pentagrama Lectorium Rosicrucianum Elevar a razão Paracelso: construtor de uma ponte entre dois mundos Considerações de um iniciado – re exões de um participante Sobre talismãs e o bem único Encontrar o que nunca foi perdido Natureza – Cultura – Sabedoria 2014 4NÚMERO 28-02-14 11:46
Edição Revista Bimestral da EscolaRozekruis Pers Internacional da Rosacruz Áurea Lectorium RosicrucianumRedação FinalPeter Huijs A revista pentagrama dirige a atenção de seus lei- tores para o desenvolvimento da humanidade nestaRedação nova era que se inicia.Kees Bode, Wendelijn van den Brul, Arwen Gerrits,Hugo van Hooreweeghe, Peter Huijs, Hans Peter O pentagrama tem sido, através dos tempos, oKnevel, Frans Spakman, Anneke Stokman-Griever, símbolo do homem renascido, do novo homem.Gerreke Uljée, Lex van den Brul Ele é também o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de DeusDiagramação se manifesta. Entretanto, um símbolo somenteStudio Ivar Hamelink tem valor quando se torna realidade. O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo,Secretaria em seu próprio pequeno mundo, está no caminhoKees Bode, Gerreke Uljée da transfiguração. A revista pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seuRedação próprio interior.PentagramMaartensdijkseweg 1NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixose-mail: [email protected]ção brasileiraPentagrama Publicaçõeswww.pentagrama.org.brAdministração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Números de anos anteriores R$ 8,00Responsável pela Edição BrasileiraAdriana PonteCoordenação, tradução e revisãoAdriana Ponte, Emanuel Saraiva, Leonel Oliveira,Rossana Cilento, Amana Carneiro, Denison de Sá,Elaine Mayworm, José de Jesus, Leice Novaes, MarciaMoraes, Marlene Tuacek, Mercês Rocha, Rafael Albert,Sérgio Oliveira, Simone Oliveira, Cláudio Moraes,Ellika Trindade, Fernando Leite, Francisca Luz, JoãoBatista Ponte, Josefina de Lima, Lino Meyer, LuisAlfredo Pinheiro, Marcílio Mendonça, Marcus Mesquita,Roquefelix Luz, Urs SchmidDiagramação, capa e interiorDimitri SantosLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
pentagrama ano 36 2014 número 4Não fazer nada não é, de forma alguma, o objetivo dos Vista da cidade de Basiléia. Gravura de Michelrosa-cruzes. É o desejo de ajudar a humanidade que nos Woldemut e Wilhem Playdenwurff extratoreúne na Escola Espiritual da Rosacruz Áurea. Usando de de Schedefschen Weltchrcrlk, página 243v/244ruma compreensão inteligente, chegamos à conclusão de (Crônica de Nuremberg), 1493que todas as iniciativas ocasionais e individuais não po-derão parar a maré dos acontecimentos destrutivos em elevar a razãonossa vida, tanto pessoal como coletiva. Não. É preciso reflexões gnósticas sobre a verdadeiraque aconteça algo diferente. Ao mesmo tempo em quegritamos “Guerra, nunca mais!”, sabemos que o poder paz 2cego e destruidor da indústria de armas nunca foi tão imagens do mundoimenso e poderoso. Então exigimos: “Queremos uma o homem e a ideia da criaçãoalimentação saudável!” e somos informados de que já há 7, 20, 31, 39, capa anteriorprevisões de mais de trezentos e cinquenta milhões de paracelso: construtor decasos de diabetes até 2030. uma ponte entre dois mundos 8O que faz a Escola Espiritual da Rosacruz Áurea? considerações de um iniciado 16Ela eleva, reúne, focaliza: e faz tudo isso fundamentada em reflexões de um participanteum novo estado interior, harmonioso e equilibrado. a escola e você - você e a escola 18Elevar significa o amadurecimento de um indivíduo em um sobre talismãs e o bem único 24estado radiante de alma. natureza – cultura – sabedoriaPromover a reunião consiste em formar uma fonte com uma reflexão sobre os trêsuma baliza central receptora, como uma antena parabólica. templos 32O ponto focal acolhe a luz proveniente de uma nova encontrar o que nunca foi perdidoatmosfera vital de paz que irradia sobre o mundo, tornan- o verdadeiro paraíso 37do-se, assim, acessível a todos. o ponto de encontro e o sal indispensável 40 11
REFLEXÕES GNÓSTICAS SOBRE A VERDADEIRA PAZelevar a razãoÉ necessário fazer um apelo à paz numa época em que, mais do que nunca, asguerras se multiplicam. Para viver em paz, é premente penetrar a verdadeiranatureza do homem e seu campo de existência. Os conflitos e as guerrasparecem inevitáveis num mundo cuja característica fundamental intrínseca é adualidade, a oposição. Seria ignorância ou ironia afirmar, em nosso século 21,diante de um público moderno: “Bem-aventurados os pacificadores, porque elesserão chamados filhos de Deus”?J. van RijckenborghQ uando ref letimos sobre essa bem- filhos de Deus” encontra-se bem próxima de ‑aventurança, precisamos, antes de nossos corações. E isso é natural! Se existe um tudo, desfazer-nos de todas as nos- texto bíblico que compreendemos bem, é esse!sas tendências habituais, pois não é verdade Entretanto, devemos tirar-vos essa certeza, poisque, ao ouvirmos a palavra “paz”, nossos a bem-aventurança em questão não está nestepensamentos associam-se à ideia de paz e nível horizontal. Ela testemunha uma paz quepacificação que o mundo conhece, ama e ainda não conheceis, que não possuís e que ose esforça por alcançar? Não são a paz e as homem como massa nunca possui, apesar deideias pacifistas coisas extremamente desejá- tudo, que não poderíeis compreender, nemveis num mundo de miséria como o nosso? mesmo se a violência brutal e o horror daNão aspiramos todos a uma paz duradoura? ameaça dessem lugar a um estado normal… aSob muitos aspectos, não significam essa paz menos que sigais um longo caminho.e seus resultados um estado de bem-aven-turança para muitos? Não há no coração de ACIMA DE TODA COMPREENSÃO A paz de quetodos uma prece ardente para que cesse a aqui se trata não é dialética. Quem a possui ja-violência sempre presente, sempre ameaça- mais a perderá, tampouco a violará, pois ela é adora? “Meu Deus, dai-nos a paz!” paz de Deus, de que Paulo dá testemunho comQue bem-aventurança seria essa! as palavras: “E a paz de Deus, que excede todoE, assim, em meio à ameaça de uma terceira o entendimento, guardará os vossos corações eguerra mundial, a máxima “Bem-aventurados os vossos sentimentos em Cristo Jesus”. É paraos pacificadores, porque eles serão chamados essa paz que não se pode compreender com a2 pentagrama 4/2014
Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri são os fundadores da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea. Nessa escola eles explicaram aos alunos a senda da libertação da alma de várias maneiras, utilizando-se muitas vezes de textos originais da doutrina universal, tendo sido um exemplo para os alunos, pois além de estudar seriamente a senda, realizaram-na em suas vidas.A pomba estilizada de Picasso tornou-se o símbolo de todos que participam da luta pela paz no mundo.No curso do tempo, o artista desenhou dezenas de variações desse símbolo elevar a razão 3
consciência biológica que o Sermão da Monta- ideal é um dia ser chamado filho de Deus, senha chama a atenção do aluno. eleve acima de sua razão, acima da consciênciaPara o aluno que a possui, ela é a paz que racional de seu cérebro. O que costumamospermanece, a despeito de qualquer circunstân- chamar de “razão” nada é senão a faculdadecia dialética; paz que é conhecida e abraçada, de compreensão e discernimento da consciên-mesmo em meio à maior violência ou à mais cia eu. Essa razão, compreendida segundo asintensa aflição. normas terrestres, pode, eventualmente, serQuando os antigos e os iniciados se encon- muito cultivada e capaz de grandes coisas.travam, diziam uns aos outros: “A paz seja Todavia, absolutamente não é libertadora, masconvosco!” Com essa saudação, eles não que- sim um poderoso freio ao verdadeiro desenvol-riam sugerir: “Vivamos em paz, sem querelas, vimento espiritual.e deixemos reinar a paz”. Porém, com todaa magia da alma, da qual dispunham, eles TRÊS FOCOS DA RAZÃO Certamente não que-se ligavam mutuamente à paz de Deus que remos depreciar a razão da consciência bioló-ultrapassa todo o entendimento. “Deus é nossa gica. Contudo, deveis saber que a consciênciapaz!”, diz e confessa o aluno iniciado. Pensai, comum é um elo de uma cadeia de três. A ra-sobretudo aqui, na palavra de Cristo relata- zão do homem possui três focos, dois dos quaisda por João, capítulo 14: “Deixo-vos a paz, estão latentes na maioria dos homens. Há umaa minha paz vos dou. Não vo-la dou como razão do espírito, uma razão da alma e umao mundo a dá”. Nessas palavras encontramos razão biológica. Quando os antigos místicosa confirmação profunda do que expusemos, diziam que o homem devia aprender a pensara saber, que a paz mencionada nos mistérios com o coração, referiam-se à razão da alma. Ecristãos nada tem a ver com a paz que os quando o Senhor diz a seus discípulos que elespartidos beligerantes talvez nos possam trazer, devem conhecer uma alegria que ultrapassaa despeito de tudo o que essa paz terrestre, todo o entendimento humano para ser verda-compreendida conforme a natureza, possa terde maravilhoso, desejável e beatífico.É por isso que deveis desligar-vos das coisasterrestres e elevar-vos para compreender umapaz que ultrapassa todo o entendimento. Masisso é possível? Não haverá aí um paradoxo?Poderá um homem compreender o que ultra-passa o seu entendimento? Sem dúvida, é pos-sível e mesmo indispensável que o aluno, cujo4 pentagrama 4/2014
A paz é o estado de equilíbrioentre a ideia divina e o homemque vive dela e para ela derá passar da ideia que está em Deus à ação e, por sua ação libertadora, regressar à ideia, que é Deus mesmo.deiramente chamados filhos de Deus, a atenção QUANDO O ESPÍRITO REENCONTRA O ESPÍRITOdos alunos é atraída para a razão espiritual. Em princípio, e falando abstratamente,A razão espiritual vivifica a ideia; a razão da mesmo em estado de queda, o homem é ealma inspira e esclarece a ideia, e a razão bio- continua sendo um filho de Deus, porém umlógica realiza a ideia. filho perdido, extraviado, que rompeu suaUm bom construtor a serviço do Grande Ar- ligação direta com o Pai. Todavia, quandoquiteto deve ser capaz de elevar-se acima da vive, experimenta e trabalha com os trêsrazão biológica, não a rejeitando como inuti- focos da consciência, o filho pródigo retornalizável, mas empregando-a da maneira cor- ao lar e, de forma muito particular, torna-reta. Quando os três focos da razão operam se novamente um filho de Deus. A ligaçãode forma correta em uma corrente, o aluno direta com o Pai é, então, restabelecida. Elepreenche três funções também ligadas como não somente vê o Pai da maneira descrita emuma peça do trabalho: ele é o arquiteto, ou “Bem-aventurados os puros de coração…”,seja, cria a ideia; é o mestre construtor, ou mas também está em Deus, voltou a ser umseja, anima e irradia a ideia; e é o ajudante, filho de Deus, retornou ao lar. Seu espíritoou seja, executa a ideia. reencontrou o espírito de Deus. E a melhorTão logo o ajudante ou aluno ultrapasse sua tradução para esse reencontro e a nature-razão e nesse espaço assente os fundamentos za desse estado de ser é a paz. A paz quede sua obra, realizando-a segundo o Plano está em Deus é uma harmonia perfeita, umda Razão Superior, sua ação se torna simul- esplendor eterno, um repouso dinâmico. É otaneamente uma manifestação da alma, e a estado de equilíbrio entre a ideia divina e obeleza da ideia resplandece nesse ato. O cria- homem que vive dela e para ela. Já não hádor se revelou através de sua criação. Então, nenhum traço de resistência, pois o filho detorna-se claro que, quando está em posse dos Deus que, pela mão de Deus, pela mão datrês focos ativos da consciência, o aluno po- ideia de Deus, trabalha em sua construção, vivencia nessa harmonia de valores, forças e pensamentos que ele tudo faz para o bem. Para os que possuem essa paz ou estão ocupa- dos em adquiri-la aplicam-se as palavras ditas sobre a montanha: “Bem-aventurados os pa- elevar a razão 5
cificadores, porque eles serão chamados filhos jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro,de Deus”. Então, pode acontecer que o aluno e a vara do seu opressor”.no caminho, num arrebatamento dos senti- Em meio à luta e enquanto suas vestes são ba-dos, ouça a saudação fraternal: “A paz este- nhadas em sangue, o aluno é elevado à novaja convosco!” Ele sabe que se trata de uma filiação divina. Ele é eleito Filho, o poder estáprova de amizade e amor, e que, nesse amor, sobre seus ombros, e seu nome é: Admirável,pode ter a esperança de elevar-se acima dos Conselheiro, Poder de Deus, Pai Eterno, Prín-limites de sua razão comum, no caminho da cipe da Paz.consciência espiritual. Ao mesmo tempo, o Bem-aventurados os pacificadores, porque elesaluno experimenta, nessa saudação, a força serão chamados filhos de Deus.de um mantra, de uma fórmula mágica. Com “E a paz de Deus, que excede todo o enten-as palavras “A paz esteja convosco”, o verda- dimento, guardará os vossos corações e osdeiro Espírito inflama-se como um clarão nos vossos sentimentos em Cristo Jesus. […]tudo ocentros sensoriais comuns do aluno e é como que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudose os muros recuassem, os véus tombassem o que é justo, tudo o que é puro, tudo o quee as pesadas nuvens se dissipassem. O aluno é amável, tudo o que é de boa fama, se hávê, além do espaço e tempo, a verdadeira paz alguma virtude, e se há algum louvor, nissoque está em Deus, à qual ele está sendo cha- pensai”, assim diz Paulo.mado com inexprimível amor. O império da Como o aluno aprenderá a conquistar essaspaz não pode ter fim; sua grandeza é eterna qualidades e como saberá o que é verdadeira-e indestrutível. mente justo, puro e amável? Ele aprenderá eConheceis essa majestosa sensação de bem-a- saberá pelo que tiver recebido, entendido, ou-venturança que se torna vossa quando vos vido e visto, pois tudo está incluído na Dou-elevais acima da razão? O aluno que vê esse trina Universal, que foi dada à humanidadecaminho, para o qual é eleito, experimen- e com ela desceu até o mais profundo de suata de forma muito particular as palavras e queda, para mostrar-lhe o caminho de voltaos pensamentos de Isaías 9, que não tratam para a luz. A Escola Espiritual possui, comoapenas do Messias histórico, mas também do um poder que pode ser utilizado de maneiranascimento de Cristo no homem: “O povo direta, o caminho espiritual de Jesus Cristo,que andava em trevas viu uma grande luz, e assim como a filosofia da lei, com o auxíliosobre os que habitavam na região da sombra da qual podeis trilhar o caminho espiritual dada morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste libertação. Portanto, assim como o aprendes-a nação, a alegria lhe aumentaste; todos se tes, ouvistes, entendestes e vistes, fazei-o! E oalegrarão perante ti… Porque tu quebraste o Deus da paz será convosco. µ6 pentagrama 4/2014
IMAGENS DO M UNDO DA CRIAÇÃOO HOMEM É A IMAGEM Do Criador único e infinito, que William Blake representa aqui no centro, procede a Trindade, a tríade, oEspírito divino em sua triplicidade, sempre imaterial e onipresente. Dele procedem, numa criação progressiva einfinita, os sete espíritos, os sete mundos, as sete esferas de densidade, os sete domínios cósmicos; uma criação eternamente carregada pela Luz e pelo Amor, na qual o que é criado é eternamente atraído pela Fonte única que, visando o desenvolvimento das criaturas, não cessa de ofertar-lhes o prana vital. elevar a razão 7
paracelso: construtor deuma ponte entre dois mundosO homem cidadão de dois mundos: o natural e o eterno, o reino do Pai e o do Filho, o antigoe o novo nascimento – essas eram as preocupações centrais de Paracelso. Ele, que pertencia aesses dois mundos, procurava sem cessar novos meios de acesso para indicar o caminho a seusalunos e fazê-los perceber, através da matéria, a luz espiritual.Elke Bussler suas explicações sobre o Volumen paramirum de Paracelso.² Além disso, um ano antes deE lise Wolfram (Danzig, 1868 – Zeist, seus comentários sobre o Paramirum, ela já 1942) deixou uma obra literária con- havia apresentado ao público um pequeno li- siderável, hoje esquecida. Após haver vro intitulado Der esoterische Christ Paracelsusmudado para Leipzig em 1904, ela leu de (Paracelso, o Cristo esotérico), apresentandouma só vez a obra Teosofia, que Steiner aca- sua personalidade e sua obra. Ela foi a pri-bara de publicar. meira a traduzir esse ensaio, que é a fonteLiteralmente impressionada, tornou-se uma deste resumo. A obra traz como apêndicealuna entusiasmada da futura Antroposofia, os textos de Paracelso sobre astronomia, osmovimento que seu intenso engajamento quatro evangelistas, a ressurreição, o renas-ajudou a constituir. Quando esse movimen- cimento e a Santa Ceia. Esses textos são oto se separou da Associação Teosófica, seus essencial do livro.esforços concentraram-se na preservação do “A intenção deste livro, escreve E. Wolfram,esoterismo cristão da Rosa-Cruz.¹ é tentar demonstrar, comprovar, em especial as afirmações do próprio Hohenheim, quePara E. Wolfram, a Antroposofia era, na sua sua tarefa sacerdotal de médico tomava comoépoca, a única expressão justa do conheci- fundamento o cristianismo esotérico.”mento secreto dos primeiros cristãos: ela não Efetivamente, Theophrastus von Hohenheim, mais tarde conhecido pelo tomava como base a fé, mas a nome de Paracelso, era ao mesmo tempo compreensão, fruto terapeuta (e também f ilósofo, astrônomo e da experiência e alquimista) e teólogo encarregado das almas. do pensamento. Ele não temia dar a si mesmo o título de Um dos pri- “doutor nas santas Escrituras”, sem entre- meiros re- tanto outorgar-se um grau acadêmico, que presentantes não possuía em teologia. dessa nova compreensão Alkahest de Paracelso. Adolphe foi Paracelso, ao Gottlieb, 1945. qual ela consa- Na alquimia medieval, alkahest grou duas impor- era um solvente universal, que po- tantes publicações. dia dissolver até o ouro. Paracelso Para certos leitores, considerava-o a pedra filosofal. Elise Wolfram é Museum of Fine Arts, Boston, VS conhecida em virtude de8 pentagrama 4/2014
RESUMO DO LIVRODE ELISE WOLFRAMPARACELSO – UM ROSA-CRUZ paracelso: construtor de uma ponte entre dois mundos 9
Deus? Para vê-lo, olhai sua criação e suas obras! Ou, se pre-feris vê-lo diretamente mais que na natureza, observai os ter-mos de sua Palavra. Carregai-os em vosso coraçãoEntretanto, ele definia seu trabalho de mais que na natureza, observai os termos deorientador espiritual, conforme instaura- sua Palavra. Carregai-os em vosso coração,do por Cristo, nestes termos: “...explicar e vós o vereis em seu templo, o coração doe ensinar a doutrina, a fim de preservar homem. Porque é somente dentro do templodos desvios e das heresias. Comentar essas que podemos vê-lo. Mas apenas somos umcoisas é trabalho de doutores cuja formação templo se Cristo está em nós. Ora, ele mes-não leva em conta os homens, mas apenas o mo somente vem a nós se testemunhamosEspírito Santo.³ Como “doutor em escritu- obediência e amor a Deus.”4ras santas”, Paracelso agia, necessariamente, Não há dúvida de que Paracelso conhecia asfora da igreja estabelecida e das alternativas Escrituras santas. Seus escritos teológicos,que, no século 16, surgiam apenas com a assim como sua obra sobre o corpo e a me- dicina científica, são repletos de referências f inalidade de ensinar, e bíblicas. Podemos levar a sério um homem que ele chamava de das ciências, mesmo que seja do século 16, igrejas-muralhas. que baseia tão seriamente suas fontes de “Por que edi- conhecimentos científicos na Bíblia? Sim, ficais templos no caso dele, certamente. Para Paracelso, a de pedra e Bíblia relata os fatos – entretanto é necessário coisas simi- conhecer a linguagem em que são expressos. lares como Na verdade, ninguém como Paracelso se se eles re- distancia tanto de uma interpretação bíblica presentassem como a atual, corriqueira e fundamentalis- Deus? Para ta. Por exemplo, em seus livros que tratam vê-lo, olhai sua dos elementos,5 ele apresenta Deus como o criação e suas primeiro alquimista. Também E. Wolfram obras! Ou, se dedica-se a demonstrar como Paracelso está preferis vê-lo familiarizado com “expressões específicas do diretamente10 pentagrama 4/2014
Elise Wolfram: Paracelso foi pouco compreendido; coisa que Paracelso tentava gravar nas profundezas dae, ainda assim, somente pelo pequeno número dos alma de seus alunos era isto: devido ao fato de pode-que visitavam os povos da Europa e, graças a sua rem se chamar um Eu, vocês são parte do grande Eu,individualidade marcante, transmitia os tesouros o Logos do mundo. (...) O verdadeiro Pai do homem,ancestrais ao século 16: um ser que, a justo título, se aquele que nutre, é o mesmo que, pela boca de Cristo,sentia sacerdote e médico. Ele levava ajuda, donativos, ensina: “quem não deixar pai e mãe não pode ser meue por toda parte, com o olho da alma desselado, via, discípulo”. Isso leva a uma forte contradição: de umaprendia e tentava transmitir, da forma adotada no lado, o ser humano terrestre, inteiramente absorvidoséculo 16, os tesouros de seus conhecimentos ocultos pela vida de sua família e de seu povo, onde o valoràs almas prontas a recebê-los. (...) Hohenheim ensina- do indivíduo é medido em razão de sua utilidade; de‑nos a “não dizer ‘isso é demais para mim’, mas sim a outro lado, o ser humano espiritual que busca com-acender a luz que nos permite dizer ‘isso não necessita preender o cosmo e desenvolver sua parte eterna paraexplicação’”. que, em tempos futuros, com seus irmãos em Cristo,Cada coisa tem sua luz própria, e o homem também: possa indicar à humanidade o caminho para o Espírito.“e resplandeceu nas trevas, e as trevas não prevale- O homem labuta por seu corpo; quanto a seu serceram”. O que ele compreende, o que experimenta espiritual, ele sofre por seu corpo eterno. E essa almacomo seu núcleo mais íntimo, ele chama de seu Eu. E eterna existia antes da família, antes do povo, anteso homem possui em si esse Eu, esse “Eu sou quem Eu das raças. Ela estava em Deus, ela vivia uma existênciasou”, o nome de Deus guardado e uma centelha da luz cósmica, ela era um raio do Logos, seu Pai, ao qualdo Pai, de Cristo, a grande luz do mundo. A primeira ela retorna entre a morte e um novo nascimento.esoterismo cristão, bem como da terminolo- Paracelso com agia da alquimia como ciência do espírito”. idade de 47 anos,O primeiro texto de Paracelso, retomado com sua divisa:integralmente no livro de E. Wolfram, é a “Ninguém seráExplicação da grande astronomia, que oferece servo de outremuma boa introdução à sua visão de mundo. se puder ser seuSua concepção estabelece a esse respeito uma próprio mestre”.clara demarcação, ao mesmo tempo que uma Sob a gravura,ponte, entre a sabedoria natural e a eterna, o verso 17 dao mundo do Pai e o do Filho. Nesse caso, é I Carta de Tiago:necessário definir com precisão o conceito de “Toda boa dádivaastronomia, pois ele pode conduzir facilmente e todo doma mal-entendidos. Quando Paracelso diz que perfeito são lá doum médico deve dominar a astronomia devido alto, descendo doao fato de que a maioria das doenças têm sua Pai das luzes, emcausa no firmamento, isso não significa que quem não podeelas são devidas aos corpos celestes. Ele efeti- existir variaçãovamente acabou depressa com tais concepções ou sombra deao escrever o Ensastrale, no Volumen parami- mudança”.rum: “As estelas não dominam nada em nós,não engendram nada, não agravam nada, nãoinfluenciam nada: elas são livres em si mes-mas como nós somos livres em nós mesmos.”6 paracelso: construtor de uma ponte entre dois mundos 11
(...) O corpo que o cristão esotérico constrói para si chama de corpo específico de Cristo e Paulo de corpomediante um trabalho oculto, em plena vigília, esse espiritual imperecível.corpo astral cujos órgãos se desenvolvem durante a O que dá forma a esse corpo imortal nada podevida na terra, torna-se para o Eu um instrumento de ser senão o reflexo do Logos no homem. O corpopercepção dos mundos espirituais; é a nova criatura terrestre é apenas o meio para alcançar o objetivo.que o homem constrói para o Eu: o corpo imortal. Vivendo nele, o Eu mostra-se como defensor doNesse corpo específico, que se desenvolve no interior Logos, como vitorioso sobre a natureza. No corpodo corpo visível, o mundo espiritual abre-se para o microcósmico, o homem carrega e transforma asiniciado: ele vê o mundo dos vivos e dos mortos, este forças que darão forma ao corpo imortal graças aolado e o outro, e o modo como atuam um no outro. qual ele vence a morte. (...) Tudo o que as experiências(...) Finalmente, o que Paracelso, médico do corpo e da vida nos ensinam, todo o desenvolvimento da razãoda alma, cristão esotérico, transmitiu a seus alunos? e do sentimento constituem estados preliminaresPor que tentou cultivar neles a compreensão? Ele necessários ao homem que se esforça para alcançarqueria desenvolver sua visão sobre a correspondência a escola das escolas após sua alma ter deixado atrásentre macrocosmo e microcosmo, sobre a relação de si a infância e as tempestades da juventude aoentre o Logos e o Eu do homem. Fundamentada nesse longo das encarnações. Essa é a escola da luz daentendimento, nasce a compreensão da criação do natureza. Essa é a escola de iniciação em Cristo. Umamundo e do homem, do espírito e da alma, dos valores escola que Paracelso, médico e rosa-cruz, conhecedesta vida terrestre e da finalidade da vida cristã. Essa admiravelmente.finalidade, esse objetivo, é a criação do que ParacelsoPorém, no homem que, de fato, é um micro- seria necessário definir a astronomia como acosmo (um extrato do firmamento e de todos ciência das interações entre espírito e maté-os elementos) e nas estrelas do céu, a mesma ria, microcosmo e macrocosmo.força trabalha: a “influência dos planetas” está A astronomia certamente sempre teve lugarligada a um processo interior. Contudo, falar na natureza, na luz da natureza que é o mun-de liberdade para as estrelas e os seres huma- do do Pai. Paracelso estabelece uma diferen-nos não significa que haja ausência de influên- ça entre o mundo do Pai e o do Filho quecia ou de ação. Mas essa ação está inscrita “trouxe ao homem a luz da sabedoria eternanuma reciprocidade que Paracelso apresenta para que ele caminhe nessa luz”. Longe dede maneira brilhante: “Assim como os astros se excluírem, essas duas luzes se completam.exteriores manifestam sua ação no homem, Considerar a superioridade da luz eternaos astros interiores no homem exercem sua não implica desprezar a nossa natureza: aoação sobre aqueles: de fato, há uma influência contrário, é precisamente por meio de nossamútua. Os homens podem exercer os mes- natureza que podemos aceder à compreensãomos efeitos sobre Marte que Marte sobre eles, do que está acima dela. No livro A ressur-desde que não dilapidem as forças humanas. reição dos mortos, Paracelso diz que estamosAssim, os dois astros se defrontam: o homem “profundamente adormecidos, de modo queexerce tanta influência sobre o céu quanto o nada podemos compreender das coisas nemcéu sobre nós.” do próprio Deus”.Essa é uma afirmação carregada de implica- Contudo, graças à nossa filosofia, apesar deções quanto à responsabilidade do homem, nosso “sono inebriante, temos a capacidadenão somente quanto à Terra, mas também de compreender as coisas supranaturais comquanto ao cosmo inteiro. Nesse contexto, base nas naturais. Mesmo que não possamos12 pentagrama 4/2014
O sublime plano de Deus para o homem é que este seja concebido como uma semente que precisa germinar e crescer, ou seja, ressuscitarperceber o que é supranatural, tão diferente encontram sua nutrição na terra, no sereno edo natural, é-nos permitido ter um relance. na chuva que vêm do céu. Nós somos igual-Os desígnios de Deus com relação ao homem mente nutridos de modo duplo: a rosa emsão de tal modo elevados, que este deve ser nós, chamada à glória, recebe sua nutrição doconcebido como uma semente que deve ger- Alto. Nenhuma filosofia está em condição deminar e crescer, quer dizer, ressuscitar”. sondar essa segunda criação”. Deus trabalhaNosso corpo adâmico é a semente da qual ainda e sempre mediante a natureza.“ Nemressuscitará nosso corpo de glória, nascido de tudo está no eterno, nem tudo está na natu-uma ordem totalmente diferente. Paracelso reza, mas todas as coisas estão em seu lugar.”ironiza a interpretação muito literal da Assim como a humanidade inteira é chamadaressurreição da carne: “Deveríamos chegar a colaborar e a finalizar a criação, do mesmoaos céus no velho Adão, careca, encurva- modo Deus utiliza os médicos não crentesdo e desdentado? Ou meio mal-arrumados? “que curam as doenças tão bem quanto osIsso revelaria um simples rejuvenescimento, médicos que creem”, pois aos que podem ee não o reino celeste! As rosas e os lírios estão presentes cabe fazer o que deve ser fei- to”.7 Essa é uma atitude poderosa que deveria reduzir ao silêncio toda pessoa dogmática. Se algo é invisível ou incompreensível para nós, tudo depende exclusivamente de nossas faculdades de percepção: “Deus nos revela suas grandiosas obras à luz da escola da na- tureza; no entanto, não devemos nos prender à satisfação dos olhos, mas nos surpreender e examinar as coisas da natureza que os olhos não podem ver e que, entretanto, estão diante de nós, como uma coluna diante de um cego. paracelso: construtor de uma ponte entre dois mundos 13
Primeria parte de Opera Omnium, obras completas de Paracelso, editadas em 1658.© Foto de Evan Rosen, livro das coleções digitais dos arquivos da Drexel University, Item #568,http://archives.library.drexel.edu/omeka-1.1/items/show/568A abertura dos olhos é o que importa. À luz Os que se recusavam a ver sob a luz pri-da natureza fica claro que podemos observar mordial causaram muitos aborrecimentos aas coisas invisíveis como se elas fossem visí- Paracelso, o que fez dele, ao longo de suaveis. (...) Acreditamos nas obras, e devemos vida, um solitário.acreditar nelas. As obras revelam a fonte. Se A Fama Fraternitatis menciona: “Apesar de nãoelas são visíveis, embora sua origem seja invi- haver entrado em nossa Fraternidade, ele leusível, devemos saber que a invisibilidade não diligentemente o Livro M, o qual iluminouexiste senão na medida que não caminhamos seu discernimento inato. Contudo, a confusãona luz, que torna visível o invisível. (...) Cada dos eruditos e dos ignorantes impediu esse ho-coisa se revela em sua própria luz; e cada luz mem de se desenvolver melhor, de modo quefaz brilhar sua luz, que, por sua vez, desa- nunca pôde falar pacificamente com outremparece em outra luz. (...) Cristo era a luz do de suas reflexões sobre a natureza”.mundo, mas era invisível, pois ele não era um Com efeito, os cientistas e os falsos eruditoshomem, o que demonstram suas obras. Os que achavam Teofrasto estranho, o que fez queveem em sua luz caminham com um brilho ele dissesse: “Como poderia eu não sê-lo parasuperior ao das estrelas do firmamento. (...) alguém que jamais caminhou ao Sol?”.9 µAssim, tudo tem sua própria luz, e para quemse recusa a ver sob a luz primordial, as formas Elise Wolfram − Paracelsus– eenRozenkruiser. De Woudezel 2013. Elkeinvisíveis são semelhantes a uma montanha nasombra da noite”.8 Bussler dedicou-se a traduzir e editar livros de Paracelso e sobre Paracelso. (w w w.woud e ze l . nl )14 pentagrama 4/2014
Paracelso: Eu vos digo que absolutamente não vi Paracelso: Cristo ensinou a sabedoria eterna e nelaos profetas nem jamais um apóstolo. Mas tive sob os envolveu a alma. Se a imagem de Deus se volta para oolhos seus escritos, reveladores da sabedoria eterna. reino de seu Criador, é lógico abandonar a sabedoria deTorna-se claro para mim que a luz da natureza não menor valor para adotar a superior. Mas, do mesmo modopode alcançá-la: ela é apenas um degrau. Os profetas que eu redijo um livro à maneira de um pagão, emborativeram presságios que, para um astrônomo, são seja cristão, um pagão pode caminhar na luz da natureza eirrealizáveis; os profetas curaram doenças que, se- experimentar alegria no Pai sem no entanto ir ao encontrogundo a arte de curar, eram incuráveis. Comparar um do Filho, assim como o Pai não vai ao encontro do Filho.astrônomo aos profetas é como comparar um médico Porém, a sabedoria de Cristo ultrapassa toda a sabedoriaaos apóstolos. Que médico poderia trazer mortos à da natureza. Devo também admitir que um profeta falavida? E que astrônomo fala como Davi falou? A arte de melhor que um astrônomo e que, no tempo de umacurar é falível, os apóstolos não; o astrônomo é falível, hora, transmite mais verdade que todos os astrônomosos profetas não. É por isso que eu somente falo dos reunidos; e que um apóstolo pode compreender mais damortais à luz da natureza, contrariamente à sabedoria verdade que todos os magos. Porque, quem pode resistir àde Deus, que ultrapassa tudo... escola que fala em línguas de fogo?1 Speckner,Rolf: Elise Wolfram em 6 Paracelso: Wat ons ziekenge zondmaakt (O que nos tornahttp://biographien.kulturimpuls.org /detail.php?&id=793. doentes ou sadios) − Volumen paramirum, De Woudezel, 2004,2 Wolfram,Elise: De occulteoorzaken van ziekte (As causa ocultas p. 55.das doenças), ed. Servire, Den Haag. 7 Paracelso: Wat ons ziekengezondmaakt (O que nos torna3 Paracelso: Liber de officiis et stipendiis, in: Neu Paracelsus- doentes ou sadios), id., p.211.Edition, Theologische Werke I, ed. Urs Leo Gantenbein, Berlim/ 8 Paracelso: De causis morborum invisibilium (As doençasNew York, 2008, p. 231. invisíveis e suas causas), 1531-32, in Sämtliche Werke, Abteilung I:4 Paracelso: Waarneming en zintuigen (Percepção e sentido), in: Medizinische, naturwissenschaftlicheund philosophische SchriftenDeixai cada um ser seu próprio rei, ed. De Woudezel, 2010, p. (Escritos de ciência médica, do físico natural e da filosofia), ed.321. Karl Sudhoff, IX, pp. 253-254.5 Paracelso: De elementen − moeders van de wereld (Os elemen- 9 Paracelso: Sulfur, mercuur, sal − de oerkrachten van de wereldtos na origem do mundo), ed. De Woudezel, 2014. (Enxofre, mercúrio, sal – as forças primordiais do mundo), ed. De Woudezel, 2014. paracelso: construtor de uma ponte entre dois mundos 15
considerações deum iniciadoVIVENCIEI A SEGUINTE EXPERIÊNCIA EM MINHA CONSCIÊNCIA:1 Minha consciência testemunhou uma confiança ignorantes acusarão esse homem: “Ele está entre inabalável em Deus. nós. Come, bebe e dorme como um de nós. Mas age diferente de nós. Ele fala de uma nova2 Minha consciência revelou que existe uma justiça vida. Ele dá testemunho de uma Gnosis que não gnóstica, à qual cada candidato pode se elevar. se refere a nós e que nós não conhecemos. Ele não conhece Deus. Para ele, Deus não existe e a3 Agora, minha consciência sabe que existe uma vida é uma ilusão. E se a Gnosis existir, é certo força gnóstica que toca meu ser natural e que, que ela abandonou seu seguidor. Persigam‑no, com base nessa força, posso viver, trabalhar e prendam‑no! Porque não há salvador nenhum e agir por ela nesta natureza. Minha consciência ele só traz perturbação!” está sentindo essa força agora mesmo e tem 12 Por isso, termino meu cântico de consciência certeza dela. com um pedido: Ó Gnosis, graça maravilhosa, não Te afastes de mim!4 Minha consciência sabe que é essa força que irá 13 Deixa que eles se envergonhem! Salva-me, por me libertar das garras da natureza. amor do teu nome.5 Descobri uma coisa maravilhosa: essa possibili‑ Este não é meu grito de angústia, mas sim o tes- dade magnífica está dentro de meu ser desde a temunho de minha esperança. Meu cântico de minha mocidade, mas foi quase completamente consciência surge da Unidade. É a prova de que suprimida. quem pode cantar essa canção a partir do seu imo, mediante a proteção do grupo na Gnosis,6 Sim, antes mesmo de meu nascimento, o ele‑ trará segurança a todo o sistema nervoso duodé- mento libertador se encontrava presente. Afinal, cuplo, a fonte que brota da consciência. Desde não estou unido existencialmente à origem do o dia de manifestação anterior, há um grande meu microcosmo, à rosa do coração? grupo de libertos. É um grupo que não deixa os buscadores à sua própria sorte, porque não7 Por isso, tu és o meu refúgio, ó rosa do coração! se volta para sua própria salvação. A salvação8 Que os meus lábios proclamem, diariamente, já existe, e a autoafirmação não faz parte dela. Esse grupo se dirige aos que buscam a liberta- o teu louvor. Que eu me conscientize cada vez ção. Com ele, vêm seus embaixadores, profetas mais da tua glória. e iluminados, chamando. Quando, mediante9 E assim acrescento minha humilde prece: Sei necessidade interior, os que foram chamados que, apesar de ser um portador de imagem, encontram o caminho para o alto e formam um sou um ser finito, uma criatura mortal cuja grupo, basta que se unam à comunidade univer- vitalidade se esvai, e que cada vez mais serei sal, que se juntem a ela como novo elo de uma menos capaz de realizar teu serviço. Não me corrente. Dessa forma, a comunidade universal rejeites quando minha capacidade de trabalho de almas libertas adquire cada vez mais força, diminuir! poder, esplendor, sublimidade. E o caminho de10 Estou claramente consciente de que devo utilizar ascensão das almas livres, de período a período, corretamente cada segundo, pois as velhas forças torna-se sempre mais fácil. µ fazem de tudo, de acordo com a sua natureza e o meu ser natural, a fim de impedir meu desenvol‑ vimento,e fortalecer meus grilhões.11 Quem não possui Deus não o conhece. Com base nesse estado de ignorância, a outra pessoa, aquela que de fato possui a Gnosis, será alvo de críticas e julgamentos. A partir desse estado, os16 pentagrama 4/2014
Iniciados e sacerdotes do templo de Ísis, na cidade de Herculanum considerações de um iniciado 17
reflexões deum participanteA ESCOLA E VOCÊ, VOCÊ E A ESCOLAOfato de nos tornarmos participantes da vida: crescimento; maturidade; passagem para a Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, idade adulta! com o objetivo de transcender a nós Basta lembrar essa fase de tensões e o impactomesmos, suscita um questionamento interior que permaneceu em nossa personalidade:muito especial, devido ao constante contato dominados pela autoridade dos pais, lutávamoscom nossa própria incapacidade. para nos libertar. Mais tarde, tornamo-nos adultos e responsáveis por outras personalidades emO CONFLITO INTERIOR O imenso sentimento de desenvolvimento!unidade que logo no início toma conta de nós, Todo esse jogo consiste em encontrar umlogo é substituído por uma sensação de pequenez, equilíbrio entre a necessidade de dependência ede vazio. Depois vem a confrontação consigo o desejo da independência para, por nossa vez,mesmo, algumas reviravoltas, diversos imprevistos, testemunhar a afeição aos outros, oferecer-lhescom possibilidades libertadoras que permanecem segurança, educando-os e acompanhando seumuito tempo incompreendidas e que, depois acesso à própria autonomia.de um longo processo de crescimento interior, Estar pronto para o caminho da libertação exigedesvelam que é desse modo que pode ser realizado um intenso desejo de salvação, mas também umao processo de purificação e de libertação. Isso personalidade amadurecida e realizada no planopermite resolver o conflito entre o sublime em nós mental, cuja experiência de vida permita que elae o que é um obstáculo para esse sublime. assuma o desenvolvimento da alma.A PERSONALIDADE SE COLOCA EM SEGUNDO REAL AUTORIDADE PESSOAL...? Quem tem aPLANO? No início, somos impulsionados por pretensão de dizer que é realmente adulto? Quemuma aspiração interior que nos eleva, mas baseada é independente, autônomo e capaz de decidirnaquilo que somos: uma personalidade no mundo seu caminho pessoal, apesar das influênciasda queda. Nessa fase, essa personalidade se situa exteriores? Quem se conhece o suficiente, quemem primeiro plano, embora, desde o início, ela conhece as possibilidades e obstáculos da vidaseja chamada a se colocar em segundo plano para humana? Pois bem: quem conhece tudo isso édar lugar ao que lhe é superior, ou seja, a alma. um ser humano maduro e adulto, convidado aO resultado da transformação faz nascer o novo percorrer o caminho da libertação, o caminho dahomem. Na prática, não fica muito claro esse entrega de si mesmo!“desaparecer e renascer sem reservas”. Por debaixo da denominação “adulto amadu-No decorrer desse processo, desencadeia-se recido”, nos planos mental e emocional, muitasuma série de reações, e, muitas vezes, surgem vezes se esconde uma ausência de verdadeirosemelhanças com o passado de nossa própria autocontrole. E por acaso não somos todos,18 pentagrama 4/2014
apesar de todas as nossas mais nobres aspirações, criança e a protegem contra o frio exterior. Aessa criança imatura, o homem primitivo atenção recebida do ambiente parece como umimpulsionado por seu instinto de sobrevivência, reconhecimento de seus próprios valores e dig-superindividualizado e egocêntrico? nidade. Nesse ponto, ainda falta o discernimento entre o amor humano imperfeito e o amor divinoA ESFERA PESSOAL RESTRITA No interior desse que cura impessoalmente. Uma palavra enviesada,conjunto complexo e caótico, somos levados a fazer um irmão ou irmã que não tem tempo paraa escolha da autoentrega com toda liberdade. O escutar nossas lamentações... e já nos sentimosdesenvolvimento do homem espiritual geralmente totalmente desamparados. Ah, como o grupo éé mal compreendido, deformado em proveito da frio, sem coração! Acabou-se o entusiasmo. E lápersonalidade. Assim, diante daquilo que é comple- vem chegando a amargura!tamente novo, diferente, reagimos com resistência,na maioria das vezes inconscientemente, caindo de OBEDIÊNCIA E LIBERDADE Também podevolta nos velhos padrões de comportamento. Dessa acontecer outro caso, que corresponde, destaforma, tomamos consciência de nossas tendências vez, ao aspecto paternal: queremos responder àsquando elas nos aparecem de modo mais intenso exigências do grupo, baseando-nos na obediênciaem uma pessoa que, de acordo com nossos valores, pessoal e então nos impomos severas leis. Somosconsideramos desequilibrada. Como diz Terêncio, exemplares! Aprendemos de cor todas as regras e“Nada do que é humano é alheio a nós!” mandamentos. E, claro, achamos que seria lógico ter uma recompensa. Em caso de falha, ficamosAFETO MATERNAL Vamos imaginar que, quando com medo de ser punidos. Tensos, dobramo‑noscriança, alguém não pôde crescer em segurança. totalmente às normas sociais e coletivas própriasSua alma natural sofreu um ferimento e isso se do grupo. E, com certeza, em caso de fracasso,expressa por uma supersensibilidade ao amor, nasce a culpa.um caráter facilmente influenciável, até mesmo Começamos a sentir certa falta de liberdade.enlevado. Como se nenhum amor humano Queremos acabar com essa opressão, livrar‑nospudesse preencher esse vazio interior. Desse desse jugo doutrinário e moral, mesmo quemodo, essa pessoa percebe a ligação com uma inicialmente tivéssemos sentido que estávamoscomunidade espiritual como um banho de afeto ligados simbioticamente com tudo isso.maternal, uma plenitude vivida no contatocaloroso e compreensivo do grupo. O COMPORTAMENTO REACIONÁRIO É muito fácil confundir a exigência de autono-O AMOR PRÓPRIO E O DISCERNIMENTO Essa mia e independência com a ideia “cheguei atéligação e esse calor aplacam a imensa sede dessa continua na página 21 reflexões de um participante 19
IMAGENS DO MUNDO Na “porta oriental” aparece o Sol – essência da bondade e energia incomparáveis – carregado pelos sete espíritos, pela Luz, pela vida e pelo núcleo de consciência de nosso cosmo, porta aberta para a esfera de vidaespiritual do homem original, que é sua imagem imutável e absoluta: assim como é em cima, assim é embaixo.20 pentagrama 4/2014
Uma palavra atravessada... e ficamos totalmente desamparados.Ah, como o grupo é frio, sem coração!E acabou-se o entusiasmo!continuação da página 19 outras pessoas a atenção e os conselhos que nos faltaram, ou os que nos sufocaram.aqui sozinho e não preciso de ninguém para me Então, comportamo-nos como pessoas pedantes:ensinar como devo viver!” Por trás do discurso damos nossas opiniões sem sermos solicitados, ede livre-construtor e de liberdade interior, assim por diante. Nosso comportamento passa aesconde-se a teimosia do adolescente e a incapa- ser a verdade à qual os outros devem se curvar.cidade de se adaptar livremente à vida de grupo Essas atitudes são influenciadas pela responsabili-com medo de perder a liberdade de ação. dade pessoal que julgamos ter em relação a cuidarUm individualismo exagerado começa a julgar a da vida dos outros.estrutura do grupo ultrapassada, conservadora.Então, os outros passam a ser tidos como rivais ESPELHOS PARA AUTORRECONHECIMENTOcom os quais levamos adiante discussões sem Podemos reconhecer-nos nesse esboço defim, ou pessoas que nos impedem de mudar essas resistências pessoais e até mesmo estender bastanteestruturas. Em seguida, uma amostra de crítica essa lista. No mínimo, ela serve para incentivar ovolta-se contra tudo o que nos incomoda e faze- autoexame para que conheçamos nosso comporta-mos caricatura de tudo. Nesse ponto, a emoção mento em grupo, os motivos de nossa estagnaçãotambém pode nos fazer balançar entre a solidão em determinada fase, e como, nesse grande jogo,e a autocrítica tão facilmente, que confundimos confortamo-nos uns aos outros em nossos papéiso estado de Efésio – o sentimento espiritual de como personalidades. No entanto, existe a possi-se sentir estrangeiro neste mundo – com um bilidade de aprendermos e de nos considerarmossentimento pessoal de rejeição e ingratidão. espelhos nos quais os outros são um auxílio nesse processo de autoconhecimento.A AMBIÇÃO DE FAZER TUDO CERTO A perso- É assim que ultrapassamos os obstáculos pessoaisnalidade que se diz adulta pode continuar a nos para transcender definitivamente.iludir durante todo o tempo de seu crescimentointerior – e como é difícil de enxergar clara- ENTREGA TOTAL Um grupo gnóstico representamente isso! um convite para não permanecermos no nívelO fato de saber que somos responsáveis e pessoal. Isso é possível graças a um processo dedecididos caminha lado a lado com nossa desenvolvimento da alma que transcende o queambição pessoal. Nossa tendência de assumir é pessoal. No momento em que o que é essen-papéis, maternal ou paternal pode desenvolver cial vem à tona, encontramo-nos no própriouma propensão para auxiliar, uma espécie de cerne da missão espiritual: a total autoentrega.compensação, porque, muitas vezes, na infância, Diante de nós mesmos, conscientemente, somostivemos de resolver nós mesmos como nos capazes de já não enxergar a personalidadecomportar, talvez por falta de exemplos adultos.Queremos, a todo custo, oferecer amplamente às reflexões de um participante 21
William Blake A escada de Jacó, 179922 pentagrama 4/2014
Quem tem suficiente autoconhecimento para percorrer efetiva-mente seu caminho de libertação, um caminho de autoentrega?como um obstáculo, pois já nos distanciamos os meios da antiga personalidade, o buscadordela. Esse paradoxo somente pode ser vivencia- se entrega à autoridade e à atividade da novado quando aceitamos, por um lado, plenamente alma, transfigurada.essa personalidade e, por outro, quando acei-tamos as outras pessoas como são, sem querer O CAMINHO QUE LIBERTA O GRUPO Certamentemudá-las. A Gnosis, o amor divino, destina-se a o buscador caminha sozinho. Mas, ao mesmouma realidade de alma que ultrapassa as limi- tempo, ele atravessa o deserto em grupo. Assim, otações do indivíduo. Diante da personalidade, grupo serve ao indivíduo em sua ascensão espiri-a Gnosis é neutralidade e amor. Ela ignora o tual, tornando o caminho concreto e sem perigo,que faz parte do âmbito pessoal, uma vez que a permitindo que ele cresça em autodeterminaçãopersonalidade não pertence ao mesmo campo de e em atividade autônoma. Cada grupo demonstravida. Para a personalidade, o campo de vida da aspectos coletivos próprios que necessitam serGnosis é inacessível. Quem vive da Gnosis pode transmutados. O que importa é a capacidade doconservar a mesma neutralidade consoladora em grupo de se tornar uma ferramenta concreta comorelação à sua própria personalidade e à persona- uma comunidade de almas unidas entre si. Serálidade dos outros. que a personalidade do grupo pode ser transfor- mada graças a seu corpo vivo?A LIBERDADE INTERIOR DA ALMA A neutra-lidade é um testemunho do respeito sagrado A TRANSFORMAÇÃO DO GRUPO Devemospor sua própria autonomia e pela autonomia levar em conta, sempre, as particularidades dessadas outras pessoas: por suas próprias possibi- personalidade do grupo, vivendo sua realidadelidades, suas restrições e as dos outros, por com paciência e precaução, pois a forma exteriorsuas feridas, por suas falhas. Trata-se de um da personalidade do grupo é diferente da essênciarespeito, sobretudo, pela liberdade interior, da alma do grupo. É que existe uma diferençajá sabendo que a personalidade é nosso imensa entre um grupo concreto e o Espíritoinstrumento indispensável, mas que somos Universal que nele se manifesta com o objetivo debem mais do que isso. Verdadeira liberdade e transformar esse grupo pouco a pouco.autodomínio jamais seriam características da É em grupo que buscamos entregar nosso eu parapersonalidade, mas sim da alma renascida. A seguir a corrente do devir libertador universal.personalidade não adquire essas qualidades Isso representa um processo ao mesmo tempocom base em um aprendizado: elas vêm à tona individual e coletivo. O grupo é formado comquando essa personalidade e suas zonas som- sucesso graças aos indivíduos que nele trabalham.brias são reconhecidas e abandonadas. Depois E cada membro que dele participa somente podede ter caminhado durante muito tempo com chegar a bom resultado graças ao grupo. µ reflexões de um participante 23
sobre talismãs eo bem únicoO programa de televisão “Utopia”, que se parece um pouco com ‘‘Big Brother’’ passa tantonos Estados Unidos quanto na Holanda. Quinze pessoas passam pelo desafio de imaginare construir uma sociedade ideal – e isso em um ano e a partir do nada. No decorrer dessaexperiência social, os participantes propõem-se a construir uma existência completamentenova. Tudo deve ser determinado pelo grupo: regras, leis e relação de forças. Eles só têm àsua disposição um hangar, um espaço de terra, alguns animais, e um telefone...Trará o novo reality show holandês a chave descrição da cidade imaginária de para a questão: sociedade ideal ou caos? Christianópolis. Haverá câmeras suspensas por todo J. van Rijckenborgh consagrou a essa obracanto, de modo que os inúmeros espectadores inúmeras reflexões, esboçando um caminhopossam seguir o desenrolar dos acontecimen- rumo “à mais elevada realidade”. O peregrinotos em tomadas ao vivo pela Internet. que chega a essa cidade, ou melhor dizendo, aNa verdade, o sucesso do projeto não vai essa república, tem de abandonar tudo o quedepender daquilo que os participantes irão está em desarmonia. Ele sente sua entrada naconstruir ou conquistar. Não: vai depender cidade como um retorno a um campo de vidada audiência e do sucesso dos debates vibrante, de uma ordem mais elevada.públicos. O risco assumido é, portanto, que É o caminho para a “Jerusalém celeste”,a transmissão gere mais um caos do que a cidade que devemos buscar – não fora deelaboração de um ambiente ideal. nós, mas sim em nosso interior.Em seu livro Utopia, o humanista Thomas Na literatura utópica, como acontece naMore descreve um estado socialista situado construção concreta de uma nova cidade ouno “país de lugar nenhum” (tradução literal bairro, está presente o desejo de criar umade U-topia). Trata-se de um lugar inacessível, sociedade melhor. Tentamos construir essamas para o qual deveríamos nos dirigir, pois, cidade levando em conta vários princípiosnessa sociedade “ideal”, o interesse comum cósmicos. Com relação a isso, alguns franco-está acima do interesse pessoal, e a tolerância maçons, principalmente, utilizaram seué sua característica essencial. Referindo-se conhecimento da arte da construção paraà religião de Utopia, Thomas More escreve: edificar cidades de acordo com modelos“A ilha comporta diversas religiões. Há e plantas das cidades e dos templos doutopianos que adoram o sol, outros a lua antigo Egito. É o caso de Washington, Paris,ou um dos planetas. Também há aqueles Bruxelas, entre outras.que veneram uma personalidade do passado No antigo Egito, as cidades e os templosque foi excepcionalmente boa ou célebre.” sagrados refletiam uma ordem cósmicaMuito racionais, a maioria dos utopianos não superior, como no templo de Edfu, onde foicrê nesse tipo de deuses, mas sim em um registrado: “Assegurarei que o comprimentoser divino oculto, eterno, incomensurável, do templo seja bom, a largura exata, asinsondável que, de maneira sobrenatural, está medidas conformes, os santuários nos locaisonipresente no mundo. indicados, e as salas à imagem do céu”.Johann Valentin Andreae também escreveu Os textos herméticos também mencionamuma utopia: a Republicae Christianopolitanae, essas relações. Assim, a leitura do Kore Kosmu24 pentagrama 4/2014
Takezawa Korefusa. Pintura em seda representando um talismã. Período Edo, Japão, 1800 sobre talismãs e o bem único 25
(A Virgem do Mundo) indica como as forças e alcançariam “a sabedoria”. Assim, graças àdo alto operam aqui embaixo. “Embaixo, sua concepção justa, um edifício se tornavao mundo inteiro é ordenado e preenchido uma orientação mágica precisa, um núcleo deintencionalmente pelas coisas do alto, pois energia cósmica, um meio para se chegar àas coisas daqui de baixo não têm o poder de Gnosis. Considerado co-construtor, o homemordenar as coisas do alto. Os mais ínfimos deveria realizar a criação com o Deus Único.mistérios precisam, portanto, submeter-se aos No antigo livro egípcio que trata da Douâtmais elevados.” (O Livro dos Mortos), lemos: “Aquele que faz uma cópia precisa dessas formas, comTALISMÃ, RÉPLICA MÁGICA Vamos abordar toda consciência, demonstra um espíritoum aspecto interessante dos ensinamentos esclarecido, tanto no céu como na terra.herméticos: Essa magia hermética demonstra Aquele que fizer uma cópia delas na terra,que podemos encontrar na Terra coisas com conhecimento de causa, poderá servir-sevisíveis do céu sob a forma de réplicas delas como uma proteção mágica, tanto nomágicas. Os herméticos, assim como os céu como na terra.”egípcios da Antiguidade, pensavam que as No entanto, para os egípcios herméticos,pessoas podiam utilizar certos objetos, tais as réplicas, ou talismãs, não constituíamcomo cristais muito magnéticos, para se certamente um fim em si. Na verdade, elesproteger ou alcançar uma compreensão mais não aspiravam a um paraíso na Terra: suaselevada, favorecendo, assim, o encontro entre moradias, e até seus palácios, eram feitoso aspecto mais baixo e o mais elevado do ser de argila e de palha. Por outro lado, eleshumano. erigiam seus templos e sepulturas dos reisDessa forma, o caduceu de Hermes é o com pedras bem duras e talhavam os blocossímbolo de uma serpente que se eleva até da inalterável rocha de Tebas.a fronte – como ilustram as representações Sempre havia essa dicotomia entre o céu edos faraós –, sinal de que o mal foi vencido, a Terra, entre o espírito e a matéria, entre asurgiu uma nova ordem, e a iluminação se alma e o corpo. O objetivo último era ver,completou. reconhecer Deus-Osíris... e tornar-se ele!Nos ensinamentos herméticos, assim como Hermes diz: “Aquele que conseguiu adquirirem todo o antigo Egito, ensinava-se que as com sucesso o conhecimento das coisas, estácidades e os edifícios deviam ser construídos preparado para fazer de si uma representaçãoà imagem do céu. Reproduzindo essa per- exata de Deus... No entanto, meu filho, éfeição na Terra, os habitantes dessas cidades impossível a alguém que ainda se encontra noseriam naturalmente levados a fazer “o bem” corpo alcançar essa felicidade. Por toda a sua26 pentagrama 4/2014
Os herméticos do antigo Egito pensavam que os cristais, por serem profundamente magnéticos, pudessem servir para autoproteção ou para alcançar uma compreen- são mais elevada. Talismã em forma de esfinge, pertencente a Napoleão Bonaparte, 1802vida, o homem terá de carregar sua alma, de “E assim Deus formou o homem da subs-tal sorte que, estando na terra, não perca o tância do espírito e da substância do corpo,caminho que leva a Deus antes de chegar ao misturando as duas substâncias na medidaoutro mundo, em estado de poder vê-lo”. certa, de tal modo que a criatura formada estivesse preparada para satisfazer as exigên-DIFERENÇAS DE OLHAR Verif icamos que há cias dessas duas origens – em outras pala-diferenças de expressão e de comportamento vras, pronta para venerar e adorar as coisasde vida entre os mestres herméticos e os celestes e, ao mesmo tempo, ocupar-se dasantigos gnósticos. Essa diferença pode ser coisas terrestres e administrá-las”.observada principalmente em sua concepção Os textos herméticos preconizam quede dualismo – ou seja, a dualidade entre o precisamos utilizar o dom espiritual paraespírito e a matéria. O gnóstico tem certa receber a Gnosis, o conhecimento interior,aversão pelo mundo, pelas aparências e a sabedoria intuitiva. Asclépio chega a dizerpelo corpo, por causa da corruptibilidade, que a parte divina do homem é constituídaignorância e instabilidade que apresentam. por: “espírito, intelecto, alma e a razão,O mal causado pela queda habita cada corpo que fazem que o homem seja diferente dase toda a humanidade. O corpo – isto é, a outras criaturas: ele é duplo, ou seja, mortalencarnação – era visto como uma prisão e imortal.”humilhante para a parte divina do homem; Na Escola Espiritual, somos colocados diantee este campo de vida da natureza, como tanto da visão gnóstica como da visão hermé-ímpio e modelado por um segundo criador: tica. Nesta Escola, os alunos têm, portanto,o Demiurgo. ideias diferentes. E, em cada um de nós, essasJá os herméticos tinham e têm um olhar mais duas concepções diferentes se apresentampositivo sobre a criação e sobre o lugar do alternadamente. Às vezes, sentimo-noshomem no interior dessa criação: ligados à sobriedade da vida dos cátaros e dos bogomilos, e temos uma experiência sublime que nos reaproxima da natureza superior e nos faz sentir esta ordem de natureza como uma natureza morta, um mundo de opostos, uma dialética! Outras vezes, rejubilamo-nos intensamente por receber uma nova compreensão, graças à observação e ao estudo de nossa natureza. Este campo de vida torna-se, então, uma sobre talismãs e o bem único 27
escola na qual nossas ref lexões sobre a “A razão espiritual vivif ica a ideia; a razãonatureza de nossa existência podem nos da alma inspira e esclarece a ideia; e a razãoelevar. E, quando compreendemos esse algo biológica realiza a ideia.”que, na realidade, ultrapassa as possibilida- Um bom construtor a serviço do Grandedes de nossa inteligência usual, isso provém Arquiteto deve ser capaz de elevar-se acimada consciência da Alma! Nem mesmo nossos da razão biológica, não a rejeitando comogrão-mestres se limitaram a uma concepção inútil, mas empregando-a da maneira correta.exclusivamente gnóstica, ou exclusivamente O buscador pode tornar-se o construtor dehermética. Em todas as suas obras, eles uma obra muito especial que lhe permitirádestacam o que há de universal e que vivenciar diretamente sua ligação com oressoa tanto em uma visão como em outra. Pai e sentir como a compreensão espiritualA respeito desse dom do espírito, J. van vai ao encontro do Espírito de Deus. E,Rijckenborgh escreve, no livro O mistério nesse encontro, ele pode sentir a “paz quedas bem-aventuranças, no capítulo intitulado ultrapassa todo entendimento”. Então,“Bem-aventurados os pacif icadores”: compreendemos melhor que tipo de força“Poderemos compreender o que ultrapassa pode emanar do mantra, da fórmula mágica:nosso entendimento? Sem dúvida é possível “A paz esteja convosco! Bem-aventuradose até mesmo indispensável que o buscador os pacificadores, pois eles serão chamadosque deseja um dia ser chamado Filho de Filhos de Deus.”Deus se eleve acima de sua razão, acimada consciência racional de seu cérebro. O A CONSTRUÇÃO DA IDEIA O que é construí-que costumamos chamar de “razão” nada é do, desse modo, com o auxílio da fórmulasenão a faculdade de compreensão e discer- mágica? Qual é a ideia espiritual que énimento da consciência eu. animada e realizada? Estamos construindo(...) Contudo, saibamos que a consciência um corpo vivo, um campo de força e umcomum é um elo de uma corrente de três. A campo de luz. O objetivo é nos ligarmos aorazão do homem possui três focos, dois dos campo de radiação da Gnosis. Não estamosquais estão latentes na maioria das pessoas. edificando uma sociedade ideal, mas sim umHá uma razão do espírito, uma razão da alma grupo unido e animado por um novo alento.e uma razão biológica.” Em primeiro lugar, construímos nossosEm seguida, o autor explica que pensar templos e nossos centros de conferência; alémcom o coração diz respeito à razão da alma, disso, jovens e menos jovens, participamos,e, que conhecer a paz que ultrapassa todo de múltiplas maneiras, de outros aspectos doentendimento refere-se à razão do espírito. edifício invisível, a Casa do Espírito Santo.28 pentagrama 4/2014
Estamos construindo um corpo vivo, um campo de luze força, a fim de nos ligarmos ao campo de radiaçãomagnética da GnosisAssim, como co-criadores, estamos cons- graças ao nosso empenho, nossa orientaçãotruindo e mantendo um campo protetor de e nossa vivificação que nossa Escola deenergias elevadas! Mistérios pode se manifestar na matéria. No fundo, esta Escola é, ao mesmo tempo, umaNOVEROSA, UM NOVO TALISMÃ Depois de ter comunidade de trabalho e uma comunidadepassado por profunda renovação, aconteceu de aprendizagem. “Obreiros”: esse é o nomeno dia 24 de janeiro deste ano a inauguração que nos damos – atuando no Trabalho dado centro de conferências de Noverosa. Juventude, no Trabalho Público, nos núcleos,Muita energia e entusiasmo permitiram o re- centros e nas salas de contato.nascimento, como uma fênix, de um edifício Tudo isso, dentro de um padrão de estarquase inteiro. Esse lugar realmente muito sempre disponível, em autoesquecimento aespecial é um oásis de luz e alegria, um serviço dos outros – o que, como dizem osespaço onde reina a simplicidade em meio a grão-mestres, constitui “o caminho maisum ambiente sempre mais complexo. É um curto para Deus”.local de encontro em unidade de grupo. Noverosa, vista como um novo talismã,Novamente nos é feito um chamado, a como uma proteção, como uma possibilidadenossos poderes hermético-mágicos e ao de enxergar o abstrato encarnar-se diantenosso zelo, tendo em vista a manutenção e de nós, deveria tornar mais tangíveis asa administração dessa construção visível e “coisas do céu”. Com nossos poderes atuais,invisível. É realizado um chamado à nossa deveríamos poder ir até mais longe que ossustentação durante as conferências que antigos egípcios.se tornarão frequentes durante este ano. Empreguemos o mais abstrato poder do pen-Conferências do Trabalho da Juventude, samento para preparar nosso talismã, comoconferências temáticas, conferências de o fizeram os rosa-cruzes clássicos, que viamprimeiro encontro, conferências familiares e em Cristão Rosa-Cruz o protótipo do ho-simpósios de um ou dois dias: no total, mais mem original, um ser divino. Desse modo,de vinte e cinco atividades. Podemos ver eles formaram uma imagem concreta doNoverosa como uma manifestação na matéria microcosmo, e em seu interior vivenciavamda Christianopolis invisível. E é somente todas as forças, que também se mostravam sobre talismãs e o bem único 29
operantes e construtivas no macrocosmo, no além das limitações de todas as coisas. Ele teuniverso. “Deste compêndio do Universo f iz concede a vida eterna, que tem um começopara mim, em vida, um sepulcro.” ou não, e que, no entanto, dura eternamente. Desejas contemplar o Bem?”VOCÊ GOSTARIA DE CONTEMPLAR O BEM? A razão espiritual, ela sim, pode sentir aContinuando com nossas reflexões, podemos alegria desse Bem, e o desejo imenso erepresentar nossa unidade de grupo como incondicional de nossa alma-espírito nosalgo bem real e não apenas como uma indica o caminho. O corpo, com a com-ideia abstrata, ou como uma possibilidade preensão que lhe é própria, não passa de umeventual, ou como algo que existe, mas que servidor no sistema: ele já nada aspira senãocolocamos fora de nós. A unidade de grupo é fazer o bem. Não há nada que nos dê umuma realidade concreta: podemos mostrá-la, sentimento de liberdade maior do que essasenti-la como algo vivo, reforçá-la, ampliá-la. inclinação para o Bem. Nossa aspiração estáPodemos e queremos protegê-la conscien- voltada para todos porque nos afeiçoamos atemente, pois ela é o que juntos buscamos, esse Bem que está em tudo e em toda partereconhecemos e respeitamos. – e já nada desejamos além dele. QuemSe de tempos em tempos nós já não pode compreender essa morte viva pelaconseguimos senti-la, então logo a reencon- qual, morrendo em nós mesmos vivemos emtramos, pois temos a necessidade de vê-la Deus?! Pela qual morremos para a naturezaconfirmada – sim, selada magicamente. da morte e vivemos para a vida, saboreandoPodemos comprovar essa unidade de grupo, intimamente tanta vida e alegria?!que buscamos vivenciar, por meio do se-gundo núcleo de nossa razão: a inteligência Ó êxtase que transcende os sentidos!da alma. Ó bem-aventurança que é maior do que o nossoAo percebermos dentro de nós mesmos que coração pode conceber.ela é possível, podemos ir mais longe com Ó alegria que ultrapassa nossa compreensão! µnosso poder de pensamento abstrato. É queessa energia da unidade de grupo é funda-mental em nossa Escola!Em grupo, podemos contemplar “o Bem”,como Marsílio Ficino: “O Bem Absoluto éteu criador, ó alma, e não um bom corpo ouuma boa inteligência, mas o Bem em si. OBem é autossuficiente, infinito e se situa para30 pentagrama 4/2014
IMAGENS DO MUNDO No campo de desenvolvimento terrestre original, a dialética santa, aparecem as criaturas humanas – a glóriae alegria do Altíssimo. Elas são ao mesmo tempo homens-mulheres – eles e elas – unos em sua manifestação bipolar. Sua palavra tem poder. William Blake, em sua pintura, representa‑os de acordo com a palavra daBíblia, quando Adão dá nome aos animais e Eva, aos pássaros. Adão: o espírito, o pensador, o que contempla as sete forças do Espírito e que organiza tudo no cosmo solar. sobre talismãs e o bem único 31
natureza – cultura – sabedoriaÉ consenso geral afirmar que a civilização traz elevação ao ser humano. A busca por umacondição de vida melhor, superior, é inata no homem. A fome e a sede fazem-no procurar, aprincípio, alimento e bebida. Assim que essas necessidades vitais são satisfeitas, ele quer mais.Além das posses materiais, ele aspira à cultura, a viver em um sistema de valores seguros, aadotar usos e costumes. Ele procura cooperar com os outros, comunicar-se. É assim que sedesenvolvem as trocas entre os povos, as redes comerciais e a civilização propriamente dita.E sse desejo de elevação é inerente às religiões. a crítica literária do livro The Fall – A Queda –, Todo homem saberá um dia que ele é, na sua de Steve Taylor, na revista Pentagrama 1-2013, essência, um deus, herdeiro e cooperador da páginas 14 a 18). criação. E, até mesmo quando tivermos esquecido Assim, a cultura encontra-se diametralmente do seu fundamento atemporal, esse conhecimento lado oposto ao da natureza. Essa confrontação interior se traduzirá, no entanto, em nossa visão é magnificamente ilustrada na antiga epopeia “científica” do mundo moderno. Pois não é o ho- mesopotâmica em que Gilgamesh, representa a mem que atribui a si o direito, o dever de utilizar cultura humana e Enkidu, a natureza humana. todos os recursos naturais, de transformá-los, para Enkidu, o selvagem, torna-se citadino; Gilgamesh, aperfeiçoar a natureza? Para alcançar esse objetivo, o civilizado, deixa a cidade e parte em busca do ele passa por grandes dificuldades, trabalha ardua- sentido da vida. Sua viagem aos limites do mundo mente e espera que os outros façam o mesmo. liberta-o de suas imaginações errôneas, pois logo Mas ser “civilizado”, com todos os encargos e fica comprovado que é errado pensar que a solu- obrigações que isso comporta, pode se revelar ção é voltar para a natureza. árduo, verdadeiramente desnorteante. Tanto É precisamente porque o homem da natureza é que nos perguntamos por vezes: será que já pertencia ao estado decaído que ele queria já perdemos nossa humanidade, nós, homens ascender à cultura! Qual é, então, a solução? Mais civilizados? O homem primitivo não era melhor? civilização ainda? Ou uma síntese e um compro- As condições de vida dos povos estreitamen- misso entre natureza e cultura? te ligados à natureza, como os aborígenes da A Voz do Silêncio, obra que H.P. Blavatsky tra- Austrália, não nos oferecem um modelo de paz duziu do sânscrito no século XIX, faz menção e de harmonia? Lá, os homens e mulheres são a três salas pelas quais o aspirante aos misté- iguais: não existem proibições e nem desigual- rios deve passar. A primeira leva o nome de dade social, nem desenvolvimento exacerbado “Ignorância”: é a sala na qual o homem natural do ego. Não há qualquer necessidade de san- nasce, vive e morre. ções nessas comunidades porque ninguém se Apesar disso, o homem culto não se contenta desligou, ainda, do sofrimento dos outros. Não com a ignorância bem-aventurada da pri- há necessidade sequer de uma fé explícita, pois meira sala e descobre a segunda: a sala da esses seres estão em profunda afinidade com a “Aprendizagem Purificadora”. Ele procura natureza. Em nossos dias, muitos têm saudade aprender, desenvolver suas faculdades: quer ex- dessa união, ancorada nas profundezas de nossas plicar certas normas, persegue uma meta. Assim, memórias. A perda desse laço com a natureza no decorrer de sua vida, ele vai multiplicando as poderia mesmo parecer mais com uma queda experiências e entendendo cada vez mais o sen- do que com uma elevação. (Ler a esse respeito tido das palavras: “Na sala da aprendizagem, tua32 pentagrama 4/2014
UMA REFLEXÃO SOBRE OS TRÊS TEMPLOSProjeto de decoração para a cena final de A Flauta Mágica. Século XIXA entrada na terceira sala, a sala da Sabedoria, é ilustrada demodo original em A Flauta Mágica, de Mozart natureza – cultura – sabedoria 33
A representação deGilgamesh dominando o leãotornou-se o símbolo realpara os reis mesopotâmicos:a quem possuísse a força,o reino do império poderiaser confiadoAlma encontrará as flores da vida, mas, debaixo Relevo na sala do trono do Palácio do Rei Sargon IIde cada flor, uma serpente enrolada”. (713-706 A.C.) em KhorsabadAquele que começa a compreender - não somentecom o intelecto, mas também com seu coração e nome que soa bem”, pensa Tamino, “mas do quecom todo o seu ser - que natureza e cultura, ale- se trata, exatamente?”gria e tristeza, positivo e negativo, progressistas Se quiser salvar Pamina, será preciso atravessare conservadores são as duas faces de uma mesma um desses portais. E, decididamente, ele se dirigemoeda, pode então se preparar para passar pelo para o portal do meio.exame final da escola da vida, simbolizado pela No mesmo instante aparece um sacerdote queentrada na terceira sala, chamada de “Sabedoria”: pergunta a Tamino o que ele deseja. Tamino ga-aquela cujo umbral anuncia uma espiral de vida rante a ele que tem as melhores intenções - acon-totalmente nova, na qual “os dois se tornam um”. tece que ele confunde Sarastro com um magoEssa entrada na terceira sala, a sala da Sabedoria, negro, mas, na verdade, ele quer salvar Pamina.é ilustrada de forma especial em A Flauta Mágica O sacerdote, que é um iniciado dos mistérios dode Mozart. Templo Solar de Sarastro, observa que o estado deTamino é o homem culto. Ele percorreu um ser interior de Tamino não está em conformidadelongo caminho e aprendeu muito. Determinado com as exigências do lugar. Realmente: por maisa salvar Pamina, sua bem amada, ele alcança que seja rico de experiências e saiba muito bem oo reino de Sarastro. Na entrada, aparecem três que quer, Tamino se dá conta pouco a pouco deportais; mas ele não pode ultrapassar nem o dadireita, chamado de “Razão”, nem o da esquer-da, chamado de “Natureza”. Somente lhe resta“Sabedoria”, o portal do meio. “Sabedoria... um34 pentagrama 4/2014
Rei Assurbanípal (645-635 a.C.), caçador de leão, no palácio de Nínive, Assíria. Londres, Britsh Museumque, na verdade, não sabe nada, tudo o que apren- homem tornado sábio pode se despertar. Já nãodeu só permitiu que ele chegasse até esse portal, existe separação: aa semente do arquétipo domas agora ele precisa recomeçar. Desencorajado, homem original desabrocha no coração e umaele fica para trás, e, nesse instante, chega até ele vida nova em dimensões completamente novasesta boa nova: Pamina ainda está viva! Louco de se eleva. E é por isso que em A Voz do Silêncio,alegria, Tamino pega sua flauta mágica, toca sua também lemos:melodia de costume e, para sua grande surpresa, “Não deixes que o teu ´Nascido do Céu`,descobre então que os animais selvagens - seus submerso no mar de Maya, se desprenda doinstintos -, naturalmente, sem esforço, sem regras Pai Universal (Alma), mas que o poder denem lei, se acalmam. Nesse momento, ele perce- fogo se retire para a câmara mais íntima, abe que tem um novo poder - poder esse que vai câmara do Coração e a morada da Mãe doajudá-lo a atravessar bem as tribulações antes de se Mundo. Então, do coração esse Poder ascen-achar unido à Pamina - a alma. derá até a sexta região, a região mediana, oSomente após um caminho de compreensão lugar entre os teus olhos, quando se tornae de catarse, que ultrapassa os caminhos que a respiração da Alma Una, a voz que tudosobrepõem às ideias de natureza e cultura, o preenche, a voz do seu Mestre”. µ natureza – cultura – sabedoria 35
Mapa da Tartária independente, incluin- do o deserto de Gobi. M. Bonne, 1791 Abaixo: Vista do de- serto de Gobi36 pentagrama 4/2014
encontrar o quenunca foi perdidoQuase todas as culturas de todos os povos possuem em suas tradições umaversão de um céu - que vem acompanhado de um inferno. Mas as expressões:paraíso, nirvana, shamballa, campo de caça da eternidade não seriam umengano? Seriam uma ilusão? Um sonho? No entanto, será possível sonhar comalgo que nunca existiu? Na prática, existir é um conceito que se traduz em termos de percepção dos sentidos ou resultado de observação mental. Nossa descrição de paraíso não cor- responde a essa definição, mas sim - com um pouco de fantasia - ao que está associado a essa ideia. Nós todos conhecemos essa “ilha enso- larada”, com suas palmeiras movendo-se ao vento, com um lago sob um céu sempre azul, com suas paisagens ensolaradas, suas flores magníficas e, bem à mão, frutos saborosos e re- frescantes. O céu, para alguns, seria viver 365 domingos de verão ao ano e, para outros, um lugar sem fechadura e sem chave. Em poucas palavras: um estado celeste. Mas, esse estado corresponde a que realidade? Ao nosso redor, a realidade não seria mais cinzenta? Essa é uma boa pergunta se não cairmos na especulação. FÉRIAS DE VERÃO Há muita literatura sobre o paraíso que ou desconhece limites ou consiste em uma tentativa sutil de articular uma impressão, uma experiência. Entretanto, esse tipo de literatura não resiste a um exame mais profundo e assim, o paraíso estaria resumido a um tipo de férias de verão, ou aposentadoria. O paraíso não é um lugar e nem lugar nenhum: é um estado de consciência. Pouco importa se o paraíso recebeu uma etique- ta como a região entre o Tigre e o Eufrates, no Oriente Médio, ou em Shamballa, no deserto de Gobi. Deixemos para trás esta polêmica inútil e voltemos nossa visão para o interior. Se este país das maravilhas – o que quer que isso signifique encontrar o que nunca foi perdido 37
Foto por satélite do mesmo lugar no deserto de Gobi da página 36 Esse jogo pode prosseguir por muito tempo, pois o ser humano é teimoso e “o chamado de baixo” sabe bem variar os tons... Isso prossegue até o momento em que, vivendo tanta desilusão, é pos- sível perceber toda banalidade e obter uma nova condição de observação. Outra rede de caminhos vai se abrindo em um espaço mais amplo, que se estende do egoísmo até o altruísmo. Giramos sempre ao redor do absur- do, mas podemos, ainda assim, ser conduzidos a vibrações mais elevadas, que nos permitem reagir à “voz do alto”. Então, das alturas, descortina-se diante do olhar interior um raio do mundo real, portador da verdade, há muito pressentido.- não representa uma coisa, um aqui, um ali, um SEM PASSAR PELA PORTA Não há paraíso per-antes, um agora, esse paraíso não existe nem den- dido, pois ele não se perdeu: a única coisa quetro nem fora. Então, as perguntas: “Será que eu fizemos foi substituí-lo por uma imitação. Elefui expulso desse paraíso? Como faço, então, para não precisa ser construído, pois já existe. Não hávoltar a ele?” são irrelevantes. nenhuma necessidade de nos deslocarmos para oOu será que estamos em algum lugar que nunca exterior, porque ele está sempre presente dentrofoi dentro nem fora? Será que estamos, realmente, de nós. “Sem sair pela porta, conheço os cami-no aqui e agora? nhos do céu”, disse um sábio chinês. Mas, pelo desejo, pela busca, pela falta, perplexos, tomadosONDE QUEREMOS ESTAR? Aqui e agora são as de compaixão, vemos a miséria do mundo e acoordenadas do ser espaço temporal em nosso ignorância daqueles que se obstinam em buscar omundo aqui embaixo – e não podemos negar: ele tesouro aqui, neste mundo, enquanto outros nãotem muitas coisas a oferecer! esquecem a pérola guardada em seu coração.Todas as matérias-primas, peças e opções estão Para muitos, essa compaixão é um socorro ver-disponíveis para construirmos um paraíso terres- dadeiro, que permite que descubram, em suatre. Pensem na tríade “riqueza, honra e poder” própria essência, o resplandecer da Luz.acompanhada de rancor, inveja, brigas, princípios Ela pode desenrolar-se ao longo de toda umaarraigados, tantos pretensos troféus que, às vezes vida até que se cumpra o caminho que a levacegamente, acalentamos por pura autoafirmação. ao verdadeiro paraíso. Ele não é um jardim deNão pode ser de outra forma. delícias, nem uma praia tropical: é uma oficina que alguns de nós podemos criar e tornar aces-PODERIA, ENTÃO, SER DIFERENTE? Se as repre- sível, sem fronteiras e sem julgamentos. E essesentações desse “paraíso” divergem, os resultados campo preparado, esse campo de trabalho, podede sua construção também. Admitamos que, para ser dedicado à Luz. Esse serviço é para toda aalguns, o resultado seria um êxito; para a maior humanidade e se expressa na alegria do novoparte, porém, seria algo frágil, simplista e prestes comportamento citado por Paulo: “... não eu, masa desabar. Cristo em mim!” µ38 pentagrama 4/2014
IMAGENS DO MUNDO Eva: a Sabedoria, aquela que é portadora, que nutre e que envolve. Parte da duplaunidade cósmica (Adão/Eva) que reveste todo ser humano com sua majestosa imagem espiritual primordial e o envolve no eterno amor. encontrar o que nunca foi perdido 39
o ponto de encontro eo sal indispensávelQuando se trata de interação humana, fala-se de ponto de encontro. A ideiaprovém da Grécia antiga: lá havia, em cada cidade, um lugar central, a Ágora,onde se celebravam festas e se realizavam reuniões e feiras. Portanto, a praçaexiste para todas as pessoas igualmente, sem exceção alguma.UM CONTO DE FADAS DA BIRMÂNIA40 pentagrama 4/2014
Quando nos encontramos, percebemo-nos Todos os três deveriam tornar-se corajosos e uns aos outros não apenas pela palavra inteligentes. Então, o rei tomou providências falada, mas por meio de tudo o que para que os melhores mestres lhes ensinassemirradiamos e somos. É importante que a pessoa como manejar a lança e a espada. Além disso,se considere um modelo. Isso é possível quando mandou buscar as pessoas mais inteligentesela se comporta com disposição para servir do reino para que lhes apresentassem atanto com relação ao Outro dentro de si, como sabedoria. Após muitos meses, o rei quis vertambém aos outros no mundo. Nesse sentido, a do que seus filhos eram capazes. Por isso,unidade, a responsabilidade e uma diretriz pura mandou buscar os mais valentes guerreiros epodem lhe servir de orientação. ordenou a seus filhos que lutassem com eles. Os três irmãos venceram todos os comba-AO ENCONTRO Se nos basearmos nesses três tentes do rei sem esforço. Então o rei disse:princípios, o modelo já estará dentro de nós. “Meus queridos filhos, agora quero saber seE, na medida em que nos confiarmos ao Outro vocês não são apenas valentes e fortes, masdentro de nós, o arquétipo também estará também se são sábios”.presente de forma radiante. Quando há em nóssuficiente vazio, silêncio, espaço, nosso próxi- A SABEDORIA DO SAL Em seguida, namo também pode reconhecer esse arquétipo em presença de todos os seus ministros, o rei fezseu próprio ser, pois é somente na água serena muitas perguntas, às quais os irmãos deramde um lago que se pode reconhecer a própria as respostas certas. “Mais uma última per-imagem refletida. É que o discernimento requer gunta”, disse ele: “qual é a melhor refeiçãodeterminada atmosfera - um vazio que, no digna de um rei?” Os dois filhos mais velhosentanto, é plenitude. Assim começa o diálogo: descreveram para o rei as mais saborosasprimeiro na praça do encontro, com uma iguarias - e o rei ficou bastante satisfeito comatitude aberta perante o mundo e o Outro as respostas. “E você?” perguntou o rei ao fi-dentro de nós. É desse modo que chegamos a lho mais novo. “Qualquer alimento, por maisum relacionamento profundo. Então podemos simples que seja, se for preparado com sal éperguntar: quais são as condições para procurar o melhor”, respondeu ele. “O quê?”, gritouo ponto de encontro? O que acontece lá? O o rei, furioso. “Como se atreve a me ofenderque se leva para a praça? Esta história, que vem na presença de todos os meus ministros?”de Myanmar (antiga Birmânia), fala sobre isso: EXÍLIO Então, o príncipe respondeu, comREFEIÇÕES DIGNAS DE UM REI Em um país tranquilidade: “Estou apenas dizendo adistante, havia um rei que tinha três filhos. verdade, meu senhor”. O rei ficou fora de si, o ponto de encontro e o sal indispensável 41
de tão furioso. Mandou virem os guardas e esta já estava bem seca, ele ia à cidade paragritou: “Fora com ele! Levem-no para longe vendê-la no mercado. Com o lucro, eledo meu reino! Não quero mais vê-lo!” comprava trigo e sal para fazer pão. EmE assim sucedeu que o príncipe foi banido um ano, o príncipe já estava acostumado àdo reino. Durante sete dias e sete noites nova vida. Um dia, ele chegou à cidade comele cavalgou com os guardas do rei até que seu feixe de lenha quando viu um homempararam diante de uma enorme floresta batendo em um gongo para chamar a atençãopertencente a outro reino. Em seguida, os das pessoas. “Atenção, atenção!...”, gritava oguardas tomaram o cavalo do príncipe, arauto, “nosso rei faleceu. O dourado pássarodeixando-o sozinho. hintha vai escolher o novo rei. Todos devem dirigir-se imediatamente ao palácio. Atenção,APLAINAR O CAMINHO PARA CASA Com atenção!” E a multidão, curiosa, apressou-sesua espada, o príncipe tentou abrir caminho a ir até o palácio do rei. O príncipe lenhadoratravés da densa mata. Mesmo ouvindo o também foi para lá e ficou meio afastado dosrugido dos animais selvagens por toda parte, outros para presenciar o espetáculo.ele seguiu adiante. Ele sentia os pés doloridose a boca seca, porém sabia o quanto era O PRINCIPE TORNA-SE O NOVO REI Então,perigoso parar e descansar em uma floresta apareceu um ministro em uma janela docomo aquela. Pouco a pouco foi escurecendo. palácio. Estava segurando na mão a gaiolaQuando já pretendia desistir, ele viu ao com o pássaro dourado e conclamava o povo,longe uma tênue claridade que vinha de uma dizendo: “O novo rei será aquele em quem opequena cabana escondida entre as árvores. pássaro dourado pousar!” Dizendo isso, abriuEmpregando suas últimas forças, ele foi a gaiola e o pássaro saiu voando. Depois dese arrastando até lá. Era a cabana de uma contornar a praça fazendo um grande arco,mulher idosa, que lhe disse: “Não se preocu- ele pousou no ombro do príncipe lenhador.pe, meu filho! Considere minha casa como se Mal acabaram de ver a cena, as pessoasfosse a sua. É uma alegria ser como uma mãe começam a gritar, irritadas, dizendo que nãopara você!” desejavam ter um lenhador como rei. Então, o pássaro dourado foi colocado de volta naA MORTE DO REI NA TERRA DO EXÍLIO E gaiola e libertado outra vez. Novamenteassim o príncipe ficou na casa da velha ele pousou no ombro do lenhador. E, parasenhora. Toda manhã ia buscar água e, en- assombro da multidão, o fato aconteceu aindaquanto ela preparava a comida na cabana, ele uma terceira vez. Nada restou às pessoassaía para a mata para juntar lenha. Quando senão aclamar rei o príncipe lenhador.42 pentagrama 4/2014
Mais de quinhentos magníficos o velho rei verdadeiramente irritado. Naazulejos esmaltados com cenas da história, o velho rei simboliza as energiasvida de Buda adornam o pagode deste mundo: essas energias excluem o queMingalazedi (estupa no templo da lhe é estranho. Isso explica o exílio do jovembenção) em Bagan (1277-1287). filho do rei. Com isso, na verdade se dá uma ruptura entre a vida natural deste mundo e oA primeira medida do jovem rei foi buscar filho do rei. Em consequência, ele é desloca-sua mãe adotiva e dar-lhe um lugar de honra do para a floresta escura e inóspita, tendo nano palácio. Ele passou a reger seu povo com mão apenas a espada do discernimento.sabedoria e justiça e logo todos o amaram. SABEDORIA E SIMPLICIDADE O príncipeO ENCONTRO DO REI COM SEU PAI Um dia, percorre essa mata com uma porção de animaissem se identificar, o novo rei faz um convite selvagens em seu íntimo: revive desejos, antigosa seu pai, para visitá-lo no reino vizinho. É medos e sentimentos de abandono. Ele padecepreparada uma refeição magnífica, mas não se a condição humana à luz dos aspectos quebran-adiciona sal às iguarias. O rei fica desapontado tadores da radiação divina. Avançando firme-com elas, pois têm uma aparência tão maravi- mente, ele chega à cabana da velhinha: o efeitolhosa, porém não são saborosas. Pela primeira protetor de sua descendência real e a verdadeiravez ele toma consciência do quanto é impor- meta de sua viagem albergam o príncipe. Umatante o sal. Nesse momento, ele reconhece seu ação tríplice, sublime, tem um efeito tanto defilho e pede-lhe perdão. Assim, pai e filho se quebrantar quanto de amparar, mas também dereconciliam. O jovem rei governa por muitos dinamizar e renovar. A claridade na escuridãoanos e, quando do falecimento de seu pai, da floresta leva-o à velha senhora da cabana: àtorna-se o soberano dos dois reinos. sabedoria e à simplicidade.UM MITO UNIVERSAL Esse mito é de caráter LENHA APROPRIADA Rachar lenha é umuniversal e pode tocar a todos, uma vez trabalho que exige a máxima atenção. Noque cada qual assimila seu conteúdo à sua mundo, o príncipe aprende a prestar atençãomaneira. E assim obtemos também a resposta ao seu íntimo: a seus sentimentos, pensamentosàs três perguntas que fizemos no início: quais e expressões de sua vontade. Assim se desen-são as condições para procurar a praça do volvem a compreensão e o amor: ele preparaencontro? O que acontece lá? O que levamos a lenha para o fogo. A lenha deve então serpara a praça do encontro? acomodada de determinada maneira próximo ao fogo para que possa secar. Assim todaSAL Já foi dito uma vez que o único necessá- umidade, toda obstinação lhe é retirada atério na vida é o sal que nos liga à vida origi- que a ela fique tão seca quanto o fogo. Então,nal. A consciência de que esse sal não apenas é possível aquecê-la. Todo o frio desaparece daé imprescindível, mas torna “valioso” mesmo matéria e, quando a lenha atinge a temperatu-aquilo que é mais simples, é o conhecimento ra do fogo, ela começa a queimar, tornando-sedo filho do rei, um conhecimento que deixou flama, luz. É só com a autorrendição e a disposição para servir que nos tornamos lenha apropriada, com a qual o fogo divino é aceso. o ponto de encontro e o sal indispensável 43
É dessa maneira que o príncipe se prepara para completamente resolvidas coisas que nãoprocurar um ponto de encontro. podem ser “explicadas”. Vemos o príncipe da história diariamente na praça do mercado,NA FEIRA Mas o que acontece no ponto de oferecendo sua lenha para o fogo. Quandoencontro? O que é levado até lá por alguém alguém está procurando o novo rei, ele fica àque realmente é um “homem que está no margem e observa o acontecimento.caminho”, um homem com qualidadesanímicas, um homem hermético? Ele vivencia OUVIR O que significa ouvir realmente? Éem seu íntimo o relacionamento diário com auxiliar tendo como base a alma e não umDeus. Para ele, o princípio divino é mais saber maçante: é ter uma conduta aberta.importante que a personalidade. Apesar Então, o relacionamento fica tranquilo, hádisso – ou justamente por isso – ele toma pureza, simplicidade de sentimentos e umaparte na vida da humanidade inteira. Por vontade pura: produz-se um espaço no quallongo tempo, nenhuma gritaria do mercado se dá uma elevação e se desenvolve na cons-pode superar a voz interior. Depois, ele vai à ciência um conhecimento novo, magnífico.feira: isto é, ele está preparado para encontrar Hoje, esse espaço é o ponto de encontro, aas pessoas, percebê-las e dar ouvidos a elas união com todos os homens.verdadeiramente. Ser notado como homem Ouvir é também abrir-se para tudo semalma é uma das maiores dádivas que se pode julgar. Aquele que fala através do contatoreceber ou dar a outra pessoa no caminho. do Espírito e ao mesmo tempo é ouvinte partilha o pão vivo. Ele parte o pão, com-NA INTERAÇÃO HUMANA, A EXISTÊNCIA DA partilha o pão. Ele está no mesmo plano queALMA SE EXPRESSA NO ENCONTRO Quando todos os que ouvem. Dá testemunho apenassurge a oportunidade, ele fala sobre suas daquilo que, naquele momento, ouve dentroexperiências na Gnosis e com a Gnosis. Ele de si mesmo, e não do que leu ou pensoudá testemunho de uma energia diferente. um dia. É isso que significa estar no hojeFaz perguntas que, em primeiro lugar, são vivente. Não se pode falar sobre o Espírito,colocadas a si mesmo e que só podem ser pois ele é. Porém podemos muito bem darrespondidas com base na vivência. Suas testemunho dele. Aquilo que nós inspiramos,respostas conduzem aquele que pergunta inspira também nosso próximo. Tudo o queaté seu próprio reino interior. Ele estimula vive em nós é irradiado por nós e pode seras pessoas a viver fazendo indagações e acolhido pelos outros. Em meio ao tumultotambém a colocá-las aos outros pela vida da “praça do mercado”, vibra essa energia nasafora. É o que ele fez com elas. E assim são profundezas de nosso ser. µ44 pentagrama 4/2014
IMAGENS DO MUNDO... e essa promessa, essa nova possibilidade, essa alegria da existência se expressam sempre, de tempos em tempos, na criança – para aqueles que têm olhos para ver.
Basileia, cidade na qual Paracelso proferia cursos. Foi aí que ele curou o R$ 16,00 editor Frobenius, então pivô do novo movimento humanista que foi o começo do Renascimento na região norte. A reforma substituiu os antigos valores da fé: assim, desenvolveram-se novos comportamentos e uma visão de mundo totalmente nova. Nessa cidade, Erasmo apresen- tou à Europa um espelho de moralidade e Paracelso demonstrou o verdadeiro serviço ao próximo.cover 2-14 buiten nw.indd 1
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