Olá, caro aluno! É possível que todos nós, em algum momento de nossas vidas, tenhamos lido algum poema. Com rimas, sem rimas, cur- tos ou longos, alguns confusos, outros mais claros, existem tantos tipos de poemas que muitas vezes nós não sabemos nem como classificá-los. O que faz um poema ser um soneto? Uma trova? Uma balada? Pode até parecer um pouco complica- do, mas entender como funciona a parte es- trutural de um poema pode tornar a leitura ainda mais prazerosa. Esperamos que com esta cartilha vocês construam repertório su- ficiente para interpretarem e apreciarem os mais lindos poemas presentes aqui e os que vocês encontrarem durante suas leituras no dia a dia e na escola. Marcela Sayuri e Renan Azevedo
as partes de um poema sonoridade....................9 rima.............................10 metro...........................14 ritmo.............................16 estrofe..........................17
linha do tempo classicismo..........................20 barroco................................21 arcadismo............................21 romantismo........................22 parnasianismo....................23 simbolismo..........................23 modernismo.......................24 tendências contemporâneas................25
as partes de Veremos então os tópicos mais importantes da teoria da poesia, ou seja, os elementos fundamentais que compõem a estrutura de um poema. São eles: a sonoridade, a rima, o metro, o ritmo e a estrofe. Juntos, esses componentes arquitetam o poema, e o po- eta tenta sempre criar um jogo entre eles para deslumbrar o leitor e criar um texto rico em sentido. Vejamos o que são. um poema 8
sonoridade Quando o poeta decide, por escolha própria, repetir certas consoantes e vogais em um ver- so ou em vários, ele está criando um jogo de sonoridade. NAVIO NEGREIRO Castro Alves reparesaegaulitnedraoçvãeorsaoqui no Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança. Navio Negreiro é um poema Castro Alves (1847–1871) viveu épico de Castro Alves escrito apenas 24 anos e, apesar de em 1870 que denuncia a escra- ter nascido dentro da sociedade vização africana no Brasil. No escravocrata, dedicou-se a ser um segundo verso possui a figura de linguagem chamada poeta da abolição. aliteração, que consiste na re- petição consonantal proposital 9 para dar um aspecto sonoro inovador.
rima A rima acontece quando exis- Geralmente as rimas aconte- te uma semelhança de sons cem no fim do verso, mas po- nas terminações das palavras, dem acontecer entre palavras ou seja, quando o final de cer- dentro dele. tas palavras soam parecidas ou As rimas podem ser alterna- idênticas. das, emparalhadas, interpo- As rimas podem ser conso- ladas ou encadeadas. antes (quando cada letra, seja consoante ou vogal, é idêntica entre duas palavras) ou toantes (quando só as vogais são iguais). OUVIR ESTRELAS rimas alternadas Olavo Bilac “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo A Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, B Que, para ouvi-las, muita vez desperto A E abro as janelas, pálido de espanto… B E conversamos toda a noite, enquanto A A via-láctea, como um pálio aberto, B Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, A Inda as procuro pelo céu deserto. B 10
Direis agora: “Tresloucado amigo! A Que conversas com elas? Que sentido B Tem o que dizem, quando estão contigo?” A E eu vos direi: “Amai para entendê-las! A Pois só quem ama pode ter ouvido B Capaz de ouvir e de entender estrelas.” A Olavo Bilac (1865–1918) é o principal representante do Parnasianismo no Brasil. A LUTA CORPORAL rimas emparelhadas Ferreira Gullar Vagueio campos noturnos A Muros soturnos A Paredes de solidão B Sufocam minha canção B A canção repousa o braço A Ferreira Gullar no meu ombro escasso: A (1930–2016) foi um poeta firmam‑se no coração B muito inovador. Escreveu o meu passo e minha canção B manifesto da Teoria do não- objeto e Poema Sujo, uma Me perco em campos noturnos A de suas obras mais famosas. Rios noturnos A Fundou o Teatro Opinião te afogam, desunião B com outros artistas após ser entre meus pés e a canção B exilado durante a ditadura E na relva diuturna A (que voz diurna A militar. cresce cresce do chão?) B rola meu coração B 11
SONETO DE FIDELIDADE rimas interpoladas Vinicius de Moraes De tudo, ao meu amor serei atento A Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto B Que mesmo em face do maior encanto B Dele se encante mais meu pensamento A Quero vivê-lo em cada vão momento A E em seu louvor hei de espalhar meu canto B E rir meu riso e derramar meu pranto B Ao seu pesar ou seu contentamento A E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive) Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure Vinicius de Moraes (1913–1980) foi um poeta e um dos maiores compositores da música popular brasileira, além de ter sido um dos fundadores da Bossa Nova. 12
rimas encadeadas O SULMONENSE OVÍDIO, DESTERRADO Luís Vaz de Camões O sulmonense Ovídio, desterrado A na aspereza do Ponto, imaginando B ver-se de seus parentes apartado, A sua cara mulher desamparando, B seus doces filhos, seu contentamento, C de sua pátria os olhos apartando; B não podendo encobrir o sentimento, C aos montes e às águas se queixava D de seu escuro e triste nascimento. C Luís Vaz de Camões (1524–1580) foi um poeta português. Autor do poema Os Lusíadas, uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos de Portugal. É o maior representante do Classicismo Português. 13
metro O metro, em poesia, é a quanti- importante saber: para contar dade de sílabas que cada verso as sílabas de um verso, não se tem: se um verso tem 5, 6, 7 sí- deve contar as sílabas normal- labas, etc; ou seja, é o tamanho mente, mas sim contar as síla- do verso. Porém, uma coisa é bas poéticas. tipos de versos 1 sílaba Monossílabos Dissílabos 2 sílabas Trissílabos 3 sílabas Tetrassílabos 4 sílabas Pentassílabos 5 sílabas ou redondilha menor Hexassílabos 6 sílabas ou heróico quebrado Heptassílabos 7 sílabas Octossílabos 8 sílabas ou redondilha maior Eneassílabos 9 sílabas Decassílabos 10 sílabas Hendecassílabos 11 sílabas Dodecassílabos 12 sílabas Bárbaros acima de 12 sílabas 14
O VELHO ABUTRE Sophia de Mello Breyner Andresen |O| |ve|lho| |a|bu|tre| |é| |sá|bi|o| |e| |a|li|sa| |as| |su|as| |pe|nas| 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 |O| |ve|lho a|bu|tre é| |sá|bio e a|li|sa as| |su|as| |pe|nas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Neste exemplo temos duas formas 1. Na fala cotidiana, sempre aconte- diferentes de contar as sílabas de ce de “ligarmos” ou emendarmos um mesmo verso. No primeiro, elas palavras; na poesia, contaremos são contadas da maneira padrão da as sílabas de acordo com essas gramática. Na segunda, não; nesta, junções que fazemos ao falar, e algumas sílabas se fundem, criando essas junções acontecem princi- uma só. Essa maneira de contar síla- palmente quando duas vogais se bas, em que umas se juntam a outras, encontram. Por isso, no exemplo é a sílaba poética; como veremos no temos uniões como “-lho a-” tópico seguinte, essa maneira de de- ou “-sa as-”: se você ler em voz finir as sílabas será importante para o alta, perceberá que são vogais ritmo poético. Duas questões que são que se tornam uma só na fala. importantes para entender a sílaba poética: 2. A quantidade de sílabas poéticas só é contada até a última sílaba tônica, e o que vem depois dela é desprezado na contagem. Por isso a sílaba “-nas” do exemplo não entrou na contagem. 15
ritmo No caso da língua portuguesa— e uma tônica; uma átona e uma mas também em outras línguas, tônica; uma tônica e uma átona; como nas línguas francesa, in- e por aí vai. O ritmo em poesia glesa ou espanhola —, o ritmo funciona, então, da mesma for- de um verso é marcado pela ma que o ritmo em uma música: alternância de sílabas átonas um golpe forte e um fraco em e tônicas. Na riqueza de possi- um instrumento de percussão bilidades do verso, as alternân- qualquer. cias podem variar: duas átonas PEDIDO Cecília Meireles Armem rede entre as estrelas, para um descans`o--se`-c-u-la`r-! Os conhecidos – esq-u-e-c`ê---lo-s`. E os outros, nem--im-`a-g-in-a`-r. Armem-`a-`r-e-d-e`! `--`- Cecília Meireles (1901–1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. 16
estrofe Uma estrofe é um conjunto unido de versos, tenham eles o mesmo metro ou não, tenham rima ou não. tipos de estrofes DESEJO Hilda Hilst Monóstico 1 verso Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada. Dístico 2 versos poema em dístico Terceto 3 versos Hilda Hilst (1930–2004) foi uma poetisa, cronista, dramaturga e Quarteto 4 versos ficcionista brasileira. Fez parte da Quintilha 5 versos “Geração de 45”. Sextilha 6 versos Septilha 7 versos Oitava 8 versos Nona 9 versos Décima 10 versos Irregulares acima de 10 versos 17
linha poesia na Classicismo Barroco séculos 1601 a 1768 XIV e XVI Tendências Modernismo contemporâneas 1922 a 1945 1945 até hoje
do tempo língua portuguesa Arcadismo Romantismo 1768 a 1808 1836 a 1881 Simbolismo Parnasianismo 1893 a 1922 1882 a 1893
classicismo Durante o Renascimento, a Eu- próprio homem, valorizando a ropa sofreu uma reforma políti- razão e a ciência. ca, econômica e social que de- Sendo assim, o belo e o senti- terminou o fim da Idade Média mento humano é o mais valo- e o começo da Idade Moderna. rizado na poesia, com versos Com a expansão comercial, o construídos para serem per- fortalecimento da burguesia e feitos na forma. O amor acaba o declínio do domínio católico, se tornando um tema comum, o conhecimento e a ciência vol- principalmente o amor idealiza- taram a se desenvolver. Desta do ou, como falamos, o amor forma, a fé cristã perdeu o pro- platônico. tagonismo e deu espaço para o Rembrandt: A Lição de Anatomia do Dr. Tulp 20
barroco No final do século XVII, a poe- Essas transformações na socie- sia feita no Brasil tinha ecos da dade brasileira podem ser vistas vida colonial, relatando princi- no poema Triste Bahia, de Gre- palmente o período em que a gório de Matos. No poema, Ma- exploração do ouro em Minas tos explicita o desconforto pe- Gerais fez com que a economia rante a exploração portuguesa brasileira se transformasse total- na Bahia e a crise do mercado mente, mudando o eixo do país açucareiro na região. que até então era concentrado no litoral do nordeste, para o sudeste. arcadismo A natureza e a simplicidade ga- na facilmente os sentimentos de nharam destaque neste período. frustração”¹. Este era um perío- Nas palavras de Antonio Can- do de grandes avanços tecnoló- dido, “A poesia pastoral, como gicos e crescimento das cidades. tema, talvez esteja vinculada Por esse motivo, a fuga da cida- ao desenvolvimento da cultura de para o campo era visto como urbana, que, opondo as linhas necessário para abater a infelici- artificiais da cidade à paisagem dade do homem moderno. natural, transforma o campo num bem perdido, que encar- 21
romantismo O Brasil colonial e agrário é sus- Em contraponto, na segunda tentado pelo escravismo, pelo geração do romantismo surge latifúndio e pela economia de o ultrarromantismo, movimen- exportação. Neste contexto, to entre estudantes boêmios poetas e escritores escreviam que, inspirados em poetas es- sob a ótica dos descontentes trangeiros como Lorde Byron e com a pátria, com o amor e com Musset, escrevem sobre amores o passado. destrutivos e a dor da existência, Algumas tendências surgem vivendo “uma existência doentia neste período. Na primeira gera- e artificial, desgarrada de qual- ção o indianismo aparece como quer projeto histórico e perdida forma de recontar o passado no próprio narcisismo”.² brasileiro sob uma ótica heróica, e o regionalismo, com intenção de tornar figuras locais, como os sertanejos, protagonistas da história da formação do país. Victor Meirelles: Moema 22
parnasianismo No Parnasianismo, o mais im- na rima e no ritmo, sendo assim portante é a construção poéti- compostos para se aproxima- ca, o “culto da forma”, fazendo rem da perfeição. Sentimentalis- assim oposição a forma poética mo não é tema, mas sim o ideal do Romantismo. Sendo assim, a impessoal. forma fixa é explorada no metro, simbolismo Com a intenção de explorar a mo. Temas como o místico e o subjetividade, o Simbolismo espiritual são amplamente abor- surge como uma reação à so- dados, opondo-se ao período ciedade analítica industrializada histórico tão marcado pelo pro- da Europa. Diferentemente do gresso tecnológico e científico Parnasianismo, o verso livre é em que o materialismo era mais muito explorado no Simbolis- valorizado. 23
modernismo É anunciada no Brasil a partir por uma arte brasileira nova. Os da Semana de Arte Moderna grandes centros estavam cada do ano de 1922, em São Paulo. vez mais em expansão e a polí- Com a junção de artistas de vá- tica oligárquica brasileira era dia- rias áreas, o evento propunha riamente desafiada, o que trazia uma quebra com as correntes um fervor revolucionário nos ar- artísticas passadas e uma busca tistas brasileiros. 24
tendências contemporâneas Após o fim do Estado Novo e da Renovar a linguagem é uma das Segunda Guerra Mundial, muita principais intenções dos poetas coisa mudou no Brasil, e isso se deste período, principalmente refletiu na arte produzida. Movi- do grupo de autores perten- mentos de vanguardas crescem, centes ao que chamamos de e poetas retomam aos formatos Geração de 45. A mensagem clássicos de maneira renovada transmitida através do texto é a para falar sobre questões exis- principal preocupação. tenciais, metafísicas, e questões políticas e herméticas. Referências: ¹ Formação da Literatura Brasileira, S. Paulo, Martins, 1959, vol. I, p. 54. ² BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. Editora Cultrix, 1994. p. 78 25
bibliografia BANDEIRA, Manuel. A versificação em língua portuguesa. Editora Delta, 1960. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. Editora Cultrix, 1994. CANDIDO, Antonio. Estudo analítico do poema. 1999. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâ- neo. LEXIKON Editora Digital ltda, 2016. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978. 26
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