pentagrama Lectorium Rosicrucianum A Sabedoria que pensa no silêncio Vida e obra de George Robert Stowe Mead Ecos da Gnosis Alguns pensamentos sobre “A voz do silêncio” “Teu Deus – meu Deus” Um tratado sobre a unidade e a multiplicidade2010 3mai / junnummer
Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaRedação finalP. Huijs Lectorium RosicrucianumImagens A revista Pentagrama dirige a atenção de seus leito-I. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoorn res para o desenvolvimento da humanidade nesta nova era que se inicia.Redação O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthoorn, do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémA. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. Brul o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Secretaria to, um símbolo somente tem valor quando se tornaC. Bode, G. Uljée realidade.O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está noEndereço da Redação caminho da transfiguração.Pentagram A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaMaartensdijkseweg I, revolução espiritual em seu próprio interior.NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraLectorium RosicrucianumC.Postal 39 13240-000 Jarinu, [email protected]ção, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) [email protected]ável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM.V. Mesquita de SousaTradutores e revisoresA. S. Abdalla, S. P. Cachemaille, J. Jesus,A.Souto Maior, M. S. Sader, U. B. Schmid,M.V. Mesquita de Sousa, C.H.VasconcelosDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, SPwww.lectoriumrosicrucianum.org.brinfo@lectoriumrosicrucianum.org.brSede em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, Lisboawww.rosacruzlectorium.orginfo.por tugal@rosacr uzaurea.org© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253
p e n t a g r a m a ano 32 número 3 2010Quantas vezes não nos lamentamos, sabendo-nos tragados pelo sumáriofrenesi da existência: “Não vivo, sou vivido!” No primeiro artigo, ognóstico Jan van Rijckenborgh (1898–1968) mostra-nos que somos o poder especial do décimovividos por éons! Doze concentrações de forças que provêm sem terceiro éon 2dúvida do passado, mas que de forma alguma desapareceram ou j. van rijckenborghplanejam desaparecer. Eles mantêm-nos continuamente ocupados. vozes do silêncio 16Por isso o autor enfatiza a única possibilidade que temos para simpósio de renova, outono de 2009escapar deles: ascender ao “Décimo Terceiro Éon”, um campo • hermes trismegisto 18magnético puro, assim como o faz a Pistis Sophia no evangelho do • uma vida a serviço da palavra 20mesmo nome. sobre a vida e a obra de george meadIsso leva-nos ao teosofista e gnóstico George Mead (1863–1933), • ecos da gnosis 26que, entre outras obras, traduziu o evangelho Pistis Sophia. Os três • alguns pensamentos sobre a voz doartigos seguintes são textos do simpósio de 28 de novembro de silêncio 322009, que aconteceu no Centro de Conferências Renova, na Ho- “teu deus – meus deus” 36landa, com o título: Vozes do silêncio, e dedicado a George Mead, um tratado sobre a unidade e aa sra. Blavatsky e a seu livro — uma verdadeira jóia — intitulado multiplicidadeA voz do silêncio. Essas alocuções foram precedidas por textos daliteratura mundial sobre o silêncio, alguns dos quais são reproduzi- Capa:A rosa, por sua forma suave, seu per-dos nesta revista. fume e sua beleza sutil, é um símbolo bemApós termos experimentado assim a natureza do silêncio, o último apropriado para a vida da alma, que não podeartigo, “Teu Deus – meu Deus”, é um texto que foi lido nos templos ser descrita com palavras. Em uma lenda doda Rosacruz Áurea. Um trecho dele, por exemplo, é: “O Um é invi- Oriente, a rosa branca é o início, um presentesível, e não se pode deduzir a sua existência com base na multiplici- do Altíssimo. Sua beleza seduz um rouxinol edade; no entanto o Um é mais verdadeiro que a multiplicidade”. leva-o a aproximar-se dela e a cantar-lhe suaA redação espera que, com base na multiplicidade das coisas, pos- mais bela canção. Os espinhos da rosa, então,samos perceber esta mensagem: “Procura, ó alma, o verdadeiro penetram o peito do rouxinol, tingindo a rosaentendimento, e aprende a compreender a manifestação e a es- de vermelho. Contudo, o sol cura a ferida esência das coisas […] E sabe, ó alma, […] Não podes permanecer envolve a rosa com um brilho áureo, a cor daneste mundo, nem levar nada dele. […] Adquire o conhecimento perfeiçãodo simples e abandona o multiforme”. Desejamos que essa leiturainspire o leitor.(Hermes Trismegisto. Do castigo da alma, Jarinu: Editora Rosacruz, 2004, cap. 1)
o poder especial dodécimo terceiro éonJ. van Rijckenborgh escudado pela luz primordial dos mistérios. Assim, ele arrebatou a terça parte da força de to-Suponhamos que criemos uma imagem em dos os arcontes e éons – os princípios de poder nosso pensamento e a sustentemos conti- da natureza da morte. Como consequência, a in- nuamente durante anos, de modo que a in- fluência dos arcontes e éons sobre o sistema mag-cutimos em nossos filhos e em todos os que nos nético do cérebro torna-se cada vez menor, de-acompanham, e que os artistas a desenhem, pin- vendo, em dado momento, cessar por completo.tem e reproduzam em pedra, e os poetas a can-tem. Então podemos imaginar a maneira pela O PASSADO SEMPRE FALA EM NÓS Como mi-qual um éon é formado na esfera astral. São pro- crocosmo tendes um passado espantosamen-jeções de contínuas correntes de desejos e pensa- te longo atrás de vós desde a alvorada da queda.mentos humanos que, por fim, ficam de tal modo A história desse passado está impressa no siste-vivificados que passam a governar e a subjugar a ma magnético de vosso ser aural. E a soma des-humanidade. Esses éons que continuamente cres- se passado sempre fala através do sistema magnéti-cem em força, porque são incessantemente ali- co de vosso cérebro. Estais vinculados às centenasmentados pela humanidade, espoliam em sua for- de milhões de anos do passado que vosso próprioça de luz cada homem de orientação gnóstica que microcosmo também construiu e conservou. Daípenetra a esfera astral. Normalmente isso aconte- todos os arcontes e éons da natureza dialética, dece todas as noites com o aluno, logo que ele en- tempos em tempos, fazerem valer sua voz em vos-trega o corpo ao descanso do sono. sa vida e muitos deles ainda hoje dominarem vos- so ser.Desse fato resultam consequências muito impor-tantes para todos os alunos que são sinceros em Vosso ser intelectual biológico – vosso estado na-relação ao seu discipulado, entre outras a lógica e tural – depende deles por completo. Até este mo-urgente exigência de se retirarem da esfera astral mento eles determinam vossa postura intelectualda natureza da morte. Quando um homem ve- e vosso estado cultural, quer consoante a arte, arifica que, nas horas noturnas, está sujeito às in- ciência e a religião, quer consoante a padrões defluências sumamente perigosas desse campo cada conduta social e a matizes políticos de naturezavez que lá chega (ver Pentagrama 2 2010), cabe social e econômica.então a pergunta: “De que modo posso libertar-me delas? Como proteger-me dessas influências?”No evangelho Pistis Sophia, em Os livros do Da mesma forma todo o vosso caráter, vossosSalvador, é dito que Jesus, o Senhor, depois da sua instintos e necessidades biológicas, a expressão daressurreição, passou de cima para baixo, através vontade e vossa conduta individual são determi-de todas as esferas e regiões do universo da morte nados e dirigidos pelos arcontes e éons, de modo2 pentagrama 3/2010
A esfera astral da vida comum está repleta de forças ímpias dos éons que podem serdesignadas como forças naturais. O termo éon significa: decorrer do tempo, imensurávelperíodo de tempo. Com o auxílio dessa idéia fica claro o que são éons em relação à esfera astral. Éons são forças astrais, atividades astrais que se formaram no decorrer de períodos de tempo muito longos e se tornaram muito poderosas. Por exemplo, projeções de desejos e pensamentos humanos alimentados por tanto tempo que, por fim, foram vivificados na esfera astral. Nos escritos gnósticos da antiguidade, os éons são sempre divididos em doze grupos. Jovem segurando bálsamo perfumado e pano, símbolos da purificação e devoção. Baixo-relevo no estilo da época dos reis aquemênidas, encon- trado no palácio de Xerxes, em Persépolis, séc. VI, a.C. o poder especial do décimo terceiro éon 3
A formação de um éon que não apenas temos de admitir que “sois da na-segundo Goethe tureza”, mas também que “sois dos éons da na- tureza”. Na situação atual são de fato os éons queHans Christoph Binswanger, nascido em determinam vossa natureza.1929 em Zurique, analisa em seu livro Geldund Magie (Magia e dinheiro) a economia CRIAMOS NOSSOS PRÓPRIOS DEUSES Por essamoderna com base no Fausto, de Goethe. razão perguntamos mais uma vez: “O quê ePara sua tragédia, Goethe utilizou o Fausto como são os arcontes dos éons, como os deno-alquimista do século 16, que vende a alma ao mina a filosofia gnóstica?” São princípios e con-diabo para obter poder e prazer. centrações de poder, certas tensões e relaçõesGoethe, o grande e previdente espírito, reco- eletromagnéticas que ocorrem na natureza danheceu os perigos encerrados na economia morte. Podemos dar o seguinte exemplo a esseem desenvolvimento. Em seu drama, Fausto respeito:é o homem que busca felicidade e realização.No entanto, ele não acha em lugar algum o Estais numa ilha completamente deserta e inós-que Mefistófeles lhe promete em troca de pita. Não existe habitação, nem vestuário, nemsua alma. Nem no amor por Margarida, tão fogo. Sois apenas um ser biológico com umaentremeado com paixão e cobiça, nem em consciência biológica que sabe apenas que existe.sua viagem pelo reino mítico do espírito. No O mundo a vossa volta é frio, duro, adverso e ex-fim da vida, Fausto recebe do imperador o cessivamente mau. Por isso instala-se a autoafir-direito de conquistar ao mar um pedaço de mação, a luta pela existência. Disso não escapais,terra por meio de diques. A transformação é a lei básica da natureza.em terra economicamente utilizável ocorreàs custas do casal ancião Filêmon e Báucis. Sobre esse fundamento se desenvolve aos poucosSua casinha e seu jardim são sacrificados, a consciência intelectual. Começa com uma re-sem a menor consideração, ao projeto de miniscência na qual são registrados os efeitos ne-aquisição de terra. É dito: “Aterrorizados, gativos da luta pela existência, com o propósitoeles caem sem vida”. de edificar um pensamento baseado na experiên-Contudo, no momento em que acredita ter cia dessa memória, que, enfim, ajudará a conver-alcançado sua meta mais elevada, Fausto fica ter os efeitos negativos da luta pela existência emcego. Ele escuta os trabalhadores cavar e resultados positivos.acredita que eles estejam conquistando no-vas terras. Na realidade, porém, eles cavam- Cada homem esforça-se por obter resultadoslhe a sepultura. Mesmo assim, Mefistófeles positivos na natureza da morte, o que, comonão obtém a alma de Fausto, o que pode seratribuído à concepção otimista que Goethetem do homem. Ele via o mal como partedinâmica da força que sempre causa o bem.Quando Fausto encontra Mefistófeles pelaprimeira vez e lhe pergunta quem é, ele res-ponde: “Uma parte da força que semprequer o mal e sempre cria o bem. […] Souuma parte da parte que no princípio era4 pentagrama 3/2010
compreendereis, é, em primeiro lugar, uma ati- tudo, uma parte das trevas que dá nascimen-vidade do cérebro baseada nas necessidades bio- to à luz”. Por fim, a alma de Fausto é salvalógicas. O homem elabora um plano para auto- por forças superiores, o que Goethe expli-afirmação. Quando a concepção mental é bem ca com as palavras: “Podemos salvar quemsucedida, e ele continua trabalhando mentalmen- sempre se ocupa em aspirar”.te nesse sentido, ela cresce em seu campo de res- A visão de Binswanger sobre essa tragédia épiração e, em determinado momento, passa a go- fascinante. Ele ocupa-se, entre outras cenas,verná-lo. Então ele é possuído por seu plano. com aquela no palácio imperial no Fausto II, primeiro ato, que trata do levantamentoAssim é criado um arconte, um deus da natureza. de capital. Mefistófeles, para prover o im-Seguindo uma fórmula específica, os raios ele- perador falido de novos meios financeiros,tromagnéticos do campo natural são, em parte, faz imprimir papel-moeda com a assinaturatransformados em um princípio eletromagnéti- do imperador. O lastro é constituído pelosco separado que habita um microcosmo. Nasce o recursos naturais enterrados no solo do im-deus da natureza individual! pério. Assim, algo sem valor intrínseco – o papel – transforma-se em um meio de pa-Quando mais pessoas são envolvidas no pla- gamento, um estimulante para a economia.no para autoafirmação, juntas elas criam um po- Binswanger exprime-o da seguinte forma:deroso deus da natureza. Daí resulta um grande “A economia moderna, em que a criação decampo eletromagnético transmutado cuja for- papel-moeda desempenha uma posição cen-ça é muito maior do que a do arconte individual. tral, é a continuação da alquimia com outrosE com essa força maior o plano de autoafirmação meios”.pode ser realizado em parte. O êxito é atribuído Seu livro Geld und Magie (Dinheiro e Magia),ao deus da natureza, ao arconte a quem se rende há pouco reeditado, começa com a afirma-louvor, e a mobilização para a realização do pla- ção de que sobretudo o Fausto II “é de umano continua de três formas: atualidade impressionante”. Goethe previu, no início do século 19, aquilo de que nós to-Cria-se um culto ao arconte. dos estamos convencidos atualmente: queCria-se uma arte religiosa para apoiar o culto. o crescimento econômico é o principal cri-Cria-se uma ciência, porque os resultados de iní- tério para o desenvolvimento exterior dacio foram apenas parciais. humanidade. “Especialmente em tempos de crises de crédito, a obra-prima de GoetheE o empenho para levar o plano a cabo continua. é um texto-chave”, acrescenta de maneiraAssim se comprova que arte, ciência e religião esclarecedora Binswanger. o poder especial do décimo terceiro éon 5
Mas, será que a humanidade poderia reagir de mododiverso? Não estaria cada um de nós sustentando osarcontes e éons?são o resultado da autoafirmação biológica pri- Mas, será que a humanidade poderia reagir demária do homem. modo diverso? Não estaria cada um de nós sus- tentando os arcontes e éons?Podemos encarar essa descoberta de duas formas:como crente e como ateu. Essa diferença é apenas É preciso então considerar uma solução parauma questão de gosto. Gostais de um dos arcon- esse problema. Há duas soluções: uma negativates, outra pessoa gosta de outro. Acreditais ape- e uma positiva. Nesta natureza dialética há gru-nas em vosso éon e não no do outro. pos de radiações eletromagnéticas muito funda- mentais, que giram com determinada regularida-COMPORTAMENTO DOS ARCONTES Com a de, exercendo suas influências. Com o despertarenorme alimentação mental que recebem, eles cres- dos arcontes e éons, esses raios e suas influênciascem com incrível rapidez. Há a seguinte lei da ciên- são dispersados e afastados de suas trajetórias. Ascia natural: semelhante atrai semelhante, ainda que transformações eletromagnéticas provocadas pelase combatam reciprocamente. As concepções ele- humanidade trazem ao campo de vida dialéti-tromagnéticas que vos mostramos se reúnem em co constante desarmonia, que se comprova inces-nível mais alto com a mesma vibração. Os princí- santemente. E isso significa uma complicação dapios de poder aglomeram-se, formando concentra- vida dialética. Os deuses que os próprios homensções de poder, arcontes juntam-se, formando éons. criaram lhes prestam um auxílio que, portanto,Os éons são nuvens de arcontes com a mesma vi- não pode ser aceito sem a devida consideração.bração. Se considerais um arconte como um deusnatural de formato menor, mais planetário, então é Como a realização dos planos dos seres huma-claro que um éon deve ser um deus natural de for- nos sempre se dá apenas de modo parcial, podeismato universal, um deus intercósmico. Assim po- imaginar que a cultura dos arcontes e éons pros-deis considerar o seguinte: quando um período da segue, precisa prosseguir. Todavia, com a conti-humanidade dura tempo suficiente, todo o univer- nuidade do desenvolvimento cultural, a desar-so acaba por ser povoado, desde seu ponto mais bai- monia no campo magnético básico também devexo, por forças poderosas originárias de instintos, aumentar. Isso continua até atingir um limite,impulsos e necessidades da humanidade dialética, uma crise.forças essas que governam toda a natureza com umacontranatureza. O campo magnético fundamental da dialética está relacionado a todo o universo. Como este éUma contranatureza? Sim, pois todos os arcontes mais forte do que as nuvens aglomeradas de éons,e éons são a prova da horrível miséria e da condi- quando o ponto de crise é atingido, o que ocor-ção fundamental da desgraça da humanidade. re não é uma transferência de forças do universo6 pentagrama 3/2010
para as dos éons, mas exatamente o contrá-rio, uma grande depuração. Algo parecido sem-pre acontece no universo. As radiações e efeitosdos éons produzidos pela humanidade ameaçamo campo natural básico por meio da cultura inin-terrupta. A consequência é a diminuição da for-ça dos éons.Uma consequência traz a outra. Quando os éons O evangelho Pistis Sophia afirma que o Décimoperdem a terça parte de sua força, isso significa Terceiro Éon é o único do qual não é tomadaque o sistema magnético terrestre é separado de força alguma na hora da crise e no momento ine-seus arcontes e éons. Eles já não conseguem atu- vitável da mudança na história universal. Por issoar com sua energia sobre o homem, e este já não o Décimo Terceiro Éon e todos os que perten-consegue agir por meio deles. Talvez penseis que cem a seu sistema podem continuar sua evoluçãoisso seja magnífico. Porém, será que compreen- cultural.deis de modo claro que tendes de colocar algoem seu lugar? Quando a obra dos éons é anulada, No evangelho Pistis Sophia se fala também sobrea humanidade precisa retroagir ao início primor- “esferas”. Essas esferas dos arcontes e éons, na re-dial da dialética, o início biológico. A harmonia alidade, também são forças naturais, mas não secom as forças fundamentais será assim restabele- explicam pela característica fundamental do uni-cida. E então o homem será como antes. Sua cul- verso dialético, apesar de se originarem e se tor-tura artística desaparecerá. Resta o homem bioló- narem atuantes com o auxílio de suas leis. Osgico em sua nudez; a civilização é aniquilada. arcontes e éons podem ser encarados como trans- formadores eletromagnéticos produzidos pelaEXISTE UMA SAÍDA Naturalmente essa regressãoé dramática ao extremo. Assim o homem atingeum limite e retorna a seu ponto de partida. Dessaforma ele cria deuses e, enquanto os cria e serve,prepara-lhes a morte.Se quiserdes escapar desse destino, que, comomicrocosmo, já vivestes tantas vezes, deveis to-mar outro caminho, o caminho do DécimoTerceiro Éon. o poder especial do décimo terceiro éon 7
“Vosso ouro não é nosso ouro” humanidade. Eles forçam, por assim dizer, todas as correntes magnéticas fundamentais da nature-Segundo a lenda, Fausto era alquimista. za dialética a se transformar, canalizar e transmu-Goethe considerava a economia moderna, tar por seu intermédio.na qual a criação de papel-moeda desem-penhava posição central, como uma conti- Assim, desenvolve-se um conflito eletromagné-nuação da alquimia mediante a utilização de tico periódico perfeitamente natural no universooutros meios. A impressão de papel-moeda dialético. Tão logo o poder dos arcontes e éonstem certo caráter mágico. A esse respeito se estende acima de determinado limite, ocor-diz Binswanger: “É característico da magia re uma revolução intercósmica para restabele-que algo aconteça sem esforço nem dili- cer o equilíbrio que foi comprometido e está in-gência, de maneira muito rápida e ilimita- terrelacionado com todo o sistema da Via Láctea.da. Pensem no prestidigitador, que com um Como primeira consequência desse conflito osgesto de mão retira da manga um número arcontes e éons são despojados de um terço deaparentemente infinito de pequenos lenços. suas forças, como diz o evangelho Pistis Sophia,Em vez de transformar chumbo em ouro, a com o objetivo de romper o contato entre eleseconomia moderna transforma papel em di- e a humanidade. E uma vibração magnética to-nheiro. Essa criação de papel-moeda trans- talmente estranha à humanidade, com um com-forma-se, na economia moderna, na criação primento de onda e uma tensão completamen-de valores sem fronteiras naturais”. te diferentes, interfere no vínculo milenar entreGoethe mostra isso por meio de Mefistó- o sistema magnético do cérebro e o ser aural porfeles, que inspira a Fausto a convencer o um lado e os deuses da natureza por outro.imperador a imprimir papel-moeda comsua assinatura. Mefistófeles, como parte da Com isso a humanidade fica separada por com-força que sempre quer o mal, espera que pleto de suas criações, fazendo a linha ascen-isso termine em inflação e caos. No entan- dente da cultura transformar-se em declínio. Ato, Fausto utiliza o dinheiro, entre outras obra dos éons, ou seja, a cultura da humanida-coisas, para adquirir novas terras e, assim, de, é então aniquilada, e a humanidade regrideestimular a economia. Desse modo, ele ao ponto de partida primordial. A isso está liga-frustra a expectativa de Mefistófeles, “que da uma perda total da memória, pois toda a tra-sempre quer o mal” – e que mais uma vez, ma de pontos magnéticos no ser aural e na per-de certo modo, “cria o bem”. Quem inves- sonalidade é apagada, de modo que, por fim, ote o dinheiro recém-criado na realidade o homem volta a ser o primitivo de outrora. Issotransforma em valor. Essa é a alternativa à prossegue até um mínimo biológico. O inteiroinflação. O sonho de Fausto aparentementepode continuar. É um espelho de nossa exis-tência dialética.No Fausto, o imperador transfere para osbancos o privilégio de imprimir cédulas e,assim, criar papel-moeda. E isso ainda é oque acontece. Atualmente, os bancos pos-suem a licença para trabalhar com “depósi-tos em conta-corrente” (depósitos pecuni-ários). O Estado apoia isso ao permitir que8 pentagrama 3/2010
universo da morte fica então depurado dos ar- qualquer pessoa possa converter dinheirocontes e éons e, em determinado momento, co- fictício em dinheiro vivo. Goethe faz Faustomeça uma nova evolução cultural. A roda gira dizer: “Adquiro poder, posses”. Depósitosde novo em sentido ascendente para, mais tar- pecuniários podem transformar-se em pos-de, mover-se outra vez em sentido descendente. ses, em realidade.Quantas vezes já terá o homem, como micro- O homem considera-se senhor da criação.cosmo, vivido essa experiência? Para ele, o domínio das forças naturais tam- bém faz parte desse poder. Fausto sonha emA ESSÊNCIA DO DÉCIMO TERCEIRO ÉON usar a força das marés como fonte ilimitadaDeterminada parte da humanidade é responsável e inesgotável de energia, pois, assim pensapela criação do Décimo Terceiro Éon. Para me- ele, quem pode dominar as forças naturaislhor compreender, podeis usar o seguinte exem- é capaz de criar “valores” sem precisar tra-plo como hipótese: balhar e pode continuar a viver para sempre nesta natureza.Eis um homem saturado pela multiplicidade das Em sua aposta original com Mefistófeles,experiências, pelo sofrimento e desgosto em seu Fausto barganha o tempo. Ele prazerosa-caminho de dor e lágrimas. Ele descobriu que mente perderá seu tempo se puder dizer,todo o esforço exercido pela natureza é em vão. num momento supremo: “Permanece! ÉsDescobriu que tudo o que ocorre já aconteceu tão bela!”, pois está convencido de quenos séculos que se foram. Portanto, já provou e Mefistófeles é incapaz de oferecer-lhe algoconheceu a dialética em sua verdadeira forma. que jamais o leve a dizer isso. Contudo, quando Fausto, que tem em vista dominarAgora ele presume, com razão, que esse não pode as forças naturais, parece prestes a conse-ser o objetivo da existência humana. Pensa que guir isso, ele diz: “Ao pressentir felicidadehá uma falha na base da manifestação do univer- tão elevada, desfruto agora o momentoso que conhece. Então formula um plano. Cria supremo”. Sua hora, então, soa, e ele caiuma concepção mental de libertação da natureza morto.da morte que ele reconheceu. Esse plano contém O domínio sobre a natureza leva à destrui-a disposição de oferecer todo o sacrifício para sua ção do meio ambiente. Esse é o reverso darealização, também o sacrifício da própria exis- medalha. Em seu Fausto, Goethe representatência, do próprio eu. isso pela expulsão de Filêmon e Báucis, que devem renunciar a sua vida idílica à beiraO que esse homem empreende então? Ele cria um da praia, símbolo da fronteira que leva aoarconte, não um arconte para preservar a natureza, superior. Temos tendência a ver os danos ao meio ambiente como uma perturbação do equilíbrio natural, mas, na realidade, tra- ta-se da linha divisória que leva à natureza original do homem, ao homem imortal, que pertence a outro mundo, o jardim dos deu- ses, onde as forças naturais se desenvolvem conforme as linhas de força do Espírito. Na alquimia, a pedra filosofal servia como o poder especial do décimo terceiro éon 9
meio para transformar chumbo em ouro. mas sim um arconte para escapar, para elevar-seNo Fausto, o capital funciona como pedra da natureza. Depois encontra outras pessoas quefilosofal. O resultado é cada vez mais dinhei- são como ele, que também procuram o sentido daro “morto”. Em certo sentido, vemos aqui o vida. Ele faz que participem de seu plano de salva-aspecto dinâmico do sistema capitalista – e, ção. Eles colaboram, e o arconte torna-se maior.portanto, de nossa natureza. Nossa econo-mia – assim como nossa natureza – não tem É evidente que, em determinado momento, umaum objetivo maior. Nunca estamos prontos. formação de arcontes desse tipo, seja lá em queNunca alcançaremos a felicidade, porque local do mundo ela se desenvolva, deve trans-ela está encerrada em um processo ininter- formar-se num éon. O Décimo Terceiro Éon érupto. No âmbito material, porém, isso é criado, apesar de, segundo sua natureza, ainda seruma ilusão. Verdadeiro progresso apenas é muito fraco e terreno.possível no plano da alma, na forma de de-senvolvimento da consciência. Os avanços O que acontece então? O novo éon, é natural,tecnológicos e o consumo desenfreado de interage corporalmente com todos os membrosmatérias-primas necessárias para isso cons- da comunidade. As forças magnéticas transmu-tituem uma ameaça para o ser humano e, tadas mediante o plano impelem para a cultura,portanto, contribuem para o esgotamen- para a ação e, portanto, para resultados.to delas e para o nosso fim. Somos comoFausto, que finalmente reconhece que tem Mas esses resultados ainda não são satisfató-de passar por cima de cadáveres a fim de rios. Qual é o motivo? As tensões eletromagné-realizar seu projeto econômico: a felicidade ticas transmutadas ainda não foram eliminadaseterna nesta natureza. Também os banquei- do campo natural dialético comum e, por isso, sóros investidores consideravam-se mestres podem conduzir a resultados do tipo que corres-do universo, porém não foram capazes de pondem a esse campo natural.desempenhar esse papel, e isso levou à crisefinanceira atual. O ANSEIO DE SALVAÇÃO NASCE DONo entanto, somos ainda mais semelhantes DISCERNIMENTO A comunidade do pla-a outro personagem da obra de Goethe, no de libertação não desanima, porém conti-o aprendiz de feiticeiro. Invocamos forças nua. Corrige-se em suas deliberações, sem al-que não somos capazes de dominar. Como terar os fundamentos de sua filosofia. Por meioFausto, achávamos que seríamos capazes de da experiência, aprofunda essa filosofia confor-realizar um crescimento econômico dura- me os fatos. É que chega o momento no qual adouro e um conforto material constante.Esse é o fio vermelho na tragédia humana.Contudo, assim diziam os antigos alquimis-tas: “Vosso ouro não é nosso ouro”.10 pentagrama 3/2010
Então ele formula um plano que contém a disposição deoferecer todo o sacrifício para sua realização, também osacrifício da própria existência, do próprio eu.comunidade descobre que, caso pretenda obter Assim, com base no discernimento, surge o pri-êxito, as forças eletromagnéticas da natureza da meiro desejo de salvação. Dá-se então o primei-morte não servem como hipótese de trabalho. Ao ro contato, ainda que muito elementar, com aolhar para a imensidão do universo, a comunida- Gnosis, com a verdadeira natureza divina, quede apresenta um grande anseio por outra energia não se explica pela natureza da morte. Daí emcomo base para a vida. diante, o Décimo Terceiro Éon assimila forças o poder especial do décimo terceiro éon 11
Vaso ou taça, encontrado emPersépolisnão apenas da natureza co- exerce uma influência cadamum, mas também da natu- vez maior sobre todos osreza original. Poderíamos di- que são atraídos para suazer que nasceu o éon joanino. esfera.Então ocorre uma alteração notá-vel nos corpos das pessoas que pertencem à nova Vereis então de maneira clara que, em determi-comunidade: os sistemas magnéticos do ser au- nado momento, existirá um Décimo Terceiroral, da cabeça e do coração ligam-se a esse éon. É Éon, inúmeros arcontes e uma comunidadeuma situação na qual se tornam retos determina- muito grande que está no mundo, mas, quantodos caminhos do ponto de vista físico, estrutural ao que realmente importa, já não é do mundo.e fundamental. Suas características eletromagnéticas tornaram- se tais que neles pouquíssimos elementos terre-A evolução prossegue ainda que com muita di- nos podem ser encontrados.ficuldade. Há sensível progressão. Uma novaalegria mobiliza a comunidade. Mas, o ego- Quando ocorrem os referidos momentos de cri-centrismo ainda lhe prega peças. Ainda se faz se na natureza comum e a terça parte das for-necessária muita tribulação, experiência e nova ças de todos os arcontes e éons é tomada, nadaunidade de grupo até que o desapego do eu seja há para ser tirado do Décimo Terceiro Éon,total. Mediante o trabalho incessante da comu- porque ele não transmuta forças magnéticasnidade, o Décimo Terceiro Éon torna-se cada dialéticas.vez mais refinado, cada vez mais harmoniza-do com o círculo magnético divino, perdendo Ele não força a natureza comum, por isso fica ile-gradativamente seu caráter terreno. Sintonizado so, assim como todos os que pertencem à sua es-com essa cultura, o Décimo Terceiro Éon fera. Portanto, quando na natureza comum uma12 pentagrama 3/2010
Esse grupo não abandona a humanidade porque nãoestá voltado para sua própria salvação. A salvação jáaconteceu!evolução cultural se volta para níveis inferiores, E, assim, a comunidade universal do Décimoos que pertencem ao Décimo Terceiro Éon pros-seguirão de força em força e de glória em gló- Terceiro Éon torna-se mais luminosa e magnífi-ria. Para o restante da humanidade a roda girano sentido descendente para o ponto inicial. ca, mais forte e poderosa. A ascensão dos liber-Quando, então, se segue um novo dia de mani-festação e a humanidade penosamente vai ao en- tos torna-se cada vez mais simples. Por isso podecontro de sua nova evolução cultural, a situaçãono todo manifestado já estará bastante mudada, ser dito no evangelho Pistis Sophia: “E quan-pois no dia de manifestação anterior houve umgrande grupo do Décimo Terceiro Éon, um gru- do invocarem pelos misté- Fontes:po de libertos. rios da magia que se acham Ackerman, J. Es fehlt das no Décimo Terceiro Éon,Esse grupo não abandona a humanidade por- eles a realizarão dessa ma- Geld. Nun gut, so schaff esque não está voltado para sua própria salvação. neira e com certeza porque denn! (Falta dinheiro.A salvação já aconteceu! Não existe autoafirma- [...] não arrebatei forças des- Pois bem, então fabri-ção! Esse grupo está orientado para os que ainda sa região” µ que-o!) Frankfurter Allge-são da natureza da morte e nela estão. Ele envia meine Zeitung, p. 12,mensageiros, profetas e iluminados para cha- 15 out. 2009.má-los. Quando esses chamados encetam o ca- Steinz, P. Economie isminho joanino pela experiência devem apenasligar sua comunidade com a comunidade uni- voortzetting van alchemieversal, assim como um novo elo se junta a umacorrente. met andere middelen (Economia é a continu- ação da alquimia com outros meios). NRC Han- delsblad, 15 out. 2009. Binswanger, H.C. Geld und Magie, eine ökonomis- che Deutung von Goethes Faust (Dinheiro e magia, uma explicação econômi- ca do Fausto de Goethe). Moermann, 2009, 3.a ed. Rijckenborg, J. van. A Gnosis original egípcia, 2.a ed., t. 1. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006, cap. 17. Rijckenborgh, J. van. Os mistérios gnósticos da Pis- tis Sophia, Jarinu: Editora Rosacruz, 2007, cap. 28. o poder especial do décimo terceiro éon 13
Torres do silêncioEm muitos locais nas areias do deserto da velha Pérsia,encontravam-se as solitárias “torres do silêncio”. Nelas, durantemilênios, os adeptos de Ahura Mazda colocaram seus mortospara descansar. Segundo sua fé, eles devolviam o corpo, presentedos elementos, aos elementos, e a luz ao que era da luz. AhuraMazda, sem começo ou fim, criou, pela força de seu pensamento,a matéria original invisível e intangível. Ela é a substância espiritualde todos os mundos futuros, a própria divindade. Ela é a vesteda divindade, e suas criações estão envolvidas por essa veste,também imóvel e intangível.A primeira matéria vive, é vida, pensamento e sentimento. Dessaprimeira matéria surge nosso mundo, e, dessas elevadas imagensde luz, a nossa humanidade. A origem do mundo e do homem foipossível porque algo do Espírito está presente na matéria!A atitude de vida do adepto de Zoroastro fundamentava-seem três colunas: pensamento justo, fala justa e ação justa. Essaatitude permitia ao homem transpor o abismo entre o nossomundo e o da primeira matéria.
Vozes do16 pentagrama 3/2010
silêncio Simpósio de outono em Renova, 2009
hermes trismegisto H.W. Longfellow Quieto, pelos desertos egípcios, Algo insubstancial, sutil, Corre o altivo Nilo, Parece ser esse Teurgista, De suas margens, as grandes faces de Na maioria das vezes envolto como que pedra por névoa, Miram com sorriso paciente. Em profunda meditação. As imperiosas pirâmides perfuram Vago, fantástico e irreal Quietas os céus sem nuvens, Ao nosso pensamento ele parece, E a Esfinge fita com olhos misteriosos, Caminhando num mundo ideal, Solenes e pétreos. Numa terra de sonhos. Mas onde estão os antigos Foi ele um, ou muitos, fundindo Semideuses e reis egípcios? Nome e fama em um, Nada restou senão Como um rio para o qual convergem Uma inscrição gravada em pedras e Muitos afluentes? Até que, com força acumulada, anéis. Onde estão Hélios e Hefaísto, prossegue, Deuses de antanho? Tomando ímpeto e levando Onde está Hermes Trismegisto, Corrente abaixo a água doce Detentor de seus segredos? De incontáveis lagos. Onde estão as muitas centenas Próximo ao Nilo eu o vejo vaguear, de milhares Parando aqui e acolá, Ponderando sobre a união mística De livros que ele escreveu? Entre deuses e homens; Pilhados pelos Taumaturgos, Meio acreditando, sentindo totalmente, Perdidos em terras remotas; Com supremo deleite, Mergulhados em oblívio eterno, Como os deuses, ocultando Assim como afunda no rio a areia Espalhada por vento tempestuoso a si mesmos, Ao soprar sobre a terra. Alçam os homens à sua altura.18 pentagrama 3/2010
Simpósio de Outono, Renova, 2009Ou na via pública de Tebas, Ó sacerdote do Egito, recentementeCom suas centenas de portões, Encontrei teu vasto, sombrioRespirando, como se consagrado,Um ar divino; e magnificenteE entre barulhos discordantes, Cemitério do passado, tomadoNa multidão que se acotovela,Ouvindo vozes longínquas por ervas daninhas; E uma aparição moveu-se diante de mim, e celestiais Naquela margem obscura,De um canto do Olimpo. Como uma lufada de vento que bafejou Sobre mim, e, então, deixou de existir.Quem chamará seus sonhos de falaciosos? De: In the Harbor, 1882 (Tradução Pentagrama)Quem procurou ou investigouTodo o vasto e inexploradoUniverso do pensamento?Quem, confiando na própria habilidade,Marcará, com régua e linha,A região fronteiriça que separaO humano e o divino?Trismegisto! O três vezes grande!Como teu nome sublimeDesceu até esta mais recenteProgenitura do tempo!Felizes aqueles cujas páginas escritasPerecem com sua vida,Se mesmo em meio às eras em desintegraçãoSeu nome sobrevive! vozes do silêncio: hermes trismegisto 19
Uma vida a serviçoSimpósio de Outono, Renova, 2009 da palavra O simpósio de outono em Renova teve como tema “Vozes do silêncio”. Ao mesmo tempo, ele foi dedicado a George R.S. Mead, que, um século atrás, conseguiu desvelar as fontes gnósticas do início de nossa era. Para o buscador atual, a força expressiva desses textos gnósticos conti- nua sendo muito inspiradora. Por isso, temos o prazer de publicar nesta edição de Pentagrama as palestras desse simpósio.De uma pessoa que, com a idade de vinte e de férias e os meses de verão em companhia de nove anos, redige ensaios sobre “A Alma sua amiga. Alguns anos mais tarde interrom- do Mundo” e, aos trinta, publica um tra- pe a carreira e torna-se seu secretário particu-tado sobre Orfeu, uma tradução dos Upanixades lar. Nesses primeiros anos da Teosofia, a gran-e uma do evangelho Pistis Sophia, de Valentino – de iniciada madame Blavatsky, conhecida comotraduções ainda hoje reconhecidas por suas qua- “a Esfinge”, confia importantes tarefas a esse jo-lidades sensíveis e sutis – pode-se dizer que seu vem de vinte e sete anos. Assim, George Meadfuturo será brilhante. O personagem de quem fa- ocupa-se de sua correspondência, possui as cha-lamos já tinha cumprido, então, algumas etapas ves de seu cofre e é encarregado da redaçãoimportantes da vida, pois, como num turbilhão, da revista Lucifer, naquela época um órgão daa história o havia colocado no meio espiritu- Sociedade Teosófica. E, de vez em quando, ain-al mais avançado de seu século. Esse homem oca- da lhe prepara os charutos.sionalmente deve ter perguntado a si mesmo quecaminhos o tinham conduzido até aquele ponto. Ao descontentamento dos membros mais anti- gos e experientes da direção, madame BlavastskyNascido em 1862 no sul da Inglaterra, George respondia: “Mind you; George Mead is the onlyRobert Stowe Mead possuía um pensamen- true theosophist!” (“Prestem atenção; Georgeto clássico penetrante, dominava perfeitamen- Mead é o único teosofista verdadeiro!”). E era as-te o latim e o grego e, entre outras línguas, tam- sim que ela os desarmava.bém aprendera o sânscrito. Pode-se dizer que,desde muito jovem, ele possuía “a feel of Gnosis” Mas o que é um teosofista? Hoje dizemos(uma intuição gnóstica), um sentido aguçado para que se trata de um membro da Sociedadea pureza. Teosóf ica. Todavia, a palavra “Theosophia” signif ica “sabedoria sobre Deus“ ou “sabedoriaEstimulado pelo energia ígnea do signo de Áries de Deus”. Sob essa denominação se encontram– sob o qual havia nascido – e graças à leitura reunidos os que anelam e buscam a inspiraçãode um livro recém-publicado sobre o budismo e a sabedoria divinas. Os verdadeiros mem-esotérico, ele entra em contato com a Teosofia. bros da Sociedade Teosóf ica eram amantes des-Aos vinte e dois anos ele encontra Helena sa “sabedoria sobre Deus”. Eles reuniam-se sobPetrovna Blavatsky, ou HPB, como era conhe- a lei da fraternidade universal, cuja máxima,cida em Londres. A partir dessa época, em que “tat tvam asi” (tu és Isso), representa a unidadeainda era professor, ele passa todas as semanas com o divino e com todos os seres vivos. Eles dedicavam-se ao estudo dos Vedas e a toda sa- bedoria divina, a qual, segundo Blavatsky, é20 pentagrama 3/2010
composta de seis sistemas orientais e de apenas vivificavam e tornavam ativo o próprio Deus noum sistema ocidental: a Gnosis. âmago de seu ser. Essa ação, essa atividade direta do divino no interior do ser humano preparado,No entanto, precedendo essa busca matizada de é indicada como “Espírito Santo”. Assim, com-orientalismo realizada pela Sociedade Teosófica, preendemos hoje o conceito “teosofia” de manei-já ocorria desde o Século das Luzes – mais pre- ra muito mais abrangente e universal, exatamentecisamente desde o começo do século 18 nos ter- como ela era vista pelos fundadores da Sociedaderitórios da Alemanha e da Europa Central – um Teosófica naquela época. Desse modo, teosofista,grande movimento conhecido sob o denomi- no verdadeiro sentido dessa palavra, é todo aquelenador comum de Teosofia. Por exemplo, o au- que adota o pensamento da fraternidade univer-tor Johann Gichtel, famoso por ter sido o edi- sal e se dedica ao estudo da correlação entre o sertor de Jacob Boehme, publicou em 1710 a obra humano e o divino supremo.Theosophia Practica. Pessoas como Fichte, emBerlim, Lopoukhine, em Moscou, e Karl von Não era apenas para fazer um comentário espi-Eckartshausen, em Munique, eram pensadores rituoso que Helena Petrovna Blavatsky tratavae filósofos conhecidos que escreviam sobre essa George Mead de “único teosofista verdadeiro”.Teosofia esclarecida. Trataremos disso mais adian- Ao contrário de outros membros da Sociedadete. Para a ciência materialista do século 19, esse Teosófica, ele não se interessava exclusivamen-caminho de luz, essa experiência divina direta, te pela sabedoria oriental. Na realidade, ele acre-era considerada totalmente ultrapassada e rejeita- ditava que sua missão era revelar e tornar possívelda, do mesmo modo que um adolescente rejeita os o redescobrimento da sétima corrente de sabe-pais. Taxada de obsoleta e ridícula, essa visão era doria, a corrente da Gnosis. Mead era um traba-renegada com fúria fanática. Já nas igrejas, tanto a lhador dedicado, mas se Blavatsky o qualifica-anglicana quanto a protestante e também a católi- ra de verdadeiro teosofista, isso era devido ao seuca, a Teosofia era considerada como exorbitante e comportamento. Ela escreve em A chave para ainfame: somente o padre, o pastor e o ministro da Teosofia: “Na Grande Obra, para libertar a almaigreja eram capazes de sondar a vontade de Deus. do ser humano, não há lugar para personalidades, os seres dotados de um grande ego não são admi-George Mead era de outra opinião: ele seguiu o tidos. São escolhidos apenas os que são capazesrastro de luz que corria até o início da era cris- de se mostrar prestativos e submissos”. Georgetã, período no qual, segundo ele, “atuavam di- Mead deu provas de uma espiritualidade eleva-ferentes fraternidades teosóficas: as fraternidades da. Especialista em literatura pré-cristã, ele tor-da Gnosis”. Essas comunidades, antes, durante e na-se, inspirado por Blavatsky, em profundo co-após o advento de Jesus Cristo, desejavam, busca- nhecedor da matéria de ensinamento hermético evam ou confessavam a religião vivente da luz sal- da gnosis antiga. Suas obras incluem estudos so-vadora. Elas faziam profissão de fé da Teosofia, bre os elementos da gnosis cristã e das religiõesavançando de coração e alma rumo à sabedoria do mundo greco-romano. Toda a sua energia éde Deus. No seu livro The World Mystery (O mis- consagrada ao estudo do gnosticismo, do helenis-tério do mundo), Mead escreve que “todas es- mo, do judaísmo e do cristianismo.sas pessoas, sem exceção descobriram a Alma doMundo, louvaram-na e tentaram unir-se a ela. Por outro lado, Mead é igualmente conhece-Seria possível que elas falassem de outra coisa? dor das filosofias budistas. Ele traduz o Bhavagad-Elas louvaram o que é real e tangível e não as fu- Gita do sânscrito e o publica. Sob influência degidias manifestações materiais”. Blavatsky, ele lança em inglês uma edição do evangelho gnóstico Pistis Sophia, do qual umEssas pessoas tinham em comum o que ainda exemplar, desde 1785, já se encontrava no Britishhoje é importante também para nós: por sua con- Museum. Em 1890 essa tradução é publicadaduta e por seu amor pela Luz, elas descobriam, na forma de episódios na revista dos teosofistas, vozes do silêncio: uma vida a serviço da palavra 21
Porque, a partir daquele momento, eu já não tinha, deum dia para o outro, trabalho, nem salário, nem amigos,nem possibilidades, nem leitoresLucifer, da qual Mead era o principal redator. gnosis original de Hermes e no evangelhoBlavatsky assim decidira chamá-la com o intuito Pistis Sophia, suas explicações sobre o caminhode chocar a burguesia cristã. a ser trilhado pelas almas.Por causa da publicação do evangelho Pistis Todavia, em dado momento, George Mead,Sophia, C. G. Jung viaja até Londres para agra- homem honesto, admirador da verdade e dedecer a Mead por sua tradução. Mead redi- uma ética superior, já não consegue fazerge uma série de obras-chaves que serão deter- com que sua moral interior concorde com al-minantes para o desenvolvimento espiritual e guns novos membros da direção da Sociedademístico do Ocidente contemporâneo. A pri- Teosóf ica.meira é publicada em 1900: Fragments of a FaithForgotten (Fragmentos de uma fé esquecida), Tampouco lhe agradam truques mágicos e fe-a segunda, em 1906, é Thrice Greatest Hermes nômenos ocultos, que ele considera como(Hermes, o Três Vezes Grande). Essas duas grosseiros obstáculos à busca espiritual.obras permitem descobrir o melhor sobre esseassunto e, até os dias de hoje, elas são de agra- Por isso, Mead recusa a proposta de tornar-sedável leitura, apesar de o estilo ser considerado presidente da Sociedade Teosóf ica, preferin-ligeiramente rebuscado por algumas pessoas. do dedicar-se a suas próprias pesquisas, den-Por mais de um século sua sutileza vem desa- tre as quais são prioritários os textos da gno-fiando publicações ulteriores sobre o mesmo sis dos primeiros séculos. Um último incidentetema. Trata-se de estudos feitos com grande coloca em evidência que ele não pode asso-dedicação e de forma competente, o primeiro ciar-se à ostentação, à presunção cortês, às ilu-sobre a Gnosis, e o segundo sobre a sabedoria sões astrais e manifestações espíritas cujo ob-de Hermes. Mead dá provas da manifestação jetivo é fazer alarde. Em 1908, ele abandona ada sétima corrente de sabedoria ao demonstrar Sociedade Teosóf ica.que, ao lado das várias correntes orientais dis-poníveis nessa época, existem, inegavelmente, Foi um ato muito corajoso, ele explica: “pois,fontes ocidentais. É graças a Mead que dispo- a partir daquele momento, eu já não tinha, demos de textos originais, sutis e profundos do um dia para o outro, trabalho, nem salário,início de nossa era. nem amigos, nem possibilidades, nem leitores”. Juntamente com ele, setecentos membros abando-Cinquenta anos mais tarde, Jan van nam a Sociedade Teosófica. Um ano mais tarde,Rijckenborgh pode elaborar com base na em 1909, com 150 amigos, George Mead, funda22 pentagrama 3/2010
“The Quest Society” (A Sociedade da Busca), autores importantes, conscientes de que, sob ouma organização dedicada ao estudo comparati- manto do segredo e dos mistérios, se encontra avo das religiões com base em elementos científi- “sabedoria eterna” do desenvolvimento espiritu-cos e objetivos; era antes de tudo uma associação al do ser humano. Entre os que contribuem comde buscadores segundo a alma e o espírito. o periódico estão Martin Buber (1878-1965), Gustav Meyrink (1868-1932), A.E. Waite (1857-Sem dúvida alguma, George Mead concentrou- 1942), W.B. Yeats (1865-1939), Gerhard Scholemse no impulso de libertação, o qual, duran- (1897-1982) e muitos outros. Durante os dezoitote os anos que sucederam à morte de Blavatsky, anos que sucederam a morte de Blavatsky, Geogetornara-se muito premente. O mesmo impul- Mead considerou um privilégio e uma missão – àso também obriga Max Heindel a abandonar a qual ele se manteve fiel – a possibilidade de man-Sociedade Teosófica e fundar “The Rosicrucian ter acesa, no âmbito da Sociedade da Busca, aFellowship” (A Fraternidade Rosacruz). Rudolf chama de um grupo empenhado em desenvolverSteiner age do mesmo modo em 1912, fun- um trabalho espiritual.dando a “Anthrophosophischen Vereinigung”(Sociedade Antroposófica), para nela prosseguir De 1906 a 1908, ele publica, em onze belos vo-seu trabalho de maneira autônoma. E a iniciati- lumes, a obra Echoes from the Gnosis (Ecos dava independente que Krishnamurti toma a par- Gnosis): Os hinos de Jesus, A crucificação gnósti-tir de 1929 também se explica por esse mesmo ca, Os hinos de Hermes, Os mistérios de Mitra e osimpulso para a libertação. Oráculos caldeus, entre outros, constituem uma espécie de retrato do que se desenrolou em tor-Quando George Mead deixa a Sociedade no do mar Mediterrâneo durante os primeirosTeosófica em 1908, ele já publicara a maior par- séculos de nossa era.te de suas importantes obras sobre a espirituali-dade greco-egípcia. A vida de Mead e de seus colaboradores abran- ge um período que se distingue pelo fato de es-A partir de 1910, George e sua discreta esposa píritos notáveis terem investigado a base espi-Laura Mead editam a revista The Quest (A Busca). ritual do ser humano. Foi um período de buscaNa associação que leva o mesmo nome que a re- febril pelos possíveis desenvolvimentos da psi-vista, eles organizam encontros semanais que se que e da alma. Esse período estende-se doalternam: numa semana, apenas para membros, mundo do pensamento de Blavatsky até pen-na outra palestras são realizadas para pessoas inte- sadores como Jung e músicos como Jaap vanressadas. Além das reuniões, a principal atividade Zweden, que recentemente relatou (duranteera a edição da revista trimestral The Quest. um programa de televisão) como ele tinha sido moldado por seus antecedentes teosóficos.A respeito da revista Mead diz: “Não havia di-nheiro, mas havia algo melhor. Muitos artigos Mead foi um pioneiro particularmente intui-excelentes e algumas contribuições de primeira tivo no que se refere à Gnosis – o que Quispelcategoria; tudo isso representava um trabalho ple- chama de “feel of Gnosis” e o que os rosa-cru-no de amor. Não podíamos remunerar nossos co- zes expressam mediante a imagem da “rosa-laboradores com um centavo sequer. Este é o mé- do-coração aberta” – G.R.S. Mead, como rarorito da revista The Quest, e, como redator-chefe, pioneiro, colocou a vida a serviço da liberta-sinto que meu orgulho é justificado quando per- ção do que constitui a grandeza do homem in-corro a lista de meus associados mais estima- terior: o homem-espírito original. Seu coraçãodos. Lista que outros periódicos teriam dificulda- honesto e sua convicção irrevogável da verdadede em suplantar, se tivessem de trabalhar com os encontraram confirmação no “conhecimentomesmos meios dos quais dispomos”. De fato, en- da Gnosis”. E seu adágio era: “Conhece a Luzcontramos na revista The Quest contribuições de e torna-te amigo dela” µ vozes do silêncio: uma vida a serviço da palavra 23
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“Ainda não estamos em condição de abrir os olhos de Corpus Hermeticum,nosso ânimo e contemplar a imperecível e inimaginável Livro 12. A chave, versícu-beleza do bem. Somente a verás quando aprenderdes a já los 13 e 14, acompanhadosnão falar dela, porque a Gnosis do bem é tanto silêncio de comentário de Jan vandivino como o silenciar de todos os sentidos. RijckenborghQuem uma vez a encontrou já não pode dar atenção anenhuma outra coisa. Quem uma vez a vislumbrou já nãopode ter olhos nem ouvidos para outra coisa, porque atéseu corpo participa da imobilidade. Porque enquanto todasas percepções e estímulos corpóreos desaparecem de suaconsciência, ele permanece na quietude.”O silenciar de todos os órgãos dos sentidos acontececoncomitantemente com o participar do silêncio insondávelda natureza fundamental.Então, o ânimo, tal como Hermes o denomina, desperta.Ele é a unidade entre a cabeça e o coração. O ânimoexperimenta um repouso interior inabalável de grandeintensidade.Nesse silêncio, é inflamado um fogo em perfeita suavidade.E a energia desse fogo brando nutre o inteiro sistemacorporal, a fim de que o silêncio recém-nascido, a pazinterior, seja fortalecida.Assim, nosso inteiro ser torna-se maduro para perceber avoz do silêncio.Os retratos de Faium pertencem ao apogeu da antiguidade clás-sica. Eles testemunham de um refinamento artístico particular,apesar de representarem pessoas pouco conhecidas. Podemosconsiderar essa arte como a expressão derradeira e mais elevadada consciência de uma época: pouco tempo depois parece queesse talento se perdeu, e a arte primitiva do início da Idade Médiainiciou – igualmente no Egito.As múmias e os sarcófagos egípciosem torno de Faium eram, no tempo do Egito romano, decoradoscom uma representação do falecido. Este, já durante a vida, haviasido retratado pelo artista, que pintava com uma espécie de “faca-paleta”, técnica conhecida pelo termo “encáustica”, procedimentoonde são usados pigmentos naturais diluídos em cera derretida. vozes do silêncio 25
Simpósio de Outono, Renova, 2009 ecos da gnosisUma tradição milenar nos diz que há “Para encontrar a verdade é necessário muito uma analogia fascinante entre o grande tempo. É preciso não ter mais nada em men- mundo e o pequeno mundo. Os ini- te e dedicar todo o seu interesse a essa tarefa.ciados de todos os tempos sempre dirigiram Quando finalmente penetramos a verdade, nósa atenção para o fato de cada átomo de nosso a encontramos por ter seguido escrupulosa-corpo ter sido “emprestado” do universo e que mente as indicações do ensinamento universal.a ele deverá voltar. Fizemo-lo até encontrar uma imagem clara da verdade, primeiro por meio de investigações e considerações teóricas, e depois passando pelaE o que diz um cientista moderno como Andrew experiência de uma contemplação beatífica. SeKnoll, astrônomo da Universidade de Harvard? estais verdadeiramente determinados a fazer“Não estamos separados do universo; e, ao estu- isso e decididos a mergulhar nessa tarefa dedar o universo, na verdade voltamos o espelho corpo e alma, ao raiar da aurora louvareis vossapara nós mesmos. A ciência não descreve um viagem através da noite e vereis vossos esforçosuniverso objetivo que estaria em alguma parte, recompensados. O Senhor ter-vos-á gratificadono exterior, enquanto que nós seríamos entida- e gratificar-vos-á. Ele dirá: “Eu sou teu com-des separadas dele. Fazemos parte deste universo, panheiro de jornada e estou à tua disposição,somos formados dos mesmos elementos, os quais caso queiras percorrer comigo o caminho maisse comportam segundo leis válidas para todo o rápido para a meta, o qual também é o menosuniverso. “Somos pó, e ao pó voltaremos; somos acidentado e está mais livre de perigos.”2pó de estrelas, e pó de estrelas voltaremos a ser.”1O que nos falta para compreender isto? O George Mead concordaria inteiramente comcientista diz: “É difícil conhecer a verdade; se isto. Ele escreve no primeiro volume de Ecos daalguém encontra alguma coisa que se assemelha Gnosis:3ao que esperava encontrar, deverá redobrar es-forços para controlar seu método e sua maneira “Durante muito tempo passei boa parte da vidade trabalhar. A razão pela qual um cientista num mundo de grande beleza de pensamento edeve estudar durante anos, passar em exames, de pureza de sentimento, criado pela devoção eobter diplomas, fazer um mestrado, apresentar pela inteligência de uma das muitas fraternida-uma tese de doutorado, deve-se, sobretudo, ao des teosóficas do mundo antigo. Elas denomi-fato de ter de aprender a conhecer a si mesmo, navam-se discípulas de Hermes, o Três Vezesa examinar seus métodos e suas expectativas”. Grande, e às vezes falavam de sua fé como aEis o que diz o sábio Ibn Tufayl (1105-1185), Religião do Noûs. Tendo vivido no Egito, elasnatural de Cadiz, Espanha, há quase 900 anos: já existiam antes do aparecimento do cristia-26 pentagrama 3/2010
nismo e também foram contemporâneas deste A reivindicação feita é para a Gnosis, e não paradurante seus primeiros séculos. as formas de expressão usadas por seus discípu- los e ouvintes. Todas essas formas de expressão,O que restou de seus escritos e de seus esfor- os numerosos sermões, ou discursos sagrados,ços foi reunido e traduzido por mim em lín- dos discípulos desse caminho são apenas meiosgua inglesa até onde fui capaz de reproduzir para guiar os homens em direção a esse conhe-seu pensamento e interpretá-lo. […] Os ecos cimento, para a Gnosis, eles não são a Gnosisda Gnosis de Hermes, o Três Vezes Grande, mesma. […] Tudo isso, no entanto, é comoatravessaram assim os séculos e tornaram-se uma veste que oculta a forma completamenteaudíveis a ouvidos ingleses, em volume mais bela e a glória da verdade. O que importa é quepleno do que antes e, assim espero, com maior todos esses teosofistas da tradição trismegísticaclaridade. Essa Gnosis de Hermes, o Dez Mil declaram que há a Gnosis e a certeza absoluta eVezes Grande, como o chamou Zósimo num inesgotável. Eles o declaram a uma só voz - umêxtase de entusiasmo, não é pouca coisa: seu voz doce que traz convicção em seu interior.fundamento é o genuíno amor de Deus. Ela Eles o declaram para o verdadeiro conhecedor,diligencia em fundamentar-se na verdadeira no âmago de sua alma. Não importa o quanto afilosofia e na pura ciência do homem e da na- mente ou a opinião duvidosa - a mente im-tureza e é, deveras, uma das mais belas formas postora - possa tecer sua magia de aparênciasda Gnosis das eras. Essa Religião do Noûs está contrárias ao nosso redor.”repleta de sabedoria (Theosophia) e de adoração(Theosobeia). De início ela é religião, plena de Mead explica que a causa da pseudoespiritua-verdadeira devoção, piedade e adoração, funda- lidade e da dúvida se deve ao fato de o homemmentada sobre a justa atividade e a passividade ter esquecido suas duas naturezas e delegadodo Noûs, e seu objetivo é a Gnosis das coisas a direção de sua existência à forma mortal.que são e a senda do Bem que conduz o homem Ele explica: “É a pequena mente, a mente dopara Deus.” homem, o curso do destino, que cria a duali- dade exterior. O Espírito superior sabe que oE Mead continua: interior e o exterior são dois em um, que são complementos autocondicionados, um dentro e“Será que reivindico demais para a Gnosis de fora do outro a um só tempo.Hermes, o Três Vezes Grande? Nada mais faço Na Religião do Noûs, não existe oposição en-senão repetir o que ele ensina com suas próprias tre coração e cabeça. Não é apenas um culto dopalavras (ou melhor, com as palavras de seus intelecto, nem é apenas um culto da emoção.discípulos). É a senda da devoção e da Gnosis, unidas de vozes do silêncio: ecos da gnosis 27
maneira inseparável, as núpcias sagradas verda- regenerados ou renascidos: a trindade do ser,deiras da alma e do Espírito, da vida e da Luz, […] o triângulo perfeito adornado com todas asa inefável unificação de Deus-Mãe e de Deus- três centelhas do homem perfeito.”Pai no homem divino, o Logos, o Unigênito doMistério dos Mistérios.” E continua o autor, que sempre dá provas de grande sutileza no que diz respeito aos assuntosE ele continua: da alma: “Mas acima de tudo, jamais devemos perder de vista a vida prática em nosso mundo“Vendo, então, que agora tenho em mente e na sociedade:muito do que foi escrito sobre essa Religião doNoûs, gostaria de escrever alguns pensamentos A própria Gnosis não está condicionada porsobre ela tal como me ocorrem, uma impressão espaço e tempo, somos nós que estamos con-ou outra que a contemplação dos belos sermões dicionados por esses modos de manifestação.dos discípulos da Mente Mestra (Hermes) me Quem renasce na Gnosis […] passa da condiçãogravou na memória: de homem ao estado de super-homem e Cris- to. Ou como Hermes o denominaria há doisO corpo humano deve ser considerado um milênios: demônio e Deus; ou ainda na lin-templo, um santuário do divino, o mais admi- guagem de quinhentos anos antes de Hermes:rável edifício de Deus que podemos imaginar, boddhisatva e Buda.”mais belo que o mais sublime templo construí-do por mãos humanas, pois esse templo natural Em seguida Mead chega ao ponto essencial decriado pelo Divino é uma cópia da grande ima- sua exposição:gem, o templo do universo onde mora o filho “De fato, se compreendo bem, a própria es-de Deus, o homem. sência da Gnosis é a fé em que o homem pode transcender os limites da dualidade que o fazCada átomo de cada grupo de átomos, cada homem e tornar-se um ser divino consciente.membro, cada articulação e cada órgão é Ele deve solucionar o problema de sua épo-formado segundo o plano divino; o corpo é a ca e superar seus limites atuais. A maneira deimagem do grande selo: céu-e-terra, masculi- realizar isso, ouso sugerir, não é exaltando seuno-feminino em um. presente conhecimento da ciência, da filosofia, da religião às custas do pouco que ele possaMas pouquíssimos são os que conhecem ou aprender da tradição imperfeita da religião, dasequer sonham com as possibilidades desse tem- filosofia e da ciência do passado, transmitidasplo vivente do Divino! Nós somos sepulcros, pelo esquecimento de uma série de geraçõestúmulos dos mortos, pois nossos corpos estão ignorantes e negligentes. Alimentar a vaidadesemiatrofiados, vivos apenas para as coisas da de nossos dias com as sobras dos banquetes demorte, e mortos para as coisas da vida. outras épocas é uma dieta medíocre para quem deseja tornar-se um gnóstico.Ora, a Gnosis do Noûs ensina-nos a fazercircular novamente a vida através dos canais É bem verdade que, falando em geral, sabemosmortos de nossa natureza corpórea, a invocar o mais sobre observação física, análise e classifi-alento santo de Deus a fim de vivificar a subs- cação, teoria do conhecimento e muitas outrastância de nossa estrutura, para que assim o ani- coisas no domínio do mundo inferior dos fenô-mador divino faça nascer em nós nosso comple- menos, mas será que sabemos mais sobre reli-mento divino, nosso outro ser, nossa esposa há gião como experiência viva do que as grandestempos perdida. Então nosso verdadeiro ser po- almas do passado; sabemos mais sobre Gnosisderá renascer, se a amarmos incansavelmente e do que os gnósticos de tempos idos? Eu duvido.a cortejarmos afetuosamente, e nos tornaremos Mas, voltando à Gnosis: devoção é Deus-Gno-28 pentagrama 3/2010
Não sejais arrastados, pois, pela torrente furiosa,mas dirigi-vos, os que dentre vós disso são capazes,para o porto da salvação, usando a corrente dacosta, e ancorai nelesis. Verdadeira religiosidade ‘nada mais é que E outra vez o missionário da Gnosis adverte aa Gnosis de Deus’, assim como diz Lactâncio, multidão da ‘torrente furiosa’ da ignorância:em latim, citando Hermes. Essa religiosidade Não sejais arrastados, pois, pela torrente fu-[…] conduz à ‘completa e perfeitíssima contem- riosa, mas dirigi-vos, os que dentre vós dissoplação’ e abarca o ‘aprendizado das coisas que são capazes, para o porto da salvação, usando asão, a contemplação de sua natureza e o conhe- corrente da costa, e ancorai nele; buscai alguémcimento de Deus’; ou, em outras palavras: ‘ser que vos tome pela mão e vos conduza até asinstruído na essência do todo e na visão supre- portas da Gnosis, onde irradia luz clara, em quema’. Essa visão suprema não é, se entendo bem, não há treva alguma; onde alma alguma estáum arrebatamento para regiões além do céu, embriagada, mas todas estão sóbrias e elevam omas é a visão do Bem em tudo. Porque o mes- coração para aquele que deseja ser conhecido.tre deste caminho ensina a seu aluno a Gnosis Ouvido algum pode ouvi-lo, olho algum podedo Bem, que é a Gnosis de Deus, dizendo: vê-lo, língua alguma pode dele falar, apenas o Noûs e o coração o podem.”Somente a contemplarás quando não puderes dizernenhuma palavra a seu respeito. Porque a Gnosis Com esses curtos fragmentos da Gnosis dodo Bem é silêncio sagrado e dia de repouso paratodos os sentidos. Ela é a conquista do ‘sentido Noûs, escolhidos dentre uma profusão de nobrestotal’, do ‘sentido comum’, do ‘sentido de inteli-gência’. Porque quem a percebe, já nada mais pode ensinamentos semelhantes, George Mead ter-perceber, e quem a vê, já nada mais pode ver; nemouvir… E brilhando então em volta de seu Noûs, mina o primeiro volume de Ecos da Gnosis “naela irradia através de toda a sua alma, atraindo-apara fora do corpo, transformando-o inteiramen- esperança de que exis- Fontes:te em essência. Porque é possível, meu filho, queuma alma humana se torne semelhante a Deus, tam pessoas que irão ler, 1. Angier, N. The beautiful ba-ainda que habite um corpo humano, se ela real-mente contempla a beleza do Bem. prestar atenção e aprender sics of science. Londres: FaberEssa é a ‘deif icação’ ou a ‘apoteose’ do serhumano: ele torna-se semelhante a Deus ao esses escritos originais, & Faber, 2008.tornar-se um deus. A beleza do Bem é a ordemcósmica, e o modo de meditação foi o da autor- meditando interiormente 2. Ibn Tufayl, A.B.M. Hayy Ibnrealização, mediante a qual a alma é posta emharmonia com a alma cósmica. sobre eles” µ Yazgan. Een filosofische allego- rie uit Moors Spanje (Hayy Ibn Yazgan. Uma alegoria filosó- fica da Espanha dos mouros). Amsterdam: Bulaaq, 2005. 3. Mead, G.R.S. Echoes from the Gnosis, 100th Anniversary Edition of the Spiritual Classics by G.R.S. Mead. Wheaton: Quest Books, 2006. vozes do silêncio: ecos da gnosis 29
Olha para o Tao, e não o vês; ele é denominado invisível. Escuta o Tao, e não o ouves; ele é denominado inaudível. Tenta agarrar o Tao, e não o tocas; ele é denominado intangível. Faltam palavras para caracterizar esta tríplice indefinição. Por isso, elas se fundem numa só. O aspecto superior do Tao não está na luz; seu aspecto inferior não está nas trevas. O Tao é eterno e não pode receber um nome; ele sempre retorna ao não ser. Aproxima-te do Tao, e não vês seu início. Segue-o, e não vês seu fim. Penetra o Tao dos tempos antigos para poderes governar a existência presente. Quem conhece o princípio original segura nas mãos o fio do Tao. Segura a grande imagem, e a terra move-se. Ela move-se incólume em paz, silêncio e serenidade. Música e banquetes fazem parar o estrangeiro que passa. Mas o Tao surge, e não tem cor nem sabor! Olha-o, e não o verás. Escuta-o, e não o ouvirás. Usa-o, e não o esgotarás.Lao Tsé. Tao Te King,capítulos 14 e 35.30 pentagrama 3/2010
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Simpósio de Outono, Renova, 2009 Alguns pensamentos soEm 1889, Helena Petrovna Blavatsky (HPB) escreveu aos seus amigos franceses:“meu médico insiste em que eu tire pelo menos quinze dias de descanso. Pre-ciso de uma mudança de ares”.Assim, ela recebe um convite para ir a Fontai-nebleau, perto de Paris.A proposta vem de uma amiga americana de Boston.Casada com um senador dos Estados Unidos, Ida Candler passava uma tempo-rada lá com a filha. Helena Blavatsky ficou três semanas em Fontainebleau.Logo após sua chegada, ela conta em uma Sentamo-nos em volta de Helena Blavatsky para carta cheia de entusiasmo à sua irmã Nádia a leitura. A tradução estava em um inglês perfeito que a mudança lhe fez bem. Blavatsky, que e magnífico, bastante fluente e musical; encon-costuma então andar de cadeira de rodas, chegou tramos apenas poucas palavras que precisavamaté a dar um passeio “com as próprias pernas rijas” ser alteradas, e ela olhou-nos como uma criança– em suas palavras – “entre enormes carvalhos e surpresa, espantada com nossos elogios – elogiospinheiros escoceses com nomes bem históricos. que assinariam embaixo todos os que lessem esseSimplesmente morei dias inteiros no bosque”. poema extraordinário com um pouco de senso literário.”Na história do esoterismo, entretanto, sua visitaa Fontainebleau não é notável pelo fato de ela ter Muito se escreveu sobre A voz do silêncio. O céle-ido a essa cidade para uma “mudança de ares”, bre mestre do zen budismo, dr. Suzuki, testemu-mas, principalmente, por ter sido o lugar onde ela nhou a autenticidade desse esplêndido opúsculo:escreveu a maior parte de A voz do silêncio. Talvez “Sem dúvida alguma, a sra. Blavatsky foi iniciadao fato de escapar à atmosfera poluída e brumosa em certa medida nos ensinamentos mais profun-de Londres tenha contribuído para que ela pudesse dos do Mahayana, que depois expressou comoescrever essa preciosa obra. Teosofia, ao selecionar o que julgou apropriado para o mundo ocidental”.Em sua autobiografia, Annie Besant menciona suavisita a Fontainebleau, descrevendo como surgiu E George Mead – a quem dedicamos tan-o livro A voz do silêncio: “Eu havia sido chama- ta atenção durante este simpósio – conta queda a participar […] de um grande congresso que HPB o convidara para ler o manuscrito de Ase realizou de 15 a 20 de julho em Paris, e fui voz do silêncio. Ele relata: “Eu disse a ela quepassar um ou dois dias em Fontainebleau com esse texto era o que havia de maior em toda aH.P. Blavatsky, que viajara ao exterior em busca nossa literatura teosófica. E, contrariando meusde repouso por umas duas semanas. Encontrei-a hábitos, esforcei-me para externar em palavrasocupada com a tradução dos grandiosos frag- um pouco do entusiasmo que havia sentido aomentos do Livro dos preceitos áureos, hoje conhe- lê-lo. Mas HPB não estava satisfeita com seucido pelo título de A voz do silêncio. Ela escrevia trabalho, manifestando a preocupação de nãomuito rápido, sem fazer sequer um rascunho. haver conseguido corresponder plenamente aoNessa mesma noite, ela me fez lê-lo em voz alta original em sua tradução… Este era um dos seuspara que eu avaliasse ‘se o inglês estava aceitável’. traços de caráter mais destacáveis: ela nuncaHerbert Burrows estava presente, e também a estava segura quanto ao seu próprio trabalhosenhora Candler, uma fiel teosofista americana. literário e escutava com muita atenção todas as32 pentagrama 3/2010
obre A voz do silênciocríticas, mesmo as vindas de pessoas que fariam Agora, tentaremos apresentar-vos a beleza especialmelhor se não abrissem a boca. Curiosamente, e a própria essência de A voz do silêncio:ela preocupava-se com seus melhores artigose obras e tinha mais confiança em seus textos “Aquele que quiser ouvir a voz de Nada, o Sommais polêmicos. sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana.”A voz do silêncio compõe-se de três fragmentos queprovêm do Livro dos preceitos áureos. O primeiro Dharana é a perfeita concentração da alma, na qualleva o mesmo título do livro, o segundo intitula- tão somente o pensamento superior desejado porse Os dois caminhos – o dos olhos e o do coração, Deus é dirigido para algum assunto interior. Parae o terceiro, As sete portas. Por ocasião do lança- isso, abandona-se tudo o que pertence ao univer-mento do livro, Blavatsky afirmou: “O Livro dos so exterior ou ao mundo dos sentidos. Então, opreceitos áureos contém a sabedoria obrigatória para “Outro divino” poderá falar-nos em nossa vida portoda e qualquer escola que queira aproximar-se meio da união alquímica, mediante as núpcias al-dos ensinamentos universais do Espírito”. químicas: esse é o grande mistério da Rosa-Cruz.Depois da Segunda Guerra, quando Jan van Ri- “Estas instruções são para aqueles que não conhe-jckenborgh, junto com os seus alunos, retomou cem os perigos dos Iddhi inferiores.” Ou seja: sãoo trabalho do Lectorium Rosicrucianum – que é destinadas aos que querem seguir a senda dos ver-uma escola do Espírito – foi justamente A voz do dadeiramente grandes e não se opõem, por meiosilêncio o primeiro livro que ele colocou perante a de um forte instinto de conservação, à correnteconsciência desses alunos. Estas foram as suas pa- dos desígnios divinos.lavras a respeito dessa obra: “O conteúdo do Livrodos preceitos áureos somente foi revelado aos alu- Quando o aluno “deixar de ouvir os muitos”,nos das escolas internas sérias. Por isso, o extrato no mundo exterior dos sentidos, “poderá divisardessa obra, intitulado A voz do silêncio, somente o Um”. Então haverá um intenso clarão, comopoderá ser transmitido a ‘muito poucos’.” Esse um poderoso raio de luz que atravessa as trevaspequeno número refere-se aos que tudo fazem da existência terrestre – a iluminação interior, dapara alcançar a Luz, o reino original ou a Gnosis, qual nos fala a literatura mística mundial. É quan-como ouvimos várias vezes durante este dia. São do se percebe o som interior, que destrói com-as pessoas que estão dispostas a “perder seu eu” a pletamente o som exterior: é a voz de “Nada”, oserviço do homem superior, do homem divino, “Som sem som”. No coração, a voz do Pai dirige-para poderem ligar-se à Luz mediante o nasci- se novamente ao Filho, que é a Luz, que estavamento da nova alma. perdido e agora foi reencontrado. vozes do silêncio: alguns pensamentos sobre a voz do silêncio 33
O caminho de Chailly para Fontainebleau. Pintura de Claude Monet, 1864.Na Floresta de Fontainebleau H.P. Blavatsky escreveu A voz do silêncio.A tradução literal do título em sânscrito seria: “A O Livro dos preceitos áureos dirige-se ao discípulovoz que ressoa na espiritualidade”. O primeiro interiormente: “Se a tua alma sorri ao banhar-secapítulo já resume claramente de que maneira o ao sol da tua vida; […] se a tua alma chora dentroser humano chega ao conhecimento e à sabedo- do seu castelo de ilusão; se a tua alma se esforçaria. Ele precisa atravessar três salas para chegar por quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre;ao “vale da felicidade”: a sala da ignorância e das sabe, ó discípulo, que a tua alma é da terra”.provações, a sala da aprendizagem purificadora ea sala da sabedoria. Só a esse primeiro capítulo, Quando o aluno se encontra, assim, na senda,Jan van Rijckenborgh dedicou um grande núme- ele ouve pela primeira vez a voz do silêncio. É aro de conferências. Alguns trechos dessas confe- voz do deus interior que lhe fala, no íntimo. Orências dão-nos uma impressão da profundidade deus interior é Krishna para os antigos hindus,de A voz do silêncio. tendo sido chamado de “Christos” pelos primei- ros gnósticos. A voz do Christos é o Espírito que“Como seres humanos, comunicamo-nos com os desce para religar-se com o ser da natureza terres-demais por meio de nossa consciência, que é ligada tre mediante a alma.ao espaço e ao tempo. Contudo, se conseguirmos li-bertar nossa alma mediante forte anseio e dedicação, Nada nem ninguém pode fazer o que quer quenosso ser divino far-se-á ouvir novamente dentro seja em prol do ser humano na senda, se essa vozdela. Somente então pode-se falar de um verdadei- não lhe falar. A alma ocupa aqui uma posição-ro pensamento que sonda e reconhece os desígnios chave. Se a voz do silêncio for percebida porquedo plano divino, para depois dar testemunho dele. existe uma alma em condição de compreendê-la,Somente então o homem será uno segundo o corpo, ela tornar-se-á seu guia para sempre. E apenasa alma e o espírito. É apenas a partir desse momento quando a alma segue e obedece a esse guia é queque a senda se mostra ao discípulo.” ela será capaz de concluir essa primeira fase peri-34 pentagrama 3/2010
Se nos deixarmos arrastar pelas ondasincessantes das emoções, como poderemosser da eternidade?gosa, pois essa voz nos fala de uma realidade de Como a alma poderá atravessar a sala da apren-vida que bem conhecemos. dizagem e da purificação, sem ficar indiferente ao que acontece com o ser humano? Ela preci-Afinal, não há, na vida material, muitos altos e sa libertar-se de toda e qualquer emoção, tantobaixos? das alegrias quanto das amarguras; e manter-se focada em sua ligação sublime com a Luz, com oQuando um ser é jovem, forte e com boa saúde, Christos, sabendo que essa é a melhor maneira deé como se estivesse “com o vento em popa”, ou contribuir para que o espírito, a alma e o corpo“se banhasse sob o sol da vida”; então ele “canta” formem uma unidade.em seu corpo carnal. Quem iria recriminá-lopor isso? No entanto, chega a hora em que nota Assim, hão de cumprir-se as palavras com as quaisser prisioneiro do seu “castelo de ilusões”. Num gostaríamos de concluir esta palestra:momento está completamente absorvido pelo“tumulto do mundo” e, em outro, ele escuta a “Mas, ó discípulo, a não ser que a carne seja passi-“voz clamorosa da grande ilusão”; ele assusta-se va, a cabeça lúcida, a alma firme e pura como umcom as “lágrimas quentes da dor, e o ensurde- diamante que cintila, o fulgor não chegará à câmara,cem os gemidos da angústia”. Num momento, há a sua luz do sol não aquecerá o coração, nem os sonsmotivos para encarar a vida com otimismo; no místicos das alturas akashicas chegarão ao ouvido…”.instante seguinte se está arrasado. Alguém negaque seja assim? Quando a alma puder cantar seu novo hino em ti, reconhecerás na voz do silêncio os tons e a estrutu-E a voz do silêncio, a voz interior do Christos, diz ra do “som espiritual”, uma linguagem que surgepara quem está iniciando a senda: “Que tua alma da única fonte de sabedoria e de vida.não siga os humores inconstantes do ser sensorial!Não te entregues à alegria do momento nem à dor “Vê! tornaste-te a luz, tornaste-te o som, és o teude um instante”. Mestre e o teu Deus. Tu próprio és o objeto da tua busca: a voz sem falha, que ressoa através de eterni-Se nos deixarmos arrastar pelas ondas incessantes dades, isenta de mudança, isenta de pecado, os setedas emoções, como poderemos ser da eternidade? sons em um, a voz do silêncio.” µRegistra isso no coração: se tua alma acompanhara corrente contínua das emoções, sendo sempre Fontes:tocada por elas, então cortará, ela própria, o fio deprata que a liga ao Mestre, não podendo permane- Blavatsky, H.P. A vozcer com ele, no silêncio. do silêncio. São Paulo: Pensamento, 1976. vozes do silêncio: alguns pensamentos sobre a voz do silêncio 35
“teu deus – meu deus”Para o rosa-cruz, um templo representa um raio do Grande Templo “que estáno meio”, um raio do sol divino que abrange tudo e todos. Quem encontra aluz no templo tem a possibilidade de elevar-se. Tocado pelos raios do sol, elepode ver o que é iluminado no próprio ser. Assim como o sol é o ponto centrale a fonte da vida de tudo o que existe no universo que nos envolve, assim Deusé a fonte da qual provém tudo o que surgiu, a fonte que tudo ilumina, pela e daqual tudo provém e à qual tudo retorna.O sábio chinês Lao Tsé escreveu outrora: Por que não há harmonia em parte alguma, mas há sofrimento em todo lugar? Por que aPelo Um o céu é límpido, impiedade é tão florescente? É aqui que tem início o estudo da realidade.Pelo Um a terra é firme, No mundo, ao nosso redor, vemos uma imen- sa profusão de formas. Por exemplo, o cavalo:Pelo Um os espíritos são luminosos, há milhares deles, todos diferentes, mas ape- nas um tipo: o cavalo. A rosa ou a folha dePelo Um as dez mil coisas são engendradas. carvalho existem em quantidades, mas sempre somos capazes de reconhecê-las. Entretanto,A BUSCA PELA REALIDADE Cedo ou tarde na não há duas iguais, cada uma tem sua própriavida chega o momento em que começamos a forma. E continuamos a refletir, pois perce-refletir sobre a verdade, a perguntar-nos como bemos o Um e a multiplicidade. O problema,encontrá-la, a questionar-nos sobre a existên- agora, é que a busca de muitas coisas é possí-cia de Deus e sobre o objetivo de nossa exis- vel porque elas são visíveis, mas o Um nun-tência como criaturas aqui da terra. ca é. Deduzimos sua existência unicamente por meio da multiplicidade. Portanto, é mes-Alguns dizem que não há outra realidade; mo paradoxal considerar a existência do Umque o mundo não contém nada de perma- como mais real que a da multiplicidade.nente e que a realidade, no que concerne aosseres humanos, é apenas uma experiência de TUDO ESTÁ EM PROCESSO DE “GÊNESE”curta duração. No mundo visível da natureza, tudo muda continuamente. Tudo está ocupado em nas-O que vemos foi produzido de maneira ale- cer e morrer ou se encontra em alguma po-atória, como resultado de um processo natu- sição entre os dois. Nada chega à perfeição.ral. Outros crêem que o mundo foi feito por Os fenômenos da natureza, segundo Platão,um criador divino, que se ocuparia de nós, “evoluem” sempre, porém jamais “são”.homens, e nos distribuiria recompensas oupunições… A religião é testemunha disso. A propósito desses fenômenos da nature-Os não crentes vão um pouco mais longe ao za, nossos cinco sentidos dizem que são re-tentar responder a questões como: Por que ais. Mas a razão nos diz também que o mis-tanta confusão na terra? Por que esse caos? terioso Um, sempre criando e sempre igual a36 pentagrama 3/2010
um tratado sobre a unidade e a multiplicidadesi mesmo, poderia bem ser mais real que suas QUEM SOU EU? Nosso conhecimento doproduções sempre mutantes. múltiplo, da multiplicidade da natureza, é tão extenso em nossa época que engloba oPlatão escreve também que todo o conhe- mundo todo. Graças a ele podemos nos en-cimento já existe no mais profundo de nos- gajar em uma nova evolução: a do homemso ser. Com base no intelecto, poderíamos que descobre a si mesmo. Com a descobertapassar a uma forma de pensamento superior de seu ser interior, ele descobre a verdadeirachamado “razão”; ou como nos ensina a sa- natureza de sua consciência. Da multiplici-bedoria gnóstica, poderíamos passar a pensar dade ele parte em busca da unidade. E Petercom o coração. Russell, um cientista e filósofo atual, chega a afirmar que: “O próprio fato de se esforçarO coração é sempre o ponto central, o núcleo por encontrar é como procurar iluminar-sedas coisas, e isso vale também para o cora- com uma lâmpada de bolso em um aposentoção humano. O coração não é apenas o motor sombrio enquanto se busca pela luz. Tudo ode nossa existência, mas também onde pode que encontramos são as diversas coisas desseser encontrado o conhecimento mais profun- aposento sobre as quais pousa a luz de nos-do. O coração religa-nos ao Um; a inteligên- sa lâmpada. É o mesmo que tentar ver o quecia, ao múltiplo. Mestre Eckhart (1260-1328), causa cada experiência. O que encontro dãomístico alemão, declara: “Deus está em toda diferentes conceitos, imagens e sentimentosparte, e ele é perfeito em toda parte. Apenas para os quais a atenção se volta. Mas são to-Deus movimenta a essência de todas as coisas dos objetos da experiência: eles não podem[…] Deus é o âmago de todas as coisas”. portanto ter causado a experiência”.Um adágio sufi afirma o seguinte: “O que é o ‘eu’? Uma investigação precisaDeus dorme na pedra, levará à descoberta de que o que indicamos com o conceito ‘eu’ é o depósito onde sãosonha na planta, reunidas as experiências e as lembranças”, conclui Erwin Schrödinger, físico ganhadormovimenta-se no animal do prêmio Nobel. O que resta se o espírito torna-se silencio-e desperta no homem. so, se o conjunto de pensamentos, senti- mentos, percepções e lembranças com que “teu deus – meu deus” 37
Templo em Éfeso (aqui uma reconstrução) consagrado à Ártemis, deusa do amor, uma personificação da Lua.Na Doutrina Universal, ela simboliza a alma pura, a virgem eterna.nos identificamos habitualmente desaparece? A consciência do eu corresponde à multipli-Aproximamo-nos assim da fonte, do próprio cidade. O homem-eu está incessantemen-centro de nosso verdadeiro ser? Os místicos te ocupado em separar e dividir. Ele faz deprocuraram no próprio interior e aí encon- alguém seu amigo, de outro seu inimigo.traram a essência do ser. Eles afirmam que Frequentemente o inimigo de ontem torna-Deus é a essência do “ser”, o “eu sou” sem se o amigo de amanhã. E o que um rejeita, ocaracterísticas pessoais. “Eu sou” é, aliás, um outro acha bom. Poderíamos viver ao mes-dos nomes do Deus hebraico: Jeová. mo tempo duas coisas que se excluem reci- procamente? Ou é uma, ou é a outra; cer-Outra palavra para indicar Deus é “Um”. to eu faz algo mau, outro eu fará algo bom.Quem se fundamenta nesse “Um” em si Enquanto separarmos e dividirmos em bemmesmo, quem encontra Deus em si mesmo, e mal, daremos a nosso Deus essa mesma ca-adquire uma concepção do mundo comple- racterística. É tempo de compreender a ne-tamente nova. Se assimilarmos Deus à nos- cessidade de que “teu Deus” e ”meu Deus”sa consciência comum, esse conceito adqui- se tornem um!re um novo significado. No pensamento, nareligião e na vivência do divino das pessoas UMA NUVEM PORTADORA DE DEUSque nos cercam e pensam, o que vale sempre Mikhaïl Naimy escreve em O Livro de Mirdad:é: “teu Deus” e “meu Deus”. “O Verbo de Deus é um cadinho. O que ele38 pentagrama 3/2010
Nunca foram tão grandes as possibilidades,nesse contexto, de alcançar uma nova compreensãocria, ele derrete e funde em um, nada acei- perca, não poderá achar-se. A não ser quetando como valioso, nada rejeitando como morra e desapareça como nuvem, não poderásem valor. […] Já o verbo do Homem é como encontrar o oceano em si mesma e que é seuuma peneira. Ele define aquilo que cria, aco- único ser. Uma nuvem portadora de Deus é olhendo e rejeitando. […] Nunca sejais penei- Homem. A não ser que ele esvazie a si mes-radores, meus companheiros, pois o Verbo de mo, não poderá encontrar-se. Ah, a alegriaDeus é Vida, e a Vida é um cadinho no qual de estar vazio! A não ser que vos percais paratudo se torna uma unidade indivisível; tudo sempre no Verbo, não podereis compreenderfica em perfeito equilíbrio, e tudo é digno o verbo que sois – nem mesmo vosso eu.”de seu autor […] Nunca sejais peneiradores,meus companheiros, e vossa estatura será tão Nunca foram tão grandes as possibilidades,imensa, tão onipenetrante e tão oniabrangen- nesse contexto, de alcançar uma nova com-te, que não haverá peneiras que possam vos preensão. Somos livres para escolher, já nãoconter. […] procurai em primeiro lugar o co- estamos ligados às tradições espirituais emnhecimento do Verbo para que possais conhe- que nascemos. Estamos a par das culturas dascer vosso próprio verbo, pois vosso verbo e o várias partes do mundo, como o budismo, oVerbo de Deus são unos, exceto pelo fato de hinduísmo, o sufismo, o gnosticismo antigo,que o vosso ainda está sob véus. […] O Verbo a sabedoria hermética, o misticismo do pas-de Deus é oniabarcante. Nele não há cercas sado, o pensamento moderno... Quando foinem barreiras. Por que vosso verbo está lace- o desejo de um despertar interior tão granderado com cercas e barreiras? quanto hoje?Quanto às barreiras, elas proveem das ilu-sões, não da verdade, pois Mirdad continua: Revistas, filmes e livros, surgem em profu-“O Verbo é o oceano, vós, as nuvens. E uma são tratando de todos os problemas da vida;nuvem seria nuvem sem o oceano que ela meditação e ioga parecem propor soluções.contém? Na verdade, seria tola a nuvem que Se nos tornarmos verdadeiramente conscien-desperdiçasse sua vida esforçando-se para se tes de nossa natureza terrestre, isso significa-firmar no espaço, tentando manter eterna- rá então uma conversão?mente sua forma e sua identidade. O que co-lheria ela desse esforço tão tolo, senão de- Será que o homem, tão acostumado ao pen-silusões e amarga vaidade? A não ser que se samento na multiplicidade, é capaz de “teu deus – meu deus” 39
Se alguém é simples, então é evidente quesua maneira de agir será igualmente simplese sem conflitorealizar uma mudança fundamental? Então elementos, pois se alguém é simples, então éele não voltará a “peneirar” o espiritual, evidente que sua maneira de agir será igual-Deus, nem o avaliará segundo as medidas mente simples e sem conflito. […]humanas, de modo que se tornarão significa- Procura, ó alma, o verdadeiro entendimen-tivas para ele as conhecidas palavras: to, e aprende a compreender a manifestação e a essência das coisas, mas negligencia a quan-Nele (O Verbo) estava a vida, tidade e a qualidade delas. A manifestação e a essência das coisas são simples, e a alma podee a vida era a luz dos homens. apreendê-las de imediato, sem intermediário, mas a quantidade e a qualidade são múltiplasE a luz resplandece nas trevas, e limitadas pelo espaço e pelo tempo.e as trevas não a compreenderam. E sabe, ó alma, que é impossível obter qual- quer entendimento no mundo da multiplici-A COMPREENSÃO É PRÓPRIA DA ALMA Em dade. Não podes permanecer neste mundo,Do castigo da alma, obra atribuída a Hermes nem levar nada dele. O entendimento é pró-Trimegisto, lemos: “Descreverei teu estado de prio da alma. O entendimento é separado dasser, ó alma, pois eu refleti muito tempo a esse coisas exteriores. Adquire o conhecimento dorespeito. Dizes e confessas que desejas volun- simples e abandona o multiforme” µtariamente ser salva da tristeza e da aflição,mas na realidade tu as buscas e as persegues, etens inveja dos que as possuem. Dizes e con-fessas que aspiras à felicidade e à alegria, masna realidade foges delas, desvia-te delas e re-cusas ir mais além no caminho que leva a elas.Tal comportamento é contraditório. Ele sóse apresenta num homem sem simplicida-de, que não se mantém na unidade e emquem se misturam e se combinam os vários40 pentagrama 3/2010
Pistis Sophia Mesmo depois da descoberta e da publicação da Biblioteca de Nag Hammadi, o Evangelho da Pistis Sophia continua a ser o mais importante dentre os escritos gnósticos que chegaram até nós. Esse evangelho, cujos personagens principais são Cristo e a Pistis Sophia, revela os ensinamentos esotéricos de Jesus a seus discípu- los, dentre os quais a queda do homem no mundo da matéria e como ele pode voltar ao mundo divino com a ajuda da Sophia, a sabedoria divina, dando ao leitor uma visão completamente nova dos quatro evangelhos canônicos e do livro dos Salmos. Pentagrama Publicações 1.ª edição março de 2007 Caixa Postal 39 – 13.240-000 – Jarinu – SP – Brasil 512 páginas R$ 73,00 Tel. (11) 4016.1817 – FAX (11) 4016.3405 www.pentagrama.org.br – [email protected] ISBN: 978-85-88950-38-2
De que matriz, de que matéria, o homem deve renascer? Hermes responde: “Da Sophia que pensa no silêncio”. Essa matiz, essa matéria da Sophia, essa substância original, existe lon- ge do tumulto e da profanação de nosso campo de existência. A Sophia – que é a sabedoria original – está no silêncio, que se encontra no espaço original, livre, e todas as partículas dessa matéria estão carregadas com as grandes forças divinas, com as ideias do Logos. Essa é a semente do Único Bem. Logo que essa semente, extremamente magnífica, a matéria da Sophia, tiver acesso ao pensamento que se tornou silencioso, o homem original respirará da e na Sophia. Desse pensamento vive então o corpo astral; do corpo astral, o etérico; e do etérico, o corpo material. Assim, inicia-se a transfiguração. Jan van Rijckenborgh (A Arquignosis egípcia, t. IV, cap. XIX)R$ 16,00
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