pentagrama Lectorium Rosicrucianum Unidade de grupo como força O homem unificado Os campos morfogenéticos da eternidade Nem um, nem dois Experiências no caminho para a unidade Construção do templo e autofranco-maçonaria O novo campo de vida2008 4AgostoNÚMERO
pentagramaEditor responsávelA. H. v. d. BrulRedação finalP. HuisImagensI. W. v. d. Brul, G. P. OlsthoomDesignCapa: Dick LetemaInterior: Ivar HamelinkRedaçãoC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthom,A. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. BrulSecretariaC. Bode, G. UljéeEndereço da RedaçãoPentagramMaartensdijkseweg I,NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraEditora Lectorium RosicrucianumAdministração, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) 4016-5638www.editoralrc.com.brResponsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de Oliveira,Revisão finalM. R. de Matos MoraesTradutores e revisoresS. Cachemaille, M. C. Zanon Costa, I. Duriaux, J. Jesus,G. Milharcic, M. Pedroza, S. A. Pereira, A. Sader, M. S.Sader,Y. Sanderse, U. Shmit, M.V. Mesquita de SousaDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
Unidade de grupo como forçaQuando o Bem-aventurado revelou a verdade a seus cincoalunos, ele disse:“Quando um homem que decidiu obede-cer à verdade encontra-se só, pode ocorrer que a ver-dade enfraqueça nele e que ele retorne aos seus antigoscaminhos. Por isso, permanecei unidos, próximos uns dosoutros, e tentai fortificar-vos mutuamente. Sede irmãos unspara os outros, unidos no amor, pela vossa aspiração pura,em vosso fervor pela verdade.Espalhai a verdade e pregai a doutrina em todas as partesdo mundo, de tal modo que finalmente todos os seres setornem cidadãos do reino da retidão e da justiça. É a santafraternidade que, ao estabelecer a comunidade de todos,busca sua salvação no Outro.” Trecho do Evangelho de Buda. unidade de grupo como força 1
ano 30 número 4 agosto 2008sumário Revista Bimestral da Escolaunidade de grupo como força 1 Internacional da Rosacruz Áureaos campos morfogenéticos da eternidade 3 Lectorium Rosicrucianumo mosaico áureo das almas livres 7o homem unificado 8 A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção deunidade de grupo: assim como é seus leitores para a nova era que já se iniciou para o em cima, assim é embaixo 12 desenvolvimento da humanidade.todos os homens são irmãos? 17 O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo formação de uma nova comunidade do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémnem um, nem dois 22 o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por experiências no caminho da unidade meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-o novo campo de vida 26 to, um símbolo somente tem valor quando se tornao que foi, de novo será 31 realidade.O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está no caminho da transfiguração. A revista Pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seu próprio interior.Capa:As magníficas cenas esculpidas de Borobudurdescrevem de modo sublime o processo demanifestação de grupo. De acordo com o en-sinamento universal, em diferentes momentosda construção desse templo, as forças conjun-tas do sol, da lua e do cosmos ativaram-se econcentraram-se a fim de conferir-lhe umaenergia especial. Essa energia é capaz de tocaro pesquisador ainda hoje.2 pentagrama 4/2008
os campos morfogenéticosda eternidadeO que é um campo de força? Qual a origem desse conceito? Quaiscampos de força caracterizam o campo de vida dialético? Por que ocampo de força da Escola Espiritual se diferencia fundamentalmentede todos os outros e como ele atua?Um grupo ativo forma um campo de for- O QUE É UM CAMPO DE FORÇA? O conceito de ça cujos membros perseguem interesses em campo de força provém da Física. Os cientistas comum; mediante essa interação, o campo usam esse conceito para descrever fenômenos comode força é reforçado. Existem, então, um grupo vi- a gravidade e o eletromagnetismo. Um exemplo ésível e uma energia invisível que influenciam for- o “campo magnético”, que é invisível, intangíveltemente o comportamento dos membros do gru- e inaudível. No entanto, podemos comprovar suapo. A orientação do grupo, isto é, as forças para as existência, por exemplo, espalhando limalhas dequais seu coração se volta, determina a natureza e ferro em torno de um ímã. Então a energia atuanteo nível de forças que empregam. produz um efeito determinado, o campo magnéti-Os amigos reunidos na Escola Espiritual da co dá às limalhas de ferro certa configuração.Rosacruz Áurea têm consciência da existência de Sabe-se que o elemento genético de todas as cé-semelhante campo; eles sabem que ele se forma nos lulas assemelha-se e que, no entanto, a forma dosfocos da Escola. Dentro desse campo de força cir- membros ou dos órgãos é diferente de uma pes-culam vibrações de energia superior, devido ao ele- soa para a outra. As mesmas proteínas, os mesmosvado nível de vida que essas pessoas, como amigas, compostos químicos, aparecem sob formas mui-almejam. to variadas. As substâncias químicas por si só não os campos morfogenéticos da eternidade 3
Aos olhos do vidente, isso em seus escritos. Dois exemplos independen-o homem é semelhante tes, provenientes de tradições diferentes da filo-a um ovo, constituído sofia oriental e do mundo tolteca do México an-de milhares de vibrações tigo, nos mostram claramente: “o homem possuique circulam a seu redor veias chamadas ‘hitâ’, finas como um fio de cabelo, de cor branca, azul, amarela, verde e vermelha…”explicam as formas, da mesma maneira que não se (Upanishads). Do lado tolteca, nos anos sessentas,pode determinar a forma de uma construção ana- o famoso Carlos Castaneda escreve em A Roda dolisando as pedras, a madeira ou o cimento que ser- Tempo1: “Quando são vistos como campos de ener-viram para edificá-la. O princípio é, portanto, que gia, os seres humanos aparecem como fibras de luz,os materiais de construção absolutamente não ex- como teias brancas de aranha, fios muito finos queplicam a forma. circulam da cabeça aos pés. Assim, aos olhos do vi-Também na Biologia o conceito de “campo” é um dente, um homem parece um ovo de fibras circu-fato corrente. Foi nos anos 20 do século passado lantes. E seus braços e pernas são como espinhosque os biólogos desenvolveram o conceito de cam- luminosos que explodem em todas as direções. Opo morfogenético. Em resumo, esses campos res- vidente vê que todos os homens estão em contatoponsáveis pela forma agiriam sobre um organismo com tudo o mais, não por suas mãos, mas por meio– e mesmo sobre entidades vivas. Essa idéia pare- de um punhado de fibras compridas que saem docia análoga à de um campo magnético. Supõe-se centro de seu abdome. Essas fibras ligam o homemque os organismos dispõem de campos invisíveis a seu ambiente; mantêm seu equilíbrio; dão-lheque dirigem seu crescimento e determinam sua estabilidade”.forma baseados em matrizes invisíveis. Sobre essa Hoje, a ciência simplesmente ignora esses fenôme-base, Rupert Sheldrake formulou a teoria segun- nos, que não podem ser comprovados nem repro-do a qual cada ser vivo está cercado por campos de duzidos, porém suscitam discussões. É necessárioforça invisíveis, de onde extraem suas energias vi- dizer que as algumas pessoas capazes de percebertais. Mas ele pensa também que existem influên- e falar sobre esses fenômenos freqüentemente nãocias recíprocas e que nos ligamos a campos de força são unânimes, e, na maioria dos casos, falta obje-coletivos que agem sobre nós. No presente, Erwin tividade a suas observações. Muitos observadores,László, Peter Russell e outros pensadores impul- por exemplo, supõem que as forças sutis que perce-sionam adiante essa idéia com as teorias relativas bem são de origem divina. Os “curandeiros” sus-ao “campo” que constitui e cerca a humanidade: tentam quase sempre que as forças e as energias queesse campo memorizaria as repercussões magnéti- utilizam em seu método de cura também são di-cas de todas as manifestações da humanidade e de- vinas. Eles sentem-se profundamente ofendidosterminá-las-ia de acordo com os passos que ela de- se alguém questiona sua convicção e ficam na de-veria dar. fensiva, quando alguém tenta demonstrar que pos- suem apenas uma receptividade aos campos de for- ças naturais.AS ENERGIAS INVISÍVEIS QUE CERCAM O SER SUPRAPESSOAL Podemos agora afirmar que um campo de força exerce uma ação formadora so-HUMANO Essas idéias não são novas. No esoteris- bre as coisas e os seres que entram em contato commo, sempre se falou dessas coisas, e clarividentes ele. Uma vez que cada pessoa, cada criatura viva,como Manuela Oetinger falam longamente sobre4 pentagrama 4/2008
Os “campos morfogenéticos” da eternidade Os campos de força naturais agem até nas esferasvivificam apenas o que pertence à eternidade, mais elevadas do Além, onde podem ser encontra-ou seja, o fogo do Espírito situado no centro das sublimes representações do divino. No entanto,de nosso microcosmo. Primeiro, eles acalmam uma vez que tudo tem seu reflexo no Além, pode-os turbilhões eletromagnéticos do campo de se imaginar que lá são vivificadas e mantidas, aorespiração, do qual então emana uma energia mesmo tempo, as correspondentes representaçõesharmônica e benéfica. Em seguida, eles resta- opostas: um mundo infernal sombrio sob a condu-belecem o homem de Luz original do princípio ção de um ser diabólico.possui seu próprio “pequeno mundo”, não é difí- O CAMPO DE FORÇA DE UMA ESCOLA ESPIRITUALcil compreender que campos de força semelhan-tes se agrupam. Quando membros de um grupo Os grandes campos de força coletivos naturaisadotam uma idéia, um programa político ou uma do nascer, florescer e fenecer são, no ensinamen-crença religiosa, forma-se, conforme mencionado to universal, o campo dos doze éons da nature-anteriormente, um campo muito potente. Existem za. Trata-se dos doze campos de radiação zodiacaisinúmeros exemplos no mundo. E sabemos com que, cada um à sua maneira, exercem sua influên-que obstinação e fanatismo muitas dessas pessoas cia sobre o comportamento dos seres humanos. Adefendem seus pontos de vista ou os impõem com filosofia gnóstica fala também de um “décimo ter-violência... Esses campos de força coletivos surgem ceiro éon”, cujo campo de força encontra-se forada união dos campos pessoais e tornam-se campos desta natureza. É nele que se concentram as forçasde força organizados que transpõem a personalida- eternas: a luz de Cristo que cerca os buscadores dade que os compõe. Esse fenômeno fortifica não so- eternidade.mente a energia dos participantes, mas também sua A Escola Espiritual moderna baseia-se no pon-dependência, o que, naturalmente, tem seu preço. to de vista de que existem duas ordens de natureza os campos morfogenéticos da eternidade 5
separadas, ordenadas de maneiras diferentes. De quanto mais sólida for a construção dessa arca, maisum lado, a ordem de natureza estática, imutável, ela cumprirá seu objetivo, mais a natureza da vidaa ordem divina, chamada também “o outro rei- comum elevar-se-á em direção à terceira naturezano” e, de outro lado, a ordem de natureza onde e mais rápido o caminho será realizado.tudo “nasce, desabrocha e desintegra-se”. Essesdois campos são totalmente incompatíveis e não COLABORAÇÃO ATIVA A terceira natureza abre-podem ser unificados. O ser humano não conse- se a todos os que se orientam para a Gnose: “Amargue vivenciar a vida divina, as elevadas energias do a Deus sobre todas as coisas”. Quando a tercei-campo de origem. Para cruzar esse abismo inven- ra natureza se manifesta de fato, nela não há ape-cível, esse Estige, é necessário lançar uma “ponte”. nas o amor de Deus, mas também o amor de to-Para tanto, podemos considerar que uma escola es- das as criaturas. Então, a orientação para a Gnose epiritual constitui um terceiro campo de força, que para o amor de Deus segue-se logicamente: “Amarliga temporariamente nossa natureza à eternidade. ao próximo como a si mesmo”. Então, ajudar e ser-Tanto quanto possível, esse campo de força coloca- vir são conseqüências naturais. Além de participarse no nível da freqüência vibratória desta natureza. do corpo-vivo da Escola Espiritual, o grupo tam-O buscador dotado de um átomo-centelha-do-es- bém vigia sua pureza e sua vitalidade, o que im-pírito desperto é capaz de receber impressões desse plica numa cooperação ativa e consciente de seuscampo. Conseqüentemente, a tarefa dos membros membros.da Escola Espiritual é construir e manter esse ter- Os “campos morfogenéticos” da eternidade, queceiro campo de força nesta natureza; de fato, os es- designamos freqüentemente como “Fraternidade”,forços que eles fazem, em sua fervorosa aspiração, não objetivam animar esta natureza. Como per-mantêm um intercâmbio com as forças da eterni- tencem a uma natureza completamente diferente,dade. Um ser humano que liga essas duas naturezas eles podem ativar apenas o que pertence a essa ou-tão distintas entre si forma uma terceira natureza; tra natureza, ou seja, o átomo-centelha-do-espí-ou melhor, torna-se uma pedra de construção da rito, que ocupa o centro de nosso microcosmo. Eterceira natureza. O caminho não se realiza de re- assim a consciência desperta no mundo alma-espí-pente, cada um tem de colaborar com ele. Há, evi- rito, o reino do silêncio.dentemente, uma elevação de freqüência vibratória Cada “rendição” vivifica a nova consciência. Eindividual e específica, na qual não se pode levar cada ser humano que cruza a ponte transforma-ninguém. Mas é possível e desejável colaborar em se no Outro: ao lado da antiga personalidade que,grupo, porque a terceira natureza coletiva tem o em auto-rendição, se colocou a serviço do campopoder de tocar outras pessoas e estimulá-las a par- original, surge, mediante a transfiguração, o novoticipar do trabalho do grupo. Pode-se dizer que homem µesse grupo constitui uma arca, um barco celestial; e (1) Castaneda, C. A Roda do Tempo. Rio de Janeiro: Nova Era, 2000.6 pentagrama 4/2008
o mosaico áureodas almas livresA vida isolada, o individualismo exacerbado, o“eu-sou” tão característico do ocidental, sãoabsolutamente contrários à natureza do Logos.Hermes diz:“Esse grande corpo que abrangetodos os corpos é interiormentepreenchido e exteriormente envolvido poruma alma repleta de consciência espiritual epreenchida por Deus, uma alma que vivifica oUniverso”.Em outras palavras, a manifestação universalconstitui uma unidade de grupo admirável emaravilhosa. Não uma unidade forçada, masa unidade da verdadeira inteligência, em totalliberdade, um mosaico áureo de almas livres, aunidade da luz, a unidade da realidade divina dosétimo raio, a unidade e realidade da sétupla luzperfeita. Essa poderosa e nova imagem do mun-do é plena de alma! E, devido à nossa natureza,movimentamo-nos ao ritmo dos sete raios,porém em sublime e absoluta unidade. o mosaico áureo das almas livres 7
o homem unificadoEnquanto a humanidade viver, ela se esforçará para chegar ao grande objetivo: aunidade. Essa aspiração de todos os homens, de todos os povos, provavelmenteserá predominante no futuro. Contudo, seria correto dizer que quanto mais nosaproximamos de tal unidade mais depressa nos afastamos dela? E que as diferençasde opiniões, ao longo dos séculos, nunca estiveram tão marcantes? E que os confli-tos resultantes se tornam cada vez mais sérios?Acordos estreitos são assinados entre os um novo estado de alma. A idéia de unidade leva a diferentes povos: a União Européia, a Liga experimentar a divisão fundamental entre o eu da Árabe, a ONU e muitos outros... contudo, personalidade e o núcleo espiritual no centro doparece que um antagonismo mútuo cresce entre microcosmo. À medida que essa consciência cresce,os homens, e as grandes religiões e as diversas os laços que acorrentam ao mundo da dualidadecivilizações opõem-se de modo implacável. Muitos e da divisão se desfazem e as radiações do núcleomanifestamente desejam a unidade, mas à custa espiritual se modificam – e também a personalidade.dos outros, aos quais gostariam de impor a força Se desejamos adquirir o autoconhecimento e obter asua fé e seu estilo de vida. Os países democráticos ligação consciente com o Espírito, a unidade com otentam realizar a união de todos os países exercendo coração do microcosmo se restabelece, assim como aa hegemonia sobre os povos de estrutura mais ligação incontestável com o coração solar do ma-tradicional por meio de manobras políticas, de crocosmo. Assim, a realidade espiritual absoluta vibraforças armadas e sobretudo da economia. As grandes cada vez mais forte como informação, não apenasempresas tentam alcançar a unidade monopolizando nas células sutis mas também nas células físicas doo mercado mundial. Muitas vezes um sistema de corpo.valores coletivos não justifica a tentativa de criar A dupla corrente energética do amor e da sabedoriaa unidade e apenas representa a pura ambição de que emana do mundo divino é ativada, afluindoexercer o poder por meio de uma organização bu- do centro do ser universal em direção ao centrorocrática em todos os níveis da sociedade. A unidade, de todos os seres; e, através de nós, essa correnteé claro, é um objetivo importante que impulsiona a pode afluir para toda a criação. Porque, por tráshumanidade, principalmente nos dias de hoje, pois a do mistério do amor divino e da sabedoria divina,unidade aparece claramente graças à tecnologia que é incontestável que no nível espiritual das almasfacilita as comunicações e as relações internacionais. e no nível físico, a vontade eterna do Uno levaMas a humanidade ainda não conhece a natureza indiscutivelmente à manifestação universal. Nessasda verdadeira unidade, nem os meios de chegar a condições, o amor, a luz da compreensão e a vontadeela. Como sempre, há um esforço para estabelecer a divina participam na execução do plano do Espíritounidade com base em seres humanos egocêntricos, no universo. Em linguagem moderna poderíamoso que torna inevitável uma explosão a curto prazo dizer: a informação original, o impulso original e adevido aos seus interesses contraditórios. É impos- energia original do Espírito realizam infalivelmentesível criar uma unidade durável se tentamos exercer o plano divino da criação no universo inteiro. Cadapressão pela força ou pela violência. Como encontrar ser humano porta essa trinidade inviolável comouma unidade, uma união durável da humanidade e semente, como núcleo espiritual no coração.como alcançá-la? A verdadeira unidade depende de A dupla corrente energética do amor divino e da8 pentagrama 4/2008
Vós, homens celestes etodos os seres divinos,repousai cada um demaneira concêntricano Uno. De modoque nenhuma dúvidase instale em vossospensamentos e quesomente a pazinspire vossos atos.Maniconsciência divina irradia continuamente sobre do plano espiritual para o plano da alma e depoistodo o universo, em freqüências vibratórias muito para o plano físico. Nos inúmeros focos que são oselevadas, conseqüentemente também sobre nossa pontos de ligação com a luz, essa corrente energéticaminúscula terra. Isso significa que a palavra do esforça-se por fixar-se. Nosso microcosmo está,Logos, a mensagem do Cristo cósmico, o evangelho desde a origem, destinado a ser um desses focos,do Espírito eterno, se manifesta do alto para baixo, o que pode possibilitar ao homem microcósmico o homem unificado 9
Lá onde os companheiros domistério da unidade se reúnem,eles transcendem de longe o reinoda dualidade. Se permanecerdesinteriormente fortes e unidos naverdade, vencereis o poder do pecadosempre iminente. (Kephalaia, Mani)religar-se, pela corrente de energia do Espírito, ao que sua consciência ainda esteja fechada. MesmoEterno Uno. que comam o mesmo pão, bebam a mesma água eO homem unificado responde sempre a essa corren- desejem o bem uns aos outros, seus pensamentos nãote energética. Ele é sempre atraído para a união com bebem conscientemente da fonte divina da unidadeo mundo divino – porque nele desapareceu o eu da universal. Eles bebem de maneira inconsciente dapersonalidade que não cessa de perseguir seus inte- fonte deste mundo, fonte contaminada por conflitos,resses ambivalentes. E evidentemente, as raras pessoas dúvidas, ilusões e pela irredutível dualidade. Ciúme,tocadas pela corrente energética se reconhecem e se inveja, angústia, cólera, pensamentos e sentimentosreúnem a fim de viver a união com o mundo divino opostos da cabeça e do coração são causas de seuse dele testemunhar mediante suas vidas. atos falsos. Eles tentam realizar a unidade exercendoPor isso, em todos os tempos e lugares do mundo, poder sobre o outro e, no entanto, é cada vez maissurgiram escolas iniciáticas com a finalidade de evidente que esse sistema não tem nenhum futuro.servir como modelos de unidade e fraternidade Aliás, rupturas e guerras denunciam impiedosamenteque, um dia, a humanidade poderá seguir. Não é e por toda parte a deficiência dessas tentativas deestranho que os poetas, no curso dos séculos, tenham unificação, e já é hora de começarmos a aprender ascomparado essa fraternidade a uma árvore florida. lições. As catástrofes de maior ou menor proporçãoNa primavera, todas as flores se nutrem da seiva mostram que no estado atual o que é fundamentalprovinda da raiz da árvore, todas elas se abrem ao nos falta. No entanto, se um só indivíduo ou grupoúnico sol e refletem sua luz, todas respiram o mesmo responder ao chamado da corrente divina de amoréter vital e emitem seu perfume. E todas carregam e sabedoria, e se as perturbações do equilíbrio geralfrutos graças ao intercâmbio harmonioso entre terra, não ultrapassarem o limite, a catástrofe final seráágua, ar e luz, os quatro elementos fundamentais da evitada.natureza. Cada flor emite seu próprio perfume e A longo prazo, haverá mais e mais pessoas quecada fruto tem seu aroma, ainda que ambos recebam compreenderão, ainda que devido a circunstânciassua vida da única unidade que a árvore representa. exteriores, a necessidade de preservar os funda-Flores e frutos devem abandonar-se à vontade mentos da humanidade para que ela sobreviva. Umda árvore e a seu plano subjacente, enquanto as grande movimento referente ao meio ambientesementes contidas nos frutos da árvore a propagarão está acontecendo. E cada vez mais numerosas serãoabundantemente. A árvore em flor da natureza é a as pessoas em quem agirá o impulso espiritual daimagem que ilustra o milagre da unidade vivente no reminiscência, que as conduzirá à realização daamor e na sabedoria do mundo divino. A maioria unidade absoluta. No entanto, a unidade absolutados homens vive da corrente energética do amor e deste mundo natural com Cristo será sempre umada sabedoria que emanam do mundo divino, mesmo utopia.10 pentagrama 4/2008
“A ligação com a unidade universal concedevida, movimento, atividade e alegria, bem comoo poder de penetrar o mistério de nossa vida,inconcebível sem o Um, e de julgá-la conformeseu valor autêntico.”Esquema da rosácea da catedral de Estrasburgo,FrançaNa força do Uno, é possível haver, nesta terra, certa com base na unidade, ou seja, nos aspectos opostosunidade entre um indivíduo e outro. Renunciar da natureza, assim como a unidade em Cristo deverdadeiramente ao “eu” não é uma atitude passiva, e todos os povos, religiões e culturas, é totalmente semreligar-se à unidade universal é um empreendimento esperança.cheio de vida, de movimento, de atividade e alegria, “E eu vi um novo céu e uma nova terra”, disse oque dá o poder de penetrar e julgar com justeza o autor do Apocalipse. E eis o segredo, o ponto demistério da nossa vida, inconcebível sem a existência partida absolutamente diferente de uma unidade ver-do Uno. No entanto, a experiência do Uno é dadeira e possível. Apenas dentro de uma atmosferarelativamente rara e até o momento só é almejada totalmente nova poderemos comparar a humanidadenas escolas espirituais. a uma árvore florida que se nutre das sementes daNesta terra, a união geral de todos os indivíduos sabedoria e do amor divino µ o homem unificado 11
unidade de grupo:assim como é em cima, assim éSe apresentarmos a “unidade de grupo” como a harmoniosa comunhão de umgrupo de homens e mulheres que, juntos, aspiram pela força da luz, poderemosentão nos perguntar se realmente existe um “em cima” em acordo com um“embaixo”? Quer dizer, existiria algo “embaixo” que pudesse aproximar-nos deum “em cima”? “A música é a expressão da aspiração pelo paraíso perdido”, dizo poeta. O que seria mais natural do que procurar uma analogia na música?Examinemos o caminhar de quem possui a soma das partes. Depois que as últimas notas um pronunciado dom para a música. Já na soam e que os aplausos cessam, a impressão vivida infância essa aptidão se manifesta. Logo que continua e produz seu efeito, contanto que esseouve música, a criança pára, e é irresistivelmente efeito não seja imediatamente destruído pela vidaatraída; ela cantarola ou canta a melodia. Se ex- comum e suas preocupações. Mas o eco dessaperimenta um instrumento musical, ela vai querer atmosfera encantada desperta o desejo de vivê-laum. Os pais atentos lhe darão, e a criança poderá, novamente.durante algum tempo, improvisar com seuinstrumento. Depois, logo que começar a tomar A VOCAÇÃO ESPIRITUAL O que a vocação sig-aulas de música, ela perceberá que está longe de nifica para o desenvolvimento do futuro músicoter tirado o máximo do instrumento. O período aplica-se ao desenvolvimento espiritual. Nestede aprendizagem e de treinamento inicia-se,então, muitas vezes acompanhado de desânimo edúvida, ao mesmo tempo em que outros interessessolicitam sua atenção. Mas se o talento musical ébastante pronunciado e os pais e professores sabemguiá-la com sutileza, o resultado não tardará, oque lhe dará asas e a estimulará a continuar.Pouco a pouco o jovem músico domina maise mais seu instrumento e se familiariza com asleis musicais. Depois ele descobre depressa que émais agradável tocar música em grupo; e chegao momento em que alguns jovens músicos sereúnem para estudar e ensaiar um pouco. E logoque entram em acordo quanto à interpretação epassam a dominar a técnica, pode ser que algumacoisa especial, num momento especial, se produ-za: eles alcançam uma espécie de esquecimentode si, são absorvidos pela corrente da música,sentem-se inspirados. Se, além disso, os ouvintesestão abertos e plenos de interesse, seu ouviratento mescla-se a essa atmosfera: os músicose os ouvintes formam, então, uma unidade, evivem a experiência de que o todo é mais que12 pentagrama 4/2008
embaixo “O que está embaixo é como o que está em cima, o que está em cima é como o que está embaixo.”caso, dizemos que a vocação é o centro, o núcleo não desaparece completamente e continua a agirespiritual do coração humano, que oferece a em segundo plano. E logo que a pessoa começapossibilidade de receber uma força espiritual. Esse a refletir por si mesma, esse impulso original acentro trabalha em nossa vida como mensageiro conduz depressa às grandes questões espirituais:da natureza superior. Nele está encerrada, como “De onde viemos? Para onde vamos e por que?”em um grão, a inteira possibilidade da realização; A grande busca tem início.mas a germinação e o desabrochar desse grão A personalidade com suas capacidades é comodependem da pressão que a vida exerce. um instrumento colocado à disposição do serA centelha espiritual está ativa em muitos desde a humano. A intuição, sua bússola interior, mostra-mais tenra idade. Embora esse toque original seja lhe a direção. Como o músico, ele “toca” commuitas vezes rejeitado no decorrer da vida, ele sua personalidade. Seu interesse pela filosofia unidade de grupo: assim como é em cima, assim é embaixo 13
ou pela religião dá direção e profundidade a seu espiritual e pode provar diretamente a energia quepensamento. provocou esse impulso e, por fim, compreendê-A arte e a literatura confirmam e mesmo reforçam la. Numa escola espiritual, ele encontra outrassua sensibilidade ao milagre que é a vida. Ele pessoas semelhantes a ele e pode aí experimentarpercebe que o que a maioria das pessoas acha tão a unidade de grupo. Ele não a viverá onde éimportante deixa-o completamente indiferente, e impossível vivê-la, ou seja, no plano das persona-ele começa a procurar seu caminho. Ele não está lidades dessemelhantes. Essas diferenças são muitosozinho, pois muitos homens seguem a mesma profundas e duráveis para formar uma verdadeiravia. Então, a lei magnética “semelhante atrai unidade nesse nível. Pouco a pouco, ele comprovasemelhante” age. Ele procura encontrar pessoas que a verdadeira unidade de grupo encontra-sede tipo igual ao seu. Dessa forma, começa a no campo original, ao qual aspiram todos essesampliar e a aprofundar sua concepção do mundo buscadores.espiritual. E, por fim, ele encontra uma escola Assim como em uma orquestra, na qual cada14 pentagrama 4/2008
Cada microcosmo é um ser animado por forças vivase vibrantes e possui uma nota fundamental que éadequada apenas para ele, seu próprio “nome”um dos instrumentos tem seu timbre individual original. Essa interpretação influencia, então, ae todos ressoam juntos, também os buscadores versão original no invisível, harmonizando-setrazem cada um sua tonalidade fundamental na com ela e reforçando-a graças a sua qualidadevibração do grupo. Embora cada homem seja um excepcional. Encontramo-nos aqui diante daverdadeiro pensamento criador de Deus, ligado surpreendente lei da ação e da reação mútua dosem sua essência a todos os outros homens, o elementos da criação. “Assim como é em cima,ensinamento nos fala de sete raios e de sete tipos assim é embaixo” e inversamente.humanos correspondentes. E considerando que Na atividade do grupo, o que é comparável àcada microcosmo não é algo “abstrato”, mas um execução da partitura de uma orquestra? São asser vivente de forças vibrantes, cada um deles tem reuniões, durante as quais o grupo entra cadatambém uma tonalidade fundamental que lhe vez mais em acordo, aspira criar uma energia eé própria e que é seu verdadeiro “nome”. Além uma atmosfera puras verdadeiramente espirituais,disso, as inúmeras experiências das múltiplas até o momento em que o Espírito finalmente seencarnações do microcosmo dão a cada um uma exprime em cada alma e uma maravilhosa trocacor e um caráter particular; e cada um “exprime” ocorre no nível individual.essas particularidades em todas as situações em Vivemos porque pensamos, sentimos, queremos eque se encontra envolvido. agimos. Essas são as faculdades da alma. Trata-seA tonalidade fundamental do ser é constituída de torná-las tão transparentes que possam recebercom base nas vibrações que emanam de suas os impulsos da luz que penetram o núcleo espiri-características e tendências dominantes. O acorde tual do coração bem como as intenções do campode cada um é de grande importância para o nível espiritual universal.do grupo inteiro, pois é uma caixa de ressonância Assim como o músico cuida de seu instrumento,para as irradiações do Espírito universal. afina-o e toca-o regularmente para que não percaAqui encontramos novamente paralelos com a sua “alma”, assim também, o buscador cuidamúsica. A estrutura de uma sinfonia, por exem- de sua alma e de seu corpo; ele também prestaplo, e o caráter que seu compositor quis lhe dar atenção a seu meio a fim de colocar a menorestão escritos no invisível, mas estão impressos na quantidade possível de obstáculos às atividades daspartitura de diversas maneiras. A arte do maestro elevadas energias espirituais. Nesses dois casos, ae de seus músicos consiste em tocar “o melhor” chave desse “cuidado” é o amor.que podem para se aproximar o máximo daquilo Um instrumento negligenciado não soará correta-que inspirou o compositor. Pode acontecer, mente, assim como um instrumento bem afinado,raramente, que os músicos toquem tão bem e mas mal tocado. Para obter um bom resultado,interpretem uma música de maneira tão inspirada quem toca – a consciência da personalidade – eque superem mesmo a qualidade da composição o instrumento – os poderes da alma – devem unidade de grupo: assim como é em cima, assim é embaixo 15
Do mesmo modo que omúsico cuida de seu ins-trumento, afina-o e toca-oregularmente para que nãoperca sua “alma”, assimtambém, o buscador cuidade sua alma e de seu corposatisfazer a um mínimo de critérios. Em cada alma enxerga o que a luz ilumina dentro dela, e oum, a realização da alma atinge certo nível, que que ela mesma deixou na obscuridade porque nãoo diferencia dos outros e determina a medida e a queria ver. A maioria das vezes, o que ela relegavamaneira que ele está ativo no grupo. à obscuridade não é muito gratificante, mas,O efeito que um trecho musical produz no na força da luz, a confrontação pode começar.auditório pode ir desde o encantamento até à Progressivamente, o olho da alma habitua-seirritação ou à tristeza. Porque a alma receptiva é à luz, aprende a reconhecê-la e a amá-la comoentão confrontada com a experiência da lingua- verdadeira mensageira de sua pátria, a naturezagem musical, que pode, de acordo com seu poder superior.de ressonância, despertar as mais diversas reações. Assim como quem ama a música quer reviver semEsse encontro com o que está “muito além do cessar a experiência musical que perturbou suacomum” pode provocar o desejo de reviver uma alma profundamente, assim também quem aspiramaravilhosa experiência musical. ao Espírito quererá reviver conscientemente aPara um grupo orientado para um objetivo experiência espiritual que sempre mexe com suaespiritual, ocorre também o encontro com a alma: a união com seu “ser verdadeiro” µnatureza superior, que só poderá nos tocar se onúcleo espiritual vibrar em uníssono com ela.Quando essa vibração acontece, a centelha-do-espírito inflama-se e “a luz penetra na alma”. Mas,durante muito tempo, a alma não reconhece essaluz, pois seu olho está perturbado pelas trevasdeste mundo. No entanto, um dia, finalmente a16 pentagrama 4/2008
todos os homenssão irmãos?Ao longo dos dois últimos séculos, certos países consideraram a vidapolítica e cultural como uma missão comunitária. Para alguns, foi umperíodo de paz e bem estar, para outros, os conflitos se acirraram.O que significa, nesse contexto, a existência de uma escola espiritual?FORMAÇÃO DE UMA NOVA COMUNIDADENo século 18, o mundo recebeu um reviravolta sem precedentes. potente impulso que introduz a humani- “Todos os homens são irmãos!”, escreveu dade num novo período: o Iluminismo. Friedrich von Schiller, exprimindo a grande“Todos os homens são criados iguais” pelo aspiração de seus contemporâneos por sair daCriador, decreta a Declaração de Independência ignorância, da opressão, da alienação, do ódioamericana em 1776. Alguns anos mais tarde, a e da violência. O homem, acreditou-se, podiaRevolução Francesa alardeou a idéia de liberda- finalmente tornar-se humano. Mas a realidadede, igualdade e fraternidade, que se implantou que sucedeu essa utopia é um retrocesso pavoro-profundamente na cultura européia e mudou por so: racismo, colonialismo e injustiça social, quecompleto as concepções culturais. Desde então, excluem grande parte da população, inclusive ascada pessoa vê a outra como um ser provido pelo mulheres, da realização de seu próprio destino.Criador de entendimento, razão e capacidade, Finalmente a catástrofe da Primeira e da Segundaalém de meios de se voltar para um ideal. Isso Guerra Mundial não deixou sobrar muito do bri-representa, na história da humanidade, uma lho inicial desse grande ideal. Um novo impulso todos os homens são irmãos? 17
interveio: a ideologia comunista, com a promessa consideradas não apenas uma ameaça, mas umde igualdade. O primeiro Estado comunista da atentado ao direito humano à individualidade. EUnião Soviética foi estabelecido após a revolução é sobretudo a própria idéia de unidade, inerentede 1917. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, ao homem, que fica desacreditada. Normalmente,esse impulso se espalhou pelo Ocidente assim a unidade é compreendida como a união dos in-como em muitos países da América do Sul e da divíduos num grupo que só se mantém enquantoÁsia. Os países comunistas instituíram sociedades cada um perseguir o objetivo dessa comunidade.baseadas na igualdade e no coletivismo, mas de Mas o que é reagrupado sem coerência cedo ouuma forma que, por meio de muita propaganda, tarde se dispersa. O conceito de unidade é muitocolocava as pessoas sob absoluto controle. O mais amplo. A verdadeira unidade exige umaindivíduo encontrava-se não apenas subordinado à nova consciência (ainda desconhecida para nós),massa, mas não existia sem ela, fator que bloquea- uma consciência alheia a toda idéia de separaçãova a manifestação de quaisquer outros impulsos. entre as polaridades opostas. Na realidade a pala- vra “indivíduo” significa não-dividido. O homemA BUSCA PELA UNIDADE Após o desaparecimento integral, o homem-espírito, dispõe de toda a forçade quase todos os Estados comunistas, essa ideolo- divina. Ele vive de Deus e em Deus. “O pai e eugia deixou uma triste herança: a extinção do belo somos um”, disse Jesus.legado do espírito comunitário do homem natu- O homem terrestre não alcança a unidade re-ral. A formação de grupos, coletividades, socieda- ligando mentalmente os aspectos opostos dedes e até simples reuniões são hoje imediatamente todas as coisas, mesmo que isso produza certaAs esculturas de Borobudur, na ilha de Java, ilustram de modo sublime o poder do grupo.Primeiro, os irmãos apresentam suas oferendas: a espada da união restabelecida com o Espírito e também asua força e sabedoria (símbolo: o elefante). Dessa maneira, eles estão em condição de construir a barca celeste18 pentagrama 4/2008
A palavra “indivíduo” significa o homem “não-dividido”.Quem utiliza a força da não-divisão dispõe outra vezdo inteiro poder da divindadeconsciência de unidade. Querer formar a unidade Mas nos tornamos conscientes dessa força e da suacom base no positivo e no negativo, no mascu- atividade quando nosso estado de alma pode selino e no feminino etc., não está no domínio do aproximar da qualidade dessa unidade. Porém, empossível. Aliás, isso também não é necessário. O geral, isso não acontece.homem não precisa desenvolver a consciência da Quando os raios desse estado de consciência su-unidade, ela existe desde muito antes da criação perior descem no corpo de desejos, eles se tornamda terra. Essa consciência, portanto, não nasce imediatamente “pessoais”. Isso significa que elesdo homem individualmente. É uma qualidade são adaptados no nível específico do ser humanocósmica que todos os homens podem absorver. egocêntrico, que os utiliza em benefício próprio.Essa unidade é onipresente, portanto, sempre e Assim, a força em sua forma pura que poderiacontinuamente presente, e só precisamos abrir a inspirar e unir verdadeiramente todos os homensporta para que ela se expresse em nosso sistema. é rapidamente anulada outra vez. todos os homens são irmãos? 19
... e eles vêem que o mar acadêmicose acalma e que a luz originaldesponta no horizonteA unidade do campo de força, a força do vários obstáculos são aplainados, ao mesmo tempo em que a alma original e perfeita acorda, sendoUm Em O livro de Mirdad, de Mikhail Naimy, ele ela também de natureza divina.diz: “O Verbo de Deus é um cadinho. O que ele Que significado tem isso para o mundo? Nossocria, ele derrete e funde em um, nada aceitando campo de vida é atravessado por inúmeras vibra-como valioso, nada rejeitando como sem valor”. ções que nos circundam e nos influenciam, semSobre essa base os alunos de uma escola espiritual que penetrem em nossa consciência. A radiaçãotrabalham para alcançar a unidade de grupo. O libertadora da Gnose também está presente, mascampo de força assim criado serve de transição nada recebemos dela no início. Apenas os que apara um novo campo de vida de uma beleza sem anelam fortemente recebem seus raios, transfor-igual. Esse campo de força não serve de forma mam-nos e permitem, desse modo, que a culturaalguma aos interesses pessoais dos indivíduos, mas na qual estão inseridos a integre. Essa força dedirige-se a todos em sua pureza original como libertação opera, então, num segundo nível.fonte da verdadeira inspiração, como o ar que Imaginemos que ouvíssemos falar e víssemos agirrespiramos coletivamente. Essa esfera de passagem uma pessoa em bom estado de saúde. Quantosserve para operar a transformação que prepara não teriam a tendência de recuar ou então depara a entrada na natureza superior. Nesse sentido, supervalorizar-se e achar que estão tão bem deé um campo divino de libertação e de auto- saúde quanto essa pessoa? Mas se um pesquisa-iniciação. Ao adentrá-lo, adquirimos o conhe- dor sincero entra em contato com um grupo decimento do caminho e a força para percorrê-lo;20 pentagrama 4/2008
alunos aplicados e se rende às evidências, muitas então, que há muito tempo o que consideráva-vezes compreende as exigências do verdadeiro mos unicamente como contos, lendas e utopiasprocesso espiritual bem mais facilmente. Um unicamente fantasiosas, contém uma realidadegrupo de pesquisadores eficientes oferece maior agora realizável. Esse conhecimento experimentalpossibilidade de realização espiritual. Cada um vibra nas esferas mentais da terra e resulta doprojeta ali seus esforços e os resultados adquiridos. trabalho dos verdadeiros buscadores espirituais.O grupo reparte com o mundo o conhecimento Ele forma uma estrela cintilante para todos osdo caminho libertador assim como a radiação do que chegam ao fim do caminho através da solidãocampo de força, de forma que quem entra em deste mundo. Os seres receptivos a essas radiaçõesO trabalho de uma escola espiritual está relacionadocom a lembrança da origem que reside no ser humanocontato com um de seus membros tem a oportu- inspiradoras reagem a elas espontaneamente enidade de ser tocado por essa radiação. O esforçode libertação não provém da necessidade de procuram sua fonte. Eles se unem a um gruporealização da alma mortal, mas da lembrança daunidade do Espírito, na qual vivia a alma imortal de trabalhadores que desejam libertar-se de umaantes da queda no mundo tridimensional. É porisso que a idéia de unidade ressurge regularmente consciência separada dos outros e do mundo.no curso da história da humanidade na forma deuma maravilhosa promessa. Finalmente, a evolução do homem tem um únicoEx pluribus unum Nosso mundo sempre esteve objetivo: agarrar, no mundo da matéria e doem estreita relação com o mundo da perfeição.Este último irradia continuamente sobre nós sofrimento, o fio de seu destino original superior,seus valores, fazendo despertar das profundezasda inconsciência a recordação da nossa pátria de aceitar sua missão como instrumento das forçasorigem. A consciência, ainda nebulosa, a recebee adapta, como sempre, os sublimes ideais a seus divinas e colaborar com o plano da criação empróprios objetivos. Faz parte das escolas de misté-rios de todos os tempos submeter os candidatos a unidade, liberdade e amor. A condição parauma purificação do pensamento e dos sentimen-tos. É extremamente importante que os impul- isso é que a alma-espírito, devido aos valoressos vindos da parte “pura e desconhecida” domundo toquem da forma mais autêntica possível espirituais que dela emanam, seja o princípioo coração e a mente dos alunos para possibilitaruma aplicação prática quanto ao objetivo visado. diretor de sua vida, em benefício da humanidade.Como dissemos, o trabalho espiritual está ligadoà recordação do estado original. Este último é O objetivo é que o homem enquanto microcosmoativado e dinamizado pelo grupo. Descobrimos, reintegre-se no campo de vida original. Esse é um aspecto da colheita espiritual. Ao longo de toda a história, as escolas espirituais exerceram ainda outra influência: numa civilização, enquanto as atividades dessas escolas não eram contestadas, as sociedades floresciam, pois sua ética atestava uma inspiração pura e divina. A grande esperança do século XVIII, expressa na máxima da franco- maçonaria inscrita no dólar americano reencontra hoje sua significação original: Ex pluribus unum, da pluralidade à unidade. Traduzido livremente: o (1) Naimy, M. O livro de que está dividido volta à Mirdad. 5.ed. Jarinu: unidade no Um µ Editora Rosacruz, 2005. todos os homens são irmãos? 21
nem um, nem doisCada pesquisador liga-se a uma força que o transforma e o torna apto a despertara vida do homem divino original.Trata-se da força que emana do núcleo espiritualdivino latente no interior de cada ser humano. Nesse sentido, ele dá um passo nadireção do que a Sabedoria Universal denominou com grande respeito “o cami-nho”. Como resultado dessa ligação, ele participa de duas correntes de energia: aprimeira aprisiona-o à matéria; a segunda é a força que o envolve e o eleva.Devido aos esforços de nossos antecessores mais compreensão? O que acontece então? que liberaram em si o aspecto divino, TENSÕES Do INTERIOR... Ao lado do homem hoje “o caminho” está inscrito na at- divino vemos cada vez mais claramente nossomosfera sob a forma de uma nova possibilidade “ser” e o resultado das tensões diárias. Entramosoferecida a todos. O campo de força oniabarcan- num campo de tensão que, gradualmente, alterate sempre se concentrou ao redor das autênticas o sentimento que tínhamos da vida, pois perce-escolas de mistérios, e hoje manifesta-se na escola bemos cada vez mais a realidade da existência;ocidental de mistérios, a moderna escola espiri- no entanto, apesar de todos os nossos esforços, otual. bem, o mal, o inconsciente e o caos continuamSe o pesquisador admitir e aceitar a atuação dessa presentes. Trata-se de um período que fala daforça em si e iniciar “o caminho”, diz-se então felicidade de saber que o objetivo do caminho,que ele é um “nascido de Deus”. A sabedoria, a “o Outro”, continua presente em primeiro planoforça e o amor que, outrora, emanavam livre- ou no fundo de nossa consciência. No entanto,mente de seu “microcosmo”, de seu pequeno os esforços de nosso eu para transformar-se “nomundo, põem-se lentamente a tomar forma em Outro” não têm nenhum sucesso, e gradualmen-sua consciência. Os numerosos aspectos de um te compreendemos que isso é impossível. Nãonovo mundo, do qual ele suspeitava a existência, há nenhum descanso, e um descontentamen-submergem-no. Como conseqüência, todas as to crescente nos invade. Tentamos identificarcoisas mudam de lugar, ligam-se umas às outras nossa antiga personalidade com a nova, e vemose se organizam de uma maneira até então desco- a impossibilidade de fazer uma corresponder ànhecida. outra. E mais ainda: sentimos que nossa própriaE o mais gratificante é que a partir desse momen- identidade e o contentamento conosco mesmosto desperta no homem a certeza íntima e absoluta desintegram-se. Após a confrontação com a luz,de que ele pode cumprir o objetivo de sua exis- com a imagem da nova personalidade que estátência: regressar a sua origem divina. Após algum surgindo, já não se trata de uma união estreita etempo, a compreensão se expande e ele começa a indestrutível entre a imagem do homem imortalcompreender a natureza e o alcance do caminho. e a antiga personalidade.O passo seguinte, a auto-rendição, não é algo Nesse ponto, só nos resta entregar-nos total esimples, pois ele deve abandonar tudo que se de- incondicionalmente ao novo processo, tendo porsenvolve nele. É a tarefa mais importante da qual objetivo continuar a mudar. Unicamente assim éa personalidade terá de se ocupar por muito tem- possível provar o campo de força tal como ele épo durante sua evolução. Mas o homem pode, de na essência: uma fonte transbordante de energiafato, na vida atual, finalizar o processo no qual dinâmica. A tensão entre o terrestre e o celeste jáingressou, que aceitou e no qual recebe cada vez não será a causa de preocupações ou de frustra-22 pentagrama 4/2008
EXPERIÊNCIAS NO CAMINHO DA UNIDADEção, mas uma pura energia transformadora que cia de nossa unidade com tudo e todos desper-criará uma nova unidade. No entanto, em dado ta independente da consciência-eu individual.momento, experimentaremos que a força prote- Finalmente já não haverá nenhuma reserva outora oniabarcante que nos envolvera tão calorosa- objeções, mas inteira confiança no ser eterno quemente no início parecerá ter se retirado! despertou e em sua evolução na eternidade.Aparentemente, não conseguimos preencher as Acompanhando o sentimento de elevação decor-condições exigidas, mas observamos também que rente da união com uma força onipotente, surge deo Outro se tornou uma força inerente à nos- repente, como um relâmpago, uma consciência desa consciência, uma força que sempre vem em união com tudo o que emergiu, um dia, da fontenosso auxílio. Esse novo sentimento cresce, uma divina original. Em ligação com o amor verda-nova vontade enraíza-se em nós, e a união com deiro, sustentados sem reserva, tornamo-nos unoso Outro divino é estabelecida. Nesse momento com todos os portadores do divino. Ao mesmotornamo-nos perfeitamente aptos para conduzir a tempo em que refletimos esse estado exteriormen-um bom fim, e muito melhor do que ousávamos te, nós o testemunhamos em nossa própria vida.esperar, a luta contra todas as nossas falhas e a Irritação, conflito e hostilidade passam para segun-entregar-nos totalmente ao Outro. A consciên- do plano, mas isso é apenas um primeiro passo. nem um, nem dois 23
No lugar da crítica surgea consciência clara eprestativa que, silenciosa,vem em auxílio dosoutros…...E TENSÕES no EXTERIOr Os conflitos indi- nossa consciência; e obstinar-nos a considerarviduais e tudo que ainda não foi realizado são unicamente as supostas faltas dos outros é perigo-claramente percebidos nas outras pessoas: ignorân- so, embora possa ser útil para descobrir em nós oscia do verdadeiro sentido da vida, egocentrismo mesmos obstáculos.incontrolável, submissão constante aos hábitos, No caminho, devemos rejeitar o olhar crítico, oincapacidade de mudar pelas próprias forças. afastamento uns dos outros e todos os sentimen-Nossas próprias fraquezas e também as dos nossos tos e reflexões resultantes. Devemos desviar-noscompanheiros no caminho surgem claramente no de tudo isso e compreender que são obstáculoscampo de força: continuar prisioneiro das idéias suplementares. Consideremos as tensões e osconvencionais, falta de fé, abstenção de total conflitos que isso gera no campo de força; sinta-auto-rendição, aprisionamento ao estado natural. mos a aflição da nova alma diante de tal falta dePercebemos tudo isso nos outros, mas vivemos harmonia. Contudo, essa experiência, por maiscom eles no campo de força onde cada um ouve desagradável que seja, pode também correspon-o chamado para finalmente refletir o ideal do ho- der a um aprofundamento interior que permitirámem divino. Mas o que realmente percebemos?As faltas dos outros? Os reflexos de nossas própriasimperfeições? Uma mistura dos dois? Tudo quepensamos afasta-nos das outras pessoas, causando,por fim, o retraimento da energia libertadora.As supostas faltas dos outros, que são percebidaspor nosso ego, suscitam rejeição, crítica e confli-to, o que é freqüentemente mais maligno que asfaltas em questão. Além disso, o que nos pareceembaraçoso, desagradável e incorreto liga-se à24 pentagrama 4/2008
cresce, o socorro vem. De fato, quem, em total humildade, reconhece que faz parte integrante da natureza decaída aprende a render-se totalmente “ao Outro” em si mesmo. Dessa maneira, apro- veita suas experiências, que transforma em melhor compreensão e novo comportamento e, dessa forma, avança no caminho que leva da dualida- de à unidade. Assim, após o conflito com o ego, sobrevém a união, a unidade das almas eternas, e o conflito dilui-se no impessoal e grandioso amor universal.melhor seguir as sugestões do ser superior em nós, A UNIDADE NA DUALIDADE O caminho liberta-“o Outro”, que experimentamos sob a forma de dor – bem como qualquer ação espiritual verda-impulsos sutis. Assim, podemos avançar mais um deira – sempre é constituído de duas correntes:passo no caminho de nossa total auto-rendição uma corrente que intervém na matéria e umapara que em nós uma consciência clara, fraternal, segunda corrente que porta uma força. A dinâmi-livre de qualquer interesse pessoal, possa substituir ca dessas atividades magnéticas superiores permitea crítica aos outros, reforçar o campo de força e, percorrer o caminho do regresso, reerguer-se daassim, ajudar os outros, interiormente, sem uma queda, a causa do aprisionamento do divino empalavra sequer, a vencer seus obstáculos. uma forma material. Se o nosso ser exterior, ter-Todas essas experiências nos mostram, apesar de restre, tem o poder de render-se ao que possui denossos esforços, que não estamos prontos inte- divino interiormente, as forças divinas procedemriormente ou ainda não estamos em condição à reconstituição do “ser” eterno, o microcosmo.de poder colaborar com as forças libertadoras. Trata-se sempre da transmutação do que é terres-Se a consciência de termos decaído da origem tre, embora haja um abismo insuperável entre o terrestre e o divino. A aparência do mundo dete- riorado volatiliza-se, desaparece, a forma esvazia- se, e o homem divino ressuscita. Cada passo no caminho irradia uma nova força libertadora. E ainda que a experiência não seja perfeita, a partir do momento que a forma ter- restre constrói um espaço para o “Outro” divino, este jamais cessará de agir... µ nem um, nem dois 25
o novo campo de vidaPartidos, associações ou comunhões de interesses, quaisquer agrupamentos em nossanatureza originam-se, como é compreensível, ao redor da personalidade humana enela, e naturalmente são, em certo sentido, reflexos individuais de seus membros.Contudo, sempre houve exceções. Motivações e objetivos para a formação de gruposnão existem nem nunca existiram no nível desta natureza.E ssas exceções baseiam-se no fato de que o e o espiritual, e também a ponte que é possível homem não é apenas um ser natural, mas lançar entre ambos. Podemos encontrar os também um ser espiritual. Quando os motivos de tal comunidade segundo as seguintesseres humanos estão conscientes disso e aceitam propostas:as conseqüências correspondentes, essa dualidade “Deus (...) vos conceda o mesmo sentimentotambém se expressa em seu grupo. uns para com os outros, segundo Cristo Jesus.”Referimo-nos, aqui, a um conjunto de (Rm l5:5)personalidades, uma comunidade de seres “Completai o meu gozo, para que sintais ounânimes, voltados para a manifestação do mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo,homem espiritual original concebido por Deus, a sentindo uma mesma coisa.” (Fl 2:2)comunidade alma-espírito. “(...) sede de um mesmo parecer, vivei em paz;Em muitos trechos no Novo Testamento e o Deus de amor e de paz será convosco.”percebemos claramente esses dois lados, o natural (II Cor 13:11)26 pentagrama 4/2008
Contudo, com relação à meta, ao lado espiritual, A META ESPIRITUAL DA COMUNIDADE DOSé dito à comunidade alma-espírito:“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és “UNÂNIMES” A comunidade usada como exem-em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um plo no Novo Testamento é, portanto, uma comu-em nós (...).” ( Jo 17:21) nidade de pessoas de orientação semelhante que,“(...) para que eles sejam perfeitos em unidade em razão de suas possibilidades naturais, estão(...).” ( Jo 17:23) voltadas para o plano espiritual. Assim o Espírito“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos pode agir no grupo como num templo e realizar,(unânimes, orientados) em meu nome, aí estou eu passo a passo, a unidade alma-espírito. Então, gra-( Jesus, o aspecto alma-espírito) no meio deles.” ças a essa comunidade, uma nova atividade ope-(Mt 18:20) rará no grupo. Por isso Paulo escreve: “Não sabeisAqui, portanto, aparece a ponte que liga o estado vós que sois o templo de Deus e que o Espírito denatural e o estado espiritual. Deus habita em vós?” (I Cor 3:16) Essa descrição de uma comunidade duplamen- te orientada evoca perguntas como as seguintes: É, pois, necessário, semelhante agrupamento para um indivíduo que deseja seguir o caminho liber- tador? Não é justamente na formação de um gru- po que se oculta um grande perigo? Ou grupos têm suas vantagens? Estas são perguntas para as quais queremos encontrar respostas. De fora pare- ce que as personalidades que formam uma comu- nidade não se distinguem absolutamente do resto do mundo. Mas, interiormente os membros do grupo estão orientados para sua meta alma-espiri- tual: o nascimento do novo homem-alma, a reali- zação do templo interior de Deus. O “DESAFIO” DA COMUNIDADE Mediante inten- sa ligação de cada um dos membros com a na- tureza dos opostos, na comunidade surge toda uma rica paleta de características humanas que pode ser encontrada no mundo inteiro. Existem os parasitas e os que perseguem prestígio e po- der. Observando de modo superficial, sentimo- o novo campo de vida 27
nos inclinados a concordar com a afirmação de Desse modo pode acontecer que, num grupo,Hermann Hesse: “O impulso pelo coletivo que um ego individual seja substituído por um egose baseia na indolência mental e na necessidade coletivo. O ego individual esconde-se atrás dode repouso é o pior inimigo do homem e o cor- ego coletivo e acha-se seguro. Mas uma unani-rompe”. Todo tipo de problema da personalidade midade forçada do pensar, sentir e agir é, comincita-nos, neste caso, a esquecer nossa meta, tão freqüência, um enorme perigo. Forma-se, então,claramente reconhecida outrora, estabelecida pelo um ego coletivo idealizado, criando assim a im-Deus-em-nós. pressão de que se é algo superior. Tal ser coletivo“...quem somos nós, comparados com sincera tentativa para tornar-se igual à exteriorizar-se algo das intenções e ati-a luz do Espírito? Apesar disso, so- Gnose. Assim nasce a tão necessária cir- vidades gnósticas, e o grupo é atingidomos atraídos pela Gnose. Algo dessa culação das forças, a grande roda entra por forças cada vez maiores e impelidoforça eletromagnética é liberado em em movimento. No campo de força se para frente. Nesse momento, começa anós e, mediante o esterno e a rosa- processa um metabolismo pelo qual são existir efetivamente na Escola Espiritualdo-coração, essa força entra como a liberadas novas possibilidades gnósticas. em desenvolvimento um campo de ra-queimar no sangue do coração; e, por Importante transformação sobrevém. A diação eletromagnético. Inicia-se, então,meio dessa ligação e na qualidade de radiação do corpo magnético do grupo a quarta fase no grande processo dedesiguais, somos atraídos pela Gnose. começa a mostrar os sinais desse de- desenvolvimento da Escola Espiritual.”[...] O dessemelhante, antes atraído pela senvolvimento. É óbvio que, no próprioGnose, é agora repelido, na assídua e campo magnético do grupo, começa a Rijckenborgh, J. van, A Gnose em sua atual manifestação. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007.28 pentagrama 4/2008
A “colheita do nosso tempo” é: formar juntos o novocampo de vida. E, nesse sentido, a viagem já começou!é o resultado de um anseio irrefletido e está mui- participação no grupo. Isso exige passos decisivos,to distante de uma verdadeira comunidade de al- que não podemos dar como indivíduos.mas. Ele é preenchido por uma força vital prove- A condição prévia para isso é o anseio da almaniente da subconsciência, força essa que pode ser em participar da sabedoria e do amor de Deus,poderosa e perigosa, pois se opõe ao desenvolvi- do ramo, do tronco do qual ela um dia brotou. Emento consciente e livre da alma, que era o ob- uma vida orientada tão-somente para si mesmojetivo inicial. Numa atmosfera como essa prospe- opõe-se a isso. Portanto, o objetivo do homemra o narcisismo de grupo, no qual se reivindicam consiste em vencer seu narcisismo e reconhecer,privilégios e onde também é possível observar o sim, experimentar profundamente, a grande liga-sentimento de superioridade com relação a ou- ção com a vida universal, tal como nos ensinamtras pessoas, inflamando-se então o fanatismo as grandes religiões.religioso. Isso traz conseqüências consideráveis para o grupo inteiro. Todos entendem mais e mais que, comoINTERAÇÕES COM O CAMPO DE FORÇA Como personalidades, não somos essenciais. Enquantotambém vemos em outros artigos desta revis- exigimos nossa felicidade e almejamos progredir,ta, qualquer comunidade cria um campo de força seja emocional ou psiquicamente, ficamos cen-magnética que atrai as pessoas que buscam pe- trados nesse desejo e presos ao eu. Por isso não selos caminhos desse campo de força. No início, tal pode formar um verdadeiro grupo espiritual base-campo de força intensifica tanto os aspectos posi- ado apenas na personalidade. Somente a força e otivos quantos os negativos de nossa personalidade ardor interior de um real anseio – os aspectos aní-e caráter. Com isso, o autoconhecimento de to- micos – podem nos aproximar da luz libertadora.dos os membros do grupo pode depressa aumen- A meta de uma consciência de grupo desperta étar e intensificar-se. Ao mesmo tempo, a elevada criar para os homens as melhores condições paravibração que reflete o ideal reforça para os mem- que eles mesmos se libertem dos conceitos quebros a possibilidade de se libertar paulatinamen- ainda determinam suas vidas e em seu lugar dei-te de todas as imaginações. Assim num campo de xem fluir a luz da vontade pura divina e seu amor.força puro acontecem transformações muito fortes A força e o insight liberados no grupo possibilitamem todos os que participam dele com o coração e que os membros se libertem dos limites da consci-a alma. ência-eu e, assim, comecem a realizar sua verda-Mas antes que os membros da comunidade perce- deira tarefa de vida.bam e reconheçam a atividade particular do cam-po de força, eles precisam encontrar um acesso A RENDIÇÃO COMO CHAVE Em qualquer grupomais profundo na alma, abrir-se com amor e, no existem problemas de personalidade, mas há tam-momento certo, libertar-se totalmente. Deles de- bém uma meta comum que pode manter junto opende reconhecer e neutralizar os perigos reais da grupo até mesmo nas mais difíceis circunstâncias. o novo campo de vida 29
“Quem era Abel? Um pastor. [...] Quem e os importantes mestres e professores. do demônio, da qual o mal proveio;eram os apóstolos? Pobres, ignorantes Por que o povo os seguiu? Porque eles a criação deste mundo; o profundoiletrados pescadores. Quem acreditava eram muito respeitados, eram tidos por fundamento e mistério do homem e deem suas pregações? O povo pobre e autoridades, tinham aparência muito todas as criaturas deste mundo [...] istocomum. Os sumos sacerdotes e os escri- imponente e exibiam-se em grande será mostrado em profundidade, combas eram servos do algoz do Cristo. Eles pompa. [...] quem purificou a Igreja na grande simplicidade ...quando os homensgritavam: Crucifica-o, crucifica-o. Quem, Alemanha da cupidez do papa, de sua contemplarão e desfrutarão da perfei-em todos os tempos, tem persistido na impiedade e suas trapaças financeiras? ção, e caminharão nos puros, luminososIgreja do Cristo com mais perseverança? Um pobre monge desprezado. [...] então, e profundos conhecimentos de Deus.O povo pobre e desprezado, que verteu o que ainda está oculto? A verdadeira Por isso, antes, se elevará uma aurora,seu sangue por Cristo. Quem falsificou doutrina do Cristo? Não, mas a filosofia e através da qual o dia poderá ser notadoa pura doutrina cristã e a combateu o verdadeiro fundamento da Divindade, e conhecido.”em todos os lugares? Os doutores na da alegria celeste; a revelação da criaçãoEscritura, os papas, os cardeais, os bispos dos anjos; a revelação da horrível queda Boehme, J. A aurora nascente. Capítulo IX. São Paulo: Paulus, 1998.Com isso, o nível vibratório e a qualidade do a personalidade passageira. O grupo trilha o mes-campo de força correspondem, em dado momen- mo caminho em direção ao mesmo objetivo, con-to, a energias idênticas, à energia da luz da vida forme a exigência: “Levai as cargas uns dos ou-original! Então o campo de força adquire um raio tros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gal 6:2).de ação independente e passa a ser um campo de Nesse esforço comunitário, o grupo, com seusluz, como Jan van Rijckenborgh explica no livro aspectos das duas ordens de natureza, é de va-A Gnose em sua atual manifestação.1 lor inestimável, e nos dias atuais ele é até mesmoO campo de luz é mais duradouro e incompara- um auxílio indispensável. Os dois campos man-velmente mais forte do que um indivíduo poderia têm um intercâmbio vivo, mediante o qual o ele-ser sozinho. Juntos, os membros, amigos segundo vado e sereno campo da Gnose, por intermédioa luz, mantêm com ela a ligação. Sabeis que a po- dos homens, influencia agora toda a natureza. Issotência e a ininterrupta corrente de força-luz de- não só tem importância para a própria comunida-pendem da disposição do grupo em abrir-se sem de, mas também para toda a humanidade. Por issorestrição para as mudanças exigidas pela luz. Os é necessário um intercâmbio muito dinâmico en-membros do grupo deixam, passo a passo, seus tre os membros do grupo e a vida de todos os ho-desejos, suas dores, suas tensões e seus conceitos. mens, facilitando-lhes em todos os planos possí-E, como recompensa, vêem-se livres de ilusões, veis o acesso ao campo de força.dores, conceitos e expectativas irrealistas. Assim A “colheita para o novo campo de vida”, sobre aganham espaço para o reconhecimento da finali- qual falamos tanto na Escola Espiritual, não sig-dade da própria vida. Então podem confiar-se ao nifica o ingresso de um grupo elitista nesse cam-campo de luz. Assim, a comunidade de almas for- po, mas a uma formação em conjunto desse novoma uma nova pátria para os que se tornaram es- campo de vida! Às vezes são justamente os maistrangeiros nesta natureza. simples, os que mantêm vivo seu amor irrestrito, que ajudam resolutamente na formação do novoINTERCÂMBIO Continuemos nossa analogia en- campo de força. Cada um que segue esse cami-tre o homem natural e o homem alma-espírito ou nho reconhece, em quaisquer circunstâncias, seusentre a comunidade “unânime” e a comunidade irmãos e irmãs. A alma-espírito é no mais pro-alma-espírito: o caminho para a consciência su- fundo de seu ser absolutamente una com cadaperior conduz, pela superação do ego inferior, ao alma. Essa é a glória da grande comunidade de al-renascimento da alma-espírito. Reconhecendo a mas, da corrente gnóstica universal µglória incomparável do núcleo da eternidade, em-bora ainda latente, o homem consegue abandonar (1) Rijckenborgh, J. van. A Gnose em sua atual manifestação. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007, cap. 4.30 pentagrama 4/2008
o que foi, de novo será Existem relações históricas entre a rosacruz e a franco-maçonaria; nesta última há um grau “rosacruz”. Na Idade Média, a simbologia secreta relativa à construção do templo era transmitida pelas pequenas sociedades de maçons e construtores, nas quais eram transmitidas as tradições espirituais.A semelhança dos símbolos sugere que o ressurgimento da franco-maçonaria na Inglaterra no século 17 foi inspirada pelo impulso dos rosacruzes. O simbolismo da construção do 31templo da autofranco-maçonaria
Tanto os franco-maçons em suas lojas como é embaixo”. Desse modo, o templo é um cosmo os rosacruzes em seus lugares consagra- vivo, uma entidade vivente, irrompendo de uma dos e templos tinham em alta estima os semente e da unificação dos dois princípios,símbolos universais, devido a seu elevado valor como eram os templos de iniciação do Egito.1 Aespiritual. Para compreender um pouco o ver- fonte original dos mistérios encontra-se sempredadeiro significado dessas tradições e símbolos, no “Egito”. Assim, entendemos simbolicamen-é necessário considerar que eles são também te que o mistério do parentesco entre Deus e omeios de orientação no caminho de iniciação. homem é estranho à nossa cultura e ao nossoNesse sentido, seu contexto histórico é de menor mundo. É um mistério, e os mistérios não foramimportância. inventados pelos homens, eles provêm das esferasO homem sempre construiu templos. Com fre- divinas que os ofereceram à humanidade.qüência, esses templos são a imagem do pequeno O relato do rei Salomão, considerado descen-mundo do homem, o “microcosmo”, e em vá- dente de Abel, e do arquiteto egípcio Hiramrios pontos revelam as analogias e as correspon- Abiff, descendente de Caim, é um dos mitosdências com “o grande mundo” de Deus, o ma- mais importantes da franco-maçonaria. Abel écrocosmo. A verdadeira franco-maçonaria tem o filho de Adão e Eva, enquanto Caim é filhopor objetivo a construção de um novo templo, o de Seth e Eva. Caim é o filho de Seth, que nãotemplo interior. O relato sobre a construção do é um ser humano, mas um “deus”, um anjo.templo de Salomão, no primeiro livro de Reis, é Hiram, descendente de Seth, tem, por conse-um dado importante sobre o caminho de ini- guinte, uma relação com o Espírito; é por issociação. Nesse relato, a Arca da Aliança do povo que, na construção do templo de Salomão, apa-hebreu é depositada outra vez no templo. Esse é recem tanto o fogo do Espírito como a corrente-um fato muito significativo: realmente, ela deve alma da descendência de Abel. Assim, Hiramser protegida, porque, na linguagem simbólica, pode trabalhar verdadeiramente.2ela representa o núcleo central da ligação com Trata-se da história da fundição, por HiramDeus. A Arca contém as Tábuas da Lei e os doze Abiff, de uma gigantesca bacia de cobre parapães da proposição, símbolo da lei espiritual recolher a água viva do Deus “Único”. Essaescrita no coração, e da força divina também grande bacia redonda repousava sobre dozepresente no coração. Esses dois elementos cons- animais esculpidos. A beleza e a irradiação dessatituíam testemunhos tangíveis da ligação do ho- obra-prima excediam tudo que qualquer outromem com Deus. A tradição esotérica mostra que artesão pudesse fazer. De acordo com o ensina-Salomão construiu seu templo a fim de preservar mento do Lectorium Rosicrucianum, essa bacia,e reforçar essa ligação interna com Deus. ou mar de vidro, representa o campo de forçaTambém é dito que Salomão edificou seu tem- da Fraternidade, ao qual nada se compara. Doisplo para estabelecer uma ligação com os antigos pilares chamados Jaquin e Boaz erguem-se namistérios herméticos do Egito. Hiram Abiff, frente desse mar de vidro da mesma maneiramestre-construtor e arquiteto, com quem ele que os dois pilares consagrados a Hórus e Sethtrabalhou em estreita colaboração, era certa- na frente dos templos egípcios. Esses pilaresmente um “egípcio”, um mestre nos mistérios, e eram ornados de símbolos que representam oconstruiu o templo dos hebreus segundo o prin- caminho que a humanidade deve seguir durantecípio hermético: “assim como é em cima, assim seu desenvolvimento. Ora, esse caminho pode32 pentagrama 4/2008
conduzir apenas a um único realizar-se.3 Os rosacruzes modernos trabalhamlugar: a entrada do templo. com as forças do orvalho, as forças alquímicas daExistem dois caminhos de rosa (rosa e ros em latim).desenvolvimento para o ho- A Escola da Rosacruz Áurea dispõe de um cam-mem, por isso falamos de dois po magnético que constitui uma oficina interna,campos de força: um campo um lugar de trabalho onde é possível construirde força característico deste livremente. A existência de tal oficina interna émundo onde tudo está sujeito de grande importância em nosso mundo ondeao nascimento, ao crescimento tudo está sujeito à lei dos princípios opostos. Háe à morte. O segundo é o da dois princípios contrários (o bem e o mal, o diasupranatureza, onde tudo está e a noite, etc.), e nossa consciência é determi-em perpétuo desenvolvimento, nada por esses dois aspectos opostos inerentes aonde a morte e o declínio não todas as coisas.intervêm. De um lado, vemos a Mas vejamos alguns exemplos desta dualidade.evolução da humanidade propriamen- Em muitos países do mundo, a política é com-te dita (representada pelo povo hebreu, o partilhada entre duas tendências opostas chama-rei David e o rei Salomão), que evolui segun- das “esquerda” e “direita”, ou liberalismo e con-do estritas regras de moral e animada de uma servadorismo. Em outros países o poder absolutogrande fé: de outro, Hiram Abiff, o construtor, é oposto por um poder dito revolucionário oufilho de Seth-Hórus e ligado à rainha de Sabá. terrorista. As duas faces da moeda persistem.Quando um indivíduo ou um grupo decide Para contribuir para o “bem” geral, a direita,construir “um novo templo” utilizando mate- em nome de antigos valores, trabalha contra oriais desta natureza, ele se encontra na mesmasituação em que Salomão se encontraria casoapresentasse a um arquiteto aprendiz o planopara a construção de um templo, sendo que esseaprendiz nada sabe construir além de estábulos.Hiram Abiff representa o homem que constróicom a ajuda de uma força procedente de outranatureza. A lenda nos ensina que o ouro destina-do à construção do templo foi presenteado pelarainha de Sabá como recompensa pelos serviçosprestados por Hiram: o verdadeiro construtorinvoca a força divina, o ouro espiritual que tor-na possível a construção.Segundo a lenda, uma taça mágica, encontrava-se sob as fundações do templo. Essa taça era umpresente da rainha de Sabá e continha “orva-lho da primeira manhã”. Trata-se de uma taçacheia de uma força virgem, uma emanação doreino de Deus, graças à qual a construção pode o que foi, de novo será 33
que chama de “mal”, enquanto a esquerda quer vaidades! Tudo é vaidade. Que proveito temintroduzir novos valores. o homem de todo o seu trabalho, com que seO desenvolvimento do progresso tecnológico afadiga debaixo do sol? Uma geração vai, e outraobjetivava facilitar as atividades da vida diária geração vem; mas a terra para sempre permaneceem todos os planos e, por conseguinte, para o […] Todos os rios correm para o mar, e o mar“bem”; mas parece que, a longo prazo, seria não se enche […] O que foi é o que há de ser; ecausa, entre outros, de uma degradação de nosso o que se fez, isso se tornará a fazer […] Tambémplaneta, como o mostra o filme de Al Gore, isto é vaidade e correr atrás do vento […] O queUma verdade inconveniente, sendo, portanto, algo é torto não se pode endireitar”. Quem percebeque provoca o “mal”. a desesperança desse girar infinito compreendeHá quatro séculos, no início da Reforma, em então esta frase como a solução final: “Trata-senome do “bem”, a nova Igreja de Lutero eCalvino bem como o humanismo colocaram omachado na raiz da ordem social que se apoia-va na velha Igreja. Então, desencadeou-se aContra-Reforma, que provocou a implacávelGuerra de Trinta Anos e devastou os países ale-mães da época.O humanismo, com seu idealismo e utopia,inspirou a franco-maçonaria, que deu inícioaos princípios “dos direitos do homem” e daigualdade entre homem e mulher. A RevoluçãoFrancesa foi, entre outros, um de seus resultados.Os movimentos opostos reencontram-se perma-nentemente no mundo inteiro, combatem-se,cruzam-se, reconhecem-se e unem-se, e umdeles sempre ganha ou perde, e tudo se repete eperpetua-se infatigavelmente, tanto no passadocomo também hoje.Parece que nos casos graves os mundos do beme do mal se encontram e acordos são concluídos,onde cada um faz concessões. Os conservadoresabrem-se ao humanismo, e o humanista à reli-gião. No que diz respeito ao “mal”, pensam queseria suficiente pô-lo sob pressão para eliminá-lopara que o universo pudesse conhecer outra vezos benefícios da paz. Tais são os raciocínios doshomens e as causas de seus atos aparentemen-te sem esperança. Então, do espesso nevoeiroque nos cerca faz-se ouvir uma voz que vemdo antigo passado da humanidade: “Vaidade de34 pentagrama 4/2008
O templo original já não existe. Todavia, se os jovens construtores encontrarem o modelo cósmico e o seguirem, poderão reerguer seus murosde ser uma nova criatura”. Seria essa a voz de de Sabá presenteou o ouro simbólico, a graçaum pessimista? Não, ela representa o ponto de e a beleza ao templo de Salomão, também “avista de uma terceira orientação, o mesmo da metade pura e desconhecida do reino original”Rosacruz moderna. “O que foi, de novo será.” oferecerá ao homem riquezas inimagináveis. ELeiamos agora estas palavras com otimismo a humanidade não precisa fundar essa ordemirradiante, com alegria imensa que, um dia, será mundial: ela já existe!compartilhada por todos os povos! Essa “metade desconhecida do mundo”, da qualNo princípio, o homem conheceu um campo de testemunha também o Manifesto Rosacruz, avida que não é aquele onde vivemos atualmente. Fama Fraternitatis (o Chamado da Fraternidade),Era a comunidade dos seres humanos originais. abre-se a quem se torna uma “nova criatura” e,E assim será de novo… Assim como a rainha lá, reinam a Fraternidade Universal e a força do o que foi, de novo será 35
seu amor. A metade desconhecida do mundoé onipresente, penetra verticalmente o nossocampo de vida tal como a quarta dimensão ofaz com relação às três dimensões conhecidas.Anteriormente, em tempos áureos, a humani-dade inteira vivia nessa metade desconhecida.Numerosos são os seres humanos que têm alembrança remanescente dessa pré-existência. Épor isso que os enviados profetizam: “Despertai,filhos da luz, pois o que foi outrora, de novoserá!”E o caminho da verdadeira vida, o caminho deretorno está sendo revelado. E o teólogo que vêesse caminho sente vergonha: não teria enga-nado seu rebanho com vagas promessas? Nãoo teria enganado com falsas aparências? Nãoteria ele incessantemente desviado e mutilado alinguagem da escritura sagrada? E o humanistaque, por fim, vê esse caminho sente vergonha,pois que valor têm seus ideais frente à realidadedo reino original?Mas o teólogo que tomou consciência de seuerro é grato porque procurou Deus e o en-controu dentro de si. E a alegria do humanistaconvertido é ardente, pois ele não interrompeuseus esforços; ele procurou o grande amor e oencontrou.Dualidades Reconhecemos, portanto, duas (1) Os fundamentos dos templos egípcios apóiam-se numa estru-espécies de dualidade: de um lado, a dualidade tura escondida em suas fundações segundo explicado em detalhesde nosso mundo fechado, a dualidade “do bem em O templo no homem, de Schwaller de Lubicz.e do mal”; e do outro, a dualidade fundamen-tal entre “a metade conhecida do mundo” e “a (2) Os filhos Abel são chamados “filhos da água”, enquanto osmetade desconhecida”, o reino original de onde filhos de Caim são “filhos do fogo”. Em Summum Bonum (o Bemprocede o homem-espírito e que trazemos no supremo) de Robert Fludd, as duas correntes juntam-se quando semais profundo de nosso ser. É-nos possível re- fala da pedra angular fundamental: “Edifica-te a ti mesmo sobretornar à metade desconhecida do mundo graças a pedra angular de Cristo, como um templo espiritual feito deà nobre arte mágica, a arte real da construção pedras vivas.” Michael Maier liga também Hiram Abiff e Cristo empelo renascimento, o processo de transmutação Septimana Philosophica.da estrutura de todos os aspectos humanos: a viada autofranco-maçonaria µ (3) Esta taça precede a taça da Santa Ceia, a taça do Graal.36 pentagrama 4/2008
Na Escola Espiritual da Rosacruz, distinguimos a natureza da morte e a natureza da vida. De-vemos fazer isso porque devemos estar atentos à situação real, porque devemos ensinar-vos asair do lado do fogo e ir para o lado da luz. Deveis primeiro imergir na luz para, depois, a partirdela, a serviço do mundo e da humanidade, transformar o fogo em luz. Em essência, porém,apenas existe uma natureza, um único reino. Como homens-alma não podemos provocarseparação interiormente. Fundamentados na prática, para delimitação do nosso caminho, paradeterminação mais precisa do nosso objetivo, devemos realmente fazer a distinção e dizer:“Voltemo-nos para a luz!” Mas, assim que conseguirmos elevar-nos na luz, assumiremos ime-diatamente a maravilhosa tarefa de servir a humanidade com todas as conseqüências......Todo o Universo, onde Espírito, alma e corpo existem em unidade, está pleno de consciênciaanímica e espiritual. Todo esse conjunto é uma unidade de grupo, o que significa que a consci-ência de cada alma também é uma consciência onipresente. Por isso o microcosmo renascidoé onipresente, oniabarcante. Partindo desse ponto de vista, considerai que não há ninguémque mais compreenda, mais abarque, que nada existe que seja mais rápido e mais poderoso doque quem venceu a natureza da morte; que a alma-espírito renascida é mais inteligente, maisrápida, mais poderosa do que tudo.Rijckenborgh, J. van. A Gnose original egípcia, tomo 1. Editora Rosacruz, 2006, cap. 30.
Se, na manifestação universal considerada de modo hermético,Deus e a criatura são um único ser, compreendemos por que aRosacruz Áurea insiste na unidade de grupo. Quando percebemosque o campo do Espírito, o campo da alma e o campo dasubstância original são totalmente inseparáveis, percebemos clarae imediatamente que, à luz da Gnose, a existência individual,separada, é um absurdo.Porém, a unidade de grupo em si mesma não é um objetivo. Eladeve emanar de uma atitude sensível que impele cada um à uniãocom tudo que vive. Bem compreendida, ela deve incitar-nos aolhar na face deste mundo, mesmo que estejamos em busca doEspírito. A unidade de grupo não significa estar a caminho daspretensas esferas superiores a fim de escapar do mundo porquenão ousamos afrontar a realidade do caminho nem arcar comsuas conseqüências. Da primeira à última letra compreendemos,no grupo unido no Espírito, qual é nossa verdadeira tarefa nestemundo, tarefa que exige tanta força e amor, que qualquer interessepor viver nas altas esferas mais atrapalha do que ajuda. Porquea realidade suprema é o serviço a todos: o amor que serve. Essacompreensão é própria da alma que aprendeu a amar. J. van RijckenborghR$ 12,00
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