de um modo ou de outro: estímulos que e sustentar o equilíbrio do centro. Shennong, o “lavrador celeste”, é umgarantem que aquilo que está em nosso dos três “augustos”, ou seja, um dos três heróis míticos que, de acordointerior possa vir à superfície. Muitas ve- com a tradição, trouxeram a civilização ao povo chinês. Shennong resumezes, seguimos determinada direção, moti- a medicina como se segue, no Clássico da matéria médica do lavrador celeste:vados pela nossa educação e pelas pessoasque nos querem bem. Mas, quantas vezes A forma mais elevada da medicina está relacionada com o favorecimento do destino e correspon-não pensamos: “Sim, mas preciso fazer de ao céu. Se quisermos prolongar a vida sem envelhecer, é essa medicina que deve ser aplicada.outra coisa!” Não há nenhuma prova a A forma intermediária da medicina está relacionada à alimentação da natureza humana e cor-respeito disso e não há nada tangível que responde ao ser humano. Se quisermos prevenir a doença, sobreviver às penúrias e às carências, éo sustente, mas existe um dinamismo essa medicina que deve ser aplicada.que estimula e reforça novamente o A forma menos elevada da medicina está relacionada ao tratamento da doença e correspondedestino. Então, dizemos: “Tudo isso não à terra. Se quisermos nos livrar do frio, do calor, ou de outras influências patogênicas do corpo,parece ter lógica, mas vou fazer isso”. eliminar acúmulos e curar a doença, é essa medicina que deve ser aplicada.Ou algo dentro de nós deixa evidenteque é isso mesmo que precisamos fazer.Afinal, o que é importante é cumprirmosnosso destino. É por isso que os chinesessempre desejam uns aos outros a bênçãode uma vida longa, que é necessária paraalcançar seu destino. Esse processo tomatempo, pois muitas vezes nos desviamose encontramos todo tipo de dificuldade.Mas aqui se trata de expressarmos aquiloque é a razão de estarmos aqui. É claroque isso é diferente para cada pessoa eque não há critério externo para saberdisso. Às vezes, as necessidades terrestresnos pedem que cumpramos algo antes.No pensamento chinês, o homem sábioalinha sua vontade pessoal à vontade docéu. A linha pessoal bem que gostaria deseguir outras influências, como possuiruma casa na praia, ou algo do gênero,mas a vontade do céu tem uma intençãocompletamente diferente! O inconvenien-te é que não sabemos captar no exterioraquilo que está destinado a nós: somentepodemos fazer isso a partir do interior.Um aspecto importante dessa aprendi-zagem é a aceitação das coisas tais comoelas são. É isso que se entende por wu wei:não agir contra a natureza das coisas. Issoenvolve uma forma de resignação que nospermite deixar que os fatos aconteçamcomo devem acontecer.O objetivo da medicina chinesa é reforçar 49
Compreendendo a razão de ser da doençaMuitas histórias sobre a criação do mundo essência revivificadora é o centro de tudo em todos. Esse simpósio contribuiudescrevem como o Grande Sopro – o Grande para compreendermos a doença e a saúde e, principalmente, para a tomada deAlento ou Espírito – põe em movimento as consciência do fato de que o Espírito faz parte de uma ordem mais elevada, e queáguas da substância primordial, a matéria a cura que o Espírito quer trazer não envia o homem de volta à antiga ordemmágica. É assim que é aceso um fogo: o conhecida. Quem se volta para o Espírito, para o núcleo, para a essência das coisas,princípio da alma. Esse fogo guarda em si uma sabe que os sintomas e doenças acontecem para ajudá-lo a encontrar em si mesmofórmula alquímica, um plano de manifestação. uma nova organização ou uma nova programação, mais elevada, e que, para aÉ um fluido extremamente sutil, semelhante chegar a essa nova ordem, precisa abandonar a antiga. Estamos tão acostumadosao nosso conhecido gás hidrogênio. Não é à a colocar a doença como algo que se opõe à saúde! Isso parece lógico. Perguntetoa que o hidrogênio é o primeiro elemento a alguém que esteja com gripe há alguns dias o que ele mais deseja. No entanto,do que chamamos “tabela periódica”. A quem utiliza seu tempo para estudar a doença e a saúde, em total liberdade e comvida sempre começa por um processo mente aberta, descobrirá que a doença é igualmente um instrumento de forçade hidrogênio, por um princípio-alma. vital. A doença é sempre uma atividade dessa misteriosa força dinâmica e motrizLogo em seguida, uma segunda série de que nos incita a nos aproximarmos de um equilíbrio ainda mais elevado – ouelementos é disponibilizada para a segunda seja, a verdadeira harmonia. Quem puder reconhecer esse fato em sua própriafase do processo de transformação. Graças ao condição existencial abordará a doença de maneira totalmente diferente. Então, vaiencontro do hidrogênio com o oxigênio, o compreender que, mesmo sofrendo, o doente não está abandonado. Muito pelofogo é aceso; e, com a ajuda dos elementos contrário: ele está sendo guiado!nitrogênio e carbono, é formada a base para a A arte da cura, da autocura, não consiste em aceitarmos passivamente o sofrimento,construção de um corpo. No entanto, o fator mas sim em nos deixarmos guiar, com uma atitude muito consciente e, portanto,decisivo para a continuação do processo é o muito ativa.Vista a partir desse significado de “um processo que conduz ànível de vibração do hidrogênio. Os grandes verdadeira harmonia”, a cura não tem absolutamente qualquer relação com ade espírito conheciam e reconheciam a passividade. Ora, não fazer nada equivale a estagnar, regredir, e passividade significagrande lei da coesão, da qual tudo depende. resistência. Em um processo como esse, o co-movimento é sempre uma atividadeEles sempre se dirigiram a seus alunos por inteligente e consciente, realizada com tranquilidade. A cura também exige umameio de parábolas. E era dessa maneira que atitude de “deixar fluir”, de deixar para trás o que é antigo ou velho, nossasa alma receptiva e desperta do aluno recebia heranças.o fluido da verdade, que os motivava a Também precisamos ter uma visão clara dos processos vitais ocultos por detrás dasobter informação e buscar a instância mais aparências e uma compreensão do objetivo final das doenças, isto é, para onde elasalta, a força do Espírito, que tudo produz, querem nos levar.vivifica, alimenta, aquece e cura. Karl von Quem fica doente muitas vezes se atormenta com a questão do porquê, da causa daEckartshausen chama essa alma desperta de doença. Por que isso aconteceu comigo? O que eu fiz de errado? O que eu deveria“o homem interior” – um homem sempre ter feito diferente? Por outro lado, quando passamos a nos perguntar sobre a questãojovem e nobre, a imagem original do ser, o da finalidade, nos colocamos diante de uma possibilidade. Então, abre-se ummodelo a ser seguido pelo homem exterior. caminho diante de nós: o caminho para uma nova dimensão de vida, para uma vidaO simpósio contribuiu para reavivar a ideia eterna. Essa verdade é claramente expressa nestas poucas linhas extraídas do Neiye:de que, na grande coesão das coisas, cadaelemento químico tem um impacto sobre o Na vida humana © WG von Krenner, K Jeremiah, D Apodaca,homem, que torna possível um processo de O céu dá a essência, Aikido Ground Fighting: Grappling and Submissiondesenvolvimento e desempenha um papel de A terra dá a forma. Techniques, 2015apoio; que o homem e o cosmo não devem A união de céu e terra gera o homem.ser considerados separadamente; e que a 50 Compreendendo a razão de ser da doença
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A atençãoCerto dia, um homem foi até Lao Tsé e fez-lhe a seguinte pergunta:“Mestre, poderíeis pôr num papel alguns princípios da mais elevada sabedo-ria?Lao Tsé pegou seu pincel e escreveu:Atenção.“Isto é tudo?” perguntou o homem.Retomando seu pincel, Lao Tsé escreveu: Atenção, atenção.“Bem, eu realmente não vejo o que há de profundo no que escreveis.”Pela terceira vez Lao Tsé tomou seu pincel:Atenção, atenção, atenção.Contrariado, o homem insistiu: “Mas o que significa então essa palavra?”Amavelmente, Lao Tsé respondeu-lhe:“Atenção significa atenção.”Histórias do blog www.zinnigeverhalen.nlJunto ao fluxo de informações que nossa mente. Nesse caso, a atenção equivale tornam nossa vida tão inquieta, a concentrar-se, a estar totalmente focado está também presente em nossa em alguma coisa. Mas raramente voltamos consciência a ideia de “atenção”. nossa atenção à ideia de “estar atento”, Com o exercício de nossa atenção, apesar de ela ser uma das faculdades maistentamos, por exemplo, estabelecer certa poderosas e, ao mesmo tempo, das maisordem em nossa vida diária, qualidade em curiosas que temos. Sem pensar, falamos denossos relacionamentos e serenidade em “atenção”, e nos identificamos com ela até 52 A atenção
o ponto de nos definirmos como “atencio- Nesse caso, a atenção é o objeto, aquilo em pesquisa na tela de nossasos”, não mais considerando a atenção uma que pensamos. Assim, quando nos lem- memória pessoal. A atençãofaculdade de que dispomos. A atenção que bramos de qualquer coisa, nossa atenção é de uma mãe para com seué dirigida para coisas e situações contribui desviada do momento presente. De fato: a filho dá a ele uma sensação depara enriquecer nosso próprio mundo de lembrança nos leva diretamente ao pas- segurança. Recebemos e damosexperiências, que avaliamos como “impor- sado ou a um cenário futuro. Na verdade, atenção incessantemente. Mastantes” ou “acessórias”, fazendo delas uma esse modo de estar atento não passa de seja positiva ou negativa, elaimagem ou ideia, de que podemos lembrar. uma função em nosso equipamento de é, por excelência, o alimento 53
do ego. Basta simplesmente olharmos à Sujeito-objeto Anossa volta para descobrir como os seres busca nascehumanos põem em prática sua estratégia Fixar a atenção em determinada coisa é no objetoa fim de conseguirem chamar atenção. A sujeitar-se a um objeto. É uma situação buscado;maioria das pessoas considera irresistível dupla em que o objeto observado nunca primeiro,a atenção total e incondicional. Observem pode ser idêntico ao observador. Quando ela se voltaque, embora estejamos conscientes, se prestamos atenção à atenção, acontece uma para oalguma coisa chama nossa atenção, parece coisa estranha: parece que ela é impos- exteriorque não temos controle sobre ela. A aten- sível de ser captada! Daí a pergunta: Será até que oção se enfraquece, se deixa distrair, e nós que podemos examinar o fato de estar- movimentonos esforçamos para mantê-la. Quando se mos atentos, sabendo que esse ato implica se volte paraapresenta algo que nos interessa muito, ela tanto o sujeito quanto o objeto, o eu e o o interiorse volta para isso sem esforço. E ao mesmo “aquilo”? Não seria possível outro tipotempo, muitas coisas nos escapam. Quando de atenção, uma atenção sem objeto nemalguém se consagra inteiramente a um sujeito? Uma faculdade que nos permitisseassunto, perde todo o resto de vista. tomar conhecimento da dualidade consti- tuída pela observação propriamente dita e aA maior parte do tempo experimentamos vivência sujeito-objeto? Temos aí um sérioum turbilhão de pensamentos que não problema encontrado tanto pelo buscadorconseguimos deter. Sentimos que somos da verdade quanto pelo cientista em suavítimas impotentes diante daquilo que pas- busca fundamental. A ciência está com-sa pela nossa mente. Mas será mesmo isso preendendo cada vez melhor que o objetoo que acontece? Sem dúvida precisamos observado depende do observador, o quefazer um sério autoexame antes de chegar- significa que não pode existir objetividademos à conclusão de que os pensamentos só nem independência de espírito no ato depodem chegar até nós com nossa colabo- examinar uma coisa. Não é possível aoração. Na verdade, eles só conseguem fazer sujeito colocar-se de lado e limitar-se aisso porque nossa atenção está voltada para observar como as coisas acontecem. O pes-eles, porque os admitimos, porque eles nos quisador se encontra dentro do processo deinteressam – em suma, porque nos iden- estudo e, assim, influencia ou determina,tificamos com eles. A partir do momento inevitavelmente, o resultado desse processo.em que damos guarida a um pensamento Consequentemente, o pesquisador deveou o evitamos, ligamo-nos a ele. É desse estar cônscio de que não tem condiçãomodo que ele se torna real. Um pensamen- de observar aquilo que é real, mas tão-to pode chegar a ser tão obsessivo que fica somente sua própria realidade! Se ele estáimpossível escaparmos dele, até quando consciente ou inconscientemente espe-estamos sonhando. A única solução é rando ter uma confirmação, sua atenção etentar voltar fortemente nossa atenção para sua esperança serão influenciadas, direci-alguma coisa diferente. O círculo fechado onadas. Quando uma confirmação é tudodos pensamentos deixa claro que quando o que queremos, teremos a confirmaçãohá interesse por alguma coisa, é pratica- que estamos buscando. Resultado: aquilomente uma certeza: outros pensamentos que não podemos ou não queremos verligados a ela vão surgir em nossa realidade. não poderá revelar-se justo ou verdadeiro.E a energia gasta para nos concentrarmos Portanto, a atenção não é uma constantedará continuidade aos pensamentos. independente que está em segundo plano, isolada daquilo que está acontecendo. Não, 54 A atenção
ela muda conforme aquilo que estamos entanto, de grande interesse. Pelo fato de complicadas do que já sãoobservando. Ela se reforça e se enfraquece sermos tocados pela realidade essencial, o na realidade. As aspiraçõesde acordo com os objetos específicos de coração começa a vibrar, incitando-nos à provenientes da personalidadenossa observação. A Física Quântica diz que busca. É possível que nesse meio tempo são responsáveis por muitaspara onde quer que você se volte, ou para tenhamos decidido resolutamente deslocar das expectativas e projeçõesonde quer que você volte sua atenção, você nossa atenção do exterior para o interior de como a realidade deve sersempre encontrará a si mesmo. Digamos – no entanto, ainda se trata de uma ação enquanto o objeto procuradoque você dá algo de suas particularidades do ego. O buscador que encontrou o fio é tão simples, simples demaisao objeto para o qual se volta. O momento da meada mostra-se muitas vezes eufórico de ser apreendido. A ideia deque fruímos é definido por nossa atenção. e entusiasmado, motivado a escalar uma fracasso nunca vem do serÉ um círculo vicioso! Para ilustrá-lo, nada senda para alcançar seu objetivo. O objeto essencial. Pelo contrário: omelhor que o exemplo do observador que de sua busca, seja lá o que for, pode ser no- verdadeiro ser opõe-se à esferase olha no espelho e, ao mesmo tempo, é meado de múltiplas maneiras, mas, em um de atenção do indivíduo eobservado por sua própria imagem refle- primeiro momento, a atenção é redobrada, anula sua força gravitacional.tida, que lhe reenvia sua forma definida. a ponto de ser fisicamente observável. Isso permite que este descubraÉ assim que perdura a velha questão: Uma avaliação eletroencefalográfica reve- em um segundo a tensão quequanta segurança temos a respeito da laria um aumento da atividade das ondas existe entre aspirações de clas-veracidade da percepção das coisas? Todo gama causada pela tentativa do ego de ses diferentes. A pessoa tocadacondicionamento colore a observação e ultrapassar a si próprio com o auxílio da pelo desejo de libertação com-tem um efeito redutor sobre o objeto. Se energia da consciência. Essa atividade for- preende que não deve bene-até mesmo os cientistas céticos modernos çada do ego, esse ato de violência que parte ficiar o ego, mas sim livrar-sereconhecem que a observação cuidadosa da vontade, tem como resultado o aumento dele, pois ele está ocultando ee os pensamentos podem dar realidade a da força gravitacional de identidade e a faz aprisionando o Ser essencial.algo – até mesmo à sua própria realidade – coincidir com a realidade do ego. E, desse Hafez, o poeta persa, quandocomo vamos escapar desse círculo vicioso modo, aquilo que é essencial é ocultado. certa vez estava jogando xadrezque funciona de maneira tão hipnotizante? Quando se força a focalizar-se desse modo, com um amigo, disse: “A dife-Será possível identificarmos uma realidade o buscador espera abrir uma senda para rença entre seu modo de jogarque seja independente? Na verdade, porque levá-lo até o núcleo central da vida. Con- e o meu é que eu, quando vejoiríamos querer isso? Por que desejar fazer tudo, todas as suas tentativas fazem que o jogo insondável de Deus, ca-uso de nossa atenção para estudar a natu- ele constate que o objetivo elevado que ele pitulo imediata e alegremente.reza e a fonte da atenção, sabendo que a tanto busca se distancia ainda mais. Você, no entanto, ainda esperapesquisa é sempre manchada de subjetivi- Após muitas tentativas fracassadas vem o jogar com ele e desafiá-lo mi-dade? É um salto para o desconhecido. Na sentimento de impotência diante do vazio lhares de vezes”.matéria, a consciência racional não possui interior. Então, emerge a consciência denenhum ponto de referência – pela simples que, para o ego, essa é uma área inacessível. Abrir espaço para a sabedo-razão de que o real e o fundamental não Ele só estava tentando penetrar ali atra-são objetos ou informações de interesse. vés de um respiradouro. O ego não pode ria sutil do coraçãoPortanto, podemos ver que há algo diferen- ingressar nessa região pela simples razãote que, a partir do exterior, pode observar de que o Ser essencial já está lá. Isso nos faz Portanto, está claro que a forçaao mesmo tempo a atenção e os aconteci- compreender que o desejo de libertação, na gravitacional do ego desviamentos. verdade, não provém de nossa pessoa, mas incessantemente nossa atenção. que essa aspiração é sugerida por nosso ser Diante das sugestões de ordemQuando o ego tenta essencial. mental, vemos isso como uma É um erro bastante difundido crer que falha. Mas é absolutamente ne-ultrapassar a si próprio o intelecto pode nos trazer algo que já cessário que não nos culpemos somos. O homem torna as coisas mais por sermos frequentementeEmbora a busca pela libertação comece desviados do objeto. Deve-com um interesse superficial, ela é, no 55
mos apenas constatar, sem julgar, que isso Devemos deixar de dizer que “vamos ten- À luz da consciência gnóstica,simplesmente acontece. Depois, precisamos tar”, por mais louvável que isso seja. Afinal, a alma e a personalidade sãodeslocar de imediato nossa atenção para o “tentar” é algo imaginário, uma manipu- transformadas para que possam,essencial: o ponto de contato que está no lação mental; ou desviamos a atenção ou unidas num só ser, viver direta ecoração. Assim, a concentração se torna não. Podemos voltar a atenção para o fluxo conscientemente da Fonte.um instrumento para o autoconhecimento. dos pensamentos, ou então deixá-lo talQuando o contato foi estabelecido e nosso como é. Comparemos isso com o motor Ilustração © StudioRVGcoração começa a vibrar, ali fica registrada em funcionamento quando o carro estáuma sabedoria sutil. E se esse conhecimen- parado: não é preciso girar a chave, pois oto se torna posse nossa, podemos decidir motor continua ronronando em segundoque vamos direcionar nossa atenção para a plano, enquanto for necessário.verdade. O importante é abrir um espaço Descondicionar-nos de nossa pessoa requerpara a sabedoria sutil do coração, experi- atenção permanente, enquanto o contatomentá-la, aprofundá-la. com nosso ser essencial é direto e ime- 56 A atenção
diato. Em um processo de transformação, direção ao abandono do eu. A consciên- as almas-luz viventes. Nessea luz integra-se a nós, de modo a ser cia racional e a faculdade de atenção são campo, tudo o que surge,realmente vivenciada. Essa transformação fenômenos transitórios encerrados na pura independentemente de suarequer o desaparecimento do ego, que é consciência da essencialidade. Essa consciên- natureza, recebe automatica-substituído pela nova alma. Disso resulta cia percebe tudo a seu modo: ela não “volta mente todas as possibilidadesque a sabedoria que nasce do contato sobre seus pensamentos para alguma coisa”. Ela é para se manifestar. É um pode-o qual falamos não se reduz a uma teo- a atenção e não se desvanece. Essa consciência roso oceano de possibilidades,ria, mas torna-se uma vitalidade pura de é um espelho que não conhece nem bem que oferece à vida todas asconsciência, em todas as células do corpo. nem mal, preferência ou reprovação, beleza opções de vir a ser. Equivale aAté então, o mental levava a pensar que isso ou feiura. É inútil tentar se aproximar desse uma recriação, a uma realizaçãolevaria à perda da pessoa; mas então ele espelho, de esperar por ele, de buscá-lo – tanto para a alma com para adescobre que essa perda apenas diz respeito ou de querer construí-lo. Ele não pode se personalidade.ao esvaziamento do ego. Ele deixa para trás manchar, não é o resultado de um método.um rastro de ideias sobre si mesmo e sobre Ela simplesmente é. Tudo o que é aparência, Com efeito, se a atenção dosua vida; porém, aquilo que ele realmente é toda essa chamada “realidade” que vive- buscador coincidir com a não-não pode perder-se! Ele percebe o quanto é mos, tudo está contido nela. atenção do Pai-Mãe, sua almadesnecessário ligar-se aos objetos e acon- será impregnada com umatecimentos nos quais mantém focada sua O conto do pássaro-alma nova Luz. Na pura percepção, aatenção. Com efeito, tal ligação faz que ele natureza e a essência de toda apense ser um sujeito individual em meio “Um pássaro está o dia todo ocupado em manifestação são perfeitamentea uma realidade objetiva – portanto, um construir seu ninho nos ramos de uma conhecidas. Nesse processoobjeto. Mas a transformação o torna um árvore. Ele não percebe que, em um galho não intervém nenhum eu, eobservador imparcial. mais acima, outro pássaro está assistindo essa percepção é algo total- calmamente suas idas e vindas, pois tam- mente diferente de dar um sig-O espelho imparcial do Ser bém quer construir seu ninho. No topo da nificado a tudo, como fazemos árvore está um terceiro pássaro que, com habitualmente.Em suma, não existe um indivíduo desco- suas asas, abrange a árvore toda.” À luz desse conhecimentobrindo que é um Sol: Nosso eu verdadeiro Enquanto fenômeno, a personalidade se consciente, a alma e a perso-é que é o Sol! deixa conduzir por suas atenções que são nalidade são transformadas:Esse ser é a amplitude infinita, que é como identificações. Nessa situação, ela é obriga- tornam-se um só ser, que ago-um não espaço, onde aparece uma reali- da a seguir mil e uma coisas. Para a atenção ra vive diretamente da Fontedade espaço-temporal na qual a persona- silenciosa, para o espectador que se coloca dessa consciência. Há entãolidade é uma criança brincando, faz suas fora do labirinto do universo aparente, es- uma atenção livre e ilimitadaexperiências. Essa brincadeira, na qual ses inúmeros fenômenos constituem uma para todos! Tudo merece nossaa atenção tinha sua função no contexto coisa só, um só objeto. Ele é um observador atenção, nessa liberdade queespaço-tempo, vai nos levar à descoberta de que não é um sujeito que observa e julga dá vida. Mas além disso, háque aquilo que somos na verdade não tem um objeto, e sim um estado de ser perceptivo, ainda outra presença – a doqualquer necessidade de atenção, visto que cuja percepção não procede dele mesmo terceiro pássaro: o Ser absolutonós mesmos somos a atenção! Qualquer terapia ou como centro – pelo simples fato de que que precede todo o significadotreinamento da atenção que não coloque esse estado de ser está em tudo! É como um dessa atenção e que vai além.o ser essencial no centro será sempre um campo infinito de atenção, dentro do qual A atenção silenciosa é o motortreinamento do ego. No entanto, veremos tudo, no ser consciente, se torna claro em sua imóvel que, em amor, moveque nada do que vivenciamos é inútil: to- natureza real.Toda força e sabedoria pos- toda a vida.dos os nossos esforços de concentração, to- síveis estão presentes no mesmo instante,das as nossas intenções que, desde o início, sempre.acompanharam nossa atenção podem ser Nesse campo, a atenção é o puro amor doúteis.Todos eles são pequenos passos em Pai-Mãe universal de onde procedem todas 57
Se eu devesse fazer uma descrição seria relatando o que Gustav Hessing, Paisagem se segue. Eu caminhava em uma paisagem morna, sem (paisagem), 1980, horizonte. Que era inóspita eu o percebi depressa, embora @ Museu Leopold, Viena jamais a tivesse conhecido diferente. Isso devia significarque eu havia encontrado circunstâncias diferentes, ou somenteentão tomei consciência. Eu caminhei, caminhei muito, e em partealguma havia vida. Às vezes, no entanto, era possível acreditar quesim, mas a cada vez eu era duramente confrontado com o fato deque tudo era apenas ilusão.Penso mesmo que o objeto de minha pesquisa era “a vida” oualgo assim. Os dias sucediam as noites, e minha situação conti-nuava a mesma. Eu tinha o que comer e do que me ocupar, noentanto me parecia que tinha de continuamente defender minhavida. Eu achava isso fatigante. Eu via outras pessoas que, por faltade algo melhor, giravam em círculos, movimentando-se, os olhosapagados. Então, veja só, eu descobri a flor. Havia alguns dias queeu tinha a impressão indizível e indefinida da antecipação. Essadevia ser a flor que perfumava as redondezas. Ela estava lá, diantede mim. Abaixei-me para vê-la melhor, e também por respeito. Elabrilhava e irradiava coragem, esperança e amor. Seu coração estavaainda envolvido por folhas, o que não me impediu de sentir queele trazia em si o centro da vida. Essa devia ser, sem dúvida, a florencontrada pelo Pequeno Príncipe. Nesse momento, eu com-preendi; mas como compreender se não for você mesmo a fazer adescoberta? Nunca mais a deixei. Ela deu cor a meus dias e minhasnoites. Quando meus olhos percebiam a fria indiferença ao redor,eu voltava rapidamente meu olhar para a flor. Eu podia desenhá-laem pensamento, podia deixar sua irradiação me atravessar, essa florera verdadeiramente minha.Como era triste vê-la violada quando, em minha alegria, eu a mos-trava aos outros! “Uma flor? Sim, eu sei. E daí?” Em pensamentoeu me dizia: “Eles não veem que ela é? Acham mesmo que apenasa palavra ‘flor’ exprime tudo sobre o que tento lhes mostrar? Seusnarizes não são sensíveis a seu perfume? Eles não se sentem en-volvidos por sua presença? Ela não desperta nenhum desejo neles?Como isso é possível?” Olhando-os eu notava o vazio em seusolhos; a falta de hospitalidade ambiente tomara conta deles.Por outro lado, encontrei outros também que me responderamcom grande alegria, exibindo sua própria flor. E todas essas flores,se bem que diferentes, constituíam apenas uma. Assim pudemosjuntos compartilhar o milagre da flor. E foi então que cheguei acompreender que primeiro era necessário um óvulo para aguardara vinda da flor.Desde então, quando verdadeiramente estou ouvindo os outros,sem que percebam, noto em suas vozes as propriedades desseóvulo. Já não me volto a seu caráter pouco acolhedor, mas à se-mente neles, a fim de lhes dar coragem, esperança e amor.58 Inhoud Mundo imaginário
A prodigiosa flor 59
ensaio 60 IAnhaolmuda suprema
A alma suprema RALPH WALDO EMERSON 61
UM ENSAIO DE RALPH WALDO EMERSON,QUE CONSTA DE SUA PRIMEIRA SÉRIE DE ENSAIOS DE 1841Título original: The over-soul.Emerson o publicou há cento e setenta e cinco anos, em 1841,em uma série intitulada Ensaios, reeditada em 1847 sob o títulode First Series. Nesta tradução, realizada por Jean Melville paraMartin Claret, publicada em 2003, o texto ainda testemunha daforça do espírito efervescente de então.Mas almas, que partilham de sua vida digna,ele ama como a si mesmo; valiosas como seus olhosPara Ele aquelas são: jamais Ele as deixará:quando morrerem, o próprio Deus morrerá:Elas vivem, vivem em eternidade abençoada.Henry MooreO espaço é amplo, leste e oeste,mas juntos dois não podem caminhar.Nele não podem dois viajar:Além, o cuco habilidosoRecolhe todos os ovos fora do ninho,vivos ou mortos, exceto o seu próprio?Um encanto é lançado sobre pedra e terra,noite e dia foram adulterados,toda qualidade e essênciasobrecarregadas e aquecidas pelo poderque impõe sua vontade sobre a hora e a era. 62 A alma suprema
EEntre um e outro momento da vida, existe uma diferença com relação a sua auto-ridade e efeito subsequente. Esporadicamente nossa fé se manifesta; porém nossovício é cotidiano. No entanto, existe tamanha profundidade naqueles momentosbreves, que somos levados a conferir-lhes maior realidade do que a todas as outrasexperiências. Nesse sentido, o argumento que continuamente cala os que nutremesperanças extraordinárias no homem, a saber, o apelo à experiência, é definitiva-mente inválido e vão. O passado fica abandonado àquele que objeta, e mantemosa esperança. Essa esperança deve ser explicada. Estamos conscientes de que a vidahumana é mesquinha, mas como chegamos a essa conclusão? Qual o motivo dessanossa inquietação, dessa antiga insatisfação? Qual o sentido universal da neces-sidade e da ignorância, a não ser a sutil insinuação mediante a qual a alma faz suaenorme exigência? Por que sentimos que nunca a história natural do homem foiescrita: por que o homem está sempre deixando para trás o que disseste dele, umavez que a palavra envelhece e os livros de metafísica se tornam desvalorizados? Ascâmaras e os reservatórios da alma não foram ainda investigados por uma filoso-fia de seis mil anos. Um resíduo, que ela foi incapaz de resolver, sempre acabousobrando em suas pesquisas.O homem é um arroio cuja nascente está oculta. Mesmo desconhecida sua ori-gem, nosso ser flui sobre nós. No momento que está para vir, mesmo aquele quecalcula corretamente é incapaz de prever se algo de incalculável poderá surgir. Acada instante, sou constrangido a reconhecer, nos acontecimentos, uma origemmais elevada do que a vontade que digo ser minha.Acontece com os pensamentos o mesmo que com os acontecimentos. Aquele rioque corre e que, tendo sua nascente em regiões que desconheço, derrama portoda a estação suas águas em mim, quando o olho, constato que sou pensionista;não a causa, mas sim um espectador surpreso dessa água etérea, a qual eu desejo evenero e me posiciono para receber; entretanto, de alguma energia estranha visõesprocedem.Essa grande natureza em que descansamos, assim como a Terra repousa nos braçosmacios da atmosfera, é o Crítico Supremo dos erros do passado e do presente, oúnico profeta daquilo que deve ser, é essa Unidade, essa supra-alma, essa alma do 63
mundo; cada ser particular, no seu interior, está guardado e assimilado a todos osoutros; esse coração comum, do qual toda conversação sincera é culto, ao qualtoda ação justa é submissão; essa realidade subjugadora que repele nossos artifí-cios e talentos e obriga cada um a mostrar-se como é, a falar segundo o caráter enão segundo a língua, e que acima de tudo tende a incorporar-se a nosso pensa-mento e mãos, tornando-se sabedoria, virtude, poder e beleza.O horóscopo das erasTodos nós vivemos em sucessão, em divisão, em partes, partículas. Porém no âmagodo homem está a alma da totalidade; o silêncio sábio; a beleza universal, a que todaparte e partícula igualmente se relacionam; o eterno UM. E esse poder profundo,dentro do qual existimos, e cuja beatitude nos é inteiramente acessível, não apenas éautossuficiente e perfeito em todo aspecto, mas também o ato de ver e a coisa vista,aquele que vê e o espetáculo, o sujeito e o objeto são um. Enxergamos o mundo pe-daço a pedaço, como o sol, a lua, o animal, a árvore; mas a totalidade, da qual essassão as partes luminosas, é a alma.O horóscopo das eras somente pode ser lido pela visão dessa Sabedoria, e podemosconhecer o que ele diz acreditando em nossos melhores pensamentos, nos ren-dendo ao espírito de profecia que é inato em todo homem. Para os homens que nãohabitam o mesmo pensamento, as palavras devem soar vãs. Por ela não ouso falar.Minhas palavras não carregam seu sentido augusto; elas soam prematuras e frias.Apenas ela pode inspirar quem lhe aprouver, e contemplai! Essa fala será então lírica,doce, universal como o soprar do vento. Não obstante, desejo mostrar o paraísodessa divindade, ainda que usando palavras profanas, se sagradas eu não posso usar,e comunicar os sinais que colhi da simplicidade transcendente e da energia da Altís-sima Lei.Na conversação, nos devaneios, no remorso, nos momentos de paixão, nas surpre-sas, na instrução dos sonhos, em que frequentemente vemos a nós mesmos emdisfarce – fantasias esquisitas que apenas aumentam e acentuam um elemento realforçando-o diante de nossa atenção descuidada – se levarmos em consideração oque acontece nessas situações coletaremos diversos sinais que se ampliarão e ilumi-narão em conhecimento do segredo da natureza. No homem, tudo contribui paramostrar que a alma não é um órgão: ela, sim, anima e movimenta todos os órgãos;não é uma função, como o poder da memória, do cálculo, da comparação: ela usaa esses como usamos mãos e pés; não é uma capacidade, mas sim uma luz; não é ointelecto ou a vontade, mas a senhora do intelecto e da vontade; é o fundo de nossoser, sobre o qual aqueles repousam – uma imensidão não possuída – que nuncapode ser possuída. Interior ou posteriormente, brilha uma luz através de nós e sederrama sobre as coisas, e nos faz conscientes de não sermos nada, sendo tudo a luz.Um homem é a fachada de um templo, em que toda a sabedoria e todo o bemresidem. Comumente denominamos homem o que o homem come, bebe, planta,conta; assim como o conhecemos, não representa a si mesmo, mas se falseia. Nãorespeitamos o homem, e sim a alma, da qual ele é órgão; e, caso ele a deixassetransparecer em suas ações, faria dobrar-se nossos joelhos. Quando, por meio deseu intelecto, a alma respira, trata-se de gênio; quando ela respira por meio de sua 64 A alma suprema
RALPH WALDO EMERSONEmerson viveu de 1803 a 1882 no estado de Massachussetts (E.U.A.). Ele é considerado um dosfilósofos mais importantes da sociedade americana do século 19. A ela e seus cidadãos ele ofere-ceu um quadro espiritual para se esforçarem com otimismo a alcançar um mundo perfeito.Suas longas dissertações, publicadas como ensaios, obtiveram sucesso mundial. Elas lhe permi-tiram dar vazão a seu talento ao tratar de seu tema favorito: a educação popular. Ele denunciatodo tipo de falha da sociedade americana ao passo que estimula a reflexão, a elevação e a ami-zade entre as almas. Segundo ele, o materialismo rouba aos homens sua independência espiri-tual. Concordando com Thoreau e Walt Whitman, ele rejeita o conformismo, as certezas burgue-sas e a tendência a imitar o que se faz em outros países. O que predomina sempre em tudo paraEmerson é o espírito positivo e a vida espiritual.vontade, trata-se de virtude; quando flui É por meio da independência em facepor meio de suas afeições, trata-se de das limitações que nos rodeiam que aamor. E quando o intelecto quer ser algo soberania dessa natureza, sobre a qualpor si próprio, inicia-se a sua cegueira. A falamos, pode ser conhecida. A alma cir-fraqueza da vontade, quando o indiví- cunscreve tudo o que existe. Como disse,duo quer ser algo por si próprio. Pelo ela contradiz toda experiência. Identi-menos em um aspecto, toda reforma camente, extingue tempo e espaço. Naalmeja permitir à alma revelar-se por maioria dos homens, a influência dosmeio de nós; em outras palavras, levar- sentidos sobrepujou a mente, a ponto de-nos a obedecer. os muros do tempo e do espaço viremEm algum momento, todo homem se a parecer reais e intransponíveis; e falartorna consciente dessa natureza pura. A com leveza desses limites é, no mundo,linguagem não pode pintá-la com suas sinal de insanidade. Porém, espaço ecores. Ela é muito sutil. É indefinível, tempo nada mais são que a medidaimensurável; porém sabemos que nos inversa da força da alma. O espírito jogapenetra e nos contém. No homem está com o tempo:todo ser espiritual. Um provérbio antigo Pode encolher a eternidade em uma horae sábio diz: “Deus nos visita sem avisar”; Ou estender uma hora até a eternidade.ou seja, não há tenda ou teto entre nos- A veste fluida da almasas cabeças e os céus infinitos, assim Frequentemente somos impelidos acomo não há grades ou muros na alma, crer que existem outra juventude eonde o homem, o efeito cessa, e Deus, velhice além das medidas pelo anoa causa, começa. Os muros são derru- de nosso nascimento natural. Algunsbados. De um lado nos abrimos para as pensamentos sempre nos encontramprofundezas da natureza espiritual, para jovens, e nos mantêm assim. Esse pen-os atributos de Deus. Justiça que vemos samento é o amor pela beleza universale conhecemos, Amor, Liberdade, Poder. e eterna. Todo homem se desliga da-A essas naturezas, nenhum homem quela contemplação com o sentimentojamais se sobrepôs, e se erguem acima de que ela se adapta melhor a eras quede nós, principalmente no momento à vida mortal. De maneira semelhante,em que nossos interesses nos impelem aferi-las. 65
A alma compreende todas as coisas;ela contradiz toda experiência. De modosimilar, ela extingue espaço e tempoa menor atividade dos poderes intelectuais nos redime das imposições do tempo.Ofereçam-nos um veio de poesia ou uma frase profunda, na doença, na inativida-de, e nos sentiremos revigorados; ou um livro de Platão ou Shakespeare, lembrai--nos somente de seus nomes, e instantaneamente crescerá em nós um sentimentode longevidade.Vede como o profundo pensamento divino abole séculos e milê-nios e se faz presente em todas as eras.Nos dias atuais o ensinamento de Cristo é menos efetivo do que na época em quesua boca os pronunciou? O tempo nada tem que ver com a ênfase de fatos e pes-soas em meu pensamento. E assim sempre uma será a escala da alma, e outra a dossentidos e do entendimento. Diante das revelações da alma, Tempo, Espaço e Na-tureza se veem diminuídos. Referimos, na linguagem cotidiana, todas as coisas aotempo, assim como referimos as estrelas imensamente distantes a uma esfera côn-cava.Também dizemos que o julgamento está próximo ou distante, que o milênioestá chegando, que o dia de certas reformas políticas, morais ou sociais está paraacontecer etc., quando queremos dizer que, na natureza das coisas, um dos fatosque contemplamos é externo e fugidio, e o outro, eterno e coetâneo à alma. Hoje,as coisas que consideramos fixas, uma a uma, se desprenderão de nossa experiên-cia como frutas maduras, e cairão. Não se sabe para que lugar o vento as levará.Tanto a paisagem, as figuras, Boston, Londres, quanto qualquer instituição passada,um fiapo de nuvem ou névoa, são fatos transitórios, e assim a sociedade, e assim omundo. A alma olha fixamente adiante, criando um mundo à sua frente, deixandomundos para trás. A alma não tem datas, nem ritos, nem pessoas, nem especiali-dades ou homens. A alma conhece apenas a alma; a maré dos acontecimentos é aroupa fluida que ela veste.Não pela matemática, mas segundo sua própria lei, deve a taxa de seu progressoser computada. Não é por meio de gradações que os avanços da alma são feitos,como as que podem ser representadas pelo movimento em uma linha reta, massim pelas ascensões de estágios, como as que seriam representadas pela metamor-fose – do ovo a larva, da larva a mosca. São de um determinado caráter total oscrescimentos do gênio, que não privilegia o indivíduo eleito primeiro diante deJohn, depois de Adam e Richard, dando a cada um a dor de descobrir-se inferior;mas, em todo espasmo de crescimento, o homem se expande ali onde trabalha, 66 A alma suprema
ultrapassando classes a cada pulsação, tosa em direção a poderes e conheci-ultrapassando populações inteiras. A mentos particulares. Ao ascender paramente destrói a fina crosta do visível e esse sentimento primário e aborígene,finito a cada impulso divino, e se pro- viemos instantaneamente, de nossojeta na eternidade, inspira e expira seu ponto distante na circunferência, para oar. Ela se comunica com verdades que centro do mundo, onde, como se esti-sempre foram ditas no mundo, e se faz véssemos no escritório de Deus, vemosconsciente de uma maior simpatia para as causas e antecipamos o universo, quecom Zenão e Arriano do que para com é apenas um efeito lento.as pessoas da casa. Um terceiro candidatoA lei do ganho moral e mental é essa. A A encarnação do espírito em umasimples ascensão como que por leveza forma é um modo de ensinamento di-específica, não a uma virtude particu- vino – em formas como a minha. Comlar, mas à região de todas as virtudes. pessoas que respondem a pensamentosAs virtudes estão no espírito, que as de minha própria mente ou expressamcontém. A alma requer pureza, mas não determinada obediência aos grandesé a pureza; requer justiça, mas não éa justiça; requer bondade, mas é algomelhor; de forma que existe uma espé-cie de descenso e acomodação quandodeixamos de falar da natureza moralpara encorajar uma virtude ordenada aque ela obriga.Para a criança bem-nascida, todas asvirtudes são naturais, e não dolorosa-mente adquiridas. Falai ao coração dohomem, e ele, de súbito, se tornarávirtuoso.O germe do crescimento intelectual,que obedece a mesma lei, está guarda-do no mesmo sentimento. Os que sãocapazes de humildade, justiça, amor, as-piração, se encontram prontos em umaplataforma que domina ciências e artes,fala e poesia, ação e graça. Assim, todoaquele que partilha dessa beatitudemoral, desde logo antecipa as capacida-des especiais que são tão prezadas peloshomens.O amante não tem talento ou habili-dade que passe despercebido aos olhosde sua amada, não tendo importânciaque ele apresente poucas capacidades; eo coração que se abandona à Mente Su-prema vê-se relacionado a todas as suasproezas, e percorre uma estrada majes- 67
instintos segundo os quais vivo, encontro-me em sociedade.Vejo a presença dessesnaquelas pessoas. Sou certificado de uma natureza comum; e aquelas outras almas,aqueles indivíduos separados, atraem-me como nada mais me atrai. Agitam emmim novas emoções, que chamamos paixão, amor, ódio, medo, admiração, pie-dade; desses nasce a conversação, a competição, a persuasão, as cidades, a guerra.Pessoas são suplementos ao ensinamento primário da alma. Apaixonamo-nos pelaspessoas na juventude. A infância e a juventude veem o mundo inteiro nelas. Masa experiência mais ampla do homem descobre a natureza idêntica que em todosse revela. As próprias pessoas nos acostumam ao impessoal. Entre duas pessoas,toda conversa é feita por referência tácita, como que a um terceiro membro, auma natureza comum. Aquele terceiro membro ou natureza comum não é social;é impessoal; é Deus. Nesse sentido, em grupos nos quais é honesto o debate, espe-cialmente sobre questões importantes, os participantes notam que o pensamentose eleva a uma altura uniforme em todos os peitos, que todos, assim como aqueleque fala, têm um direito espiritual sobre o que é dito.Todos se tornam mais sábios do que eram. Acima deles se ergue, como um tem-plo, a unidade de pensamento em que todo coração palpita com um sentido maisnobre de poder e dever, e pensa e age com inusual solenidade. Todos se tornamconscientes de ter atingido um maior autocontrole. Ela brilha para todos. Existeuma determinada sabedoria de humanidade que é tanto comum aos maiorescomo aos menores homens, e que nossa educação comum frequentemente acabasilenciando e obstruindo. A mente é uma, e as melhores mentes, que amam a ver-dade por si mesma, em relação a ela pensam muito menos em questões de posse.Onde a encontrarem, serão aceitas agradecidas, e não a estampam ou rotulam como nome de qualquer homem, pois há muito ela lhes pertence, e pela eternidade. Omonopólio da sabedoria não cabe aos educadores e aos estudiosos. A violência deseus desígnios os desqualifica em certo grau para pensar verdadeiramente.A pessoas que não são pouco penetrantes ou profundas, e que dizem sem esforçoaquilo que desejamos, aquilo que por muito tempo procuramos em vão, devemosmuitas observações valiosas.Frequentemente, a ação da alma está mais naquilo que é sentido e permaneceinexpresso do que naquilo que é dito em qualquer conversação. Ela paira sobretodas as sociedades, e cada uma inconscientemente a procura nas outras. Sabe-mos mais do que fazemos. Ainda não nos possuímos, e ao mesmo tempo temosconsciência de que somos muito mais. Quantas vezes sinto idêntica verdade nocontato trivial com meus vizinhos – que algo de mais alto em cada um observaesse passatempo, e Jeová acena para Jeová às costas de cada um de nós.Para se encontrar, os homens descem das alturas. Em sua habitual e mesquinhaatividade mundana, pela qual abandonam sua nobreza nativa, os homens lembramos xeques árabes que habitam casas miseráveis e afetam pobreza exterior para es-capar ao hábito de roubar do paxá, e reservam toda demonstração de riqueza parao interior e resguardo de seus retiros.Ela se encontra em todas as fases da vida e está presente em todas as pessoas. Elajá é adulta na criança. Na relação com meu filho, meu latim e meu grego, meudinheiro e minhas conquistas nada me garantem; mas será de utilidade a alma que 68 A alma suprema
A ideia da duração imutável está essencialmenteligada às características da alma, que são verda-de, equidade e amor. Jesus vivia esses sentimen-tos morais e nunca deixou de manifestá-loseu tiver. Se sou imperativo, ele afronta a mesma alma se torna uma espadaminha vontade com a sua, um contra que penetra e separa, arremessando-oum, e me deixa com a degradação, se fora. Não temos consciência de quantoassim me aprouver, de derrotá-lo com somos sábios. Se não interferirmos comminha força superior. Mas, se renun- nosso pensamento, mas agirmos comcio à vontade e ajo conforme a alma, inteireza, ou virmos como algo acon-erigindo-a em árbitro no nosso caso, é tece em Deus, saberemos dessa coisaa mesma alma que terá visão por meio em particular, e de todas as coisas, ede seus olhos; ele venera e ama comigo. de todos os homens. Pois o Criador deA verdade é revelada e percebida pela todas as coisas e de todas as pessoas sealma. Quando vemos a verdade, digam ergue atrás de nós e lança sua onisciên-o que quiserem o cético e o zombetei- cia extraordinária sobre o mundo, porro. Quando falais o que não desejam meio de nós.ouvir, os tolos vos perguntam: “Como Em passagens particulares da experiên-sabeis que essa é a verdade, e não um cia do indivíduo, além desse autorre-erro em que incidistes?” Reconhece- conhecimento, a alma também revelamos a verdade quando a vemos, pela a verdade. E, com a sua presença, nesseopinião, assim como sabemos estar ponto deveríamos tentar nos forta-acordados quando estamos acordados. lecer e comunicar as inflexões maisEis uma frase prodigiosa de Emmanuel valiosas e nobres desse advento. PoisSwedenborg, que sozinha indicaria a o maior acontecimento da natureza égrandeza das percepções desse homem: a transmissão da verdade pela alma;“Não é prova do entendimento de um nele, a alma não entrega algo de si,homem ser capaz de afirmar qualquer mas se entrega inteira – se se transferecoisa que deseje; mas se for capaz de ao homem que iluminou, transforma-distinguir que o verdadeiro é verdadei- -se nele; ou, na proporção da verdadero e o falso é falso, eis a marca carac- que ele receber, a alma o traz para seuterística da inteligência”. Leio um livro âmago.em que o bom pensamento me devol- Admiração e prazerve, como toda verdade fará, a imagem Pela palavra “revelação” podemos dis-da alma inteira. Se no livro eu me tinguir as proclamações da alma, suasencontrar diante do mau pensamento, 69
À verdade, à justiça, ao amor, aos atributosda alma, a ideia da imutabilidade está essencialmenteassociada. Jesus viveu nesses sentimentos morais,atento somente às suas manifestaçõesmanifestações de sua própria natureza. Essa é sempre assistida pela emoção do su-blime. Pois essa comunicação é um influxo da mente divina sobre a nossa mente.É uma ondulação da correnteza individual diante do fluir das vagas do oceano davida.Todo entendimento claro desse desígnio central agita o homem com temor eprazer. Os homens são percorridos por um calafrio no momento de recepção deuma nova verdade, ou no momento de exercício de uma grande ação, que venhado coração da natureza. Nessas manifestações, o poder de enxergar não está dis-sociado da vontade de fazer, mas a intuição provém da obediência, e a obediênciade uma percepção jubilosa. Memorável é todo momento em que a pessoa se senteinvadida por ela. Por necessidade de nossa constituição, um determinado entu-siasmo acompanha a consciência que o indivíduo tem daquela presença divina.O caráter e a duração desse entusiasmo variam com o estado do indivíduo, deum êxtase, enlevo ou inspiração profética – que são sua mais rara aparição – aum levíssimo brilho de emoção virtuosa, em cuja forma ele aquece, como nos-sas lareiras domésticas, todas as famílias e associações humanas, e torna possívela sociedade. Uma determinada tendência a insanidade sempre esteve presente aosurgimento do sentido religioso nos homens, como se eles “explodissem com oexcesso de luz”. Os enlevos de Sócrates, a “união” de Plotino, a visão de Porfírio,a conversão de Paulo, a aurora de Boehme, as convulsões de George Fox e seusquakers, a iluminação de Swedenborg são desse tipo. O que, no caso dessas pessoasnotáveis, era um maravilhamento, exibe-se, em inúmeras ocasiões da vida comum,de modo menos chocante. A história da religião, em toda parte, ocasiona umatendência ao entusiasmo. O êxtase dos moravianos e dos quietistas; a revelação dosentido eterno da Palavra, na linguagem da Igreja de Nova Jerusalém; o renascimentodas igrejas calvinistas; as experiências dos metodistas, são variações daquele estreme-cimento de temor e prazer com o qual a alma individual sempre se une à almauniversal. Idêntica é a natureza dessas revelações; são percepções da lei absoluta.São respostas às questões da própria alma. Não respondem as questões que oentendimento busca. A alma nunca responde por palavras, mas pela própria coisabuscada.O descobrimento da alma é a revelação. No entendimento popular, uma revelação 70 A alma suprema
se trata de uma visão do destino. Em copiosamente não pode abandonar oantigos oráculos da alma, o entendi- presente, que é infinito, em direção amento procura encontrar respostas para um futuro que seria finito.questões sensuais e se lança à tarefa de As marés da vidadescobrir a partir de Deus por quanto Uma confissão de pecado são essastempo o homem existirá, o que suas questões que temos ansiedade em per-mãos farão e quem será sua companhia, guntar a respeito do futuro. Deus nãoacrescentando nomes, datas e lugares. tem resposta para elas. Dita em palavras,Mas não precisamos arrombar fechadu- nenhuma resposta pode satisfazer umaras. Devemos abandonar essa curiosi- pergunta de coisas. Não reside em umdade inferior. É enganosa uma resposta arbitrário “decreto divino”, mas sim naem palavras; na verdade, não é resposta própria natureza humana, que um véuao que perguntais. Não exijais uma des- encubra os acontecimentos do amanhã;crição dos países para onde navegais. A pois a alma não permitirá que leiamosdescrição não os mostrará para vós, e, qualquer outro signo, a não ser o dasamanhã, chegareis até eles e os conhe- causas e efeitos. Assim, através desse véucereis por habitá-los.Perguntas sobre a imortalidade da alma,as atividades no Paraíso, a situação dopecador, entre outras, são feitas peloshomens. Eles até mesmo sonham queJesus deixou respostas precisas a essasinterrogações. Aquele espírito sublimenem por um momento falou deles opatois. À verdade, à justiça, ao amor, aosatributos da alma, a ideia da imutabi-lidade está essencialmente associada.Jesus, vivendo nesses sentimentosmorais, sem relação com ocorrênciassensuais, atento somente às manifesta-ções dessas, nunca separou a ideia deduração da essência desses atributos,nem pronunciou uma sílaba a respeitoda duração da alma. A seus discípuloscoube separar a duração dos atribu-tos morais, e ensinar a imortalidadeda alma como doutrina, baseando-aem evidências. O homem já declinou,no momento em que a doutrina daimortalidade é ensinada separadamente.A continuidade não é cogitada no fluirdo amor, na adoração da humildade.Jamais um homem inspirado formulaessa questão ou condescende a essasevidências. A alma é fiel a si própria, eo homem sobre o qual ela é derramada 71
que cobre os acontecimentos ela ensina os filhos do homem a viver o presente.Abandonar toda a curiosidade mesquinha é o único modo de obter uma respostaa essas questões dos sentidos, aceitando a maré do ser, que nos encaminha paradentro do segredo da natureza, trabalhar e viver, trabalhar e viver, até que, de sú-bito, a alma ousadamente construiu e forjou para si própria uma nova condição, equestão e resposta são apenas uma.Podemos nos ver e reconhecer uns aos outros, e saber de qual espírito cada um éfeito, pelo mesmo fogo vital, consecratório, celestial, que queima até tudo dis-solver nas vagas e marés de um oceano de luz. Quem pode dizer as razões paraseu conhecimento do caráter de diversos indivíduos em seu círculo de amizades?Ninguém. No entanto, seus atos e palavras não o desapontam. Naquele homem,mesmo [que nada de mau saiba a respeito dele, não deposita] confiança. Naqueleoutro, mesmo que poucas vezes se tivessem encontrado, signos autênticos foramdetectados, mostrando que era possível nele acreditar, como em alguém que porseu próprio caráter tem verdadeiro interesse. Conhecemo-nos bem uns aos outros,qual de nós foi justo consigo mesmo, e se aquilo que ensinamos ou observamos éapenas uma inspiração ou também fruto de nosso honesto esforço.Todos somos conhecedores de espíritos. Em um nível muito elevado, essa diag-nose descansa em nossa vida ou poder inconsciente. O intercâmbio da sociedade,o comércio, a religião, as amizades, as desavenças, são uma enorme investigaçãojudicial do caráter. Os homens se oferecem ao julgamento em corte plena oucomitê de inquérito, ou confrontados face a face, acusador e acusado. O caráteré decifrado a contragosto por meio de detalhes decisivos. Mas, quem julga? E oque? Não é nosso entendimento. Não é por meio da cultura ou da habilidade quedeciframos um caráter. Não; nisso reside a sabedoria do homem sábio: ele não osjulga; deixa que julguem a si próprios e apenas decifra e anota seus vereditos.A vontade individual, em consequência dessa natureza inevitável é subjugada,e, apesar de nossos esforços e imperfeições, vosso gênio falará a partir de vós, omeu, a partir de mim. Aquilo que somos, ensinaremos, não voluntária, mas invo-luntariamente. Por vias que nunca deixamos abertas, os pensamentos chegam aténossas mentes, e as abandonam por vias que jamais abrimos voluntariamente. Ocaráter ensina acima de nossas cabeças. O índice infalível do verdadeiro progressoé encontrado no tom assumido por um homem. Nada pode evitar que o homemse reverencie diante de um espírito mais aperfeiçoado que o seu: nem idade, nemformação, nem companhias, nem livros, nem ações, nem talentos, nem todos jun-tos. Se o homem não encontrou seu abrigo em Deus, suas maneiras, seu jeito defalar, o estilo de suas frases, a construção, diria eu, de todas as suas opiniões, semquerer confessará isso, não importa quanto ele lute. Se ele encontrou seu centro,a Divindade brilhará através dele, através de todos os disfarces da ignorância, dotemperamento genioso, das circunstâncias desfavoráveis. O tom da procura é um,o tom da posse é outro.Entre professores sacros e literários, a grande diferença existente entre poetascomo Herbert e poetas como Pope; entre filósofos como Espinoza, Kant e Co-leridge, e filósofos como Locke, Paley, Mackintosh e Stewart; entre homens domundo que são reconhecidos como brilhantes palestrantes, e, aqui e ali, um mís-tico fervoroso profetizando, meio louco, sob a infinitude de seu pensamento – é 72 A alma suprema
De nada me serve que falem do exterior; possofacilmente fazê-lo eu mesmo. Jesus fala sempre dointerior e numa medida que sempre transcende a detodos os outrosque uma classe de homens fala do in- sua; seu talento é alguma capacidadeterior, ou a partir da experiência, como exagerada, algum membro superde-parte e possuidora dos fatos; e outra senvolvido, de maneira que sua força éclasse fala do exterior, apenas como uma doença. Os dons intelectuais nãoespectadora, ou talvez habituada com causam a impressão de virtudes, nessesos fatos pelo testemunho de terceiros. casos, mas quase de vícios; e sentimosDo exterior, nada adianta pregar para que os talentos de um homem se colo-mim. Isso eu posso fazê-lo facilmente. cam no caminho de seu avanço para aJesus sempre fala de dentro, e em grau verdade. Porém, o gênio é religioso. Éque transcende ao de todos os outros. uma absorção maior do coração co-Nisso reside o milagre. Antecipada- mum. Não é anômalo; é semelhançamente creio que eu deva ser assim. É maior, e não menor, com os outros ho-nessa expectativa, do aparecimento de mens. Em todos os grandes poetas existetal mestre, que continuamente todos os uma sabedoria da humanidade, superiorhomens se mantém. Mas, um homem a quaisquer talentos que eles exercitem.deve confessar humildemente caso não O lugar do homem não é ocupado pelofale de dentro do véu, onde a palavra é autor, nem pelo espirituoso, o parti-una com aquilo de que aponta. dário, nem pelo cavalheiro elegante. AUm verdadeiro canal para a alma humanidade brilha em Homero, emIdêntica Onisciência flui para o inte- Chaucer, em Spenser, em Shakespeare,lecto, criando o que chamamos gênio. em Milton. Estão satisfeitos com aMuito da sabedoria do mundo não é sa- verdade. Utilizam a graduação positiva.bedoria, sendo a mais iluminada classe Parecem frígidos e fleumáticos aos quede homens, com certeza, superior à foram tocados pela paixão frenética efama literária, não constituída de escri- pelo colorido violento de autores inferi-tores. Não sentimos entre a multidão de ores, mas populares. Por darem trânsitoestudiosos e autores qualquer presença livre à alma inspiradora que, através desantificadora; e sim observamos mais ta- seus olhos, enxerga novamente e aben-lento ou habilidade que inspiração; eles çoa as coisas que havia feito, são poetas.possuem certa luz e desconhecem de A alma é maior ao conhecimento queonde ela vem, e, por isso, a consideram dela se tenha, mais sábia que qualquer de suas criações. O grande poeta nos faz 73
A alma que se eleva para venerar a grandeDivindade é simples e verdadeira; ela não tema preocupação de ser admirada; ela vive nopresente, na grave experiência do dia comumsentir nossa riqueza, e então pensamos menos em suas composições. Ensinar-nos adesprezar tudo o que ele fez é sua principal mensagem para nossas mentes. Somoslevados a esse nível elevado de atividade inteligente por Shakespeare, que chega asugerir uma riqueza que torna a sua pequena; então sentimos que os esplêndidostrabalhos criados por ele, e que em outros momentos celebramos como espécie depoesia auto existente, não têm sobre a natureza real maior poder que o da som-bra do viajante sobre uma pedra. Em Hamlet e Lear, a inspiração que falou por simesma poderia, diariamente, pronunciar outras coisas de igual valor, para sempre.Assim, por que deveria ocupar-me de Hamlet e Lear, como se não tivéssemos aalma da qual eles se desprenderam, como sílabas da língua?Apenas sob outra condição, que não a da posse completa, essa energia não descesobre a vida individual. Chega para os humildes e simples; para qualquer pessoa ca-paz de desfazer-se da estranheza e da arrogância; ela vem como ideia súbita; comoserenidade e grandeza. Quando vemos aqueles em que ela habita, somos informa-dos de novos graus de grandeza. O homem retorna dessa inspiração com um tomdiferente. Fala aos seus semelhantes despreocupado com suas opiniões. Ele os testa.Isso requer que sejamos diretos e verdadeiros. Mencionando a nobreza, o príncipee a condessa, que assim disseram ou fizeram para ele, o viajante fútil busca embe-lezar suas viagens. Sua vulgaridade ambiciosa mostra-vos a prataria, os broches eseus anéis, e guarda-lhes os cartões de cumprimento. No relato de sua experiência,os mais cultivados, escolhem a circunstância poética e prazerosa – a visita a Roma,o homem de gênio que viram, o amigo brilhante que conhecem, ou, mais adiante,talvez a deslumbrante paisagem, as luzes sobre a montanha ou os pensamentos dasalturas que essas lhe suscitaram – e assim buscam uma coloração romântica sobresuas vidas. Mas, a alma que ascende à adoração do grande Deus é direta e verdadei-ra; não tem tonalidades róseas, nem amigos refinados, nem gentilezas, nem aven-turas; não busca admiração; mora no momento presente, na honesta experiênciado dia comum – em virtude de a hora atual e de a mera ninharia se terem tornadoporosas para o pensamento e encharcadas pelo oceano de luz.A literatura se parecerá com um jogo de palavras se vos distrairdes com uma mentegrandiosamente simples. As sentenças mais dignas de serem escritas são as senten-ças mais simples, apesar de triviais e evidentes, que, na riqueza infinita da alma, 74 A alma suprema
são como alguns seixos recolhidos no louvor”, disse Milton, “não é lisonja, ecaminho, ou um pouco de ar engar- seu mais simples conselho é uma formarafado em um frasco, quando toda a de louvor”.Terra e toda a atmosfera são nossas. Lá Um novo infinitonada pode ocorrer, ou vos fazer parte Em cada ato da alma, inefável é a uniãodo círculo, a não ser abandonar todas de homem e Deus.Torna-se Deus a maisas vossas armadilhas e lidar de homem simples pessoa, que em sua integri-a homem na verdade nua, na confissão dade venere Deus; porém, para todo odireta, na afirmação onisciente. sempre, o influxo deste “eu” melhor eAssim como os deuses fariam, essas al- universal é novo e insondável. Inspiramas vos tratam; como deuses caminham reverência e espanto. A ideia de Deus,na terra, aceitando tanto vosso talento preenchendo o ermo, apagando as cica-sem qualquer espanto como vossa trizes de nossos erros e desapontamen-generosidade, e mesmo vossa virtude tos é tão cara, tão apaziguadora! Deus– diga-se, antes, vosso ato devido, pois incendiará o coração com sua presençade vossa virtude eles têm a posse como quando tivermos quebrado nosso deusde seu próprio sangue, real como elesmesmos, e supra real, o pai dos deuses.No entanto, diante da mútua lisonjacom a qual autores se apaziguam unsaos outros e se ferem mutuamente, querepulsa a sincera e fraternal condutadeles sente! Elas não lisonjeiam. Nãome causa admiração que esses homensse apresentem diante de Cromwell eCristina e Carlos II e Jaime I e o grãoturco. Porque, em sua elevação eles sãoos camaradas de reis, e certamente seressentem do tom servil da conversa-ção mundana. Sempre devem ser umadádiva para os príncipes, uma vez queos confrontam, de rei para rei, semmedidas ou concessões, oferecendo auma natureza elevada a renovação e asatisfação da resistência, da humanidadepura, da camaradagem equilibrada e dasnovas ideias. Fazem-nos homens maissábios e superiores.A sinceridade é muito melhor quea lisonja: isso essas almas nos fazemsentir. Os homens e as mulheres devemser tratados tão diretamente, que eles sevejam constrangidos à maior sinceri-dade, ficando destruída toda esperançade menosprezo. Esse o maior cumpri-mento que podeis pagar. Seu “mais alto 75
da tradição e interrompido nosso deus da retórica. Essa a duplicação do próprio co-ração, ou melhor, o infinito alargamento do coração com um poder de crescimentoque, em todas as direções, busca uma nova infinidade e inspira no homem umaconfiança infalível. O homem não tem a convicção, mas a visão, de que o melhoré o verdadeiro, e pode assim desfazer-se facilmente de todos os medos e incertezasparticulares, deixando à segura revelação do tempo a solução de seus enigmas pes-soais. Fica certo de que seu bem-estar é valioso ao coração do ser. Uma confiançatão universal que leva para longe em seu fluxo todas as esperanças acalentadas e osmais estáveis projetos da condição mortal invade o homem, quando a lei se tornapresente em sua mente. Ele crê que não pode escapar do bem que é seu. As coisasque realmente são vossas gravitam para vós.Correi em busca de vosso amigo. Deixai que vossos pés corram; vossa mente nãoprecisa fazê-lo. Se não o encontrardes, não concordareis que é melhor que não otenhais encontrado? Pois existe um poder que, assim como vos habita, tambémnele se encontra, e poderia desse modo aproximar-vos muito bem, caso isso fosse omelhor. Com ansiedade vos preparai para prestar um serviço ao qual talento e gostovos atraem, para o amor dos homens e para a esperança da fama. A menos quetenhais o mesmo desejo de que vossa partida seja evitada, não vos ocorreu que nãotendes o direito de partir? Da mesma maneira como viveis, credes que todo sompronunciado ao redor desse mundo, e que a vós deveria chegar, vibrará em vos-sos ouvidos! Todo provérbio, todo livro, toda palavra ocasional que a vós pertencecomo ajuda ou consolo, certamente chegarão por caminhos retos ou tortuosos.Em seu abraço vos prenderá todo amigo pelo qual, não vossa fantasiosa vontade,mas o grande e terno coração em vós anseia. Porque o coração em vós é o coraçãode todos isso ocorre; não há uma válvula, uma parede, uma intersecção em toda anatureza, mas sim um mesmo sangue corre ininterruptamente, em circulação semfim, através de todos os homens, como a água do planeta constitui um mesmo mar,e na verdade sua maré é única.Em particular, todos os homens devem aprender de cor a revelação de toda naturezae de todo pensamento, ou seja, que o Altíssimo habita com ele; que as fontes da na-tureza se encontram em sua própria mente, caso o senso do dever esteja lá. Porém,se ele quiser ouvir as palavras do grande Deus, deve “ir ao seu quarto e fechar aporta”, como disse Jesus. Deus não se manifestará para covardes. Deve principal-mente prestar atenção a sua própria voz, afastando-se do influxo da devoção dequalquer outro homem. Antes que a sua própria prece tenha feito, as preces do ou-tro serão prejudiciais. Nossa religião vulgarmente se apoia no número dos crentes.Não importa se indiretamente, quando quer que seja feito o apelo aos números,proclama-se no instante e lugar que a religião está ausente. Jamais conta o númerode sua companhia aquele que encontra em Deus um doce e envolvente pensa-mento. Quem ousa aproximar-se quando me encontro naquela presença? Quandodescanso em perfeita humildade, quando queimo com puro amor, que podemCalvino ou Swedenborg dizer?É indiferente se o apelo é feito para muitos ou um. Não é fé a fé que repousa sobrea autoridade. O declínio da religião, a retirada da alma, são medidos pela confiançana autoridade. Por muitos séculos de história, a posição que os homens deram aJesus já é uma posição de autoridade. Ela os caracteriza. Não pode alterar os fatos 76 A alma suprema
Venerando a alma e aprendendo conforme osAntigos diziam que “sua beleza não tem medida”,o homem descobrirá que o mundo é o milagreincessante operado por elaeternos. A alma é grande e simples. A sua natureza, e que dela depende.alma não é bajuladora, a nada segue; “Notai”, disse ela, “nasci para a grandejamais apela para algo que não seja mente universal. Eu, a imperfeita, adoroela mesma. Acredita em si. Diante das minha própria Perfeição. De algumimensas possibilidades do homem, toda modo, recebo a grande alma, e assimsimples experiência, toda biografia pas- negligencio o sol e as estrelas, sinto quesada, não importa quão santa e imacu- eles são belos acidentes e efeitos que selada, se esvai. Qualquer forma de vida transformam e passam. Incessantementesobre a qual tenhamos ouvido ou lido, as vagas da natureza eterna entram emdiante do paraíso que nossos pressen- mim, e me torno pública e humana emtimentos nos antecipam, não podemos meus cuidados e ações. Em pensamen-louvar. Afirmamos que temos poucos tos e ações venho a viver, com energiasgrandes homens, mas, falando absolu- que são imortais. Assim, reverenciandotamente, que não temos nenhum; que a alma e aprendendo, como diziam osnão temos história, nenhum registro de antigos, que “sua beleza é imensa”, ocaráter ou modo de vida que inteira- homem chegará a ver que o mundo é omente nos contente. Somos obrigados a milagre perene operado pela alma, e seaceitar os santos e semideuses adorados mostrará menos surpreso com mara-pela história com um grão de condes- vilhas particulares; aprenderá que nãocendência. Apesar de, em nossas horas existe história profana; que toda históriasolitárias, retirarmos nova força da é sagrada; que o universo é representa-memória deles, ainda assim, impingidos do por um átomo, em um momento dea nossa atenção pela rotina e pela falta tempo. O homem não mais tecerá umade reflexão, eles nos fatigam e violam. vida manchada, de remendos e farrapos,A alma se entrega solitária, original e mas viverá com uma unidade divina.pura ao Solitário, Original e Puro, que, Deixará o que é mesquinho e banal emnessa condição, alegremente a habita, sua vida e ficará satisfeito com todosage e fala através dela. Assim ela se vê os lugares e com qualquer ajuda quefeliz, jovem e lépida. Não é sábia, mas possa prestar. Enfrentará calmamente oenxerga através de tudo. É inocente, amanhã, com a despreocupação daquelamas não se considera religiosa. Chama confiança que leva Deus consigo e, as-de sua a luz, e sente que a pedra cai e a sim, já traz todo o futuro no fundo dograma cresce segundo uma lei inferior a coração. 77
78 A Cruz Celta
símboloA Cruz CeltaAsabedoria antiga nos ensina que, nos tempos pré-cristãos, a cruz celta simbolizava os quatro campos onde a vida transcorre. Os quatro braços da cruz representam a interação entre o eu, a natureza, a sabedoria e a vida divina original. O círculo no meio constitui, em todos os mundos, a morada da aspiração espiritual, que é o propósito de todaa vida consciente: a autorrealização e a salvação. É no centro desse conjunto quetodos os níveis se reúnem, no amor que tudo abarca. A força de expressão naturalda cruz celta corresponde às quatro direções do vento ou pontos cardeais: o Lestepara a vida em gestação; o Oeste para a reflexão e a experimentação; o Norte paraa inspiração e a intuição; o Sul para o tratamento e a realização. As duas estaçõessombrias, assim como as duas estações luminosas, eram marcadas por dias defogo ou de luz: os quatro Albans. Os celtas celebravam o início do inverno em 21de dezembro, dia de Arthuan, a luz de Arthur, posteriormente a de Cristo. Eilar, aluz da terra, marcava o início da primavera. Heruin, a luz da zona costeira, indicavao início do verão. E por fim Elved, a luz da água, marcava a chegada do outono. Oeterno retorno à natureza oferecia estabilidade em um mundo que, na época dosceltas, era igualmente objeto de transformação permanente. Do ponto de vistaespiritual, ainda hoje, a cruz celta pode servir como ponto de apoio. Em temposdifíceis, seus quatro braços nos permitem retomar a direção de nosso pensamento.É como se dissessem: Siga a direção certa, que é a do verdadeiro ser: mantenha ospés no chão, em comunhão com a natureza. Eleve-se até a sublime sabedoria quedeu forma a todas as coisas, a tudo que segue seu destino no caminho divino dasradiações. Nunca saia do eixo, do centro onde se encontra a aparentemente passivamas sempre atenta consciência divina, com seu amor que tudo abarca.79
crônicaMundo imaginárioÀs vezes você percebe que está sonhando mas pode es- tendência para considerar nossos pensamentos comocolher entre vivenciar o sonho ou terminá-lo e acordar. se fossem realidade é exatamente o que mantém esseNão é por acaso que os grandes iniciados que tinham o mundo de sonhos intacto, pelo menos até pararmosconhecimento de Outra Natureza descreviam nossa vida de lhe dar crédito e abrirmos a porta para a realidade,terrestre como um “estado de sonho”: “Desperta, ó tu deixando-a entrar. E então, mais uma vez, nos choca-que dormes!” mos e questionamos: Em que tipo de realidade estouRealmente – podemos admitir duas ideias surpreenden- vivendo quando deixo entrar em minha consciência ates: primeiro, a de que existe Outra Natureza; depois, observação da ideia do “devorar ou ser devorado”? Oa de que esta vida, todos esses trabalhos que achamos que vai acontecer se eu deixar essa realidade carregartão úteis... nada disso é real! Vivemos correndo de cá essas ideias para meus pensamentos e opiniões? Entãopara lá, sem nunca ir a parte alguma, ou então corremos percebemos que, até esse momento, estávamos sonhan-muito rápido sem sair do lugar. Milhões de pessoas vi- do! A partir daí, algumas pessoas se apressam para voltarvem com suas próprias ideias sobre realidade. O mesmo ao sonho, desativam suas consciências e dão asas a seusmundo é percebido internamente de modos diferentes, pensamentos sobre realidade. Agindo assim, elas aca-porque cada uma delas alimenta seu próprio sonho e bam dando prioridade a seus sonhos! Os mais corajo-deseja vê-lo realizado. É assim que se formam grupos sos se dão prazos para parar e assumem o choque dode pessoas que criam sonhos coletivos e, consequen- espanto como um sentimento de vazio, de futilidade etemente, realidades coletivas.Todos compartilham esta de solidão. Esse vazio que vem logo depois que o sonhoconvicção: “Isto no qual acreditamos é verdadeiro por- se esvanece é justamente a condição para afogar-seque todos nós, que participamos deste grupo, acredi- em outras coisas. Mas o verdadeiro despertar acontecetamos nisso!”... até a hora em que nossa consciência se quando tomamos consciência (e tomar consciência écoloca acima dos pensamentos. Ir atrás de seus sonhos, diferente de “imaginar”) de que nosso eu foi moldadono sono ou neste mundo, é continuar a ignorar a outra por nossas próprias ideias, crenças e lembranças; eordem de Natureza. Para quem não a ignora, “desper- assim nos damos conta de que tudo isso é totalmentetar” significa, ao mesmo tempo, “despertar para Outro estranho para quem somos de verdade em nosso inte-Mundo”. Mas acontece que o sonho mais persistente rior. Realmente: nosso ego não tem identidade própria – ele foi concebido como um instrumento para a alma,Para encontrar o caminho, temos em compasso de espera até que ela tome as rédeas deque nos perder nossas vidas. Na essência, o ego não é uma entidade viva real, mas somente um mecanismo, um certo modosobre a Terra é ignorar que sonhamos! Atapetamos esta de funcionar que tem, como escudo, sua oposição aoTerra e nosso pequeno mundo pessoal com nossas cren- mundo da dura realidade. Na verdade, se deixássemosças, devaneios e objetivos, até nos tornamos completa- essa dura realidade entrar em nós, o sonho se quebra-mente prisioneiros de nossas ilusões. Mas o sonho pode ria e a razão do ego desapareceria. Esse mecanismo deacabar de repente! Quando menos esperamos, o curso oposição comporta dois braços: um para afastar e outrode nossa vida muda e o eu se perde pelo caminho, pois para aproximar – e isso permite que o ego construa seupara encontrar o caminho é preciso primeiro se perder! próprio mundo imaginário. Portanto, não é de admirarEnquanto percebermos erroneamente como certezas que os grandes iniciados tenham preconizado o equilí-as coisas aleatórias que acontecem conosco, continu- brio e a neutralidade como condições básicas para se-aremos a acreditar que o que pensamos sobre a vida guirmos o caminho.Talvez já esteja na hora de vermos oé a pura realidade. Não nos damos conta de que essa ego como uma colcha de retalhos de sonhos, agora que a veste da alma está sendo estendida para nós.80 IMnhuonuddo imaginário
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