pentagrama Lectorium Rosicrucianum uma ascensão e não um caminho doloroso de evolução a cidade, espelho de aspirações marta e maria uma reflexão para os jovens, por catharose de petri a redescoberta da gnosis a argila, a água, o fogo e o homem fama400: um olhar retrospectivo 2015 1NÚMERO
Edição Revista Bimestral da EscolaRozekruis Pers Internacional da Rosacruz Áurea Lectorium RosicrucianumRedação FinalPeter Huijs A revista pentagrama dirige a atenção de seus lei tores para o desenvolvimento da humanidade nestaRedação nova era que se inicia.Kees Bode, Wendelijn van den Brul, Arwen Gerrits,Hugo van Hooreweeghe, Peter Huijs, Hans Peter O pentagrama tem sido, através dos tempos, oKnevel, Frans Spakman, Anneke Stokman-Griever, símbolo do homem renascido, do novo homem.Gerreke Uljée, Lex van den Brul Ele é também o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de DeusDiagramação se manifesta. Entretanto, um símbolo somenteStudio Ivar Hamelink tem valor quando se torna realidade. O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, emSecretaria seu próprio pequeno mundo, está no caminho daKees Bode, Gerreke Uljée transfiguração. A revista pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seuRedação próprio interior.PentagramMaartensdijkseweg 1NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixose-mail: [email protected]ção brasileiraPentagrama Publicaçõeswww.pentagrama.org.brAdministraçãoPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]ção digitalAcesso gratuitoResponsável pela Edição BrasileiraAdriana PonteCoordenação, tradução e revisãoAdriana Ponte, Emanuel Saraiva, Leonel Oliveira, RossanaCilento, Amana da Matta, Denison de Sá, Elaine Mayworm,José de Jesus, Leice Novaes, Marcia Moraes, Marlene Tuacek,Mercês Rocha, Mirella Sader, Rafael Albert, Sérgio Oliveira,Simone Oliveira, Cláudio Moraes, Ellika Trindade, FernandoLeite, Francisca Luz, João Batista Ponte, Josefina de Lima,Lino Meyer, Luis Alfredo Pinheiro, Marcílio Mendonça,Roquefelix Luz, Urs SchmidDiagramação, capa e interiorDimitri SantosFotografias Bienal de São PauloRossana RuttingerLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected] revista Pentagrama é publicada seis vezes por ano emalemão, inglês, espanhol, francês, húngaro, holandês epor tuguês.Ela é publicada apenas quatro vezes por ano em búlgaro,finlandês, grego, italiano, polonês, russo, eslovaco, suecoe tcheco.© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
pentagrama ano 37 2015 número 1Local da ação: a área de Tübingen e Calw em Lander Capa: Uma reprodução oriental do Homem-LuzBaden-Württemberg, Alemanha. alado, comparável aos anjos portadores de pureza.Momento da ação: o início de setembro de 2014. (Origem desconhecida)Atividade: comemoração “Fama400”.Ainda podemos sentir o prodigioso impulso do evento uma ascensão“Fama400” realizado no sul da Alemanha. Exposições, e não um caminho doloroso depalestras, ateliês, um documentário tocante e uma con evolução 2ferência que ressoou com força poderosa atraíram um reflexões espirituais de henry corbininteresse extremamente vivo. O conjunto das atividadesreforça enormemente a ligação que existe entre a Ro a cidade, espelho de aspirações 8sacruz Áurea e o campo energético-etérico de Cristão imagens do mundo: São Paulo 16,Rosa-Cruz. Um olhar retrospectivo de um dos mil e 17, 21, 27, 44, capa internasetecentos participantes coloca em evidência a eferves o plano espelha-se no silêncio 18cente certeza de que a Luz é uma realidade atual e que marta e maria 22Ela se manifesta no presente. Mas o sul da Alemanha uma reflexão para os jovens, pornão é o único local onde se concentra o novo impulsolibertador da consciência da alma. No mês de agosto, a catharose de petri 28Bienal do Livro de São Paulo, Brasil, recebeu quase dois a redescoberta da gnosis 33milhões de visitantes. O estande da Pentagrama Publi a argila, a água, o fogocações suscitou o entusiasmo de milhares de pessoas,incluindo crianças. Mais de quatro mil livros e doze mil e o homem 37marcadores de páginas foram para o mundo. A série o construtor do mundo 40“Imagens do Mundo” ilustra e comprova a importância fama400: um olhar retrospectivo 42desse evento.Este número da pentagrama também fala sobre as 1metáforas que envolvem os conceitos de ilha, cidade ematriz. O leitor encontrará igualmente algumas palavras de Catharose de Petri, de caráter universal e degrande profundidade dirigidas diretamente ao coraçãodos jovens. Além disso, verá uma imagem extremamente antiga, que diz respeito à argila, à água, e ao fogo,elementos com os quais o ceramista faz um vaso, e omestre é o homem interior.Especial!
uma ascensão e não um caminhodoloroso de evoluçãoAs tensões estão crescendo em diversas partes do mundo e sentimentos viscerais debaixo nível correm o risco de predominar. São sentimentos ancorados na religião, masque nada têm de divino ou elevados.São sentimentos que fervem no sangue, que se inflamam com a cólera, com a indignaçãoe arrancam a serenidade e a clareza de julgamento dos seres humanos – qualidades elevadas que permitiriam que eles pudessem resolver seus problemas com bom senso. É da1.A aventura de nosso mundo é a aventura A célebre mesquita rosada Nasir al Molk, de alguém que está tentando sair do fundo em Shiraz, no Irã, foi construída no século de um poço. De tempos em tempos, essa 19, na época do líder Qajar Mirza Hasan Alipessoa atinge certo nível do poço; subindo de Nasir al Molk. Quando a luz solar cintilanível em nível, consegue atingir o nível superior. através dos vitrais de ogivas e azulejos,A cada passo, vê, debaixo de seus pés, o nível cria-se um maravilhoso jogo de cores noque já ultrapassou. Quem consegue enxergar com chão coberto por tapetes persaso órgão da visão interior verá, sob seus pés, ostempos passados que vão ficando cada vez maisopacos, densos e tenebrosos, enquanto que, diaapós dia, continua a subir no tempo, aproximando-se da Vontade primordial e tornando-se cadavez mais luminoso e sutil.Vamos imaginar um ser que desce do Céu epenetra na esfera do ar elementar; descendo umpouco mais, ele penetra na esfera do vapor atmosférico; descendo um pouco mais, vai entrando,sucessivamente, na esfera das nuvens e depois naágua do oceano, e em seguida, nas entranhas daTerra.Então, alguém lhe diz: “Agora, suba novamente!” E então ele sobe, sai da escuridão da Terra,entra na esfera da água atravessando sua densidade e assim, sucessivamente, vai atravessandoas esferas das nuvens e do vapor. Ao sair dessaúltima região, entra no ar em estado puro. Seusolhos contemplam tudo ao seu redor; ele inspiraprofunda e longamente: já está livre de toda apressão cerrada que o sufocava e deixa-se levarpelo relaxamento, por uma imensa quietude.Finalmente, respira à vontade.Pois bem: essa é precisamente a história espiritual de nosso mundo. Porque o nosso mundo,nossa percepção, estava nas profundezas da terra.2 pentagrama 1/2015
REFLEXÕES ESPIRITUAIS DE HENRY CORBINmais alta importância que o homem ponderado se preserve contra esses sentimentos.E ele pode fazer isso quando, a partir do conhecimento, mantém dentro de si a indispensável calma interior e uma ligação verdadeira com o que é de nível superior – característica de todas as religiões autênticas. Leitores, não se sintam desencorajados poralguns termos árabes que aparecem neste texto de Henry Corbin, no qual ele destaca ocaráter verídico, universal e absolutamente puro do Islã dos sufis. reflexões espirituais de henry corbin 3
Então foi dito para Adão: “Retorne agora, suba Portanto, se o Imã viesse antes que estivéssemosnovamente!” Esse retorno ainda está se realizan no ponto certo, ou seja, antes que houvéssemosdo, pois não estamos livres das dificuldades e das transformado nosso modo de ser, não conseguipreocupações; das trevas e das brumas. Ainda ríamos vê-lo e isso não seria nada proveitoso paranão conseguimos emergir para respirar o ar puro. nós. Seria até mesmo contrário à prudência.Realmente, onde estamos, reina profunda escuri Por outro lado, a partir do momento em quedão. E é bom que nestas trevas encontremos uma nossa capacidade espiritual muda e somos transreligião, pratiquemos certa atitude e professemos formados, isto quer dizer que já alcançamos certadeterminada crença. Mas, uma vez que os seres elevação. Afinal, de acordo com o que já dissehumanos saiam das brumas e penetrem o ar puro, mos, precisamos sair do poço. Precisamos coneles verão o sol e a Face do Amigo – o verdadei quistar altura para alcançar esse lugar onde o Imãro líder espiritual, o Imã. Eles contemplam suas se torna visível. E o nome desse lugar, na línguapróprias luzes, que já não estão cobertas nem dos que amam a sabedoria de Deus (ahl-e hikmat),veladas, pois nada têm a dissimular. É que as leis é hurqalya, e, por vezes, também surge como ajá não são leis; a religião já não é religião; as insti Ilha Verde.tuições já não são instituições. Quando o mundo em que estamos ganhar as alNessa hora, o que é preciso é que nós mesmos turas até alcançar o nível de hurqalya, é justamencheguemos ao nível espiritual em que o Amigo, o te nesse ponto que verá o esplendor de seu Imã.Imã, torna-se visível. O Imã não pode nos prece Nesse momento, a Verdade se desvela. A Trevader nesse caminho. Se o Imã chegasse antes que se dissipa. As condições mudam. Não pensemfôssemos capazes de reconhecê-lo, isso não seria que essa realidade espiritual esteja longe. Ela estánem um pouco benéfico para nós. É como dizem próxima, pois os sinais da realização e da crise jáestes versos: “O Amigo está mais próximo de foram mostrados.mim do que eu mesmo. Mas – que coisa estra A brisa do mundo de hurqalya está soprando, e onha! – estou bem longe dele”. perfume desse mundo chegou até os sentidos de quem possui a alma dos Verdadeiros Fieis. Você mesmo, se for capaz de sentir, nas páginas deste livro e os objetivos que ele contém, vai perceber um perfume emanado das flores do mundo de hurqalya. Mas, atenção! Existe um grande número de pessoas de natureza fraca e falsa que queimam esses perfumes: e então, eles são tomados pela vertigem. Por outro lado, um grande número dos que, por natureza, merecem plenamente o nome4 pentagrama 1/2015
Henry Corbin, filósofo francês (1903-1978),consagrou sua vida ao estudo da filosofia e da místicapersas. Ele se sentiu tocado pela profunda sabedoriado pensador persa Sohrawardi (O ruído das asas deGabriel) e demonstrou que, depois da ascensão do Islã,a gnosis da antiguidade trouxe “caminhos subterrâneos”ao sufismo. Diretor do Centro de Estudos Islâmicosna Sorbonne, seus estudos sobre a filosofia islâmicalançaram uma ponte entre o Oriente e o Ocidente.Ele dizia: “Meu encontro com Sohrawardi selou odestino de meu caminho espiritual através destemundo. O ensinamento de Platão, tal como foiexpresso na angeologia zoroastriana – a doutrina dosanjos da Pérsia antiga –, iluminou o caminho que euestava buscando”.de “ser humano” deleitam-se com esses aromas discípulos para o mesmo fim, para uma téoperfumados que se tornam um alimento para suas -epifania idêntica para todos, como um teólogoalmas. Então, aí está a evidência: Deus está velan pregando um dogma. Ele conduz cada um à suado por eles! Hurqalya está perto deles. própria téo-epifania – uma epifania da qual ele é o próprio testemunho, pois ela corresponde a seu2.A ILHA VERDE No alto ou no coração “céu interior”, à forma própria de seu ser, à sua da montanha que está no centro da Ilha individualidade eterna (ayn thâbita), ou seja, o que Verde se encontra um pequeno tem Abû Yazîd Bastâmî denomina a “parte atribuíplo com cúpula, onde os seres humanos podem da” a cada um dos seres espirituais e que, nascomunicar-se com o Imã, porque acontece que palavras de Ibn Arabî, é aquela parte dos Nomesele aí deposita uma mensagem pessoal, mas não é divinos que está investida nele, o Nome sob opermitido a ninguém subir até esse templo, a não qual ele conhece seu Deus e sob o qual seu Deusser Shamsoddîn e os que são semelhantes a ele. o conhece, na correspondência entre o Rabb e oEsse pequeno templo se eleva à sombra da árvore marbûb, entre o Senhor amoroso e seu vassalo.2Tûbâ. Podemos entender esse ponto como a unidadeOra, sabemos que este é o nome da árvore que entre o arquétipo espiritual do homem, o Deussombreia o paraíso: é a Árvore do Ser. Este tem pessoal ou Senhor (Rabb) e aquele de quem ele éplo fica às margens de uma fonte que jorra ao pé o Senhor: isto é, o homem que ouve e é recepda Árvore do Paraíso e, portanto, só pode ser a tivo, o companheiro, o marbûb. Nesse sentido,Fonte da Vida. Para nos confirmar isso, é exata todas as criaturas podem ser marbûb!mente aí que nosso peregrino encontra o servo Assim, Rabb e marbûb – o Senhor do Amor e suadesse templo no qual reconhecemos o misterioso fiel criatura – caminham juntos.profeta Khezr (Khadir). Portanto é aí, no coraçãodo ser, sob a sombra da Árvore e às margens da 3.“QUEM CONHECE A SI MESMO CONHECEFonte que se encontra o santuário no qual vamos A SEU SENHOR” Essa unidade indestrutíchegando cada vez mais perto do Imã oculto. Aí vel é tão preciosa que os versos do Alcotemos toda uma constelação de símbolos de ar rão, texto sagrado que proclama eminentementequétipos que podem ser facilmente reconhecidos.1 essa salvação individual, assim a descrevem: “Ó alma, a paz penetrou, retorna a teu Senhor, aleO VERDEJANTE “Se és Khezr, tu também podes gra-te e espalha alegria!” (89/27).passar através da montanha de Qâf, sem sofri Há uma alegria mútua, pois o Senhor para quemmento.” (Sohravardî) a aconselham a retornar, não é outro senão oA “indicação de direção” de Khezr não consiste próprio Ser interior, cujo nome ela chama e recono fato de conduzir uniformemente todos os seus nhece na imagem que carrega dentro de si mes reflexões espirituais de henry corbin 5
ma, assim como Ele também se reconhece nela. tinhas quando conhecias a teu Senhor medianteComo os textos observam, é dada uma ordem de o conhecimento que tinhas de ti mesma”, poisretornar – mas não ao Deus geral, a Alá, que é o “daí para a frente, O conheces, a Ele, e é porTodo, mas ao seu próprio Senhor, que está mani meio Dele que te conheces”.festado dentro dela, aquele a quem ela responde: A partir desse momento, não pode haver contra“Labbayka, aqui estou! Entra em meu Paraíso!” dição entre a fidelidade a seu próprio Senhor e a(89/29). E esse Paraíso não é senão o “Outro”, ou vocação do místico que se inclina ao arquétipo doseja, a forma divina oculta em seu ser, a Imagem Homem Perfeito, ou, melhor dizendo, a contradiprimordial secreta na qual ela se reconhece no ção somente apareceria no plano das evidências e“Outro” e por meio do “Outro”; aquela forma oposições racionais. A ordem divina é “retorna aque precisamos contemplar para concluirmos que teu Senhor” (e não a Alá em geral): é porque, em“Aquele que se conhece a si mesmo conhece a nosso Senhor podemos alcançar o Senhor dos Seseu Senhor”. nhores, que se mostra em cada Senhor, ou seja: éPara o gnóstico que conseguiu realizar nesse por meio da fidelidade a esse Senhor absolutamen“si mesmo” essa ligação íntima entre Criador e te próprio de cada um, é em seu divino Nome quecriatura, é uma alegria suprema, que tanto os servimos a Ele com propriedade, que nos tornamosteólogos como os filósofos ignoram, mas que presentes na totalidade dos Nomes, pois a expeé bem conhecida daquele que crê pura e sim riência espiritual não alcança essa totalidade comoplesmente, pois os teólogos e filósofos apenas se fossem peças de uma coleção ou como juntamosmeditam sobre a criatura como um contingen os conceitos de um sistema filosófico.3te, opondo-a ao Ser Necessário por meio deuma ciência muito inferior a Deus, pois a alma 4.“ALI É AMIGO (WALÎ) DE DEUS” Um prisomente conhece a si mesma como uma criatu meiro ponto é que o Imã vive em umra e nada mais – um conhecimento puramente local misterioso que a geografia empírinegativo que não traz tranquilidade ao coração. ca não consegue controlar: esse lugar não podeA autêntica sabedoria mística (ma’rifa), equivale, ser encontrado em nenhum mapa. Esse “lugarpara a alma, a conhecer-se como uma teofania, fora de lugar” também não tem topografia. Umuma forma própria na qual os Atributos divinos segundo ponto é que a vida não é limitada pelassão uma revelação sublime de Deus – Atributos condições de nosso mundo material visível comque seriam incognoscíveis para ela, se ela não as leis biológicas que conhecemos. Há acontecios descobrisse e percebesse dentro de si mesma. mentos na vida do Imã oculto – fala-se até que“Quando entrares em meu paraíso, terás entrado tem cinco filhos que são os governantes de cidaem ti mesma (em tua alma nafs), e te conhece des misteriosas. Um terceiro ponto é que, em suarás com outro conhecimento, diferente do que última carta a seu último representante visível, o Imã adverte contra a impostura das pessoas que pretendiam invocá-lo, dizendo que o viram, para reivindicar em seu nome um papel público, po lítico. Mas o Imã jamais deixou de se manifestar para ir em socorro de alguém que estivesse aflito, material ou moralmente, como um viajante per dido, por exemplo, ou um crente em desespero. Mas essas manifestações acontecem unicamente por iniciativa do Imã, e, na maioria das vezes, ele surge sob o aspecto de um jovem de beleza sobrenatural, e aquele a quem foi dado o privilé6 pentagrama 1/2015
“Quando entrares em meu paraíso, terás entrado em timesma (em tua alma ‘nafs’), e te conhecerás com outroconhecimento, diferente do que tinhas...”gio dessa visão, somente toma consciência depois, finitiva da imagem. Por isso não é o caso de sermais tarde, de tê-lo visto. Essas manifestações necessário dizer que quanto mais essa reduçãosempre são envolvidas em uma estrita incógnita: tem sucesso, mais o sentido do fictício é perdié porque aqui o aspecto religioso jamais pode ser do e mais se é condenado a produzir apenas osocializado. Afinal, a mesma incógnita envolve imaginário?os companheiros do Imã, essa elite entre as elites,composta de jovens que estão a seu serviço. Eles b) Em segundo lugar, será que todas as imagens,formam uma hierarquia esotérica de número es a cenografia de uma história como a viagemtritamente limitado e que se mantém por meio de para a Ilha Verde, ou o encontro inesperadosubstituição de geração em geração. Essa cavalaria com o Imã interior em um oásis desconhecidomística que rodeia o Imã é tão estritamente secreta – tudo isso poderia acontecer sem o fato inicial,quanto os cavaleiros do Graal, pois não se é con o objetivo absolutamente primeiro e irredutívelduzido a eles senão por eles mesmos. Mas quem (Urphaenomen), de um mundo de imagens-arquéfor conduzido, terá penetrado por um momento tipo ou imagens-fonte, de origem não racionalno “oitavo clima”, terá estado por instantes “na que não podemos explicar, que não podemostotalidade do Céu de sua alma”.4 prever quando irão surgir em nosso mundo, mas que possuem postulados que se impõem por5.MAIS TRÊS REFLEXÕES serem inconfundíveis e inegáveis? a) Não somos mais os participantes de uma cultura tradicional; vivemos em c) Em terceiro lugar, não seria exatamente esseuma civilização científica que expande seu postulado da objetividade do mundo imaginádomínio, pode-se dizer, até sobre as imagens. rio que certas figuras e certos emblemas simbóHoje, é lugar comum falarmos de uma “civi licos (herméticos, cabalistas, ou até mandalas)lização da imagem” (pensemos aqui em nossas nos propõem e nos impõem, tendo a virtuderevistas, no cinema, na televisão). Mas pergunta de operar uma magia de imagens mentais, àmos se, como todos os lugares comuns, este não medida que essas imagens vão ganhando umaenvolve um mal-entendido radical, um completo realidade objetiva?5 µengano. Porque, ao invés da imagem ser alçadapara um mundo que lhe seja próprio, ao invés Fontes:de aparecer investida de uma função simbólica,que conduza a um significado interior, trata-se, 1, 4 e 5 Henry Corbin, Face de Dieu, face de l’homme (Face de Deus,sobretudo, de reduzir a imagem até o nível dapercepção sensível pura e simples, e, dessa for face do homem).ma, trata-se até mesmo de uma degradação de 2 e 3 Henry Corbin, L’imagination créatrice dans le soufisme d’Ibn Arabî. (A imaginação criadora no sufismo de Ibn Arabi) reflexões espirituais de henry corbin 7
a cidade,espelho das aspiraçõesDeseja chegar a seu destino? Se você estiver de carro na cidade, dirigindo para seuobjetivo, um GPS vai lhe mostrar a próxima mudança de rumo. Os equipamentos maisvelhos têm a desvantagem de que você perde o contexto mais amplo, e as estradase bairros se apresentam de forma diferente da atual. Pergunte para quem vive nessacidade. Essa pessoa está aí, nessa cidade há alguns anos. Ela a escolheu para passar suavida aí porque as forças atrativas são maiores do que as repulsivas. Forças de atraçãoE SSAS LIGAÇÕES DETERMINAM NOSSA SITUACÃO ATUAL Num mapa, tudo isso seria um monte de linhas traçadas em vários sentidos. Cada linha liga um ponto de atração ou repulsão à pessoa que deseja ou rejeita.No meio dessa rede de linhas, a pessoa escolhesua posição atual na Terra. De modo inverso, étambém por todas essas linhas que essa posiçãoé determinada. E um equilíbrio semelhante sedesenha para todos os habitantes da cidade.No mapa, toda essa rede de traços forma umamancha negra que representa a cidade comouma concentração de pessoas. Todas essasmanchas negras são de importantes fatores como a escolha de política econômica, ainfraestrutura das ruas, as exigências linguísticas, a utilização, a geologia da região comsuas planícies e rios, seu solo e seu clima.Tudo isso determina os equilíbrios energéticosde concentrações humanas em cidades e vilas.Se extrapolarmos, veremos como cada habitante da Terra se situa no centro de um feixede linhas que cercam o planeta.LIGAÇÕES COM O SISTEMA SOLAR Do mesmo modo que a Terra se move em equilíbriosutil em interação com os planetas, o sol, alua, as estrelas, assim também os indivíduosse movem em função das influências prementes dos planetas e das estrelas. Podemos suporque no passado esse relógio cósmico dos astros também tenha funcionado para levar osseres humanos a se concentrarem em certoslugares e a ali construir uma cidade. Não é8 pentagrama 1/2015
significam “Desejo estar perto desse lugar”. Forças repulsivas equivalem a dizer: “Nãoquero viver nesse lugar”. O que atrai: a proximidade com a família, amigos, conhecidose amenidades, a empresa onde você trabalha, a energia criativa da cidade, o convívio.O que repele: a atmosfera em algumas partes da cidade, o dinamismo excessivo, umritmo urbano cada vez mais cansativo, uma cidade barulhenta, as condições geológicas,a desesperança, a densidade da população, a falta de espaço vital. a cidade, espelho das aspirações 9
Certas cidades revelam formas características: Bruxelas, opentagrama; Paris, o hexagrama; Moscou e Berlim, o círculo;Madri, um triângulo isóscelesraro que arqueólogos descubram num mesmo de alguém, no nível dos pensamentos ou daslugar cidades de épocas diferentes superpos ações, estava em desacordo, essa pessoa se retas. Algumas vezes diretamente situadas uma tirava voluntária e definitivamente da cidade,sobre a outra, como andares de uma mes porque estar exposta à sua influência a deima casa, outras vezes separadas pela espessa xava doente. Isso é o que aprendemos nessacamada da areia do esquecimento. A eventual instrutiva utopia de Shikasta.reutilização de materiais de construção poderia também orientar a escolha do local. A REDE VITAL DA TERRA Consideremos a Terra um organismo vivo e consciente e oCONSTRUÇÃO URBANA A construção de homem um ser dotado de uma consciênciauma nova cidade pode ser feita seja com base superior que mantém um relacionamento parem um plano preestabelecido, seja de forma ticular com a Terra viva.orgânica, quando prevalecem as sucessivas Assim como o sistema humano está organiescolhas individuais. Se observarmos a mor zado em torno de uma estrutura de troca defologia das cidades num atlas ou no Google energia chamada chacras, assim também estámaps, veremos que algumas revelam formas a Terra. De fato, entre um polo norte de inscaracterísticas: Bruxelas, o pentagrama; Paris, piração e um polo sul de expiração, há umao hexagrama; Moscou e Berlim, o círculo; rede de linhas e de lugares onde as energiasMadri, um triângulo isósceles. passam e se concentram. Isso em correla ção com a paisagem, as correntes de água, aA UTOPIA: A INTERAÇÃO ENTRE FORMA E presença eventual de metais polarizados peloCONSCIÊNCIA, ENTRE TERRA E COSMOS planeta, os cristais, as árvores e a vegetação.Doris Lessing, em seu romance utópico Sem esquecer o sol e a lua. As ondas de vidaShikasta, explica como as mais antigas cida animal e humana se deslocam em funçãodes foram construídas segundo determinadas das energias da rede da Terra. Seja harmoformas. Sob a condução de uma inteligência niosamente, isto é, de acordo com o sabersuperior, elas deveriam se ajustar exatamen intuitivo, seja em discordância, resultado date à rede de linhas de força cósmicas, com a presunção. Neste caso, o indivíduo é levadofinalidade de serem receptáculos da sabedoria à morte, mas ao mesmo tempo, devido à suado universo. Catalisada por formas geomé obstinação, algo morre no seio da Terra.tricas da cidade, a sabedoria captada poderiainfluenciar a consciência de seus habitantes, O ABANDONO DAS LUZES DA LINGUAGEM DAdesde que eles estivessem positivamente dis ALMA Um exemplo muito recente é a rejeipostos a responder a ela. Quando a atitude ção enérgica da contribuição do Iluminismo,10 pentagrama 1/2015
que resultou na negação da intuição como modernas, diríamos que há uma competiçãolinguagem da alma. Isso levou ao domínio do em escala mundial quanto a qual delas elevaráespírito racional do intelecto e, consequen uma torre mais alta, mais prodigiosa - umatemente, à hegemonia do materialismo; ao San Gimignano em grande escala – essa peesquecimento de que a Terra é um organis quena cidade da Toscana onde os cidadãos damo vivo do qual os seres humanos são parte Renascença se rivalizavam para construir emintrínseca; aos critérios finais da aquisição de sua residência a torre mais elevada.bens, de energia e de matérias-primas como Qual o significado desse desejo de construirrealidade do funcionamento do comércio. sempre mais alto? À primeira vista, é a ex pressão tipicamente masculina de poder e diCULTURA EM GRANDE ESCALA Esse desejo nheiro. Mais profundamente, há, no caso dede racionalidade da matéria e do mundo, uma cidade, o desejo de apontar para o céu,subsequente ao abandono do saber interior, ou seja, de alcançá-lo. A cidade se manifestagerou a cultura em grande escala e o esgo portanto como o espelho dos desejos. Talveztamento do solo. A exploração dos recursos o leitor conheça Kitesh, a cidade celeste evodo subsolo desequilibra na crosta terrestre a cada no equivalente russo da lenda do graal.distribuição de minerais, pedras preciosas,cristais, petróleo e de tudo que se trans A CIDADE DESEJADA As utopias pertencem aforma em energia. Outra consequência é a uma categoria particular de projetos de cidamontanha de detritos e até o derramamen des. Se alguma manifesta um desejo superior,to, no espaço, de dejetos humanos vindos uma imagem surgida do coração, um ideal, éde aeronaves em órbita. A mineração e a exatamente na utopia. Segundo o estado doindústria de produtos derivados em benefí coração e a pureza de sua aspiração, a cidadecio do desenvolvimento urbano modificam utópica situa-se em algum lugar entre o Céua ligação energética harmoniosa entre os e a Terra.habitantes e seu entorno, o que não deixa de As utopias podem representar sociedadescausar impacto em suas consciências. Assim, ideais e, por meio delas, a organização ura cidade moderna, em sua concepção e im bana ideal. Evidentemente elas são tambémplementação, nos apresenta detalhadamente realizadas na matéria, mas a maioria não foio estrato coletivo da alma dos habitantes da além da descrição de um autor visionáriocidade e do subúrbio. ou da prancha de desenho de um arquiteto vanguardista. Acontece que as utopias visamA AMBIÇÃO DOS ARRANHA-CÉUS NO CENTRO a representar uma elevada cidade de almas,DAS CIDADES Observando as cidades mais cujo plano é eminentemente simbólico. É so a cidade, espelho das aspirações 11
bre isso que nos falam Shikasta, de Doris Les A JERUSALÉM CELESTE “[Ele] me transportou,sing, A cidade do sol, de Campanella, e mesmo em espírito, até a uma grande e elevada mona Utopia, de Thomas More, mas sobretudo tanha e me mostrou a santa cidade, JerusaChristianopolis, de Valentin Andreæ. lém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor eraUM PASSEIO ATRAVÉS DA CIDADE DO SER? semelhante a uma pedra preciosíssima, comoPasseamos através de uma mandala? Uma pedra de jaspe cristalina. Tinha grande e altamandala seria um plano, um guia para a muralha, doze portas, e, junto às portas, dozeconsciência, para a alma? O que é verdadeiro anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que sãopara o indivíduo com relação à cidade seria os nomes das doze tribos dos filhos de Istambém para a cidade em relação ao ser cole rael. Três portas se achavam a leste, três, aotivo do conjunto de habitantes? norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavamA CIDADE DO ESPÍRITO TEM UM CENTRO sobre estes os doze nomes dos doze apóstolosMÁGICO Vamos sobrevoar o campo espiritual do Cordeiro. Aquele que falava comigo tinhacom o auxílio de três livros: o Apocalipse, por medida uma vara de ouro para medirChristianopolis e uma descrição da Kaaba, a a cidade, as suas portas e a sua muralha. Apedra mítica no centro de Meca, a cidade cidade é quadrangular, de comprimento esanta do Islã. A linguagem e as imagens uti largura iguais. E mediu a cidade com a varalizadas são simbólicas e míticas. até doze mil estádios. O seu comprimento,12 pentagrama 1/2015
Christianopolis: sua forma é a de um quadrado, cujos ladosatingem setecentos pés, bem fortificado por quatro torres euma muralhalargura e altura são iguais. Mediu também a em quatro fileiras. Existe somente uma ruasua muralha, cento e quarenta e quatro côva pública e apenas uma praça de mercado, masdos, medida de homem, isto é, de anjo. [...] são de grande importância. A partir da ruaa cidade é de ouro puro, semelhante a vidro mais interna, cuja largura é de vinte pés, elímpido. [...] Nela, jamais penetrará coisa al indo na direção do centro, a fileira de caguma contaminada, nem o que pratica abo sas, os jardins, a universidade e a praça têm,minação e mentira, mas somente os inscritos sucessivamente, vinte e cinco, trinta, trintano Livro da Vida do Cordeiro. [...] No meio e cinco, quarenta e quarenta e cinco pés deda sua praça, de uma e outra margem do rio, largura; portanto, cinco pés a mais cada vez,está a árvore da vida, que produz doze fru até o templo circular, no centro, que tem umtos, dando o seu fruto de mês em mês, e as diâmetro de cem pés. [...] Todas as construfolhas da árvore são para a cura dos povos.” ções possuem três andares, ligados por esca(Apocalipse 21 e 22, extratos) das comuns.” (Christianopolis, Andreæ, J.V.)CHRISTIANOPOLIS “Começarei por descre A KAABA “Uma vez em sua vida, quandover-vos o aspecto da cidade e esforçar-me-ei atinge certa maturidade de experiência, o pepara não cometer erros! Sua forma é a de regrino segue para Meca. O destino da viaum quadrado, cujos lados atingem setecen gem é uma construção de forma quadrada, detos pés, bem fortificado por quatro torres e trinta pés de altura, chamada Kaaba, situadauma muralha. Consequentemente, a cidade no meio da gigantesca praça interior de umaestá orientada na direção dos quatro pontos mesquita. Na Kaaba encontra-se uma pedracardeais da Terra. Oito outras torres, muito branca tornada negra por ter sido tocada porsólidas, distribuídas pela cidade, aumentam inúmeros peregrinos, tradição que remontaseu poderio. Ainda há dezesseis torres de ao Paraíso. A pedra é o símbolo de Vênus, omenor importância, mas que é preciso não espírito do quarto dia da criação, o espíritonegligenciar. Em seu centro encontra-se uma de amor que é Deus mesmo, esse amor que ofortaleza quase inexpugnável. As construções homem deve também aperfeiçoar em nossosestão divididas em duas fileiras, ou, se consi dias. A alguma distância desse cubo estãoderarmos a sede do governo e os entrepostos, construídos muros de mármore, pouco eleva a cidade, espelho das aspirações 13
A busca toma formas diversas, pois estamos todos a caminhodesde há muito e tomamos caminhos diferentesdos, ao longo dos quais o peregrino dá sete o ser como centro. Nosso centro de seresvoltas ao redor da Kaaba.” humanos situa-se no coração, é o ponto onde o homem-deus pode se elevar, o que começaO TEMPLO QUE ESTÁ NO MEIO Os dois pri com o crescimento da alma.meiros fragmentos apresentam imagens deuma cidade ideal e utópica; o terceiro descre FORÇAS PLANETÁRIAS PARTICULARES Viveve uma construção material em uma praça. mos numa época particular, a da transiçãoNos três casos, o plano tem a forma de um para a era de Aquário. Correntes de forças dequadrado. Por duas vezes trata-se de um influências muito específicas afluem do coscubo, pois a terceira dimensão é igual aos mo para a Terra, dos chamados planetas doslados do plano. Uma vez trata-se de casas de mistérios do nosso sistema solar. O resultadotrês andares; duas vezes são citados os quatro notório é que cada vez mais pessoas estãopontos cardeais. Nessas três descrições, fica empreendendo uma busca. Elas começam a semuito claro que o essencial é o centro. É dito fazer numerosas perguntas que, às vezes, tenque no centro da nova Jerusalém cresce a tam rejeitar para se livrar da inquietude queárvore da vida. A Kaaba situa-se no centro de elas suscitam. No entanto, progressivamente,imenso pátio interior e é no interior da Kaaba passam da negação à busca de perspectivasque se encontra a pedra branca, símbolo de que tragam respostas a estas questões fundaVênus. No centro de Christianopolis, cidade mentais: Quem sou? De onde vim? Para ondequadrada, está erigido um templo circular. vou? A busca toma formas diversas segundo as pessoas. Isto é inevitável, pois estamosO CENTRO A cidade que habitamos é uma todos a caminho desde há muito e tomamosdas várias representações da consciência caminhos diferentes. É forçoso constatar tamcoletiva de seus habitantes. Os três exemplos bém que, prisioneiros desse feixe de linhas desupracitados referem-se a tradições religiosas desejos e apegos, acabamos nesta cidade.e descrevem planos simetricamente construídos ao redor de um centro. Esses planos são O CENTRO, FONTE PARA NOSSO SER O fatomuito parecidos com mandalas, as represen de nos desfazermos de nossos laços e apetações do desenvolvimento da alma, que têm gos modifica nossa estrutura interna. Desse14 pentagrama 1/2015
momento em diante, não somos apenas uma próprio centro individual. Afinal, a resposta àmancha negra, como um novelo de fios, pergunta: “Para onde eu realmente quero ir?”de ligações. Cria-se um espaço para uma é decisiva para determinar sua resposta indiampliação e, a seguir, para um influxo de vidual. Essa questão pressupõe um caminho,Luz proveniente do centro. Nossa estrutura um colocar-se em movimento, um objetivointerior torna-se mais transparente, ela se a seguir, um mapa, um plano onde figuremconforma às linhas de força do espírito do as indicações, os acessos, os eixos e o centro.universo. Uma nova cidade é construída em Quando a aspiração está focada no próprionosso interior. centro, no interior, o mapa da cidade é uma projeção do ser interior. No meio será erguiO TEMPLO, OFICINA MÁGICA CENTRAL O que do o templo ou árvore da vida, cujas folhasé um templo senão um lugar de reunião de servirão para a cura de todos os homens...tal pureza que permite que as pessoas presentes entrem magicamente em sintonia com O EIXO DO ESPÍRITO A mandala é uma imapensamentos e sentimentos com base em uma gem da alma, de um caminho para o centro.aspiração muito específica? Ali é liberada No plano coletivo, a nova cidade, a nova Jeuma grande energia. Por meio de imagens, rusalém, é a imagem da alma coletiva estruas pessoas reunidas na alma da cidade são turada num único campo. Uma mandala temtocadas e envolvidas por um fluxo de energia apenas um centro, uma única árvore da vida.de vibração superior. Evidentemente, elas es A árvore de uma pessoa coincide com a árvopalham essa corrente de energia pela cidade, re da coletividade. O eixo do espírito que dápela região. Em resumo: a exemplo do caso acesso a todas as dimensões é o do influxo deda concentração humana na cidade, conforme energia da Luz, o influxo de informações quedescrito acima, no templo há um funciona doam luz, o influxo do espírito. É a energiamento que influencia a consciência dos seres luminosa que, com o tempo, tomará a formapresentes. de uma estrutura permanente de fios de luz em nossa alma: a nova Jerusalém individual,MOVIDOS POR UMA ASPIRAÇÃO Vale ressaltar uma estrutura estável, um corpo-alma. Umaque cada integrante do grupo pode testar a alma renascida dotada de um novo sistemacor dessa luz em seus próprios desejos mais é uma alma livre em consonância com asprofundos, no centro de sua alma, e até mes vibrações do espírito. Como uma águia que,mo determinar se o fluxo de energia tam de asas totalmente abertas, pode se elevarbém lhe dá a força para continuar a definir para longe dos desejos deixados para trás, láo caminho interior de descoberta para o seu embaixo, na velha cidade. µ a cidade, espelho das aspirações 15
IMAGENS DO M U N D OPara comemorar os 400 Anos da Fama Fraternitatis, a editora brasileira do LectoriumRosicrucianum, a Pentagrama Publicações, participou da feira de livros mais importante do Brasil: a23a Bienal Internacional do Livro de São Paulo.Sob um mesmo teto, cobrindo uma área de 60.000 m2, a Bienal Internacional do Livro é umevento que dura 10 dias e acontece a cada dois anos; reúne as principais editoras, livrarias edistribuidores do país e apresenta os principais lançamentos editoriais a mais de 1 milhão devisitantes. O evento atrai o mais variado público, incluindo crianças, jovens e adultos, bem comopessoas do mundo dos negócios, jornalistas e escritores de todo o mundo.16 pentagrama 1/2015
FA M A4 0 0 SÃO PAU LO Neste estande da Pentagrama Publicações, foram expostas obras clássicas e contemporâneassobre a Gnosis, a filosofia hermética e a tradição Rosa-Cruz. O foco da Pentagrama Publicaçõesneste evento foi comemorar os 400 anos da primeira edição do livro Fama Fraternitatis, oprimeiro manifesto do movimento rosa-cruz clássico, que abalou as estruturas religiosas, políticase acadêmicas do mundo em sua época.Além da Série Os segredos da Fraternidade Rosa-Cruz (com todos os manifestos rosa-cruzes: FamaFraternitatis, Confessio Fraternitatis e As Núpcias Alquímicas de Cristão Rosacruz) o carro chefe foium livro do século XX: O Livro de Mirdad, do premiado autor Mikhail Naimy. Podiam também serencontrados os evangelhos apócrifos, como O Evangelho dos Doze Santos, O Evangelho de Maria, OEvangelho de João, além de literatura infanto-juvenil. fama 400 - são paulo 17
o plano espelha-seno silêncioSão fascinantes esses padrões digitais fractais, de esplêndido colorido que,na tela, parecem surgir do nada, sempre harmoniosamente, com variaçõesde uma surpreendente e empolgante multiplicidade. Eles prendem nossoolhar especialmente quando vemos que se formam de acordo com um plano, em todas as suas ricas variações, seguindo as leis lógicas da matemáticae da ciência natural.A tualmente, há excelentes documentários, cio, o meio e o fim de todas as coisas, seu prin igualmente fascinantes, sobre a nature cípio, sua vida e sua dissolução. Sou o fator que za nas florestas virgens e oceanos, em atua no reino das forças, a sabedoria dos sábiosregiões polares e cordilheiras ou sobre o micro- e a luz dos olhos, o criador do todo e aquelemundo no interior do corpo humano. Diante que o sustenta, a origem do universo e tambémdeles, ficamos atônitos de admiração: tudo isso é o fim de todas as coisas. Sou o silêncio ondevida em nosso planeta! reside o mistério de Deus. De cada coisa eu souA partir do momento em que a Teoria da Evo a semente, em cada força, a força elementar delução foi publicada, deixou de ser considerado todas as forças, em toda existência, sou a origemóbvio que tudo isso segue um plano: alguns do ser; pois eu sou tudo, sem mim nada existe.cientistas acham que é meramente “acaso e se Em todas as coisas sou apenas eu-mesmo. Porémleção”. Dizem: “Realmente, é acaso cego”. Não de mim emana o universo inteiro como maniseria mais honesto admitir a admiração quanto festação de meu ser”.ao fato de que cada átomo, cada célula segueum caminho, um plano inteiramente próprio? Reverência e admiração são palavras-chaveVemos como os átomos formam células de quando investigamos profundamente no plano.modo perfeitamente sistemático, como as células Os rosa-cruzes clássicos expressavam-no assim:formam os diversos órgãos específicos seguindo “Ó, Senhor, toda benção e toda graça emanaminequivocamente um plano, um padrão determi de teu ser. Com teu dedo traçaste os sinais danado, como é infinitamente complexo o plano natureza, e ninguém é capaz de decifrá-los semno qual se baseia o fenômeno “homem”. Então antes ter aprendido em tua escola.”podemos, de coração, estar em unidade com as Existe um plano sublime, e nós, humanos,palavras do ideário de Hermes Trismegisto: “O somos uma parte dele. No interior do homemhomem é um prodígio, ó Asclépio.” existe um impulso para criar, para realizar seu potencial. Mas em tudo se reconhece umConstatamos esse prodígio principalmente quanto impulso para a manifestação: também no reia tudo aquilo que o homem, em todos os tempos, no vegetal, no reino animal, até mesmo no rioproduziu em cultura, arte, música, em textos de que corre das montanhas e procura todos ossábios, para impulsionar a consciência e levá-la a caminhos possíveis para alcançar seu destinoum processo de desenvolvimento “sistemático”. de se lançar no mar, para depois evaporar deO Bhagavad Gita, livro sagrado dos mais antigos novo com o sol e cair como chuva benfazeja,dias da humanidade, diz ao homem: sobre tudo o que cresce. De fato, esse impulso“Eu sou o espírito que reside, insondável, nas de realização é um grande milagre! Ele é inatoprofundezas da alma de cada criatura; sou o iní em cada átomo de nosso mundo e de nosso ser:18 pentagrama 1/2015
está na base de todo nascimento, todo embrião, declinar! O pai dessa ideia de crescimento contodo crescimento. O mais admirável é que, ao tínuo é o anseio do homem de conservar o queexaminarmos a matéria, isto significa um plano possui e o que conhece. Deixar algo para trás jáde nascer, florescer e declinar. Nós, humanos, é uma dificuldade para ele.somos compostos de átomos que, desde que o Para onde deveríamos então direcionar nosso anmundo existe, servem para formar seres vivos! seio? A matéria é o nosso ponto de apoio. QuanTudo se sustenta dentro de outro ser e através do as Torres Gêmeas desabaram, imediatamentede outro ser. Tudo é construído e novamente construímos novas. Shangai está construindo tordestruído e depois reaproveitado. Este é o curso res ainda mais altas e, em Dubai, ergue-se a maiscircular da matéria. Todos entendem esse curso alta de todas. O impulso de fazer construçõesdas coisas como absolutamente óbvio: o homem monumentais é parte de nosso ser – as milharesnasce e cresce para, em certo momento, parar de ruínas gigantescas que existem em toda partecom o crescimento. Este é o plano: é lei. Claro, do mundo comprovam que tudo desmorona dea gente sempre imagina que continuaria crescen novo. É raro existir algo, na matéria, que resisdo sempre! Mesmo assim, o homem não sossega te por mais tempo, como as pirâmides; mas, emcom isso: é exatamente aí que se baseia, por geral, é justamente o não material, a herançaexemplo, a lógica da ideia de que o crescimen espiritual, que subsiste – como, por exemplo, oto econômico poderia prosseguir até o infinito. Bhagavad Gita e os textos de Hermes.Afirma-se que, na realidade, estamos em uma Então: qual seria o plano? Qual a intenção? Ocrise e, nessa linha de pensamento, os números que, enfim, precisamos realizar, mesmo?são explicados como “crescimento negativo”, Será que existe apenas o curso circular damas, em seguida, o crescimento continua, nunca matéria ou também existe um crescimentochega a um fim – tal é a firme convicção de espiritual sem fim? Mesmo quando sentimosnossos economistas enquanto que, o normal de certa nostalgia, uma vontade de realizar algunosso mundo é tão evidente: nascer, florescer e ma coisa, de reestabelecer algo, de viver uma o plano espelha-se no silêncio 19
Tudo começa com a busca aí ressoa um chamado sublime, como a vozpor tranquilidade, porque calma do espírito “que reside nas profundezassomente na quietude, em da alma, insondável, em cada ser”. Uma consum ambiente sereno, é que ciência, uma lembrança que está na alma, que,imagens do plano podem ser como diz Platão, sempre foi e é – inconsciente –vivenciadas na alma. porém que é abafada com demasiada rapidez. Não obstante, ela consegue cada vez mais esfelicidade perene, em harmonia e paz interior, paço, na tranquila quietude do centro, no qualcontinuamos sentido o desligamento destrui uma inspiração diferente fortalece o anseio dador e a decadência – assim como nós próprios alma. É uma ação recíproca: a qualidade dessaentramos em decadência. consciência determina a qualidade do anseio daTudo tem dois lados! Hermes diz: “Dentre to alma. Tudo começa com a busca pela tranquilidas as criaturas da Terra, só o homem é duplo: dade, geralmente fora de nós e ao nosso redor,mortal, segundo o corpo; e imortal, segundo a mas com certeza, também em nosso interior,alma”. De forma análoga consta na Bíblia, que porque somente na quietude, em um ambiené o livro da sabedoria Ocidental, que nenhum te sereno, é que imagens do plano podem serprocesso de desenvolvimento desta natureza vivenciadas na alma. Isso exige dedicação esignifica algo senão “ser uma nova criatura”. concentração!Será esse o mistério do plano? Trata-se de realizar a renovação espiritual, a transformação, a Crescimento espiritual é, portanto, uma questransfiguração? E isso se daria neste mundo ma tão de uma nova consciência, com base em umterial? Como? Parece impossível. Nossa atenção, novo anseio. Será então um anseio por evadir-semesmo quando não estamos prestando atenção, do mundo? No passado, os gnósticos, os manié continuamente determinada pela matéria. Na queus e os buscadores autênticos foram censurarealidade – quando não estamos prestando aten dos porque as pessoas entendiam que pregavamção! Mas existe a consciência: ela pode começar a fuga do mundo. No entanto, um chamadoa compreender que a matéria é destinada a ser espiritual vai além do apego à matéria. O anseiouma escola, jamais o objetivo! Vai perceber que da alma pela cura, pela santificação, atinge o mundo inteiro e a humanidade inteira e, como nova criação, nesse sentido, podemos ter algum significado para nosso próximo. Hermes diz: “O que está embaixo é igual ao que está em cima. O que está em cima é igual ao que está embaixo para que se realize o milagre do Uno”. µ20 pentagrama 1/2015
IMAGEN S DO M U N D OFA M A4 0 0 P A U L O SÃOEm nosso estande, a ideia foi apresentar cada livro como uma joia, um tesouro, e que o próprioestande fosse um refúgio acolhedor. Muitos alunos vieram de vários campos de trabalho:arquitetos, designers e alunos com muitos outros talentos se uniram para desenhar e desenvolveresse lugar especial. Sua construção e decoração foram realizadas em alegria e harmonia. Naverdade, como descreveu um membro da direção espiritual internacional: “A Escola veio parauma das esquinas do mundo trazer o Ensinamento Universal, trazer a mensagem de libertação etransformação do ser humano... compartilhar aquilo que descobrimos como verdadeiro tesourocom toda a humanidade, abertamente e com grande alegria.” imagens do mundo 21
marta e maria“Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-oem sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhea palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, ati não importa que minha irmã me deixe sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, queme ajude’. O Senhor, porém, respondeu: Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas pormuitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, na verdade uma só. Maria, comefeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.” (Lucas 10:41-42)Cristo na casa de Marta e Maria. Gravura de Johannes de Sadeler, por Bassano, 1598, Rotterdã (Museu Boijmans VanBeuningen, Rotterdã)22 pentagrama 1/2015
A s histórias míticas e nas narrativas espiritual da humanidade. Portanto, depois bíblicas, os personagens encarnam os de Maria – a contemplação – vem uma vida diferentes aspectos do ser humano, as de ação interior por meio da qual o Outro, osim como as forças que o animam. O pássaro Cristo, se manifesta. É então que enxergamosde fogo, por exemplo, evoca o renascimento para onde a Luz deseja nos conduzir, e perdo Novo Homem em nós. cebemos como ela impregna nosso pensamenNa Bíblia, Tomé, que hesita entre duas con to, nosso sentir e nossa vontade, permitindo,vicções, representa aquele que está dividi assim, que possamos nos alçar para uma vidado internamente; Felipe simboliza aquele mais elevada. Explica-se: o que percebemosque está ligado a seus ideais; e João, a força internamente deve ser seguido por uma deciinterior que endireita os caminhos para uma são da vontade, que será testemunhada peloconsciência que virá posteriormente. comportamento exterior. Tudo isto é Marta.Com Marta e Maria, estamos na presença de Se tudo correr bem, Marta irá trabalhar aduas figuras bastante diferentes: uma está mui partir dessa ligação interior. No evangelho,to atarefada no preparo do alimento para servir Jesus dirige-se a Marta nesse nível. No entanseu hóspede; a outra está voltada unicamente to, Maria, a contemplativa, também se expara o que o Mestre está dizendo. Contudo, pressa em nossa vida exterior: ela representasimbolicamente, Maria e Marta representam di tudo o que irradiamos.ferentes aspectos da aprendizagem na qual tudo Isto está em sintonia com o novo comportamengira à volta de um ponto central: o convidado to que nos permite participar da Grande Obra.excepcional, o Outro em nós – Jesus. Geralmente nos vemos frente a frente comMaria, Marta e Cristo estão, todos os três, em o seguinte dilema: agir visando à libertação,nós. Mas qual seria a relação entre eles? ou não agir, preferindo deixar a água divinaMaria é a contemplativa, que está voltada escoar no campo de Deus. Este é um dilemapara o átomo-centelha do Espírito, o princípio que não podemos solucionar escolhendo umcrístico de onde provém toda sabedoria. Mas, elemento e deixando o outro de lado. Os doisse tivéssemos que parar por aí, não haveria ne aspectos, Maria e Marta, estão voltados paranhuma transformação em nós. É por isso que Cristo, e as duas irmãs devem chegar a umaMarta demonstra o princípio servidor de ação colaboração harmoniosa. Enquanto estamosque está realizando. Há dois aspectos distintos aprendendo a Arte alquímica de discernir ena ação: a ligação a uma força interior, e uma harmonizar, vivenciamos inúmeros momenatividade exterior que, por um lado é expres tos instrutivos – no dia a dia, em família,sa na vida diária e, por outro lado, em uma em nosso trabalho. Esses momentos são ricosescola que realiza o trabalho de libertação de experiências para o caminho interior na marta e maria 23
Grande Obra que estamos realizando juntos. geralmente a personalidade não está buscanPortanto, o caminho começa no coração, por do. Mas vamos considerá-lo positivamente:meio de uma senda contemplativa voltada por exemplo, os encontros, os choques nopara o interior. O átomo-centelha do Espí trabalho, são experiências que podem ser umrito – o Cristo em nós – nos dá a visão, nos estímulo enorme. É absolutamente necessáriopermite descobrir o objetivo da vida, de re manter os dois pés na terra, na realidade – aconhecê-lo. É Maria que se volta para Cristo, nossa realidade e a do mundo. Afinal, se apara escutá-lo. Essa contemplação cria um idealidade é pura por natureza, a realidadeespaço, uma nova consciência. Muitas pessoas nos coloca à prova e revela nosso verdadeiroestão em busca dessa renovação interior e é estado de ser.extremamente gratificante, pois uma aspi Por outro lado, quando nos religamos à rearação sincera faz com que elas restabeleçam lidade participando do trabalho, somos imeuma ligação com o Espírito de Deus. J. van diatamente confrontados com a impureza: emRijckenborgh explica esse fato no livro A nós, em nossos semelhantes, à nossa volta noFraternidade de Shamaballa: “Sem o toque do mundo. E como poderia ser diferente? EsteEspírito Santo, não somos nada e nada po mundo, inclusive seus habitantes, não é perdemos”. Mas acrescenta: “Sem o toque da feito e jamais será.Fraternidade Universal, não é possível haver A Luz e seus mensageiros estão sempre cientesnenhuma libertação e nenhum trabalho liber da impureza deste mundo e se ligam e se manitador para a humanidade poderá alcançar sua festam no próprio cerne da impureza. É somenplena realização”. te quando a idealidade e a realidade trabalhamPara que essa força do Espírito possa traba em conjunto que a vitalidade e a força podemlhar em nós com toda liberdade, é preciso libertar-se. É assim que tudo se torna puro eque haja um espaço para tanto. E é necessá nossa aprendizagem fica verdadeira.rio que, depois da contemplação, aconteça Podemos ter certa tendência a projetar as irritaum ato interior: e é aqui que Marta vem em ções e resistências fora de nós, mas, na verdade,auxílio de Maria. É criada uma cooperação elas são forças que residem em nós, que nosentre Maria e Marta – entre a que contempla mantêm em seu poder, e isso pode acontecere a que serve e trabalha. A relação entre as durante muito tempo, muitas vezes duranteduas não é fixa e suas atividades cambian inúmeras encarnações, nas quais se manifestamtes se completam. Agora, vamos transpor estereótipos de pensamentos e sentimentos.isso para nós mesmos: esse trabalho pode ser E agora trata-se de não mais imaginar essascumprido em alegria, contudo ele também forças fora de nós, mas de observá-las em nósoferece muitos momentos instrutivos que mesmos: este é um dos aspectos de Maria.24 pentagrama 1/2015
Maria, a contemplativa, e Marta, a que é ativa nos planos interiore exterior, começam uma cooperação frutífera em nósColocamos essas forças sob a Luz do átomo conseguiremos aceitar o fato de que a reali-centelha do Espírito e da força crística que, a dade sempre revela as deficiências – ao passopartir desse centro, flui em nosso ser. É dessa que, interiormente, nosso núcleo espiritualobservação que vão nascer novas formas de mantém puro nosso ideal.compreender. No início, as percebemos em Desse modo, contribuímos para espalhar essanós mesmos. Depois, nos sentimos preenchi pureza espiritual tal como uma vitalidade,dos de força, literalmente na grande Obra, como uma força de alma na realidade deno mundo – e esse aspecto é Marta. Assim, nosso mundo. De fato: quando o coração e avemos como Maria, a contemplativa, e Mar alma participam plenamente da Grande Obra,ta, que representa a ação interior e exterior, quando os aspectos Maria e Marta estão precomeçam uma cooperação frutífera em nós. sentes e bem compreendidos, então conseguiÉ muito importante que, fortalecidos a par mos nos orientar a partir da força crística etir de nossas novas tomadas de consciência operamos com ela.não julguemos nossa antiga maneira de nos Nos livros A fraternidade de Shamballa e Ocomportar, pois as novas perspectivas desejam caminho universal, J. van Rijckenborgh diz:justamente nos oferecer possibilidades de mu “O Espírito Santo é o poder que transmite adança e de renovação. Devemos rejeitar todo vontade de Deus ao mundo e à humanidade.e qualquer sentimento de culpa, e dar aos Aquilo que chamamos de ‘chamado’ ou ‘vocaoutros, também, o direito de vivenciar suas ção’ é o toque do Espírito Santo.próprias experiências. Assim, tudo se tornará Quando ainda está brilhando a chama damais leve para nós e para nossos semelhantes. vontade pessoal em um ser humano, todo oDevemos fazer simplesmente o que é necessá seu trabalho não passa de ambição dialéticario. Aprender a aceitar que não somos indis e gera dificuldades. A vontade do aspirantepensáveis em todos os lugares; e, se as coisas deve ser inflamada por Deus. Então, torna-acontecerem de forma diferente do previsto, mo-nos conscientes de um prodígio e de umprecisamos saber que talvez seja preferível amor inconcebíveis. A Luz não se contenassim. Vamos acrescentar nossa pedra ao ta em irradiar somente para iluminar nossaconjunto, voltados para o objetivo único que consciência e instruí-la. Ela desce em nossaconsiste em liberar a força crística. Assim, realidade fragmentada, em nossa impureza e marta e maria 25
Devemos buscar e encontrar nosso desenvolvimento, daquele semelhanteo verdadeiro equilíbrio com o qual temos mais dificuldade de relacio namento. Chegará uma hora em que seremosaí penetra. Um contato pessoal se estabelece reconhecidos a ele!em nosso ser e aí se desenvolve, a fim de que, A uma vida rica de atividades pode sucedernesta força, possamos aniquilar nossa fraqueza um período de ritmo mais lento. Quando nose nossa impotência”. aposentamos, o corpo se põe a funcionar maisGraças à cooperação de Maria e Marta volta lentamente, com algumas dificuldades. Essadas para o Cristo, fica interiormente evidente fase corresponde a uma retirada gradual dao que é preciso ser feito ou ser abandonado. vida externa. A velhice ou a doença fazemConsequentemente, todos os obstáculos pes com que levemos outro estilo de vida: é umasoais podem desaparecer. aprendizagem com a qual o trabalho gnósticoJá não poderemos observar os motivos das se interioriza. Portanto, é um período em queações de ninguém. Há apenas uma pessoa que liberamos mais força para o serviço interior.podemos transformar: nós mesmos. Somen Quando essa fase se inicia, podemos nos verte nós podemos saber, com toda sinceridade, como Maria, voltados para o serviço interior;quando será a hora de Maria ou de Marta se e, a partir daí, como Marta, tirando conclusões,manifestarem. Mas um grupo e uma escola por mais diferentes que seja nosso tipo de vida.são, também, a partir deste ponto de vista, Busquemos e encontremos o equilíbrio. Tende um valor inestimável. Digamos, uma vez temos, incessantemente, como Maria, “ficarmais, que um grupo gnóstico é como um em silenciosa quietude” para receber a foroásis, no qual um potencial gnóstico está ça-Luz crística – afinal, sem essa orientação,disponível para cada um. É um grande poço todo o trabalho perde o sentido. No silêncio,de Luz, alimentado pelo Espírito de Deus. poderemos compreender o que precisamosMas o grupo nos traz também alguns aspec deixar para trás e o que poderemos fazer pelatos de nós mesmos que preferíamos manter Grande Obra, que precisa ser efetuada em nósescondidos em nossas profundezas. Ora, esses mesmos e neste mundo, e para o qual nuncaaspectos podem e devem surgir claramente haverá um número demasiado de obreiros.antes que possamos deixá-los para trás. Esta Criemos, assim, o espaço necessário para aé uma das razões pelas quais precisamos uns Força que se estende muito além de todos osdos outros. E necessitamos ainda mais, para nossos poderes terrestres. Então, o Espírito de Deus se liberará neste mundo, como uma úl tima ação, como um último auxílio para uma multidão de seres humanos. µ26 pentagrama 1/2015
IMAGEN S DO M U N D OFA M A4 0 0 P A U L O SÃOMuito gratificante foi observar as reações daqueles que compraram um livro ou o receberamde presente. Nossos corações foram profundamente aquecidos pelas inúmeras crianças que sesentiram em casa, enquanto realizavam lindos desenhos de presente para o Rei – em alusão aolivro infantil Um Coração para o Rei, publicado em Português e lançado nesse evento.Foi uma experiência incrível! Algumas reações foram muito especiais. Como a de uma criança decerca de dois anos, que literalmente puxou a mãe e três outras pessoas para dentro do estande. Ea de um casal que, imóvel em frente ao estande, repetia: “Aqui tem luz, muita luz! ...”, e também aalegria com que crianças e adultos receberam de presente um colar de origami, com um coraçãocontendo uma mensagem preciosa dentro, feito à mão pelo Grupo de Jovens Rosa-Cruzes,durante a semana de trabalho no Brasil, realizada algumas semanas antes. imagens do mundo 27
uma reflexão para os jovens,por catharose de petriEm seu livro O labirinto do mundo e o paraíso do coração, Jan Amos Comenius compara o mundoa uma grande cidade onde o buscador da verdade é acompanhado por seus guias denominadosPreconceito, Cegueira e Sabe-Tudo – cujo sobrenome é Ubíquo, o que está em toda parte. A cadapasso, o peregrino encontra a mentira e a superstição em meio a uma sociedade vaidosa e corrompida. Ele verifica a inanidade do fazer do não-fazer dos habitantes, as insuficiências das regras sociais, a exterioridade da vida religiosa, as imposturas tanto no nível político quanto no das relações.28 pentagrama 1/2015
O LABIRINTO DO MUNDO E O PARAÍSO DO CORAÇÃODescobre o desentendimento, a violência e a crueldade - em suma, um verdadeiro labirinto emque o buscador da verdade ameaça sufocar. Consequentemente, se um buscador da verdade deseja realizar a mudança interior, precisa libertar-se do mundo. “Regressa para o lugar de onde saíste,ao aposento do teu coração, e fecha a porta atrás de ti.” Estas palavras lhe são ditas num momento crucial de sua vida; elas provêm de uma voz que, embora não emanem ainda de seu interior,todavia o perseguem. São um convite para ingressar no paraíso do coração. uma reflexão para os jovens, por catharose de petri 29
Quando a inteligência humana come dotada de uma forte personalidade-eu ela ça a discernir as diferentes grada segue o curso que lhe é proposto, sua cons ções nas condições, nas classes, nas ciência não lhe permitirá compreender senãoprofissões e intentos da sociedade, após ser aquilo que se harmoniza com ela, riscandomuitas vezes vitimada por ela, manifesta-se de suas cogitações tudo o que ultrapassa otanto nos jovens como nos idosos, a vontade nível de compreensão da consciência comum.de aderir a um ou outro grupo, cuja ambi O único necessário, o onipresente, lhe escação seja a de melhorar a vida, de aliviar os pará irremediavelmente.sofrimentos, de trazer um pouco mais de paz Ó amarga tragédia de toda uma vida de trainterior e de alegria. Então, a inteligência balho libertador!humana começa a voltar suas antenas para Que a sábia palavra “Homem, conhece a titodos os lados. A princípio, falta-lhe segu mesmo” possa um dia ser verdadeiramenterança, é instável, receosa e prudente, teme realizada!ser prejudicada, deixar-se enganar de um Infelizmente, todos os preconceitos e essamodo ou de outro. Principalmente quando detestável presunção da personalidade cuidasomos jovens, não queremos causar má im rão para que a alma não possa beneficiar-sepressão! Após ser suficientemente torturada do trabalho de libertação da Corrente dapor um bom tempo, a inteligência descobre Fraternidade Universal. O interessado refleteque precisa, antes de tudo, regularizar con intensamente a fim de compreender de quevenientemente seus negócios pessoais. Quan se trata, pois quem resolve fazer “experiêndo consegue isso, fica orgulhosa e pensa: cias” passa tudo pelo crivo. Mas, por isso“Estou pronta, vou sair e explorar um pouco mesmo, o coração permanece fechado a todamais o mundo.” força hermética libertadora, à corrente deMuitos jovens disseram isso! força que nele não pode afluir. Assim comoEm seguida, com uma personalidade-eu soli Moisés no deserto fez brotar a Água Viva dadamente firmada na dura realidade dialética, rocha, assim também o homem pode fazeresses jovens deixam seu belo lar e saem per uso dessa força, fender o duro granito decorrendo o mundo em busca de experiências, seus preconceitos e tornar-se uma testemutendo por companheiros o guia Sabe-Tudo nha cintilante desse novo impulso de vida,e o camarada Preconceito. E assim, a pes contanto que apreenda o essencial dos ensisoa a quem se destinam essas palavras, vê-se namentos rosa-cruzes.integrada a diversas correntes da vida, atéo dia em que, talvez, chegue ao Lectorium Com relação a isso, gostaríamos ainda deRosicrucianum, ou a uma de suas salas. Se, dizer algumas palavras sobre a queda da30 pentagrama 1/2015
humanidade. Quando nós, enquanto micro uma nova queda é impossível. A Escola dacosmos, fomos banidos do paraíso, rompe Rosacruz Áurea deseja ser um elo que trazmos o fio da vida imperecível que nos ligava para todo verdadeiro buscador o conhecia ele, perdendo-o, assim, no curso de nossa mento do plano de Deus para o mundo e adescida. Todavia, os microcosmos não toma humanidade em forma de ato libertador.ram consciência dessa perda logo de imedia Um processo harmonioso deverá gerar ato, pelo fato de que a novidade lhes parecia tríplice manifestação divina “Espírito-almais que sorridente. E caíram cada vez mais ma-corpo”. Mas isto somente é possívelprofundamente. Mas, agora que o mundo mediante uma abertura bastante pura dotreme sobre suas bases, todos estão buscan coração e da cabeça, bem como uma realdo um ponto de apoio, um corrimão para se aspiração à invisível força ígnea do Pai, eleapoiar. Se este for o seu caso – e esperamos vada na Luz e no Amor de Cristo, e reveladade todo coração que isto se refira a um gran como manifestação do Espírito Santo. µde número de jovens – damos a vocês esseconselho: se verdadeiramente vocês tomaramconsciência de que sua queda atingiu profundezas insondáveis, não mais estendam asmãos para o exterior a fim de receber ajuda(como quando não conseguem alcançar umdegrau da escada e se agarram à rampa), masvoltem-se para seu foro interior e abram seucoração à luz da Gnosis. Ela lhes ajudará areencontrar o fio de vida perdido a fim deque a união entre a alma e o Espírito possanovamente ser restabelecida.Graças a esse influxo de novas forças astrais,o sangue de seus corações poderá de novoreceber a sublime sabedoria divina. Nasceráum saber mediante a experiência que nãopode ser comparada com as “experimentações” que acontecem neste mundo.Se puderem realizar o novo comportamentode vida, uma sabedoria de amor superior sedespertará em vocês e os conduzirá aonde uma reflexão para os jovens, por catharose de petri 31
GEORGE STOWE MEAD, O PRIMEIRO GNÓSTICO MODERNO*32 pentagrama 1/2015
a redescobertada gnosisNo dia 6 de novembro de 2013, um especialista em C.G. Jung, Hugo Van Hooreweghe, deuuma palestra intitulada “Razões pelas quais George R.S. Mead pode ser considerado o primeiro gnóstico moderno” – por ocasião da publicação do livro Ecos da Gnosis, em holandês. Essapalestra é o resultado tanto do desenvolvimento de uma consciência pessoal, como da maneiracomo a Gnosis sobrevive aos séculos e sempre retorna à consciência humana. Abaixo, podemos ver a primeira parte dessa palestra na livraria Pentagram, em Haarlem, Holanda.C omo o orador se considera mais um escolares não era suficientemente satisfatória amante e um fã do trabalho da G.R.S e, para tomar o caminho da Gnosis, foi preci Mead do que um especialista, ele se so tomar um desvio.sente obrigado a fazer um retorno ao seupróprio passado. Ele ”desfrutou” uma educa DEMIAN E ABRAXAS VALEM UM DESVIO Paração teológica, mas “desfrutar” talvez não seja este estudante, esse desvio foi passar, durantea palavra certa. Na verdade, ele recebeu uma uma noite de novembro, pelo quarto de umaformação em um período em que a teolo jovem. No entanto, mais do que pela ocupangia dominante era a do “Deus está morto”, te do quarto, sua atenção foi atraída por umquando os lógicos positivistas e linguistas livro: Demian. Ele já conhecia o autor – Herqualificavam de absurdo total qualquer decla mann Hesse – principalmente sua obra maisração relativa a um mundo “diferente”. Com popular: Siddhartha. Mas de imediato o títulocerteza não era o ambiente ideal para adqui Demian o intrigou e imediatamente perguntourir o conhecimento sobre o “outro mundo”, se poderia tomá-lo emprestado. Hesse escreo mundo da Gnosis. E menos ainda sobre o veu esse livro sob pseudônimo (Emil Sinclair),trabalho de alguém como G.R.S. Mead, que, logo após a Primeira Guerra Mundial, comoafinal, “não era nada além do que um teosó uma espécie de romance educativo. Trata-sefico.” Em reuniões colegiais sobre a história da história de um adolescente que, sob a somda igreja, os gnósticos não são mais do que bra ameaçadora da guerra iminente, busca um“duas colheres tiradas do pote”. Além disso, rumo para sua vida. Na escola, durante umaeles pareciam estar sofrendo de uma doença aula de culturas antigas, descobriu Abraxas,infecciosa contra o qual os padres da Igreja, o deus demiurgo. Os gnósticos o reconhecemcom suas crenças rígidas, haviam encontrado e muitas vezes foi representado em amuletosa vacina adequada. O único mérito reco com um corpo de dragão e cabeça de galo.nhecido a estes hereges, ou heterodoxos, era Esse nome, Abraxas, caiu sobre ele comoterem involuntariamente se afastado da fé uma bomba e ele moveu céus e terra paraverdadeira, e assim terem contribuído para o descobrir mais sobre a “Gnosis”. Sua fome dedesenvolvimento da verdadeira fé ortodoxa: a conhecimento se viu momentaneamente satisfé dos conquistadores, dura como uma rocha. feita por um organista, um pouco recluso, deMas, a minha simpatia já havia sido dada a nome Pistorius, e mais tarde por seu compaesses pacientes “perdedores” do debate – ter nheiro de estudo, Demian, que estava um anomo utilizado por Gilles Quispel em um do mais adiantado. De onde Hesse retirou todascumentário de mesmo nome. É por isso que a esses conceitos? Afinal, era conhecido por serexplicação que este orador recebia nos bancos um escritor bastante romântico, alguém que a redescoberta da gnosis 33
se destacou na descrição do cenário idílico e Basilides. A escolha do nome foi provavelno esboço da vida interior de artistas e sonha mente guiada por sua associação fonética comdores. Nesse ponto de sua vida, ele atravessou a cidade de Bâle, de onde Jung é originário.a crise de meia-idade e estava em tratamento Ele escreveu esse texto estranho como umacom um aluno de Carl Jung, Joseph Bernard espécie de exorcismo contra fantasmas que naLang, que compartilhava os mesmos interes épca se alastraram por toda a sua casa e enses de seu mestre para com os gnósticos e a chiam seus filhos de medo. O texto começaantiga sabedoria dos mistérios. Provavelmente com uma descrição dos mortos voltando deHesse foi recebido várias vezes por Jung em Jerusalém, onde procuram em vão a verdade.Küsnacht. Mas é certamente também gra É por isso que eles precisam ser educados naças a Lang que ele aprendeu quem seriam os sabedoria de Alexandria. Por mais estranhognósticos. Mais tarde, o interesse de Hesse que possa parecer, quando Jung terminouse desloca para religiões orientais, principal o trabalho, seus fantasmas desapareceram!mente Budismo e Taoísmo. A leitura de Hesse Pelo menos é o que ele diz, mas o gosto pelanão me permitiu aprender mais. No entanto, brincadeira não era estranho a ele! Quando lidescobri mais tarde que todos os seus roman esse texto, ainda não sabia que Jung, em seusces foram construídos em torno das linhas de estudos sobre os gnósticos, havia encontradoforça de um processo de individuação, proces a maior parte da sua informação em G.R.S.so fundamental dos ensinamentos de Jung. Mead. E quando Jung alegou, entre 1912 e 1916 – durante o que ele chamou de “descidaJUNG E SEU LIVRO VERMELHO Apesar de aos infernos”, ou seja, seu confronto com seuminha antipatia crescente, por minha forma próprio inconsciente – que os gnósticos eramção teológica, escolhi me concentrar em Jung seus únicos amigos, foi graças ao conhepara concluir meus estudos. Hesse tinha em cimento adquirido a partir do trabalho demãos um livro de Jung, com título estranho: Mead. Uma leitura atenta do Livro Vermelho –Sete Sermões aos Mortos (em latim, Septem que foi impresso apenas recentemente, quanSermones ad Mortuos). Era um texto que do ele já estava em gestação naquela épocadurante muito tempo circulou somente no – revela semelhanças óbvias com o estilocírculo íntimo de Jung, e só recentemente de Mead. Além disso, dezoito trabalhos deencontrou seu lugar no famoso Livro Ver Mead ainda adornam a biblioteca Jung. Elemelho. Sua forma é semelhante ao que pode mesmo foi pessoalmente agradecer Mead, emser chamado de um Tratado de inspiração Londres, por sua contribuição para o estudognóstica, no qual Jung articulava seus pensa da Gnosis e, da mesma forma, Mead pagou amentos a partir de um precursor de Valentin: visita a Jung. Jung o elogia em sua passagem34 pentagrama 1/2015
“por seu excelente uso da língua inglesa”. em duas partes: uma, intitulada A GnosisJung falava Inglês perfeitamente bem, mes segundo seus inimigos (The Gnosis according tomo não sendo sua língua materna, o que era its foes) e outro, A Gnosis segundo seus amigosainda mais admirável. (The Gnosis according to its friends). Com um suspiro quase profético, ele disse: “É umaUM TIJOLO INDIGESTO MAS PRODIGIOSO E o pena que esses documentos foram perdidosque dizer de mim? Devo admitir que, dado ou destruídos. Eles provavelmente aportao impressionante título do livro de Mead: riam mais luz não só sobre a teosofia cristã,Fragmentos de uma Fé Esquecida (Fragments of mas também sobre as suas origens obscuras”.a Faith Forgotten), na época cheguei a com Após a descoberta dos manuscritos de Nagprar uma reedição. Mas até recentemente, eu Hammadi, no final de 1945, seu trabalhoainda não havia tocado nesse livro em minha foi esquecido e nunca recebeu a atenção quebiblioteca. Achei indigesto aquele tijolo de merecia. Foi um erro, pois esse trabalho nãoseiscentas páginas sobre tudo o que poderia é datado – um argumento que deve ser bemser dito, na época, sobre a tal fé esquecida. reforçado hoje. As fontes limitadas disponíEnquanto isso, aprendi bastante, como muitos veis não o impediram de obter uma imagemde nós, na década de setenta, lendo a vasta completa e precisa dos gnósticos – e mais:coleção de livros de Nag Hammadi – traduzi com um texto persuasivo. É um prazer lerda pela primeira vez por James M. Robinson seu texto, seu estilo conciso, rico e puro.e repleta de testemunhos gnósticos genuínos Após meio século de pesquisas sobre a Gnoe até mesmo textos inteiros de Evangelhos. sis, a maior parte de seus projetos ainda nãoMead, por sua vez, teve de se contentar com é obsoleta. De fato, alguns foram reconhecialguns fragmentos que circulavam naquela dos recentemente por cientistas. Ele tambémépoca, incluindo aqueles encontrados pelo tem o mérito de ter sido o primeiro a sairDr. Askew (Askewianus Codex) contendo a da atmosfera do círculo viciado da pesquisaPistis Sophia, por Bruce (Brucianus Codex), acadêmica e de ter abordado, com um pontoincluindo o Livre de Jeû e o Tratado sem Título. de vista muito diferente daquele dos cientisEle também tinha conhecimento do Codex tas religiosos, tradicionalmente hostis. E foide Berlim (Papyrus Berolinensis), que contém isso que, por um longo tempo, muitos nãoo Evangelho de Maria e o Livro Secreto de João. perceberam. É por isso que este livro Ecos daMas os trechos essenciais de que Mead dispu Gnosis, acaba de ser publicado em holandês,nha teriam sua origem nos textos dos Padres pois rende uma preciosa homenagem ao notáda Igreja, portanto, da boca dos inimigos dos vel trabalho de Mead, afim de que ele possagnósticos. Por isso, Mead dividiu seu livro estar acessível a todos. µ a redescoberta da gnosis 35
36 pentagrama 1/2015
a argila, a água,o fogo e o homemO santuário do coração, não se pode negar, é feito de “argila”, ou seja: de materiais destanatureza. Ele somente será útil ao aluno se este preencher o espaço vazio com o espaçoinvisível, o espaço vazio da Gnosis; se o vaso for preenchido com a água viva, com a rodaígnea da salvação. Antes, porém, é preciso que haja uma purificação do coração.J. van Rijckenborgh, A Gnosis chinesaNo universo, as galáxias, os sistemas prova de orgulho, ele se superestimaria, e o estelares, os sóis e os planetas, tudo vaso se arruinaria. está submetido a um movimento Finalmente, graças à atenção contínua ofegiratório. A curta vida temporal humana recida pelo ceramista no meio do intemporalestá ligada a essa vida incomensurável e se que esse vaso de argila é elaborado. Fremove no ciclo da existência, no ritmo dos quentemente nos apegamos à forma exteriordias, estações e anos que lhe são atribuídos. do vaso como se ela lhe tivesse sido dadaCada homem é chamado a dar um impulso à do exterior; no entanto, é a partir do intesua vida e a fazer experiências até alcançar a rior que o vaso toma forma. É assim que, noplenitude, como o ceramista que deve mover coração humano, todas as forças necessáriasos pés para dar ao torno de oleiro o movi provenientes do centro despertam para amento rotativo desejado. Somente assim ele vida.pode dar forma à bola de argila e animá-la. O FOGOA ARGILA A seguir, é no fogo que o vaso deve se soliPara começar, a atenção se volta para o dificar. O menor excesso ou a menor falta écentro imutável no coração, e todo o ser se prejudicial para o processo alquímico. Nessaharmoniza com ele. Aprender a se consagrar fase, o ceramista pode colaborar favoravela esse meio intemporal requer uma vigilância mente se tiver consciência do grandioso proconstante, durante toda a vida. cesso para o qual está oferecendo ajuda. Para que isso aconteça, ele deve compreenderA ÁGUA bem que seu papel consiste em finalizar suaQuanta água é necessária para amassar a tarefa e, em seguida, no momento propício,argila! O trabalho interior só é possível com se retirar para submetê-la ao poder do fogo.a adição incessante de Água Viva na quantidade desejada. A base da obra deve ser O HOMEMsólida, fundamentada na realidade. Quanto Quando, por fim, o forno é aberto, surge oao ceramista, ele deve estar consciente de resultado de um processo fantástico. A água,participar de um processo de ordem superior. a argila, o fogo e o ar da natureza temporalEle deve dar ao vaso uma forma delgada, são transformados em uma matéria nova,sem no entanto ceder à tentação de obter um mediante o trabalho da água, do ar e doresultado antecipado, portanto sem querer fogo espirituais. A argila maleável foi transavançar muito depressa em sua tarefa a fim formada num vaso sólido. O ceramista podede ser liberado dela. Porque isso seria, então, deixar que seu trabalho siga seu caminho. a argila, a água, o fogo e o homem 37
A eternidade, que independedo tempo, preenche oespaço livre do coração doser humanoDaí em diante, a vida intemporal se verte novaso, sendo ali protegida, envolta e sustentada. A eternidade, que independe do tempo,preenche o espaço livre do coração do serhumano.AS MANIPULAÇÕES DO CERAMISTAVejam como trabalha o ceramista: ele secoloca atrás de seu torno e, com os pés, fazgirar a roda inferior, que está ligada ao disco de modelagem, que gira junto com Ela.Sobre esse disco, o ceramista deposita umabola de argila um pouco mais volumosa queo necessário para o vaso previsto.Antes de colocar suas mãos na terra, seuspés trabalham para dar a velocidade necessária à roda maior. Concentrado na tarefa queo espera, ele se posiciona bem defronte daargila e retira os pés da roda. A seguir, envolve com as mãos a bola de argila, enquanto seu corpo permanece imóvel.Então, tem início o que, em todo o processo, é fundamental: ele toma o maior cuidadopara manter a argila centrada sobre o discode modelagem em rotação. Para dominaressa técnica, é necessário muito tempo e experiência, às vezes até mesmo muitos anos.O ceramista também precisa aprender aumedecer a argila da maneira correta. Se,impulsivamente, colocar muita água, a terravai amolecer, se deformar e desabar. Se,38 pentagrama 1/2015
ao contrário, ele não calor, ao contrário, o deforma e a terra secolocar água o suficien torna vítrea. Quando o vaso é submetido ate, a terra vai ficar dura, e uma temperatura suficiente, ele pode resele não conseguirá fazer nada. O friar progressivamente. No espaço ao redorceramista fica totalmente voltado para do fogo, o vaso se beneficia de um caloro processo que está acontecendo diante favorável, muito penetrante, comparável aodele, no seu torno. Ele participa desse do sol. µprocesso de corpo inteiro, utilizando alternadamente os pés e as mãos. A cada fase,ele se concentra sobre aquilo que o vasoexige, desempenhando um papel ao mesmoativo e servil.A mão que está trabalhando no lado interiorpressiona a terra para fora; a outra, no ladoexterior, exerce tanta resistência quanto fornecessário para conservar a forma que maisconvém.O interior dá forma ao exterior. Nunca ocontrário!O corpo inteiro do ceramista está a serviço do processo. Seus pés cuidam de dar àroda inferior uma boa velocidade; suas mãosmoldam as faces interna e externa do vaso.Mantendo-se bem diante da bola de argila,ele permanece perfeitamente centrado.A água serve para manter a f lexibilidade.O fogo também exige um cuidado minucioso, pois o processo de queima deve ser bemcontrolado. Se a queima for muito rápida, ovaso estoura; se for muito lenta, resulta numdesperdício de energia.Quando o calor do fogo é insuficiente, ovaso se torna frágil e quebradiço; muito a argila, a água, o fogo e o homem 39
o construtor do mundoSomente quando o homem se esquece de si mesmoseus olhos se abrem para o universo,Ele vê o que realmente ée quem sustenta e mantém a vida.Então percebe quem está imerso em todos osuniversoscom a força tranquila de seu alento.Por onde quer que caminhes, tu existes,E foi à sua imagem que ele te criou, ó homem!Ele é o princípio e o fim do mundo,Ele é o rei das Almas-EspíritoEle Lhe estende Suas sagradas mãos, ó homem,Ele, que é o eterno Construtor do Mundo.A Ele agora dedico meu cântico,Em sintonia com Seu Alento, Seu verso e Sua medidaPois, em mim, nada restou além DeleDesde que me esqueci de mim mesmo.Ó homem, somente Nele está tua liberdadeQuando, tão miraculoso, Ele se manifesta no OutroPara ser seu IrmãoNa rubra aurora do Sol de Cristo.E milhares de cores de vários tons emanam da Terra,Ainda iluminada pelo sereno Sol.A Terra, que antes estava em luto profundoReconhece o horizonte do Espírito!E, no coração da Terra, em força silenciosa,Nuvens vermelhas transformam-se em Rosa Áurea.Pleno de Amor eleva-se o Novo HomemQue pronúncia, como Ele o fez outrora: “Estáconsumado!”40 pentagrama 1/2015
der weltbaumeisterNur wenn der Mensch sich selbst vergisst,öffnen die Augen sich der Weltund er sieht was da wirklich ist,und wer das Leben trägt und hält.Und wer die Welten all durchmisst,mit seines Atems stiller Kraft,auf dem du gehst, in dem du bist,der dich, o Mensch, zum Bild sich schafft.Er ist der Welt Beginn und Ende,er ist der König froher Geister,er reicht dir, Mensch, die sel’gen Hände,er ist der ew’ge Weltbaumeister!Ihm widme ich nun dieses Lied,nach seines Atems Vers und Maß,weil er mir nur und sonst nichts blieb,als ich mich selber einst vergaß.O Mensch, in ihm nur wirst du frei,wenn er im Andern voller Wonnedir zeigt, dass er dein Bruder seiin Christi morgenroter Sonne.Und tausendfaches Farbenspielentströmt der Erde, still besonnt,die einst so tief in Trauer fiel,erkennt des Geistes Horizont.Und Wolkenrot wird Rosengoldim Erdenherzen, still bewacht ein neuer Mensch erhebt sich holdund spricht wie er: “Es ist vollbracht!”Julho de 2014 - Poema de John Wolfgang Busch, Nuremberg o construtor do mundo 41
um olhar retrospectivoA bela cidade de Tübingen, no sul da Alemanha, onde, durante o primeiro decênio do século XVII, a FamaFraternitatis tomou formaNossa Fraternidade fez ressoar um Os grão-mestres Jan van Rijckenborgh e chamado! No que me diz respeito, Catharose de Petri já tinham a intenção de esse chamado ganhou forma e con- realizar essa conferência, seguindo os pasteúdo quando, em meio a uma conferência sos da Fraternidade da tão estimada Ordemem Renova, os alunos foram convocados a ir da Rosa-Cruz. Eles desejavam renovara Calw. esse chamado, que ainda ressoa como uma42 pentagrama 1/2015
FAMA 400-CONFERÊNCIA 2014 EM CALWpoderosa fórmula mágica. Apesar de, ini uma aspiração pelo espírito e pelo amor.cialmente, eu ter criado vários obstáculos, O chamado lançado durante essa conferênem participar da viagem, eles logo desa cia extraordinária era para liberarmos essepareceram depois de uma troca de corres espaço interior, para estendermos as asaspondência com a pessoa que fez contato com confiança e compreensão límpida, paracomigo. Depois de me inscrever, senti estas darmos continuidade à construção da casapalavras ressoando em mim como um eco: Sancti Spiritus, a morada espiritual prevista“Vou para Calw!” Inspirado pelo pequeno para todos. Essa morada ganhou forma pelalivro Ad Fontes (Regresso às Fontes), que os primeira vez graças aos amigos do Tübinorganizadores nos haviam enviado, tomei ger Kring (o Círculo de Tübingen), que seconsciência da importância dessa fraternida reuniam ao redor de Tobias Hess, Johnannde, do livro Fama Fraternitatis e de Cristão Valentin Andrea e outros participantes. NoRosa-Cruz como símbolo de um discípulo pátio situado próximo do Tübinger Stiftde Cristo, um escolhido pelo Espírito divi (casa de estudantes na cidade universitária),no, o homem alma-espírito. Tenho a impres fiquei observando as janelinhas por desão de que, para mim, a leitura desse livro trás das quais nossos jovens irmãos daquelafoi a origem de um tênue chamado, como época inspiravam-se uns aos outros em suasuma pequena semente lançada em uma terra conversas. µarada pela experiência e pela compreensão.Portanto, se alguém me pergunta o queessa conferência me trouxe, eu respondo:“Tudo!” Sempre nos repetem que é precisoconstruir com base em alicerces sólidos. Poisbem. Parece que, sobre meus velhos alicerces, novas fundações estão sendo colocadasem mim. Elas estão esperando que surja anova consciência, que me permitirá fazer asescolhas certas, colocar ordem, acrescentarparedes, ampliar a construção, deixar espaço, no pátio interior, para um magníf icojardim, um canteiro de rosas. Ao lançar umolhar para trás, noto que em mim havia umponto de interrogação, uma aspiração. Hoje,mais do que nunca, sei o que me animava: um olhar retrospectivo 43
IMAGENS DO M U N D OForam vendidos e presenteados mais de 4000 livros, entre os quais quase todos os títulos dosgrão-mestres e 12 mil marcadores, entregues em mãos. Esse foi o resultado do enorme esforçodos pioneiros que começaram a traduzir esses livros no Brasil, bem como do atual grupo quelidera o trabalho da Pentagrama Publicações hoje. Como os rosa-cruzes há 400 anos revelaramos Manifestos para centenas de formadores de opinião e intelectuais de sua época na Europa,hoje nós fizemos o mesmo, comunicando a mensagem de transformação e libertação ao serhumano moderno.44 pentagrama 1/2015
FA M A4 0 0 SÃO PAU LO PENTAGRAMA PUBLICAÇÕESBienal Internacional do Livro de São Paulo 2014Cobertura da Bienal: http://youtu.be/ze1UyaVbLq4
Search
Read the Text Version
- 1 - 48
Pages: