosco mesmos torna-se um dado interior. A única coisa que nos resta a fazer todaessencial, pois se não buscamos de onde vem a vez que voltamos a vagar novamente na vidainspiração que nos faz decidir agir deliberada- é retomar o caminho que leva ao interior demente, nada mudará. E é justamente disso que se nós mesmos. Tudo está lá: retornemos ao maistrata. A inspiração nos puxa para certa direção, profundo de nós mesmos a fim de entrar emliteralmente ou não; podemos progredir bastante contato com a fonte de inspiração da vida, nointeriormente, sentados no sofá, no escritório ou roseiral, o jardim interior de cada um µ à prova de choque: roseiral versus Taipei 29
a grande reconciliaçãoAparentemente os mortais têm um mecanismo constituído de tal modo que todas as suaspercepções estão divididas em dois grupos: o do “sim” e o do “não”. Você e eu, eles e nós,leste e oeste. Parece que não podemos refletir, fazer, dizer, existir, sem ao mesmo tempoevocar a ação contrária. Inclusive as reações relativas às medidas, cores e sentimentos,como passar de um entusiasmo extremo a uma grande indignação.Por todos os lados encontramos os conflitos não desaparece. Por conseguinte, ela não pode do “sim-não” que cria lutas e hostilidades, desaparecer nem aparecer de novo. Ela não é boa preocupações, obstáculos, dúvidas, adia- nem má. Ela não tem a capacidade de se ani-mentos, rancor, disputas entre irmãos e guerras. quilar, nem de se recriar, mas unicamente de seNós sabemos: tantas cabeças, quantas concepções. transformar, realidade que precisamos imperiosa-A fleuma inglesa traduz essa idéia. “Duas cabeças mente levar em conta.valem mais do que uma”. De toda maneira, o O que acontece, então? Talvez o princípio domundo não leva em conta nossas convicções ou “sim-não” tenha surgido de uma divisão celular,protestos. Eventos totalmente improváveis acon- uma unidade que se desdobra a cada instante. Atecem, mas, “os cães ladram e a caravana passa”. Unidade com letra maiúscula contém, desde oPor outro lado, com zelo incessante é preciso dar começo, ao lado do “sim-não”, o “multiplicai-fim às desordens, tentar reduzir o efeito estufa e vos” (Gênesis 1.28). E a multiplicação – o “sim”as emissões de CO2, condenar a fome e a explo- – é por sua vez atenuado pelo “não” – a transito-ração. Uma série infinita de congressos procu- riedade e a morte. O que o “sim” atrai, o “não”ra soluções e demonstra-se, particularmente, a rejeita, tanto nos organismos mais minúsculosnecessidade urgente de mudar e renovar muitas quanto no grande universo. A psicologia chamacoisas. Porém, no fim, tudo permanece como isso de relação amor-ódio.antes. “Não existem soluções”: afirmação que se A célula original, fundamento de tudo que é,repudiava energicamente até aqui, mas que no chamamos tradicionalmente Deus, um dos múl-entanto nunca pôde ser completamente desmen- tiplos nomes da célula do “começo”, a sementetida. E no fim, sim, tudo permanece como antes. que tudo contém, fora da qual nada existe, que éEntão vamos permanecer aqui e esperar com “luz e amor”, que não tem começo nem fim. E,resignação os acontecimentos? Existem outros no entanto, fala-se de “começo”. Existiria, então,caminhos, por exemplo, procurar e expor a raiz um começo, e, portanto, um fim?dos problemas. Durante essa procura, fazemos aprimeira descoberta: o mecanismo do “sim-não” REENCONTRAR A CAUSA PRIMEIRA Deus éexiste também em nós mesmos. E pode ser que, amor, diziam os cátaros. E esse amor, fundamen-se partirmos dessa comprovação, não precisemos to da vida, deve ser compartilhado. Esse pensa-buscar a solução dos problemas tão longe. mento se exprime diferentemente em diversas correntes espirituais. Por exemplo, encontramos“AMOR-ÓDIO” Em nosso mundo reina a lei da na tradição sufi: “Eu era um tesouro escondido,conservação de energia, a primeira lei da termo- eu queria ser conhecido, por isso eu criei o mun-dinâmica. Dito de outra maneira, a energia não do” (hadith qudsi).se perde. Ela muda de uma forma para outra, mas Podemos nos perguntar: se nada existe fora de30 pentagrama 6/2008
Deus, a quem ou a que ele se manifestou? Ne- matéria. É o precipitado, o depósito do fogo, di-nhuma inteligência humana está em condição de vidido entre luz e matéria. Nas trocas entre essesler os pensamentos e ensinamentos do Ser divino. dois pólos manifesta-se – pode manifestar-se – aE, no entanto, é dado ao homem conhecer os atividade, a energia original do ser divino.segredos do céu e da terra, pois eles estão dentro O Um original, esse ponto que não tem medidadele mesmo. É-nos recomendado desde a origem nem forma, fez crescer, com base em um esta-dos tempos: “Homem, conhece-te a ti mesmo”, do estático, uma força ativa, dinâmica, tornadamas não devemos omitir as palavras que se se- universo, um macrocosmo contendo todas as suasguem: “e tu conhecerás a natureza e os deuses”. potências sob forma de energias criadoras. O serSe pudermos descobrir a causa primeira da dua- que ele formou, literalmente “à sua imagem e se-lidade, que determina e governa nosso mundo, melhança”, é o homem de luz, mas na sua formatalvez possamos avançar em direção à Unidade original, não o ser que hoje representamos. É ode onde tudo provém. Esse avanço levantará, no homem, o cosmo, a luz e a matéria, o ser exteriorcomeço, mais perguntas que respostas; trata-se e interior do Um original.de uma procura abstrata que toma forma prin- Como projeção da energia original, esse homemcipalmente na fé, na imaginação ou na fantasia. tinha pleno poder para utilizar a energia criadoraNo entanto, o ser humano dispõe de uma facul- original. Dispondo dessa força e de sua livre von-dade: sua consciência torna-o apto, com base em tade, ele podia fazer muitas coisas, e o fez. E, empalavras e conceitos, a fazer imagens, ultrapassan- função do tempo, interpretamos seus atos confor-do de longe o seu intelecto. Chamemos a isso a me o plano da consciência e do objetivo deseja-“percepção”, o reconhecimento, a feliz lembrança do. Ora dizemos que ele agiu por orgulho ou fezde um saber total que nunca desapareceu. um falso uso de sua força por egocentrismo – o que é em geral qualificado como “queda” – oraA FORÇA ATIVA DO UM A célula está contida em dizemos que ele “escolheu seu próprio caminho”uma membrana que nossa consciência considera ou fez uma interpretação demasiadamente grandecomo uma separação entre o interior e o exterior. da expressão “dominar toda a terra” (Gênesis,24).Para o ser divino não há exterior nem interior. Podemos ver diariamente à nossa volta que esseO Um original foi projetado sob forma de luz. caminho particular não nos leva para onde DeusEssa luz não é o fogo, ela emana do Pai, que é a nos indica. De um lado há uma confiança ilimi-causa primeira de tudo. A luz é vibração, e uma tada em nossas próprias faculdades, e de outrovibração emite um som que é aqui o “Verbo”. lado, um afastamento cada vez maior do nossoEssa vibração, o Verbo, faz o ser nascer do não- próprio núcleo de luz “onde não se encontra ne-ser, densifica a substancia original, o fogo. Essa nhuma sombra” (Hb 8:5). A sombra destinada adensificação secular terminou por fazer nascer a tornar a luz perceptível é a primeira realidade, ao a grande reconciliação 31
Por mais líricos que sejam os poemas que celebram oamor serão sempre “prazeres e sofrimentos de amor”passo que a luz permanece uma abstração, uma algumas nuances neste “amai-vos uns aos outros”vaga lembrança que o homem carrega consigo tão logo queiramos cumprir esse simples manda-como uma pequena centelha. Assim, o homem mento.quebrou-se em pedaços e, de um macrocosmo, E, contudo, o lacônico mandamento “amai-vospassou ao estado de microcosmo, um microcos- uns aos outros” significa muito mais que o sen-mo que ele já não conhece. Porque a harmoniosa timento e o romantismo que tecemos em tornodualidade da luz e da matéria, que permite todos dele.os desenvolvimentos, está tão cristalizada que só “Amai-vos uns aos outros” evoca evidentementecausa oposições e hostilidades; ela tornou-se o outro plano: o mundo da luz e da matéria ori-que chamamos na nossa Escola de a “dialética”, ginal, os pólos divinos entre os quais se inflamasignificando duas vozes exprimindo cada uma o a energia cósmica, o Verbo criador: de um ladocontrário da outra. No final, o resultado é o “di- pelo Filho, como campo de luz do Um original,reito do mais forte”, sua lei fundamental. e de outro pelo chamado de mãos, cabeça e co-E da palavra bem conhecida: “Ama a Deus sobre ração dos seres humanos. Essa harmonia tomoutodas as coisas, e a teu próximo como a ti mes- forma numa cadeia de escolas espirituais, quemo,” nós guardamos apenas: “Ama a Deus sobre são focos ardentes disseminados no mundo. Aotodas as coisas como a ti mesmo”! longo dos tempos, essas escolas constituíram osOs dois pólos da manifestação, o espírito e a ma- elos de uma corrente, um campo de vida, comotéria, foram impelidos tão longe um do outro que uma mão estendida aos buscadores. Emboraquase nenhum contato é possível entre os dois. E toda a corrente trabalhe em unidade, a forma dese a luz sempre brilha nas trevas, dada a diferença cada elo é diferente segundo as circunstâncias dode vibração, as trevas dificilmente a distinguem. momento. Ela será, às vezes, uma baliza de luz brilhando intensamente, outras vezes, uma forçaA NOVA LEI O livro da lei do reino da luz só secreta. A obra da luz não se mede pelo númerocontém uma regra, mas apresentada sob muitas de adeptos, e as escolas espirituais raramente pa-nuances: “Amai-vos uns aos outros”. Essa palavra recem ter tido êxito, como poderia se esperar se-não admite a menor concessão. gundo os critérios habituais. Ainda que aparente-É verdade que este mundo é uma escola de mente revolucionárias, construtivas, renovadoras,aprendizado e que todos os homens são alunos, à primeira vista nada resta senão alguns símbolosmas a orientação dos estudos parece divergir: se de sua existência e das experiências pelas quaisalguns alunos aprendem arquitetura, outros se elas passaram, mas sobretudo a longa seqüênciaespecializam em explosivos; e se alguns estudam de imprecações de seus adversários. Os preten-a aplicação correta da lei, outros se especiali- sos “sacrilégios” perpetrados pelos templários, aszam nos meios de contorná-la. Descobriremos “blasfêmias dos heréticos” ou o termo “maníaco”32 pentagrama 6/2008
que deriva do nome Mani (exemplo: maníaco, nos corações do “pequeno número” para que amaníaco-depressivo, maniqueísmo delirante) es- transmita como uma experiência luminosa?tão sempre em vigor e são, às vezes, mencionados Essa linguagem de fogo não pode simplesmenteem dicionários. revelar-se a nós, ela é uma força absolutamenteMas as aparências enganam, a forma exterior vai estranha a nosso ser natural. Ou nós não a nota-e vem, só o núcleo é indestrutível e permanece ríamos, ou ela nos aniquilaria como um relâm-sob a forma de uma semente que se rompe, cheia pago. Do fogo surgiu a energia da luz, o filho.de vida, para germinar em determinado momen- A luz, o filho, nos envia o fogo, o Espírito. Oto, como a renovação do interesse pela sabedoria círculo se fecha.hermética na Renascença e em nosso tempo. A No Espírito tudo se torna claro outra vez. Oscada instante o Espírito original se revela sob a contrários paralisantes reencontram a harmoniaroupagem da época. A luz, portadora da dualida- divina: o amor que nunca nos deixou, que fazde, é a atividade. O Espírito só tem um objetivo: brilhar o sol sobre os bons e os maus, o amorrestabelecer a união entre o homem e Deus. Essa que envolve a justiça do mundo com o mantoatividade está sempre presente, passando desper- da compaixão: “Aquele dentre vós que está semcebida, mas efetivamente ativa. pecado, atire a primeira pedra”. ( Jo 8:7) Tudo parece um conto, uma estória de um ser deO QUE É A LUZ NO MUNDO? A tradição cristã luz que, desesperado, se agarra a uma sombra, àqualifica Jesus como intercessor entre o homem e ilusão de um “eu”, eis a realidade desde a noiteDeus. Jesus, “o filho do homem”, diz de si mes- dos tempos. Mas, de repente, aqui e agora, comomo: “Eu sou a luz do mundo” ( João 8,12 ) e a acontecimento de um presente atemporal, a luzseus discípulos: “Vós sois a luz do mundo” (Mat. pode se revelar, aparecer como era outrora, ou5,14). como será no futuro. Quem penetra a ilusão doConseguimos compreender que um discípulo eu vê a maravilha da grandiosa reconciliação: oque se tornou semelhante a seu mestre Jesus é homem de luz nunca a deixou. E a maior maravi-um homem-Jesus, “o filho do Pai”, e ao mesmo lha está em que, na luz (ou amor), não há sequertempo o “filho do homem”? Porque a própria reconciliação, pois nela não há nem bem nemessência desse homem pertenceria a dois mundos, mal, nem passado nem futuro. A reconciliaçãoo do céu e o da terra. Esse Jesus foi um homem é uma noção do nosso mundo mental dialéticode carne e sangue, ou o “Verbo”, a Palavra, que, submetido ao espaço-tempo, noção que implicacomo a imagem de um herói, desperta na cons- punição e recompensa. Para a luz, fazemos apenasciência de um “pequeno número”? Uma língua uma pequena volta aqui embaixo, e depois – seemitiu essa Palavra? Uma mão reteve essa Pala- tudo for bem – nossos pés pisarão o caminho quevra? Ou então ela está escrita em letras de fogo leva à Unidade universal µ a grande reconciliação 33
Lar Christian Rosenkreuz1958-2008Há cinqüenta anos o Lar Christian Rosenkreuz foi inaugurado em Calw, no sulda Alemanha. J. van Rijckenborgh dava muita importância ao fato de que, lá ondeJohann Valentin Andreæ e o círculo de Tübingen haviam trabalhado, fosse aberto umnovo campo da Rosacruz. Citamos uma parte da alocução comemorativa que M.H.Albert, membro da direção Espiritual Internacional, pronunciou no dia sete demarço passado em Bad Liebenzell:Faz cinqüenta anos que existem boas Christianopolis. No tempo em que foi pregador relações entre a cidade de Calw, sua igreja, da corte de Stuttgart, teve a possibilidade de suas instituições, suas administrações e o expandir e aplicar as idéias da Reforma, o queLar Christian Rosenkreuz; boas relações fun- testemunha o quadro cabalístico da princesadamentadas em uma confiança mútua. Somos Antônia de Wütemberg, que, após a Guerra demuito gratos por isso. Trinta Anos, o ofereceu à igreja da Trindade de Bad Teinach. Os especialistas são unânimes emAlém de suas atividades, os rosacruzes do século afirmar que essa extraordinária obra de arte foidezessete foram muito ligados à cidade de Calw. inspirada por Andreæ, que há muito era professorDurante dezenove anos, de 1620 a 1639, Johann da princesa. Um indício é o fato de o profetaValentin Andreæ foi decano da igreja de Pedro Isaías ser representado no quadro com os traçose Paulo. E se pensarmos que ele é considerado de Andreæ.como o autor dos escritos da Rosacruz clássica,não atribuiremos ao acaso o fato de a Escola Mas agora diremos algumas palavras sobre o LarInternacional da Rosacruz Áurea ter fundado Christian Rosenkreuz. No início dos anos 1950,precisamente em Calw um centro onde durante a Escola da Rosacruz Áurea da Holanda inicioucinqüenta anos ocorreram conferências nas suas atividades em solo alemão. Após alguns anos,quais seu ensinamento foi aprofundado. As houve a necessidade de fundar também oficinasidéias encontradas nos manifestos da Rosacruz nesse país, pois cada vez mais pessoas queriamnasceram no chamado círculo de Tübingen, do participar do trabalho.qual Andreæ foi membro desde sua juventude.A esse círculo pertenciam também Tobias Hess, Num belo terreno, na orla do bosque deconhecido como especialista na obra de Paracelso, Wimberg, uma primeira construção foi edificadae Chistophe Besold, professor de direito da e, após onze meses de trabalho, inauguradauniversidade de Tübingen, considerado o maior em março de 1958. Foi J. van Rickenborgh,jurista da Alemanha na primeira metade do grão-mestre e dirigente da Escola, quem deu oséculo dezessete. nome de Lar Christian Rosenkreuz ao centro de conferências. Depois, a principal construçãoAndreæ mantinha contato com várias pessoas recebeu um dormitório para os participantes dasimportantes em sua época, como por exemplo conferências, um refeitório, cozinhas, escritóriosJohannes Amos Comenius, Johannes Kepler, e alojamentos para os servidores permanentes.Johannes Arndt, o duque Augusto de Lünebourg No começo, a metade do refeitório servia dee Tommaso Campanella na Itália. A obra deste templo. Durante os primeiros vinte anos, muitosúltimo, A cidade do sol, inspirou Andreæ a escrever visitantes vinham da Suíça e sustentavam o34 pentagrama 6/2008
A pedra fundamental do Lar ChristianRosenkreuz. 16 de setembro de 1963Lar Christian Rosenkreuz, pois nãotinham centro de conferências em seupaís.E não foi só isso. Novamente após mais conhecido é As núpcias químicas de Christianonze meses de construção, no domin- Rosenkreuz anno 1459. Essa obra foi cada vez maisgo, 16 de agosto de 1964, ocorreu objeto de atenção ao longo dos séculos, pois con-a consagração do templo Christian tém inúmeros ensinamentos e comentários sobreRosenkreuz, à qual estavam presentes o desenvolvimento espiritual do ser humano.2200 alunos, provenientes de váriospaíses europeus, da Califórnia e do Uma velha amiga, que se interessou intensamenteBrasil. pela Rosacruz clássica, disse há alguns anos: “Este livro, desde que apareceu até os nossos dias, foi eFoi realmente um acontecimento importante continua a ser um best-seller”.para o trabalho da nossa comunidade, porqueentão havia um templo com capacidade para Como o título deixa claro, Andreæ conta nele,600 pessoas, no coração da Europa, no país dos em detalhes, o casamento simbólico, conhe-rosacruzes do século dezessete. cido como as núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz. O ponto alto e o ideal de Andreæ éAs construções continuaram até o começo dos o crescimento de um casal espiritual transforma-anos noventa porque faltavam mais dormitórios e do para uma vida superior µespaços para receber as crianças e os jovens. Hoje,os alunos podem participar de duas conferênciasmensais.Além da Bíblia, são comentados os evangelhosgnósticos, herméticos, os antigos livros sagradosda Índia e da China, e especialmente os escritosda Rosacruz do século dezessete, dos quais o lar Christian Rosenkreuz 1958-2008 35
De eternidadeem eternidadeSaber-poder-querer-ousar-fazer-silenciar36 pentagrama 6/2008
Alinha vermelha que, desde o começo, todo Desde o início de nossa era, no entanto, ao mes- ensinamento iniciático seguiu e seguirá mo tempo em que se desenvolvia o poder mental, até o fim dos tempos, é idêntica para todas a evolução interior ocorria em sentido inverso,as criaturas em todos os lugares e civilizações do no mau sentido. Como resultado, das profunde-mundo. Do primeiro dia da criação até os poste- zas do ser eleva-se o desejo de compreender e deriores e de uma espiral a outra, desde Zaratustra encontrar uma saída, o que não percebemos nema palavra é transmitida de diferentes maneiras: compreendemos imediatamente.saber–poder–querer–ousar–fazer–silenciar.Na Antigüidade, a consciência do homem Ora, é esse desejo que nos leva a agir. Em conse-progredia em direção à iniciação com base na qüência, fazemos todos os tipos de experiências,sensação corporal, com base no animal, em sua às quais o intelecto reage e depois o coração res-parte animista. ponde. E se após a ligação do coração e da cabeçaPoderíamos dizer que o caminho dos mistérios se produz uma purificação, o processo terminaelevava-se pouco a pouco começando por aquilo por influenciar os órgãos físicos e estes come-que chamamos de chacra do sacro, a raiz, depois çam a mudar assim como as forças instintivaselevando-se para o chacra do coração dirigindo- agem nas profundezas. Os evangelhos falam dese para o da cabeça e daí ao “chacra coronário”, modo simbólico sobre o momento que passamosfenômeno que, principalmente no budismo, deu no caminho da iniciação: “E o véu do temploorigem à famosa imagem de Buda portando em se rasgou em dois de alto a baixo” (Mc 15:38).sua cabeça um ornamento em forma de pinha A palavra grega naos, geralmente traduzida porrepresentando a glândula pineal ou hipófise, uma templo, é de fato o santo dos santos; essa palavrapequena glândula que se encontra à frente do é linguisticamente aparentada à palavra “barco” ecerebelo. ela nos faz lembrar a “arca” da aliança de Moisés, a “arca” de Noé, e a “nave” das catedrais cristãs.Esta imagem de um motivo da tumba de Tutmés III É assim que se sela a “nova aliança” do Novo Testamento.(Thot [re]nasceu) pode ser interpretada de várias ma- Enquanto, nos tempos passados, a nova atividade da pineal significava o coroamento da iniciação,neiras. Literalmente:“Ele pertence verdadeiramente à em nossos dias ela se comprova como condi- ção para o processo iniciático. Os rosacruzes dovida”. Sob os dois olhos protetores de Horus vemos o século dezessete denominavam esse primeiro estado de “nascido de Deus”. A força renovadorarei e a serpente do submundo,Apoptis, avançando para universal trabalha na própria medula óssea e nos rins. A pineal desempenha um papel de interme-a vida (o sinal Ankh). Para se tornar um “Osíris”, todasas forças da natureza e do Espírito são necessárias.Podemos também entender esse desenho como a re-presentação simbólica da sublime libertação do tempoe da transitoriedade. de eternidade em eternidade 37
A esfinge está diante do caminho dos mistériosque permanece ilusório enquanto percebemos ascoisas apenas do lado material. Portanto, podemosver o corvo como a imagem dos obstáculos quesão os preconceitos e os enganos. O crânio é tra-dicionalmente o símbolo do autoconhecimento, aidéia de que o homem deve, um dia, morrer. À luzda endura ele aprende a ver sua vida e o mundoem sua coesão inelutável e divina. No livro aberto(Mutus Liber) surge esta recomendação:“Lê, lê erelê, trabalha e pensa”. Sob a ilustração está escri-to:“Tudo provém do Um, e tudo retorna ao Um”.diária entre o sensorial e o supra-sensorial, o fí- sinal do fogo do Espírito) ou os chapéus dossico e o espiritual, o mundo humano e o mundo monges tibetanos (e outras ordens monásticas),divino. Quem se volta para o corpo humano de ou mesmo os elmos pontudos das armaduras.uma maneira mais elevada do que simplesmen-te acadêmica vê como a energia espiritual pura, PENSAMENTO PURO, CORAÇÃO PURO, DIS-cósmica, universal, cria na pineal um hormônioessencial para acionar todos os outros hormônios. CERNIMENTO PURO Uma das primeiras fasesOs processos hormonais concernentes à percep- compreende a purificação dos pensamentos, queção de si mesmo e do mundo ao redor dependem transforma progressivamente o cérebro em umdesse hormônio e, simplificando, se desenvolvem “santuário”. O véu da ignorância se rasga de altoessencialmente na parte mais central do cérebro. a baixo. O coração se interessa pelo processo ini-A identidade, a auto-realização e a reprodução ciático e necessita ser um pouco mais esclarecido.dependem de uma cadeia (do grego hormos) que, A melosa onda de esoterismo suscitada pelo mo-partindo da pineal e passando pela hipófise, pela vimento hippie – “Faça amor, não faça a guerra”tireóide e pelo timo, alcança os rins. Existem – demonstrou, durante algumas décadas, todas astambém processos fisiológicos sobre os quais maneiras para seguir os caminhos do coração – eestão fundados os simbolismos bíblicos. A ligação permitiu a muitos tornarem-se receptivos às vi-(religio) que a pineal forma com os poderes divi- brações de uma consciência totalmente diferente.nos é simbolizada por diferentes chapéus, como Porque a purificação do coração se encontra noos gorros pontudos (do prelado, dos magos), as próprio centro da iniciação, da mesma forma quecoroas imperiais (e as que trazem uma cruz como a centelha-do-espírito se encontra no centro do microcosmo. Um novo e puro poder de discer-38 pentagrama 6/2008
nimento eleva os gostos, as simpatias pessoais e recebeu o poder? É desnecessário dizer que noorienta para o bem geral. caminho surgem obstáculos.O saber intelectual, por mais precioso que seja, Dito de outra forma: é a certo preço que pode-provoca grandes forças de oposição e não leva à mos superar a natureza. QUERER também querinteriorização: o poder mental, digamos, não leva dizer: preparar-se para pagar o preço. E porqueao conhecimento vivido inspirado pelo Espírito. é impossível prever quando e como o preço seráImpossível, portando declarar: “Eu já não preciso cobrado, é necessário afastar-se interiormentemergulhar nos estudos e me limitar unicamente por completo deste mundo conhecido e orientar-pelo saber, porque tudo repousa no conhecimen- se – no mesmo instante! – para o novo mundoto interior, a Gnose”. desconhecido.Saber e poder andam juntos. Uma citação de Za- É necessário atirar-se como é dito no Novo Tes-ratustra nos dá o próprio princípio da iniciação: tamento: “...vai, vende tudo o que tens e dá-o aosa auto-iniciação exige vontade e esforço. Depois pobres [...] e segue-me (Mt 19:21).vêm os dois conceitos seguintes: querer e ousar. É ao mesmo tempo e de modo incondicional umNão é suficiente saber muitas coisas, conhecer o salto dentro da água fria e dentro do fogo flame-caminho, ter um amplo horizonte, ter estudado jante. É necessário, então, querer deliberadamen-todas as ciências e todas as línguas do mundo: te ousar viver isso. Trata-se agora de fazer o quequem não quiser verdadeiramente concluir o prometemos e de perseverar. Assim, dominar acaminho pára aqui. Nem desejo apaixonado ou circulação interior em consagração ativa cotidia-grande entusiasmo, nem tradições ou ensinamen- na de tal modo que ousar e fazer possam sempretos espirituais, nem crenças ou leis impostas serão renovar e reforçar o poder e o saber. Assim con-suficientes. O que quer dizer que as concepções e seguireis agir sempre melhor, e se, nesse sentido,idealismos mais generosos que escolhemos como as dificuldades e as provas são maiores, então,objetivo e que nos decidimos a alcançar a cada diz-se também que a ajuda da Fraternidade édia não nos levam a nada. muito mais importante. A citação de Zaratustra termina em “silenciar”.PASSAR DOS PENSAMENTOS PUROS AO COMPOR- Este termo pode tomar três aspectos: o primeiro é, imitando Cristo, dizer: Que tua vontade sejaTAMENTO PURO Em cada caminho iniciático feita e não a minha...” (Lc 22,42) O segundo as-trata-se de ”vencer”, o que significa afastar-se do pecto é o silêncio sobre as coisas interiores: uma“príncipe deste mundo” para se consagrar intei- discrição inteligente que suscite o menos possí-ramente ao “senhor de todos os mundos”. Quem vel de oposição. O terceiro aspecto é o silêncioé conquistado para o reino original é perdido próprio de quem sabe e age sem se deixar desviarpara o príncipe deste mundo, mas qual dirigente por outra coisa.renuncia voluntariamente ao povo do qual ele de eternidade em eternidade 39
A essência da alquimia iniciática do individuo e a evolução do mundo e da humanidade. Na conclusão do livro O mistério das catedrais1, do mo- Para finalizar, ele citou Zaratustra e, de acordo derno alquimista francês Fulcanelli, lemos: Por exercício com o ponto de partida do caminho metafísi- constante das faculdades de observação e de raciocínio co descrito abaixo, declarou: “Não é suficiente assim como pela meditação, o neófito tem a oportunidade ser estudioso, ativo e perseverante se nos faltar de galgar os degraus que levam ao o princípio sólido e uma base concreta, se um SABER entusiasmo imoderado cega a razão, se o orgulho A imitação ingênua dos processos naturais, a habilidade tiraniza o julgamento, se a avidez se desdobra unida à engenhosidade, a luz de uma longa experiência, diante da idéia de riqueza... A ciência dos misté- assegurar-lhe-ão o rios pede muita justeza, exatidão, perspicácia na PODER observação dos fatos, um espírito sadio, lógico e Realizador, ele ainda precisará de constância, de perseve- ponderado, uma imaginação viva sem exaltação, rança, de vontade inabalável. Audacioso e resoluto, a certe- um coração ardente e puro. Ela pede também za e a confiança nascidas de uma fé robusta lhe permitirão a maior simplicidade e a indiferença absoluta tudo diante de teorias, sistemas, hipóteses que, por OUSAR acreditar nos livros ou na reputação dos autores, Enfim quando o sucesso tiver consagrado tantos anos admitimos geralmente sem censura. Ela quer que laboriosos, quando seus desejos tiverem sido realizados, o seus aspirantes aprendam a pensar mais com seu sábio, desprezando as vaidades do mundo, se aproximará próprio cérebro e menos com o dos outros... dos humildes, dos deserdados, de todos os que traba- Finalmente, como resultado de muitos, muitos lham, sofrem, lutam, desesperam e choram aqui embaixo. anos de esforços, será coroado quem perceber Discípulo anônimo e mudo da natureza eterna, apóstolo do a vaidade deste mundo, quem se voltar para os eterno amor, ele continuará fiel a seu voto de nada revelar. humildes e deserdados, os que trabalham aqui Na ciência, no bem, o adepto deverá sempre embaixo, sofrem, lutam, se desesperam e choram. SILENCIAR Como discípulo anônimo e silencioso da nature- Scire – potere – audere – tacere za eterna em evolução, o apóstolo da misericór- dia e do amor continuará fiel à sua promessa de“ORAR, LER, FAZER E ENCONTRAR – FÓRMULA silêncio e discrição. Mesmo tendo conhecimento e mesmo praticando o bem, o adepto nada deveráDA ALQUIMIA A máxima da antiga alquimia era revelar”. Quer escolhamos o caminho físico e“ore, leia, leia e releia, trabalhe e você encontra- metafísico dos alquimistas quer escolhamos so-rá”. Fulcanelli, um dos maiores alquimistas, é o mente o caminho metafísico, devemos notar queautor de O mistério das catedrais, obra que mostra os dois têm por fundamento a tradição ancestrala relação entre a alquimia exterior, a marcha40 pentagrama 6/2008
À esquerda: Os quatro passos importantes no À direita: O cavaleiro com a espada erguida écaminho: purificação, iniciação, iluminação e a magnífica metáfora de nosso artigo: o elmo élibertação, que correspondem aos diferentes uma expressão do conhecimento, o leão no co-processos alquímicos.Todas as forças neces- ração representa coragem ou audácia.A espadasárias para o caminho provêm da sétupla luz levantada indica a força de ação em Cristo, e apara a qual se voltam os sábios na figura. faixa na região do queixo, o silêncio. Paris, Notre Dame, portal central.da “queda” e do “retorno ao Pai” que, apesar de antiga, nove séculos antes, e Hermes diz a Asc-muitas readaptações, ainda é transmitida pelas lépio: “Tens o poder de te tornar livre, pois tudodoutrinas “ortodoxas” judaico-cristãs. Trata-se te é dado... Tens também o poder de não quererda tradição que não depende de nenhum dogma compreender. Tens o poder de ter falta de fé e dee de nenhuma autoridade, nem do tempo, nem te enganares a ponto de compreenderes as coisasda civilização, e que, no ensinamento hermético contrariamente à realidade [...] mas podes te tor-universal é reconhecida como vinda de Hermes nar um deus se o quiseres; porque isso é possível.Trismegisto. A quantidade de escritos tradicio- Por isso, quer, compreende, crê, tem amor, e tu onais que apareceram sob esse nome é grande. serás”. Em sua essência profunda, isso nada mais éEntre eles encontramos também Definities van que a divisa tradicional: Saber e conhecer – que-Hermes Trismegistus voor Asclepios (Definições de rer e ousar – agir e silenciar µHermes Trismegistus para Asclepios)2. Lá ressoamsobre o solo egípcio, no terceiro século de nossa 1 Fulcanelli, O mistério das catedrais.era, as mesmas palavras de Zaratustra na Pérsia 2 Broek, R. v. d. Definities van Hermes Trismegistus voor Asclepius. Amsterdã: Pelikaan, 2006. de eternidade em eternidade 41
oposição ou ressurreiçãoGeorge Orwell, autor da famosa obra 1984, introduziu a expressão “o grandeirmão está observando você” para dar a idéia de estarmos sendo espionados.Ele mesmo parece ter sido espionado pelo serviço secreto inglês, como mos-traram recentemente certos documentos.AInternet nasceu no meio do século passado perguntar quem observa quem, ou melhor, quem no exército americano com a finalidade nos vigia e por que. de ser usada em comandos, comunicações Mas o que existe, na verdade, é um campo mag-e controles diversos. Nesse meio tempo, foram nético coletivo que abrange todos os pensamentosdesenvolvidas multi-mega redes de computadores e sentimentos que alimentam a humanidadeque alcançam o mundo inteiro como instrumen- mentalmente e influenciam sua sensibilidade. Étos com os quais, com um clique, quase tudo é isso que os antigos indianos chamavam Akasha,examinado, armazenado digitalmente, checado, que abarca não somente a terra, mas todo o uni-escutado. A extensão da realidade virtual tornou- verso. Parece, portanto, que é chegado o tempose gigantesca sem que ainda se perceba o fim em que o próprio homem deve compreender quedo processo. Conhecido por muitos, o “Google a unidade e a autonomia que ele se atribui sãoEarth” é somente o topo de uma realidade digital apenas ilusão.imaginária e um brinquedo divertido para oshomens. A MATÉRIA NÃO EXISTE VERDADEIRAMENTENEGAR – RIDICULARIZAR – ACEITAR No mundo “Os espíritos do ar”, dos quais fala a Bíblia,inteiro, as diversas autoridades ignoram ou con- e que a Gnose antiga assim como a modernatestam que a terra e seus habitantes estejam sob a Escola da Rosacruz Áurea denominam “éonsalta vigilância de inteligências superiores. Mas, de e arcontes”, formam um campo de vida que naonde elas viriam? Por medo e por instinto de con- Escola da Rosacruz é designado “esfera refletora”.servação, os governos – com exceção da França e Essas concentrações de matéria sutil inteligentedo México – não ousam investigar. Os fenômenos influenciam os seres humanos em todos os níveis,visíveis dos quais falamos consistem sobretudo o que os torna bem menos autônomos do queem observações mundialmente divulgadas por pensam. E parece que em realidade o homem, aosatélites ou redes de televisão, e negá-los já não faz perscrutar o céu à procura de sua origem, nada vênenhum sentido. Mesmo a Igreja católica acabou além de seu nariz terrestre. No começo do séculoreconhecendo que poderiam existir civilizações passado, Albert Einstein, em sua teoria do “campodiferentes e provavelmente mais evoluídas que a unificado”, englobando eletromagnetismo enossa. gravitação, verificou que a matéria propriamenteApós a ignorância, estamos agora na segunda fase, dita não existe, e que todo o universo visível éque ridiculariza e denigre, mas ela está prestes somente um “campo eletromagnético temporala passar. Uma terceira fase, a da aceitação, está densificado”. Sobre esse assunto ele declarou emna ordem do dia. Se dermos uma boa olhada no 1920: “Segundo a Teoria da Relatividade geral,jardim zoológico deste mundo, poderemos nos o espaço está preenchido com qualidades físicas: nesse sentido, portanto, existe também um éter.”42 pentagrama 6/2008
REAÇÕES INTERCÓSMICAS guiadas MUDAM O HOMEM E OS PLANETASAtualmente parece que a terra se insurge contra de “Vulcano”, o sol espiritual que esconde oos numerosos erros e caprichos de seus habi- sol visível e que, em seu amor impessoal, banhatantes, e que seu equilíbrio está ameaçado. Se tudo num campo cheio de possibilidades. É aconsiderarmos a terra como um ser vivo, pode- vibração desse sol espiritual que eleva o homem-mos dizer que ela já não quer se deixar explorar alma acima dos limites espaço-temporais, parae dominar. Procuramos curar suas que ele se torne perfeito, adquira umaprofundas feridas, mas quaisquer consciência verdadeiramenteque sejam as boas intenções, a espiritual e ultrapasse todas asterra e a humanidade estão limitações para progredirexpostas a muitas outras em um eterno vir a ser.influências, como as que Contudo, ainda nãoprovêm do sol e do chegamos lá. Secosmos. Por isso, J.van examinássemosRijckenborgh, no seriamente olivro Os mistérios gnós- universo terrestre,ticos da Pistis Sophia, não demoraríamosdeclara: “...num a perceber que o serperíodo de existência humano está doentecomo o nosso, em que e contamina suamuitos acontecimentos atmosfera vital. Nelesó podem ser explicados afluem, no entanto,por influências magnéticas, forças restauradoras paraé absolutamente necessário que as células e funçõesque o aluno reconheça a inter- orgânicas inteligentes reajamdependência entre os fenômenos”. às doenças, mas isso de formaO homem e sua pretensa grandeza não Membrana celular inconsciente. Essa é também a causa datêm aqui voz ativa. Na verdade, ele não morte física dos seres humanos nestecomanda nada. Apesar de todas as iniciativas que planeta. Uma reação intercósmica supraconscien-parecem positivas, não compreendemos coisa te e dirigida exerce igualmente sua ação sobre asalguma, e nos superestimamos. condições terrestres como tratamento corretor.É o sol que, em sua esfera de ação, estimula Podemos ver seus efeitos crescentes sobre aa terra e seus habitantes, assegurando-lhes a psique da humanidade.regeneração e a continuidade de seu progresso. Os escritos rosacruzes do século XVII ensinamPara a Rosacruz Áurea, trata-se aqui da atividade que essas reações não datam de hoje. Assim, oposição ou ressurreição 43
“Eu dominei a radiação cósmicatrata-se de “mensageiros de sua vontade que se exerçam da maneira correta. Podemos ficarDeus enviou, estrelas surgidas em Serpentário seriamente doentes por aquilo que se chamae Cisne”, a fim de nos socorrer o mais rápido eletrosmog que age em todos os lugares e ao qualpossível. J.van Rijckenborgh explica que são não se pode escapar. É por isso que a ciência,os “três planetas dos mistérios” cujas radiações à custa de imensos esforços, tenta captar, nospenetram a terra. pólos, energia cósmica não-deteriorada. EMuitas pessoas ouviram falar das radiações que também substituir a fissão dos núcleos atômicosalcançam a terra provindas de certas partes do pela fusão. Sem falar de uma energia universaluniverso. Os cientistas esperam que a radioati- livre que poderia mudar mundialmentevidade sutil do raio gama aumente a ponto de todo o sistema econômico. Aqui pensamostransformar muitas coisas. O raio gama é deonda curta, é um raio eletromagnético invisíveldotado de uma freqüência bem mais alta que ado raio ultravioleta e a do raio X. Uma estrelasuper ou hipernova pode enviar flashes de raiosgama que, em outros setores do universo, fazematé desaparecer os corpos celestes relativamentepróximos.As radiações gama exercem uma forte ação sobreas moléculas de ar úmido da nossa atmosfera e,portanto, sobre a respiração. Elas “quebram”as moléculas de ar e os átomos assim liberadosagem de forma funesta sobre a camada de ozô-nio. Uma frente de raios gama ataca, além disso,a ionosfera e influencia todas as comunicaçõestecnológicas de alta freqüência.A RADIAÇÃO CÓSMICA, UMA ENERGIABENÉFICA? Diversas pesquisas provam que oscampos eletromagnéticos têm uma ação diretano organismo provocando modificações quími-cas e celulares. Talvez seja por isso que os im-pulsos dirigentes do cérebro e de outros órgãos,em certos casos, já não sejam transmitidos e não44 pentagrama 6/2008
e posso construir um aparelho movido por ela.”involuntariamente no desacreditado cientista táquions ou neutrinos, que estariam presentesTesla que, no começo do século XX, estudava em todo o universo. Esses táquions “dirigiriam”as radiações cósmicas e afirmava: “Eu dominei a a força vital do universo e confeririam ordem,radiação cósmica e posso construir um aparelho orientação, consciência dos processos de criação,movido por ela”. os quais manteriam. Eles seriam capazes deA UNESCO tentou em vão chamar 2006 de “o conservar o rastro de acontecimentos imemoriaisano Tesla”; tudo caiu no silêncio. de forte potência. Depois de fogo, água, ar ePor volta da metade do século passado, houve terra, os táquions representariam o “quintointeresse na existência hipotética de partículas elemento material”.de energia etérica não-detectáveis denominadas A ativação e aplicação dessas partículas po- deria mudar a energia no nível submolecular, aumentando-o de maneira tão considerável que o homem poderia adquirir uma consciência material superior. Do que se trata exatamente? De um jogo ou da realidade? Seja o que for, o planeta terra está submetido a fortes tensões. E de uma maneira ou de outra devemos reagir, sobretudo a juventude para a qual as perspectivas são ainda infinitas. Nos círculos esotéricos e na moderna Escola da Rosacruz Áurea, fala-se, em relação às radiações cósmicas, de influxos corretores e regeneradores, que restabeleceriam as relações que tínhamos originalmente com o interior do corpo solar, do qual fazíamos parte. Nas várias conferências de Aquarius, ao longo dos anos 1960, J.van Rijckenborgh aprofundou as questões da mudança climática, da influência das radiações e da transformação da consciência que teríamos de enfrentar. Hermes afirma que Deus é a eternidade e que a eternidade cria o mundo. O mundo carrega o tempo e o tempo carrega as gerações. É um formigamento de seres inumeráveis entre os oposição ou ressurreição 45
Um presente consciente oferece ao homem um futuro46 pentagrama 6/2008
quais figuram os seres humanos. O mundo A energia universal de Cristoconduz o “homem-microcosmo” numa evoluçãoeterna; a terra é a escola da humanidade, e nesse Os rosacruzes professam que a energia universal de Cristosentido, ela faz bem mais do que carregar os irradia, desce e toca com sua força espiritual o coraçãoseres humanos e suportar todas as experiências do mundo e da humanidade, iluminando-o, abrindo-oegocêntricas. e regenerando-o. Quem quer se aproximar dessa força divina deverá fazer suas próprias experiências com base naAUTOCONHECIMENTO, EXIGÊNCIA PRIMORDIAL “Gnose”, no conhecimento vivente interior, porque o estudo adquirido por meio dos livros ou a teoria fundamentada naÉ chegado novamente o momento para que o indução não tem nenhum valor.homem saia da temporalidade. Uma transforma- Mas quem pode verdadeiramente possuir algumção, que deverá conduzir a terra e seus habitantes conhecimento dessa sabedoria que ultrapassa tudo? Apenasa um plano mais elevado, começou concreta- à luz do novo despertar da alma humana é que podemosmente. Novas energias sustentam a alma, mas saber algo sobre isso. Somente o toque do Espírito podepõem a humanidade à prova. Nesta época, transmiti-lo e revelá-lo num novo nível de consciênciapara verdadeiramente aproveitar essas energias, etérica.devemos aprender a nos conhecer. Com esse Quem crê que esse conhecimento seja sua posse pessoalconhecimento podemos neutralizar o carma, as está enganado. Ele vê a si mesmo como através de uma lupa.influências imperativas do passado. Assim, uma Com uma lupa, vemos as coisas grandes e pequenas emnova causalidade cármica será ativada; pois um proporção diferente; mas vemos tudo aumentado. Então, apresente consciente oferece um novo futuro, e imaginação cria uma imagem distorcida da realidade. E umtal é o caminho da humanidade das almas. campo de visão restrito dá origem a muitos erros.Para um, tratar-se-á de ir interiormente, ple-namente consciente, no sentido dessas energias, horizontal, na haste horizontal da cruz danum ritmo completamente diferente; para outro, natureza, já não há evolução possível, unicamen-haverá oposição interior às novas oportunidades te repetições. Somente as forças de um domíniooferecidas na época atual. Em outras palavras, superior podem romper as forças inferiores e,trata-se de ressuscitar na vida ou de se opor à nesse sentido, proporcionar uma ajuda e umvida. A ressurreição acontece no mundo inteiro progresso verdadeiros. Os grandes grupos dasob formas diferentes, mas parece que, hoje, humanidade impulsionados por novas influênciasos seres humanos já não estão unidos em parte cósmicas e que se dirigem ao centro da cruzalguma. poderão ressuscitar sobre a haste vertical. Então,A democracia, considerada há muito tempo um avanço será possível, assim como uma novacomo um ideal pelo mundo ocidental, pareceobsoleta. Dito de outra forma, no plano oposição ou ressurreição 47
Energia com base na fusão nuclear? que rompe o que está embaixo. E a ação dessa vibração muito superior desperta o princípio O reator termonuclear experimental internacional de Cadara- da eternidade no coração. Isso é a ressurreição. che (ITER) (sul da França) Essa vibração é muito forte e nunca foi tão real. A Rosacruz Áurea chama de transmutação a Os processos nucleares do sol determinam nossa existência. fase intermediária entre os dois campos de vida Esse astro produz energia por fusão de núcleos atômicos a 10 onde o ser humano se transforma. Falando milhões Kelvin. Os pesquisadores do ITER tentam encontrar mais poeticamente, ela é a ponte lançada sobre um meio de produzir na terra o mesmo fenômeno para o abismo dos universos. Consideramos que a aplicá-lo na indústria. Para fazê-lo, eles necessitam de 150 Sancta Democratio, a democracia dos que foram milhões Kelvin, quinze vezes mais que a temperatura do sol! justificados pela luz, age em nosso tempo fun- A fusão nuclear no sol ocorre a uma temperatura mais baixa damentada em um domínio cósmico superior, porque a pressão no seu interior é extremamente mais eleva- que geralmente definimos como Hierarquia de da, fazendo que os átomos de hidrogênio estejam muito mais Cristo. próximos uns dos outros, e a fusão é facilitada. Em todas as fases dessa evolução, que parte do mais longínquo passado, diversas funções são É difícil reproduzir essas condições na terra, por isso tenta-se vivificadas na personalidade humana. Os santos encontrar uma solução alternativa para alcançá-las: tempera- valores das radiações do nosso tempo ativarão tura relativamente mais elevada e pressão relativamente mais funções ainda latentes de nosso coração e de baixa. Apesar dessa temperatura elevada, não há risco de ex- nossa cabeça, o que nos dará a possibilidade de plosão, porque o número de partículas é um milhão de vezes colaborar em plena consciência e inteligência inferior à do ar. Dado que a pressão se obtém multiplicando a com o desenvolvimento da alma. As forças do temperatura pelo número de partículas, o resultado equivale mundo exterior perderão pouco a pouco seu a uma atmosfera, e é isso que elimina o risco de explosão. poder sobre nós, e nos tornaremos despercebi- dos, quase transparentes. E saberemos ultrapassar É interessante observar que esses fatos mega-técnico-científi- todos os limites µ cos aconteceram graças à colaboração política. Antigamente, todas as nações do mundo praticavam a fissão atômica em Fontes grande segredo – com todas as perigosas conseqüências; o projeto ITER é o resultado de uma colaboração aberta entre Rickenborgh, J.v. todos esses países: um exemplo dos projetos vindouros. Além disso, a energia obtida por esse meio é boa e segura. Uma Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007. catástrofe como a de Chernobyl (1986) é impossível. Rickenborgh, J.v.vida social, a Sancta Democratio, a democraciasanta, a unidade que decorre do cordial reco- O Confessio da Fraternidade RC. São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1987.nhecimento dos seres entre si. É unicamente naunidade que a influência da natureza e de seujugo se desfaz. Cada universo tem suas própriasrelações e suas próprias leis. E a manifestaçãoda unidade no momento presente chama umaforça vinda do alto, de um universo superior48 pentagrama 6/2008
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